Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1® @re ~® @~ ®v~~~:
I~ e e e e e e e e e e e e e e e e •· • ®e~ e e e e 1
@@@ ®®®®®®®®©®®®®®®®®®®@®®c'I
1@@@0@®@©©©®0®®®®®®9 @@@@@
@@@@@@@@@®®©®®€9®®®©€>@©0®/f
1@@80®®®® ©®®®®®®®®®®®®® @
@@@ ®®® ®®®®®®®©©®®®®®®®® @@
®®®®®©®0@@8@@@@@@@@@@@@@0
®®®®®®©®©®®®®®®®®®©®®@@@@(
@@@@@@@@@@@@@@@®®®®®®®®©®;
. .
8 e ® 8 8 ® 8 G ® ® 8 ® 8 ® ® 8 ® ® 8 8 ® ® ® @ ® Cl
••• ®®®900®®®®®®®®®®9@@0@[
e ®e a e • e e e e 0 ®e ®0 o e e e • e ®®e e c
®®8®®®®®®®®000®®00®®0®®0®
e • e ® e e a e a o e e e • o o e • • ® o a o e e c.
.........................
®®®®®í!!!l®@®@@@®®®®®®®®®®@®@
•••••••••••••••••••••••••
(
®®®®®®®@@@@@@®®®®® @@@000(
• 0®®0®®®0®®0@@ 00®®@0@0
I• • • •
•e••••••••••••
~ ~
• e •
m•••••ec
® ~ 0 0 ~ ~
• e e ~ ~ <íl} ® ê ® ,·
®@~~~e ®®®
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
REITOR Jaime Arturo Ramírez
Poemas
VICE-REITORA Sandra Regina Goulart Almeida Georges Bataille
EDITORA UFMG
DIRETOR Wander Melo Miranda
ORGANIZAÇÃO E TRADUÇÃO
VICE-DIRETOR Roberto Alexandre do Carmo Said ALEXANDRE RODRIGUES DA COSTA
VERA CASA NOVA
CONSELHO EDITORIAL
EDIÇÃO BilÍNGUE
Wander Melo Miranda I presidente
Danielle Cardoso de Menezes
Eduardo de Campos Valadares
Élder Antônio Sousa Paiva
Fausto Borém
Flavio de Lemos Carsalade
Maria Cristina Soares de Gouvêa
Roberto Alexandre do Carmo Said Belo Horizonte 2015
( EDITORAufmg)
-~~:-r
Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido NOTA EXPLICATIVA SOBRE OS POEMAS 12
por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.
O DESAFIO DA TRADUÇÃO 16
B328a.Pc Bataille, Georges,1897-1962. Vera Casa Nova
Poemas I Georges Bata iiie ; tradução de
Alexandre Rodrigues da Costa, Vera Casa Nova,
-Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015. EXPLOSÃO EM SILÊNCIO 18
356 p. : ii.- (Fora de Série) Eliane Robert Moraes
Fernando P.aixão
Texto em Francês e Português
ISBN: 978-85-7041-990-3
254 Acéphale
255 Acéfalo
CRONOLOGIA 350
,,
r:
!
'l
I
I:
I.
i
I
11
'"
NOTA EXPLICATIVA O Arcangélico
SOBRE OS POEMAS
Nossa tradução de L'Archangélique se baseia na edição estabelecida
a partir da que Georges Bataille lançou sob o mesmo título nas edições
Messages (impressa em 30 de abril de 1944).
Os manuscritos L'Archangélique são classificados em três grupos
no inventário dos papéis de Georges Bataille:
13
Do alto de Montserrat Chansons
14 15
r
O DESAFIO DA TRADUÇÃO Trata-se mesmo de uma "dialética prática", como afirma Paul
VERA CASA NOVA Ricreur, ou seja, de uma dicotomia fidelidade versus traição. Ser fiel
aos versos de Georges Bataille, ou trair e assumir os erros da aposta, no
risco de traduzir. Ou ainda, como afirma Ricreur, "as razões do impasse
. _ G_randeza da tradução, risco da tradução: especulativo, em que o intraduzível e o traduzível se entrechocam". 1
tra17ao cnadora do original, apropriação criadora
pela hngua de acolhida, construção do comparável. Durante um ano, pensamos, eu e Alexandre, como fazer possível
Paul Ricreur a outros leitores, sobretudo àqueles que não têm acesso aos versos em
língua francesa de G. Bataille, a leitura destes textos.
Traduzir os poemas desse autor requer um tipo de orientação que
perpassa ora a questão da tradutibilidade, ora a da intradutibilidade:
Daí a possibilidade de uma traição a todo momento.Traição discutida
durante a leitura (interpretação e análise dos poemas) em que a tarefa
maior do pós-doutorado de Alexandre Rodrigues se apresentava como
enfrent1U" a tradução. Assim foi. Durante o tempo de seu estágio de PD
financiado pela Fapemig, a procura do sentido idêntico, ou quase, nos
inquietou muito. A possível traduçãó em termos de fidelidade às ideias
e versos do autor.
Os versos de Bataille desnorteiam os tradutores, pois a propensão
de sua poética é não comunicar, tal qual os grandes poetas. Intraduzível,
muitas vezes, indizível, não só no próprio francês como no português. A
perplexidade tomou conta de nós por vários momentos, e por isso mes-
mo resolvemos trabalhar a língua sobre ela mesma, seguindo os conse-
lhos de Paul Ricreur.
O desejo de traduzir era maior. Ultrapassando obstáculos das duas
línguas (daí a importância de uma edição bilíngue), entre polissemias
possíveis, tentamos sempre restituir equivalências língua a língua, cons-
truindo comparáveis (notas de tradução) e equivalências de sentido.
Quando dois poetas se reúnem para traduzir outro poeta, só resta a
inquietação, ou o sentido do provisório, como lembra Walter Benjamin
em A tarefa do tradutor. Esperamos que os leitores desses versos possam
aquilatar a importância desse polêmico filósofo-poeta que nos legou
não só a teoria, mas a prática poética do erotismo.
1 RICCEUR, Paul. Sobre a tradução. Trad. Patrícia Lavalle. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. p. 37.
i:
17
EXPLOSÃO EM SILÊNCIO Estranha poesia, essa de Georges Bataille, em que o úniéo ponto
ELIANE ROBERT MORAES de sustentação das palavras parece ser a instabilidade. Estranhos poemas,
FERNANDO PAIXÃO esses de O Arcangélico, que se propõem como o grito mudo de um su-
jeito em desesperada travessia da noite sem ter, no horizonte, qualquer
esperança de despertar. Estranha eloquência, a desse "eu lírico" que se
apaga em cada verso, condenando seu próprio enunciado ao mais pro-
fundo silêncio. Aliás, é em torno do silêncio que essa poesia gravita o
tempo todo, como que buscando avizinhar-se da morte.
A palavra silêncio, diz Bataille, carrega em si um paradoxo. O que
ela diz nomear não se deixa capturar por nenhum nome; o que prome-
te designar não pode jamais ser designado. Trata-se de um significante
que, no limite, burla seu próprio significado, uma vez que toda palavra
implica, por princípio, um ruído a desmentir o silêncio. Assim como
acontece com a palavra nada- cuja menção, por si só; trai a pretensão
de convocar o vazio que jaz em seu horizonte-, a simples nomeação do
silêncio supõe o anúncio de seu fracasso.
i
Em 'Texpérience intérieure': Bataille se abandona a essa reflexão para i·
concluir que o silêncio, "entre todas as palavras, é a mais perversa, ou a mais
poética: ela é a própria garantia de sua morte': Daí que ela se apresente na
qualidade de "palavra escorregadia': que se desvia dos sentidos habituais
para abrir caminhos rumo à interioridade do sujeito. Explica o autor:
2BATAILLE, Georges. J:expérience intérieure. in: Omvres completes V. La somrne athéologique. Paris:
Gallirnard, 1973. p. 28-29.
19
Talvez se possa afumar que esse paradoxo está no centro da poesia arriscado, sem dúvida, e igualmente paradoxal, uma vez que se propõe a
de Bataille. Basta abrir O Arcangélico ao acaso e ler alguns de seus poemas ultrapassar o domínio verbal a partir do próprio verbo. Para realizá-lo,
para comprová-lo, tal como acontece com os versos que se seguem: o autor de O Arcangélico se entrega a uma concepção muito particular,
sintetizada num verso tão cortante quanto categórico: "Eu me aproximo
o nada não é mais que em mim eu mesmo da poesia: mas para perdê-la."
o universo não é mais que minha tumba Trata-se, pois, de conceber a poesia como perda, o que coloca esses
o sol não é mais que minha morte poemas em plena sintonia com a extensa obra de um pensador que se
devotou, como nenhum outro, a uma densa reflexão sobre as figuras da
Ou ainda: perda, tais como o dom, o êxtase e a dilapidação. Escrita em distintos
momentos da vida do autor, mais exatamente entre o início da década
e os lírios de 1940 e o final dos anos de 1950, a produção que compõe O Arcan-
evaporam a água destilada gélico resume, à sua maneira, as grandes inquietações de Bataille. Mais
as palavras fracassam que isso, porém, o que ela realmente faz é dramatizar essas inquietações
e eu fracasso por fim no próprio ato da linguagem.
Por tal razão, mais ainda que o ensaio e a ficção, essa poesia pode ser
Os exemplos abundam. Tudo exala um espírito paradoxal nesta vista como a expressão por excelência da perda, realizando aquela "despe-
poesia que parece se desmentir a cada linha, como se as palavras ali sa simbólica" sobre a qual discorrem as notáveis páginas de La notion de
tivessem a função irrevogável de negar a si mesmas. Como que confir- dépense. Não por acaso, Bataille afuma nesse ensaio seminal que
mando esse traço central de sua lírica, Bataille lembra que
a noção de poesia, que se aplica às formas menos de-
ainda que as palavras drenem em nós quase toda a gradadas, menos intelectualizadas da expressão de um
vida - esta vida cujos raminhos, sem exceção, parecem estado de perda, pode ser considerada como sinônimo
ter sido apreendidos, arrastados, juntados por uma de despesa: significa, com efeito, de modo mais preciso,
multidão de formigas (as palavras) que não conhecem criação por meio da perda. Seu sentido é, portantó, vizi-
descanso -, ainda assim subsiste em nós uma parte nho àquele do sacrificio. 4
muda, esquiva, inapreensível. Na região das palavras, do
discurso, essa parte é ignorada. Por isso, ela geralmente Com efeito, tal qual um gesto de pura perda, cada poema deste livro
nos escapa. 3 parece evocar um rito sacrificial em que um sujeito nu, desprovido de
tudo, encena sua própria ruína. A começar pelo texto que abre o volume
Eis aí uma chave para se compreender a singularidade deste livro: o e que está entre os mais angustiados do autor: no inqUietante "O túmulo':
que sua poética pretende tocar parece ser justamente essa região secreta o léxico sombrio se impõe à voz lírica para dramatizar o movimento de
da qual emana uma espécie de silêncio intenso e introspectivo. Projeto
'BATAILLE, Georges. La twtion de dépense. ln: Quvres completes I. Premiers écrits (1922-1940). Paris:
3
Ibidem, p. 27. Gallimard, 1970. p. 307.
20 21
uma "imensidade" cósmica que desaba sobre um "eu" trágico, perdido no autônoma. O sacrifício do indivíduo, por via avessa, serve então como
caos do universo. Não há verdade que se sustente ao longo dessa perfor- testemunho do incessante trabalho da morte. Em verdade, o sujeito
mance verbal, que, não raro, se vale de imagens extremas: atua paradoxalmente como "persona coletiva".
É ele mesmo a confidenciá-lo:
minha cabeça doce
que esgota a febre Abro em mim mesmo um teatro
é o suicida da verdade onde se encena um falso sono
(... ) uma montagem sem objeto
o amor é paródia do não amor
a verdade é paródia da mentira sem esperança
o universo um alegre suicídio a morte
a vela apagada.
