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Movimento reverso. A China ignorou o Consenso de Washington e tornou-se uma das economias mais avançadas do
mundo, onde humanoides dividem espaço com operários nas fábricas
Três décadas após o FMI, o Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos EUA elaborarem
o Consenso de Washington, assim denominado em 1989 pelo economista inglês John
Williamson, ganha corpo principalmente na Europa e nos Estados Unidos o movimento rumo a
um ideário oposto denominado Pós-Consenso de Washington.
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06/01/2018 O fim do Consenso de Washington?
cursos universitários de economia – o que permitirá renovar o ensino, ponto crucial da mudança
em andamento – à aplicação de novos princípios econômicos em comunidades locais são
alguns indícios do avanço do Pós-Consenso de Washington, assegura Laurie Laybourn-
Langton, pesquisador de um dos principais think tanks progressistas do Reino Unido, o Instituto
para Pesquisa em Políticas Públicas (IPPR, em inglês).
“Acadêmicos e outros proponentes de um novo consenso e que até alguns anos atrás eram
vozes isoladas hoje encorpam o contingente cada vez maior de economistas e analistas
reconhecedores de que o neoliberalismo não está funcionando. Mesmo o Fundo Monetário e a
OCDE não são mais monólitos ideológicos neoliberais e mostram claros sinais de fratura
interna”, chama atenção Laybourn-Langton.
Leia mais:
"O capitalismo, mais uma vez, não tem funcionado"
Cercados pelo capital
Adeus ao crescimento
“O Japão e a Coreia do Sul, os primeiros países bem-sucedidos do Leste Asiático, ficaram ricos
ignorando a maior parte das prescrições do Consenso de Washington.
Nos dois casos, o setor financeiro foi mantido com rédeas curtas, o crédito foi direcionado ou
encaminhado para apoiar objetivos industriais específicos definidos pelo governo e a indústria
doméstica foi alimentada por proteção tarifária enquanto era forçada a competir agressivamente
por mercados externos”, chama atenção o economista Adair Turner, que presidiu a FSA,
entidade reguladora do sistema financeiro britânico, integrou o Comitê de Política Financeira do
Reino Unido e preside o Institute for New Economic Thinking, que se define como instituição
dedicada a desenvolver “ideias econômicas sólidas para melhor servir à humanidade”.
A China, diz, tenta seguir a trilha de rápido crescimento econômico do Japão e da Coreia do
Sul, e para enfrentar as dificuldades específicas decorrentes do seu tamanho usa “uma
combinação pragmática de incentivos de mercado e direção estatal”.
O setor privado desempenha um papel vital na estratégia, mas não no sentido preconizado pelo
Consenso de Washington. “As autoridades chinesas podem promover um arrefecimento
deliberado da economia como parte da estratégia de limitar futuros descontroles do processo.
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Em 1998, o economista ganhador do Prêmio Nobel Joseph Stiglitz publicou o texto “Mais
instrumentos e objetivos mais amplos: rumo ao Pós-Consenso de Washington”, até hoje uma
das principais referências sobre o assunto.
Tem como meta um desenvolvimento equitativo, que assegure a todos os grupos da sociedade
o desfrute dos benefícios do desenvolvimento, não apenas aos poucos que estão no topo.
Almeja ainda o desenvolvimento democrático, no qual os cidadãos participam de variadas
maneiras da tomada de decisões que afetem as suas vidas.
O Pós-Consenso de Washington, chama a atenção Stiglitz, não pode ter como sede a capital
dos Estados Unidos. Para as políticas serem sustentáveis, precisam ser apropriadas pelos
países em desenvolvimento que irão implementá-las. O novo consenso emergente requer ainda
“um maior grau de humildade, o franco reconhecimento de que nós não temos todas as
respostas”.
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As evidências mostram apenas que a inflação alta é prejudicial à economia. Quando os países
ultrapassam 40% de inflação anual, diz, caem na armadilha inflacionária do crescimento. Abaixo
desse nível não há, entretanto, evidência de que a inflação seja danosa ao crescimento.
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“Controlar taxas altas e médias de inflação deve ser uma prioridade fundamental, mas baixar
uma inflação já baixa não parece melhorar significativamente o funcionamento dos mercados.
(...) Fazer os mercados funcionarem requer mais do que apenas inflação baixa. Requer
regulação financeira sólida, políticas de concorrência, e para facilitar a transferência de
tecnologia e transparência”, ensina Stiglitz.
Em Brasília, em especial no Banco Central, não há, entretanto, quem se disponha a refletir
sobre essas ponderações do Nobel de Economia. Em contrapartida, sobram burocratas
empenhados em “baixar uma inflação já baixa”.
O economista e vários dos seus colegas, inclusive no Brasil, alertaram contra a privatização
precipitada sem criação da infraestrutura institucional necessária, incluindo mercados
competitivos e corpos regulatórios. As condições sob as quais a privatização pode alcançar os
objetivos públicos de eficiência e equidade, advertiram, são muito limitadas.
“Se, por exemplo, falta concorrência, a criação de um monopólio privado e não regulado pode
manifestar várias formas de ineficiência e não ser altamente inovador. A verdade é que
empresas de grande porte públicas e privadas compartilham muitas similaridades e enfrentam
muitos dos mesmos desafios organizacionais. (...) Não só as diferenças entre empresas
públicas e privadas estão borradas como há também um processo contínuo de combinações na
interface dos dois grupos”, analisa Stiglitz.
“A China preparou-se para manter um crescimento de dois dígitos no PIB, ampliando o escopo
da concorrência, mas sem privatizar as empresas de propriedade do Estado. A Rússia, em
contraste, privatizou ampla parcela da sua economia sem fazer muito para promover a
concorrência. A consequência disso e de outros fatores foi um enorme colapso econômico”,
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conclui o economista.
“A premissa não assumida é de que os governos são considerados piores do que os mercados.
Assim, quanto menor o Estado, melhor – isto é, menos pior – é o Estado. Eu não acredito em
formulações absolutas do tipo ‘governo é pior do que mercado’. O governo tem o importante
papel de dar respostas às falhas de mercado... tornar o Estado mais eficiente é uma tarefa
consideravelmente mais complexa do que apenas reduzir o seu tamanho.”
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