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Capital volátil, cidade dispersa,

espaço segregado: algumas notas sobre


a dinâmica do urbano contemporâneo*
Volatile capital, dispersed city, segregated space:
some notes on the dynamics of the contemporary urban

Adriano Botelho

Resumo Abstract
Nas últimas décadas, o modo de produção capita- In the last decades, capitalism has been
lista tem passado por importantes transformações, undergoing important transformations, among
dentre as quais se destacam a maior mobilidade e which we highlight the greater mobility and
flexibilidade de um capital crescentemente desre- flexibility of an increasingly deregulated and
gulado e financeirizado. Nesse contexto, um novo financialized capital. In this context, a new
espaço, consumido e produzido pelo capital em space, consumed and produced by this capital
mutação, surge, caracterizado pela urbanização in mutation, has emerged, characterized by the
do planeta, na qual se destacam as grandes me- world’s urbanization, in which we can highlight
trópoles dispersas e marcadas pela segregação. O the large dispersed and segregated metropolises.
presente artigo tem por objetivo tratar algumas das This paper aims to deal with some of the relations
relações entre as transformações do capitalismo between the transformations in contemporary
contemporâneo e a produção do espaço, elemento capitalism and space production, an element
cada vez mais estratégico para a reprodução do ca- that is becoming more and more strategic to the
pital financeirizado. reproduction of the financialized capital.
Palavras-chave: capital financeiro; produção do Keywords: financial capital ; space
espaço; urbanização; cidade dispersa; segregação production; urbanization; sprawl; socio-spatial
socioespacial. segregation.

Cad. Metrop., São Paulo, v. 14, n. 28, pp. 297-315, jul/dez 2012
Adriano Botelho

Introdução com a acumulação do capital, até o ponto em


que é difícil extirpar uma da outra”.
Grandes operações de rearranjo urbanís-
O desenvolvimento do ambiente construído
tico são levadas a cabo pelo Estado, atendendo
possui estreita relação com as transformações
a interesses privados ligados ao capital mono-
observadas no modo de produção capitalista.
polista, com a finalidade de criar novos espaços
A maior mobilidade do capital, sua expansão
que sirvam à lógica da reprodução capitalista.
geográfica, ainda que em pontos selecionados
A desregulamentação crescente do mercado,
do planeta, a “compressão espaço-temporal”
um dos pilares do credo neoliberal hegemônico
(Harvey, 1993) derivada nas revoluções nos
nas políticas econômicas das últimas décadas,
meios de transporte e de comunicações, o pro-
tem, por sua vez, sua contraparte espacial: a
cesso de crescente financeirização dos circuitos
dispersão do espaço construído, a proliferação
do valor, acompanhada pela desregulamenta-
de áreas cercadas e de acesso restrito, a segre-
ção dos mercados, que se tornam altamente
gação dos mais pobres em áreas distantes dos
instáveis e voláteis, são alguns dos elementos
centros de produção, consumo e lazer.
que caracterizam esse modo de produção nas
No próximo item do presente artigo, se-
últimas décadas e que constituem parte de sua
rão tratadas algumas das recentes transforma-
resposta à crise econômica iniciada na década
ções no modo de produção capitalista, que cul-
de 1970. Tais transformações têm seu corre-
minam na predominância do capital financeiro
lato espacial: a dispersão do tecido urbano, o
e de sua expressão mais atual: a instabilidade
aprofundamento do processo de segregação
dos mercados. Em seguida, serão estudados
socioespacial e a constante degradação da vida
dois fenômenos inter-relacionados entre si e
nas grandes cidades do planeta. Pois, como nos
com a dinâmica do capital: a dispersão do teci-
lembra Indovina (1982), a crise da sociedade é
do urbano e a segregação socioespacial. E, por
também uma crise da cidade.
fim, serão apresentadas as considerações finais
O presente artigo tem por objetivo rela-
do presente artigo.
cionar os recentes movimentos de transforma-
ção do capital, sobretudo sua financeirização
e sua desregulamentação, com a dinâmica
urbana de dispersão e de aprofundamento da A dinâmica do capital
segregação socioespacial, em um contexto contemporâneo:
em que a produção e o consumo do espaço
financeirização
passam a ser elementos estratégicos para a
acumu­lação do capital, acumulação que é cada
e desregulamentação
vez mais dependente dessa produção e desse
consumo (Lefebvre, 1999). Segundo Harvey Segundo Belluzzo (1997, p. 184), escrevendo
(2010, p. 146), a produção do urbano, onde na década de 1990, “mudanças relevantes
vive a maior parte da população mundial ho- vêm ocorrendo no mercado mundial, nas for-
je, “tornou-se mais estreitamente entrelaçada mas de organização empresarial, nas normas

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de competitividade,­para não falar das trans- Os novos sistemas financeiros imple­


formações na órbita financeira e monetária, de mentados­a partir de 1972 mudaram o equilí-
longe as mais significativas”. Tais mudanças brio de forças em ação no capitalismo global,
foram uma resposta à crise vivenciada pelos dando muito mais autonomia ao sistema ban-
países capitalistas a partir da década de 1970, cário e financeiro em comparação com o finan-
quando um novo conjunto de estratégias in- ciamento corporativo, estatal e pessoal­(Harvey,
terligadas de reprodução do capital passou a 1993). O capital financeiro passou a ser, então,
tomar forma. Problemas de rigidez nos merca- um fator decisivo nas estratégias de reprodu-
dos, nos investimentos, nas formas de produ- ção do capital. Ao lado da explosão de novos
zir e nas relações entre o capital e o trabalho instrumentos e produtos financeiros, observou-
passaram a emperrar a acumulação, marcada -se um incremento dos valores transacionados
por duas décadas de crescimento vigoroso no no mercado financeiro mundial.
pós-Segunda Guerra. Medidas de flexibiliza- O peso do capital financeiro na maior
ção das atividades no interior das fábricas, economia do planeta, a dos Estados Unidos,
de liberalização dos mercados financeiros, de é ilustrativo de sua importância e magnitude
desregulamentação da economia (com espe- no modo de produção capitalista contempo-
cial desmantelamento das regulamentações râneo. Segundo o informe “Financial Crisis
do mercado de trabalho), uniram-se ao fim dos Inquiry­Report”­do Congresso norte-americano
compromissos historicamente assumidos entre (Financial­Crisis Inquiry Comission, 2011), em
o Estado, o capital corporativo e os sindicatos 2006, os lucros do setor financeiro nos Estados
nos países economicamente desenvolvidos pa- Unidos representavam 27% do total de lucros
ra superar os problemas de rigidez enfrentados auferidos por todas as corporações do país. E
pelo capital. Nesse contexto, “a inovação nos os chamados commercial papers (notas pro-
sistemas financeiros parece ter sido um requisi- missórias, emitidas por sociedades por ações,
to necessário para superar a rigidez geral, bem destinadas à oferta pública), que em 1980,
como a crise temporal, geográfica e até política somavam US$125 bilhões, chegaram à cifra de
peculiar em que o fordismo caiu no final da dé- US$1,6 trilhão em 2000 (idem).
cada de 60” (Harvey,­1993, p. 184). As condições políticas para a liberaliza-
O advento da maior importância do ca- ção dos mercados financeiros (mas também
pital financeiro está intimamente ligado ao comerciais, de investimentos externos diretos e
aumento de sua mobilidade em suas diversas de trabalho) foram reunidas, em primeiro lugar,
formas e à sua expansão geográfica, através nos Estados Unidos de Ronald Reagan e no Rei-
de praças financeiras offshore (chamadas de no Unido de M. Tatcher, com a chamada “revo-
paraísos fiscais) e da transnacionalização cres- lução conservadora” (Chesnais, 1997) por eles
cente de empresas e bancos ocorrida a partir levada a termo, como resposta ao fracasso das
de fins da década de 1960 e intensificada a políticas keynesianas de retomada da deman-
partir da crise capitalista da década de 1970 da, à estagflação do final da década de 1970
(Hymer, 1983). e à vontade de acabar com as condições que