Sem pretender qualquer verossimilhança, o mundo das palavras
se livra a si mesmo, entrega-se ao insustentável da existência, à sua ir- Ora, uma montagem sem objeto e sem esperança supõe neces-
realidade, tal qual uma sombra declinada sobre o cosmos. Por conta sariamente um diálogo com a finitude, entendida como manifestação
disso, "O túmulo" está entre os poemas que melhor realizam o intento e
maiúscula que implica a cada um a todos. Mas, o que se vê aí é uma
batailliano de fuga da linguagem na desvairada tentativa de falar além mortandade em sacrifício lento, intensificada por imagens dilaceradas
do logos. Em vez de acumular sentido linearmente, cada verso parece e persistentes. Compõem um personagem que parte da negatividade
trabalhar para instaurar aquele intervalo introspectivo que aponta para máxima e que procura fixar no espaço imaginário da morte um campo
a implosão dos sentidos correntes. próximo da antipoesia, com propriedades similares à antimatéria.
O sacrifício manifesta-se, portanto, no plano da expressão e ao Nada que lembre, portanto, uma poesia bem-acabada e harmoni-
mesmo tempo na subjetividade que explode entre forças absolutas. zada no ritmo. Ao contrário, seu traço inusitado transparece por meio
Para conseguir tal efeito, o rito promovido pela poética de Bataille de uma tessitura renitente e acumulativa de sensações. As imagens in-
mantém como força centrífuga a figura onipresente do "eu': tão am- sistem numa enumeração que mais se aproxima da tonalidade de ma-
plamente explorada. Frente aos nossos olhos de leitor, o sacrifício do nifesto subjetivo, levado a descomprimir conteúdos ansiosos. Quanto ·
eu traduz um "desespero a equilibrar-se apenas no ponto do próprio mais paradoxal é o pensamento, mais resulta num tom afirmativo e
paradoxo': conforme a máxima criada por Adomo. 5 agônico.
Por meio de golpes sucessivos, o desespero se desentranha da teia Daí este livro configurar uma poética intensa e estranha, muito es-
de paradoxos. No decorrer da leitura, testemunha-se o desfile dilace- tranha. Nela, fica registrada uma espécie de síntese dramática daquele
rado de uma subjetividade dispersa entre sensações e visões múltiplas. mesmo sujeito radical que se encontra nos ensaios filosóficos de Bataille.
No entanto, como essas percepções beiram o absoluto, elas se desco- A seu modo, esses poemas teatralizam o impasse de quem deseja alcançar
lam do sujeito para assumir uma dicção grandiloquente, impessoal e o absoluto, mas se vê reduzido a uma densa camada de silêncio. Não !;lá
como fugir ao paradoxo. O Arcangélico, afinal, traz à luz uma experiência
5
ADORNO, Theodor. Lírica e sociedade. ln: OS PENSADORES- Adorno. São Paulo: Abril, 1975. p. 207. interior que ultrapassa os limites da própria poesia.
22 23
-,
L'Archangélique
O Arcangélico
Le Tombeau O túmulo
I I
l'immensité a imensidade
etmoi e eu
dénonçons les mensonges l'un de l'autre denunciamos as mentiras um do outro
30 31
le non-amour est la vérité o não-amor é a verdade
et tout ment dans l' absence d' amour e tudo mente na ausência de amor
rien n'existe qui ne mente nada existe que não minta
32 33
tout est pour d' autres en paix tudo está para os outros em paz
les mondes tournent majestueux os mundos se tornam majestosos
dans leur monotonie calme em sua calma monotonia
l'univers est en moi comme en lui-même o universo está em mim como em si mesmo
plus rien ne m'en sépare nada mais me separa dele
je me heurte en moi-même à lui me enfrento em mim mesmo com ele
\ ..
34 35
-------
horreur horror
d'un monde tournant en rond de um mundo transformado em círculo
l' objet du désir est plus lain o objetodo desejo está mais longe
Je SUlS eu sou
le monde est avec moi o mundo está comigo
poussé hors du possible empurrado fora do possível
iI
lq
I
l
I'
I•
36 37
r
je suis le mort eu sou o morto I:
'1
o cego i1
l'aveugle i
l' ombre sans air a sombra sem ar
38 39
ri
I I
· o excesso de trevas
l'exces de ténebres
est I' éclat de I' étoile · é o brilho das estrelas
le froid de la tombe est un dé o frio da tumba é um dado
I~
41
40
II II
42 43
III . III
ô soif ó sede
inapaisable soif insaciável sede
désert sans issue deserto sem saída
44 45
soudaine bourrasque de mort ou je crie tempestade repentina de morte onde eu grito
aveugle à deux genoux cego de dois joelhos
et les orbites vides e as órbitas vazias
couloir ou je ris d'une nuit insensée corredor onde eu rio de uma noite insana
couloir oil je ris dans le claquement des portes corredor onde eu rio ao bater das portas
oil j' adore une fleche onde adoro uma flecha
46 47
r
I
I;
I
IV IV
mes yeux sont 1'aveugle foudre meus olhos são raios cegos
mon creur est le ciel meu coração é o céu
ou 1'orage éclate onde a tempestade eclode
50 51
je suis la fievre ~u sou a febre
le désir o desejo
je suis la soif eu sou a sede
tes seins s'ouvrent comme la biere teus seios se abrem como a cerveja
et me rient de l'au-delà e me riem do além
tes deux Zangues cuisses délirent tuas duas longas coxas deliram
ton ventre est nu comme un râle teu ventre está nu como um estertor
60 61
Une étoile s'est levée Uma estrela se ergueu
tu es je suis le vide tu és eu sou o vazio
une étoile s'est levée uma estrela se ergueu
douloureuse comme le cceur dolorosa como o coração
l'univers est ton cceur malade et le mien o universo é feito de teu coração doente e o meu
battant à froler la mort batendo até roçar a morte
au cimetiere de l'espoir no cemitério da esperança
1
O verso mostra uma ambiguidade, uma vez que em francês la dent é feminino, assim como a pessoa
amada à qual o verso pode se referir.
De la bouse dans la tête . Com bosta na cabeça
j' éclate je hais le ciel grito eu odeio o céu
qui suis-je à cracher les nues quem sou eu para cuspir nas nuvens
ii estame r d' être immense é amargura de ser imenso
mes yeux sont des cochons gras meus olhos são de porcos gordos
mon creu r est de I'encre noire meu coração é de tinta negra
mon sexe est un soleii mort meu sexo é um sol morto
les étoiles tombées dans une fosse sans fond as estrelas caídas em um fosso sem.fundo
je pleure et ma Zangue caule eu choro e minha língua flui
ii importe peuque l'immensité soit ronde pouco importa que a imensidade seja redonda
et roule dans un panier à son e role em um cesto de farelos
j'aime la mort je la convie eu amo a morte eu a convido
dans la boucherie de Saint-Pere para ·ir ao açougue do Santo Pai
Noire mort tu es mon pain . Negra morte tu és meu pão
je te mange dans le cceur eu te como no coração
l' épouvante est ma douceur o terror está em minha ternura
la folie est dans ma main. a loucura está em minha mão.
Nouer la carde du pendu Segurar a corda do enforcado
avec les dents d'un cheval mort. · com os dentes de um cavalo morto.
Douceur de l'eau Ternura da água
rage du vent raiva do vento
plus lain que les larmes la mort mais longe que as lágrimas a morte
plus haut que le fond du ciel mais alto que o fundo do céu
78 79
Tu es le battement du creur . Tu és o batimento do coração
que j' écoute sous mes côtes que eu escuto sob minhas costas
et le souffle suspendu e o sopro suspenso
Mes sanglots sur tes genoux Meus soluços sobre teus joelhos
j'ébranlerai la nuit eu sacudirei a noite
.!
86 87
Aimer c'est agoniser Amar é agonizar
aimer c'est aimer mourir amar é amar morrer
les singes puent en mourant os macacos fedem ao morrer
88 89
Le Vide O vazio
tu es la transfigurée tu és a transfigurada
mon sort t'a cassé les dents meu destino te quebrou os dentes
ton creur ést un hoquet teu coração é um soluço
tes ongles ont trouvé le vide tuas unhas encontraram o vazio
90 91
ta bouche scelée à ma bouche tua boca selada à minha boca
et ta Zangue dans mes dents e tualíngua nos meus dentes
l'immense mort t'accueillera a imensa morte te acolherá
l'immense nuit tombera a imensa noite cairá
96 97
lI
i j
Trop de jour de joie trop de ciel Bastante dia alegria bastante céu
la terre trop vaste un cheval rapide terra muito vasta um cavalo rápido
j'écoute les eaux je pleure le jour escuto a água choro o dia
114 115
T
1
M'exprimant sur l'état que désigne un sobriquet (le pai), j'écris Ao me exprimir sobre o estado que designa um apelido (o espeto),
ces quelques lignes en forme de theme de méditation: eu escrevo estas poucas linhas em forma de tema de meditação:
!e me représente Eu me represento
le vide o vazio
identique à une fiam me, idêntico a uma chama,
la suppression de l'objet a supressão do objeto
révélant la flamme revelando a chama
qui enivre que embriaga
et illumine. e ilumina.
Etje crie E eu grito
hors des gonds fora das dobradiças
qu'est-ce o que é
plus d' espoir mais a esperança
no ir negro
silence j' envahis le ciel silêncio eu invado o céu
noir ma bouche est un bras negro minha boca é um braço
notr negro
écrire sur un mur en flammes escrever sobre um muro em chamas
noires negras
le vent vide de la tombe o vento vazio da tumba
siffle dans ma tête assobia em minha testa
120 121
Le silence fou d'un pas .O silêncio louco de um passo
le silence d'un hoquet ~ silêncio de um soluço
ou est la terre ou le ciel onde é a terra onde o céu
123
Espoir Esperança
ô mon cheval de bois Ómeu cavalo de madeira
dans les ténebres un géant nas trevas um gigante
c'est moi ce géant eu sou esse gigante
sur un cheval de bois. sobre um cavalo de madeira.
l
I
!
126 127
ô les dés joués . Ó os dados jogados
du fond de la tombe do fundo do túmulo
en des doigts de fine nuit nos dedos da noite delicada
128 129
l
Du Halt de Montserrat
Do Alto de Montserrat
Taut dait revenir au feu originei . .Tudo deve voltar ao fogo original
Tempête de flames Tempestade de chamas
Ainsi parlait: HÉRACLITE Assim falou: HERÁCLITO
Levant et couchant de l'homme lucide et dur. Aurora e crepúsculo do homem lúcido e duro.
- Tu dois vair le flux et le reflux -Tu deves ver o fluxo e o refluxo
Des passions méprisables. Das paixões desprezíveis.
- Tu accepteras l'humide comme on aime - Tu deves aceitar o úmido como se ama
La mere qui naus engendra. A mãe que nos gerou.
- Hommes et femmes vaus êtes vaués au -Homens e mulheres vós estais condenados ao
Feu de lave immatérielle Fogo de lava imaterial
Çà et là légere, écrasante Aqui e ali rápida, obscena, esmagadora
Taujours jetés aux volcans de vie et de mart. Sempre jogados aos vulcões de vida e de morte.
Ü2 133
l
I
De la Douleur au Livre
Da Dor ao Livro
Dor e quatro poemas
Douleur et Quatre Poemes
DoR
DoULEUR
Dor
Douleur
dor
douleur
dor
douleur
ó dor
ô douleur
ó dor
ô douleur'
ó minhas lágrimas de piche
ô mes pleurs de poix
meu rabo de açafrão
ma queue de safran
ó tirar a calça
ô me déculotter
mijar
me pisser
137
136
MADEMOISELLE MoN CCEuR MA.DEMOISELLE MoN CCEuR 1
Mademoiselle mon creur Senhorita meu coração
mise nue dans le dentelle despida em renda
à la bouche pmfumée pela boca perfumada
le pipi caule de ses jambes o mijo escorre de suas pernas
138 139
PIPI .. Muo
140 141
. À ROMANA 1::I
ÀLAROMAINE I
À la romaine À romana
un cceur de veau um coração de bezerro
la barbe en pointe a barba em ponta
et le gland rose. e a glande rosa.
