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Macapá
2017
AMADEU LEÔNCIO DE PELEGRIN NETO
Macapá
2017
Universidade Federal do Amapá - UNIFAP
Licenciatura em Artes Visuais
Banca Examinadora
______________________________
Profº Ms. Mauricio Remígio Viana (Orientador)
______________________________ ______________________________
Profº Dr. Ronaldo Manassés R. Campos Profª Dra. Silva Carla M. Costa
(Examinador) (Examinadora)
AGRADECIMENTOS
This present work has as intention the sharing and reflection about ethnographic
reports sustained by a qualitative research conducted at Tiradentes High School.
There, we aimed to answer questions regarding the possibilities for the Arts teaching
so as to have bridges built, creating opportunities for democratization, authonomy to
the access to the knowledges among deaf and listener students. The subjects of this
present study were both deaf and listeners senior high school students. The
relevance of this study is on the fact that it contains a proposal whose goal is the
educational achievement and the appraisement of the students´ transit, their
subjectivities, visualities, just like the technological resources for the Arts teaching.
During the conduction of the research, it has been verified a few obstacles in the
communication processes where neither listeners nor the regent teacher had the
mastery of the Brazilian language of signs, what occasionally caused the isolation of
the deaf students, once they do not have the monitoring of an appropriate interpreter.
While observing the transit of the students at the break time along the aisles, we
noticed these communicative boundaries were broken with the utilization of visual
media and technological tools. Along this paper, it will be possible to perceive the
strategies used on the intermediation of the contents of the school subjects, as well
as the results obtained of the experiments carried out from the paths pointed by the
study field.
Imagem 1 – In Visível......................................................................................................................... 13
Imagem 2– Contenção ...................................................................................................................... 16
Imagem 3-Comunicação ................................................................................................................... 17
Imagem 4- Observador ...................................................................................................................... 20
Imagem 5 – Comunicação Virtual .................................................................................................... 22
Imagem 6 – bagagens ....................................................................................................................... 23
Imagem 7 - Confinados ..................................................................................................................... 25
Imagem 9– Rotas Alternativas ......................................................................................................... 28
Imagem 10-Afetos .............................................................................................................................. 29
Imagem 11 -Expressões visuais ...................................................................................................... 31
Imagem 12 – Propostas curriculares............................................................................................... 35
Imagem 13 – Transito livre ............................................................................................................... 37
Imagem 14 - Pistas ............................................................................................................................ 40
Imagem 15- Representatividade......................................................................................................44
Imagem 16 – O que é Cultura? ........................................................................................................ 47
Imagem 17 – Outras interpretações 1 ............................................................................................. 53
Imagem 18– Outras interpretações 2 .............................................................................................. 53
Imagem 19– Outras interpretações 3 .............................................................................................. 53
Imagem 20 – Outras interpretações 4 ............................................................................................. 55
Imagem 21– Outras interpretações 5 .............................................................................................. 55
Imagem 22– Outras interpretações 6 .............................................................................................. 55
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9
CAPÍTULO I .............................................................................................................. 12
A APROXIMAÇÃO COM O CAMPO, DESCONFORTOS, MEDOS, ANSIEDADES,
INCERTEZAS E DESEJOS....................................................................................... 12
1. 1 EM BUSCA DE OUTRAS COMPREENSÕES POR CAMINHOS
INSTÁVEIS. ........................................................................................................... 19
1. 2 OBSERVAÇÕES, REFLEXÕES E IMPRESSÕES DO UNIVERSO
SURDO.... .............................................................................................................. 25
CAPITULO II ............................................................................................................. 34
VIVÊNCIAS DOS ALUNOS, SUAS DIFERENÇAS, VISUALIDADES E SABERES
COMO POTÊNCIA DE AULA. ............................................................................... 34
2. 1 ESTÚDIOSOS 323: INVESTIGAÇÕES DO DESEJO EM ESPAÇOS
ALTERNATIVOS. ................................................................................................... 37
CAPÍTULO III ............................................................................................................ 41
DIÁLOGOS ENTRE CURRÍCULO OFICIAL, VIDA E COTIDIANO........................ 41
CAPITULO IV ............................................................................................................ 47
EXPERIMENTAÇÕES DE OUTRAS FORMAS DE APRENDER:
DESCONFINADOS. ............................................................................................... 47
4. 1 DIVERSÃO, EXPERIMENTAÇÃO E CRIAÇÃO.............................................. 50
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ................................................................................ 57
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 59
INTRODUÇÃO
10
educação é necessário envolver-se e mergulhar nas profundezas complexas dos
significados que constituem as multifaces das relações de poder. Os critérios
utilizados nesta pesquisa para construir as narrativas e analises são tremendamente
influenciados por nossas praticas e convenções subjetivas, que por sua vez também
foram tocadas e transpassadas pelas questões do campo, espantando assim,
qualquer tipo de neutralidade.
