Texto 03: Desenvolvimento rural – modelos e dinâmicas
Os estudos sobre desenvolvimento rural vêm crescendo no Brasil,
acompanhado com a necessidade de reavaliação da forma como é classificado o que é urbano e o que é rural. Visto que se fosse baseado no tamanho e densidade populacional dos municípios, poderia ser visto que o crescimento populacional foi maior no Brasil rural nos anos 90 do que no urbano. O desenvolvimento rural vai além do crescimento econômico, uma vez que envolve outros fatores, como: ambientais, socioculturais entre outros. A concepção ultrapassada de que desenvolvimento deveria levar em consideração apenas a renda per capita e o produto, tornou-se um indicador insuficiente, e foi apontado que a pobreza e o bem-estar são fatores multidimensionais. Exemplo disso são os países que mesmo tendo quantidades suficientes de alimentos, sofreram com a fome, não por motivos de escassez de alimentos no país, mas sim por falta de acesso das pessoas aos mesmos. O autor apresenta o conceito de entitlement, que seria o “direito de acesso” das pessoas, e que esse acesso varia conforme condições de riqueza, força de trabalho e tecnologias, conhecimentos e habilidades. E que no sistema de entitlement, falhas podem causar a fome mesmo com alimentos, exemplo a grande fome em Bengala, em 1943 onde 1,5 milhões de pessoas morreram sendo as maiores vítimas os que não tinham recursos para arcar com os altos preços e que perderam seu direito a quota correta de alimento. Foi abordado também que quem está numa sociedade pobre detém apenas do necessário para manter a sobrevivência física, e quem tem condições melhores as necessidades básicas são maiores e mais complexas. Que o termo capacidades busca mostrar as habilidades para agir e conquistar estados que a pessoa deseje, e em casos de extrema pobreza essas capacidades centrais são as mais básicas como nutrição, abrigo e saúde (básica). A pobreza vai além da falta de recursos financeiros, podendo ser apontada por outras razões, como de que forma essa renda é distribuída dentro da própria família, e como ela é aplicada, a relação entre a renda e a capacidade que varia, privação relativa de renda (mesmo tendo recursos a pessoa não consegue buscar realizações). Existem diversos indicadores sociais que poderiam ser utilizados para conceituar o desenvolvimento. E o paradigma de que apenas a modernização agrícolas que levariam o desenvolvimento rural foi substituído pela visão de um novo modelo pautado na valorização do trabalho familiar e pluriatividade, produção de bens públicos (paisagem, valores naturais), políticas de desenvolvimento rural, diversidade de atividades, conservação da natureza entre outros. Outro quesito apresentado foi a diferença entre os modelos de modernização X desenvolvimento rural: enquanto o primeiro visa a produção intensiva de monoculturas em grande escala, com uso de defensivos e insumos sendo muito dependente do mercado externo, o segundo visa o cooperativismo, a pluriatividade, a independência de insumos externos, produção mais correta ambientalmente. A relação entre as zonas rurais com os centros urbanos: que os dois tem uma inter-relação muito grande, e que quanto maior a integração entre os dois melhor, visto que as vantagens de cada um se combinariam. Duas visões gerais sobre o tema foram apresentadas: uma de globalização e a de localização e localidade que dá mais autonomia para os agentes locais, e destacou sobre a importância de integrar elementos locais e não-locais para aumentar o desenvolvimento rural, que deve combinar os aspectos econômicos, sociais, ambientais e a diversificação das atividades. O padrão dos centros urbanos influencia nas possibilidades oferecidas as populações rurais do entorno, assim como o próprio urbano é influenciado pelos processos rurais. No Brasil dos anos 30 aos 60 o êxodo rural foi causado pelo atraso na agricultura e a vida difícil no ambiente rural causou a migração para os grandes centros urbanos, já nos anos seguintes esse êxodo se deu pela modernização agrícola. Nos países desenvolvidos como os da Europa, essa migração foi melhor absorvida por políticas de geração de emprego e renda, absolvição dessa mão de obra em período de escassez de mão de obra, menor peso de áreas rurais marginais, melhores investimentos; revelando assim a diferença de condições para países desenvolvidos e em desenvolvimento nesse quesito. Dentre os fatores que favorecem o desenvolvimento rural, foi identificado pelo autor: igualdade no acesso à terra e a educação, diminuindo a pobreza nas áreas rurais, agricultura familiar diversificada, concentração espacial das atividades que auxilia no dinamismo das áreas rurais, além de organização que valorizem o território e gere ações para esse desenvolvimento.
