Você está na página 1de 21

O cinema e a produção audiovisual:

Um estudo preliminar sobre as novas formas de


distribuição na Internet
Alessandra Campos Pérgola
Universidade Federal de São Carlos

Índice 1 Introdução
1 Introdução 1 Os avanços nas áreas de telecomunicações e
2 Descrição da pesquisa 2 transmissão digital de dados trouxeram no-
3 Metodologia empregada 2 vas possibilidades para realização de uma
4 Análise dos resultados 3 enorme variedade de produtos audiovisuais.
5 Conclusão 19 Esses conteúdos influenciam diretamente o
6 Referências bibliográficas 19 dia-a-dia de milhares de usuários da Inter-
net, que têm à disposição ficção, documen-
tários, projetos experimentais, animações e
Resumo: Este artigo trata das novas for- transmissões ao vivo, o que incentiva a pro-
mas da distribuição da produção audiovisual dução/distribuição/exibição de obras realiza-
pela Internet, bem como uma sondagem das nos mais variados formatos e suportes
inicial de sites especializados na distribuição disponíveis, da película ao vídeo, do compu-
e exibição de filmes e vídeos de curta tador doméstico às poderosas estações gráfi-
duração. Recentemente a popularização da cas, do amador ao profissional.
Internet de banda larga1 possibilitou uma A Internet é, por natureza, um meio em
maior eficiência, abrangência e redução constante mutação, que cria e adapta sua tec-
de custos, do sistema que compreende a nologia de acordo com as necessidades e
distribuição e exibição do produto audiovi- desejos dos produtores e consumidores do
sual, promovendo a reconfiguração de suas entretenimento audiovisual. Isso colaborou
estratégias de divulgação. para que a Internet se tornasse um dos meios
mais baratos e eficientes para distribuição de
1
Conexão permanente com a Internet por linha
filmes e vídeos hoje em dia, principalmente
telefônica convencional sem a cobrança de pulso por para produtores independentes, que podem
dados, possibilitando enviar e receber dados, áudio e atingir maior público sem que isso signifique
imagens em alta velocidade. necessariamente acréscimo aos custos. Além
disso, as tecnologias de captação e finaliza-
2 Alessandra Campos Pérgola

ção digitais promovem a integração ágil e trava a chegada de um trem em uma esta-
eficiente, além da redução de custos, dos sis- ção. O interesse e o espanto causados na-
temas de produção com os meios de distri- quela época, pela exibição de imagens em
buição. O desenvolvimento e barateamento movimento, se assemelham com a experi-
de tecnologias mais avançadas possibilitam ência atual de assistir filmes e vídeos trans-
que cada vez mais pessoas, amadores e pro- mitidos via Internet na tela do computador,
fissionais, se interessem e utilizem os recur- não necessariamente por uma inovação na
sos disponíveis, incentivando a produção au- experiência visual como no início do cinema,
diovisual. mas sim pela vasta quantidade e variedade
de conteúdos disponíveis e pela facilidade de
As vantagens criativas que a acesso e produção destes.
tecnologia digital oferece são enor- Esta nova realidade de produ-
mes, possibilitando uma maior ção/distribuição/exibição surge ao mesmo
liberdade de expressão (...), ao tempo em que a democratização do acesso
mesmo tempo em que permite in- à Internet de banda larga, que permite a
tegrar num mesmo sistema os pro- transmissão de maior quantidade de dados,
cedimentos de produção em ci- aliada a novas interfaces de visualização,
nema, vídeo e televisão. (MASSA- possibilitam avanços na qualidade visual
ROLO, 2001, p. 03) e sonora, formando o que José Augusto
de Blasiis chama de “micro-cinema”: “um
2 Descrição da pesquisa cinema feito em vídeo, editado e pós-
produzido em casa, e alocado em um site de
Esta pesquisa trata das novas formas da dis- distribuição”. (2000, Associação Cultural
tribuição da produção audiovisual pela Inter- Kinoforum, www.kinoforum.org).
net, bem como uma sondagem inicial de si-
tes especializados na distribuição e exibição
de filmes e vídeos de curta duração, e como
3 Metodologia empregada
o advento da Internet rápida possibilitou uma O presente projeto caracteriza-se pela
reconfiguração do sistema que compreende a pesquisa empírica de caráter qualitativo.
produção, distribuição e exibição do produto Divide-se em quatro fases, em que foram
audiovisual. aplicados os seguintes métodos:
As tecnologias atuais permitem o acesso 1a Fase: Nessa primeira etapa, realizou-
a filmes de todos os formatos, gêneros e se a atualização bibliográfica e a pesquisa de
qualidades a partir de computadores pesso- artigos, projetos já realizados, entrevistas e
ais. No entanto a maioria dos filmes disponí- textos referentes à distribuição da produção
veis na Internet ainda é feita sem considerar audiovisual pela Internet, para compreender
uma adequação de linguagem mais apropri- como o assunto é tratado atualmente, qual a
ada às limitações e vantagens do meio e de importância e abrangência do mesmo. Foi
sua forma de transmissão. possível a participação em eventos que con-
Um dos primeiros filmes exibidos no final tribuíram para a pesquisa: Encontro de Mí-
do século IXX, pelos irmãos Lumiére, mos- dias Digitais (2001, DAC-UFSCar) e Fórum

www.bocc.ubi.pt
O cinema e a produção audiovisual 3

de Convergência de Mídias Digitais (2002, programa de televisão que é transmitido ao


SESC São Carlos), ocorridos na cidade de vivo pela Internet além de disponibilizar ví-
São Carlos-SP. deos dos alunos do curso de Imagem e Som
Nesta etapa também foi realizada a pes- no site da TELVIS, que podem ser assisti-
quisa bibliográfica e de canais de distribui- dos online. O acompanhamento do trabalho
ção e exibição online sobre os temas que en- deste grupo colaborou para a compreensão
globam e contribuem para a distribuição da da produção/distribuição online e quais são
produção audiovisual pela Internet: Tecno- os softwares e tecnologias utilizados para a
logia e abrangência do uso da Internet em transmissão de imagens e sons pela Internet.
Banda Larga, definição do Web-cinema, pa- Como finalização, foi realizado um estudo
noramas da Internet no Brasil e no mundo, preliminar sobre o impacto das novas tecno-
como é feita e a distribuição de fato por gran- logias de distribuição cinematográfica com o
des estúdios cinematográficos, softwares que uso da projeção digital de longas-metragens.
possibilitam a distribuição online e a televi-
são na Internet.
4 Análise dos resultados
2a Fase: Esta etapa visou o estudo da lite-
ratura pertinente pesquisada na fase anterior, 4.1 Breve panorama da Internet
direcionando a pesquisa para a distribuição
no Brasil e a banda larga
de filmes e vídeos de curta-metragem na In-
ternet. Listou-se, quantitativa e qualitativa- O número de usuários da Internet é muito
mente, os sites especializados que possibili- difícil de ser estimado com precisão. No
tam esta distribuição, tendo como parâmetro Brasil, os dados variam muito de fonte para
de análise a eficiência, abrangência e dispo- fonte. Além disso, o crescimento do nú-
nibilidade de uso desses serviços pelos pro- mero de usuários é rápido, tornando as in-
dutores independentes e profissionais. formações rapidamente desatualizadas. As
3a Fase: Após a primeira triagem dos si- estimativas mais recentes sobre a quanti-
tes distribuidores de curtas-metragens, foram dade de usuários brasileiros foram divulga-
selecionados e estudados os exemplos que das em janeiro de 20012 pelo Ibope eRa-
obtiveram resultados mais satisfatórios e que tings3 e pelo serviço norte-americano Ni-
melhor representam o avanço da tecnologia elsen/NetRatings. Segundo as duas insti-
digital para este fim, mostrando os diferen- tuições, havia 9,8 milhões de internautas4
tes meios de que se utilizam esses sites para em dezembro de 2000, o que perfaz 5,7%
distribuir os filmes e vídeos. 2
Fonte: Com Ciência – Revista Eletrônica de Jor-
4a Fase: Nesta etapa, foi finalizada a pes- nalismo Científico, março de 2001
quisa sobre os sites distribuidores e foram 3
O IBOPE/NetRatings é uma união entre o Grupo
testados os meios para realizar a distribui- IBOPE e a Nielsen NetRatings, líder mundial em me-
ção pela Internet, entrando em contato com dição de audiência na Internet. Atuando no mercado
brasileiro desde setembro de 2000, a empresa é re-
o grupo de produção da “Televisão de Ima- ferência no setor de análise de audiência e monitora-
gem e Som” (TELVIS) do Departamento mento de publicidade na internet no Brasil.
4
de Comunicação e Artes da UFSCar – São Nome comum dado aos usuários da Internet
Carlos, que produzem quinzenalmente um