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ainda permitiam aos assalariados defenderem de seus clientes­por meio da especulação que
seu poder de compra e suas conquistas sociais. se dá em nível internacional e num ritmo cada
Segundo Martin & Schumann (1998, p. 72), “foi vez mais desenfreado.­
por ação política e legislação direcionada, de Esses agentes financeiros buscam, in-
parte dos governos democraticamente eleitos, cansavelmente, para sua própria sobrevivên-
que se desenvolveu o sistema econômico ho- cia, melhores oportunidades para aplicar seus
je independente chamado mercado financeiro recursos. Essas oportunidades foram, em gran-
global”. A liberalização dos mercados financei- de parte, atendidas pelos governos que busca-
ros correspondeu à necessidade dos governos vam formas de financiamento pouco traumá-
de financiarem suas dívidas e seus déficits de ticas em termos de custos políticos por meio
forma não inflacionária (sem recorrer à emissão da emissão de títulos de dívidas (também
de moeda) ou sem efetuarem grandes ajustes chamada de securitização1 da dívida pública).
políticos em um contexto de crise econômica. Trata-se da substituição do empréstimo con-
Os avanços tecnológicos nas comunica- vencional (tradicionalmente conduzido pelos
ções de larga distância (através de satélites, bancos) pela emissão de bônus e outros títulos
fibra ótica, etc.) também contribuíram para públicos comercializáveis. E a partir desses tí-
manter as diversas praças financeiras conecta- tulos, surge um grande número de instrumen-
das entre si em tempo real por via eletrônica e tos para minimização dos riscos, chamados
para o surgimento de novos produtos e mer- geralmente de derivativos, podendo ser swaps,
cados financeiros (Harvey, 1993). As atividades opções em datas futuras, contratos de com-
em bolsas de valores e mercados futuros ope- pra e venda, etc. O fundamento de todos eles
ram hoje praticamente vinte e quatro horas por é o mesmo, apesar da aparente diversidade e
dia, tirando proveito dos fusos horários entre confusão causada por tantos nomes difíceis:
os distintos mercados e das informações (corri- eles seriam instrumentos de proteção (hedge),
queiras ou privilegiadas) obtidas pela moderna “que buscam neutralizar os riscos de perda
infraestrutura de conexão das diversas­praças de rendimento e/ou de capital, dada a vola-
financeiras. Paralelamente à maior disposição tilidade dos ativos financeiros securitizados”
dos governos de importantes países capita- (Belluzo,­1997, p. 176).
listas em liberar seus mercados financeiros, Tal forma de financiamento, pela libe­
cujo melhor paradigma são os Estados­Unidos ralização dos fluxos financeiros e de sua au-
e o Reino Unido, ocorreu um crescimento do tonomização diante do capital bancário le-
poder­ de novos agentes no mercado­ finan- vou, entretanto, a uma maior instabilidade do
ceiro global,­ao lado dos tradicionais bancos, mercado financeiro internacional e da própria
como os fundos de investimento, os fundos dinâmica de acumulação capitalista (Harvey,
de pensão,­os grupos de seguros e os conglo- 1993). Com a crescente securitização dos títu-
merados financeiros (ligados a grandes cor- los de dívidas e de financiamento, observa-se
porações). No caso dos três primeiros, seus o aumento da liquidez e da mobilidade dos
recursos são provenientes da poupança das mercados financeiros, ou seja, a facilidade de
famílias, e eles buscam maximizar­os ganhos entrada e saída das posições assumidas pelos