Adentramos no processo de pesquisa munidos de algumas indagações
que nos rodeavam, despertadas por nossa experiência de observação e bagagem
teórico-conceituais decorrente da nossa vivencia universitária. Os questionamentos
registrados por Martins, A. (2013) nos ajudam a iniciar esse processo quando ela
pergunta:
11
CAPÍTULO I
A APROXIMAÇÃO COM O CAMPO, DESCONFORTOS, MEDOS, ANSIEDADES E
INCERTEZAS.
3
ROLNIK (1989) em seu livro “Cartografia sentimental, transformações contemporâneas do desejo”
diz que a prática da cartografia sentimental é fundamentalmente, às estratégias das formações do
desejo no campo social. (p. 66)
12
paredes das salas de aula, dos muros e grades que cercam a escola, como o
evidenciado por Agamben (2009, p. 63) e destacado por Martins, A. (2013):
Imagem 1 – In Visível
13
Este foi um processo que nos causou certo desconforto, medo, ansiedade
e insegurança. Primeiro por não termos experiências com pesquisa e não
conhecermos a escola estadual Tiradentes. Segundo pelas incertezas e
complexidade de procedimentos que exige muito mais do que uma simples
observação do que é visível e perceptível aos olhos. Observação, a qual exige que
estejamos com os sentidos aguçados para perceber as sensações que os grandes e
pequenos acontecimentos no ambiente escolar nos provoca. Sobre a ideia de
grandes e pequenos acontecimentos, Agier (2015) nos fala que:
4
Segundo Strobel ( 2015 p. 55) A língua de sinais é uma língua prioritariamente do povo surdo que é
expressa através da modalidade espaçovisual. [...] no mundo todo, há, pelo menos uma língua de
sinais com suas variações regionais usadas amplamente na comunidade surda de cada país.
15
Observamos por alguns dias os acontecimentos do campo, nos sentíamos por
vezes deslocados daquele ambiente eufórico e cheio de energia, como se
estivéssemos em uma cidade já visitada por nós, mas que hoje já não nos pertença
mais. Sentíamos vistos como estrangeiros, nesse local onde corpos juvenis tecem
seus afetos, constroem relações e saberes que evidenciam seus desejos, seus
interesses. Nesse processo fomos tomados e transpassados por uma mescla e uma
movimentação de afetos, de energia e de intensidades que fluíam e mudavam no
decorrer de cada novo contato com o campo. Percebíamos que saberes transitavam
nos espaços da escola, e, como o exposto por Rolnik desejávamos ali “[...]
participar, embarcar na constituição de territórios existenciais, constituição de
realidade” ( 1989, p.67).
Imagem 2– Contenção
Imagem 3-Comunicação
5
Sobre as instituições de confinamento o filósofo Gilles Deleuze (1992) anunciou, em seu “Post-
scriptum sobre a Sociedade de Controle” que “encontramo-nos numa crise generalizada de todos os
meios de confinamento, prisão, hospital, fábrica, escola, família” (Deleuze, 1992, p. 220).