www.bocc.ubi.pt
4 Alessandra Campos Pérgola

da população brasileira. A empresa norte- nem rádio, pelo menos não no sentido em
americana NUA5 fez uma compilação de da- que hoje entendemos esses meios” (2002,
dos sobre o acesso à Internet em quase todos www.justoaqui.com). Arlindo Machado diz
os países do mundo. Segundo essa compila- que “um audiovisual disponibilizado na In-
ção, o Brasil ocupa o segundo lugar na Amé- ternet é diferente de um audiovisual como
rica Latina em termos de proporção da popu- conhecemos, para o meio telemático e que
lação com acesso à Internet (6,71% / 407,1 essa nova forma de distribuição, que está
milhões), perdendo para o Uruguai com 9%. sendo experimentada, terá que receber um
Nos Estados Unidos, o país com a maior novo nome” (2002, www.justoaqui.com.br).
proporção de pessoas plugadas à Internet, Pessoas assistindo a filmes na televisão não
55,83% da população tem acesso à rede. significa que cinema é televisão, assim como
A Internet hoje em dia funciona como um filme também não vira web-cinema so-
um grande banco de dados, onde as pessoas mente por ser distribuído pela Internet. A
acessam e buscam informações de qualquer Internet parece ser um meio de distribuição
tipo. Os produtos audiovisuais pensados ideal para filmes e vídeos de curta duração e
para a Internet se adequam a esse sistema, é nesse sentido que ela está sendo utilizada
pois não são necessariamente assistidos so- atualmente.
mente em dias e horários específicos, e por Nos anos 90 houve a explosão do digital.
isso são armazenados para que o espectador As transformações desta década até hoje fa-
possa assistir quando quiser. Com o advento zem teóricos acreditar que no futuro próximo
da banda larga os formatos de vídeo podem os meios diferentes – cinema, televisão, ví-
implementar novas características, como in- deo, multimídia, rádio – estãrão convergindo
teratividade ou maior qualidade de imagem e em direção a um meio novo, que será único,
som, deixando, em alguns casos, o especta- mas plural. Essa foi a discussão do “Fórum
dor à vontade para escolher a duração, perso- Convergência das Mídias Digitais”, ocorrido
nagens, ângulos de câmera (como acontece no SESC São Carlos em 2002 em parceria
em DVDs com a função multi-ângulo), acon- com o curso de Imagem e Som da UFSCar,
tecimentos, sexo do protagonista etc, como que trouxe profissionais e estudiosos de di-
já acontece em jogos para computador por ferentes partes do Brasil para mostrar o que
exemplo. acontece atualmente e quais os rumos dessa
possível convergência. Este novo meio, que
4.2 Web-cinema englobará os meios existentes hoje, poderá
utilizar as linguagens dos meios atuais em
O termo “web-cinema” foi dito inicialmente um novo ambiente, em formas diferentes e
por Arlindo Machado6 em uma entrevista com imensa variedade de estilos e gêneros,
onde ele afirma que “um produto audi- assim como a televisão hoje.
ovisual concebido especificamente para a O web-cinema não inclui apenas narração
rede não é mais cinema, nem televisão, de ficção e, no futuro, esse cinema poderá
5
www.nua.ie/surveys/how_many_online/index.html assumir através dos recursos digitais de in-
6
Professor e especialista em cinema e linguagem teratividade, formas mais próximas do vide-
das novas mídias. ECA - USP ogame, ou das atualidades e do telejornal,

www.bocc.ubi.pt
O cinema e a produção audiovisual 5

e em outros casos ainda, mais relacionadas filmes recentes produzidos com utilização de
com o videoclipe ou o documentário. suporte digital é uma prova evidente disso. O
Com o avanço cada vez mais rápido das suporte digital serve tanto para experiências
tecnologias para Internet e com o advento de vanguarda como para narrativas clássicas
da Internet em banda larga é possível ima- ou vídeos independentes veiculados na Inter-
ginar produtos audiovisuais inteiramente no- net.
vos, como já é o caso das web-câmeras, que A produção audiovisual passa por uma re-
podem ficar permanentemente ligadas em al- volução de meios. Podemos captar em ví-
gum lugar, transmitindo imagens e sons ao deo, desde os formatos mais simples, com
vivo de tudo o que acontece, seja real ou fic- uma câmera mini-DV de preço mais aces-
ção. As web-câmeras explodiram há aproxi- sível e por isso de uso comum, aos profis-
madamente quatro anos atrás, quando usuá- sionais, de qualidade broadcast como Beta-
rios de computadores comuns deixavam suas cam, até os mais sofisticados, como câmeras
webcams ligadas 24 horas em lugares estra- HDTV (High Definition Television).
tégicos, como quarto ou banheiro de suas Sob esses aspectos pode-se dizer que to-
casas. Em alguns casos, o acesso a esse dos os obstáculos que os grandes estúdios
serviço é pago, para que, por exemplo, se- impuseram entre o diretor do filme e seu
jam reveladas intimidades do cotidiano de público (produtores, agentes, distribuidores,
alguém, fenômeno que foi inspiração livre exibidores etc.) podem ser demolidos pela
para os reality shows para televisão como o Internet.
Big Brother7 .
O fenômeno das webcams fez prolife- 4.3 Distribuição pela Internet
rar uma série de serviços na Internet que
exploram esta tecnologia. Misturando um por grandes estúdios
pouco de exibicionismo, voyeurismo e vigi- Desde 2001 os grandes estúdios de
lância, estes sites formam comunidades vir- Hollywood planejam distribuir filmes
tuais cujo objetivo não é outro senão o de se pedidos via Internet nos Estados Unidos, de
mostrar na rede. acordo com o desejo e demanda do público.
É importante “não confundir mídia e Os estúdios que tiveram essa iniciativa –
forma narrativa veiculada nesta mídia” (RA- MGM, Paramount, Sony, Universal e War-
MOS, 2001, p.37). Algumas formas narra- ner Bros. – se uniram para proporcionar aos
tivas são particulares à mídia televisiva, ou- usuários de banda larga dos EUA uma nova
tras não. O cinema deve ser entendido en- e grande opção de filmes de todos os tipos,
quanto forma narrativa que pode ser veicu- passando pelos clássicos até estréias. Com
lado pela mídia televisiva, na sala de cinema estas iniciativas, os sete grandes estúdios
e pela Internet. O fato de o cinema ser re- de cinema respondem às preocupações dos
alizado com câmeras com suporte digital ou produtores de Hollywood quanto à crescente
película é digno de pesquisas, mas não di- rede de pirataria dos filmes na Internet.
minui suas fronteiras. O grande número de Em 2001 os EUA tinham mais de 10 mi-
7
lhões de casas conectadas à banda larga e
www.globo.com/bbb

www.bocc.ubi.pt
6 Alessandra Campos Pérgola

mais de 35 milhões8 de computadores ap- procurar por arquivos de outros usuários da