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agentes financeiros, bem como a profundidade intervenção no espaço urbano das empresas do
dos mercados secundários e de derivativos, que setor imobiliário se amplia, garantindo recursos
assumem grande porte, garantindo elevado necessários tanto para a superação da barreira
grau de negociabilidade aos papéis de distin- colocada pelos altos preços da terra urbana nas
tas características, denominações monetárias e áreas mais valorizadas, quanto para a disper-
prazos de maturação. O exemplo mais recente são do risco de financiamento aos comprado­
do chamado subprime no mercado financeiro res e para a aceleração do tempo de rotação
norte-americano é elucidativo de como os de- do capital no setor da construção. Abre-se a
rivativos, muitas vezes de alto risco, assumiram possibilidade de execução de projetos de maior
importância no mercado financeiro contempo- escala, mais complexos e de uso múltiplo, e,
râneo. A remuneração oferecida por esses pa- com o auxílio de um capital autonomizado, a
péis passa a ser central no processo de avalia- apropriação da renda resultante da valorização
ção capitalista da riqueza. O capital financeiro dos empreendimentos torna-se viável.
se diversifica, se complexifica e assume cada Diante da crise econômica das últimas
vez mais importância para a reprodução e para décadas, o planejamento urbano e o urbanis-
o cálculo de rentabilidade do capital em geral mo adquirem uma nova função – não mais
(que se financeiriza, dessa forma), expandindo- restrita à regulamentação das ações do setor
-se para outros setores da economia contem- privado –, ligada à promoção do crescimento
porânea, como o imobiliário. econômico­, baseada nas atrações de investi-
A constituição de fundos de investimen- mentos em setores de alta tecnologia, serviços
tos imobiliários, a securitização de proprieda- e/ou eventos, como forma de inserir-se em uma
des e os títulos derivados de contratos hipo- lógica global de competição inter-metropolita-
tecários são importantes elos de ligação entre na. Essa postura dos poderes públicos munici-
o capital financeiro e o imobiliário. Os fundos pais é chamada por Harvey (1996) de “empre-
de investimento têm por objetivo reunir capital sariamento urbano”, caracterizado pelo apelo
para realização de novos projetos, geralmente à racionalidade do mercado e da privatização
de uso misto e de alto padrão, e/ou compra de e baseado na constituição de parcerias entre
imóveis para extração da renda por eles gera- o setor público e o privado para execução de
da. A securi­tização, por sua vez, transforma a projetos de atração dos fluxos de investimen-
propriedade imobiliária em ativos mobiliários, to e de consumo. Os projetos urbanísticos do
possibilitando uma mais rápida circulação do capital financeiro globalizado têm por objetivo
capital do setor da construção. Já os derivativos a criação da cidade como cenário, esterilizada,
de títulos hipotecários (subprime) permitem aos livre de contradições e do perigo, com ruas res-
originadores desses títulos, após sua venda no tauradas e “yuppieficadas”, transformando-se
mercado, recuperar o valor investido e lançá-lo em um “espaço urbano imaginário de um fil-
uma vez mais no sistema financeiro, como cré- me da Disney” (Hall, 1996, p. 361). Exemplos
dito para novos tomadores de empréstimos. de tal “utopia” do urbanismo contemporâneo
Com a criação dos novos instrumentos são os projetos (privados, mas que contam com
de captação de recursos financeiros, o poder de importantes fundos públicos) de remodelação

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e revalorização de áreas urbanas degradas, co- bancos em busca de maior rentabilidade. A


mo antigas instalações portuárias (Port Vell em compra desses papéis de alto risco pelas ins-
Barcelona, Docklands em Londres ou Puerto tituições financeiras permitia que recursos fos-
Madero em Buenos Aires) ou fabris. sem lançados uma vez mais no mercado para
Dessa forma, o ambiente construído pas- serem novamente emprestados. Trilhões de dó-
sa a inserir-se crescentemente nos circuitos fi- lares em hipotecas de risco foram incorporados
nanceiros do capital. O circuito do imobiliário ao sistema financeiro norte-americano (e via
foi durante muito tempo um setor subalterno, grandes instituições, também ao mundial), na
subsidiário, e paulatinamente se converteu em medida em que títulos derivados dessas hipote-
um setor paralelo, destinado a inserir-se no cir- cas eram “embalados”, “reembalados” e ven-
cuito de reprodução capitalista, podendo, inclu- didos a investidores ao redor do mundo como
sive, tornar-se o setor principal se o circuito de ativos livres de risco, segundo as agências de
reprodução capitalista, baseado na produção- classificação (Financial Crisis Inquiry Comission,­
-consumo, se vê interrompido por algum moti- 2011). Quando a “bolha” financeiro-imobiliária
vo conjuntural ou mesmo estrutural (Lefebvre, explodiu em 2007-2008, centenas de bilhões
1976). Os capitais buscam, assim, um circuito de dólares em perdas em hipotecas e em de-
alternativo, que se torna, nas últimas déca- rivativos de créditos imobiliários ameaçaram a
das, fundamental para a cumulação capitalis- própria existência não só das maiores institui-
ta (Harvey, 2010), baseado na mercantilização ções financeiras norte-americanas e europeias,­
da terra e do habitat, anexo com respeito ao mas também de todo o sistema bancário. A
circuito mais tradicional de produção-consumo crise atingiu dimensões sistêmicas nos Estados
de mercadorias. Essa mercantilização, na atual Unidos em setembro de 2008, com a falência
fase do capitalismo, passa por um processo de do Lehman Brothers e o iminente colapso da
crescente financeirização, que, por sua vez, tem “Amerivan International Group” (AIG). Para
como resultado o aumento da instabilidade no evitar a quebra do sistema financeiro do país,
setor imobiliário. o governo norte-americano acabou por intervir
O melhor exemplo desse fenômeno pode no sistema bancário, injetando trilhões de dó-
ser observado na chamada “crise do subprime”­ lares (o que não levou, entretanto, devido ao
de 2007. A tendência altista nos preços de lobby do setor, à sua maior regulamentação).
imóveis nos Estados Unidos até 2006 e a alta O mercado imobiliário, por sua vez,
liquidez no mercado internacional incentiva- sofreu expressivo impacto, com paralisação
ram empréstimos hipotecários para tomadores das vendas, execução de processos de despe-
com pior histórico de crédito e renda inferior à jo, atingindo principalmente os setores mais
média pela qual tais empréstimos eram tradi- vulneráveis da sociedade norte-americana
cionalmente concedidos pelos agentes finan- (Reuters,­2008; Harvey, 2010) e queda vertigi-
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ceiros. Como tais empréstimos representavam nosa nos preços. Segundo relatório do Con-
maior risco, pagavam taxas de juros mais altas, gresso dos Estados Unidos (Financial Crisis
o que os tornava mais atrativos para gestores Inquiry­Comission, 2011), cerca de quatro mi-
de fundos de pensão, de investimentos e de lhões de famílias norte-americanas perderam

