INSTITUTO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE MÚSICA
HARMONIZAÇÃO DE MELODIA
Exemplo nº 1-1
1
Um ‘canto dado’ é uma linha melódica que será utilizada como base para a realização de uma
nova estrutura musical, seja por meio de harmonização, contraponto ou arranjo. O canto dado
é muitas vezes chamado de cantus firmus.
2
Existe uma tipologia de acordes, onde se busca sistematizar as possibilidades de
sobreposições sonoras possíveis. Uma tipologia bastante eficaz, formulada por Vincent
Persichetti, divide os acordes em quatro tipos: 1. tríades – são todos os acordes formados
apenas por superposição de intervalos de terça; 2. clusters – são os acordes formados
somente por sobreposição de intervalos de segunda; 3. harmonia quartal – é aquela em que
os acordes são construídos pela superposição de intervalos de quarta; 4. acordes mistos –
são aqueles em que são combinados diferentes tipos de intervalos para a formação de
estruturas harmônicas, como por exemplo, um acorde formado pelas notas dó/ré/sol, é um
acorde misto formado por um intervalo de segunda sobreposto a outro de quarta. Na teoria dos
acordes mistos não são consideradas as inversões de acordes do Sistema Tonal, pois os
acordes mistos podem ser interpretados como inversões de acordes formados por
superposição de terças, quartas ou segundas. Por exemplo, o acorde misto formado pelas
notas dó/ré/sol, citado acima, poderia ser interpretado como uma inversão de um acorde
quartal formado pelas notas ré/sol/dó.
3
Na tipologia de acordes, as tríades são subdivididas em quatro tipos: 1. tríade maior –
formada pela sobreposição de uma terça maior e uma terça menor; 2. tríade menor – formada
pela sobreposição de uma terça menor e outra maior; 3. tríade diminuta – formada pela
sobreposição de duas terças menores; 4. tríade aumentada – formada pela sobreposição de
duas terças maiores. Em uma escala maior, sobre o I, IV e V graus são formadas tríades
maiores; sobre o II, III e VI graus são formadas tríades menores, sobre o sétimo grau é formada
uma tríade diminuta. Nas escalas utilizadas no Sistema Tonal, somente se constrói uma tríade
aumentada sobre o terceiro grau da escala menor harmônica ou da melódica ascendente.
2
Exemplo nº 1-2
4
Atualmente, há três sistemas de análise harmônica que são os mais utilizados
internacionalmente, denominados: 1. Análise Gradual – define a origem dos acordes como
graus de escalas e é realizada por meio de numerais romanos que indicam os respectivos
graus (p. ex.: o acorde formado sobre o primeiro grau da escala de Sol Maior é cifrado com o
símbolo ‘I’, o acorde sobre o quarto grau é cifrado com ‘IV’ e o quinto grau é cifrado com ‘V’); 2.
Análise Funcional – determina a função de cada acorde no contexto específico em que ocorre
em determinada frase musical e é realizada por letras que indicam as funções harmônicas
(assim, o acorde de primeiro grau da escala de Sol Maior, que tem função de Tônica, é cifrado
com ‘T’, o acorde sobre o quarto grau, que tem função de Subdominante, é cifrado com ‘S’ e o
acorde sobre o quinto grau, que tem a função de Dominante, se cifra com ‘D’); 3. Análise
Cordal – determina em detalhe as características de cada um dos acordes e também é
realizada com letras que indicam a fundamental dos acordes (p. ex.: o primeiro grau da escala
de Sol Maior é um acorde de sol maior e é cifrado com a letra ‘G’, o quarto grau, que é um
acorde de dó maior, é cifrado com ‘C’ e o quinto grau, um acorde de ré maior, é cifrado com ‘D’.
O estudo dos três sistemas de entendimento da harmonia proporciona um conhecimento amplo
das possibilidades e recursos do Sistema Tonal.
