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A educação como construção de sentido é a síntese de suas ideias pedagógicas.

Ideias, entrementes, exageradas e inacreditáveis, que se tornaram provocadoras


e educadoras dos sentidos. Rubem Alves coloca a ética e a estética no centro
do processo educativo. Sua trajetória intelectual foi marcada exatamente pela
defesa da tese de que a educação integral é um processo que implica harmonia,
formação plena e autonomia e para conquistar essa condição torna-se
necessário cultivar nas crianças o imaginário e o gosto pelo que é
verdadeiramente bom e belo.

Assim, o que ele denomina de “educação dos sentidos”: a educação que leva
cada aluno a um mergulho na interioridade – lugar onde habita visões, paixões,
esperanças e horizontes utópicos –, mas tudo começa pelos sentidos. “Nossos
sentidos – visão, audição, olfato, paladar e tato – são órgãos de fazer amor com
o mundo, de ter prazer nele”, pronunciava com alegria como se fosse possuído
pela experiência poética.

O tato exige a perigosa proximidade, só ele capta a “insuspeitada energia”. Só


ele confirma o que os olhos não conseguem. Por que será que apertamos
sempre as frutas, sentimos a maciez e a firmeza de um tecido, por
desobedecemos sempre as plaquinhas de “por favor, não tocar”. Só
pode ser porque, antes de ver, de ouvir, de cheirar, de degustar, era o tato quem
determinava, quem dizia o que gostávamos ou não. Lembra-se de Adão
e Eva antes de romperem as fronteiras, antes de conhecerem o resto do corpo,
de como andavam inocentes, de como eram insuspeitos, tato puro nos
inícios. Quando romperam, quando deram poder aos olhos foram expulsos.
Perderam o tato, perderam o jeito.

O tato é o sentido que marca, no corpo, a divisa entre os deuses Eros, do amor,
e Tânatos, da morte. É por meio do tato que o amor se realiza. É no lugar do tato
que a tortura acontece.

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