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suas casas, outras quatro milhões e meio en- exemplo, é responsável por 40% da demanda
traram em processo de perda de suas hipotecas do total de aço produzido na China (Cárdenas,
ou apresentavam atrasos significativos em seus 7/10/2011). Na Índia, igualmente, estaria ocor-
pagamentos. O prejuízo estimado no estoque rendo uma diminuição dos lançamentos de no-
de riqueza imobiliária residencial ao longo da vos projetos em virtude da diminuição da de-
crise de 2007-2008 é de quase onze trilhões manda conjugada com menor oferta de crédito,
de dólares, segundo o informe. Extensas áreas gerada pela desconfiança dos bancos locais em
urbanas norte-americanas sofrem, desde então, realizar empréstimos em um contexto de crise
processo de degradação, em virtude da expul- financeira internacional (idem).
são dos moradores inadimplentes e criação de Conclui-se, portanto, que há limites pa-
vazios de ocupação. ra a absorção de capitais por parte do setor
Segundo a Comissão do Congresso­ imobiliário, e, considerando-se a crescente in-
norte-americano (Financial Crisis Inquiry tegração do setor imobiliário à reprodução ca-
Comission,­2011), diferentemente de outras pitalista, tal setor estaria cada vez mais sujeito
bolhas – como a das tulipas na Holanda no sé- às oscilações cíclicas desse modo de produção,
culo XVII, as ações dos Mares do Sul no século diminuindo, assim, sua margem de autonomia
XVIII, as ações de Internet no final dos anos 90 para a absorção de capitais excedentes.
do século XX – , a bolha do mercado financeiro Dessa forma, o espaço, consumido pro-
de 2007-2008 envolveu não uma mercadoria dutivamente nas estratégias de acumulação
qualquer, mas a base da comunidade, da vida capitalista é transformado, tem suas qualida-
social e da economia do país, a moradia. Não des alteradas pelo consumo, porém, possui a
obstante, nas palavras de um agente do mer- capacidade de, ao ser transformado, também
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cado financeiro, teria havido uma mudança transformar e produzir o novo; como nos lem-
cultural na sociedade norte-americana: a casa bra Henri Lefebvre, o consumo do espaço é du-
teria de ser considerada como a moradia, o lar, plamente produtivo na medida em que produz
para se tornar uma mercadoria. tanto mais-valia como outro espaço (Lefebvre,
O desenvolvimento da crise ao longo de 2000). A seguir, serão analisadas duas mani-
2011 teve efeitos em dois mercados emergen- festações desse “novo espaço”: a dispersão do
tes, considerados como as “fronteiras” da ur- tecido urbano e a segregação socioespacial.
banização (e da acumulação) do século XX: a
China e a Índia. A queda observada, em 2011,
nos preços imobiliários do superaquecido mer-
cado chinês, como consequência de medidas
A dispersão do tecido urbano5
oficiais de restrição ao crédito tomadas para
evitar uma aceleração inflacionária, teria como Um amplo espectro de mudanças urbanas
resultado, além de dificuldades financeiras para fundamentais, cujas causas tomam forma há
o setor da construção e de desenvolvimento ur- algum tempo, teve lugar ao longo da década
bano,4 uma importante queda na produção in- de 1980, resultando em uma transformação
dustrial do país, pois o setor da construção, por da forma e do caráter da cidade (Sudjic, 1992).

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Algumas dessas mudanças se relacionariam convívio familiar mais íntimo e privado, o con-
a como as pessoas vivem, outras teriam uma tato com a natureza e a distância com relação
influência na forma física da cidade e algumas às tentações mundanas da cidade. Outra linha
estariam ligadas às relações entre as cidades. sugere que o fenômeno da dispersão tem ori-
Dentre essas mudanças, uma das mais impor- gem na suburbanização dos Estados Unidos,
tantes é o que no presente artigo se denomina que se inicia na segunda metade do século XIX
“dispersão urbana”. (Jackson, 1985), pela ação conjunta de agentes
Cidade dispersa (Monclús, 1998), Città­ imobiliários, empresas de transporte urbano e
diffusa (Indovina, 2004), Zwischenstadt de agentes do poder público. Há também aque-
(Sieverts,­ 2003), Tecnurbia (Fishman, 2004), les que pensam o fenômeno como algo mais
Exurbia (Bruegmann, 2005), Edge City recente, ligado às transformações ocorridas no
(Garreau, 1991), Edgeless City (Lang, 2003), capitalismo a partir da Segunda Guerra Mun-
Limitless City (Gillham, 2002), Metápolis dial, e que se aceleraram a partir da década de
(Ascher, 1995), Exopolis (Soja, 2000) são 1970 (Ascher, 1997; Sudjic, 1992; Soja, 2000;
alguns dos exemplos de como a literatura Harvey, 2007).
especializada no fenômeno urbano tem tratado Esquematicamente, é possível dividir as
a questão da dispersão. A grande profusão de explicações sobre as causas da dispersão urba-
denominações dada ao fenômeno revela tanto na em algumas linhas, a saber:
sua importância, como também as diferentes a) Naturalista: o fenômeno da dispersão
percepções e concepções sobre a questão, além seria consequência natural do crescimento das
da busca de fatores explicativos por parte dos cidades, quando essas adquirem um certo grau
autores. A falta de consenso é, acima de tudo, de maturidade e afluência. Os moradores das
resultado do caráter complexo da realidade áreas centrais congestionadas passam a ter
urbana contemporânea. a escolha de habitar em locais com menores
Para alguns autores, a dispersão é um fe- densidades, menos poluição, custos reduzidos
nômeno que esteve presente já nos primeiros e maiores espaços. Com o tempo, a densidade
momentos da história da cidade (Bruegmann, populacional dessas áreas também cresce, con-
2005): as vilas dos prósperos cidadãos na Ro- figurando um quadro de dispersão urbana;
ma antiga e os bairros construídos fora das b) Tecnicista: segundo essa concepção, a
muralhas na Europa medieval seriam exem- dispersão seria possibilitada pela maior mobi-
plos de como as pessoas muitas vezes prefe- lidade proporcionada pelos avanços tecnológi-
riram edificar suas moradias a certa distância cos nos meios de transporte e comunicações.
dos centros da cidade em épocas históricas A carruagem no século XVIII e início do XIX, o
remotas, seja por busca de maior comodidade, trem e o bonde, no século XIX e início do sé-
seja para fugir das imposições e controles das culo XX, e finalmente o automóvel a partir da
autoridades. Para outros, os subúrbios tiveram década de 1920, seriam elementos essenciais
origem na Inglaterra do século XVIII (Fishman, na explicação do fenômeno da dispersão, ao
1987), quando as classes médias e altas bus- proporcionarem a necessária mobilidade aos
caram no isolamento dos centros históricos o moradores dos subúrbios, seja em direção às