5
Eufonia é a combinação de sons que se inter-relacionam acusticamente por meio de frações
simples, isto é, são as formações harmônicas que produzem intervalos estáveis, que são
classificados na teoria tradicional como consonâncias perfeitas e consonâncias imperfeitas.
6
Com o intuito de uniformizar as cifras, vai-se empregar o hífen para mencionar seqüência de
notas sucessivas (p. ex.: ‘sol-lá-si’ significa um movimento melódico) e a barra para indicar
sons simultâneos (p. ex.: ‘sol/si/ré’ se refere a um acorde).
3
Exemplo nº 1-3
7
Fraseologia é o estudo das frases musicais, dos elementos que as compõem (incisos,
semifrases, frases e períodos) e das combinações e relações desses elementos entre si.
8
A quadratura, em fraseologia, consiste na elaboração de frases compostas por estruturas de
quatro compassos, ou por múltiplos de quatro (como, por ex., frases de oito ou dezesseis
compasso).
9
As frases conclusivas são aquelas que terminam sobre um acorde de tônica em estado
fundamental; essas cadências são a cadência perfeita (finalização com os acordes V-I) e a
cadência plagal (finalização os acordes IV-I). As frases suspensivas são finalizadas com todas
as outras cadências, como a cadência à dominante (finalização com os acordes: IV-V), a
cadência imperfeita (finalização com os acordes: V-I6) ou a cadência deceptiva (finalização
com os acordes: V-VI).
4
Exemplo nº 1-4
S
D
Exemplo nº 1-5
Exemplo nº 1-6
Com isso, a escolha dos acordes para a segunda frase está quase
completa, conforme se apresenta no ex. nº 1-6. Falta apenas o acorde que irá
harmonizar a nota si, que, neste caso, não pode ser outro senão G, pois este é
o único acorde, dentre os que estamos utilizando, que possui essa nota.
Com os acordes que estamos utilizando nesta harmonização, não é
possível manter um movimento harmônico progressivo constante, com base no
ciclo tonal, na primeira frase, pois a seqüência de notas da melodia exige um
encadeamento repetitivo com ||:I–V:||. A segunda nota da melodia não pode ser
harmonizada senão pelo acorde de D, pois, dentre os acordes que temos à
disposição, a nota lá existe somente neste acorde. A primeira nota do segundo
compasso (si) também pode ser harmonizada somente pelo acorde de G. O
emprego necessário do acorde de D na segunda metade do segundo
compasso exige a resolução do tipo V – I, no início do terceiro compasso, para
a permanência do ciclo tonal progressivo; segue-se, novamente, com um
acorde de D para harmonizar a nota fá# que se encontra na segunda metade
do terceiro compasso. Com isso, a primeira frase será harmonizada com uma
seqüência de tônica-dominante-tônica, repetida duas vezes, conforme indicam
os colchetes do ex. nº 1-7.
Exemplo nº 1-7
Exemplo nº 1-8
10
Vozes externas são a voz mais aguda e a voz mais grave presentes em determinado trecho
musical. Na música vocal, esta expressão se refere às vozes de soprano e baixo.
11
Johann Jospeh Fux (1660-1741) elaborou um sistema detalhado para o estudo do
contraponto, em que cada combinação rítmica, na relação entre as vozes, deveria ser
elaborada de uma maneira específica, no tratamento das dissonâncias Na primeira espécie
são combinadas vozes com a mesma figuração rítmica, portanto, esta espécie é chamada de
‘nota contra nota’. Somente são possíveis consonâncias, na relação entre as partes, no
contraponto de primeira espécie.
12
Movimento contrário é aquele produzido quando uma voz se movimenta ascendentemente e
a outra descendentemente.
13
No estudo de Harmonia, as vozes de contralto, tenor e baixo são consideradas ‘vozes
inferiores’, pois a melodia principal se encontra no soprano.
14
Nota comum entre dois acordes é aquela que pertence a ambos. Por exemplo, a nota
comum entre os acordes de G e C é sol, já que o acorde de C é formado pelas notas dó/mi/sol
e o acorde de G é formado por sol/si/ré. Note-se que a nota sol pertence aos dois acordes.
