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Direito Tributário para XXII Exame da OAB

Curso de Teoria e Questões


Prof. Fábio Dutra- Aula 08

Ao estudar Direito Administrativo, você verá que os atos administrativos


possuem certos requisitos para que se tornem válidos. Além disso, há também
determinadas características ou atributos típicos dos atos administrativos. Com
base nos conceitos oriundos do Direito Administrativo, é possível concluir
que de fato o lançamento é um ato administrativo.

Para resolver as questões, o que você deve ter em mente é o seguinte:

 O lançamento é um procedimento administrativo (se a questão não fizer


ressalvas);
 O lançamento é um ato administrativo, embora resulte de um
procedimento, por possuir determinados requisitos de validade e
características inerentes aos atos administrativos (se a questão se
aprofundar na discussão, o que normalmente não ocorre).

Outro ponto de discussão seria a natureza do lançamento.


Novamente, em vez de nos prolongarmos nos comentários, vou ensinar como
o tema deve ser levado para a prova: o lançamento declara a obrigação
tributária (verifica a ocorrência do fato gerador) já existente e constitui o
crédito tributário (previsto no início do caput do art. 142). Portanto, pode-se
dizer que o lançamento possui natureza jurídica mista.

Lançamento = Natureza jurídica mista

 Declara obrigação tributária; e


 Constitui crédito tributário.

2.1 – Competência para lançar

O caput do art. 142, do CTN, apenas estabelece que compete


privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo
lançamento. Quem seria essa autoridade administrativa? Cabe ao legislador
de cada ente federativo determinar.

A rigor, a competência é exclusiva da autoridade


determinada pelo legislador.

Por conseguinte, não há possibilidade de delegação ou


avocação.

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Não confunda:

A legislação material somente se aplica aos fatos


geradores futuros, pois ela deve estar vigente e
produzindo efeitos no momento da ocorrência do fato
gerador. Cumpre-se, assim, o princípio da
irretroatividade tributária.

Sob outra ótica, quando for realizado o lançamento,


deve-se levar em consideração a legislação material
vigente na data do fato gerador, ainda que já tenha sido
revogada.

Cabe destacar que, de acordo com o § 2º do próprio art. 144, não se


aplica o que acabamos de ver aos impostos lançados por períodos certos de
tempo (IPVA e IPTU, por exemplo), desde que a lei fixe expressamente a
data em que o fato gerador se considera ocorrido.

Vamos entender o que o legislador quis dizer com isso. O que vimos até
agora foi que o lançamento deve utilizar como base a legislação vigente na
data da ocorrência do fato gerador, correto?

Em relação aos impostos lançados por períodos certos de tempo, isso


não se aplica se a lei fixar a data em que o fato gerador se considera ocorrido.
Na prática, a situação não muda muito, já que, quando a lei fixar um momento
em que o imposto se considera ocorrido, aplica-se a legislação que estiver em
vigor nesse momento.

A título de exemplo, se o fato gerador do IPVA ocorre no dia 1º de


Janeiro de cada ano, aplica-se ao lançamento a legislação que estiver em vigor
nessa data.

Assim, na essência, a regra do § 2º do art. 144 não é uma exceção, mas


deve ser memorizada para fins de prova!

2.2.2 – Legislação aplicável em relação aos aspectos formais

Além dos aspectos materiais, no momento do lançamento a autoridade


deve respeitar regras formais. Para entender qual será a legislação aplicável
em cada caso, vamos ver o que o legislador estabeleceu no § 1º do art. 144:

§ 1º Aplica-se ao lançamento a legislação que, posteriormente à


ocorrência do fato gerador da obrigação, tenha instituído novos
critérios de apuração ou processos de fiscalização, ampliado os
poderes de investigação das autoridades administrativas, ou
outorgado ao crédito maiores garantias ou privilégios, exceto,

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Dessa forma, O lançamento está correto em relação ao imposto, mas incorreto


em relação à multa (que deveria ser de 10% sobre o ISS devido e não
recolhido).

Gabarito: Letra D

3 – ALTERAÇÃO DO LANÇAMENTO

Após a conclusão do lançamento, para que este possa produzir efeitos


em relação ao sujeito passivo, é necessário que haja a notificação do
lançamento. Trata-se de comunicação oficial feita ao devedor por meio de
notificação de lançamento ou mesmo por carnê de cobrança.