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áreas urbanas centrais tradicionais, num pri- afastadas­dos centros tradicionais e a constru-
meiro momento, seja em direção aos novos ção de conjuntos habitacionais para os mais
centros de trabalho, consumo e lazer. Por outro pobres em áreas distantes.­
lado, com a difusão da telemática nas últimas f) Liberal: a dispersão urbana seria o
décadas do século XX, a separação entre a ges- efeito da escolha individual e racional dos
tão e a produção, o trabalho a domicílio e a dis- membros da sociedade. A opção pela moradia
persão geográfica dos locais de trabalho se tor- em áreas mais afastadas seria possível a par-
naram possíveis, afetando também a estrutura tir da democratização do sistema político, que
urbana no sentido de uma maior dispersão; daria maior liberdade de escolha às famílias; da
c) Culturalista : a dispersão teria como prosperidade causada pelo crescimento econô-
causa principal um sentimento antiurbano, li- mico; e da mobilidade garantida pelos meios
gado a um ferrenho individualismo e à busca de transporte.
por vizinhanças homogêneas, dominante em As linhas explicativas listadas acima
algumas sociedades, notadamente as anglo- não esgotam as formas possíveis de compre-
-saxônicas. Com a expansão do american way ender o fenômeno, e cada uma delas, tomada
of life, o padrão de moradia suburbana dos Es- individual­mente, mostra-se insuficiente para
tados Unidos passaria a ser adotado por outras dar conta da explicação da dispersão urbana,
sociedades da Europa, Ásia e América Latina. pois no caso de um fenômeno complexo como
d) Economicista: o crescimento urbano esse, não haveria uma relação simples entre
seria consequência das atividades econômicas, causa e efeito. Ao contrário, existiriam “inu-
e a dispersão seria efeito direto da falta de re- meráveis forças, sempre agindo umas sobre as
gulação predominante no modo de produção outras de maneiras complexas e imprevisíveis”
capitalista. No capitalismo, a busca pelo bem (Bruegmann,­2005, p. 112).
individual por parte dos compradores e ven- A dispersão urbana corresponderia
dedores levaria a uma situação marcada pela a uma mudança de escala do urbano, mu-
especulação imobiliária e espalhamento, que dança essa que teria relação com a pró-
beira à irracionalidade no uso dos recursos na- pria mudança de escala na acumulação
turais, da superfície edificada; do capital. Segundo Harvey (2007; 2010), as
e) Estatista : o Estado seria um agente reformas de Paris por Haussmann no século
fundamental para a compreensão da disper- XIX, a suburbanização dos Estados Unidos no
são urbana, por meio de uma série de ações, pós-Segunda Guerra e a urbanização chinesa
algumas vezes contraditórias entre si, tais co- do início do século XXI seriam formas de ab-
mo: a concessão de subsídios e financiamen- sorver o superávit de capital existente em de-
to aos moradores dos subúrbios, a falta de terminado momento histórico. E quanto maior
controle sobre a ação dos agentes privados, o superávit,­ maior a escala da urbanização
o zoneamento e o planejamento que garan- necessária. Trata-se de um fenômeno mundial,
tiriam a desejada homogeneidade funcional atingindo, em diferentes momentos, diversas
nos subúrbios, a oferta de infraestrutura viária sociedades, mas que não se restringe a deter-
que garantiria a acessibilidade às áreas mais minações culturais ou geográficas.

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Os empreendimentos de grande esca- para­a aquisição e a comunicação de informa-


la – escritórios, shopping centers, hotéis, con- ções entre as empresas (Choay, 2004). A des-
domínios de luxo –, ligados ao capital finan- concentração de atividades produtivas e de
ceiro mundializado, moldam o tecido da cidade investigação científico-tecnológica também
contemporânea. Na sua versão mais atual, o contribui para tornar as áreas dispersas mais
desenvolvimento de empreendimentos imobi- atraentes para uma população trabalhadora de
liários pode ser caracterizado pela internacio- nível médio e de alta qualificação.
nalização e corporatização (Sudjic, 1992). As Há, entretanto, autores (Jackson, 1985;
estruturas de emprego e produção, de comércio Barnett, 1995; Bruegmann, 2005) que chamam
e moradia passam por transformações profun- a atenção também para os aspectos contradi-
das nas últimas décadas, contribuindo para a tórios da dispersão do tecido urbano, devido ao
produção de um espaço urbano cada vez mais consumo exagerado de terras, água, energia,
amplo, disperso e em grande escala. seus custos de instalação de infraestrutura e
A securitização da propriedade e a for- falta de planejamento e controle.
mação de fundos de investimentos imobiliários A dispersão urbana pode ser caracteri-
são instrumentos que permitem, como visto, a zada, segundo pesquisa coordenada por Reis e
potencialização da ação dos agentes urbanos. Tanaka (2007; 2009): a) pelo espaçamento dos
Paralelamente à maior inserção do capital nos tecidos urbanos dos principais centros; b) pe-
circuitos financeiros, ocorre a financeirização la formação de constelações ou nebulosas de
do mercado imobiliário, e a falta de regula- núcleos urbanos de diferentes dimensões, inte-
mentação, a volatilidade e a mobilidade dos grados em uma área metropolitana ou em um
mercados financeiros têm como contrapartida conjunto ou sistema de áreas metropolitanas;
a desregulamentação do mercado e do finan- c) pela transformação de um sistema de vias
ciamento imobiliário (Botelho, 2007). Quanto de transporte diário inter-regional, ferroviário e
maior o controle na produção imobiliária (e, rodoviário, em apoio ao transporte diário intra-
particularmente, a habitacional) pela lógica do metropolitano de passageiros; d) pela adoção
mercado, maior será o nível de fragmentação e de modos metropolitano de consumo, também
de segregação socioespacial na cidade, já que este disperso pela área metropolitana ou siste-
só os que podem pagar poderão ter acesso ir- ma de áreas metropolitanas.
restrito ao que Henri Lefebvre (1999) chamou Como sugere Indovina (2004), o modo
de “as positividades do urbano”, sem que isso de os indivíduos e das famílias relacionarem-se
signifique, para esses privilegiados, uma ver- com a cidade não constitui nem uma constan-
dadeira fruição dessas positividades – dado o te, nem uma determinação “natural”, mas sim
clima de tensão, medo e insegurança reinante um produto cultural e político. O marketing e
nas grandes metrópoles. a ideologia utilizados pelos agentes imobiliá-
Mudanças tecnológicas permitem, igual- rios urbanos, por sua vez, buscam convencer
mente, a dispersão dos empreendimentos, co- os consumidores de que há novas necessidades
mo a compressão do tempo necessário para (como a segurança privada, o “contato com a
os deslocamentos em autopistas, assim como natureza”, a existência de certos equipamentos­

