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Literatura Brasileira

Brasília-DF.
Elaboração

Marcelo Whately Paiva

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação................................................................................................................................... 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa...................................................................... 5

Introdução...................................................................................................................................... 7

Unidade i
a primeira fase da literatura brasileira........................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
Quinhentismo....................................................................................................................... 9

Capítulo 2
Barroco............................................................................................................................. 15

Capítulo 3
Arcadismo.......................................................................................................................... 20

Unidade iI
a segunda fase da literatura brasileira........................................................................................ 23

Capítulo 1
Romantismo....................................................................................................................... 23

Capítulo 2
Realismo e Naturalismo..................................................................................................... 34

Capítulo 3
Parnasianismo e Simbolismo............................................................................................. 39

Capítulo 4
Pré-Modernismo................................................................................................................ 46

Capítulo 5
Modernismo....................................................................................................................... 49

Unidade iII
a terceira fase da literatura brasileira......................................................................................... 54

Capítulo 1
Tendências Contemporâneas........................................................................................... 54

PARA (NÃO) FINALIZAR....................................................................................................................... 57

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 58
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

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Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
O estudo da Literatura é fascinante, enriquecedor e essencial à existência. Geralmente, aprendemos
o conteúdo dos movimentos literários e a síntese da vida e obra dos principais autores. Isso é muito
pouco. Literatura não se resume a decorar datas e nomes para uma prova ou vestibular.

Logo ao me formar na graduação, fui convidado a escrever um livro sobre a Vida e a Obra de
Machado de Assis, por uma editora de São Paulo. Eu tinha apenas 21 anos. O objetivo do livro era
servir de base para alunos do Ensino Superior em todo o Brasil. Vendeu muito na época e a editora
então me convidou a escrever sobre outros autores. Foi meu início de carreira como escritor. Ao
reler o texto há poucos meses, vi como minha capacidade de entender a mensagem de Machado era
estreita e incapaz de abranger aspectos tão profundos em seus textos, que hoje percebo com muito
mais clareza.

Assim, espero que a disciplina Literatura Brasileira seja apenas uma porta de entrada para
universos mais profundos e encantadores. Ao estudarmos as escolas e os autores, teremos datas,
características e autores como referência. Peço, no entanto, que realmente pesquisem, leiam mais
os textos originais sem a preocupação de apenas decorar para as avaliações.

A Literatura amplia nossa visão e possibilita a compreensão de diversos aspectos sociais, humanos,
espirituais, políticos, existenciais etc. Espero sinceramente que a literatura possa abrir seu coração
e sua mente para a própria vida.

Objetivos
»» Conhecer as principais características das escolas literárias no Brasil.

»» Conhecer os principais autores, suas obras e influências.

»» Relacionar a literatura às características sociais, políticas, culturais e econômicas


de cada época.

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a primeira fase
da literatura Unidade i
brasileira

CAPÍTULO 1
Quinhentismo

O termo Literatura vem do latim litterae que significa “letras”. Em seu sentido original,
significa uma instrução ou um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler
bem, e se relaciona com as artes da gramática, da retórica e da poética. Por extensão,
refere-se especificamente à arte ou ao ofício de escrever de forma artística.

A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada


através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que
são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a
viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade
de onde proveio. Os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade
primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos de
outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela
história ou pelo social.

O artista literário cria ou recria um mundo de verdades que não são mensuráveis
pelos mesmos padrões das verdades fatuais. Os fatos que manipula não têm
comparação com os da realidade concreta. São as verdades humanas gerais, que
traduzem antes um sentimento de experiência, uma compreensão e um julgamento
das coisas humanas, um sentido da vida, e que fornecem um retrato vivo e insinuante
da vida, o qual sugere antes que esgota o quadro.

A Literatura é, assim, a vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito
entre uma e outra. Por meio das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas
suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades
da mesma condição humana.

(AFRÂNIO COUTINHO)

Literatura é uma arte e, por meio dela, o homem transmite, mediante a linguagem carregada de
estilística, temas subjetivos, objetivos, culturais, sociais que sintetizam e expressam a própria
experiência do ser humano. A literatura remete-nos à reflexão e à contemplação.

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UNIDADE I │ A PRIMEIRA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

No Brasil, a literatura pode ser dividida, inicialmente, em três fases: o período colonial, o nacional
e o contemporâneo. Na primeira fase, pode-se incluir Quinhentismo, Barroco, Arcadismo. Na
segunda fase, Romantismo, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, Pré-Modernismo
e Modernismo. Finalmente, os autores e as tendências contemporâneas.

A literatura brasileira em datas

ANO FATO CONSEQUÊNCIA

1500 Carta de Pero Vaz de Caminha. Primeira manifestação da literatura informativa.

1549 Cartas do jesuíta Manoel da Nóbrega. Primeira manifestação da literatura dos jesuítas.

1601 Bento Teixeira publica Prosopopeia. Início do Barroco.

1633 Padre Antônio Vieira começa a se expressar publicamente.

1705 Publicação de Música do Parnaso, de Manoel Botelho de Primeiro livro impresso de autor nascido no Brasil.
Oliveira.
1768 Fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica, Minas Gerais. Início do Arcadismo.
Publicação das Obras, de Cláudio Manuel da Costa.
1808 Chegada da Família Real ao Rio de Janeiro. Início do período de transição.
1836 Publicação do livro Suspiros Poéticos e Saudades, de Início do Romantismo.
Gonçalves de Magalhães.
1843 Gonçalves Dias escreve, em Coimbra, a Canção do Exílio.
1857 José de Alencar publica o romance indianista O Guarani.
1868 Castro Alves escreve, em São Paulo, suas principais poesias
sociais, entre elas: Estrofes do Solitário, Navio Negreiro, Vozes
d'África.
1870 Tobias Barreto lidera movimento de realistas. Primeiras manifestações na Escola de Recife.
1881 Publicação de O mulato, de Aluízio de Azevedo. Primeiro romance naturalista do Brasil.
1881 Publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Primeiro romance realista do Brasil e início do
Machado de Assis. Realismo.
1893 Publicação de Missal (prosa) e Broquéis (poesia), de Cruz e Início do Simbolismo.
Souza.
1902 Publicação de Os Sertões, de Euclides da Cunha. Início do Pré-Modernismo.
1917 Menotti del Picchia publica Juca Mulato; Manuel Bandeira Modernismo – Primeira Geração
publica Cinzas das horas; Mário de Andrade publica Há
uma gota de sangue em cada poema; Anita Malfatti faz sua
primeira exposição de pinturas; Monteiro Lobato critica a
pintora e os jovens que a defendem são os mesmos que,
posteriormente, participariam da Semana de Arte Moderna.
1922 Realização da Semana de Arte Moderna, com três
espetáculos no Teatro Municipal de São Paulo em 13, 15
e 17 de fevereiro. Mário de Andrade recebe intensa vaia ao
declamar poesias de seu livro Pauliceia desvairada.
1930 Publicação de Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Segunda geração do Modernismo.
Andrade.