7
Exemplo nº 1-9
15
As ‘vozes intermediárias’ são o contralto e o tenor, visto que a voz de soprano é a ‘voz
superior’ e a voz de baixo é a ‘voz inferior’. Assim, o emprego das terminologias ‘vozes
intermediárias’ e ‘vozes inferiores’ depende do contexto em que ocorrem. Quando comparadas
ao soprano, as vozes de contralto, tenor e baixo são chamadas de ‘vozes inferiores’; quando
comparadas às vozes externas (soprano e baixo), as vozes de contralto e tenor são chamadas
de ‘vozes intermediárias’; quando comparadas ao baixo, as outras três vozes são consideradas
‘vozes superiores’.
16
Movimento paralelo ocorre quando duas ou mais vozes se movimentam na mesma direção,
mantendo o mesmo intervalo harmônico. Por exemplo, se o baixo realiza o movimento
melódico sol-lá e o soprano realiza, simultaneamente ao baixo, o movimento melódico si-dó,
tem-se um movimento paralelo em terças, pois ambas as partes realizam movimentos
ascendentes e se mantém uma relação de terças entre as vozes (sol/si-lá/dó).
17
Movimento direto ocorre quando duas vozes se movimentam na mesma direção, porém não
se mantém o mesmo intervalo harmônico. Por ex.: se o baixo realiza as notas sol-lá e o
soprano realiza as notas mi-dó, tem-se uma terça direta, pois o intervalo harmônico de terça
(lá/dó) é alcançado a partir de um intervalo de sexta (sol/mi). Por isso, é um movimento direto e
não paralelo.
8
Exemplo nº 1-10
18
Registro de altura é a oitava precisa em que se encontra uma determinada nota ou linha
melódica. Por exemplo, a nota mi da primeira linha suplementar inferior da clave de fá
encontra-se no registro extremo grave da extensão vocal, a nota dó central (que se encontra na
primeira linha suplementar inferior da clave de sol) se encontra no registro médio e a nota sol
do primeiro espaço suplementar superior da clave de sol se encontra no registro extremo
agudo.
19
Uma das características importantes da música tonal é o uso da sensível como nota atrativa,
isto é, a nota sensível tem uma função melódica extremamente importante na definição da
tonalidade, pois essa nota exige a resolução por semitom ascendente, na fundamental do
acorde de tônica. Quando isso não ocorre, tem-se um movimento ‘regressivo’ de caráter modal
e não ‘progressivo’ de caráter tonal.
20
No contraponto a duas vozes, o intervalo de 4ªJ é considerado como sendo dissonante em
todas as situações, devido ao fato de que sempre ocorre com relação ao baixo. No contraponto
9
a três ou mais vozes, o intervalo de 4ªJ somente é considerado dissonante quando ocorre com
relação ao baixo, pois produz um acorde em segunda inversão, tipo de acorde que foi
considerado dissonante até meados do século XIX.
21
O acorde de passagem é aquele em que três vozes são conduzidas por graus conjuntos e a
voz restante se mantém estática, mantendo a nota comum entre os acordes. Assim, no
encadeamento G-D/A-G/B, tem-se o acorde de D/A como um acorde de passagem entre duas
formações do acorde de tônica, que se apresenta em estado fundamental e, posteriormente,
em primeira inversão.
22
Movimento retrógrado ou retrogradação ocorre quando um segmento melódico é executado
de trás para frente, ou seja, da última à primeira nota.
10
ascendente (lá-si). Esse salto (si-ré), porém, é deixado por um grau conjunto na
direção oposta (ré-dó), o que é uma boa compensação.
Entrementes, na segunda frase do baixo de nossa harmonização [cf. ex.
nº 1-11], ocorre um movimento de baixo perfeito: após o movimento de graus
conjuntos ascendentes (mi-fá#-sol), realiza-se um salto descendente (sol-dó)
que resolve em outro grau conjunto ascendente (dó-ré) e se dirige a um salto
descendente (ré-ré), resolvendo ascendentemente (ré-sol), no acorde final [cf.
ex. nº 1-11].