143
142
RIRE
Rire et rire . Rir e rir
du soleil do sol
des orties das urtigas
des galets dos seixos
des canards dos patos
de la pluie da chuva
du pipi du pape do mijo do papa
demaman da mamãe
d'un cercueilempli de merde. de um caixão cheio de merda.
,,
144 145
]e Mets mon Vit contre ta ]oue .Coloco meu pau contra tua bochecha
]e mets mon vit contre ta joue Coloco meu pau contra tua bochecha
le bout frôle ton oreille a ponta toca a tua orelha
lêche mes bourses lentement lambes minhas bolas lentamente
ta Zangue est douce com me l'eau tua língua é suave como a águà
ta Zangue est crue com me une bouchêre tua língua é crua como uma açougueira
elle est rouge comme un gigot ela é vermelha como um pernil
sa pointe ·est un coucou criant sua ponta é um cuco chorando
mon vit sanglote de salive meu pau soluça saliva
146 147
ô Crâne... crânio...
148 149
Onze Poemes Retirés de L'Archangélique . Onze poemas retirados de O Arcangélico
150 151
almanach de lessive d' encre . almanaque de sabão de tinta
immortalité de poete velu imortalidade de poeta peludo
poésie cimetiere d' obésité poesia cemitério da obesidade
152
153
-~ -r
i
là une Joule amoncelle des boftes de peut-être ali uma louca amontoa caixas de talvez
un gendarme en chemise du haut d'un toit um guarda de camisa do alto de um teto
gesticule une faux le Démon gesticula uma foice o Demônio
je t'égare dans le vent eu te perco no vento
je te compte chez les morts eu te conto entre os mortos
une carde nécessaire uma corda necessária
entre le vent et le creur entre o vento e o coração
156 157
!e n'ai rien à faire en ce monde Não tenho nada a fazer neste mundo
sinon de bruler senão queimar
je t'aime à en mourir eu te amo de morrer
ton absence de repos tua ausência de repouso
un vent fou siffle dans ta tête um vento louco assobia na tua cabeça
tu es malade d' avoir ri tu és doente de ter rido
tu me fuis pour un vide amer tu me evitas por um amargo vazio
qui te déchire le cceur que te rasga o coração
158 159
]'ai froid au cceur je tremble Eu tenho frio no coração eu tremo
du fond de la douleur je t'appelle ·do fundo da dor eu te chamo
avec un cri inhumain com um grito inumano
com me si j'accouchais como se eu parisse
,,
162 163
vu.-.de-moi les yeux
. venda-me os olhos
j' aime la nuit
eu amo a noite
mon cceur est noir
meu coração é negro
pousse-moi dans la nuit
empurre-me na noite
tout est faux
tudo é falso
je souffre
eu sofro
le monde sent la mort
o mundo percebe a morte
les oiseaux volent les yeux crevés
os pássaros roubam os olhos furados
tu es sombre comme un ciel noir
tu és sombria como um céu escuro
164
165
,.
1
166 167
Tu es l'horreur de la nuit Tu és o horror da noite
je t'aime comme on râle eu te amo como um estertor
tu es faible com me la mort tu és fraca como a morte
170 171
Poémes Éliminés . Poemas eliminados
LESMA.lSONS
As CASAS
Dix cent maisons tombent Centenas de casas caem
cent puis mille morts cem depois mil mortes
à la fenêtre de la nue
a janela da nuvem
172
173
l
À même le trou des étoiles Ao mesmo furo das estrelas
à même une nuit d' encre à mesma noite de tinta
à même 1'reil éteint ao mesmo olho apagado
à même un grand silence ao mesmo grande silêncio
à même le château hanté de la mémoire ao mesmo castelo assombrado da memória
à même un cri de folie ao mesmo grito de loucura
à même 1'angoise à même la tombe à mesma angústia ao mesmo túmulo
un creur de glace une soupe fumante um coração de gelo uma sopa fumegante
un pied sale de sang um pé sujo de sangue ·
la moustache des larmes o bigode das lágrimas
une crécelle de mourant. uma matraca de morte.
LEMUR A PAREDE
Une hache Um machado
donnez une hache dê um machado
afin que je m'effraie para que eu me assuste
de mon ombre sur le mur com minha sombra na parede
ennui tédio
sentiment de vide sensação de vazio
fatigue. fadiga.
178 179
LEPARVJS 0 ÁTRIO
180 . 181
Vis age sans fin Rosto sem fim
deDieu de Deus
ce monsieur este cavalheiro
etsa dame e sua senhora
etc. etc.
j'en meurs estou morrendo
etvous. e vós.
182 183
LECHÃTEAU
0 CASTELO
LE GIVRE A.GEADA
186
187
LAFENÊTRE A JANELA
chuchotement sussurro
d'une morte de uma morta
la folie ouvre le ciel. a loucura abre o céu.
188 189
Masse de terre dans le ciel Massa de terra no céu
silence signe de néant sinal silencioso do nada
montagne herbeuse endormante jaunie montanha cheia de ervas enfadonha amarelada ·
chute de l'être dans la nuit queda do ser na noite
190. 191
LESOL ÓCHÃO
192 193
LE SEMINAIRE Ü SEMINÁRIO
194 . 195
Rire d' oiseaux boue de sang Riso de pássaros enlameados de sangue
fracas de glace des dents tumulto de gelo dos dentes
ordure cri vomissement lixo grito vômito
tête basse dans l'horreur. cabeça baixa no horror.
196.
197
Terre tourne tourne terre Térra gira gira terra
un tour de putains de bois um carrossel de putas de madeira
solei! rouge solei! noir sol vermelho sol negro
rases blanches rases rases rosas brancas rosas rosas
198 199
Crânefêlé Crânio rachado
ville enfeu cidade em chamas
200 . 201
LEMASQUE AMÃSCARA
2 Este verso é ambíguo, pois "bise" pode ser traduzido como "beijo" ou como "vento frio".
204 205
Le Loup Soupire O lobo suspira
lNSIGNIFIANCE INSIGNIFICÂNCIA
]'endors Adormeço
l'aiguille a agulha
de mon cceur de meu coração
je pleure choro
un mot uma palavra
que j'ai perdu que perdi
j'ouvre abro
le bord o contorno
d'une larme de uma lágrima
ou l'aube onde a madrugada
morte morta
se tait. se cala.
208 209
LE PETIT ]OUR AMANHÃ
]'efface Apago
le pas o passo
j'efface apago
lemot a palavra
['espace o espaço
et le souffle e o sopro
manquent. fracassam.
';
LA TERRE À TERRA
Le mort A morte
saisit le vif agarra o vivo
Lalune Alua
est le savon é o sabão
des tuyaux grêles dos tubos esguios
de ma voix. de minha voz.
. Du solei[ mort illuminait l'ombre velue O sol morto iluminava a sombra felpuda ,.
d'une trainée de foutre amer de um rastro de foda amarga
le chapeau de ta Zangue aux yeux de sang. o chapéu de tua língua nos olhos de sangue.
Gonflée comme une pine ma Zangue Inchada como um pênis minha língua
dans ta gorge d' amour rase. na tua garganta de amor rosa.
214
215
Ma vulve est ma boucherie Minha vulva é meu açougue
le sang rouge lavé de foutre 0 sangue vermelho lavado de foda
le foutre nage dans le sang. a foda nada no sangue.
Dans mes bas mauves le parfum de pomme Nas minhas meias roxas o perfume de maçã
le panthéon de la bitte majestueuse o panteão do mastro majestoso
un cul de chienne ouvert um cu de cadela aberto
à la sainteté de la rue. para a santidade da rua.
]e dors Eu adormeço
la bouche ouverte dans l' attente a boca aberta à espera
d'une pine qui m'étrangle de um pênis que me estrangula
d'un jet fade d'un jet gluant. de um jato insípido de um jato pegajoso.
L'extase qui m'encule est le marbre O êxtase que me enraba é.o mármore
de la verge maculée de sang. do pênis manchado de sangue.
* * '.
L'oiseau O pássaro
des bois dos bosques
et la solitude e a solidão
de laforêt. da floresta.
LAFOUDRE ÜRAIO
SOLITUDE SoLIDÃO
218 . 219
NUITNOIRE NOITE NEGRA
Tu te moqueras de ton prochain comme de toi-même Zombarás de teu próximo como de ti mesmo ..
Tirez l'amour de l'oie Retire o amor do ganso
de la rate des grands hommes do baço dos grandes homens
LE GI.As 0 DOBRE
LE CHAUVE 0 CARECA
220. 221
Coryphea Corifeia
Malheur! le sang caule de mes seins, mon gosier s'ouvre à la mort Desgraça! o sangue flui de meus seios, minha garganta se abre
sur un mauvais roucoulement... ]e donne ma vie aux sourires à morte sobre um mau agouro ... Dou minha vida aos sorrisos
sournois du plaisir: il est l'odeur enivrante de l'argent. Laisse une dissimulados de prazer: é o odor inebriante do dinheiro. Deixe
derniere étreinte donner à tes reíns la robe gluante de la mort. um último abraço dar a tuas ancas o vestido viscoso da morte.
222. 223
Cinq Poemes de 1957 éinco poemas de 1957
224 225
LA MARsEILLAISE DE r'AMoUR À MARsELHESA DO AMOR
Deux amants nus chantent la Marseillaise Dois amantes nus cantam a Marselhesa
deux baisers sanglants leur mordent le cceur dois beijos sangrentos mordem o coração
les chevaux ventre à terre os cavalos galopam
les cavaliers morts os cavaleiros mortos
village abandonné aldeia abandonada
l'enfant pleure a criança chora
dans la nuit interminable na noite interminável
LA vALSE BRUNE A VALSA ESCURA
Le Caméléon O Camaleão
tient l'accordéon segura o acordeão
guitare violão
ta carde casse tua corda quebra
la noce emplie de marc o casamento cheio de álcool
et la valse meurt e a valsa morre
au chant des Libera nos ao canto do Libera-nos
C'EST LA DANSE NOUVELLE
ESTA É A NOVA DANÇA
'.
230
231
LE TROTTOIR DE DANAlDE A CALÇADA DE DANAXDE
'.
La Tombe de Louis XXX
A tumba de Luís XXX
La lie
A borra
l'épuisement d'un creur horrible o esgotamento de um coração horrível
l'âcre
o acre
la douce intimité du vice
a doce intimidade do vício
le CIEL inversé dans tes yeux. I
o CÉU invertido nos teus olhos.
* I
Tombeau de vent II *
Túmulo de vento
tombeau de fleuve I túmulo de rio
ma mort fausse ma voix
minha morte falseia minha voz
qui ne peut parvenir
I que só pode atingir
qu'à la douleur des dents I
I a dor dos dentes
petite fleur
tu le sais petite oreille
II pequena flor
I tu sabes orelhinha
à que! point I a que ponto
tenho medo da merda.
j'ai peur de la merde. I *
*
À la nuit
I
I
À noite
observar o céu
regarder le ciel
com a fenda do traseiro.
avec la fente du derriere.
* *
<.·
A ferida está fresca
La blessure est fraíche
ela desfigura
elle défigure
o vermelho escorre
le rouge ruisselle
a faixa cortada
la coupure bande
não há mais o olho
il n'y a plus d' rei!
sou eu.
c'estmoi.
234 235
L'0RATORIO Ü ORATÓRIO
PERSONNAGES PERSONAGENS
LE RÉCITANT. O NARRADOR.
LA PUTAIN, 90 ans, mourante (elle fut adorablement belle à 20 ans; A PUTA, 90 anos, moribunda (ela foi adoravelmente bela aos
un jour qu'elle était nue, elle rendit à Dieu le service que, dans les 20 anos, um dia estava nua, apresentou a Deus o serviço que,
120 journées, d'Aucourt rend à la Duelos). nos 120 dias, de Aucourt dirigiu-se a· Duelos).
LE CURÉ, 30 ans. O PADRE, 30 anos.
DIEU, sorte de pavé. DEUS, uma espécie de pedra.
Le récitant nomme et présente les personnages. fl n'y a ni costume O narrador nomeia e apresenta os personagens. Não há trajes
ni décor. La scene a lieu dans la chambre de la putain. ou cenários. A cena se passa no quarto da puta.
