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20 de Outubro de 2017

Tribunal de Justiça do Paraná TJ-PR : 9257749 PR 925774-9


(Acórdão) - Inteiro Teor

RESUMO INTEIRO TEOR  EMENTA PARA CITAÇÃO

Inteiro Teor
AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 925.774-9 DA 6ª VARA DA FAZENDA
PÚBLICA, FALÊNCIAS E RECUPERAÇAO JUDICIAL DO FORO
CENTRAL DA COMARCA DA REGIAO METROPOLITANA DE CURITIBA
AGRAVANTE Instituto das Águas do Paraná AGUASPARANÁ
AGRAVADO Ministério Público do Estado do Paraná RELATORA Desª.
Lélia Samardã Giacomet
PROCESSO CIVIL AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇAO CIVIL PÚBLICA
AMBIENTAL - INVERSAO DO ÔNUS DA PROVA VIABILIDADE EM
RAZAO DA INDISPONIBILIDADE E INDIVISIBILIDADE DO DIREITO
AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO OUTORGA
DE RECURSOS HÍDRICOS SEM A CERTIFICAÇAO DE INTERESSE
PÚBLICO OU SOCIAL ENVOLVIDO AUTOR HIPOSSUFICIENTE,
DETENDO O DEMANDADO MELHORES CONDIÇÕES PARA A
ELABORAÇAO DA PROVA ART. 6º INC. VIII E ART. 81 CDC RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO.
VISTOS, e examinados estes autos de Agravo de Instrumento sob n.º
925.774-9, da 6ª Vara da Fazenda Pública, Falências e Recuperação
Judicial do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba,
em que é agravante Instituto das Águas do Paraná AGUASPARANÁ e
agravado Ministério Público do Estado do Paraná. I RELATÓRIO :
Trata-se de Agravo de Instrumento contra a r.
decisão de fls. 16/19-TJ, que nos autos de ação civil pública ambiental com
pedido de tutela antecipada, sob o n.º 0000805-94.2011.8.16.0179, deferiu
a inversão do ônus da prova em razão da indisponibilidade e
indivisibilidade do direito fundamental objeto da demanda, qual seja, a
outorga do uso de recursos hídricos com a finalidade de canalização de
cursos de água em Curitiba, supostamente sem interesse público ou social
que fundamentasse, servindo exclusivamente para a função de otimizar a
utilização de terrenos para construção civil, in verbis:
"Autos nº. 0000805-94.2011.8.16.0179 I Em contestação, o réu requereu o
chamamento ao processo do IAP Instituto Ambiental do Paraná e da
SMMA Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
Alega que a presente Ação Civil Pública se destina a lhe imputar a
responsabilidade por danos materiais e morais causados ao meio
ambiente. Contudo, suscita que a concessão de outorgas emitidas por ele
(outorga prévia para uso futuro de recursos hídricos e outorga de direito
de uso de recursos hídricos) tem apenas a finalidade de instruir
previamente o procedimento de licenciamento ambiental, o qual é de
competência da SMMA, no âmbito de Curitiba, e do IAP.
O Ministério Público, ora autor, postula a condenação do réu em obrigação
de fazer a fim de que se abstenha de conceder outorgas para fins de
canalização de cursos d'água na cidade de Curitiba, estendendo-se os
efeitos da sentença para todas as cidades do Paraná, bem como em
obrigação de fazer para que revogue ou anule as outras já concedidas para
fins de canalização e não mais renová-las, dando-se ciência aos
interessados da necessidade de recomposição das áreas degradadas, posto
que contrárias a legislação ambiental, tudo com a devida fiscalização.
Diante do exposto, verifica-se que a lide se resume à ilegalidade dos atos
de concessão de outorgas para canalização de cursos de água com a
finalidade de descaracterizar a área de preservação permanente e não em
virtude de utilidade pública ou interesse social.
O chamamento ao processo está previsto no artigo 77, do CPC, o qual
dispõe:
Art. 77. É admissível o chamamento ao processo: I - do devedor, na ação
em que o fiador for réu; II - dos outros fiadores, quando para a ação for
citado apenas um deles; III - de todos os devedores solidários, quando o
credor exigir de um ou de alguns deles, totalmente, a dívida comum.
O réu requereu o chamamento sem nem mesmo indicar um dos incisos do
referido artigo. Entretanto, cumpre ressaltar que o presente caso não se
enquadra em nenhum deles, haja vista o pedido inicial se tratar tão
somente das outorgas concedidas pelo Instituto das Águas e não das
licenças ambientais autorizadas pelo IAP e pela SMMA.