Exemplo nº 1-11
Exemplo nº 1-12
23
Como o processo realizado no baixo é uma bordadura, pode ser interpretado como sendo
somente uma transposição à quinta superior, porém, como o que está sendo analisado é a
relação entre o soprano e o baixo, o resultado é uma retrogradação transposta.
11
Exemplo nº 1-13
Exemplo nº 1-14
Exemplo nº 1-15
12
Exemplo nº 1-16
Exemplo nº 1-17
Exemplo nº 2-1
24
Para completar a escolha dos acordes, no sentido de definir as suas inversões, foi preciso
adentrar em critérios relativos à condução de vozes para definir as notas do baixo – esses
mesmos critérios serão aplicados para a composição das vozes de contralto e tenor.
25
Cruzamento de vozes ocorre quando uma voz mais grave se movimenta em um registro mais
agudo do que uma voz mais aguda (por ex.: se o tenor canta uma nota ré3 e, no mesmo
14
momento, o contralto canta um si2, estas vozes estão cruzando). O cruzamento de vozes
prejudica a noção de independência entre as partes e dificulta a percepção da disposição das
vozes na textura geral.
26
Acorde vazio é um termo que se utiliza para designar as tríades em que a terça foi suprimida,
isto é, em que há somente a fundamental e a quinta. Já o século XVI, se considerava que esse
tipo de acorde possuía sonoridade ‘gótica’, isto é, ‘bárbara’ ou ‘desajeitada’. A rejeição ao
acorde vazio permaneceu ao longo do Período Tonal, por lembrar a música antiga ou oriental.
27
Dobramento de uma nota de acorde ocorre quando uma mesma nota é executada por mais
de uma voz.
28
Supressão ocorre quando determinada nota de um acorde não está presente no conjunto
das quatro vozes.
29
Triplicação ocorre quando uma das notas de um acorde é executada por três vozes,
simultaneamente. Note-se que, na textura a quatro vozes, sempre que há triplicação de uma
das notas, outra nota será necessariamente suprimida.
15
Exemplo nº 2-2
30
A Série Harmônica é um conjunto de sons que aparecem simultaneamente quando se escuta
qualquer nota. Chama-se som fundamental à nota mais grave e mais proeminente da série
harmônica; os outros sons são chamados de parciais ou harmônicos superiores.
16
31
Há exceções a esse princípio acústico, dependendo da fonte sonora, isto é, a voz ou o
instrumento que produz o som. Por exemplo, no clarinete, os harmônicos ímpares são mais
proeminentes do que os harmônicos pares, o que produz outras relações harmônicas para a
definição da sonoridade dos acordes e para as inter-relações entre diferentes acordes.
32
Um acorde se encontra em posição aberta quando suas notas estão dispostas de maneira
que seria possível introduzir outras notas do mesmo acorde entre as notas que se encontram
em determinado ponto da música.
33
Posição fechada (ou cerrada) é aquela em que não é possível acrescentar nenhuma nota do
acorde entre as notas que estão dispostas na textura de determinado ponto musical.
17
Exemplo nº 2-3
Exemplo nº 2-4
ré3, posicionado à terça menor superior da nota si, ou ré2, que está à sexta
maior inferior da mesma nota. Se tomarmos o princípio do caminho mais curto,
a escolha recairia sobre a nota ré3, pois seria o menor intervalo entre si e ré
(terça menor). Com isso, a condução de vozes ficaria como segue no ex. nº 2-
5:
Exemplo nº 2-5
Exemplo nº 2-6
Exemplo nº 2-7
34
A escolha da nota ré, no tenor, também seria perfeitamente factível.