tos a receber esse tipo de serviço, incluindo mesma rede, organizar e tocar os arquivos
empresas e universidades. Esse grande pú- e se comunicar com outras pessoas. Su-
blico foi a justificativa para a opção de distri- porta áudio, vídeo, software, jogos, imagens,
buição online dos filmes, mesmo que ainda e documentos. Distribui-se de tudo nesses
não se tenha um nome específico para este softwares e nem sempre com o consenti-
tipo de serviço. Os estúdios não informaram mento de distribuição adequado. Os usuários
quando esse novo sistema entrará em opera- de Internet têm facilidades incríveis e quase
ção e o tempo de recepção dos filmes pelo nenhuma censura para ouvir músicas, filmes
usuário dependerá da velocidade de sua co- etc.
nexão com a Internet. Os filmes poderão ser Ainda não há uma lei específica de di-
assistidos diretamente da tela do computador reitos autorais para a Internet e após a fa-
ou da TV, ligada ao computador por um sis- lência do Napster (Primeiro software popu-
tema de cabos específicos. lar para compartilhamento de música, ex-
A distribuição de filmes na Internet tam- tinto em meados de 2000 por fazer pirata-
bém é a nova aposta das empresas Walt Dis- ria), outros programas surgiram, mais poten-
ney e 20th Century Fox. Estas duas empre- tes e mais preparados tecnologicamente para
sas apostaram na distribuição online, sendo enfrentar a censura e fazer a alegria de seus
que o serviço deverá estar disponível no iní- usuários. Isso foi possível com a chegada da
cio do próximo ano (2004). O Movies.com tecnologia da banda larga, pois como a Inter-
(www.movies.com) irá distribuir filmes e ou- net ficou mais rápida, os programas de com-
tros programas produzidos pelos estúdios da partilhamento além de distribuir arquivos de
Walt Disney e da Twentieth Century Fox, música, começaram a distribuir também ar-
mas não exclui a hipótese de incluir outras quivos maiores como filmes e softwares pi-
produções. ratas completos.
Um bom exemplo do que acontece atu-
4.4 Distribuição não intencional almente com essa distribuição ilegal é que
o programa Kazaa continua vivo e dis-
Fato semelhante a essa distribuição alme- tribuindo músicas, filmes e fotos gratui-
jada pelos grandes estúdios já acontece sem tamente pelo mundo. O site da em-
a intenção dos mesmos, utilizando softwares presa norte-americana de computadores Ap-
Peer-to-Peer9 (P 2P ) gratuitos, para down- ple (www.apple.com/trailers) disponibiliza
load de arquivos. Um exemplo destes em seu site trailers de lançamentos de filmes
softwares é o Kazaa (www.kazaa.com). Este que sairão em cartaz nos EUA, aproximada-
é no momento o mais popular dos compar- mente um mês antes de chegar ao Brasil. É
tilhadores de arquivos. Os usuários podem possível assistir o trailer de um filme no site
8
fonte: Jornal JB Online, 16/08/2001 – da Apple ou outro lugar, e utilizar softwa-
www.jbonline.terra.com.br res P2P para fazer download deste filme (em
9
Programas que conectam usuários para transfe- um tempo relativamente curto) muito antes
rência de arquivos diretamente, de um computador de sua estréia em salas de cinema no Brasil.
para outro.
A forma de pirataria utilizada no antigo

www.bocc.ubi.pt
O cinema e a produção audiovisual 7

Napster, para troca de músicas, ainda não los consagrados, a união TeleImage e iMu-
afeta a indústria cinematográfica da mesma sica trará a possibilidade de distribuir for-
forma que a da música, pois o público ci- matos ditos como alternativos. De acordo
néfilo ainda não deixa de freqüentar as sa- com Patrick Siaretta, presidente da TeleI-
las de cinema, porém, o crescente número mage "Produtores de curtas-metragens, fil-
de downloads ilegais de filmes na Internet mes de animação e outros conteúdos não-
(cerca de 350 mil filmes por dia, segundo comerciais também terão acesso a uma nova
a Viant, empresa de pesquisas de mercado) ferramenta para divulgar e distribuir seus tra-
já começa a preocupar os órgãos da indús- balhos"(2003, Jornal JB Online). Os interes-
tria cinematográfica. Ou seja, essa divulga- sados em licenciar seus produtos já podem
ção e distribuição não são realizadas intenci- entrar em contato pelo site da iMusica.
onalmente pelos empresários ou pela distri- A TeleImage fornecerá toda sua experiên-
buidora do filme, e sim pelo próprio público cia para a digitalização de conteúdo e cap-
que armazena este filme e o deixa disponível tação de novos materiais. A iMusica, res-
para outros usuários. ponsável pela implantação da primeira pla-
taforma de Distribuição e Gerenciamento de
4.5 Distribuição intencional Mídia Digital da América Latina, utilizará
sua tecnologia nessa nova empreitada.
As empresas brasileiras TeleImage O resultado desta parceria TeleImage -
(www.teleimage.com.br) e a iMusica iMusica chegou ao mercado consumidor no
(www.imusica.com.br) se uniram em 2003 início de setembro de 2003 para venda nos
para criar um sistema inédito na América sites que compõem a Rede de Distribuição
Latina de video on demand (VOD) que per- Digital iMusica.
mitirá a usuários residenciais e corporativos Em maio de 2003, a empresa Sight-
receberem arquivos audiovisuais em seus Sound (uma loja de vídeos online)
computadores. As iniciativas de organizar (www.sightsound.com) lançou o que
e tornar essa troca uma prática comercial foi considerado o primeiro filme com
estão restritas a poucos exemplos na Europa distribuição exclusiva pela Internet: “The
e EUA, como MovieLink e Sight Sounds Quantum Project”. O filme, orçado em 3
(EUA) e Fnac.com (França), que vendem milhões de dólares, recuperou seu inves-
filmes como "Harry Potter". timento depois de uma hora que estava
No Brasil, o público potencial para o ser- disponibilizado para download. Mais de um
viço é representado pelos 700.000 usuários milhão de usuários “baixaram” o filme, ao
de banda larga (segundo dados do IDC - In- custo de 3,95 dólares. A SightSound usou
ternational Data Corporation10 ), o que indica uma tecnologia própria de compactação e
um aumento de 112% sobre o ano passado, digitalização criptografada que permite uma
um dos maiores índices de crescimento no qualidade superior à convencional. Todo o
mundo. projeto do filme foi pensado para o formato
Para esses consumidores, além de títu- da rede.
10
www.idc.com Antes do lançamento do “The Quantum
Project”, a Miramax, ex-produtora indepen-

www.bocc.ubi.pt
8 Alessandra Campos Pérgola

dente, hoje subsidiária da Walt Disney Com- do Globo.com (www.globo.com) ou pagar a


pany, já havia anunciado um acordo para lan- mensalidade de acesso do Globo Media Cen-
çar de 12 títulos de seu catálogo para down- ter.
load a partir desta tecnologia da SightSound. A brasileira Rede TV!
(www.redetv.com.br), oferece sua pro-
4.6 Televisão e Internet gramação ao vivo na Internet gratuitamente.
Duas webcams mostram o que se passa
Seguindo a tendência de colocar programa- em outros estúdios da TV enquanto um
ção de TV na Internet, a rede de TV britâ- programa é transmitido. Há ainda uma vide-
nica BBC (www.bbc.co.uk), anunciou a cri- oteca com trechos de programas anteriores.
ação do Creative Archive, um serviço gra- A Rede Bandeirantes, do Rio de Ja-
tuito que vai colocar todo o acervo de ima- neiro (www.tv.videomart.com.br/band), e a
gens da emissora, um dos maiores do mundo, TV Cultura (www.tvcultura.com.br), tam-
à disposição dos internautas. O anúncio foi bém podem ser assistidas ao vivo pela Inter-
feito em agosto de 2003, no festival de TV net.
de Edimburgo11 , pelo diretor-geral da BBC, Além dos sites que trazem vídeos de
Greg Dyke, que não divulgou o cronograma programas produzidos
do projeto. originalmente para a TV, há um grande
Por todo o mundo, emissoras de TV, como número de endereços que oferecem
a americana ABC (www.abc.go.com) e a ita- atrações especialmente feitas para exi-
liana RAI (www.rai.it), põem parte da pro- bição via Internet. O site Comfm
gramação na rede. O canal de esportes ESPN (www.comfm.com) é um portal que traz
de TV por assinatura (www.espn.com) ofe- links para quase 3.000 emissoras de TV de
rece vídeos de esportes e também planeja todo o mundo e oferece três novos canais
transmitir ao vivo. todos os dias.
No Brasil, o Globo Media Center No Brasil, a All TV (www.alltv.com.br),
(www.gmc.globo.com), por exemplo, apresenta uma programação
oferece, permanentemente, quase todas as ao vivo, 24 horas por dia, que inclui noti-
atrações exibidas pela Rede Globo. Depois ciário, entrevistas e debates. Os programas
que os programas vão ao ar, os vídeos podem ser assistidos pelo Windows Media
levam, em média, de duas a quatro horas Player, programa incluso no pacote de insta-
para entrar no site. Além da programação lação do Windows. Foi a primeira do Brasil
da TV aberta, também ficam disponíveis no nesse aspecto. Atualmente, em São Paulo,
site os conteúdos dos canais pagos GNT, a programação é transmitida também pela
Multishow e Sexy Hot. TVA. Alguns programas da All TV online
Já o canal de notícias Globo News é trans- têm “linha direta”, onde o usuário pode co-
mitido ao vivo, 24 horas locar seu apelido, como numa sala de bate-
por dia. Para acessar o acervo - que inclui papo e fazer perguntas aos apresentadores
programas antigos -, é preciso ser assinante dos programas, em tempo real. Além da pro-
11
www.eif.co.uk gramação ao vivo o site também possui pro-
gramação on demand, onde o usuário pode

