AULA
Afinal, o que é textualidade?
Rosane Mauro Monnerat
Ilana Rebello Viegas
Metas da aula
Apresentar a textualidade como elemento
responsável pela estruturação semântica de
qualquer texto e estabelecer os fatores
da textualidade.
objetivos
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Agora você vai analisar mais alguns exemplos, a fim de verificar
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AULA
se todos são textos, ou seja, se apresentam textualidade.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
EXEMPLO A
Como se conjuga um empresário
Celal Teber Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se.
Barbeou-se. Enxugou-se. Perfumou-se. Lanchou.
Escovou. Abraçou. Beijou. Saiu. Entrou. Cumpri-
mentou. Orientou. Controlou. Advertiu. Chegou.
Desceu. Subiu. Entrou. Cumprimentou. Assen-
tou-se. Preparou-se. Examinou. Leu. Convocou. Leu.
Comentou. Interrompeu. Leu. Despachou. Confe-
riu. Vendeu. Vendeu. Ganhou. Ganhou. Ganhou.
Lucrou. Lucrou. Lucrou. Lesou. Explorou. Escondeu.
Burlou. Safou-se. Comprou. Vendeu. Assinou. Sacou.
Depositou. (...)
(Fonte: http://micropoema.blogspot.com/2006/04/como-
EXEMPLO B EXEMPLO C
Samuel Ducroquet
Bethany Carlson
A PESCA
o anil
o anzol
o azul
o silêncio
o tempo Fonte: http://www.sxc.hu/
o peixe photo/848431
(...)
Silêncio!
(Affonso Romano
Fonte: http://www.sxc.hu/
de Sant’anna)
photo/764088
EXEMPLO D
cama o menino na joga
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Português I | Afinal, o que é textualidade?
Após a leitura dos exemplos acima, você pode afirmar que todos são textos?
Justifique sua resposta, comentando cada exemplo.
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RESPOSTA COMENTADA
Os exemplos A, B e C são textos.
Os exemplos A e B não apresentam elementos de coesão (ligação)
entre as frases, mas são vistos como textos, pois o sentido é dado
pelo próprio título. Todas as frases verbais (frases que apresentam
pelo menos um verbo) do texto A fazem referência a um dia de
trabalho de um empresário, visto como uma pessoa extremamen-
te voltada para o lado material da vida, preocupada com o “ter”.
Já as frases nominais (frases sem verbo, constituídas só de nomes
− substantivo, adjetivo e pronome) do texto B têm relação com a
atividade de pescar.
O texto C, por sua vez, mesmo sendo constituído por apenas uma
frase nominal (esta também formada por uma única palavra),
transmite uma informação, ou seja, qualquer pessoa que lê ou
ouve essa frase compreende que não pode fazer barulho, ou que
é para ficar quieto.
Já o último exemplo, o D, não é texto, porque as palavras não fazem
sentido entre si. Qualquer falante de língua portuguesa, que conheça
minimamente as regras básicas da língua, jamais estruturaria um
enunciado como o desse exemplo.
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FATORES DA TEXTUALIDADE
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AULA
São fatores da textualidade: a coerência, a coesão e a infor-
matividade (centrados no texto), a intencionalidade e a aceitabili-
dade (centrados nos interlocutores) e a situacionalidade e a intertextu-
alidade (centrados no contexto).
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INTERLOCUTORES
texto coerente, coeso, capaz de satisfazer os objetivos que tem em mente
numa determinada situação comunicativa.
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ATIVIDADE
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AULA
Atende aos Objetivos 2 e 3
EMBRATUR/Ministério do Esporte e
Turismo/Governo Federal Fonte:
Jornal do Brasil (Revista Domingo) –
19/10/2000.
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RESPOSTA COMENTADA
a) No texto publicitário, o título “Brasil. É bonito, é bonito, é bonito”
está coerente com o texto da mensagem apresentada no alto da
publicidade, porque o publicitário procura convencer o leitor das
belezas do Brasil, a fim de levá-lo a viajar, e o título, com a repetição
do predicado “é bonito”, por três vezes, intensifica a mensagem,
destacando o Brasil, de forma positiva.
b) No enunciado “Uma tarde, um violão, pôr-do-sol, uma canção”,
a coesão é estabelecida pela própria sequência de elementos, os
quais levam o leitor a imaginar uma cena. Além disso, podemos
dizer que esse enunciado, constituído apenas de substantivos –
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AULA
tarde, violão, pôr-do-sol, canção – é coerente, pois os substantivos
apresentam relação entre si e com o objetivo do texto publicitá-
rio – pôr em destaque as belezas do Brasil, incentivando o leitor
a viajar.