Destarte, indefiro o chamamento pleiteado na contestação.
II O autor pleiteia a inversão do ônus da prova, sob o fundamento de que,
diante do réu, se trata de parte hipossuficiente.
Conforme artigo 81, do CDC, a defesa dos interesses e direitos dos
consumidores e das vítimas pode ser exercida a título coletivo quando se
estiver perante direitos difusos, como é o presente caso, já que se discute o
direito ao meio ambiente por meio de Ação Civil Pública.
A inversão do ônus da prova está disposta no artigo 6º, inciso VIII, do
CDC, o qual pode incidir nas ações civis públicas na defesa de interesses
difusos.
No caso em deslinde, está-se diante de direito indivisível e indisponível,
caracterizando-se como um interesse coletivo, o qual está vulnerável aos
atos administrativos.
Cumpre ainda destacar que os danos ao meio ambiente são de difícil e até
mesmo de impossível reparação.
Em lide semelhante, decidiu o TJPR:
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇAO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL -
INVERSAO DO ÔNUS DA PROVA - POSSIBILIDADE - ANALOGIA COM
O ART. 6º, VIII, DO CDC - SÚMULA 232 DO STJ - EXIGÊNCIA CABIVEL
DE DEPÓSITO PRÉVIO DOS HONORÁRIOS - RECURSO DESPROVIDO.
O meio ambiente é bem de uso comum do povo, pertencente a toda a
coletividade, incorpóreo, indisponível, indivisível, inalienável,
impenhorável, essencial à qualidade de vida e à dignidade da pessoa
humana, sem valor pecuniário, cujos danos são de difícil ou impossível
reparação. A produção de prova pericial, seu custo, ante a inversão e tendo
sido pedida também pelo requerido, deve por este ser suportado.
Interpretação sistemática do art. 6º, inc. VIII, do CPC, art. 33 do CPC, art.
18 da Lei 7347/85. Invertido o ônus da prova. A isenção de antecipação
atinge somente o autor da ação civil pública. (AI 689.289-3 - 5a C.Cível --
Rel. Juiz Subst. 2º G. Fabio Andre Santos Muniz - Unânime - J.
2810912010)
Por todo o exposto, defere-se a inversão do ônus da prova.
III -- Defiro a produção de prova pericial para avaliação da autora quanto
à sua incapacidade laborativa, considerando desnecessárias demais provas
além das que já constam nos autos e da perícia ora determinada.
IV -- Nomeio como perito profissional da área de Ciências Agrárias,
Professor Associado da UFPR --Universidade Federal do Paraná, no Curso
de Engenharia Florestal, Doutor Carlos Vellozo Roderjan, e-mail:
roderjan@ufpr.pr, telefone: 3360-4279 e 9631-9510. V -- Intimem-se as
partes, a fim de que, querendo, indiquem assistentes técnicos e
apresentem quesitos no prazo de 5 (cinco) dias, nos termos do artigo 421,
1º, Incisos 1 e lI, do Código de Processo Civil. VI -- Após a apresentação
dos quesitos, intime-se o perito nomeado, o qual terá o prazo de 10 (dez)
dias para dizer se aceita o encargo, apresentando propostas de honorários,
os quais deverão ser pagos ao final no caso de sucumbência da parte ré e
dispensadas se o autor for vencido, com exceção da existência de má-fé,
conforme artigo 18, da Lei 7.347/1985. VII -- O perito deverá apresentar o
laudo pericial em cartório, no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data da
realização dos exames periciais, podendo ter vista dos autos para completa
avaliação dos fatos.
Intimem-se. Deliberações necessárias.
Curitiba, 8 de Maio de 2012."
Irresignado com as conclusões alcançadas pela r.
decisão, o Instituto das Águas do Paraná AGUASPARANÁ, recorreu (fls.