www.bocc.ubi.pt
O cinema e a produção audiovisual 9

escolher programas inteiros para assistir, en- notícias, informações sobre os programas e
tre os programas distribuídos online nas úl- sobre o projeto.
timas 72 horas. A distribuição online é gra-
tuita e se sustenta com patrocinadores que di- 4.7 Distribuição de
vulgam no site.
Há ainda uma infinidade de sites que Curta-metragem
transmitem programas nos moldes da TV, A distribuição de vídeos de curta dura-
mas ao vivo pela Internet, como o Inter- ção na Internet é realizada através de si-
net TV (www.internetv.com.br) que trans- tes que disponibilizam serviços, pagos ou
mite entrevistas ao vivo em horários específi- não, e através de festivais de vídeo fei-
cos e o site TV OM (www.tvom.com.br) que tos exclusivamente para a Internet. A In-
é feito para os amantes de rodeios e transmite ternet fornece cada vez mais ferramentas
as principais competições do esporte no país. e possibilidades para que os realizadores
Demanda e programação não faltam. hospedem e exibam seus filmes utilizando
O importante na Internet é saber “garim- a tecnologia de streaming, além de forne-
par” para achar o que se tem interesse e usu- cer gratuitamente uma série de softwares
fruir dessas facilidades sem limites de horá- que podem ajudar na produção e distribui-
rio nem a preocupação de horário certo para ção. Sites como o Icast (www.icast.com),
assistir os programas, como nos canais de AntEye (www.anteye.com) e CameraPlanet
TV normal, pela facilidade da programação (www.cameraplanet.com) proporcionam um
disponível on demand. vasto espaço em seus servidores para hospe-
Faculdades e cursos de cinema além de dar e fornecer vídeos em streaming. Para os
utilizarem a distribuição on demand de ví- visitantes há sempre a possibilidade de criar
deos, colocando seus trabalhos universitários canais personalizados com os vídeos preferi-
gratuitamente em sites, também usam a di- dos e de entrar em contato com o realizador.
vulgação como na TV, fazendo programas Muitos realizadores estão construindo sua
online em tempo real que podem ser trans- audiência através da Internet. Se antes eles
mitidos em horários específicos. precisavam ir até aos festivais para serem
O curso de Imagem e Som da UFS- vistos e para mostrar seus trabalhos, agora
Car desenvolve o projeto TELVIS podem utilizar também a Internet. O filme
(www.telvis.ies.ufscar.br), uma TV on- "More"de Mark Osborne (EUA, 1998)12 , por
line que transmite programas ao vivo, feitos exemplo, apesar de ter sido indicado ao Os-
pelos alunos a cada 15 dias, e depois dis- car e ganho prêmios em festivais, é um curta-
ponibiliza o conteúdo on demand também. metragem de 6 minutos que teria caído no es-
Com isso, os alunos aprendem a trabalhar quecimento se não fosse a Internet. "More",
com essa nova tecnologia, ampliando os exibido pela Ifilm (www.ifilm.com) ficou 1
conhecimentos teóricos para a prática, e ano na lista dos filmes mais acessados e Os-
divulgam seus trabalhos. Além da trans- borne ganhou uma legião de admiradores.
missão pela Internet os programas podem Há pequenos produtores e diretores inde-
ser vistos em um telão dentro do teatro do 12
www.scifi.com/exposure/frameup/more.html
Departamento do curso. O site contém fotos,

www.bocc.ubi.pt
10 Alessandra Campos Pérgola

pendentes no Brasil, na maioria das vezes, ming15 (como Realplayer, etc.) e também da
estudantes de cinema, que após finalizarem arrecadação com a comercialização de stre-
seus vídeos de baixo custo, fazem um site na amings sem anúncios, download de filmes
Internet para divulgação dos mesmos, onde para usuários com conexão banda larga, ou
“montam” uma pequena loja virtual para mesmo venda de filmes ou coletâneas em
vender coletâneas dos vídeos, geralmente VHS ou DVD (no caso de curtas-metragens,
em VHS ou CD, como no exemplo do site compilações com um mínimo de títulos sele-
www.brv.xuxe.nom.br. Em alguns casos es- cionados diretamente por cada comprador).
ses produtores idependentes conseguem pro- Os cineastas/produtores, detentores dos
jeção e ganham popularidade, como é o caso direitos autorais, receberão uma senha, an-
do Pepa Filmes (www.pepafilmes.com.br) tes do início das operações do site, e com
que disponibiliza seus projetos para down- ela poderão verificar online, a qualquer mo-
load e já é reconhecido e entrevistado por mento, os créditos de cada um de seus filmes,
Jornais e canais de TV, como Canal Brasil. relativamente a cada uma das formas de re-
Segue abaixo a análise dos sites especializa- ceita acima. Relatórios anuais serão envia-
dos na distribuição de produtos audiovisuas dos também por correio, e as transferências
de curta duração,: de royalties realizadas em até 30 dias após a
emissão de cada relatório.
4.7.1 Portacurtas
4.7.2 E-movies
O site PortaCurtas (www.portacurtas.com.b
r) é um projeto desenvolvido pela Synapse Empresa para divulgação de curtas-
Produções com patrocínio do programa Pe- metragens nacionais nas mídias tradicionais
trobras Cinema, para disponibilizar na Inter- e em novos mercados como linhas aéreas,
net a produção nacional de filmes de curta- aeroportos, Internet, instituições, tvs a cabo,
metragem. etc. Os filmes serão exibidos em rodízio
O site oferece um grande acervo de curtas no site (www.e-movies.com.br), a titulo de
metragens para exibição online e ferramen- divulgação, sem pagamento. O acervo é
tas de pesquisa num banco de dados de mais constituído de vários formatos de filmes
de 1.400 filmes, diretores, elenco e até diá- (Super 8, 16mm, 35mm, super VHS, Beta,
logos. Para assistir aos filmes é preciso um Digital) e de cineastas iniciantes até os mais
programa básico de áudio e imagem como o famosos.
Windows Media Player13 ou o Realplayer14 .
Não é possível copiar os filmes para um com- 4.7.3 Proyecto Rayuel
putador pessoal. Os cineastas/produtores te-
rão participação (royalties) das receitas gera- O projeto Rayuel, de promoção cultural,
das pela inserção de publicidade, associada à e a empresa sueca CaribeVision, especia-
exibição de seus filmes, via tecnologia strea- lizada em cabos, fibra ótica, comunicação
e publicidade, oferecem aos produtores la-
13
www.microsoft.com/downloads tino americanos a possibilidade de colocar
14
www.real.com
15
áudio e vídeo em tempo real