19
Exemplo nº 2-8
Exemplo nº 2-9
acorde não fica tão equilibrado acusticamente quanto aquele do exemplo 2-8,
pois o intervalo mais amplo está entre tenor e contralto, e não entre as duas
vozes inferiores (baixo e tenor), como seria o mais adequado de acordo com o
princípio deduzido da análise da série harmônica. De qualquer forma, esta
última resolução está corretamente realizada e a escolha por uma ou outra
dessas versões pode ser entendida apenas como o resultado de certa
intencionalidade ou gosto pessoal. Schoenberg, em seu Tratado de Harmonia,
por exemplo, desaconselha o princípio do ‘caminho mais curto’ por considerá-lo
como um critério sem justificativa de um ponto de vista estritamente musical.
De qualquer forma, sabe-se que esse preceito surgiu com o sentido de facilitar
a execução do canto, pois se sabe que cantar linhas melódicas em graus
conjuntos é mais fácil do que entoar uma melodia repleta de saltos.
Qualquer outra solução, na voz de tenor, incorreria em erro de condução
de vozes. Na solução apresentada no ex. nº 2-10(a), abaixo, ocorrem oitavas
paralelas entre as vozes de tenor e soprano; na solução do ex. nº 2-10(b), há
quintas ocultas35 entre baixo e tenor.
Exemplo nº 2-10
Exemplo nº 2-11
35
Chamaremos de ‘quintas ocultas’ e ‘oitavas ocultas’ aquelas quintas ou oitavas diretas em
que a voz superior se movimenta por salto, pois o salto na voz superior reforça a percepção
das quintas e oitavas e se torna indesejável para a realização de uma harmonização eufônica.
21
Exemplo nº 2-12
Exemplo nº 2-13
Exemplo nº 2-14
22
Exemplo nº 2-15
36
Contraponto Invertido (ou Contraponto Duplo) é um tipo de contraponto em que as vozes
mudam de posição, ou seja, a voz superior se torna mais grave e a voz inferior, mais aguda.
Quando a mudança da posição das vozes ocorre com base na mudança de oitava, chama-se
‘contraponto invertido à oitava’. Qualquer intervalo pode servir de base, produzindo
‘contraponto invertido à quinta’, ‘contraponto invertido à quarta’, ‘contraponto invertido à sexta’,
etc.
37
Entende-se por elisão o emprego de um elemento (uma nota, um acorde, etc.) com dupla
função, isto é, o mesmo elemento é utilizado para finalizar um segmento e para iniciar o
segmento seguinte. O termo vem da fonética, em que significa a eliminação de uma vogal
átona, no final de uma palavra, que se liga ao início do vocábulo seguinte, como, por exemplo,
ocorre em: minh’alma [minha alma], copo d’água [de água], dele [de ele], daqui [de aqui], etc.
38
Bicínio (latim: bicinium) é a combinação de duas vozes que são utilizadas como um par
contrapontístico, isto é, cada uma das partes do contraponto é formada não por uma, mas por
duas vozes, que são geralmente imitadas por outras duas. A técnica do bicínio foi bastante
aplicada ao longo do século XVI. O termo também era usado pelos luteranos para indicar
composições com apenas duas vozes.
23
Exemplo nº 2-16
Exemplo nº 2-17
Exemplo nº 2-18
39
Os acordes que não possuem notas comuns são aqueles cujas fundamentais se encontram
à distância de segunda (maior ou menor) entre si. No encadeamento de acordes sem notas
comuns, a condução de vozes se torna mais difícil.
24
Exemplo nº 2-19
Exemplo nº 2-20
40
Note-se que não há outra solução possível para o encadeamento do contralto, neste ponto:
dobrar a nota ré do soprano, em uníssono, implicaria em uníssono paralelo, o que é incorreto
quando se pretende produzir independência das vozes; conduzir o mi do contralto para o fá#
superior geraria cruzamento de vozes que prejudicaria a percepção da linha melódica do
soprano, pois a nota fá# apareceria como sendo a mais aguda; também não é possível realizar
o salto de sétima do mi para o fá# grave, pois seria um movimento melódico difícil de ser
entoado.