02/12), aduzindo, em resumo, que: a) inépcia da petição inicial, pois os
pedidos veiculados na ação civil pública são juridicamente impossíveis,
por serem aleatórios acerca da ocorrência do dano ambiental decorrente
de outorgas para a utilização de recursos hídricos, tratando-se de meras
presunções sem apontar qualquer alteração adversa nas características do
meio ambiente, o que enseja inclusive a inviabilidade do exercício do seu
direito de defesa;
b) carência de ação por ilegitimidade passiva, dado que quaisquer danos
decorrentes de degradação ambiental referente à supressão de Área de
Preservação Permanente nunca decorre de atos de outorga do agravante,
mas de órgãos diversos: Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA)
ou do Instituto Ambiental do Paraná IAP/PR. Já o agravante atua de
forma parcial no processo de licenciamento ambiental, não tendo
competência para, por si só, autorizar a implantação de empreendimentos
imobiliários ou qualquer supressão vegetal em área de preservação
permanente; c) a inversão do ônus da prova não deve prevalecer na
medida em que a utilização do Código de Defesa do Consumidor em ações
que versam acerca do meio ambiente alcança somente o respectivo Título
III, consoante dispõe o art. 21 da Lei n.º 7.347/85, porém suas disposições
não abrigam este expediente processual, que está no Título I (art. 6º do
CDC).
Ademais, ainda que a doutrina e a jurisprudência o tenham admitido,
exige-se a presença da verossimilhança da alegação ou que a parte seja
hipossuficiente, como prevê o art. 6º inc. VIII do Código de Defesa do
Consumidor, o que não se verifica nos autos, pois sequer há qualquer
prova material de dano, quanto menos se afigura hipossuficiente o
Ministério Público do Estado do Paraná que além das prerrogativas de
âmbito constitucional, dispõe de equipe técnica multidisciplinar na área de
Meio Ambiente.
Pugna ao final pela atribuição de efeito suspensivo para sustar os efeitos
da inversão do ônus da prova, e no mérito, pela reforma da decisão, com a
confirmação da liminar.
Com as razões recursais, vieram aos autos os documentos de fls. 13/43.
Às fls. 47/53, o recurso foi recebido e o efeito suspensivo para afastar a
inversão do ônus da prova, indeferido.
Em resposta ao pedido informações o d. Juízo de origem disse que
manteve a r. decisão como prolatada e que o recorrente deu cumprimento
ao art. 526 do CPC. (fls. 58) Contrarrazões às fls. 62/68.
Encaminhados os autos para a D. Procuradoria Geral de Justiça, esta se
manifestou pelo desprovimento do recurso. (fls. 74/83) É, em resumo, o
relatório.
II VOTO E SEUS FUNDAMENTOS :
Versam os autos sobre agravo de instrumento interposto contra a r.
decisão proferida em sede de ação civil pública ambiental, em que o d.
Juízo de Origem deferiu a inversão do ônus da prova, diante da relevância
que o tema envolve, sendo indivisível e indisponível, determinando a
produção da prova pericial, nomeando perito cujos honorários deverão ser
arcados pela parte agravante.
Em suas razões, assevera a agravante que a petição inicial é inepta, dada a
impossibilidade jurídica dos pedidos que veicula, em razão da sua
generalidade. Ainda, arguiu também a preliminar de ilegitimidade passiva,
eis que a outorga decorre de ato administrativo complexo, dependendo de
outras decisões que não apenas a sua. Já no mérito, pugna pelo
afastamento da inversão do ônus da prova dada a inexistência dos
requisitos para tanto.
Preliminarmente, cumpre ressaltar que as preliminares arguidas pela
agravante, por ocasião do despacho inicial deste recurso, não comportam
conhecimento, eis que não foram objeto de apreciação no pronunciamento
recorrido, ainda que se tratem de normas de ordem pública, sob pena de
violação ao princípio do duplo grau de jurisdição e supressão de instância.
Portanto, conheço parcialmente do presente recurso.
No que tange ao mérito recursal, em que pesem as razões expostas, tenho
para mim que a r. decisão deve ser mantida como prolatada.
Esta conclusão decorre dos motivos já mencionados por ocasião da
apreciação do efeito suspensivo concedido, além das que seguem.
A defesa do meio ambiente protege direitos difusos.
Esses possuem relevo maior do que os direitos individuais homogêneos,
pois dizem respeito a toda sociedade, inclusive afetando gerações futuras.
Os integrantes da sociedade civil como um todo são os grandes
consumidores dos recursos ambientais, deles dependendo.
Havendo previsão de defesa de tais interesses pelo Ministério Público, por
meio de ação civil pública, e afirmando o Código de Defesa do Consumidor
que a defesa das vítimas titulares de interesses difusos de natureza
transindividuais e indivisíveis será feita com a possibilidade de inversão do
ônus da prova, conclui-se que para as ações previstas no art. 5º, inc. I, da
Lei 7347/85 é plenamente possível a aplicação da mesma lógica.