www.bocc.ubi.pt
O cinema e a produção audiovisual 11

gratuitamente os seus produtos na Internet que qualquer pessoa pode colocar gratuita-
(www.caribevision.com) como: videoclipes, mente seu trabalho neste site, que passará
peças teatrais e monólogos, trailers de filmes por uma seleção, devido ao grande número
ou documentários, vídeo-arte etc. de material recebido todos os dias. O grande
segredo dessa empresa, que consegue atin-
4.7.4 Eveo gir cerca de 16 milhões de visitantes ao mês,
segundo informações publicadas no próprio
O EVEO (www.eveo.com), um dos sites site, se deve à sólidas parceirias com empre-
de streaming de vídeo mais conhecidos, sas de grande porte.
que significa "everyone’s a director" ("Todo Mais de 200 parceiros patrocinam e fa-
mundo é um diretor"), continha um catálogo zem propaganda de suas empresas no site
de 2.500 vídeos e uma rede de 1.500 realiza- da Atom. As boas estratégias dão uma
dores formando seu canal. O site se transfor- grande audiência estimulando cada vez mais
mou em 2003 e acabou se lançando agressi- o investimento de empresas no site, como
vamente numa nova direção: o Eveobiz.com por exemplo, a parceria com a Lucas On-
que irá desenvolver uma plataforma “eVideo line, divisão da Lucasfilm, produtora do
para eBusiness” com a qual pretende inte- filme “Guerra nas Estrelas” do diretor Ge-
grar eficientemente a criação, o streaming e orge Lucas. A Atomfilms abriu espaço para
o processo de distribuição de vídeos para ne- que paródias e documentários sobre o filme
gócios externos. Uma espécie de nova solu- “Guerra nas Estrelas” fossem exibidos no
ção para originar, aplicar, distribuir e gerar site. Além de esse projeto ter estimulado a
receita com o streaming de vídeo na Inter- criatividade de cineastas amadores e anima-
net. Em entrevista à indieWIRE16 , o diretor dores - permitindo a exposição de seus traba-
do EVEO, Olivier Zitoun, declarou que seu lhos num site de grande sucesso - os seleci-
sonho inicial com o EVEO era “democrati- onados pela Atomfilms receberam parte dos
zar o cinema através da Internet”. lucros gerados pelo projeto com propaganda.
O mais novo investimento da Atom Films
4.7.5 Atomfilms é a criação de um canal na TV a cabo de-
dicado exclusivamente a filmes de curta du-
A Atomfilms (www.atomfilms.com) é um
ração, colocando no ar toda sua coleção de
dos maiores e mais bem sucedidos sites
curtas e animações.
provedores de entretenimento atualmente,
e em conjunto com a Shockwave.com
(www.shockwave.com) que distribui jogos, 4.7.6 Anima Mundi Web
formam a AtomShockwave Corporation e O Anima Mundi Web
disponibilizam na Internet um acervo com (www.animamundiweb.com.br) é a ver-
jogos e os melhores curtas-metragens e ani- são virtual do Anima Mundi, um dos
mações já produzidos. A maior parte desses mais destacados festivais internacionais de
vídeos é de produtores independentes, sendo animação do mundo. Desde 2000, vem
16
www.indiewire.com - site de comunidade e fonte realizando a competição online, onde os
para produtores independentes usuários podem votar pelo site, priorizando

www.bocc.ubi.pt
12 Alessandra Campos Pérgola

os trabalhos que utilizam ferramentas arte, que competem na nova categoria, In-
de animação específicas para a Internet, teractiva, e que absorvem em si diferentes
como o programa Flash, da Macromedia mídias concretizando um modelo audiovi-
(www.macromedia.com), onde é possível sual próprio para a Internet. A categoria E-
fazer animações e exportar vídeos em for- cinema traz 15 filmes que mostram também
mato compatíveis com os disponibilizados uma grande variedade de mídias e parâme-
na rede. tros temáticos. Curtas de ficção, vídeo-arte e
experiências videográficas juntos na mesma
4.7.7 FIFI - Festival du Film categoria, para comprovar que as fronteiras
Del’Internet tecnológicas e criativas já não podem ter um
limite certo para demarcação. Já a categoria
Criado em 1999 na França, o FIFI - Fes- Anémic traz as mais variadas técnicas de ani-
tival International du Film de l’Internet mação, do videoclipe à ficção, do sensorial
(www.fififestival.net) apresenta em sua sele- ao conceitual. Mais uma vez, as animações
ção todo e qualquer produto audiovisual e em formato digital (Flash) são agrupadas às
narrativa procedente de um endereço na In- animações tradicionais para que os especta-
ternet. Essa concepção abrangente da produ- dores possam notar sua valorização e desen-
ção e exibição faz deste festival um dos mais volvimento estético, haja visto que é uma
democráticos e diferenciados na Internet. tecnologia desenvolvida para a Internet. Os
documentários também trabalham com a fle-
4.7.8 Fluxus - Festival Internacional de xibilidade do vídeo digital.
Cinema pela Internet
Este festival tem como principal caracte- 4.7.9 Justoaqui
rística o fato de ser exclusivamente vir- A Justoaqui (www.justoaqui.com.br) é o pri-
tual. Em sua quarta edição, o Fluxus - meiro “Guia Brasileiro de Mídia na Inter-
Festival Internacional de Cinema na Internet net”. Os realizadores do site acreditam que
(www.fluxusonline.com) pretende discutir o a tendência da Internet é se tornar, cada vez
cruzamento entre mídias (cinema, vídeo, In- mais, uma mídia completa com rico con-
ternet), suportes, linguagens e gêneros, apre- teúdo de áudio e vídeo.
sentando em sua competição documentários, A proposta da Justoaqui é de classificar,
animações, filmes e vídeos de narrativa fic- comentar e disponibilizar este material exis-
cional e experimental. Na sua terceira edi- tente na Internet (vídeo, tv, webcam e esta-
ção em 2002, o Fluxus recebeu 351 trabalhos ções de rádio), indicando o caminho deste
dos mais diversos formatos, estilos e gêne- conteúdo ao usuário, de forma a simplificar
ros, inscritos de todas as partes do mundo. e objetivar o acesso a ele, não se restringindo
A nova edição do festival tende a valorizar o apenas em catalogar ou buscar endereços de
cinema contemporâneo e todo trabalho que sites na Internet, mas também a jogar um
incorpora em si o conceito de imagem em olhar crítico sobre este conteúdo. Por não
movimento. Esta diversidade expressiva po- produzir conteúdo próprio, a Justoaqui tem
derá ser observada nos trabalhos de web- total independência de ponto de vista e, com

www.bocc.ubi.pt
O cinema e a produção audiovisual 13

uma equipe de críticos, comentaristas e es- mente promove uma festa nada virtual num
pecialistas de conteúdo audiovisual, a meta hotel em Los Angeles. O filme "Time-
da Justoaqui é oferecer um serviço que se code"17 , de Mike Figgis (2000), teve sua pré-
torne uma referência para o internauta. Além estréia no Yahoo Festival. Figgis usou a In-
de identificar e comentar mídias disponíveis ternet para produzir e promover o filme e em
na Internet, a Justoaqui oferece também, em seu site, foi feito um making of da produção,
cada vídeo ou áudio, uma tribuna livre para em que era possível acompanhar a filmagem
os seus usuários deixarem críticas e comen- e as reuniões do elenco, e ver algumas das
tários. Estes são somados aos comentários cenas sendo filmadas.
da equipe da Justoaqui, consolidando o as- "Timecode", cuja atriz principal é Salma
pecto independente da crítica e aumentando Hayek, tem um formato inusitado: são qua-
a sua confiabilidade. tro histórias filmadas com uma câmera digi-
A Justoaqui pretende contribuir no desen- tal, que acontecem ao mesmo tempo em qua-
volvimento deste novo tipo de mídia, lan- tro cantos da tela, e cujos personagens se en-
çando em breve um programa de patrocínio contram ao final do filme.
de produções independentes de conteúdo au- Outros participantes do festival são
diovisual na Internet. Produtores de vídeo Sam Solokow e Rob Robbins Lobl, que
e áudio poderão enviar seus projetos para a dirigiram o filme "The Definite Maybe"18 ,
Justoaqui, que terão sua qualidade avaliada lançado pela Internet. No site (mo-
por uma equipe especializada. Caso apro- vies.yahoo.com/onlinefilmfestival) os
vado, o material poderá ser digitalizado e visitantes podem votar no melhor curta-
hospedado no site do Justoaqui sem custo ne- metragem e no melhor curta de animação,
nhum para o produtor. entre 24 filmes. Muitos deles saíram de
sites de cinema independente como Ifilm
4.7.10 Senef Online Festival (www.ifilm.com) e do excelente AtomFilms.
Os vencedores do Yahoo Festival terão
Como resposta à emergência das produções seus filmes distribuídos nos sites Atom-
audiovisuais que utilizam novas tecnologias, Films, IFilm, IMDb e pelo programa
desde o ano de 2000 o Seoul Net Festival, Advantage da Amazon. Outros sites de
na Coréia, realiza sua versão online. O fes- cinema que participam da festa do Yahoo:
tival procura antever o panorama da tecno- CinemaNow (www.cinemanow.com),
logia digital, de trabalhos realizados especi- Honkworm (www.honkworm.com),
ficamente para a Internet. O SeNef Online IMDB (www.imdb.com), Hit-
Festival (www.senef.net) promove as novas Play (www.hitplay.com), Mandalay
propostas que redefinem as fronteiras do ci- (www.mandalay.com), Pop (www.pop.com),
nema como linguagem. empresa da DreamWorks e SightSound
(www.sighsound.com).
4.7.11 Yahoo Online Festival O site StreamSearch (www.streamsearch
17
O Yahoo Online Festival (www.onlinefilmfe www.imdb.com/title/tt0220100/
18
stival.com) começou na Internet e atual- www.ifilm.com/filmdetail?ifilmid=5760