Ao ser notificado, o contribuinte terá duas opções: quitar a obrigação


ou impugnar o lançamento contra ele realizado. Obviamente, ele terá um
prazo para agir diante da notificação. Portanto, antes de o contribuinte ser
notificado da existência do crédito tributário, o lançamento não produz
qualquer efeito (contagem do prazo para impugnação, por exemplo).

É por esse motivo que, antes da comunicação oficial, a autoridade


administrativa pode alterar o lançamento para corrigir informações ou
valores, já que o contribuinte ainda não foi informado da dívida tributária.
Podemos dizer, então, que nesse período o lançamento é revisível.

Até a notificação, a revisibilidade do lançamento é


absoluta.

Com a notificação, a situação muda totalmente. A partir deste


momento, a regra é a vedação da alteração do lançamento efetuado.
Dizemos, neste caso, que o lançamento é presumidamente definitivo.

Contudo, tal presunção é relativa, já que o art. 145 do CTN, seguindo


a lógica do que acabamos de ver, previu situações excepcionais que permitem
a alteração do lançamento regularmente notificado. Senão, vejamos:

Art. 145. O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo só


pode ser alterado em virtude de:

I - impugnação do sujeito passivo;

II - recurso de ofício;

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3.4 – Alteração do Lançamento decorrente de erro de direito e erro de


fato

Vejamos, inicialmente, o que diz o art. 146 do CTN:

Art. 146. A modificação introduzida, de ofício ou em conseqüência de


decisão administrativa ou judicial, nos critérios jurídicos adotados pela
autoridade administrativa no exercício do lançamento somente
pode ser efetivada, em relação a um mesmo sujeito passivo,
quanto a fato gerador ocorrido posteriormente à sua introdução.

Quando o legislador fala em “critérios jurídicos” adotados pela autoridade


no lançamento, está se referindo à interpretação da legislação tributária
aos casos concretos.

A interpretação de determinada norma pode ser alterada com o decorrer


do tempo, já que a tecnologia, a sociedade e a economia, por exemplo, são
fatores que se alteram, podendo resultar em outro modo de entender a lei
tributária. Essa modificação nos critérios jurídicos é denominada erro de
direito.

O dispositivo em análise tem por objetivo proteger a alteração do


lançamento efetuado, com base em erro de direito, prestigiando a boa-fé do
contribuinte que, ao fazer acontecer o fato gerador, tinha por base a
interpretação anterior da lei tributária.

Portanto, as alterações nos critérios jurídicos, ou melhor, na


interpretação da lei só pode ser feita, em relação ao mesmo sujeito passivo,
quanto aos fatos geradores que vierem a ocorrer após a mudança na
interpretação.

A mudança nos critérios jurídicos possui efeitos ex nunc,


aplicando-se apenas aos fatos geradores futuros.

Nesse sentido, o aluno deve memorizar que não cabe alteração de


lançamento com base em erro de direito.

Vejamos o entendimento do STJ sobre o assunto:

TRIBUTÁRIO - IMPORTAÇÃO - REVISÃO DE LANÇAMENTO POR ERRO DE


DIREITO - SÚMULA 227/TFR.

1. Em havendo na declaração do contribuinte erro de direito não

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detectado pelo Fisco, que a aceita integralmente, a mudança de


entendimento constitui-se em alteração de critério vedada pelo CTN.

2. Só a falsidade, o erro ou a omissão são capazes de provocar a


revisão do lançamento com a conseqüente autuação do contribuinte.

(STJ, REsp 171.119/SP, Segunda Turma, Rel. Min. Eliana Calmon,


Julgamento em 07/08/2001)

Por outro lado, o “erro de fato”, quando ocorrido, deve ser


indubitavelmente alterado, com base no art. 149 do CTN, respeitando, é
claro, o prazo decadencial, conforme a regra prevista no par. único do mesmo
artigo.

O erro de fato ocorre quando algum fato relevante deixa de ser levado
em consideração no momento do lançamento ou mesmo quando as
informações tomadas como base para o lançamento não correspondem à
realidade. Como exemplo, imagine que o IPVA referente a um carro foi
calculado sobre uma base de cálculo incorreta. Nesse caso, o lançamento deve
ser alterado de ofício com base no art. 149, VIII, do CTN.

4 – MODALIDADES DE LANÇAMENTO

Já sabemos que existem três, e apenas três, modalidades de


lançamento. São elas: de ofício, por declaração e por homologação.