17
comunicação virtuais, uns publicavam mais frases, saudações e outros optavam por
compartilhar fotos, entre outras diversas formas de se perceber a pluralidade que os
constitui, distanciando das errôneas representações imaginarias dos sujeitos surdos.
Em acordo com Sá (2002, p. 103) percebemos que “os surdos e a comunidade
surda são plurais, como é todo agrupamento humano”.
Na sala de aula, nossas atividades de observação ocorreram na turma
323, do terceiro ano do ensino médio do turno da tarde, o qual faz parte quatro
alunos surdos. Escolhemos essa turma porque tínhamos a intenção de observar a
participação desses alunos surdos nas aulas de artes. Na sala, percebemos o grupo
dos ouvintes e o grupo dos alunos surdos que interagiam com aqueles que
compartilhavam da mesma forma de comunicação, os surdos usavam a LIBRAS e
os ouvintes oralizavam. Em determinados momentos observamos a ausência da
intérprete na sala de aula e somente a professora de artes tentava se comunicar
com os alunos surdos e ouvintes. Percebemos que a professora de arte não era
preparada para lidar com as especificidades dos alunos surdos, e que isso dificulta o
processo de ensino/ aprendizagem.
Em conversa com uma aluna surda da turma, a qual, denominaremos
aqui de surda A (informações em LIBRAS), indagamos como ela se sentia nesse
tipo de situação nas aulas de arte. A aluna comentou que:
19
como vídeos de comedia, pegadinhas, filmes eróticos, fotos pessoais e de outros
colegas, desenhos, imagens de suas redes sociais, entre outras imagens que
facilitavam e propiciavam a comunicação entre os dois grupos de alunos. Buscamos
aprender com o processo que é inconclusivo e variante, que exige de nós
pesquisadores um constante inventar e reinventar de métodos. Nas palavras de
Tourinho (2013):
Imagem 4 - Observador
21
Imagem 5 – Comunicação Virtual
Imagem 6 – bagagens
23
que divide suas atenções com seus aparelhos celulares. A diversidade de
experiências oferecidas pelos celulares pareciam agradar mais aos alunos do que o
instrumento, considerado um dos símbolos de aprendizado, o caderno. Estas
percepções e interpretações nos faziam pensar como nossas trajetórias seriam
afetadas por essas experiências? Como elas nos ajudariam a entender as teias
subjetivas no interior da instituição escolar e fora dela?
As redes de comunicação virtuais invadem o espaço de confinamento da
escola e tomam a atenção dos alunos com suas tramas e prazeres. De acordo com
Sibilia (2012):
24
Se eu entendo que arte e experiência estética oferecem
possiblidades para nos colocar – mesmo que provisoriamente – no
lugar do outro, as metodologias de pesquisa e ensino precisam
buscar um caráter múltiplo, que vise a sua própria disseminação para
encontrar lugares que desconhecemos, praticas que não
vivenciamos sentidos que não nos pertencem - que extrapolam
nossos repertórios de vida (p. 68).
Imagem 7 - Confinados
25
alunos ouvintes apresentavam nos seminários temas relacionados a conteúdos
curriculares centrados na história da arte brasileira.
Percebemos que a intérprete de LIBRAS que acompanha os quatro
alunos surdos desta sala não estava presente. Com a intenção de incluir os alunos
surdos na aula a coordenação pedagógica disponibilizou outra tradutora para sala
de aula. A intérprete substituta não havia conhecimento do processo vivenciado
pelos alunos em aulas anteriores e estava tão somente interpretando o que era
compartilhado pelos ouvintes. Os surdos formavam um único grupo constituído
somente por não ouvintes, assim como todos os outros alunos da turma, deveriam
apresentar em forma de seminário informações de artistas previamente
selecionados entre os grupos. Os alunos surdos não conseguiram executar o
exercício proposto por não terem tido o acompanhamento necessário e suficiente
para o desenvolvimento da exposição do conteúdo. Esses alunos entregaram
apenas o trabalho escrito, gerando tensões entre professora e alunos.