O cabimento da inversão do ônus da prova tem por fundamento legal o art.
6º, inc. VIII, do Código de Defesa do Consumidor e incide no caso das
ações civis por força do que disciplina o Título III do referido Código.
Interesses e direitos dos consumidores podem ser exercidos em caráter
coletivo, a luz do inc. I, parágrafo único, do art. 81 do referido código. Por
coletividade entenda-se a sociedade civil, o povo em geral.
A utilização da ação civil pública para a defesa do meio ambiente, proposta
pelo Ministério Público, está autorizada pelo o art. 1º, inc. I e art. 5º, inc. I,
da Lei 7347/85 e art. 82, inc. I, do CDC.
Assim, a inversão do ônus da prova do art. 6º, VIII, do CDC é plenamente
cabível no caso da defesa de interesses difusos, como o meio ambiente, por
ação civil pública, proposta pelo Ministério Público.
O meio ambiente significa o conjunto de bens da natureza, de uso comum
do povo, que são de toda a coletividade, incorpóreos, indisponíveis,
indivisíveis, inalienáveis, essenciais à vida e à dignidade da pessoa
humana, sem valor de mercado, cujos danos são de difícil ou impossível
reparação. É de interesse público, as normas de seu sistema são cogentes.
Tanto, que o artigo 225, caput, da Constituição Federal, assim dispõe:
"Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações".
Assim, plenamente aplicável a inversão do ônus da prova, em matéria
ambiental, desde que presentes os requisitos da verossimilhança das
alegações ou a hipossuficiência do autor. Em suma, presentes os requisitos
do art. 6º, inc. VIII, do CDC, a inversão se torna possível porque o sistema
de proteção processual ambiental o autoriza, conforme exposto.
O magistrado, em análise do caso concreto, e vislumbrando a presença dos
pressupostos legais, deverá inverter o ônus da prova, não em prol do autor,
mas sim de toda sociedade que tem o direito de saber se há, ou não, danos
ao meio ambiente.
Justifica-se, também, a inversão do ônus da prova, nas demandas
ambientais em razão da vulnerabilidade do meio ambiente e da
coletividade.
Sobre inversão do ônus da prova, ensina Luiz Guilherme Marinoni in
Formação da convicção e inversão do ônus da prova segundo as
peculiaridades do caso concreto, ano 10, n. 1168:
"O fato de o art. 6º, VIII, do CDC, afirmar expressamente que o
consumidor tem direito a inversão do ônus da prova não significa que o
juiz não possa assim proceder diante de outras situações de direito
material. (...) A idéia de que somente as relações de consumo reclamam a
inversão do ônus da prova não tem sustentação. (...) Basta pensar nas
chamadas atividades perigosas ou na responsabilidade pelo perigo e nos
casos em que a responsabilidade se relaciona com a violação de deveres
legais, quando o juiz não pode aplicar a regra do ônus da prova como se
estivesse frente a um caso"comum", exigindo que o autor prove a
causalidade entre a atividade e o dano e entre a violação do dever e o dano
sofrido. (...) Não existe motivo para supor que a inversão do ônus da prova
somente é viável quando prevista em lei. Aliás, a própria norma contida no
art. 333 não precisaria estar expressamente prevista, pois decorre do bom
senso ou do interesse na aplicação da norma de direito material..."
Nesse sentido:
"PROCESSUAL CIVIL - COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DE
EXECUÇAO FISCAL DE MULTA POR DANO AMBIENTAL -
INEXISTÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO - COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA ESTADUAL - PRESTAÇAO JURISDICIONAL - OMISSAO -
NAO- OCORRÊNCIA - PERÍCIA - DANO AMBIENTAL - DIREITO DO
SUPOSTO POLUIDOR - PRINCÍPIO DA PRECAUÇAO - INVERSAO DO
ÔNUS DA PROVA.
1. A competência para o julgamento de execução fiscal por dano ambiental
movida por entidade autárquica estadual é de competência da Justiça
Estadual.
2. Não ocorre ofensa ao art. 535, II, do CPC, se o Tribunal de origem
decide, fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide.
3. O princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus probatório,
competindo a quem supostamente promoveu o dano ambiental comprovar
que não o causou ou que a substância lançada ao meio ambiente não lhe é
potencialmente lesiva.