25
Exemplo nº 2-21
Exemplo nº 2-22
Exemplo nº 2-23
Exemplo nº 2-24
Exemplo nº 2-25
(entre tenor e soprano) e de quinta (entre baixo e contralto) são conduzidos por
movimento contrário (sendo que há um movimento de terça paralela entre
baixo e tenor e de sexta direta entre contralto e soprano – o que soa bastante
eufônico), conforme demonstra o exemplo nº 2-26:
Exemplo nº 2-26
Exemplo nº 2-27
Exemplo nº 2-28
Exemplo nº 3-1
Exemplo nº 3-2
Exemplo nº 3-3
Exemplo nº 3-4
Exemplo nº 3-5
Exemplo nº 3-6
Exemplo nº 3-7
Exemplo nº 3-8
Exemplo nº 3-9
Exemplo nº 3-10
Exemplo nº 3-11
Exemplo nº 3-12
Exemplo nº 4-1
Exemplo nº 4-2
Exemplo nº 4-3
Exemplo nº 4-4
Exemplo nº 4-5
Exemplo nº 4-6
42
Naturalmente, que se buscamos um caráter pesante, não há problema algum em deixar a
condução de vozes como está no exemplo nº 4-5; neste caso, poderíamos, inclusive,
acrescentar outros dobramentos desse tipo.
38
Exemplo nº 4-7
Exemplo nº 4-8
43
É importante notar que alguns tratados de harmonia consideram incorreto esse tipo de quinta
paralela quando aparece uma quinta diminuta antes de uma quinta justa (5ªd-5ªJ). Como este
tipo de movimento é comum na música coral de J. S. Bach (que é tomado como o modelo para
o estudo de harmonia em estilo coral), consideraremos correto o emprego de quintas paralelas
quando uma das quintas for diminuta.
44
A proporção entre duas freqüências que se relacionam por quinta diminuta é de 140/99 (se o
lá3 tem a freqüência de 440Hz, o mib4 terá a freqüência de 622Hz), ao passo que os intervalos
justos têm proporções mais simples: o intervalo de oitava justa tem a proporção de 2/1 (se
lá3=440Hz, então lá4=880Hz), a quinta justa tem a proporção de 3/2 (se lá3=440Hz, então
mi4=660Hz) e a quarta justa tem a proporção de 4/3 (se lá3=440Hz, então ré4=586Hz). Essas
relações entre os sons demonstram o nível de estabilidade ou de tensão dos intervalos que os
compõem. [Obs.: as freqüências não apresentam números decimais, isto é, estão anotados
apenas os números inteiros que compõem as freqüências].
39
Exemplo nº 4-9
Exemplo nº 4-10
Exemplo nº 4-11
Exemplo nº 4-12
45
Entende-se, por repetição, a reprodução de um trecho musical na mesma voz ou parte; por
imitação, entende-se a reprodução de um segmento musical em outra voz ou parte.
46
A inversão consiste na execução do mesmo padrão melódico, porém em direção oposta ao
modelo original. Assim, um intervalo de segunda maior ascendente será apresentado, na
inversão, como segunda maior descendente.
47
A posição métrica é o ponto do compasso em que determinada frase melódica é
apresentada. Considera-se que há três tipos de início: 1. tético, quando uma melodia inicia no
tempo forte do compasso; 2. acéfalo, quando a linha melódica inicia após o tempo forte, isto é,
quando se elimina o tempo forte inicial; 3. anacrúsico, quando a melodia inicia como
preparação para um tempo forte, ou seja, com anacruse. Há dois tipos de desinência: 1.
desinência masculina, aquela que termina em um tempo forte; 2. desinência feminina, que
41
Exemplo nº 4-13
finaliza em tempo fraco. Para evitar terminologia sexista, atualmente podem-se empregar as
expressões: terminação forte e terminação fraca.