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Capital volátil, cidade dispersa, espaço segregado

de uso coletivo no interior dos empreendi- para os mais pobres, significa morar em casas
mentos, etc.) a serem satisfeitas, geralmente autoconstruídas em loteamentos quase sem-
em áreas de expansão dispersa da cidade, ou pre irregulares, sem infraestrutura e equipa-
seja, distantes das áreas de centralidade tra- mentos adequados, distantes das opções de
dicionais. Por outro lado, o centro das cidades emprego, consumo e lazer.
passa a ser visto como o lugar da violência, A questão da segregação socioespa-
da sujeira, do barulho, entre outros elementos cial, por sua vez, também se complexifica,
degradantes. Busca-se então o isolamento em pois os empreendimentos alavancados pelo
áreas fechadas (loteamentos ou condomínios), grande capital (principalmente condomínios
fenômeno presente na metrópole de São Paulo residenciais de alto padrão e centros empre-
(Caldeira, 2000), mas não restrito à realidade sariais) muitas vezes encontram-se isolados
brasileira, como se pode observar em Los Ange- de seu entorno, formado por áreas pobres ou
les, Berlim, Nova York (Marcuse, 2004), Buenos de favelas, tornando-se verdadeiros “enclaves
Aires (Svampa, 2001), entre outras cidades do fortificados” (Caldeira, 2000), que adotam
mundo. Mas não se trata somente da dispersão sofisticadas técnicas de distanciamento e divi-
da moradia. Outras formas de construção, des- são social, constituindo o cerne de uma nova
tinadas à produção e ao consumo, como “con- maneira de organizar a segregação, a discrimi-
domínios” industriais, áreas de lazer, centros nação social e a reestruturação econômica nas
comerciais, entre outros, também fazem parte metrópoles. Dessa forma, “diferentes classes
da urbanização dispersa. sociais vivem mais próximas umas das outras
Por outro lado, somando-se à dispersão em algumas áreas, mas são mantidas separa-
das atividades produtivas e da moradia das ca- das por barreiras físicas e sistemas de identifi-
madas de renda média e alta da população, há cação e controle” (Caldeira, 2000, p. 255). Os
também a dispersão da sua parcela mais po- enclaves são pontos opostos à idéia de cidade
bre, que é a maioria, concentrada em bairros e de urbano, representados no imaginário do
com precária infraestrutura urbana e de difícil marketing imobiliário como um mundo dete-
acesso, com graves problemas de regulariza- riorado, no qual há poluição, violência, confu-
ção fundiária e gestão administrativa. É a mão são e ... mistura!
de obra barata utilizada na construção civil, na
indústria, no terciário em geral, nos serviços
domésticos, etc. No caso de países marcados
pela iniquidade social, como o Brasil, as for-
A segregação socioespacial
mas nas quais a dispersão se materializa se
revelaria ainda mais perversa para a vida ur- Paralelamente à crescente união do capital fi-
bana: para os mais ricos, a dispersão significa nanceiro com o imobiliário, que afeta, em gran-
a reclusão em condomínios murados, a depen- de medida, tanto a estrutura quanto o tecido
dência do automóvel, a perda de preciosas ho- urbano das grandes metrópoles, observa-se o
ras no trânsito, o confinamento em shopping aprofundamento do processo de segregação
centers e o abandono dos centros históricos; socioespacial nas metrópoles. O capital flexível­

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Adriano Botelho

e livre de regulamentações materializa-se em etc.) – o subequipamento dos conjuntos “operá-


um espaço urbano marcado por grandes em- rios” opondo-se a “superequipamento” dos con-
preendimentos de uso misto, cercados e iso- juntos burgueses;
lados das áreas de residência e circulação dos c segregação no nível do transporte domicí-
mais pobres. A distância física entre as duas­ lio-trabalho – a crise dos transportes coletivos
rea­lidades pode ser ínfima, mas a distância para o “operariado” contrastando com os privi-
econômica e social é praticamente intranspo- légios “burgueses” do uso do automóvel.
nível, simbolizada por muros e aparatos de se- A lista acima que não esgota as formas
gurança privada. de segregação socioespacial observadas no ur-
Para Lipietz (1974), existiria uma hie- bano, que também sofre um processo de trans-
rarquia de usos do solo determinada pelo formação e complexificação, mas serve para
valor de uso da centralidade (ou qualquer dar uma ideia geral de como o modo de produ-
outra particula­ridade do lugar) e pela capa- ção capitalista, em sua lógica de acumulação,
cidade dos usuários de pagar, e o mecanismo contribui para a produção de um espaço cada
da renda da terra estabilizaria e reproduziria vez mais fragmentado e segregador.
essa­hierarquia em sua coincidência com uma Topalov, analisando os trabalhos de pes-
Divisão Social e Econômica do Espaço. Ainda quisa sobre a região parisiense desde 1954, em
segun­do o mesmo autor, o mecanismo da ren- obra publicada na década de 1980 (Topalov,
da seria um instrumento econômico de repro- 1984), chega à conclusão de que dois tipos de
dução da divisão social e econômica do espa- práticas do espaço urbano se opõem claramen-
ço, assegurando a adequação dos usos do solo te, com dois polos de estratificação social: o
e das classes sociais aos distintos lugares do das camadas superiores e o dos trabalhadores.
aglomerado urbano. Para ele, cada uma dessas categorias possui
Entre as formas de segregação, Jean um espaço próprio, fortemente segregado um
Lojkine­(1997, p. 189 e 244-245) destaca as do outro. As camadas intermediárias, ao con-
seguintes: trário, não possuem um espaço que lhes seja
c a oposição entre o centro, onde o preço do particular: nisso residiria sua especificidade.
solo é mais caro, e a periferia; Segundo esse autor, os “belos bairros”
c separação entre zonas e moradias reser- das camadas superiores não o são somente
vadas às camadas sociais mais privilegiadas e nas representações coletivas, mas também na
zonas de moradia popular; materialidade dos meios de consumo que es-
c esfacelamento generalizado das “funções tão disponíveis; os privilégios espaciais estão
urbanas”, disseminadas em zonas geografica- relacionados com a oferta de equipamentos
mente distintas e cada vez mais especializadas urbanos (Topalov, 1984). Para ele, o espaço
(zonas de escritórios, zonas residenciais, zona in- das camadas superiores é objetivamente dife-
dustrial, etc.). É o que a política urbana sistema- rente. Essas diferenças resultam dos processos
tizou e racionalizou sob o nome de zoneamento;­ de produção material: predomínio massivo das
c segregação no nível dos equipamentos cole- formas mais capitalistas de construção das ha-
tivos (creches, escolas, equipamentos esportivos,­ bitações, privilégios por longos períodos em