1945 A Geração de 45. Considerada a terceira geração do Modernismo.

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a primeira fase da literatura brasileira │ UNIDADE I

Quinhentismo
Embora não seja considerado por muitos estudiosos como escola literária, o período denomina
as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI e corresponde à introdução
da cultura europeia em terras brasileiras. Certamente, não se trata de uma literatura do Brasil,
mas sim em literatura “no” Brasil. Uma literatura que denota as ambições e as intenções do
homem europeu em território brasileiro. Os textos produzidos referem-se a informações do
momento histórico com interesses claramente materiais e uma literatura dos jesuítas no trabalho
de catequese.

Com exceção da Carta de Pero Vaz de Caminha, considerada o primeiro documento da literatura
no Brasil, as principais crônicas da literatura informativa datam da segunda metade do século XVI,
fato compreensível, já que a colonização só pode ser contada a partir de 1530. A literatura jesuítica,
por seu lado, também caracteriza o final do Quinhentismo, tendo esses religiosos pisado o solo
brasileiro somente em 1549.

A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, reflexo das
grandes navegações, empenha-se em fazer um levantamento da terra nova, de sua flora, fauna, de
sua gente. É, portanto, uma literatura meramente descritiva e, como tal, sem grande preocupação
literária. Encontra-se nos textos farta exaltação da terra, resultante do assombro do europeu que
vinha de um mundo temperado e se defrontava com o exotismo e a exuberância de um mundo
tropical. Com relação à linguagem, o louvor à terra aparece no uso exagerado de adjetivos, quase
sempre empregados no superlativo.

O melhor exemplo da escola quinhentista brasileira é Pero Vaz de Caminha. Sua “Carta ao El Rei
Dom Manuel sobre o achamento do Brasil”, além do inestimável valor histórico, é um trabalho de
bom nível literário. O texto da carta mostra claramente o duplo objetivo que, segundo Caminha,
impulsionava os portugueses para as aventuras marítimas, isto é, a conquista dos bens materiais e
a dilatação da fé cristã. Observe a descrição dos índios:

A feição deles é parda, algo avermelhada; de bons rostos e bons narizes. Em


geral são bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor
caso de cobrir ou mostrar suas vergonhas, e nisso são tão inocentes como
quando mostram o rosto. Ambos traziam o lábio de baixo furado e metido nele
um osso branco, do comprimento de uma mão travessa* e da grossura de um
fuso de algodão. [...].

Os cabelos deles são corredios. E andam tosquiados, de tosquia alta [...] Quando
eles vieram a bordo o Capitão (Cabral) estava sentado em uma cadeira, bem
vestido, com um colar muito grande no pescoço e tendo aos pés, por estrado,
um tapete. E eles entraram sem qualquer sinal de cortesia ou de desejo de
dirigir-se ao Capitão ou a qualquer outra pessoa presente, em especial. Todavia,
um deles fixou o olhar no colar do Capitão e começou a acenar para a terra,
como querendo dizer que ali havia ouro. [...] Mostraram-lhes um papagaio
pardo que o Capitão traz consigo: pegaram-no logo com a mão e acenavam
para a terra, como a dizer que ali os havia. Mostraram-lhes um carneiro: não

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UNIDADE I │ A PRIMEIRA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

fizeram caso dele; uma galinha: quase tiveram medo dela – não lhe queriam
tocar, para logo depois pegá-la, com grande espanto nos olhos.

Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, bolos, mel e figos
passados. Não quiseram comer quase nada de tudo aquilo. E se provaram
alguma coisa, logo a cuspiam com nojo. Trouxeram-lhes vinho numa taça, mas
apenas haviam provado o sabor, imediatamente demonstraram não gostar e
não mais quiseram.

Os jesuítas
A principal preocupação dos jesuítas era o trabalho de catequese, objetivo que determinou toda a
sua produção literária, tanto na poesia quanto no teatro. Mesmo assim, do ponto de vista estético,
foi a melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, os jesuítas
cultivaram o teatro de caráter pedagógico, baseado em trechos bíblicos, e as cartas que informavam
aos superiores na Europa sobre o andamento dos trabalhos na colônia.

Não se pode comentar, no entanto, a literatura dos jesuítas sem referências ao que o padre José
de Anchieta representa para o quinhentismo brasileiro. Chamado pelos índios de Grande Piahy
(supremo pajé branco), Anchieta veio para o Brasil em 1553 e, no ano seguinte, fundou um colégio
no planalto paulista, a partir do qual surgiu a cidade de São Paulo.

Ao realizar um exaustivo trabalho de catequese, José de Anchieta deixou uma fabulosa herança
literária: a primeira gramática do tupi-guarani, insuperável cartilha para o ensino da língua dos
nativos; várias poesias no estilo do verso medieval; e diversos autos, segundo o modelo deixado
pelo poeta português Gil Vicente, que agrega à moral religiosa católica os costumes dos indígenas,
sempre com a preocupação de caracterizar os extremos, como o bem e o mal, o anjo e o diabo.