Elle dit: Ela diz:
herr curé dit Moi herr curé suis herr padre diz: Eu herr padre sou
ton petit garçon teu menininho
caresse-moi acaricia-me
l'oreille a orelha
en mourant. ao morrer.
Ômonhostie ó minha hóstia
ma mere égout minha mãe esgoto
je t éleve dans le ciel eu te levanto para o céu ''
236 237
{e Livre
O Livro
''
Je bois dans ta déchirure Eu bebo em tua ferida
et j' étale tes jambes nues e estendo tuas pernas nuas
je les ouvre comme un livre eu as abro como um livro
ou je lis ce qui me tue. onde leio o que me mata.
'.
''
243
La Méditation A MEDITAÇÃO
... Dans les premiers jours ou je méditais j'entrais comme ... Nos primeiros dias em que comecei a meditar, entrei
d'habitude en état de torpeur, quand je me sentis, soudainement como de costume em um estado de torpor, quando senti,
devenir un sexe en érection. L'intensité de ma conviction la rendait de repente, ficar com o sexo ereto. A intensidade da minha
difficile à récuser. La veille, j'avais eu de la même façon le sentiment convicção ficou difícil de negar. No dia anterior, eu havia tido,
violent d'être un arbre et, sans que je pusse m'y opposer, dans da mesma forma, a sensação violenta de ser uma árvore e, sem
1'obscurité, mes bras s'étendirent com me des branches. L'idée d' être que eu me opusesse a isso, na obscuridade, meus braços se
- mon corps, ma tête- un grand pénis qui bande était si folle que estenderam como ramos. A ideia de.ser- meu corpo, minha
j'eus envie de rire. L'idée comique me vint même qu'une érection si cabeça- um grande pênis duro era tão louca que eu tive vontade
dure -le corps en entier tendu comme une queue bande - n'avait de rir. A ideia côrnica me ocorreu que uma ereção tão dura- o
d'autre issue que jouir! fl m'était d'ailleurs impossible de rire à teZ corpo todo esticado como um pênis ereto- só poderia acabar
point fétais tendu: comme le supplicié dont j'ai l'image, j'avais, je em gozo! Era-me, aliás, impossível de rir a tal ponto eu tinha
pense, des yeux révulsés dans l'orbite, la tête renversée, les levres chegado: como o supliciado do qual eu possuo a imagem, eu
ouvertes. Dans cet état inattendu, le souvenir de la photographie tinha, penso, os olhos revoltos nas órbitas, a cabeça jogada para
me vint à esprit sans provoquer la dépression habituelle: un jet trás, os lábios abertos. Neste estado inesperado, a memória desta
d'horreur, de lumiere, me parcourut de bas en haut. Rien qui fotografia me veio ao espírito sem provocar a depressão habitual;
davantage excede le sentiment que m'inspire un supplice. um jato de horror, de luz, me percorreu de baixo para cima.
Nada mais excede o sentimento que me inspira um suplício.
244 245
Le temps passé à ne pas souffrir paraft vain ou, si l'on aime O tempo gasto em não sofrer parece inútil ou, se preferir,
mieux, maladroit, comparé à celui qu'ordonne le malheur. Non desajeitado, comparado àquele que ordena a desgraça. Não
qu'une douleur approfondie nous achemine à quelque but et soit que uma dor mais profunda nos leve a algum fim e seja um
un résultat pci.r ce détour! L'authentique douleur nous dit: "Iln'est resultado para esse desvio! A autêntica dor nos diz: "Não
ni but ni résultat, qui justifie ma cruauté; tu ne pourrais d' aucune há nem um fim nem um resultado que justifique minha
façon réserver le plus faible espoir: je ne mene qu'à moi je te veux crueldade, tu não poderias de maneira nenhillna guardar a
tout entier sans condition." II faut l'avouer néanmoins: mais frágil esperança: eu só levo a mim, eu te quero totalmente,
"Si la douleur n'était pas 'ce qu'elle est, contraíre au désir' elle incondicionalmente." No entanto, é preciso admitir:
répondrait au désir que nous avons d' échapper aux limites. C'est "Se a dor não era 'o que é, contrária ao desejo', ela
. pour cela qu:en son pouvoir, tout ce qu'elle n'est pas semble vain." responderia ao desejo dizendo que nós escapa_m~s dos ~t~s: ,
É por isso que em seu poder, tudo o que ela nao e parece mutil.
]e m'imaginais condamné de moi-même au silence, en une
douleur indéfinie, si grande que les mots... Imaginava-me condenado por mim mesmo ao silêncio, em
uma dor indefinida, tão grande que as palavras ...
]e pensais: "Combien ma douleur est cruelle,- personne n'est
plus bavard que moi!" Pensava: "Como minha dor é cruel- ninguém é mais
tagarela do que eu!"
Ces souffrances qui font respirer la mort... A I' avance, la mort
Esses sofrimentos que respiram a morte ... Desde já, a morte
nous entoure d'un silence sans fin comme une fle est entourée
nos cerca com um silêncio interminável como uma ilha rodeada
d' eau. Mais c'est là justemement Z'indicible. Qu' import des mots
de água. Mas este é justamente o indizível. Que importam
quine percent pas ce silence. Qu'importe de parler d'un "moment
palavras que não perfuram este silêncio? Que import~ falar d~,
de tombe': quand chaque parole n'est rien puisqu'elle n'atteint pas um "momento de túmulo': quando cada palavra não e nada, Ja
l'au-delà des mots.
que ela não atinge o para além das palavras.
]e sais que j'ai mené les choses jusqu'au bout, en ce que le dire Eu sei que levei as coisas até o fim, ao dizer isso rrie aborreço.
.
m 'ennute.
A destruição da linguagem não é minha obra, mas só tem
La destruction du langage n'est pas mon fait mais n'a lieu en lugar em mim ao me destruir, como a ação do instante que me
moi me détruisant, comme le fait du moment qui m'a supprimé ''
suprimiu (agora eu falo mas em vão).
(maintenant je parle mais).
Estou escrevendo para o uso dos soberanos? Se eu alieno
]'écris à l'usage de souverains? Si j'aliene en moi, par une em mim, por uma concessão feita aos valores de utilidade, os
concession faite aux valeurs d'utilité, les moments d'horreur, étant le momentos de horror, sendo o suporte de um bem soberano,
support d' un "souverain bien': j'échange (je vends) la souveraineté troco (vendo) a soberania que me pertence por uma
qui m'appartient pour une commondité: ne plus avoir peur. . comodidade: não mais ter medo.
246 247
Mais cette peur en jeu n'est pas moins désir qu'horreur: c'est ·
l' angoisse (~u ~e désir que j'ai d' un objet qui m'effraie (n'être plus) Mas este medo que está em jogo é nada menos desejo que
horror: é angústia (na qual o desejo que eu tinha de um objeto
CT-_~use_ (e~~~ch:t) ,'::~n .~ffroiJ_. Si j'accordais aux raisons de la peur,
que me assusta (não mais) cava (enriquece) meu pavor). Se eu
st J~ dt~ats Dteu , J altenerats une souveraineté qui veut qu'en
conciliasse as razões do medo, se eu dissesse "Deus", eu alienaria
m,ot ~ott surmontée la peur de n'être plus, je passerais au service
uma soberania que quer em mim superar a dor de não ser
d uttle (par un détour, puisque l'utile est d'être- Dieu la garantie
mais, eu passaria ao serviço do iítil por um desvio, já que o útil
transcendante de l'être -le service de Dieu l'abaissement devant
é do ser- Deus a garantia transcendente do ser- o serviço de
ce príncipe: que Z'être demeure, soit impérissable).
Deus o rebaixamento diante deste princípio: que o ser persista,
]e ne pui: ?as n_e plus redouter la mort. De même je ne puis
seja imperecível).
pas ne plus destrer smon la mort elie-même ce qui l'annonce: une
Não posso mais temer a morte. Da mesma forma, não
aurore de la inort.
posso desejar senão a própria morte que a anuncia: uma aurora
La nuclité, la fente urinaire, le voisinage de la merde sont à la da morte.
mort,~e que le le:er du solei! est au jour. L'obscénité de la "petite A nudez, a fenda urinária, a proximidade da merda são
m~rt annonce a chaque heure en moi l'horreur de la grande. para a morte o que o nascer do sol é para o dia. A obscenidade
Dteu ne me sauve pas moins de ma nudité merdeuse que de la da "pequena morte" anuncia a cada hora em mim o horror da
pourriture dans la terre. grandeza. Deus não me salve menos de minha nudez de merda
L'excês de plaisir de la filie nue, la queue dans la bouche do que a podridão na terra.
est à moi comme un gage de nuit définitive. Si je disais: "No~s O excesso de prazer da menina nua, o pau na boca, é para
~evons avan~ tout durer'~ je devrais condammer la filie. Mais mim como o castigo da noite definitiva. Se eu disser: "Nós
Je renoncerats de la sorte à ma souveraineté (je dirais à genoux: devemos, acima de tudo, durar': eu deveria condenar a menina.
"Mon Dieu!"). La religiosité (alier au bout, ce que naus pouvons Mas eu renunciaria ao acaso a minha soberania (eu diria de
ensemble, du possible de la vie) a deux vaies, !'une servile, l'autre joelhos: "Meu Deus!"). A religião (ir ao limite, o que podemos
souveraine. La premiêre n'est nuliement échec immédiat, mais elie juntos, do possível da vida) tem dois caminhos: um servil, o
:ub~rd~n~e à la fin toute valeur, Dieu lui-même, à l'utilité (c'est- outro soberano. O primeiro não é de modo algum fracasso
a-dtre a 1etre). La seconde épuise et n'a pas d'issue. Elie implique: imediato, mas ele subordina, no fim, todos os valores, o próprio
- le désir, dans l'angoisse, l'emportant sur la peur; Deus, à utilidade (o que se refere ao ser). O segundo se esgota e
- la_ consc~ence qu'un plaisir souverain est un défi (heureux, não tem saída. Ele implica:
que rendtt posstble la chance) que je porte à mort; -o desejo, na angústia, se eleva sobre o medo; ('
- l'idée que la nuit ou je tombe ne peut être compensée nulie -a consciência de que um prazer soberano é um desafio
par: et d'aucun~ façon; je serais sans cela subordonné au ''possible'; (feliz, que torna possível o acaso) que eu levo à Il10rte;
qw com?enseratt, au lieu d'être abandonné (com me je suis) à ma - a ideia de que a noite na qual eu caio não pode ser
souverameté (à la nuit qui jamais ne verra se lever le jour). compensada em nenhum lugar e de nenhuma forma; eu seria
sem isso subordinado ao "possível': que compensaria, no lugar do
ser abandonado (como eu estou) a minha soberania (a noite que
jamais verá nascer o dia).
248
249
('
Louis Carpeaux,A morte dos mil cortes (1905). Em 25 de março de 1905, o Ching-Pao
(Pequim Gazeta) publicou o seguinte Decreto Imperial, emitido em nome do Imperador
Koang-Sou: "O príncipe mongol exige que o referido Fou-Tchou-Li, considerado culpado
do assassinato do príncipe Ao-Han-Ouan, seja queimado vivo, mas o Imperador acha
essa tortura demasiado cruel e condena Fou-Tchou-Li à lenta morte porComp-tch'e
(corte em pedaços). Respeitar isto:' Imagem retirada do livro: BATAILLE, Georges. Las
lagrimas de Eras. Barcelona: Tusquets, 1981. p. 236.
251
Absence de Remords Ausência de remorsos
252 253
Acéphale Acéfalo
ÔOBJET ÓOBJETO
que tu es vide que tu és vazio
de moi de mim
ÔOBJET ÓOBJETO
serais-tu vide serias tu vazio
de toi de ti
es tu és tu
le fantôme iminensémen.t vide o fantasma imensamente vazio
des imaginations calmes de imaginações calmas
MALHEURÀ DESGRAÇA A
QUI ENTEND DES VOIX QUEM OUVE VOZES 3
'Este poema inédito de Georges Bataille, comunicado por Maurice Bl";lchot a Brun? Roy, serve de
preliminar à sua contribuição à G.L.M., livro de homenagem a Guy LeV!s Mano, publicado pela Fala
Morgana, em 1982.