Em entrevistas abertas eles expressaram em suas falas as tensões
geradas em sala de aula pela falta de adaptação metodológica, pelas formas
diferentes de comunicabilidade que limitam o contato dos professore com os alunos
surdos, e as dificuldades para compreender alguns assuntos sozinhos, assim como
para apresentar trabalhos que exijam explanação em forma de seminários. Como
evidenciado na fala do surdo que chamaremos de surdo D (informações em
LIBRAS):
26
Imagem 8– Redes democráticas
6
O conceito de cultura popular é aqui entendido como “as produções culturais produzidas em grande escala
industrial, de fácil aceitação pelos consumidores, como: filmes, cds, programas televisivos, revistas, roupas,
objetos utilitários, produções midiáticas e de entretenimento” (RANGEL, 2008, p. 108)
27
Imagem 9– Rotas Alternativas
Imagem 10-Afetos
29
A pesquisa qualitativa envolve uma abordagem naturalista,
interpretativa, para o mundo, o que significa que seus pesquisadores
estudam as coisas em seus cenários naturais, tentando entender os
fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles
conferem. [...] envolve o estudo do uso e a coleta de uma variedade
de materiais empíricos – estudo de caso; experiência pessoal;
introspecção; história de vida; entrevista; artefatos; textos e
produções culturais; textos observacionais, históricos, interativos e
visuais – que descrevem momentos e significados rotineiros e
problemáticos na vida dos indivíduos. (DENZIN E LINCOIN, 2006, p.
17)
Neste registro fotográfico estão presentes sete dos doze alunos surdos
que contribuíram abertamente com todas as ações dos pesquisadores. Os dias de
observação nos possibilitaram a construção de laços afetivos com os sujeitos de
nossa pesquisa, laços esses que nos propiciaram uma abertura pra acessar
informações importantes na produção de dados.
A representatividade encontrada na presença do pesquisador surdo foi
algo que mais facilitou essa aproximação. Percebemos que esses alunos surdos
buscavam alguém que quisesse ouvi-los e entende-los. Ainda que houvesse
limitações na comunicação por parte dos estudantes ouvintes para com os surdos,
pudemos compartilhar de informações, subjetividades, histórias de vida, trânsitos e
relatos do cotidiano dos nossos colaboradores que ao perceberem nossa presença
nos corredores da escola logo se aproximavam e se mostravam disponíveis para
conversar.
Assim aproveitamos estas aberturas de dialogo e buscamos aprofundar
questões, a partir dos seus relatos de vida e seus interesses pessoais, na tentativa
de acessarmos informações ainda não percebidas por nós.
30
Imagem 11 -Expressões visuais
31
aluno notamos a forte presença das mídias como constituidoras de concepções de
realidade as quais despertam desejos e interesses nos seus interactores.
Nesse sentido, Sibilia (2012, p. 63) diz que “a sociedade contemporânea
esta fascinada pelos sedutores feitiços das imagens”. Em relação a essas praticas
culturais com imagens e as tecnologias visuais, Duncum (2011) exprime:
32
significação vivenciados no dia-a-dia de seus transeuntes que não aprendem
apenas quando estão dentro das salas de aula, mas em todos os lugares, como
salienta Sibilia (2012):
33
CAPITULO II
34
Imagem 12 – Propostas curriculares
35
conhecimento que atenda também as demandas do currículo oficial, construindo as
aulas a partir de um “caráter dialógico das relações de ensino e aprendizagem,
interconectando saberes de docentes e discentes, saberes emergentes e
duradouros, questões de poder e de conhecimento” (TOURINHO, 2008, p. 71).