www.bocc.ubi.pt
14 Alessandra Campos Pérgola

.com) promove também um festival, que entretenimento. Possui uma vasta coleção de
acontece desde fevereiro na Internet. O Stre- curtas-metragens, clipes, comerciais e trai-
amSearch tem uma quantidade enorme de lers de filmes e jogos.
filmes de cinema e TV, em sua maioria pro- A rede do IFILM inclui parceiros de dis-
duções comerciais, e funciona também como tribuição online como o Yahoo Movies, Win-
uma agenda de vídeos e filmes em outros si- dowsMedia, RealNetworks, Xolox19 e tam-
tes. bém parceiros de distribuição offline20 como
os canais Independent Film Channel21 e
4.7.12 Pocket Movies NBC22 . A IFILM também oferece um cardá-
pio para soluções de marketing para comuni-
O Pocket Movies (www.pocketmovies.net) é cação em banda larga.
um site pessoal criado em agosto de 2000 por
Jérôme Neuvéglise, um francês que destina
4.7.14 BMW Films
seu tempo livre para distribuição de curtas-
metragens na Internet. Embora a estrutura É uma série de curtas-metragens, intitulada
comercial do site seja pequena, o Pocket Mo- “The Hire”, criada pelos maiores talentos de
vies consegue atingir um público fiel e re- Hollywood, como o diretor John Woo, ba-
lativamente grande, alcançando uma popula- sicamente para fazer propaganda dos carros
ridade semelhante a de grandes sites distri- da BMW (famosa marca de carros). Há no
buidores de curtas-metragens. O site possui site (www.bmwfilms.com) a possibilidade
um acervo de ótima qualidade, porém exis- de comprar o DVD, com oito vídeos estre-
tem restrições de espaço em banco de da- lados pelo ator Clive Owen (de “Identidade
dos devido à falta de investimento. Segundo Bourne”) no papel do motorista. As mano-
Jérôme “existe um custo alto para que haja bras exibicionistas dos carros nos vídeos são
uma transferência de arquivos do banco de feitas por uma equipe especializada de mo-
dados do site para um computador pessoal toristas da BMW.
de 50/60 GB por dia (fluxo atual de downlo- Algumas faculdades de audiovisual brasi-
ads diários)” (2003, www.pocketmovies.net) leiras mantêm servidores com vídeos expe-
e para manter o site ativo, muitas vezes rimentais ou trabalhos de curso de seus alu-
é preciso retirar alguns vídeos e adiar as nos disponíveis em sites, onde usuários po-
atualizações nos curtas-metragens distribuí- dem acessar e assistir gratuitamente. Isso
dos. Ainda assim o número de pessoas que colabora também para a divulgação dos cur-
freqüentam e participam dos fóruns disponí- sos de audiovisual no Brasil, que já são um
veis no site é significativo. dos mais concorridos dos vestibulares, mos-
19
Programa para compartilhamento de arquivos
4.7.13 Ifilm como o Kazaa. Busca muito eficiente para ar-
quivos de áudio, vídeo, softwares, imagens, etc.
O IFILM (www.ifilm.com) é atualmente um (www.xolox.nl)
20
dos maiores sites de streaming de vídeo, disponível fora da Internet também
21
atraindo uma audiência mensal de aproxima- www.ifctv.com/ifc
22
www.nbc.com
damente sete milhões de consumidores de

www.bocc.ubi.pt
O cinema e a produção audiovisual 15

trando os trabalhos desenvolvidos na facul- ming, o computador do usuário precisa rece-


dade, para que estudantes possam assistir e ber as informações da Internet rapidamente.
optar melhor por um curso de cinema ou pela Quando isso não acontece, a transmissão
faculdade. é temporariamente interrompida, por isso
O curso de Imagem e Som da Universi- existe a necessidade de que os usuários pos-
dade Federal de São Carlos mantém, desde suam Internet rápida (banda larga) para que
2002, um banco de dados digital para vídeos a distribuição alcance êxito. A cada dia, no-
feitos pelos alunos, com o objetivo de divul- vas técnicas são desenvolvidas e tecnologias
gar toda a produção audiovisual do curso di- aperfeiçoadas, mas ainda falta muito para
gitalmente, independente da forma de cap- que as transmissões em streaming alcancem
tação. Esse serviço do servidor é gratuito, uma qualidade de som e imagem semelhan-
mas só permite 25 conexões simultâneas, o tes a um DVD. O motivo é simples: velo-
que pode ser alterado e aumentado de acordo cidade e estabilidade da conexão. Como a
com a demanda de usuários. O site (vi- maioria dos usuários ainda não tem uma co-
deos.ies.ufscar.br) utiliza a tecnologia da Re- nexão veloz o suficiente, é preciso abrir mão
alNetworks. da qualidade para que a transmissão se torne
viável. Quanto maior a qualidade do áudio
4.8 Tecnologia na distribuição de e/ou vídeo, mais rápida precisa ser a cone-
xão do usuário e, também, do provedor onde
vídeos na Internet o servidor de streaming está hospedado.
Uma grande parte dos vídeos disponibiliza- Na área de streaming, como em todo
dos na Internet utilizam uma tecnologia cha- mercado emergente, as empresas fabricantes
mada streaming, que é uma forma de trans- de programas vivem uma verdadeira guerra
mitir áudio e/ou vídeo através da Internet para conquistar consumidores. Há pelo me-
ou de qualquer outra rede. Essa ferramenta nos sete softwares disputando a preferência
permite que o vídeo possa ser assistido sem do usuário. Para o internauta, isso tem al-
precisar aguardar o download completo do gumas conseqüências ruins: a necessidade
arquivo. Isso permite, entre outras coisas, de instalar vários programas no computador
transmissão ao vivo de rádio e TV através da para ouvir e ver o conteúdo oferecido por
Internet. todos os sites. Embora não exista um pa-
Quando se faz download tradicional de drão único para streaming, três empresas já
um arquivo de vídeo, por exemplo, é neces- se firmaram como líderes absolutos: a Re-
sário que todo o arquivo seja salvo no com- alNetworks, fabricante do RealPlayer, atual
putador para só então abrí-lo, ou seja, são líder de mercado; a Microsoft, que dispõe do
dois processos: um de fazer o download, Windows Media Player e a Apple, criadora
“baixar”, e outro de abrir o arquivo. Com o do QuickTime (www.apple.com/quicktime).
streaming o computador fica constantemente Os três padrões são incompatíveis entre si,
recebendo o áudio ou vídeo, que já é apre- por isso a maioria dos sites distribuidores de
sentado ao usuário quase que instantanea- produtos audiovisuais disponibilizam e/ou
mente. utilizam todas as tecnologias, sempre dando
Quando se faz uma transmissão em strea-