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Capital volátil, cidade dispersa, espaço segregado

matéria de infraestruturas e de equipamentos uso social (Lojkine, 1997). Existiria, assim, “uma
públicos de consumo coletivo e concentração segregação espacial e social fundamental entre
“espontânea” dos serviços requeridos por uma o espaço urbano “central” monopolizado pelas
clientela altamente solvente em termos mone- atividades de direção dos grandes grupos capi-
tários. Esses processos tendem, pelo jogo dos talistas e do Estado e as zonas periféricas onde
preços, a operar a segregação espacial que estão disseminadas as atividades de execução
requer a legibilidade simbólica dos espaços. A assim como os meios de reprodução empobre-
concentração espacial das camadas superiores cidos, mutilados, da força de trabalho” (Lojkine,
opera uma transformação qualitativa de con- 1997, p. 172).
teúdo dos equipamentos públicos e dos equi- Nesse processo de formação de um es-
pamentos comerciais privados, tornando-os paço urbano segregado, o Estado possui um
mais seletivos. A especificidade do espaço das papel importante, pois, como lembra Peter
camadas superiores é signo de distinção social, Marcuse (2004), nenhum mercado “privado”
participa do sistema de expressão e de reite- poderia funcionar se o Estado não sancionas-
ração simbólica da hierarquia das situações de se as cláusulas contratuais e administrasse os
classe. As camadas superiores e as camadas remédios para sua quebra, estando, pois, no
populares se excluem no espaço pelo proces- âmbito dos poderes mais abrangentes do Esta-
so de expulsão derivado do preço cobrado pelo do a permissão ou a proibição da segregação.
uso do espaço. Por outro lado, áreas selecionadas pelo capital
As zonas de emprego dos trabalhadores financeirizado para valorização nas metrópoles,
se transformam ao ritmo das mudanças nos tradicionais ou emergentes, são, quase sempre,
processos produtivos. Cada fase da divisão obtidas pela ação estatal de “realocação” (vio-
capitalista do trabalho induz à formação de lenta, em mais de um sentido) de moradores de
espaços produtivos que lhes correspondem, e baixa renda.6
transforma profundamente a estrutura urbana, A crescente inserção do imobiliário no
notadamente as condições de residência dos mercado financeiro contribui, em boa medida,
trabalhadores (Topalov, 1984). O processo de para aumentar o poder dos empreendedores
desindustrialização de uma área pode afetar de sobre o urbano, mas também para intensificar
maneira intensa a coletividade que aí habita, o processo triádico de homogeneização, frag-
desestruturando as relações de trabalho, so- mentação e hierarquização do espaço descrito
ciais, etc. A contradição social que se desenvol- por Lefebvre (2000).
ve no interior do espaço urbano se materializa Para Lefebvre (1980), por homogenei-
na oposição entre, de um lado, a fração mono- zação entende-se a repetição monótona de
polista do capital que tende a garantir para si elementos no espaço e que conformam tal
o monopólio exclusivo do uso dos equipamen- espaço: aeroportos, vias expressas, rodovias,
tos coletivos mais ricos, fundamentais para a cidades verticais de concreto, cidades horizon-
reprodução ampliada do capital, e, de outro, o tais de casas unifamiliares, etc., criando um
conjunto das camadas não monopolistas, tanto consumo repetitivo de coisas no espaço e do
capitalistas como assalariadas, excluídas desse­ espaço que engendra um tédio indelével. É um

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espaço produzido­para ser visto, com suas ca- formas­gerais­e específicas:­a distinção entre
racterísticas óptico-geométricas. Esse espaço os “pontos­ fortes” do espaço e os centros
homogeneizado é também o locus de ligação (de poder, de riqueza, de trocas materiais ou
das relações capitalistas mundializadas, com espirituais,­ de lazeres, de informação) e as
seus pontos fortes (os centros) e as bases mais periferias (elas também hierarquizadas, mais
frágeis e dominadas (as periferias). ou menos afastadas de um centro principal ou
Segundo o mesmo autor, a fragmenta- secundário, até tomar a forma de um lugar de-
ção relaciona-se com o espaço partido em es- serto, abandonado).­A dominação dos centros
paços separados, ocupados pelas funções que sobre os espaços dominados garantiria o cará-
se exercem nesses espaços distintos: trabalho, ter homogêneo do espaço.
moradia, lazeres, transportes, produção, consu- Esse processo triádico de fragmentação,
mo. “O espaço – como o trabalho – se torna homogeneização e hierarquização do espaço
parcelado: justaposição de parcelas fixadas a apontaria para o surgimento da não cidade (ou
uma atividade parcial no qual o conjunto, o anticidade; Lefebvre, 1991,1999), na medida
processo do habitar, escapa aos participantes” em que intensificaria a segregação socioespa-
(Lefebvre, 1980, p. 154). Rigidamente quanti- cial no urbano, criando obstáculos para o en-
ficado, medido em metros quadrados, como contro e a reunião de pessoas, para o consumo
em dinheiro, esse espaço “fatiado” é entregue coletivo de objetos, de ideias, etc. Ou seja, na
ao mercado em parcelas, quase sempre míni- medida em que o valor de uso subordina-se ao
mas. Não se trata somente da atomização do valor de troca e a mercadoria generaliza-se no
social em indivíduos separados, em individua­ urbano, a cidade e a realidade urbana tendem
lidades hostis e desprezíveis, mas sim da di- a ser destruídas (Lefebvre, 1991), pois a cidade
visão quase sem limites do “continente” da não é vivida em sua totalidade, e sim fragmen-
sociedade, continente que não é indiferente tariamente e através de crescentes constrangi-
ao conteúdo, é o suporte das relações sociais. mentos a seus habitantes.
Dessa forma, a fragmentação é um instrumen- Dessa forma, a segregação socioespacial
to de poder político, pois “separa para reinar”, torna-se a regra da urbanização contemporâ-
transformando os membros da sociedade em nea, marcada pelo capital financeiro e desre-
indivíduos­indiferentes entre si, unidos em gru- gulamentado. As parcelas mais abonadas da
pos de interesses contrapostos, isolados por população urbana crescentemente buscam o
barreiras visíveis e invisíveis. isolamento em áreas fechadas (loteamentos ou
E, por fim, os espaços dissociados no condomínios fechados, shopping centers, cen-
homogêneo se hierarquizam: espaços no- tros empresariais e complexos de escritórios),
bres e vulgares, espaços residenciais, espa- fenômeno presente na metrópole de São Paulo,
ços funcionais, guetos diversos, conjuntos mas não restrito à realidade brasileira, como
de alto padrão, áreas para os migrantes e se pode observar em Los Angeles, Berlim, Nova
para os autóctones, espaços das classes mé- York, Buenos Aires, Lagos, Nairobi, Cidade do
dias. Em resumo, segundo­Lefebvre (1980), México, Xangai, Bombaim, Calcutá, entre ou-
ocorre a segregação. A hierarquização toma tras cidades do mundo.7