254 255
Dans le Halo de la Mort Nb halo da morte
' Este poema inédito de Georges Bataille foi encontrado nos papéis de Georges Henein, a quem
Bataille o enviou. Ele foi publicado aos cuidados de Jean-Paul Neveau na Éditions Le Nyctalope,
Amiens, 1983, acompanhado de um desenho de Fred Deux gravado por Cécile Reims. Essa pequena
brochura tem por título: Sobre um poema de G. B. Ela teve a tiragem de 63 exemplares. O nome de
Bataille aparece na ficha técnica. A palavra "pênis" está bem sublinhada no manuscrito e um ponto
aparece depois da palavra "dentes':
256 257
L'Être Indifférencié n'est Rien
O Ser Indiferente não é Nada
I I
Chapeau Chapéu
defeutre de feltro
de la mort da morte
le givre a geada
la sreur a irmã
d'un sanglot de um soluço
gat alegre
la blancheur a brancura
de la mer domar
et la pâleur de la lumiere a palidez da luz
déroberont les ossements ocultando as ossadas
l'absence a ausência
de la mort da morte
sourit. sorri.
II II
Le corps O corpo
du délits do delito
est le creur é o coração
de ce délire. deste delírio.
260 261
III Iii
Les lois de la saveur AB leis do sabor
assiegent cercam
la tour de la luxure. a torre da luxúria.
N IV
Ealcool O álcool
de la poésie da poesia
est le silence é o silêncio
défunt. falecido.
v v
]'ai vomi Vomitei
parles nez pelo nariz
le ciel arachnéen o céu aracnídeo
mes tempes amenuisées minhas têmporas enfraquecidas
achevent de l'amincir acabam por emagrecê-lo
je suis mort estou morto
et les lis e os lírios
évaporent l'eau distillée evaporam a água destilada
262 263
VI
VI
Les mots du poeme, leur indocilité, leur nombre, leu r
AB palavras do poema, sua indolência, se.u núme~o, sua ,
insignifiance, retiennent sur le creur l'instant impalpable, baiser
insignificância, retém sobre o coração o mstante unpalpavel,
lentement appuyé sur la bouche d'une morte, ils suspendent le
beijo lentamente apoiado sobre a boca de uma morta,
souffle à ce qui n'est plus rien.
suspendendo o sopro do que não é nada.
La transparence de l'être aimé, miraculeuse indifférence,
A transparência do ser amado, indiferença miraculosa,
ce qui égare, égaré dans le cristal innombrable de la lumiere:
o que se perde, perdido no cristal inümerável da luz:
n'y penser jamais plus.
nunca mais pensar nisso.
VII Vil
L'éclair tue O relâmpago mata
retourne les yeux retorna os olhos
la joie a alegria
efface apaga
la joie a alegria
effacée apagado
· vitre de mort vidro de morte
glacée gelado
ô vitre ó vidro
resplendissante resplandecente
d'un éclat qui se brise de um estilhaço que quebra
dans l' ombre qui se fait na sombra consumada
Je SUlS eu sou
ce qui n'est pas o que não é
j'ouvre eu abro
267
266
mais rien mas nada
je ne vais não vejo
nen nada
je ne ris plus não rio máis
car à force de rire pois à força de rir
je transparais eu transpareço
269
268
Poemes Disparates Poemas disparatados
fusqu' aux bottes dans les yeux Até às botas nos olhos
jusqu'aux larmes de la boue até às lágrimas de lama
jusqu'aux mains enflées de pus até às mãos inchadas de pus
mene le chemin du défi leva o caminho do desafio
270 271
I gave to Limbour a rendez-vous Eu encontrei Limbour
on the Champs-Élysées no Champs-Élysées
to speak of heaven para falarde paraíso
I said
eu disse
heaven is a cat
o paraíso é um gato
a third said
um terceiro disse
heaven is two cats
o paraíso são dois gatos
another said
um outro disse
heaven is a tangue
o paraíso é uma língua
thicker than a mob.
mais gorda do que a multidão.
272 273
]e rêvais de toucher la tristesse du monde Eu sonhava em tocar a tristeza do mundo
au bord désenchanté d'un étrange marais à margen desencantada de um estranho pântano
je rêvais d'une eau lourde ou je retrouverais eu sonhava com uma água pesada onde eu encontraria
les chemins égares de ta bouche profonde os caminhos extraviados de tua boca profunda
j'ai senti dans mes mains un animal immonde senti nas minhas mãos um animal imundo
échappé à la nuit d'une affreuse forêt fugitivo à noite de uma floresta terrível
et je vis que c'était le mal dont tu mourais e eu vi que era o mal do qual morrias
que j'appelle en riant la tristesse du monde que eu chamo rindo a tristeza do mundo
et je vis ta douleur com me une charité e eu vi tua dor como uma caridade
rayonnant dans la nuit la Zangue forme claire brilhando na noite a longa forma dara
et le cri de tombeau de ton infinité. e o grito de túmulo de tua infinitude.
274 275
En mourant je voudrais tenir Ao morrer gostaria de ter
I' objet que tu me donneras o objeto que tu me darás
le serrer dans ma main gelée apertá-lo na minha mão gelada
puis de mes levres le souiller depois de meus lábios o mancharem
de la bave de I' agonie. com a baba da agonia.
276
277
--;r
278 279
A profundidade de uma noite
La profondeur d'une nuit
enterrou com sua poeira
ensevelit de sa poussiere
a grande estrela Açougueira
la grande étoile Boucherie
o LEITE do céu.
le LAIT du ciel.
281
280
L'Orestie
A Oréstia
Invocation à la Chance Evocação do acaso
O restie Oréstia
rosée du ciel rosa do céu
cornemuse de la vie gaita da vida
les fleuves de l'amour se rosissent de sang os rios do amor ficam rosa de sangue
les vents ont décoiffé mes cheveux d' assassin os ventos já despentearam meus cabelos de assassino
284
285
La Discorde A discórdia
Un creur de glace une soupe fumante Um coração de gelo uma sopa fumegante
un pied sale de sang um pé sujo de sangue
la moustache les !armes o bigode as lágrimas
une crécelle de mourant. uma matraca de moribundo.
286 287
]e me consume d' amou r Eu me consumo de amor
mille bougies dans ma bouche mil velas na minha boca
mille étoiles dans ma tête mil estrelas em minha cabeça
288 289
Moí
Eu
Cceur avide de lueur Coração ávido de luz
ventre avare de caresses barriga avarenta de carícias
le soleil faux les yeux faux o sol falso os olhos falsos
mots pourvoyeurs de la peste palavras provedoras da peste
294 295
A travers le mensonge, l'indifférence, le claquement des dents, le Através da mentira, a indiferença, o estalo dos dentes, a
bonheur insensé, la certitude, felicidade insana, a certeza,
dans le fond du puits, dent contre dent de la mort, une infime o fundo do poço, dente contra dente da morte, uma ínfima
parcele de vie aveuglante nait d'une accumulation de déchets, parcela de vida cegante nasce de um acúmulo de restos,
je la fuis, elle insiste; injecté, dans le front, un filet de sang se mêle eu a evito, ela insiste, injetado, na testa, um filete de sangue se
à mes larmes et baigne mes cuisses, mescla às minhas lágrimas e banha minhas coxas,
infime parcele née de supercherie, d' avarices impudentes, ínfima parcela nascida de trapaça, de avarezas impudentes, não
non moins indifférente à sai que la hauteur du ciel, menos indiferente a si que a altura do céu,
et pureté de bourreau, d'explosion coupant les cris. e a pureza de carrasco, da explosão cortando os gritos.
296 297
]'ouvre en moi-même un théâtre Abro em mim mesmo um teatro
ou se joue un faux sommeil onde se encena um falso sono
un truquage sans objet uma montagem sem objeto
une honte dont je sue
sem esperança
pas d' espoir a morte
la mort a vela apagada.
la bougie soufflée.
299
298
Entre-temps, je lis Nuits d'octobre, étonné de sentir un décalage Enquanto isso, eu leio As noites de outubro, admirado de sentir
entre mes cris et ma vie. Au fond, je suis comme Gérard de uma diferença entre meus gritos e minha vida. No fundo, eu
Nerval, heureux de cabarets, de riens (plus équivoque?). Je me sou como Gerard de Nerval, feliz com os cabarés, com os nadas
rappelle dans Tilly mon goút pour les gens du village, au sortir (mais equivocado?). Eu me lembro, em Tilly, do meu carinho
des pluies, de la boue, du froid, les viragos du bar maniant pelas pessoas do vilarejo, ao sair na chuva, na lama, no frio,
les bouteilles et le nez (le tarin) des grands domestiques de
as taberneiras mexiam nas garrafas, e o nariz (o focinho) dos
ferroe (saouls, boueusement bottés); la nuit, les chansons de empregados (embriagados, botas enlameadas); à noite, as canções
faubourg pleuraient dans des gorges vulgaires, il y eut des allées de subúrbio lamentavam nas gargantas vulgares, havia becos
et venues de bringue, des pets, des rires de :filles dans la cour. e avenidas em farra, animais de estimação, risos de garotas
Fétais heureux d'écouter leur vie, griffonnant mon carnet, no pátio. Eu estava feliz de escutar sua vida, rabiscando meu
couché dans une chambre sale (et glacée). Pas 1'ombre d' ennui, caderno, deitado em um quarto sujo (e gelado). Sem nenhum
heureux de la chaleur des cris, de 1'envoutement des chansons: aborrecimento, feliz com o calor dos gritos, com o feitiço das
leur mélancolie prenait à la gorge. canções: sua melancolia dava nó na garganta.
Le Toit du Temple O teta do templo
Sentiment d'un combat décisif dont rien ne me détournerait Sentimento de um combate decisivo no qual nada agora me
maintenant. ]'ai peur ayant la certitude que je n'éviterai plus le desviaria. Tinha medo da certeza de que eu não evitaria o
combat. combate.
La réponse ne serait-elle pas: "que j'oublie la question"? A resposta não seria: "que eu esqueça a questão"?
302 303
Il me sembla hier avoir parlé à ma glace. Me pareceu que ontem eu falei ao meu espelho.
Il me sembla voir assez loin comme à des lueurs d' éclair une Me pareceu que eu vi tão longe como as luzes dos relâmpagos
region ou l'angoise a conduit... Sentiment introduit par une uma região onde a angústia levou ... Sentimento introduzido
phrase. ]'ai oublié la phrase: elle s'accompagna d'un changement por uma frase. Esqueci a frase: ela era acompanhada de uma
perceptible, comme un déclic coupant les liens. mudança perceptível, como um clique cortando amarras.
]e perçus un movement de recul, aussi décevant que celui d'un Percebi um movimento de recuo, tão decepcionante quanto o
être surnaturel. de um ser sobrenatural.
Rien de plus détaché ni de plus contraíre à la malveillance. Nada mais desprendido nem mais contrário à malevolência.
]'éprovais comme un remords l'impossibilité de jamais annuler Sofria como um remorso a impossibilidade de nunca anular
mes affirmations. minhas afirmações.
Comme si quelque intolérable oppression naus gênait. Como se qualquer opressão intolerável nos incomodasse.
Désir- à trembler- que la chance survenant, mais dans O desejo -a tremer- de que o acaso aconteça, mas que, na
l'incertitude de la nuit, imperceptible, soit cependant saisie. Et si incerteza da noite, imperceptível, seja, no entanto, apreendido.
fort que fut ce desir, je ne pouvais qu' observer le silence. E por mais forte que fosse esse desejo, eu podia apenas observar
o silêncio.
Seul dans la nuit, je demeurai à lire, accablé par ce sentiment
d'impuissance; Sozinho na noite, eu continuava a ler, oprimido pelo
sentimento de impotência.
306 307
--,-.
