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Resumo
Este trabalho discute a necessidade de um planejamento para emergências, visando
operacionalizar um processo de atendimento a acidentes tecnológicos, com base na ocorrência de
grandes acidentes industriais, na legislação e convenções internacionais. A partir da
regulamentação normativa, sugere-se um roteiro para elaboração de um plano de controle de
emergência.
Palavras chave:Plano de controle de emergência; Acidentes tecnológicos.
1. Introdução
É primordial preparar-se para uma eventual catástrofe, sempre possível, apesar de todos os esforços
feitos para evitá-la. Numa indústria é necessário prever e planejar as ações numa emergência e
poder enfrentá-la da maneira mais adequada, evitando-se improvisações.
Vejamos os seguintes exemplos: Bhopal, Ìndia , 1984. Em uma fábrica ocorre um vazamento
tóxico, que mata 2500 pessoas, nenhum plano de emergência foi acionado, nem informações sobre
a toxicidade do produto foram fornecidas à população. Mississagua, Canadá, 1979. Um trem
carregado de produtos tóxicos e explosivos descarrilha dentro de uma área urbana, cerca de 250 mil
pessoas são evacuadas seguindo um plano de emergência cuidadosamente elaborado, nenhuma vida
é perdida e poucos são os danos sofridos (FREITAS, 2000). Comparando as conseqüências desses
dois acidentes de grandes proporções, ocorridos em circunstâncias absolutamente distintas em
termos de planejamento de emergências e das ações de respostas executadas, percebemos a
necessidade e a eficácia de um plano de controle de emergência.
Em caso de acidente ou perigo, será muito tarde para estabelecer uma estratégia de ação levando-se
em consideração todas as conseqüências possíveis. Isto significa, portanto, que indústrias devem
possuir “planos de controle de emergência”. O objetivo deste artigo é recomendar um roteiro para
elaboração de um plano de controle de emergência para uma indústria.
Desde da década de 80, a ocorrência de acidentes tecnológicos vêm sendo mais freqüente nos
países de economia periférica, principalmente na América Latina e Ásia, devido ao processo
acelerado de industrialização, podemos citar como exemplo: Vila Socó (Brasil), onde ocorreu uma
explosão de um oleoduto, resultando no registro de 508 óbitos, em San Juan de Ixhuatepec
(México) onde um vazamento de Gás Liquefeito do Petróleo (GLP) de um tanque de estocagem
causou vários incêndios e explosões resultando no registro de 550 mortos (FREITAS, 2000).
O cenário existente nestes países na época retrata muito bem as causas dos acidentes ocorridos: Um
processo de industrialização desordenado, e um intenso e descontrolado processo de urbanização,
acompanhado de um grande fluxo migratório do campo e regiões pobres para os grandes centros
urbanos.
Cenários estes seguidos de um processo exportação de perigos através das transferências de
tecnologias de países de economia central para os de economia periférica (WISNER, 1994), como
também o duplo padrão, onde multinacionais adotam padrões inferiores de segurança industrial e
proteção do meio ambiente, à saúde dos trabalhadores e às comunidades expostas nos países de
economia periférica (FREITAS, 2000).
Deve-se relacionar os riscos que justificam um plano de controle de emergência para a unidade
industrial, tais como: Quantidade de materiais perigosos, localização e transporte destes materiais,
propriedade dos materiais, equipamentos e máquinas que operem em alta pressão e temperatura,
localização de válvulas de isolamento, manobras operacionais de alto risco, entre outros,
considerando as causas e conseqüências internas e externas, levando-se também em conta que os
riscos são funções características dos produtos, processos, localização e efetivo.
Para facilitar o estudo dos riscos, a alocação de recursos e o treinamento, é conveniente dividir a
área objeto do controle de emergências em subáreas. Exemplo: trânsito, almoxarifado, laboratório,
planta de processamento e vegetação (CARDELLA, 1999).
Também devem ser considerados os riscos da área circunvizinha a unidade industrial como:
Propriedades e quantidades dos materiais perigosos das fábricas vizinhas, rodovias próximas, rios e
represas presentes nas adjacências. Como parte da avaliação, os riscos identificados devem ser
separados de acordo com o grau e importância potenciais do impacto. Considerando-se para a
avaliação: Zona potencial de impacto, número de pessoas em risco, tipo de risco, impactos em
longo prazo, impactos ao meio ambiente (MANUAL APELL, 1990).
b) Definição dos meios de intervenção - Estes podem ser internos e externos e serão usados para
um controle aceitável das conseqüências de um sinistro, podendo ser humanos e materiais. É claro
concluir que não se pode estabelecer regras gerais para uma emergência, pela diversidade das
situações (meio-ambiente e riscos) que podem ocorrer.
Segundo a norma regulamentadora nº 23 do MTb, deve-se garantir um mínimo de proteção contra
incêndio (extintores, sistemas fixos), como também a formação de brigadas de incêndio e de
socorristas. Considera-se também importante o estabelecimento de procedimentos de evacuação de
área, instalação de sistemas de alarmes, detectores de gases tóxicos e inflamáveis, indicadores de
velocidade e direção dos ventos, radio comunicação, equipamentos de proteção individual para
bombeiros, veículos de atendimento de emergências e garantia de suprimentos médicos de
emergência, e um centro de controle da emergência, onde serão dirigidas e coordenadas as
operações de gerenciamento (OIT, 2002).
A organização pode se demonstrar descrente em relação ao retorno dos investimentos, neste caso é
preciso fornecer informações e trazer especialistas no assunto para proferir palestras.
c) Definição de um grupo de trabalho interno e externo – Para coordenar recursos e ações é
necessário se estabelecer um grupo de trabalho heterogêneo, ou seja, com componentes
representantes das diversas áreas da indústria (segurança, utilidades, manutenção, serviço médico
etc.), onde os mesmos deverão procurar discutir sobre o modo mais eficaz para coordenar os
recursos e ações necessárias ao controle da situação de emergência considerada.
As funções podem ser desdobradas com a criação de sub-grupos, como por exemplo: Gerência,
Coordenação, Relações Públicas, Técnico, Logística, Contenção e Combate (CARDELLA, 1999).
Devem ser definidas e descritas as funções de cada componente, como também definido um líder
para o grupo de preferência ligado a gerência operacional.
Levando em consideração que a ocorrência de uma emergência pode ultrapassar os limites da
indústria, faz-se necessário que sejam previstas orientações para estes casos. O primeiro passo seria
a formação de um grupo de trabalho externo, fruto de uma articulação interinstitucional, composto
por representantes governamentais (Polícia, Bombeiros, Defesa Civil, Defesa Ambiental, Serviço
Emergencial de Saúde), comunitários, e da própria indústria, que teria o objetivo de elaborar um
plano de auxílio mútuo composto por todas as orientações para o controle externo da emergência.
d) Redigir os procedimentos – A documentação dos procedimentos é de vital importância, os
mesmos devem ser seguidos, quando na ocorrência de um sinistro, segundo sua natureza,
6 –Referências bibliográficas
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