Ao fim das negociações com a professora fomos até a sala 323 para
tentar conseguir acesso a algum grupo virtual de interação da turma. Desejávamos
adentrar em outra dimensão de penumbras, um ambiente virtual, onde os alunos
compartilham de suas vivencias. Nesse sentido, de acordo com Moreira e Candau
(2007) são:
Hernandez (2007, p. 35) fala que aquele que deseja pensar a educação e
criar possibilidades a partir das subjetividades dos alunos, se faz necessário “que
nos apropriemos de outros saberes e de maneiras alternativas de explorar e de
interpretar a realidade, em comparação às atuais disciplinas escolares”.
Pensando sobre os currículos vividos pelos alunos fora da escola,
optamos por adentrarmos num ambiente virtual alternativo a fim de investigar os
trânsitos de distintos saberes “que nos ajudem a dar sentido ao emergente e ao
mutável, a compreendermos a nós mesmos e ao mundo em que se vive”
(HERNANDEZ, 2007, p. 35).
Sabemos que as fontes de informação e aprendizado antes da chegada
da internet eram “efetuadas na privacidade domestica, [...] e também nas salas de
aulas, nos pátios e nos corredores do colégio” (SIBILIA, 2012, p 47). Hoje, já não se
limitam a estas instituições, tais fontes estão ao alcance dos alunos a todo tempo em
suas mãos, nos seus aparelhos de celular portáteis, no computador, ao passo de
apenas um “clique” na grande rede de computadores mundial.
36
Tourinho e Martins (2011, p.51), nos alertam da importância investigativa
desses novos mecanismos sociais, o qual segundo os autores podem aparentar
inofensivos:
37
Numa conversa informal, negociamos com os alunos e conseguimos
nossa inclusão no grupo do aplicativo de mensagens Whatsapp7 da turma, o qual
denominasse “Estudiosos 323”. Como se vê na imagem intitulada “transito livre”, a
qual é um dos prints8 feitos do ambiente virtual compartilhados pelos alunos.
Neste novo ambiente percebemos outras relações de poder, outros
padrões de comportamento, onde os sujeitos gozavam da liberdade de exibir nas
telinhas dos celulares fotos com garrafas de bebidas alcoólicas, autorretratos
exibindo seus carros, roupas, joias, maquiagens, acessórios, festas, compartilhavam
musicas, fotos e vídeos com teor sexual, a liberdade de se falar de qualquer coisa
dos seus interesses pessoais e coletivos abria margem para que indivíduos se
expressassem mais abertamente, alguns que pareciam tímidos em sala de aula
demonstravam maior desenvoltura nas conversas virtuais.
Os currículos abordados advinham de suas vivencias cotidianas sem a
obrigatoriedade de filtros no que se diz e como se diz. Nossa presença despertou
nos alunos o interesse de saber o que estávamos fazendo naquele ambiente onde
eles podem transitar livremente sem temer a algum tipo de repressão. Era como
estar num outro universo, onde os saberes vinham das mais diversas vias e eram
construídos e compartilhados a partir dos interesses dos próprios sujeitos que ali
dialogavam, socializavam suas práticas fora e dentro da escola.
As observações através desta rede de comunicação possibilitou a tomada
de outros conhecimentos referente aos interesses dos alunos e suas fontes
subjetivas de prazer. Pudemos assim compreender o que eles elegem como
relevantes de ser tratado na aula de artes a ser executada.
Nesse sentido, esse contato nos ajudou a elaborar uma aula que valorize
suas vivencias e suas diversas culturas, assim como relaciona-las as exigências do
currículo oficial. Sobre culturas juvenis Torres (2005) diz que:
7
Whatsapp é um software para smartphones utilizado para troca de mensagens de texto
instantaneamente, além de vídeos, fotos e áudios através de uma conexão a internet.
8
Print e o nome da ação de se criar uma imagem mostrando o que se ver na tela do celular ou do
computador naquele momento.
38
ser as que, por definição, traduzem a juventude. Não obstante, essa
realidade juvenil é algo que a instituição escolar vai tratar de ocultar,
quando não atacar frontalmente (TORRES, 2005, p. 166).