Texto 04: O desenvolvimento do campo no Brasil
O crescimento econômico no Brasil, durante a expansão da economia mundial, não apresentou um desenvolvimento efetivo, visto que os problemas como posses de terra concentradas se agravaram, e as políticas públicas para o campo foram centradas para que a agropecuária cumprisse funções de: produzir alimentos e matérias primas para indústrias em quantidade suficiente, aumentar as exportações agrícolas, liberar mão-de-obra para a indústria e transferir renda para as cidades. O campo conseguiu cumprir essas funções, porém esse crescimento econômico aumentou as desigualdades sociais, a urbanização desorganizada com a migração interna, e problemas ambientais. As políticas públicas para o desenvolvimento rural se deu de forma desigual, focando em produtores de médio e grande porte, com foco no aumento da produtividade, dificultando o acesso de pequenos produtores a recursos e técnicas para melhoramentos. Com a crise nos anos 80 as políticas públicas diminuíram, porém alguns locais do Brasil o campo continuou em movimento (cerrado do Brasil Central). Nos anos 90 foi percebido a importância da agricultura familiar para o mercado interno e empregos no campo, e devido a movimentos sociais algumas políticas públicas foram criadas com foco nos pequenos produtores, com créditos com melhores taxas de juros, e uma visão da necessidade dessas políticas, mas sem um programa de desenvolvimento efetivo. Sempre visando apenas a liberação de crédito, sem uma política efetiva que assegurasse um desenvolvimento rural expressivo que considerasse as características heterogênea e multifuncional do campo. Apesar da produção agropecuária representar uma parcela importante das atividades rurais, com o crescimento da população rural a partir dos anos 80 as atividades rurais não-agrícolas se tornaram mais presentes e a característica de multifuncionalidade do campo se destacou, causado por um dinamismo econômico com os centros urbanos, onde o aumento da instrução da população rural e das relações entre o urbano e o rural e diminuição da renda de origem agropecuária, fez com que a população rural exerça atividades na cidade mesmo morando no campo. Essa nova dinâmica rural, traz à tona a necessidade de políticas para o melhor aproveitamento de todas as atividades desenvolvidas no campo e que elas gerem renda, além de melhorar as condições ambientais para conseguir manter essa população, sua manutenção e continuação. No Brasil, a partir dos anos 90 foi reconhecido o caráter multifuncional das zonas rurais, não sendo vinculado apenas às atividades agropecuárias e estabeleceu políticas públicas baseadas no território (replicando o que foi feito na Europa, mesmo em contextos diferentes). Ficando claro a necessidade de participação dos agentes locais (desenvolvimento endógeno) no desenvolvimento rural, enquanto algumas pessoas defendem essa participação dos agentes locais, outras não são tão confiantes nela. As dificuldades dos conselhos municipais são de: falta de recursos, quadro técnico e envolvimento de seus membros e rejeição por parte de alguns prefeitos. No Brasil a descentralização das políticas públicas em municípios do interior não tem atingidos os objetivos, devido a dificuldades de ordens variadas. As políticas públicas devem ser criadas para que as populações do campo obtenham os serviços básicos, e na impossibilidade desses serviços chegarem a essas pessoas, o poder público tem o dever de auxiliar no deslocamento das pessoas com menores recursos até esses serviços nos centros urbanos. Além disso elas devem garantir o desenvolvimento sustentável, a valorização dos pequenos produtores rurais e apoio aos mesmos.