I
]e lus en entier Bérénice (je ne !'avais jamais lu). Seule une phrase Li totalmente Berenice (nunca eu o tinha lido). Apenas uma
de la préface m'arrêta: '~ .. cette tristesse majestueuse qui fait tout frase do prefácio me parou: "... esta tristeza majestosa que faz
le plaisir de la tragédie." ]e lus, en français, Le Corbeau. ]e me todo o prazer da tragédia:' Li, em francês, O corvo. Me levantei
levai touché de contagion. ]e me levai et pris du papier. ]e me contaminado. Me levantei e peguei o papel. Me lembro da pressa
rappelle la hâte fébrile avec laquelle j' atteignis la table: pourtant febril com que me atirei à mesa: no entanto eu estava calmo.
j' etais calme.
Escrevi:
J'écrivis:
Passou
Il s'avança uma tempestade de areia
une tempête de sable só pude dizer que
je ne puis dire que
na noite
dans la nuit
ela passou como um muro em ruínas
elle avança comme un mur en poussiere ou como o turbilhão vestido de um fantasma
ou comme le tourbillon drapé d'un fantôme
ela me disse
elle me dit
onde estás
ou es-tu
je t'avais perdu eu te perdi
mats mot mas eu que nunca a tinha visto
qui jamais ne l'avais vue gritei no frio
je criai dans le froid quem és tu demente
qui es-tu por que
demente fingir
etpourquoi não me esquecer
faire semblante nesse momento
de ne pas m'oublier ouvi cair a terra
à ce moment corri
j'entendis tomber la terre atravessei
je courus um interminável campo
traversai caí
un interminable champ o campo também caiu
je tombai um soluço infinito o campo e eu
le champ aussi tomba caímos
un sanglot infini le champ et moi
tomberent
r1
308 309
nuit sans étoile noite sem estrela
vide mille fois éteint vazio mil vezes apagado
un teZ cri
tal grito
te perça-t-il jamais jamais te perfurou
une chute si Zangue. uma queda tão longa.
En même temps, 1'amour me brülait. J' étais limité par les Ao mesmo tempo, o amor me queimava. Estava limitado
mots. Je m'épuisai d'amour dans le vide, comme en presénce pelas palavras. Estava esgotado de amor ~o vazio, ~orno n,a
d'une femme désirable et déshabillée - mais inaccessible. Sans presença de uma mulher desejável e desptda, mas macesstvel. Sem
.même pouvqir exprimer un désir. mesmo poder exprimir um desejo.
Hébétude. Impossible d'aller au lit malgré l'heure et Estupefação. Impossível me deitar apesar da hora e
la fatigue. J'aurais pu dir~ de moi comme il y a cent ans do cansaço. Poderia falar de mim como há cem anos o fez
Kierkegaard: "J'ai la tête aussi vide qu'un théâtre ou l'on vient Kierkegaard: "Eu tenho a cabeça tão vazia quanto um teatro onde
de jouer."
acabamos de encenar."
Comme je fixais le vide devant moi, une touche aussitôt Como eu fixei o vazio diante de mim, um toque . .
violente, excessive, m'unit à ce vide. Je voyais ce vide et ne imediatamente violento, excessivo, me uniu a esse vazw. Eu vta o
voyais rien, mais lui, le vide, m' embrassait. vazio e não via nada, mas ele, o vazio, me abraçava.
Mon corps était crispé. Il se contracta comme si, de Meu corpo estava crispado. Ele se contraía como se, de si
lui-même, il avait du se réduire à l'étendue d'un point. Une mesmo, tivesse que se reduzir à extensão de um ponto. U~a
fulguration durable allait de ce point intérieur au vide. Je fulguração duradoura saía desse ponto interior até o vazw. Eu
grimaçais et je riais, les levres écartées, les dents nues. estremecia e ria, os lábios abertos, os dentes nus.
310 311
!e me Jette chez les Morts Me jogo aos mortos
312 313
A ma mort
les dents de chevaux des étoiles
hennissent de rire je mort
Diante da minha morte
os dentes de cavalo das estrelas
relincham de rir eu morte
l
''
:I
]'imagine Imagino
dans la profondeur infinie no profundo infinito
I' étendue déserte o deserto extenso
diferente do céu que eu vejo
différente du ciel que je vais
não contendo mais os pontos de luz que estremecem
ne contenant plus ces points de lumiere qui vacillent
mais des torrentes de flammes
plus grand qu'un ciel
mas torrentes de chamas5 I:I
maiores que um céu
aveuglant comme l'aube cegando como a madrugada
ô faillite ó fracasso
extase dont je dors êxtase com o qual durmo
quand je crie quando grito
toi qui es et seras tu que és e serás
quand je ne serai plus quando não serei mais
Xsourd X surdo
maillet géant martelo gigante
brisant ma tête. destroçando minha cabeça.
316
317
Le scintillement O cintilamento
le haut du ciel o alto do céu
la terre a terra
etmoi. e eu.
318 319
Mon creur te crache étoíle Meu coração te cospe estrela
320 321
--~----
" -"""--~
Le tapis de jeu est cette nuit étoilée ou je tombe, jeté com me le dé O tapete do jogo é esta noite estrelada onde caio, jogado como
sur un champ de possibles éphémeres. o dado sobre um campo de possibilidades efêmeras.
Je n'ai pas de raison de "la trouver mauvaise': Não tenho razão para "considerá-la má".
Étant une chute aveugle dans la nuit, j'excede ma volonté malgré Sendo uma queda cega na noite, excedo minha vontade apesar
moi (qui n'est en moi que le donné); et ma peur est le cri d'une de mim (que não é em mim mais que algo dado); e meu medo
liberté infinie. é o grito de uma liberdade infinita. ·
Si je n'excédais par un saut la nature "statique et donné': je serais Se eu não excedesse por um salto a natureza "estática e dada",
défini par des lois. Mais la nature me joue, me jette plus lain qu'elle- eu seria definido pelas distrações. Mas a natureza me joga, me
même, au-delà des lois, des limites qui font les humbles l'aiment. arremessa mais longe que ela mesma, além das leis, dos limites
que fazem os humildes a amarem.
Je suis le résultat d'un jeu, ce qui, si je n'étais pas, ne serait pas,
qui pouvait ne pas être. Sou resultado de um jogo, o qual, se eu não existisse, não seria,
não poderia ser.
!e suis, dans le sein d'une immensité, un plus excédant cette
immensité. Mon bonheur et mon être même découlent de ce Sou, no sentido de uma imensidade, um mais excessivo que
caractere excédant. esta imensidade. Minha felicidade e meu ser mesmo resultam
dessa característica excessiva.
Ma bêtise a béni la nature secourable, agenouillée, devant Dieu.
Ce que je suis (mon rire, mon bonheur ivres) n'en est pas moins joué, Minha loucura abençoou a natureza útil, rebaixada diante de
livre au hasard, mis à la porte dans la nuit, chassé comme un chien. Deus. O que eu sou (meu riso, :mlnha' felicidade embriagada)
não é por isso menos que jogado, deixado ao acaso, colocado à
Le vent de la vérité a répondu comme une gifle à la joue tendue de porta da noite, escorraçado como um cachorro.
la piété.
O vento da verdade respondeu como um tapa ao jogo tenso da
Le cceur est humain dans la mesure ou il se révolte (ceei veut dire: piedade.
être un homme est "ne pas s'incliner devant la loi").
O coração é humano na medida em que ele se revolta (isso
quer dizer: ser um homem é "não se inclinar diante da lei").
322 323
Un poete ne justifie pas - il n'accepte pas - tout à fait la nature. Um poeta não justifica ele não aceita- a natureza. ·
La vraie poésie est en dehors des lois. Mais la poésie, finalement, completamente. A verdadeira poesia está fora das le1s. Mas a
accepte la poésie. poesia, por fim, aceita a poesia.
Quand accepter la poésie la change en son contraíre (elle devient Quando aceitar a poesia troque-a pelo seu contrário (ela se
médiatrice d'une acceptation)! je retiens le saut dans leque/ torna mediadora de uma aceitação) eu retenho um salto no
j'excéderais 1'univers, je justifie le monde donné, je me contente de Iui. qual eu excederia o universo, eu justifico o mundo dado, eu me
contento com ele.
M'insérer dans ce qui m'entoure, m'expliquer ou ne voir en mon
insondable nuit que'une fable pour enfants (me donner de moi- Me inserir naquilo que me cerca, me ei:plicar ou ~e ver em minha
même une image ou physique ou mythologique)! non!... insondável noite somente em uma fábula para cnanças (me dar
]e renoncerÇiis au jeu ... uma imagem ou física ou mitológica de mim mesmo)! não!...
Eu renunciaria ao jogo.
]e refuse, me révolte, mais pourquoi m'égarer. Si je délirais, je
serais simplement nature/. Eu recuso, me revolto, mas por que me extraviar. Se eu delirasse,
Le délire poétique asa place dans la nature. Illa justifie, accepte seria simplesmente natural. . .
de 1'embellir. Le refus appartient à la conscience claire, mesurant 0 delírio poético tem seu lugar na natureza. ~:e a_ JUStifica,
ce qui lui arrive. aceita embelezá-la. A recusa pertence à consc1enc1a clara,
La claire distindion des divers possibles, le don d'aller au bout du medindo aquilo que lhe acontece. .
A clara distinção das diversas possibilidades, o. dom de 1r ao fim
plus lointain, relevent de l'attention calme. Le jeu sans retour de
do mais distante, resulta da atenção serena. O JOgo sem reto~no
moi-même, 1'aller à 1'au-delà de tout donné exigente non seulement
do mesmo, 0 ir além do todo dado, exigindo não apenas o nso
ce rire infini, mais cette méditation lente (insensée, mais par exces).
infinito, mas a lenta mediação (insensata, mas pelo excesso)·
C'est la pénombre et l'équivoque. La poésie éloigne en même
Isto é a penumbra e o equívoco. A poesia afasta ao mesmo_
temps de la nuit et du jour. Elle ne peut ni mettre en question ni tempo a noite e 0 dia. Ela não pode nem c?locar em questao
mettre en action ce monde qui me lie.
nem por em ação este mundo que me opnn:e. . .
La menace en est maintenue: la nature peut m'anéantir- me A ameaça se mantém: a natureza pode me arnq~a~- me reduzrr
réduire à ce qu'elle est, annuler jeu que je joue plus lain qu'elle- àquilo que ela é, anular o jogo que eu jogo o mrus distan~e de~a
qui demande ma folie, ma gaieté, mon éveil infinis. que exige minha loucura, minha alegria, meu despertar infinitos.
Le relâchement retire du jeu- et de même 1'exces d'attention. A preguiça retira do jogo- e do mesmo o excesso ~e ate~ção.
L'emportement riant, le saut déraisonnable et la calme lucidité sont A raiva ri, o salto irracional e a calma lúcida são eXIg~nCias do
exigés du joueur, jusqu'au jour ou la chance de lâche- ou la vie. jogador, até o dia em que a sorte o acovarde - ou a VIda.
]e m'approche de la poésie: mais pour lui manquer. Eu me aproximo da poesia: mas para perdê-la.
324 325
Dans le jeu excédant la nature, il est indijférent que;·e l'excede No jogo que excede a natureza, é indiferente que eu exceda
) ll A 'd
) , ou ou que ela mesma se exceda em mim (ela é talvez toda inteira
qu e e-meme s exce e en mot (elle est peut-être tout entiere ex '
d' zz ces excesso dela mesma), mas, com o tempo, o excesso se insere ao
'e. e~meme 'mats: dans le .temps, l'exces s'insere à la fin dans
A ) •
l 01d1e des choses (;e mourat à ce moment-là). fim na ordem das coisas (mas eu morrerei nesse momento).
~l m'a fallu,pour saisir un possible au sein d'une evidente Me foi necessário, para alcançar algo possível em meio de uma
tmpossibilité, me représenter d' abord la situation inverse. impossibilidade evidente, me representar primeiro a situação
inversa.
A suppos~r que je v~uille. ~e réduire à l'ordre legal, j'ai peu de
Ao supor que eu queira me reduzir à ordem legal, tenho poucas
chan~es d y patyemr entterement: je pécherai par inconséquence-
chances de chegar inteiramente: eu pecarei pela inconsequência ou
par ngueur malheureuse...
pelo rigor infeliz...