39
Imagem 14 - Pistas
9
Twitter é uma rede social e um servidor para microblogging, que permite aos usuários enviar e
receber atualizações pessoais de outros contatos, por meio do website do serviço, por SMS e por
softwares específicos de gerenciamento.
10
Instagram é uma rede social de fotos para usuários de Android e iPhone. Basicamente se trata de
um aplicativo gratuito que pode ser baixado e, a partir dele, é possível tirar fotos com o celular, aplicar
efeitos nas imagens e compartilhar com seus amigos.
11
Facebook é uma rede social lançada em 2004. O Facebook foi fundado por Mark Zuckerberg,
Eduardo Saverin, Andrew McCollum, Dustin Moskovitz e Chris Hughes, estudantes da Universidade
Harvard.
12
YouTube é um site que permite que os seus usuários carreguem e compartilhem vídeos em formato
digital.
40
A partir das informações compartilhadas em suas falas pudemos ter uma
noção de seus interesses nos universos subjetivos que vivenciam, para então
pensamos por quais vias iriamos encaminhar nossas experimentações. A partir
dessas falas passamos a nos perguntar: como explorar nas aulas de artes as
experiências vivenciadas pelos alunos? Como explorar novos conteúdos, de modo
que, valorize os saberes que os estudantes carregam?
Com estas indagações pudemos refletir e organizar os conteúdos do
plano de aula a ser desenvolvido nas duas aulas posteriores. Nesse sentido, as
aulas de artes, de acordo com Duncum (2011, p. 22) “deveria, pois, basear-se na
natureza da cultura visual, especificamente nas experiências dos alunos relativas a
ela e integradas ao conhecimento do professor”. O autor complementa dizendo que
nestes tipos de processo “é importante incorporar prazer e critica”.
CAPÍTULO III
O aluno, por sua vez, deve interiorizar o conhecimento tal como ele é
apresentado, de maneira que as ações habituais são a repetição do
que se tem que aprender e o exercício entendido como cópia do
modelo, até que seja capaz de automatiza-lo. Esta concepção é
coerente com a crença de que a aprendizagem consiste na
reprodução da informação, sem mudanças, como se se tratasse de
uma cópia na memoria do que se recebe através de diferentes
canais. (ZABALA, 1998, p. 108)
41
Inicialmente desejávamos trabalhar com o Whatsapp dentro da sala de
aula, pois achávamos que todos os alunos da turma teriam acesso à internet em
seus celulares, ou pelo menos a maioria, na escola. Contrariando nossas
suposições a maioria deles não possuía acesso à internet na escola, somente nas
suas residências. Assim, começamos as adaptações, tivemos que pensar outras
possibilidades para trabalhar com o celular nesse processo, já que não teríamos
como utilizar o aplicativo de mensagens dentro da sala como ferramenta de
comunicação pela falta de acesso a internet.
Após a divisão dos grupos proporcionou-se a autonomia de escolha de
temas que lhes interessava, numa tentativa de fugir da hierarquização dos
conteúdos. A esse respeito, sobre essa seleção do que aprender/ensinar na sala de
aula Moreira e Candau (2007) nos ajudam a perceber que:
13
Tecnobrega é um gênero musical popular surgida em Belém do Pará nos anos 2000. O gênero
tem a influência que vai desde o brega tradicional, o calypso, o forró, o bolero, o merengue e o
carimbó, até a música eletrônica e o samba.
14
Marabaixo é uma dança da cultura africana, provavelmente trazida pelos negros que chegaram ao
Estado do Amapá no século XVIII.
15
A expressão meme de Internet é usada para descrever um conceito de imagem, vídeo e/ou
relacionados ao humor, que se espalha via Internet.
16
Black Mirror é uma série de televisão britânica antológica criada por Charlie Brooker, que apresenta
ficção especulativa com temas sombrios e às vezes satíricos que examinam a sociedade
contemporânea, especialmente no que diz respeito às consequências imprevistas das novas
tecnologias.