www.bocc.ubi.pt
16 Alessandra Campos Pérgola

opção de download dos três players e o usuá- transmitido em SureStream, sua qualidade se
rio escolhe qual programa utilizar. adapta às condições de rede e velocidade de
A RealNetworks se beneficiou do seu pró- conexão do usuário, ou seja, quanto mais rá-
prio pioneirismo e tem um grande número de pidas estiverem as condições de rede, melhor
adeptos, mas a Microsoft investe muito para será a qualidade do áudio/vídeo transmitido.
conquistar o mercado - chegando a distribuir Esta qualidade pode variar durante a repro-
seu programa no pacote de instalação do sis- dução. A Microsoft, logo em seguida, criou
tema operacional Windows, uma excelente um sistema semelhante para o Windows Me-
estratégia que ajuda o software a se fixar no dia Player, desta forma as empresas seguem
mercado rapidamente. na disputa do mercado e surgem novas for-
O Quicktime em sua versão 6.0 atingiu o mas de melhorar o processo de distribuição.
recorde23 de 25 milhões de downloads em Outra tecnologia que deu início à popula-
menos de 100 dias. Isso ocorreu pelo fato do rização da distribuição de produtos audiovi-
software suportar agora o formato MPEG4, suais na Internet é o Divx, um codec (com-
que a Apple pretende divulgar e transformar pressor/descompressor) que permite a exibi-
em um padrão de vídeo na Internet. Segundo ção de vídeo em alta qualidade. O Divx foi
a empresa, o MPEG-4 tem melhor qualidade baseado no codec MPEG-4, que é embutido
que o formato MPEG-2, usado em DVDs. no Windows Media, da Microsoft, e rapida-
Esses softwares juntos cobrem mais de mente ganhou status por sua poderosa capa-
90% das necessidades do internauta na visu- cidade de compressão, permitindo a troca de
alização de streaming. filmes inteiros pela rede, sendo capaz de re-
As empresas continuam pesquisando para duzir um vídeo cerca de 15% do seu tama-
resolver os diversos problemas que ainda nho, sem perda de qualidade. Desta forma, é
atrapalham a distribuição de vídeos na Inter- potencializada a possibilidade de manipular
net. Existem ainda muitos fatores que po- com eficiência a qualidade das imagens caso
dem atrapalhar a transmissão, como um pos- existam problemas de comunicação e de lar-
sível congestionamento na rede, por exem- gura de banda, muito comuns na visualiza-
plo, onde várias pessoas tentam assistir a ção do streaming. Se houver uma queda na
um vídeo ou filme no mesmo momento e, velocidade e na quantidade de dados recebi-
quando isso ocorre, o computador do usuá- dos da rede, o player manda uma solicitação
rio não consegue receber as informações de de reajuste da qualidade da imagem para o
forma rápida o suficiente e a transmissão é servidor evitando que haja uma interrupção e
interrompida. a perda de qualidade seja pouco perceptível,
A Real, fabricante do Real Player, lançou já que somente a qualidade de alguns objetos
há algum tempo uma tecnologia chamada é alterada e não de todo o vídeo como na tec-
SureStream. Quando um áudio ou vídeo é nologia SureStream. O Divx atualmente não
23 permite o streaming de vídeo, mas já possui
Dados do site
“http://www.lojapple.pt/news/news.html“ dedi- um projeto em desenvolvimento.
cada a alguns destaques das notícias dos principais
portais de notícias relacionados com a Apple -
18/out/2002

www.bocc.ubi.pt
O cinema e a produção audiovisual 17

4.9 Projeção digital captação de imagens em vídeo, a sofis-


O impacto das tecnologias digitais na distri- ticação dos recursos de computação grá-
buição cinematográfica já é tema de debates fica, a expansão da Internet em banda
constantes. A transmissão digital de dados larga e a possibilidade técnica de gravar
via satélite está revolucionando a distribui- em vídeo na velocidade de projeção do
ção de filmes. Segundo Edson Sofiatti, da cinema, pode-se agregar um quinto ele-
empresa Star One24 , “um filme pode estar ao mento e chegar ao que podemos chamar de
mesmo tempo em cinemas dos quatro can- “e-cinema - electronic cinema” (BLASIIS,
tos do país com custos muito menores para o 2002, www.kinoforum.org). Esse último ele-
distribuidor em relação à cópia em película” mento é a projeção digital.
(2003, www.starone.com.br). Os sistemas Neste novo formato, poderemos exibir
de transmissão e armazenamento da imagem produtos audiovisuais originados de vídeo
e do som de um filme, além das tecnolo- ou de película e finalizados eletronicamente,
gias de compressão e transmissão, se bene- com resolução de mais de 2 milhões de pi-
ficiam também de tecnologias originalmente xels25 e som multicanal digital. Este novo
desenvolvidas para outros setores, como por produto poderá ser "transmitido"via satélite
exemplo, os sistemas de criptografia, desen- ou fibra ótica de um único centro de distri-
volvido para o setor bancário, o que torna o buição para muitas salas de cinema e tam-
sistema seguro. bém poderá ser exibido a partir de CDs com
O filme será transmitido para os cinemas alta resolução de imagens. Nos dois casos, a
interessados, que armazenarão os dados no projeção digital representa uma grande eco-
computador e terão o direito de exibi-lo um nomia para os setores de produção e distri-
certo número de vezes. Isso permite uma buição, o que poderá trazer uma grande de-
enorme agilização da distribuição de filmes mocratização de alcance nos meios de proje-
e uma redução considerável dos custos de ção.
transporte, estocagem e legendagem. Poderemos ter de volta salas de cinema de
Essa economia beneficia, num primeiro pequeno porte (principalmente nas cidades
momento, o distribuidor. Pequenos produ- do interior), com programações compradas
tores poderão ganhar também, pois terão via Internet e exibida via satélite; em alguns
acesso a circuitos de exibição maiores, já que casos, a programação poderá ser adquirida
o custo de produção de cópias no novo sis- em consignação, de acordo com a demanda
tema é bastante inferior ao de cópias em pe- de sessões necessárias para cada local. Esse
lícula. Do lado do espectador, a grande van- novo cinema pode ser um aliado das gran-
tagem é assistir a cópias sempre novas, sem des distribuidoras, que buscam nele uma ma-
perdas de qualidade de imagem e som, dis- neira de baratear seus custos de distribuição,
poníveis num número maior de salas. pode também propiciar o surgimento de no-
Junto com a evolução na qualidade de vas distribuidoras independentes o que, em
25
24 Os pixels podem ser definidos como pontos que
Empresa com o primeiro serviço de
compõem a imagem, quanto maior o número de pi-
acesso à Internet via satélite do Brasil –
xels, maior será a definição da imagem obtida.
http://www.starone.com.br

www.bocc.ubi.pt
18 Alessandra Campos Pérgola

conjunto com as demais transformações já tecnologias apontam para sua superação - há


em andamento, pode se tornar um importante pelo menos dez anos a computação gráfica
fator para o aumento da participação de fil- e a composição digital dominam o chamado
mes brasileiros no mercado exibidor. "cinema de efeitos especiais".
A grande questão do momento é quem Futuramente a Internet irá complementar
irá pagar por uma transformação tão radi- o processo de digitalização dos filmes lan-
cal no setor audiovisual. Atualmente, de çados nos cinemas podendo realizar a sua
acordo com a Associação Cultural Kinofo- transmissão para os projetores digitais na
rum, um blockbuster americano gasta em exibição em grande escala. A exclusão da
torno de US$ 15 milhões em cópias para a película nesses procedimentos de exibição
sua distribuição mundial. No total, o mer- digital de um filme pode ser uma conseqüên-
cado dos grandes estúdios gasta por volta de cia. Isto aconteceu recentemente pela pri-
US$ 4 bilhões ao ano em distribuição e exi- meira vez, em caráter experimental com o
bição, num mercado mundial de cerca de 125 desenho animado “Titan A.E”26 dos estúdios
mil salas de cinema (35 mil das quais situa- Fox.
das nos Estados Unidos). Uma análise feita O desenho animado de ficção científica foi
com os custos atuais de instalação de uma completamente transmitido pela Internet da
sala de projeção digital conclui que, em dez Califórnia (EUA) para um projetor digital de
anos, teremos por volta de 135 mil salas pa- um cinema em Atlanta (EUA). O arquivo de
drão contra cinco mil digitais. Mesmo com tamanho “gigante” (50 gigabytes), mesmo
a grande pressão que os produtores exerce- com conexões hiper velozes especiais, de-
rão sobre as redes de exibição para que se morou 4 horas para completar o download.
adeqüem ao sistema de projeção digital, os O filme “Star Wars - A Ameaça Fantasma”,
custos falarão mais alto ao exibidor. Será por exemplo, foi exibido digitalmente, mas
uma grande disputa entre produtores e exi- “Titan A. E” é o primeiro filme a ser trans-
bidores. mitido pela Internet.
Esses fatores não impedem que a projeção Os grandes executivos das empresas en-
digital possibilite o surgimento de espaços volvidas na operação acreditam que ainda
alternativos de exibição para produtos que vai demorar muitos anos para que o cinema
poderiam jamais chegar ao público de outra veja o fim da película, pois os custos para
forma, ou até mesmo deixarem de ser produ- uma exibição digital ainda são muito altos
zidos. e as transmissões via Internet colocam em
A conjunção desses fatores não está tão risco a questão dos direitos autorais e a pi-
longe de nós, mas já é o resultado de um pro- rataria.
cesso em andamento. Atualmente, convivem 26
www.preview-online.com/may_june00/feature_
duas grandes vertentes: aqueles que produ- articles/TitanAe/
zem eletronicamente para exibir em película
ou em digital, e aqueles que produzem em
película para finalizar e exibir por meio óp-
tico ou eletrônico. No campo óptico, pratica-
mente tudo já foi experimentado e as novas