Principais autores
José de Anchieta: nasceu na ilha de Tenerife (Canárias), em 1534. Estudou em Coimbra e
ingressou na Companhia de Jesus em 1551. Dois anos depois, ainda noviço, vem para o Brasil na
comitiva de Duarte da Costa, segundo governador geral, com o intuito de catequizar os índios.
Em 25 de janeiro de 1554, funda, com Manuel da Nóbrega, um colégio em Piratininga. Aos
poucos se forma um povoado ao redor do colégio, batizado por José de Anchieta como São Paulo.
Algum tempo depois, é enviado a São Vicente, onde aprendeu a língua tupi. Em 1563, foi refém,
durante cinco meses, dos índios tamoios. Nesse período escreve o poema em latim De Beata
Virgine Dei Matre Maria e vários autos religiosos. Já doente muda-se para o Espírito Santo,
onde morre aos 63 anos, na cidade de Reritiba, atual Anchieta. Em 1980, foi beatificado pelo papa
João Paulo II.

Sua obra é extensa e composta por autos, cartas e poesias de cunho religioso. Além disso, resultante
do seu trabalho de catequese, escreveu Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil,
primeira gramática da língua tupi-guarani. A poesia escrita por José Anchieta está impregnada de

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a primeira fase da literatura brasileira │ UNIDADE I

conceitos morais, espirituais e pedagógicos. Por isso, sua linguagem é simples, apesar de ser escrita
em redondilhas menores (cinco sílabas poéticas).

Os vários autos de Anchieta têm um valor literário muito menor que sua poesia. De caráter
extritamente pedagógico, esses autos foram escritos em português e em tupi, dependendo do grau
de compreensão do público a ser catequizado. Além disso, esses autos, ainda influenciados pelo
modelo medieval deixado por Gil Vicente, misturam a moral religiosa católica aos costumes dos
índios e se materializam nas figuras de anjos ou demônios, o bem e o mal.

Nos endereços eletrônicos, a seguir, você encontra mais informações e textos do


autor:

<http://www.sampa.art.br/biografias/padreanchieta/>

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_Anchieta>

<http://www.mundocultural.com.br/index.asp?url=http://www.mundocultural.
com.br/literatura1/informativa/anchieta.htm>

<http://urs.bira.nom.br/autor/ursb/ed000063.htm>

<http://www.secrel.com.br/Jpoesia/janc01.html>

<http://www.secrel.com.br/Jpoesia/janc02.html>

<http://br.geocities.com/poesiaeterna/poetas/josedeanchieta.htm#POEMA%20
DA%20VIRGEM>

< ht t p : / / b r. g e o c i t i e s. co m / p o e s i a e te r n a / p o e t a s / j o s e d e a n c h i e t a . ht m #
COMPAIXÃO%20DA%20VIRGEM%20NA%20MORTE%20DO%20FILHO>

Manuel da Nóbrega: nasceu em Entre-Douro-e-Minho (Portugal) e foi chefe da primeira missão


de jesuítas à América. Suas cartas são documentos históricos sobre o Brasil colonial e a ação jesuítica
no século XVI. Estudou na Universidade de Salamanca e fez bacharelado em direito canônico e
filosofia pela Universidade de Coimbra. Ordenado pela Companhia de Jesus (1544), embarcou na
armada de Tomé de Sousa (1549), de quem foi amigo e conselheiro, como também o foi de Mem de
Sá, a serviço da coroa portuguesa, com a missão de dedicar-se à catequese dos índios na colonização
do Brasil. Participou da fundação de Salvador e do Rio de Janeiro e também na luta contra os
franceses como conselheiro de Mem de Sá. Teve o mérito de estimular a conquista do interior da
colônia. Fundou o Colégio São Paulo, que daria origem à cidade de São Paulo. Juntou-se a Anchieta,
com quem iniciou o trabalho de pacificação dos tamoios que retiraram seu apoio aos invasores
franceses, sendo estes finalmente derrotados.

Nos endereços eletrônicos, a seguir, você encontra mais informações e textos do


autor:

<http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u517.jhtm>

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_da_N%C3%B3brega>

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UNIDADE I │ A PRIMEIRA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

<http://www.mundocultural.com.br/index.asp?url=http://www.mundocultural.
com.br/literatura1/informativa/nobrega.htm>

<http://www.brasilescola.com/biografia/manuel-da-nobrega.htm>

<http://pt.shvoong.com/books/biography/1660449-padre -manuel- da-


n%C3%B3brega-vida/>

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Capítulo 2
Barroco

O início do Barroco no Brasil ocorreu em 1601, com a publicação do poema épico Prosopopeia,
de Bento Teixeira, consequência da influência do estilo que predominava na Península Ibérica,
dominada pela Espanha. O termo “barroco” advém da palavra portuguesa homônima que significa
“pérola imperfeita”, ou por extensão, joia falsa. A palavra foi rapidamente introduzida nas línguas
francesa e italiana. Esse período literário é também conhecido como a arte da contrarreforma, pois
ocorre em momento de grande disputa religiosa em todo o mundo. Daí, a característica marcante da
dualidade, da oposição, da incerteza que marcam a literatura.

Historicamente, é o momento em que Portugal perde sua autonomia para a Espanha e vive de
conflito político e social e sem uma liderança. Dois reinos e apenas um rei. Por sua vez, a Espanha
se encontra em um momento rico em sua cultura com autores com Gôngora, Quevedo, Miguel de
Cervantes etc. A Espanha acaba por influenciar toda a Europa nas artes e na literatura. Esse estilo
também se faz sentir nos autores brasileiros.

Em 1640, Portugal iniciou a empreitada na reconquista da posição no cenário europeu após


libertar-se do domínio espanhol. Assim, D. João IV, da dinastia de Bragança, sobe ao trono e busca
recuperar parte das colônias perdidas. Como se percebe, foi um período de intensa agitação social,
com esforços permanentes em busca do restabelecimento da vida econômica, política e cultural.

No Brasil, o período foi marcado por novas diretrizes na política de colonização, e estabeleceram-se
os engenhos de cana-de-açúcar na Bahia. Salvador, como capital do Brasil, transformou-se em um
núcleo populacional importante, e como consequência, um centro cultural que, mesmo timidamente,
fez surgir grandes figuras, como Gregório de Matos.