17
Liniker de Barros Ferreira Campos (Araraquara, 1995), conhecida como Liniker é uma cantora e
compositora brasileira de soul e black music.
42
Ao concordar com a “necessidade de se ampliar e desnormatizar os
objetos e os artefatos com os quais se trabalha em educação das artes visuais” ,
Hernandez (2007, p. 63), alerta para necessidade de valorizar as vivências dos
estudantes, seus interesses pessoais e coletivos, o que lhes proporciona prazer.
Provocando o alunado a “[...] desenvolver uma visão crítica em relação
ao poder das imagens, auxiliando-os a criar e aguçar um sentido de
responsabilidade das liberdades decorrentes desse poder” e sabendo que “[...] a
visão é uma “construção cultural” e, portanto, é algo aprendido e cultivado através
de práticas sociais e de práticas educacionais desenvolvidas nas instituições”
(MARTINS, R., 2006, p. 72).
No campo das investigações da cultura visual, Fernando Hernandez
(2007) destaca que a posição a ser assumida pelos professores nas aulas de artes,
não é aquela do detentor do conhecimento, ou mesmo de guardião do currículo
oficial. A pratica docente, a partir desse ponto de vista deixa de ser centrada na
transferência de conhecimento, uma vez que a:
43
imagens, relatos, informações e opiniões no grupo de Whatsapp. Os alunos se
mostraram interessados nesse processo de aula, que se estenderia para além das
horas em sala de aula e sem a necessidade de seguir um roteiro rígido.
Imagem 15 – Representatividade
44
encontram relatos, problemas e histórias semelhantes às suas.
(STROBEL, 2015, p. 121)
46
CAPITULO IV
47
cultura?”. Compreendemos este complexo conceito num sentido plural, concordando
com o posicionamento de Moreira e Candau (2007):
Nosso objetivo não foi revelar alguma verdade aos alunos, sabendo que
“conhecimento, consciência e verdade não são realidades fixas e não se encontram
em espaços delimitados” (MARTINS, 2006, p. 76) e assim buscamos construir
coletivamente uma percepção das varias formas culturas e de expressões existentes
no mundo.
50
Os alunos surdos e ouvintes respondiam de formas distintas durante todo o
processo, percebeu-se uma maior participação da maioria ouvinte, tanto no
desenvolvimento da aula pelo aplicativo de mensagens, como nos dois momentos
de aula presencial. Estes comportamentos nos levaram a questionar quais seriam
então as metodologias aplicáveis de avaliação num processo onde diferentes
respostas são dadas, onde os caminhos e desvios trilhados por cada aluno é único e
como fugir de uma aplicação avaliativa normativa e hegemônica.
Refletindo nas considerações de Tourinho (2010) sobre avalição que diz:
52
Imagem 17 – Outras Imagem 18– Outras Imagem 19– Outras
interpretações 1 interpretações 2 interpretações 3
53
criminalidade e dinheiro; outro fala na minha obra eu expressei o cotidiano cultural
que vivemos hoje em dia, um mundo de consumismo onde as pessoas só pensam
em ostentar.
Nota-se tanto nas intervenções como nas falas dos colaboradores uma
projeção dos desejos particulares e coletivos em uma aproximação dos arranjos
sociais e suas redes subjetivas de significações com a prática artística,
resignificando a obra de acordo com suas próprias concepções de “realidade”, com
questões significativas para os sujeitos, e esta tem sido a função da arte através dos
tempos, como aponta Efland (2004, p. 229) citado por Hernandes (2007):
54
Imagem 20 – Outras Imagem 21– Outras Imagem 22– Outras
interpretações 4 interpretações 5 interpretações 6
55
referencia à chamada “ostentação”, trazendo outras interpretações sobre a pintura,
transgredindo o seu caráter sacrossanto e chamando ao debate “compreendendo
que não são os artefatos que definem arte, imagem e cultura visual, mas o modo
como aproximamos, relacionamos, vemos e olhamos tais artefatos” (MARTINS,
2006, p. 77).