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Capital volátil, cidade dispersa, espaço segregado

Por outro lado, a população mais po- de seu nível de renda, direcionando suas per-
bre é segregada em áreas mais distantes do cepções e vivências com relação ao espaço que
tecido urbano disperso ou nos interstícios das habitam. O resultado, entre outros, é a produ-
áreas centrais das metrópoles contemporâ- ção de um espaço marcado pela fragmentação,
neas, mas que são pouco valorizadas (beira homogeneização, hierarquização, bem como
de córregos, encostas, áreas de instabilidade pela segregação. A utopia lefebvriana do urba-
geológica, etc.), onde falta a maior parte da no caracterizado pela reunião e pela troca pa-
infraestrutura e dos equipamentos urbanos, rece cada vez mais distante, devido à crescente
configurando o “Planeta favela” descrito por separação física, econômica e simbólica dos
Mike Davis (2006). indivíduos nas metrópoles.
A nova encarnação da metrópole mun-
dial dispersa, espalhada, e com movimento
sem fim, é fundamentalmente diferente da
Considerações finais cidade como era conhecida até algumas dé-
cadas atrás, correspondendo à fase do capi-
Segundo Pavia (2004), o rechaço ao crescimen- talismo financeirizado, marcado pela extrema
to urbano, tanto no plano social como no plano mobilidade, volatilidade e desregulamenta-
estético, seria “o exemplo mais evidente dos ção, e por que não, pela crise. A paisagem ur-
medos que invadem a disciplina urbanística” bana é, então, caracterizada pela proliferação
(Pavia, 2004, p. 105). Tal temor não seria de de projetos de alto padrão inspirados em um
hoje, tendo origens na concepção renascentis- urbanismo excludente; pela degradação de
ta da cidade como forma fechada, geométrica, áreas que sofrem processo de desindustrializa-
limitada. Uma cidade concebida como sistema ção derivado da maior mobilidade do capital
unitário, no qual todas as partes estariam re- industrial; pela formação de metrópoles nos
lacionadas. Ainda segundo esse autor, o medo países emergentes nas quais as condições ha-
do crescimento urbano se torna obsessivo com bitacionais precárias são a regra para a maior
o triunfo da cidade capitalista. É justamente parte da população; e, igualmente, pela proli-
quando o desenvolvimento da produção e da feração de bolsões de pobreza nos países mais
circulação das mercadorias parece poder asse- ricos, marcados pelo desemprego massivo,
gurar um crescimento ilimitado, o rechaço da pelo confinamento dos pobres nos “bairros
grande dimensão da cidade se torna cada vez despossuí­dos” de recursos públicos e privados
mais contundente. Dessa forma: “Em nível teó­ e pela estigmatização dos habitantes desses
rico e dos conteúdos operativos, o urbanismo bolsões (Wacqant, 2007).
moderno será, desde suas origens, profunda- Os teóricos, ao se posicionarem con­
mente anti-urbano” (Pavia, 2004, p. 106). trários­ à dispersão urbana dos ricos e dos
A lógica de reprodução do capital, me- pobres – considerada irracional em termos
diada pela propriedade privada, domina a lógi- urbanísticos, econômicos e ambientais –,
ca de reprodução dos diferentes grupos sociais, não podem simplesmente dar as costas pa-
em maior ou menor grau, independentemente ra o fenômeno e deixar de levar em conta as

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transformações­que afetam a vida cotidiana empreendedores,­não só para compreender o


da vasta maioria da população das áreas me- que estaria ocorrendo com o espaço urbano
tropolitanas. Entender os efeitos positivos e contemporâneo, mas também, e principalmen-
negativos dessas transformações seria a ta- te, para dar uma direção mais humana, ou seja,
refa essencial daqueles que estudam o urba- menos segregacionista e mais inclusiva, à dinâ-
no, bem como dos planejadores, arquitetos e mica de produção e reprodução desse espaço.

Adriano Botelho
Economista e Geógrafo. Mestre e Doutor em Geografia Humana. Diplomata, servindo na Embaixada
do Brasil em Buenos Aires, Argentina.
botelhoadriano@hotmail.com

Notas
(*) As opiniões contidas no presente artigo são de caráter pessoal e de responsabilidade do autor.

(1) Vendrossi (2002, p. 21) define securitização como a “emissão de títulos mobiliários com vínculo
em um determinado ativo”. Para um estudo mais detalhado da securitização de recebíveis
imobiliários, ver Vendrossi (2002).

(2) Além do “subprime”, outras modalidades de securitização de hipotecas de alto risco foram
desenvolvidas pelas instituições financeiras, como as baseadas nos empréstimos “ninja” (no
income, no job, no assest).

(3) Depoimento de Ângelo Mozilo, CEO da “Countrywide Financial”, à Financial Crisis Inquiry
Comission (2011, p. 4).

(4) Segundo Cárdenas (7/10/2011), o volume de dívidas e ações das empresas ligadas ao setor de
construção e de desenvolvimento urbano chinesas seria da ordem de US$19 bilhões.

(5) As ideias desenvolvidas nesse item são tributárias de minha participação no projeto Urbanização
dispersa e mudanças no tecido urbano – Estudo de Caso: Estado de São Paulo, do Laboratório
de Estudos sobre Urbanização, Arquitetura e Preservação da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo, coordenado pelos professores Nestor Goulart Reis e
Marta Soban Tanaka.

(6) Ver, exemplo, Harvey, 2010, pp. 178-181.

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(7) O fenômeno dos condomínios fechados no Brasil foi estudado no livro de Maria Teresa Pires do
Rio Caldeira, Cidade de muros – crime, segregação e cidadania em São Paulo (São Paulo, Editora
34/Edusp, 2000). Para o caso dos condomínios e comunidades fechadas nos Estados Unidos,
ver, por exemplo, Blakely, E. J. and Snyder, M. G. Fortress America – Gated Communities in the
United States. Massachusetts, The Brookins Institution Press, 1999. O caso argentino pode ser
analisado em Svampa, M. Los que ganaron: La vida en los countries y barrios privados. Buenos
Aires, Editorial Biblos, 2001. Para um artigo sobre a questão da segregação urbana ver Marcuse,
P. “No caos, sino muros: el postmodernismo y la ciudad compartimentada”, In: Ramos, A. M.
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Texto recebido em 12/out/2011


Texto aprovado em 22/nov/2011

Cad. Metrop., São Paulo, v. 14, n. 28, pp. 297-315, jul/dez 2012 315

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