Características
Conflito espiritual e temas opostos: o homem barroco sente-se dilacerado e angustiado diante
da alteração dos valores, dividindo-se entre o mundo espiritual e o mundo material. As figuras que
melhor expressam esse estado de alma são a antítese e o paradoxo. Observe o texto a seguir de
Gregório de Matos.

Nasce o sol, e não dura mais que um dia.

Depois da Luz se segue a noite escura,

Em tristes sombras morre a formosura,

Em contínuas tristezas a alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?

Se é tão formosa a Luz, por que não dura?

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UNIDADE I │ A PRIMEIRA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

Como a beleza assim se transfigura?

Como o gosto da pena assim se fia?

......................................................................

Começa o Mundo enfim pela ignorância,

E tem qualquer dos bens por natureza

A firmeza somente na inconstância.

O tema da fugacidade do tempo, da incerteza da vida, é desenvolvido por meio de um jogo de


imagens e ideias que se contrapõem, em um sistema de oposições: nasce x não dura; luz x noite
escura; tristes sombras x formosura; acaba x nascia.

Efemeridade do tempo: o homem barroco tem consciência de que a vida terrena é efêmera,
passageira. Assim, é preciso pensar na salvação espiritual. Mas, já que a vida é passageira, sente, ao
mesmo tempo, desejo de gozá-la antes que acabe, o que resulta em um sentimento contraditório,
já que gozar a vida implica pecar, e se há pecado, não há salvação. Observe outro texto de Gregório
de Matos.

Discreta e formosíssima Maria,

Enquanto estamos vendo claramente,

Na vossa ardente vista o sol ardente,

E na rosada face a aurora fria.

Enquanto pois produz, enquanto cria

Essa esfera gentil, mina excelente

No cabelo o metal mais reluzente,

E na boca a mais fina pedraria.

Gozai, gozai da flor da formosura,

Antes que o frio da madura idade

Tronco deixe despido, o que é verdura.

Que passado o zênith da mocidade,

Sem a noite encontrar da sepultura,

É cada dia ocaso da beldade.

Cultismo: caracterizado pela linguagem rebuscada, culta, extravagante; pela valorização do


pormenor mediante jogos de palavras, com visível influência do poeta espanhol Luís de Gôngora; daí
o estilo ser também conhecido como Gongorismo. Percebe-se, claramente, o abuso no emprego de
figuras de linguagem como as metáforas, antítese, hipérboles, hipérbatos, anáforas, paronomásias
etc. Observe o texto de Gregório de Matos.

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a primeira fase da literatura brasileira │ UNIDADE I

O todo sem a parte não é o todo;

A parte sem o todo não é parte;

Mas se a parte o faz todo, sendo parte,

Não se diga que é parte, sendo o todo.

Em todo o Sacramento está Deus todo,

E todo assiste inteiro em qualquer parte,

E feito em partes todo em toda a parte,

Em qualquer parte sempre fica todo.

Conceptismo: é marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico,


racionalista, que utiliza uma retórica aprimorada. Um dos principais cultores do conceptismo foi o
espanhol Quevedo, de onde deriva o termo Quevedismo. Os Conceptistas pesquisavam a essência
íntima dos objetos, buscando saber o que são, visando à apreensão da face oculta, apenas acessível
ao pensamento, ou seja, aos conceitos; assim a inteligência, a lógica e o raciocínio ocupam o lugar
dos sentidos, impondo a concisão e a ordem, onde reinavam a exuberância e o exagero. Assim,
é usual a presença de elementos da lógica formal. O silogismo, por exemplo, que apresenta uma
dedução formal tal que, postas duas proposições, chamadas premissas, delas se tira uma conclusão.
Exemplo de silogismo: todo homem é mortal (premissa maior); José é homem (premissa menor);
José é mortal (conclusão). Observe o silogismo na obra de Gregório de Matos.

Mui grande é o vosso amor e o meu delito;

Porém pode ter fim todo o pecar,

E não o vosso amor, que é infinito.

Essa razão me obriga a confiar.

Que, por mais que pequei, neste conflito.

Espero em vosso amor de me salvar.

Esses versos encobrem a formulação silogística, como segue: o amor infinito de Cristo salva o pecador
(premissa maior); eu sou um pecador (premissa menor); logo, eu espero salvar-me (conclusão).
Também o sofisma, que é uma forma de usar conceitos para se chegar a um pensamento inadequado
faz parte do conceptismo.

Principais autores
Bento Teixeira: as informações biográficas a respeito do autor são incertas. Sabe-se que era
cristão-novo e deve ter vindo muito jovem para o Brasil. Estudou no Colégio da Bahia, onde
também ensinou. Por ter assassinado a esposa, fugiu para Pernambuco e passou a trabalhar como

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UNIDADE I │ A PRIMEIRA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

mestre-escola. Foi acusado de práticas judaicas e preso em Olinda, em 1594. Processado pela
Inquisição, foi mandado para Lisboa, em 1595, para julgamento. Confessou e foi condenado, em 1599.
Morreu em 1600, pouco depois de renegar o judaísmo e ser solto. Bento Teixeira foi escritor de apenas
um poema, Prosopopeia, publicado um ano após sua morte. É uma obra encomiástica, ou seja, em
homenagem ou louvação ao donatário da capitania de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho.
O autor precisava assegurar a simpatia e a aprovação das autoridades, pois era fugitivo. Desse modo,
elogia a administração do donatário, que realmente prosperou, devido ao investimento no plantio
de cana-de-açúcar. A importância de Prosopopeia está mais no fato de ser a poesia inaugural do
nativismo grandiloquente do Brasil, do que propriamente pelo valor literário. É um pequeno poema
épico (94 estrofes), escrito em oitavas heroicas, semelhante ao épico camoniano Os Lusíadas.