c) Em relação ao grau de informatividade, não é comum um texto
publicitário ser muito informativo. Saber aproveitar bem o tempo e
o espaço em um meio de comunicação de massa é a chave para o
sucesso na venda de um produto. A palavra deixa de ser meramente
informativa, e é escolhida em função de sua força persuasiva. Assim,
para atingir o leitor, o texto publicitário deve ter uma linguagem
simples, de fácil compreensão e com poucas informações novas,
a fim de que o processamento da mensagem, por parte do leitor,
seja o mais rápido possível.
d) As orações que revelam a intenção do enunciador são: “Conheça o
seu país”, “Navegue no sonho de viajar, visitar, conhecer” e “Aproveite
que você tem sobre a cabeça e sob os pés a beleza incomparável
deste imenso país”. Todas essas orações apresentam verbos no
imperativo: “conheça”, “navegue” e “aproveite”, que induzem o leitor
a praticar uma ação.
e) No título do texto publicitário: “Brasil. É bonito, é bonito, é bonito”,
o publicitário utilizou a intertextualidade, ou seja, reproduziu um verso
da letra da música “O que é, o que é?”, de Gonzaguinha, em que o
compositor afirma que a vida “é bonita, é bonita, e é bonita”: “Eu
fico/ com a pureza/ da resposta das crianças/ é a vida, é bonita/
e é bonita.../ Viver!/ E não ter a vergonha/ de ser feliz/ Cantar e
cantar e cantar/ a beleza de ser/ um eterno aprendiz.../ Ah, meu
Deus!/ Eu sei, eu sei/ que a vida devia ser/ bem melhor e será/ mas
isso não impede/ que eu repita/ é bonita, é bonita/ e é bonita (...)”.
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CONCLUSÃO
ATIVIDADE FINAL
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− Sargento, de ordem de meu capitão, amanhã haverá um eclipse do Sol, em
uniforme de campanha. Toda a companhia terá de estar formada no campo
de exercício, onde meu capitão dará as explicações necessárias, o que não
acontece todos os dias. Se chover, o fenômeno será mesmo dentro do quartel!
Damian Searles
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/885776
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b) À medida que a ordem foi sendo repassada aos militares, a informação foi sendo
deturpada. Releia o que informou o sargento de dia ao cabo:
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O texto apresenta elementos de coesão? A ordem dada pelo cabo aos soldados
é coerente? Justifique.
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d) Pensando nos fatores responsáveis pela textualidade, por que as ordens do
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capitão chegaram aos soldados tão deturpadas?
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RESPOSTA COMENTADA
a) O coronel queria que a ordem chegasse a todos os militares do quartel: no dia
seguinte, todos deveriam estar formados, com uniforme de campanha, no campo
de exercício, para ouvirem explicações dadas pelo capitão sobre o eclipse do Sol.
b) De acordo com a informação repassada pelo sargento de dia ao cabo, o capitão
faria o eclipse do Sol.
c) O texto apresenta elementos coesivos, como, por exemplo, as preposições “para”,
“sobre”, “em”, “de”; os pronomes “que”, “nosso”, “isto”, “todos”; a conjunção “se” etc.,
mas não apresenta coerência. O cabo repassa aos soldados que o “eclipse” dará
a explicação necessária sobre o capitão, ou seja, o fenômeno é “personificado”.
O exemplo mostra que, para um texto ter coerência, precisa apresentar mais que
simples elementos de coesão. Vimos no início desta aula que existem textos sem
elementos explícitos de coesão e que, mesmo assim, são coerentes. Da mesma
forma, existem textos que apresentam elementos de coesão, mas não são coerentes.
d) As ordens do capitão chegaram aos soldados tão deturpadas por causa do alto
grau de informatividade da mensagem enviada pelo capitão a seus subordinados.
O capitão passou muitas informações ao sargento-ajudante; e este, aos seus subor-
dinados. Provavelmente, o sargento-ajudante e os outros militares não sabiam que o
eclipse do sol é um fenômeno em que o Sol deixa de ser visível total ou parcialmente,
porque a Lua fica entre o Sol e os observadores terrestres, e que tal fenômeno não
acontece todos os anos.
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RESUMO
LEITURA RECOMENDADA
VAL, Maria da Graça Costa. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes,
1993.
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