www.bocc.ubi.pt
O cinema e a produção audiovisual 19

5 Conclusão “parametrizar o diálogo entre os procedi-


mentos analógicos e os recursos digitais,
Mesmo que ainda demore a ser tão agradável
aplicados não somente nos canais de cinema
ver um filme pela Internet quanto no cinema
na Internet, mas na produção audiovisual em
ou na TV, o cinema digital já está funcio-
geral” (MASSAROLO, 2001, p.2).
nando como laboratório de ensaio para novos
O resgate da linguagem audiovisual e
cineastas, reduzindo enormemente os custos
a atualização dos “conteúdos cinemáticos”
de produção e distribuição. Se um filme rom-
(MASSAROLO, 2001, p.3) fazem parte do
per barreiras e conquistar um público na In-
processo de integração dos procedimentos de
ternet, é mais que meio caminho andado para
produção. Na era do entretenimento digital
chegar à tela grande.
não existem dúvidas de que a Internet é a
Das experiências cinematográficas online
mídia ideal para a exibição e a promoção de
poucas exploram o conceito mais amplo de
filmes e vídeos online, e uma das questões
interatividade. Mas não é obrigatório que
centrais que fica em aberto na produção au-
tudo seja interativo. Atualmente abusa-se
diovisual independente são as relações entre
demais no emprego da palavra "interativi-
os produtores das mídias digitais e as empre-
dade"e nem sempre se usa esse termo no
sas de telefonia e provedores, principalmente
sentido mais exato. “Fundamentalmente, in-
sobre direitos autorais.
teratividade é a propriedade de um sistema
de admitir a intervenção ativa de um agente
externo como um concriado da obra” (MA- 6 Referências bibliográficas
CHADO, 2002, www.justoaqui.com.br).
10 anos de Internet no País. RNP –
Nem sempre o que se vende como intera-
Rede Nacional de Ensino e Pesquisa.
tividade dá de fato ao espectador esse poten-
Notícias RNP. Rio de Janeiro, 7
cial criativo. Por exemplo, há filmes lança-
de junho de 2002. Disponível em:
dos no mercado em DVD e vendidos como
<http://www.rnp.br/noticias/2002/not-
"filme interativo". Na verdade, o especta-
020607e.html>. Acesso em outubro de
dor que entra nesse filme não monta seu pró-
2003.
prio filme, mas apenas obtém um filme for-
matado especialmente para ele. Uma série ASSOCIAÇÃO DE CINEMA DIGITAL
de questionários inseridos ao longo da narra- ONLINE. Revista Brasil Digital. Se-
tiva vai permitindo ao programa selecionar ção What’s Up. Entrevistas e artigos
apenas aquelas situações dramáticas que o sobre cinema digital. Disponível em:
espectador teoricamente deve considerar as <http://www.justoaqui.com/festival/wh
ideais. O resultado é um filme linear, até ats.htm>. Acessos em: outubro de
mesmo convencional, só que personalizado, 2003.
ou seja, nele só acontece o que o especta-
dor, em função de seus valores, gostaria que BADÔ, Fernando. Internauta monta grade
acontecesse em todo e qualquer filme. de programação de TV. A Folha de
O estudo das ferramentas de trabalho dis- São Paulo. São Paulo, 07 setembro de
ponibilizadas na Internet é uma forma de 2003. Seção Ilustrada. Disponível em:

www.bocc.ubi.pt
20 Alessandra Campos Pérgola

<http://www.folha.com.br>. Acesso em <http://jbonline.terra.com.br/jb/capassi


07 de setembro de 2003. te/internet/>. Acessos em outubro de
2003.
BLASIIS, José Augusto. Cinema digital e os
novos formatos de distribuição. Asso- JORNAL ONLINE FINANCIAL TIMES.
ciação Cultural Kinoforum, dezembro Dados sobre Internet no mundo. Dis-
de 2000. Seção Textos. Disponível em: ponível em: <http://www.ft.com>.
<http://www.kinoforum.org/guia/2002>. Acesso em 19 de agosto de 2003.
Acesso em 22 de setembro de 2003.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Edi-
CINEAMADOR Lista de discussão. Lista tora 34, 1999.
mantida pelo serviço GRUPOS do
Yahoo! Brasil. Discussão no mês MACHADO, Arlindo. A televisão levada a
de novembro de 2003 sobre a Mas- sério. São Paulo: SENAC, 2000.
tery TV. Disponível em: <cineama-
MACHADO, Arlindo. Qual será a cara
dor@yahoogrupos.com.br>.
do cinema na web? Revista Brasil
Cinema na rede. Organização Itaú Cul- Digital. Seção What’s Up. Online,
tural. Evento Interatividades, 5 a 15 outubro de 2003. Entrevista conce-
de novembro de 2002. Disponível dida a Francesca Azzi. Disponível em:
em: <http://www.itaucultural.org.br>. <http://www.justoaqui.com>. Acesso
Acesso em 13 de novembro de 2003. em novembro de 2003.

CRUZ, Roberto Moreira. Já na ter- MASSAROLO, João Carlos. Cinema na


ceira idade, JODI é de tirar o fô- web. Revista Sinopse, no 6, ano III,
lego!. Revista Online Brasil Digi- 2001.
tal. São Paulo, novembro de 2003.
ORGANIZAÇÃO ITAÚ CULTURAL.
Seção What’s Up. Disponível em:
Seção Cibercultura. Disponível em:
<http://www.justoaqui.com/festival/wh
<http://www.itaucultural.org.br>.
ats11.htm>. Acesso em 12 de novem-
Acesso em 15 de novembro de 2003.
bro de 2003.
RAMOS, Fernão Pessoa et al. Estudos So-
Empresas criam primeira plataforma de
cine de Cinema, ano III 2001. In:O lu-
distribuição online da A.L. Jornal
gar do cinema. Porto Alegre: Editora
JB Online, Rio de Janeiro, 18 de
Sulina, 2003. p.35-48.
junho de 2003. Disponível em:
<http://jbonline.terra.com.br/jb/capassit RAMOS, Fernão Pessoa et al. Estudos So-
e/internet/>. Acesso em 2 de outubro cine de Cinema, ano III 2001. In: HOH-
de 2003. FELDT, Antonio. A informação num
universo futuro da comunicação. Porto
JORNAL JB ONLINE. Caderno Internet.
Alegre: Editora Sulina, 2003. p.61-68.
Internet e novas tecnologias. No-
tícias em geral. Disponível em:

www.bocc.ubi.pt
O cinema e a produção audiovisual 21

RAMOS, Fernão Pessoa et al. Estudos So-


cine de Cinema, ano III 2001. In:
MÜLLER Jr., Adalberto. Televisão: A
experiência dos limites no cinema con-
temporâneo. Porto Alegre: Editora Su-
lina, 2003. p.329-338.

RAMOS, Fernão Pessoa et al. Estudos So-


cine de Cinema, ano III 2001. In:
MIGLIORIN, Cezar. Cinema digital.
Porto Alegre: Editora Sulina, 2003.
p.409-413.

REALITY TV WORLD. Fornece cobertura


para centenas de programas de rea-
lity show para televisão. Disponível
em: <http://www.realitytvworld.com>.
Acesso em 30 de outubro de 2003.

SMITH, Scott. O cinema online está nas


mãos dos realizadores, aproximando-se
de seu público. Revista Brasil Digi-
tal. Seção What’s Up. Online, ou-
tubro de 2003. Entrevista concedida
a Francesca Azzi. Disponível em:
<http://www.justoaqui.com>. Acesso
em novembro de 2003.

UNIVERSO ONLINE. Portal brasileiro


sobre diversos assuntos. Seção
Mundo digital. Disponível em:
<http://www.uol.com.br>. Acessos em
outubro de 2003.

Tecnologia digital revoluciona distribui-


ção de filmes. Jornal da Mostra,
o
São Paulo, n 232, 25 de ou-
tubro de 2003. Disponível em:
<http://www.uol.com.br/mostra>.
Acesso em 10 de outubro de 2003.

www.bocc.ubi.pt

Você também pode gostar