Gregório de Matos Guerra: nasceu por volta de 1636, em Salvador, em família com
boa situação financeira. Em 1651, foi para Portugal, onde ingressou, no ano seguinte, na
Universidade de Coimbra. Formando-se em 1661, casou-se com Micaela de Andrade e
ocupou vários cargos na magistratura portuguesa. Sua esposa faleceu e resolveu retornar
ao Brasil, abatido e desiludido. Em Salvador, levou uma vida desregrada, improvisando
poemas acompanhados de viola e satirizando os poderosos. Seus textos criticavam
políticos e mostravam a dualidade na moralidade aparente da sociedade de Salvador.
Casou-se com Maria dos Povos e foi banido, provavelmente em 1694, para Angola. Um ano
depois, voltou ao Brasil, mas, impedido de regressar a Salvador, foi para Recife, onde morreu no
ano seguinte. Há muitas dúvidas tanto sobre sua vida quanto sobre a autoria real de muitos dos
poemas a ele atribuídos.

Manuel Botelho de Oliveira: nasceu em Salvador e foi estudar Direito na Universidade de


Coimbra (Portugal). De volta ao Brasil, passou a exercer a advocacia e foi, também, político. Em
1694, tornou-se capitão-mor dos distritos de Papagaio, Rio do Peixe e Gameleira, cargo obtido em
função de empréstimo de 22 mil cruzados para a criação da Casa da Moeda na Bahia. Em 1705,
ocorreu em Lisboa a publicação de seu Música do Parnasso, o primeiro livro impresso de autor
nascido no Brasil. Poeta barroco, Manuel Botelho de Oliveira conviveu com Gregório de Matos e
versou sobre os temas correntes da poesia de seu tempo.

Frei Manuel de Santa Maria Itaparica: são poucas as informações sobre sua vida. Sabe-
se que foi professor na Ordem dos Frades Menores, no convento de Cabaceiras do Paraguaçu, e
dedicou-se, mais tarde, ao púlpito. É autor de Eustáquios, poema sacro e tragicômico, que contém
a vida de Santo Eustáquio Mártir, chamado antes Plácido (latim: Placidvs) e de sua mulher e filhos,
que foi publicado sem data, sem indicação de local nem autoria. A obra destaca a descrição do inferno
e a narrativa dos sonhos no qual o Brasil é descrito em uma época anterior ao seu descobrimento.

Padre Antônio Vieira: foi um grande e produtivo escritor do barroco em língua portuguesa.
Escreveu 200 sermões, entre os quais pode-se destacar o “Sermão da Sexagésima”, cerca de 500
cartas e profecias que reuniu no livro Chave dos Profetas, que nunca acabou. A família Vieira veio
para o Brasil e fixou residência em Salvador, na Bahia, quando Antônio tinha 6 anos. Seu pai era
funcionário do império português. Aos 15 anos, ingressou na Companhia de Jesus. Formou-se noviço
e estudou Lógica, Física, Metafísica, Matemática e Economia. Lecionou humanidades e retórica,
em Olinda, e foi ordenado sacerdote, na Bahia. Aos 33 anos, voltou a Portugal com uma comissão

18
a primeira fase da literatura brasileira │ UNIDADE I

de apoio ao novo rei Dom João IV. Nessa época, Portugal passava pela guerra da Restauração da
Coroa contra a Espanha. Existiam ainda conflitos contra a Holanda, França e Inglaterra. Em 1643,
Vieira foi designado pelo rei Dom João IV para negociar a reconquista das colônias. Suas propostas
eram conciliar Portugal e Holanda e entregar a província de Pernambuco aos holandeses a título
de indenização; reunir em Portugal os cristãos-novos, isto é, os judeus que estavam espalhados
pela Europa, e protegê-los da inquisição. Em troca, os judeus investiriam nos empreendimentos do
Império Português. Consideradas absurdas, suas ideias foram rejeitadas e Vieira retornou ao Brasil
estabelecendo-se ao norte do Maranhão. Os dois primeiros volumes dos Sermões foram publicados
em Madri, em 1644, mas a edição estava tão ruim que Vieira não a reconheceu como legítima. Em
1661, Padre Vieira foi obrigado a deixar o Maranhão, pressionado pelos senhores de escravos que
não concordavam com suas posições contrárias à escravidão indígena. Voltou para Lisboa, onde foi
condenado pela inquisição em virtude de seus manuscritos “heréticos”: Quinto Império; História
do Futuro e Chave dos Profetas. De 1665 a 1667 ficou preso em Coimbra. Em 1669, foi anistiado e
seguiu para Roma onde ficou até 1676 sob a proteção da Rainha Cristina da Suécia. Dez anos depois,
foi publicado oficialmente o primeiro volume dos Sermões em Lisboa. Em 1681, voltou ao Brasil
onde passou a dedicar-se à literatura. Padre Antônio Vieira morreu aos 89 anos, na Bahia.

19
Capítulo 3
Arcadismo

O Arcadismo é o período literário que ocorreu após a superação dos conflitos espirituais do
Barroco. A época ficou conhecida como Iluminismo ou século das luzes e foi marcado por intenso
desenvolvimento científico e filosófico. A burguesia se enriquece muito com a Revolução Industrial,
que provocou grandes transformações nas estruturas econômicas. A Revolução Francesa, o
primeiro grande trunfo político da classe burguesa, provocou também grandes transformações
sociais e se espalha pelo mundo. Esse movimento foi uma retomada aos modelos clássicos
greco-latinos e aos modelos do renascimento-classicismo. O Arcadismo também é considerado como
o Neoclassicismo.

A escola literária coincide com o ciclo do ouro no Brasil. Minas Gerais – notadamente Vila Rica – era
o centro econômico e cultural do Brasil. Entre os fatos históricos dessa época, podemos mencionar:
nomeação do Marquês de Pombal como Ministro do rei D. José I; expulsão dos jesuítas de Portugal
e dos domínios portugueses pelo Marquês de Pombal, que provocou o enfrentamento da influência
religiosa no campo cultural; Conjuração Mineira e condenação de Tiradentes. A economia da
mineração promove o surgimento de uma pequena classe média. O gosto pela literatura torna-se
símbolo de muita cultura e prestígio na sociedade.

O período árcade tem início com a publicação de Obras Poéticas (1769), de Cláudio Manuel
da Costa, e termina com a publicação, em Paris, da obra “Suspiros Poéticos e Saudades”, de
Gonçalves de Magalhães (1836). Alguns professores incluem um perído pré-romântico entre
1808 e 1836.

