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De onde vêm os bebés?

Mário Cordeiro

Há sempre uma altura em que chega a pergunta inevitável: «De onde é que vêm os
bebés?». E os pais são apanhados de surpresa…

«De onde é que vêm os bebés?», perguntou pela primeira vez a Marta, de três anos e
meio. O pai ficou embaraçado, mas a mãe teve uma resposta pronta «Os bebés vêm das
barrigas das mães. Estão muito quentinhos, vão crescendo e ficando gordinhos, e
depois, um belo dia, nascem. E continuam quentinhos e gordinhos como tu. Tu também
vestes roupa para ficar quentinha, não é? E dormes numa cama muito fofinha, não é? Os
bebés como são pequeninos precisam de estar nas barrigas das mães, mas no fim de
contas são como tu…» A filha ficou satisfeita e foi brincar. O pai suspirou de alívio. E a
mãe ficou por momentos a pensar na resposta a dar quando a pergunta seguinte surgisse.

Às perguntas da criança só pode haver respostas verdadeiras. Contudo, a verdade pode


ter vários níveis de profundidade. Não vale a pena entrar em campos que levam a outros
cada vez mais complexos e que poderão causar inquietação e não ajudar a compreender
a primeira pergunta.

Haverá perguntas difíceis ou serão as respostas que as tornam difíceis? Nesta área talvez
a segunda hipótese seja a mais verdadeira. As crianças, sobretudo a partir dos três,
quatro anos, desejam saber. Muito especialmente se alguém comunica que está à espera
de bebé, se sabem que a educadora vai deixar a escola porque vai ter um bebé, ou se
elas próprias têm um irmão. E podem perguntar «Como é que se fazem bebés?» Os pais
saberão, melhor do que ninguém, o que é que os filhos poderão apreender, com base no
que já sabem, no que a relação pais/filhos permite, e no que querem que os filhos
aprendam. Perante uma pergunta assim, de chofre, nada como devolvê-la: «O que é que
achas?». Se a explicação da criança for satisfatória e correspondente à verdade dos
factos, então é de confirmar: «É exactamente como disseste!» Se for muito distorcida,
deve tentar-se veicular a verdade, mas de uma forma simples e sem pormenores que,
para a criança, são irrelevantes. Ela não quer saber como é que se têm relações sexuais.
Quer saber apenas como é que se fazem bebés…

Há que pensar que as crianças são intuitivas e, quando se interessam por um assunto,
procuram a informação nas fontes que a rodeiam. É sempre bom acompanhar o que
sabem, não apenas para reiterar mas para corrigir conhecimentos que estejam errados.

É anedota, mas ilustrativa do que pode acontecer: uma noite, depois de contar uma
história ao filho de quatro anos, e quando ia sair do quarto, o pai resolveu voltar atrás e
comunicar ao filho que a mãe estava à espera de bebé. E disse: «Sabes, Vasco, vai
acontecer uma coisa, um dia destes. Vem uma cegonha, de Paris, que traz um bebé que
os pais encomendaram. E a cegonha vai chegar e trazer o bebé para nossa casa.» O
miúdo ficou por momentos a pensar e respondeu: «Não sabia, pai, mas não diga nada à
mãe, que as mães quando estão grávidas são muito sensíveis…»

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