Dans l'extrême rígueur, l'exigence de l'ordre est détentrice d'un si
No extremo rigor, a exigência da ordem é detentora de tanto
grand pouvoir qu'elle ne peut se retourner contre elle-même D
l' P , .
e:: enence qu,en ont les dévots (les mystiques), la personne. deans poder que ela não pode se voltar contra ela mesma. Na expe-
riência que se tem dela os devotos (os místicos), a pessoa de
~teu est placé'; au sommet d'un sommet d'un non-sens imoral:
Deus é colocada no auge do não-sentido imoral: o amor do
l a~~~r ~u devo~ réalise en Dieu- auquel il s'identifie- un exces devoto realiza em Deus - com o qual ele se identifica - um
qut, s tll assumatt personnellement, le jetterait à genoux, écoeuré. excesso que, se ele assumisse pessoalmente, ele se jogaria de
joelhos, enjoado.
La réduct!on à l'or~r: é;.houe de toute façon: la dévotion formelle
(sans exces) condutt a l mconséquence. La tentative inverse a A redução à ordem fracassa de todas as formas: a devoção for-
d~nc des chances. Illui faut se servir de chemins détournés (de mal (sem excesso) conduz à inconsequência. A tentativa inver- I
nres, de _n~usées incessantes). Sur le planou ces choses se jouent, sa, portanto, das probabilidades. É necessário a ele se servir de
chaque element se change en son contraíre incessamment. Dieu caminhos tortuosos (de risos, de náuseas incessantes). Sobre o
se char?e soudain d' "horrible grandeur': Ou la poésie glisse à l' plano onde essas coisas se jogam, cada elemento se converte em
embelltssement. Achaque effort je fais pour le saisir, l'objet de mon seu contrário incessantemente. Deus se encarrega de repente da
atente se change en un contraíre. "horrível grandeza". Ou a poesia desliza para o embelezamento.
A cada esforço que eu fazia para alcançá-lo, o objeto de minha
espera se tornava o seu contrário.
326 327
L'éclat de la poésie se révele hors des moments qu'elle atteint dans
un désordre de mort. O brilho da poesia se revela fora dos momentos que ela alcança
em uma desordem de morte. 6
(Un commun aá:ord situe à part les deux auteurs qui ajouterent
(Um acordo comum coloca à parte os dois au:ores que ,acresc.en-
à celui de la poésie l'éclat d'un échec. L'équivoque est liée à leurs
taram à poesia o brilho de um fracasso. O eqmvoco esta. relaclO-
noms, mais l'un et l'autre épuiserent le sens de la poésie qui nado aos seus nomes, mas um e outro esgotaram o sentido que
s'acheve en son contraíre, en un sentiment de haine de la poésie. La acabou em seu contrário, em um sentimento de ódio à poesia. A
poésie quine s'éleve pas au non-sens de la poésie n'est que le vide de poesia que não se eleva ao nonsense da poesia é apenas o vazio da
la poésie, que la belle poésie.) poesia, apenas poesia bonita.)
' Na primeira edição de o impossíve~ lê-s~: "O b~o da p.o~ia se revela fora dos belos momentos
que atinge: comparada ao fracasso da poesta, a poesta rastep.
l
POUR QW SONT SES SERPENTS ... ?
I pARA QUEM SÃO ESSAS SERPENTES ... ?
L'inconnu et la mort... sans la mutité bovine, seule assez O desconhecido e a morte ... sem a mudez bovina, apenas o
s~lide en de tels chemins. Dans cet inconnu, aveugle, je succombe suficiente sólido em tais caminhos. Nesse desconhecido, cego, eu
(;e renonce à l'épuisement raisonné des possibles). sucumbo (eu renuncio ao esgotamento racional dos possíveis)?
La poésie n'est pas une connaissance de soi-même, encare A poesia não é um conhecimento de si mesmo, menos ainda
moins l'expérience d'un lointain possible (de ce qui auparavant a experiência de uma possível distante (da qual primeiramente
n'était pas) mais la simple évocation parles mots de possibilités não era) mas a simples evocação pelás palavras de possibilidades
inaccessibles. inacessíveis.
L'évocation a sur l'expérience l'avantage d'une richesse et A evocação tem sobre a experiência a vantagem de uma
d'une facilité infinie mais éloigne de l'expérience ( essentiellement riqueza e de uma facilidade infinita mas se afasta da experiência
paralysée). (essencialmente paralisada).
Sans l'exubérance de l'évocation, l'expérience serait Sem a exuberância da evocação, a experiência seria racional.
raisonnable. Elle commence à partir de ma folie, si l'impuissance Ela começa a partir de minha loucura, se a impotência da
de l' évocation m'écoeure. evocação me enjoasse.
La poésie ouvre la nuit à l'exces du desir. La nuit laissée par A poesia abre a noite ao excesso do desejo. A noite abandonada
les ravages de la poésie est en moi la mesure d'un refus- de ma pelas devastações da poesia é em mim a medida de uma recusa-
folle volonté d' excéder le monde-. La poésie aussi excédait ce de minha vontade louca de exceder o mundo;- A poesia também
8
monde, mais elle ne pouvait me changer. excedia este mundo, mas ela não podia me mudar.
Ma liberté fictive assura davantage qu'elle ne ruinait la Minha liberdade :fictícia me deu mais certeza de que não
contrainte du donné nature!. Si je m'en étais contenté, je me serais arruinaria a limitacão da natureza dada. Se eu estivesse me
soumis à la Zangue à limite de ce donné. contentado com is~o, estaria submisso com o tempo ao limite
desse dado.
7Na primeira edição de O impossível, lê-se: "Neste desconhecido, alegremente, um poeta sucumbe
(renuncia ao esgotamento racional dos possíveis):'
8 Na primeira edição de O impossível, lê-se: "O que ela substitui à servitude dos vínculos naturais é a
330 331
[e, continu~i~ de mettre en question la limite du monde, voyant Eu continuava a colocar em questão o limite do mundo,
la ~~sere de qut s en contente, et je ne pus supporter longtemps la vendo a miséria de quem com ela se conforma, não podia
factltté de la fiction: j'en exigeai la réalité, je devins fou. suportar por muito tempo a facilidade da ficção: eu exigi dela a
realidade, fiquei louco.
Si je mentais, je demeurais sur le plan de la poésie, d'un
dépassement verbal du monde. Si je persévérais en un décri Se eu mentisse, eu ficaria sobre o plano da poesia, de uma
aveugle du monde, mon décri était faux (com mele dépassement). ultrapassagem verbal do mundo. Se eu perseverasse em um
En ~n certain sens, mon accord avec le monde s'approfondissait. descrédito cego do mundo, meu descrédito seria falso (como a
M~ts ne pouvant mentir sciemment, je devins fou (capable ultrapassagem). De uma certa forma, meu acordo com o mundo
d'tgnorer la vérité). Ou ne sachant plus, pour moi seul, jouer la se aprofundava. Mas não podia mentir conscientemente, fiquei
corrz,édie, ~'un délire, je devins fou encare mais intérieurement: je louco (capaz de ignorar a verdade). Ou não sabendo mais, por
fis l expenence de la nuit. mim apenas, interpretava a comédia do delírio, fiquei louco mas
ainda interiormente: eu fiz a experiência da noite.
~a poésie fut un simple détour: j'échappai par elle au monde
du dtscours, devenu pour moi le monde naturel, j'entrai avec elle A poesia foi um simples desvio: escapei por ela do mundo
en une sorte de tombe ou l'infinité du possible naissait de la mort do discurso, transformado para mim no mundo natural, eu
du monde logique. entrei com ela em um tipo de tumba onde o infinito do possível
nascia da morte do mundo lógico.
La logique en mourant accouchait de folles richesses. Mais
~e ~ossible évoqué n'est qu'irréel, la mort du monde logique est A lógica, ao morrer, dá à luz loucas riquezas. Mas o possível
trreelle, tout est louche et fuyant dans cette obscurité relative. ]e evocado é apenas irreal, a morte do mundo lógico é irreal, tudo é
puis m'y moquer de moi-même et des autres: tout le réel est sans duvidoso e fugidio nesta obscuridade relativa. Eu posso gozar de
:,~Zeur, to~_te valeur irréelle! De là cette fatalité de glissements, ou mim mesmo e dos outros: todo o real é sem valor, todo o valor
J tgnore st ;e mens ou si je suis fou. La nécessité de la nuit procede é irreal! Daí esta facilidade e esta fàtalidade de deslizamento,
de cette situation malheureuse. onde eu ignoro se minto ou se sou louco. A necessidade da noite
procede desta situação infeliz.
La nuit ne pouvait qu'en passer par un détour.
A noite só podia passar por um desvio.
La mise en question de toutes choses naissait de
l'exaspération d'un désir, quine pouvait porter sur le vide! O questionamento de todas as coisas nascidas da exasperação
de um desejo, que não poderia se sustentar sobre o vazio.
, L'~bjet de mo~ désir ~tait en premier lieu l'illusion et ne put
etre qu en second !teu le VIde de la désillusion. · O objeto de meu desejo era no primeiro lugar da ilusão e ·
só pôde estar em segundo lugar o vazio da desilusão.
333
332
r-""~A
::
mise en question sons désir est formei/e, indifférente Ce n'est
pas d'elle qu'on pourrait dire: "c'est la même chose que l'homme."
O questionamento sem o desejo é formal, indiferente. Não
é dele que se poderia dizer: "é a mesma coisa que o homem". ,I
La poésie révele un pouvoir de l'inconnu. Mais l'inconnu A poesia revela um poder do desconhecido. Mas o
n'est qu'un vide insignifiant, s'il n'est pas l'objet d'un désir. La desconhecido é apenas um vazio insignificante, se ele não
poésie est moyen terme, elle dérobe le connu dans l'inconnu: elle é objeto de um desejo. A poesia é meio termo, ~la oculta o
est l'inconnu paré des couleurs aveuglantes et de l'apparence d'un conhecido no desconhecido: ela é o desconhecido adornado de
solei!.
cores brilhantes e da aparência de um sol. ,.
, Ébloui de mille figures ou se composent l'ennui, l'impatience Deslumbrado por mil figuras onde se compõe o tédio, a
et l'amour. Maintenant mon désir n'a qu'un objet: l'au-delà de impaciência e o amor. Agora meu desejo só tem um objeto: o
ces mille figures et la nuit.
além dessas milhares de figuras e a noite.
Mais dans la nuit le désir ment et, de cette maniere, elle cesse Mas na noite o desejo mente e, de certa maneira, ela deixa
d' en paraítre 1'objet. Cette existence par moi menée "dans la nuit" de mostrar o objeto. Essa existência por mim levada "na noite"
ressemble à celle de l'amant à la mort de l'être aimé, d'Oreste parece aquela do amante à morte do ser amado, de Orestes
apprenant le suicide d'Hermione. Elle ne peut reconnaítre en informado do suicídio de Hermione. Ela não pode reconhecer
l'espece de la nuit "ce qu'elle attendait': na natureza da noite "o que ela esperava".
334 335
Le Livre
O Livro
Je bois dans ta déchirure
et j'étale tes jambes nues
je les ouvre comme un livre
ou je lis ce qui me tue.
Eu bebo em tua ferida
e estendo tuas pernas nuas
eu as abro como um livro
onde leio o que me mata.
l
'I
!
338 339
PONTO DE LACERAÇÃO Traduzir os poemas de Georges Bataille é o mesmo que tentar sutu-
O FRACASSO NA POESIA DE rar uma ferida que não pode ser fechada. Aberta, ela nos obriga a olhar
GEORGES BATAILLE '!
para a escuridão que nela se esconde, sol negro que lacera a medida, fa-
ALEXANDRE RODRIGUES DA COSTA zendo da página o espaço do desvio, da transgressão. Cada palavra, aí,
mostra seus interstícios, a noite que a rodeia, a imensidade de sua pró-
pria sombra. Os poemas de Bataillé, nesse sentido, nos cegam, não com
A linguagem poética mais uma vez uma suposta beleza idealizada, concebida pelos jogos da razão. Não, seus
me abre ao abismo.