São características predominantes do Arcadismo: equilíbrio, clareza, simplicidade, predomínio


da razão, bucolismo (campo), pastoralismo, imitação da natureza (mímese). A subjetividade
perde sua força para uma expressão racional e objetiva. Característica clara do arcadismo era a
oposição ao estilo barroco. O poeta, desse movimento, era mais um pintor de situações que de
emoções. As inspirações da poesia árcade são sintetizados em frases latinas extraídas de autores
clássicos:

»» carpem diem (aproveita o dia) – desejo de fruição dos prazeres da vida;

»» aurea mediocritas (mediania de ouro) – ideal de herói simples, humilde e honrado;

»» locus amoenus (lugar ameno) – a natureza aprazível e dedicada. Único lugar onde
o homem poderia ser feliz;

»» fugere urbem, sequi naturam (fugir da cidade, seguir a natureza) – opção pela vida
campestre em oposição à vida citadina;

»» inutilia truncat (tirar o inútil) – contra os exageros, o rebuscamento, a extravagância


do Barroco.

20
a primeira fase da literatura brasileira │ UNIDADE I

Principais autores
Cláudio Manuel da Costa: foi jurista e poeta luso-brasileiro da época colonial. Tornou-se
conhecido tanto por sua obra poética quanto por seu envolvimento na Inconfidência Mineira. Foi
advogado de prestígio, fazendeiro abastado, cidadão ilustre, pensador de mente aberta e mecenas do
Aleijadinho. Com 20 anos embarcou para Portugal, com destino a Coimbra, para estudar cânones.
Entre 1753 e 1754, voltou ao Brasil e dedicou-se à advocacia em Vila Rica (hoje Ouro Preto). Por
incumbência da Câmara de Ouro Preto, elaborou “carta topográfica de Vila Rica e seu termo”.
Por seu profundo conhecimento e credibilidade, exerceu uma espécie de magistério literário na
época. No entanto, aos 60 anos, foi comprometido na chamada Conjuração Mineira. Preso e, para
alguns, apavorado com as consequências da tremenda acusação de réu de inconfidência, morreu em
circunstâncias obscuras, em Vila Rica, no dia 4 de julho de 1789, quando teria se suicidado na prisão.
Os registros da trajetória da vida de Cláudio revelam uma bem-sucedida carreira no campo político,
literário e profissional. Até hoje, no entanto, paira sobre ele a suspeita de ter sido um miserável
covarde que traiu os amigos e se suicidou na prisão. Outros negam até a própria relevância da sua
participação na Inconfidência Mineira e o consideram apenas um observador do movimento.

Tomás Antônio Gonzaga: nasceu na cidade do Porto, em Portugal. Passou parte da infância
no Recife e na Bahia, onde o pai servia na magistratura e, adolescente, retornou a Portugal para
completar os estudos e se matriculou na Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso de
Direito aos 24 anos. Exerceu alguns cargos de natureza jurídica e candidatou-se a uma cadeira na
Universidade de Coimbra, apresentando a tese Tratado de Direito Natural. Em 1778, foi nomeado
Juiz de Fora, na cidade de Beja, com exercício até 1781. No ano seguinte, já no Brasil, foi indicado
para ocupar o cargo de Ouvidor-Geral na comarca de Vila Rica (atual Ouro Preto), em Minas Gerais.
Nessa época, o poeta, aos 40 anos, dedicava poesias a Maria Doroteia Joaquina de Seixas, de apenas
17 anos, que fariam parte do livro Marília de Dirceu. Em 1789, Tomás Antônio Gonzaga foi acusado
de participação na Inconfidência Mineira. Detido, foi enviado para a Ilha das Cobras, no Rio de
Janeiro, e depois para Moçambique, onde se casou com Juliana de Sousa Mascarenhas, filha de um
rico comerciante de escravos, e teve um casal de filhos. Faleceu no exílio, em dia desconhecido, no
mês de fevereiro de 1810. Tomás Antônio Gonzaga, cujo nome arcádico é Dirceu, escreveu poesias
líricas, típicas do arcadismo, com temas pastoris e de galanteio, dirigidas à sua amada, a pastora
Marília. As “liras” refletem a trajetória do poeta. Antes da prisão, apresentam a ventura do amor
e a satisfação com o momento presente. Depois, trazem o infortúnio, a justiça e o destino. Outra
obra de sua autoria foi Cartas Chilenas, que correspondem a uma coleção de doze cartas, poemas
satíricos que circularam em Vila Rica poucos antes da Inconfidência Mineira. Assinadas por Critilo
(leia-se Gonzaga), habitante de Santiago do Chile (leia-se Vila Rica) e endereçadas a Doroteu (leia-se
Cláudio Manuel da Costa), residente em Madri. Critilo narra os desmandos do governador chileno,
o Fanfarrão Minésio (leia-se, Luís da Cunha Meneses). Por muito tempo, discutiu-se a autoria das
“Cartas Chilenas”, mas após estudos comparativos da obra com possíveis autores, concluiu-se que
o verdadeiro autor é Gonzaga.

Basílio da Gama: estudou no Rio de Janeiro, no Colégio dos Jesuítas, mas com a expulsão da
Companhia de Jesus, já noviço, transferiu-se para o Seminário Episcopal de São José. Depois de
passar por Coimbra e Lisboa, foi estudar em Roma. No entanto, por suas ligações com os jesuítas,
acabou sendo julgado pelo Tribunal da Inquisição e recebeu a pena de degredo em Angola. Acabou

21
UNIDADE I │ A PRIMEIRA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

por ser perdoado pelo Marquês de Pombal, porque fez um “Epitalâmio” à filha do Marquês, em que
elogia o Ministro e ataca os jesuítas. Participou da efervescência do Arcadismo português e revelou
seu talento de poeta neoclássico, ao escrever poesias líricas e épicas. Com O Uraguai consegue a
celebridade, ao reverter o esquema épico tradicional; harmonizar a paisagem à ação épica, dando-lhe
plasticidade, além de tratar os indígenas como matéria poética, e não apenas informativa. Utiliza os
versos da tradição épica neolatina, o decassílabo, com o qual consegue efeitos sonoros e imagéticos
que reforçam os significados. O poema é também um canto de louvor à política de Pombal, com
dedicatória ao Ministro da Marinha, Mendonça Furtado, irmão do mesmo Marquês, que trabalhou
na demarcação dos limites setentrionais entre Brasil e América Espanhola, cumprindo o Tratado
de Madri. Desse modo, acabou membro da Academia Real das Ciências de Lisboa. Principais obras:
Epitalâmio às Núpcias da Senhora Dona Maria Amália (1769); O Uraguai (1769); A Declamação
Trágica (1772); Quitúbia (1791).