4. Nesse sentido e coerente com esse posicionamento, é direito subjetivo
do suposto infrator a realização de perícia para comprovar a ineficácia
poluente de sua conduta, não sendo suficiente para torná-la prescindível
informações obtidas de sítio da internet.
5. A prova pericial é necessária sempre que a prova do fato depender de
conhecimento técnico, o que se revela aplicável na seara ambiental ante a
complexidade do bioma e da eficácia poluente dos produtos decorrentes
do engenho humano.
6. Recurso especial provido para determinar a devolução dos autos à
origem com a anulação de todos os atos decisórios a partir do
indeferimento da prova pericial.
(STJ - T2 - Segunda Turma - REsp 1060753 / SP - Ministra Eliana Calmon
- DJe 14/12/2009)"
Esta Corte vem decidindo:
"AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇAO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL -
INVERSAO DO ÔNUS DA PROVA - POSSIBILIDADE - ANALOGIA COM
O ART. 6º, VIII, DO CDC - RECURSO DESPROVIDO. O meio ambiente é
bem de uso comum do povo, pertencente a toda a coletividade, incorpóreo,
indisponível, indivisível, inalienável, impenhorável, essencial à qualidade
de vida e à dignidade da pessoa humana, sem valor pecuniário, cujos
danos são de difícil ou impossível reparação. A produção de prova pericial,
seu custo, ante a inversão e tendo sido pedida também pelo requerido,
deve por este ser suportado.
Interpretação sistemática do art. 6º, inc. VIII, do CPC, art. 33 do CPC, art.
18 da Lei 7347/85.
Invertido o ônus da prova a isenção de antecipação atinge somente o autor
da ação civil pública."(TJPR - 4ª C.Cível - AI 0484295-7 - Foro Regional
de São José dos Pinhais da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Juiz
Subst. 2º G. Fabio Andre Santos Muniz - Unânime - J. 17.02.2009)
"AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇAO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL -
INVERSAO DO ÔNUS DA PROVA - POSSIBILIDADE - ANTECIPAÇAO
DE HONORÁRIOS PERICIAIS PELO RÉU DEVIDA - ART. 18 DA LEI
7.347/85 - ISENÇAO CONCEDIDA AO AUTOR - RECURSO
DESPROVIDO 1. É cabível a inversão do ônus da prova em Ação Civil
Pública Ambiental. 2. O benefício de isenção de antecipação de custas em
Ação Civil Pública, é dado para a celeridade e efetividade da ação, que visa
proteger direitos da sociedade como um todo, contra danos que afetam
a todos cidadãos, não havendo qualquer lógica em estender este benefício
aos réus da ação, dando, de certa forma, incentivo ao dano contra o meio
ambiente". (TJPR - 4ª C.Cível - AI 0464903-8 - Londrina - Rel.: Desª
Regina Afonso Portes - Unânime - J. 14.04.2008)
Destarte, dada as peculiaridades do caso concreto, observadas as normas
do art. 333, inc. I e II, do CPC, bem como o sistema do CDC e da Lei
7347/85, a decisão recorrida deve ser mantida como prolatada.
Comungando com tal entendimento, a D.
Procuradoria Geral de Justiça asseverou que:
"Entretanto, cumpre esclarecer, primeiramente, que o direito ambiental,
por cuidar de um direito difuso e essencial, possui princípios próprios.
Dentre eles, destaca-se o princípio da precaução, através do qual se
entende que, em matéria ambiental, não se pode esperar que o dano
ocorra para depois buscar a reparação deste. Isso porque, muitas vezes
essa reparação não é mais possível após a ocorrência do dano. Por esta
razão, mesmo que seja um risco em abstrato, este risco de degradação do
meio ambiente não pode se simplesmente ignorado." (fls. 76/77)
Em face do exposto, dou provimento ao recurso de agravo de instrumento.
III DECISAO : ACORDAM os integrantes da Quarta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em
dar provimento ao recurso de agravo de instrumento, nos termos do voto
da Desembargadora Relatora.

Presidiu o julgamento a Excelentíssima Senhora Desembargadora Regina


Afonso Portes, com voto, e dele participou o Ilustríssimo Juiz de Direito
Substituto de Segundo Grau Wellington Emanuel C.
de Moura.
Curitiba, 02 de outubro de 2012.
LÉLIA SAMARDA GIACOMET Desembargadora Relatora

Disponível em: http://tj-pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22474636/9257749-pr-925774-9-acordao-tjpr/inteiro-teor-22474637

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