No CTN, eles foram disciplinados nos seguintes dispositivos:

 Lançamento de ofício: Art. 149


 Lançamento por declaração: Art. 147
 Lançamento por homologação: Art. 150

É a lei quem determina a modalidade de lançamento


pela qual o tributo será lançado.

Vamos estudar cada uma delas a seguir. Vamos lá!

4.1 – Lançamento de ofício

No lançamento de ofício, o fisco possui dados suficientes para realizar o


lançamento sem a participação do contribuinte. Assim, todo aquele

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4.2.1 – A técnica do arbitramento

O art. 148 do CTN prevê a possibilidade de se realizar o lançamento por


arbitramento nas seguintes hipóteses:

Art. 148. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em


consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos
jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular,
arbitrará aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou
não mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou os
documentos expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro legalmente
obrigado, ressalvada, em caso de contestação, avaliação
contraditória, administrativa ou judicial.

Portanto, sempre que o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou


atos jurídicos fornecidos pelo contribuinte por meio das declarações não
merecerem ou forem omissos, a autoridade administrativa deverá realizar
o arbitramento.

Um exemplo prático seria o de um contribuinte que adquire imóvel de


luxo, por um preço de R$ 2.000.000,00, declarando ao fisco que a operação foi
de R$ 100.000,00, para escapar da tributação do ITBI. O fisco, ao detectar que
a declaração do sujeito passivo não merece fé, arbitrará o valor mais próximo
da realidade.

O arbitramento não é considerado como uma modalidade


de lançamento, mas sim como técnica para definição
da base de cálculo.

Uma das maneiras de efetuar o arbitramento é por meio das pautas


fiscais, sendo esta semelhante a uma tabela dos valores aproximados dos
produtos, utilizada para definir a base de cálculo do tributo.

Contudo, o uso da pauta fiscal é restrito às hipóteses previstas no art.


148 do CTN, não podendo ser utilizada como presunção absoluta de
valor, ou seja, quando for possível apurar o valor real da base de cálculo, isso
deve ser feito.

Nesse sentido, como já foi citado em outra aula, o STJ já decidiu o


seguinte:

Súmula STJ 431 - É ilegal a cobrança de ICMS com base no valor da


mercadoria submetido ao regime de pauta fiscal.

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Na verdade, o que o STJ considerou ilegal foi o uso indiscriminado dessa


técnica para apuração da base de cálculo do ICMS.

DICA DE PROVA: Se uma questão transcrever a Súmula 431 do STJ, você


pode considerar correta, sem pestanejar.

Deve ser destacado, em tempo, que o lançamento por arbitramento


não possui natureza punitiva, embora seja utilizado em situações em que o
contribuinte seja inidôneo ou omisso.

Por fim, não cometa o equívoco de imaginar que o imposto de renda das
pessoas físicas (IRPF) é lançado por declaração, pelo fato de haver aquela
famosa declaração a ser entregue à Receita Federal.

Repare a diferença: no lançamento por declaração, o contribuinte presta


as informações e aguarda o lançamento da autoridade fiscal bem como a
notificação para pagamento. Por outro lado, no caso do IRPF, o contribuinte
prepara a declaração, antecipa o pagamento sem prévio exame da autoridade
administrativa, e esta apenas faz a posterior conferência, homologando o
procedimento. Trata-se, pois, de lançamento por homologação, estudado
no tópico a seguir.

No lançamento por declaração, a atividade do


contribuinte consiste em informar a autoridade.

No lançamento por homologação, a atividade do


contribuinte consiste em antecipar o pagamento.

4.3 – Lançamento por homologação

O lançamento por homologação, também denominado


“autolançamento” tem como característica intrínseca a intensa atuação do
sujeito passivo no procedimento. Vejamos o que diz o caput do art. 150:

Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos


tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de
antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade
administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade,
tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo
obrigado, expressamente a homologa.

Como já foi visto, no lançamento por homologação o sujeito passivo


antecipa o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, sendo
que esta, ao conferir a exatidão dos valores recolhidos, realiza a
homologação do pagamento.

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Estude bastante a aula de hoje, pois o conhecimento desta será essencial para
a próxima!

Um abraço,

Prof. Fábio Dutra


Email: fabiodutra08@gmail.com
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