Santa Rita Durão: nasceu nas proximidades de Mariana, Minas Gerais. Estudou com os jesuítas no
Rio de Janeiro e doutorou-se em Filosofia e Teologia, em Coimbra. Durante a repressão do período
pombalino, fugiu para a Itália, onde levou uma vida de estudos, durante mais de 20 anos. Depois
de viver também na Espanha e na França, voltou a Portugal com a queda do Marquês de Pombal
e a restauração da monarquia tradicional. Ocupou uma cátedra de Teologia em Coimbra, quando
se dedicou a escrever o poema épico Caramuru, publicado em 1781. Conta-se que a obra teria sido
recebida com indiferença e que isso fez Durão destruir várias poesias líricas suas. A manifestação
poética de Santa Rita Durão expressa o nativismo, estampado na exaltação da paisagem brasileira,
dos seus recursos naturais, dos índios: seus costumes e suas tradições. Durão faz referências a fatos
históricos, do século XVI até sua época. O livro faz um balanço da colonização em meio a uma
descrição hiperbólica da natureza. Nesse poema são exaltadas a fé e a defesa da terra contra os
invasores. Segundo o crítico Antônio Cândido, “A obra de Durão pode ser vista tanto como expressão
do triunfo português na América quanto das posições particularistas dos americanos; e serviria, em
princípio, seja para simbolizar a lusitanização do país, seja para acentuar o nativismo.” A estrutura
do poema segue o modelo de Camões, formado por dez cantos de versos decassílabos dispostos em
estrofes fixas, as oitavas, com esquema de rimas “abababcc”. Mas, como era de se esperar para um
membro do clero, o conservadorismo cristão substituiu a mitologia pagã, uma característica épica.
Caramuru tem como subtítulo Poema Épico do Descobrimento da Bahia e conta as aventuras de
Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Entre outras personagens do poema estão Paraguaçu (com quem
Diogo se casou na França) e Moema (rival de Paraguaçu, que morreu afogada quando perseguia o
navio que levava o casal para a França).

Nos endereços, a seguir, você encontra mais informações e textos do autor:

<http://www.brasilescola.com/literatura/arcadismo-neoclassicismo.htm>.

<http://pt.wikipedia.org/wiki/arcadismo>.

<http://www.iped.com.br/colegio/literatura/poesias>.

<http://www.vidaempoesia.com.br/linguagemarcadismo.htm>.

<http://www.brasilescola.com/literatura/arcadismo-brasil.htm>.

<http://educaterra.terra.com.br/literatura/arcadismo/arcadismo_10.htm>.

22
a segunda fase
da literatura Unidade iI
brasileira

Capítulo 1
Romantismo

O Romantismo caracterizou-se como um amplo movimento contrário ao racionalismo e com


objetivos nacionalistas, principalmente na Europa do século XVIII. Ele se manifestou principalmente
no campo artístico, político e filosófico. No começo, era considerado apenas como um estado de
espírito. No entanto, o movimento ganhou força e passou a designar toda uma visão de mundo
centrada no indivíduo. Os autores românticos voltaram-se cada vez mais para si mesmos, retratando
o drama humano, amores trágicos, ideais utópicos e desejos de escapismo. Se o século XVIII foi
marcado pela objetividade, pelo iluminismo e pela razão, o início do século XIX seria marcado pelo
lirismo, pela subjetividade, pela emoção e pelo eu.

No Brasil, a escola literária teve início em 1836, por ocasião da publicação do livro Suspiros Poéticos
e Saudades, de Gonçalves de Magalhães. O movimento coincidiu com a independência política em
1822, com o Segundo Reinado, com a Guerra do Paraguai e com a campanha abolicionista. Diversos
estudiosos consideram que a literatura brasileira tem início efetivo com esses movimentos.

Características
Subjetivismo: o romancista trata dos assuntos de forma pessoal, de acordo com sua opinião sobre
o mundo. O subjetivismo pode ser notado por meio do uso de verbos na primeira pessoa. Com
plena liberdade de criar, o artista romântico não se acanha em expor suas emoções pessoais, em
fazer delas a temática sempre retomada em sua obra. O eu é o foco principal do subjetivismo; o eu é
egoísta na forma de expressar seus sentimentos.

Idealização: empolgado pela imaginação, o autor idealiza temas, exagerando em algumas de suas
características. Dessa forma, a mulher é uma virgem frágil, o índio é um herói nacional e a pátria
sempre perfeita. Essa característica é marcada por descrições minuciosas e muitos adjetivos.

Sentimentalismo: praticamente todos os poemas românticos apresentam sentimentalismo já


que essa escola literária é movida pela emoção, sendo as mais comuns a saudade, a tristeza e a
desilusão. Os poemas expressam o sentimento do poeta, suas emoções e são como o relato sobre
uma vida. O romântico analisa e expressa a realidade por meio dos sentimentos. E acredita que só
sentimentalmente se consegue traduzir aquilo que ocorre no interior do indivíduo.

23
UNIDADE II │ A SEGUNDA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

Egocentrismo: é a colocação do ego no centro de tudo. Vários artistas românticos colocam, em


seus poemas e textos, os seus sentimentos acima de tudo, destacando-os no texto. Pode-se dizer,
talvez, que o egocentrismo seja um subjetivismo exagerado.

Indianismo: é o medievalismo “adaptado” ao Brasil. Como os brasileiros não tinham um cavaleiro


para idealizar, os escritores adotaram o índio como o ícone para a origem nacional e o colocam como
um herói. O indianismo resgatava o ideal do “bom selvagem” (Jean-Jacques Rousseau), segundo o
qual a sociedade corrompe o homem e o ser perfeito seria o índio, que não tinha nenhum contato
com a sociedade europeia.