Georges Bataii/e
poemas nos cegam com o desequilíbrio do verso, a insuficiência e a des-
figuração de suas palavras. Rasgadas, elas·não se prendem a um sentido
claro e definido, mas se oferecem, ambivalentes, como naturezas infor-
mes. Como Bataille nos diz em uma das edições de Documents, "o que o
informe designa não tem seus direitos em nenhum sentido e se estende
por toda parte, como uma aranha ou um verme': "é um termo que serve
para desclassificar': 1 Aquele que se atreve a ler os poemas de Bataille de-
para-se, portanto, com essa zona incerta, onde a lógica e a racionalidade
não têm mais espaço, onde a gargalhada, o delírio e a sujeira imperam
como um processo de contraoperação: "( ... )é a prática de uma atitude de
pensamento fadada ao fracasso, descontentamento e imperfeição. Nada
mais do que uma resistência contra os tediosos e formativos efeitos do
pensamento racional." 2 Nesse sentido, a contraoperação é uma atitude
que busca propositalmente a imperfeição, o fracasso, como forma de
tornar indistinguíveis o sagrado e o profano. Ela é o próprio informe
colocado em ação, uma vez que a distinção não tem mais vez e o que
prevalece é o que podemos chamar de orgia da forma. Por isso, pensar e
conceber o poema sob os desígnios do informe deixa, na página, como
se fosse ferida, uma palavra sempre aberta, fundada no descontínuo,
no fragmentário. O desconhecido, aquilo que não tem resposta, passa a
dominar a linguagem, e o que se estabelece é uma tensão não resolvida
entre nascimento e morte, entre o transitório e o permanente. Longe de
uma síntese, o informe abraça simultaneamente os dois termos, sem que
haja uma conclusão, um fim.
343
] !I
344
345
-,
i
J
l
desapossa totalmente, pois as palavras, as imagens dissolvidas, estão
tornando-as sagradas. Mas, para isso, é necessário destruir os sentidos
carregadas de emoções já sentidas, fixadas a objetos que as ligam ao co-
da palavra, retirar tudo o que ela possa ter de utilidade, para que assim 'I
nhecido."4 Para que o poema se torne desfigurado, maldito, ele precisa
o nonsenseexpulse o discurso lógico e faça da iiicerteza o ponto de
que suas palavras tenham o sentido obliterado, se tornem inacessíveis, interseção entre aquele que escreve e o que se projeta para além das
de maneira que jamais constituam um caminho a ser trilhado a fim palavras.
de se alcançarem determinados objetivos, o que seria a total rendição A poesia, articulada como forma de transgressão, seria, assim, o
do poema ao discurso lógico, utilitário do dia a dia. Assim, a angústia movimento sem fim, no qual o texto se torna, pelo excesso, fracasso. O
que o poema gera a partir do desconhecido não ocorre de repente, ela discurso poético, nesse sentido, não é só a possibilidade de conjugar o
se faz na gradual desfiguração do mundo ao nosso redor. A perda de ser pela subtração, determinado por "uill poder, que tudo pode, pode
sentido do poema, o nonsense, é a entrada ao desconhecido, mas isso inclusive isso, suprimir-se como poder':' mas a afirmação da obra que ,:
não quer dizer que o conhecido seja esquecido:"( ... ) a imagem poética, se constrói por suas ruínas, por sua incompletude, pela proposital in-
mesmo s·e ela leva o conhecido ao desconhecido, prende-se, no entan- capacidade de se sustentar em seu dizer. O poema, dessa forma, se con-
to, ao conhecido que lhe dá corpo, e ainda que ela o dilacere e dilacere cretiza a partir de um errar que o mantém no limite de um não saber,
a vida nessa dilaceração, se fixa a ele." 5 Dilacerar o conhecido não é pergunta aberta pelo infinito da questão:"( ... ) poder enfim não saber
negar-lhe a existência, mas deslocá-lo, deformá-lo, de tal maneira que
nada, ou antes, se eu não sei nada, é que nenhuma questão pode ser
o discurso lógico que o cerca desabe. Nesse sentido, de acordo com feita:' 8 O ódio à poesia torna-se então esse tempo sempre presente, no
Bataille, "a poesia é um termo mediano, ela esconde o conhecido no
6
qual os limites da forma desmoronam, para nos lançar nessa afirmação
desconhecido': ou seja, a angústia que o poema nos oferece surge da
que não se afirma, que é a morte. Ao contrário do célebre aforismo de
tensão entre aquilo que nos é familiar e o que nos foge à compreensão. Nietzsche, "aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não
Como um "entre" a poesia conjuga duas realidades, o conhecido e o se tornar também um monstro': os poemas e os dizeres que formam A
desconhecido, sem chegar a uma síntese. Ela se torna, na expressão de
Oréstia parecem afirmar que "o ódio à poesia': o impossível, é aquilo
Bataille, mediadora.
que nos incita a correr o risco de olhar para o abismo, sabendo que
Esse caráter mediador se encontra na própria referência que Ba- podemos nos transformar em monstros. O poema é a materialização
taille faz a Orestes. De acordo com Sir James George Prazer, em O ramo desse abismo, e sua monstruosidade, sua desfiguração, em vez de nos
dourado, Orestes teria sido o primeiro Dianus, pois, ao chegar ao bosque assustar, é o que nos leva a aceitá-lo como espaço de perda, onde as
de Nerni, assassinou o sacerdote que lá reinava e estabeleceu o culto à palavras têm o seu sentido contestado e nos perdemos, dilacerados, tão
Diana. Esse ato deu início a um estranho ritual: aquele que assassinasse incompletos quanto podemos ser.
o sacerdote seria também assassinado pelo seu sucessor. Dessa forma, o
indivíduo se tornava ao mesmo tempo assassino e sacerdote, sacrifica-
dor e vítima. Em O impossível, a poesia é o objeto desse sacrifício, pois
aquele que se nomeia Dianus deve retirar as palavras do discurso lógico,
• Ibidem, p. 17.
5
Ibidem, p. 170.
6 7
BAIAILLE, Georges. C\?uvres complétes III. Paris: Gallimard, 1971. p. 222. BLANCHOT, Maurice. A conversa infinita 2: a experiência-limite. São Paulo: Escuta, 2007. p. 192.
8
BATAILLE, Georges. C\?uvres complétes XIII. Paris: Gallimard, 1988. p. 530.
346
347
i•
l'.
.,I
1917 Retorna a Riom. Leva urna vida religiosa. "É um santo", dirá um
de seus amigos. Inscreve-se no seminário de Saint-Flour; lá passa o ano
escolar de 1917-1918.
1926 Escreve W.C., que depois destruirá, salvo um capítulo nomeado 1936 Tratados e reuniões sob a égide de Contre-Attaque, depois ruptura
"Dirty': que servirá mais tarde de introdução ao livro Le Bleu du Ciel. com os surrealistas e dissolução do movimento. Em abril, em Tossa de
Descobre Sade. Mar, com Masson, redige o programa da sociedade secreta e da revista
Acéphale, cujo primeiro número será lançado em 24 de junho. Publica,
1928 Casa-se com Sylvia Makles; seu padrinho é Michel Leiris. Publi- em dezembro, Sacrifices, com 50 águas-fortes de Masson.
ca Histo~re de L'CEil, sob o pseudônimo de Lord Auch, em uma edição
clandestina: 134 exemplares com oito litografias de André Masson não 1937 Cria o College de Sociologie com Michel Leiris e Roger de Caillois;
assinadas. . sessão inaugural em 20 de novembro.
1929 Secretário-geral da revista Documents, que vai lhe permitir ser 0 1938 7 de novembro: morte de Collete Peignot. Crise profunda.
coordenador anti-idealista da oposição ao surrealismo.
f
!
-].
. .
•r
1939 Em junho, no número 5 da Acéphale, publica anonimamente "La 1955 Publica Lascaux ou la Naissance de l'Art e Manet pela editora Skira.
Pratique de la Joie devant la Mort': Começa a escrever Le Coupable. Tem graves problemas de saúde. Diagnóstico: arteriosclerose cerebral.
1941 Encontro capital com Maurice Blanchot. Escreve Madame Edward 1957 Publica Le Bleu du Ciel por Jean-Jacques Pauvert, La Littérature et
que publica sob o pseudônimo de Pierre Angélique. Começa a escreve; le Mal, pela Gallimard, L'Érotisme, pela editora Minuit. Esses três edito-
L'Expérience Intérieure.
res organizam uma homenagem pára celebrar os seus 60 anos.
1943 Publica L'Expérience Intérieure pela editora Gallimard. Vai morar 1959 Publica, pelo clube francês, Le Proces de Gilles de Rais, introdução
em Vézelay; lá encontra, em junho, Diane Kotchoubey de Beauharnais. e anotação dos textos desse processo.
Publica Le Petit sob o pseudônimo de Louis Trente. Artigo de Sartre "Un
Nouveau Mysdque" critica violentamente L'Expérience Intérieure. 1960 O estado de saúde piora e ocorre período de depressão.
1944 Publica Le Coupable pela editora Gallimard e L'Archangélique pela 1961 17 de março: leilão solidário, no hotel Drouot, de pinturas, aquare-
editora Messages. Inúmeras discussões com Jean-Paul Sartre. las, desenhos de seus amigos: Arp, Bazaine, Ernst, Fautrier, Giacometti,
Masson, Michaux, Miró, Picasso, Tanguy etc., cuja produção permitirá a
1945 Publica Sur Nietzsche, Volonté de Chance et Memorandum, pela Bataille adquirir um apartamento na rua Saint-Sulpice. Publicação, em
editora Gallimard. Vive com Diane em Vézelay, onde residirão até 1949. junho, por Jean-Jacques Pauvert, deLes Lannes d'Éros.
1950 Publica L'Abbé C. pela editora Minuit. Escreve o prefácio para jus-
tine, de Sade.
354
355
'iZ:1 'iZ:1 ';;' ';;' ,.. "" l!!ll e • @I • @I e e e 1:
.~ ~ e e e ~ e ~ ~ e e ii e e ii ® ~ e e e e ~ ~
e e ii G G G G ~ ~ ~ ~ G ® G ®.@ ® G ®. G ® G ®
@@@@@@@@<!i)@@@@@@@@@@€!!)@@@
I·······················G
@@@@@@@@@@@@®®®®®®®®®®®
••••••••••••••••••••••••
e e e e • e e e e • e • • e • • •
e e • e @ • • 'f
@@@@@@@@@@@@@@@@@@@ê@@li>@E'J
@tí!l@li>@~@@@@@@~®®@~®®®®®®®0
f>®®®f>f>@@@li)@@@®®®®®®®® @@
l
®®®®<íl>®®®®®®®®®®®®®®e e G?>
. ®®®®®®@li>® ®®®®®El®®®®<ilil®®®GD
· ,;® a a • e a ® a a a • e e e m m • a e a e a ® ® ,
1•••••••••••••••••••••oee
jll • ®• • ® ® ® • ® ® • • @ • ® ® • • • • • • •
te• eee®®eaeeeoeaeeee€11®®
le a ® ® ® • e • • ® a a a • • • • ® • a e • • •
~®®®®® ••••••••••••••••
I• • • • • • ~ • • e • e • • e e e e e • ® ® ~ ®
1• • e • 8 e e ® • • e • • • 8 ·e ~ e ® • • e~ ~
· I• e • • e e e e e • e e e e • e e • e ® • ® • e
'e e e • • e • • e e e • • e e e 8 e e e e • • e
e • e e e e €11 e e e e e e e e e • e e • e • •·•
·•••e••••••••e•••••••••€11•
le e • • e e • e e • €11 e e e e • e e • e e e • • ·
••••••••e••••e••••••e••••
f
~·•e••••••••••••••••••••
a•••••••••••••••••••••e••
~ l
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • @.
••••••eeeeeeeeeeeeee••••
•••••••••••••••••••••
••••••••••••• •••••••
A presente edição foi composta pela Editora UFMG e impressa pela Imprensa Universitária UFMG • • • • • • • • • • ii •
em sistema offset, papel pólen soft80g (miolo) e cartão supremo 250g (capa), em outubro de 2015.
•••••••••••••
• ••••••••••••••
• • • • • • • • • • • • • e • • • •
•••••••••••••••••