A satisfação em realizarem esse tipo de exercício prático, e no processo
de aula desenvolvido junto à turma, é evidenciada também em suas falas num
momento posterior: foi um trabalho interessante, fazia tempo que eu não fazia algo
do tipo, e foi bacana fazer algo diferente do padrão que estamos acostumados; foi
um trabalho legal, onde todos nós pudemos colocar nossas opiniões e sentimentos
para expressar em uma pintura muito famosa, nossas culturas; uma aula bem
dinâmica e agradável muito útil para tirar o fardo que tem atividades somente
teóricas; foi muito interessante, nossas opiniões foram ouvidas e respeitadas mesmo
se não estivessem certas.
As falas dos colaboradores nos arremetem a fala de Duncum (2011, p.
26) ao dizer que “algo da diversão até mesmo do prazer transgressor que os alunos
absorbem da cultura popular deve ser concebido como um ingrediente da
pedagogia” abrindo margem para outros canais de aprendizado. Percebeu-se nessa
ação prática uma maior satisfação, interação e comunicação entre os estudantes e
até mesmo com a equipe de pesquisa.
Os deslocamentos de olhares nos abriram atalhos e clareiras em meio a
uma densa floresta de sensações, sentimentos, pensamentos, que se fundiam ao
medo do novo e do imprevisível, ânsia de esperar pelos possíveis resultados e
outros desconfortos que as incertezas nos proporcionam.
Olhar para os alunos além da sala de aula, observar seus trajetos pelos
corredores, banheiros, lanchonete, quadra de esporte e até pelos trânsitos virtuais
de comunicação, foi essencial para despertar em nós um olhar sensível ao o que os
alunos querem e como querem aprender nas aulas de artes, buscando nas
potencialidades de suas subjetividades e visualidades os direcionamentos das
metodologias aplicáveis em uma aula de artes. Deslocando assim o olhar do
professor como detentor do saber, do currículo ditador dos únicos conteúdos e
formas de atuação em sala de aula, da escola como único ambiente onde se
aprende, e do próprio conceito de aprender.
56
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
57
Consideramos que faz parte da ação docente, nos processos de
ensino/aprendizagem, tecer reflexões que ajudem a pensar, fundamentar, organizar
e construir, práticas educativas inclusivas. Não como procedimentos modelos,
rígidos e generalizantes, mas processuais, de modo que levem em consideração os
contextos específicos, as visualidades e experiências dos sujeitos envolvidos no
processo de aprendizado em artes visuais.
Não há a pretensão de universalizar os resultados obtidos e nem de tê-los
como provas, verdades absolutas e modelos, pois entendemos que são provisórios
e que não se podem esgotar apenas aqui neste trabalho, mas tão somente tornar
conhecidos os processos e resultados de explorações e experimentações
rizomaticas que foram construindo narrativas visuais apontadas pelo próprio campo
a partir das nossas observações etnográficas, das conversas informais, das
entrevistas abertas, dos relatos de historias de vida, das interpretações e de nossas
próprias histórias que se envolviam com as dos indivíduos participantes da pesquisa,
a fim de convidar ao debate, gerar curiosidade, construir diferentes narrativas nas
quais se possam pensar e criar novas experimentações educativas sensíveis.
Finalizamos nossas atividades de pesquisa com perspectivas de que
ainda há muito a se pensar a respeito dos dados que aqui foram apresentados e que
para atuarmos em universo tão liquido e em constante mutação precisamos estar
abertos as possiblidades, as mudanças de rotas, estar sensível aos trânsitos e as
visualidades dos alunos para elaboração de práticas educativas inclusivas passiveis
de reestruturações constantes, compreendendo que apesar de a escola continuar
sendo um recinto de transmissão/transfusão de conteúdos pré-estabelecidos, há
também a possibilidade de resistência e transgressão que viabilizam construções de
outras perspectivas e outras possibilidades de rotas.
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REFERÊNCIAS
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