48
Seria impossível manter a bordadura inferior, pois incorreria em erro de condução de vozes
(quintas paralelas).
49
Deslocamento métrico ocorre quando um trecho melódico é apresentado pela primeira vez
em determinada posição métrica (início tético, acéfalo ou anacrúsico; terminação forte ou fraca)
e posteriormente é repetido ou imitado em outra posição métrica. Por exemplo, se um tema é
apresentado com início tético – | | – e é reapresentado (repetido ou imitado) com início
acéfalo – | | –, considera-se que há deslocamento métrico.
50
No século XVIII, por exemplo, foi bastante difundido o princípio estético de “variedade na
unidade e unidade na variedade”.
42
Exemplo nº 4-14
51
Imitação em stretto consiste na imitação de determinado trecho melódico antes que tenha
sido exposto por inteiro, isto é, a resposta inicia enquanto a proposta ainda está sendo
apresentada. No ex. nº 4-15(a), o motivo imitado está assinalado por colchetes.
52
Ponto de imitação é o fragmento melódico imitado em diferentes vozes.
53
Contraponto livre consiste na livre combinação das vozes, sem a presença de uma cantus
firmus, de um ponto de imitação e sem o emprego da técnica do contraponto invertido. Note-se
que, no ex. nº 4-15(b), o contraponto livre ocorre apenas entre as vozes de contralto e tenor,
pois a melodia coral Freu dich sehr aparece como um cantus firmus, no soprano.
43
Exemplo nº 4-15
Exemplo nº 4-16
54
Neste caso, a nota ré do contralto está escrita como semínima pontuada, em vez de ser uma
mínima ligada a uma semínima.
44
Exemplo nº 4-17
Exemplo nº 4-18
Exemplo nº 4-19
Exemplo nº 4-20
47
Exemplo nº 4-21
Exemplo nº 4-22
Exemplo nº 4-23
No exemplo nº 4-23, acima, em (a), a nota sol do tenor, que está escrita
como mínima, é atacada como uma resolução da suspensão anterior (nota lá
do acorde de D), porém quando essa nota sol permanece ligada, ela é nota
real do acorde de C e, por essa razão, não é uma suspensão. Neste caso, a
síncope é o resultado do princípio de acrescentar ligaduras em notas comuns
entre acordes. No exemplo nº 4-24, se explica o processo: em (a), se percebe
que a nota sol é atacada como resolução da nota lá suspensa do acorde
anterior; em (b), a nota sol é a quinta do acorde de C; em (c) a repetição da
mesma nota (sol) é ligada, conforme princípio já mencionado anteriormente;
em (d) se escreve a ligadura de semínimas como uma mínima. É assim que
está escrito no exemplo nº 4-23.
Exemplo nº 4-24
Exemplo nº 4-25
Exemplo nº 4-26
Exemplo nº 4-27
Exemplo nº 4-28
Exemplo nº 4-29
51
Exemplo nº 4-30
55
Nos outros tipos de ornamentação (nota de passagem, bordadura, antecipação, escapada e
cambiata), a dissonância é apresentada no tempo fraco ou na parte fraca do tempo.
52
Exemplo nº 4-31
Exemplo nº 4-32
Exemplo nº 4-33
Exemplo nº 4-34
Exemplo nº 4-35
55
Com o que foi discutido acima, percebe-se que são possíveis várias
soluções para a ornamentação das diferentes vozes, aplicando somente um
tipo de ornamentação (notas de passagem, bordaduras, suspensões, etc.) ou
combinando diferentes tipos. O exemplo nº 4-36, abaixo, ilustra uma das
inúmeras possibilidades de combinação de vários tipos de ornamentação
melódica que foram discutidas neste capítulo. As notas ornamentais estão
indicadas por meio de abreviaturas: nota de passagem: [np]; bordadura: [b];
suspensão [sus]; retardo [ret]; apojatura [ap]; antecipação [ant]; escapada:
[esc]; cambiata: [cam].
Exemplo nº 4-36
56