A Corte no Brasil
A Corte promove um rápido processo de urbanização no país. Logo depois, com a independência,
cresce o sentimento de nacionalismo, busca-se o passado histórico, exalta-se a natureza pátria. Na
realidade, características já cultivadas na Europa que se encaixaram perfeitamente à necessidade
brasileira de ofuscar profundas crises sociais, financeiras e econômicas.

O Brasil viveu um período conturbado como reflexo do autoritarismo de D. Pedro I: a dissolução da


Assembleia Constituinte; a Constituição outorgada; a Confederação do Equador; a luta pelo trono
português contra seu irmão D. Miguel; a acusação de ter mandado assassinar Líbero Badaró e,
finalmente, a abolição da escravatura. Segue-se o Período Regencial e a maioridade prematura de
Pedro II. É nesse ambiente confuso e inseguro que surge o romantismo brasileiro, carregado de
lusofobia e, principalmente, de nacionalismo.

O Romantismo apresenta uma característica inusitada: revela nitidamente uma evolução no


comportamento dos autores românticos. A comparação entre os primeiros e os últimos representantes
dessa escola mostra traços peculiares a cada fase, mas discrepantes entre si. No caso brasileiro, por
exemplo, há uma distância considerável entre a poesia de Gonçalves Dias e a de Castro Alves. Daí a
necessidade de se dividir o Romantismo em fases ou gerações.

Poesia romântica
No período de quase meio século em que predominou entre nós a estética romântica, destacam-se
três gerações de poetas com características próprias.

Primeira geração: os indianistas


Houve predomínio de temas relacionados à natureza e ao regresso ao passado histórico. Cria-se
um herói nacional na figura do índio, de onde surgiu a denominação de geração indianista, com
forte presença do sentimentalismo ufanista. Outras características presentes são: subjetivismo,
religiosidade, individualismo, egocentrismo, sofrimento amoroso, exaltação da liberdade. Entre
os principais autores, destacam-se Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias. O primeiro tem a
importância de ter sido o introdutor do movimento em nosso país com a obra Suspiros Poéticos e
Saudades. O segundo, Gonçalves Dias, foi o mais significativo poeta romântico brasileiro.

24
a segunda fase da literatura brasileira │ UNIDADE II

Gonçalves Dias: um dos maiores poetas brasileiros. Em seus textos, aborda o índio, a natureza e o
amor. Mestiço, buscou o convívio com os indígenas com a intenção de conhecer melhor os povos que
lhe serviam de tema e dos quais descendia. Descreveu nossa natureza com exuberância e imensidão.
Seus textos são carregados de sentimentalismo e de sofrimento, torturado pela falta do amor
correspondido. Ao apresentar Primeiros Cantos, confessa, feliz: “Dei o nome de Primeiros Cantos às
poesias que agora publico, porque espero que não sejam as últimas... Escrevi-as para mim, e não para
os outros; contentar-me-ei, se agradarem; e se não... é sempre certo que tive o prazer de as ter escrito”.

Sua obra valoriza a formação da nação brasileira. O poema I Juca-Pirama conta a história de
um índio tupi, cuja tribo havia sido dizimada, sobrando apenas ele e o pai cego, a quem servia de
guia. Saindo para caçar, cai prisioneiro dos timbiras e vai ser sacrificado. No seu canto de morte,
pede que seja solto, pois é o único arrimo de seu velho pai. Promete voltar e se entregar aos que
o aprisionaram. O cacique manda soltá-lo. Após algum tempo, o valente tupi volta, junto com
seu pai. O velho tupi oferece o jovem guerreiro aos Timbiras, para o sacrifício final. O cacique
timbira rejeita a oferta por considerá-lo alguém que chorou em presença da morte. No final do
poema, o guerreiro tupi consegue provar sua coragem enfrentando os guerreiros timbiras sozinho
e provando que era digno de morrer em sacrifício. Observe os versos do autor em o Canto de
Morte e Canção de Exílio.

Canto de morte
Meu canto de morte, Andei longes terras,
Guerreiros, ouvi: Lidei cruas guerras,
Sou filho das selvas, Vaguei pelas serras;
Nas selvas cresci; Dos vis Aimorés;
Guerreiros, descendo; Vi lutas de bravos,
Da tribo Tupi. Vi fortes – escravos!
De estranhos ignavos;
Calcados aos pés.

Da tribo pujante, E os campos talados,


Que agora anda errante; E os arcos quebrados,
Por fado inconstante, E os piagas coitados;
Guerreiros, nasci; Já sem maracás;
Sou bravo, sou forte, E os meigos cantores,
Sou filho do Norte; Servindo a senhores,
Meu canto de morte, Que vinham traidores,
Guerreiros, ouvi. Com mostras de paz.

Já via cruas brigas, Aos golpes do imigo;


De tribos imigas, Meu último amigo,
E as duras fadigas; Sem lar, sem abrigo,
Da guerra provei; Caiu junto a mi!
Nas ondas mendaces; Com plácido rosto,
Senti pelas faces; Sereno e composto,
Os silvos fugaces; O acerbo desgosto,
Dos ventos que amei. Comigo sofri

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UNIDADE II │ A SEGUNDA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

Meu pai a meu lado Eu era o seu guia,


Já cego e quebrado, Na noite sombria,
De penas ralado, A só alegria,
Firmava-se em mi: Que Deus lhe deixou:
Nós ambos, mesquinhos, Em mim se apoiava,
Por ínvios caminhos, Em mim se firmava.
Cobertos d’espinhos, Em mim descansava,
Chegamos aqui! Que filho lhe sou.

O velho no entanto, Ao velho coitado,


Sofrendo já tanto, De penas ralado,
De fome e quebranto, Já cego e quebrado,
Só qu’ria morrer! Que resta? – Morrer.
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho, Enquanto descreve,
Das frechas que tenho O giro tão breve,
Me quero valer. Da vida que teve,
Deixai-me viver!
Então, forasteiro,
Caí prisioneiro Não vil, não ignavo,
De um troço guerreiro, Mas forte, mas bravo,
Com que me encontrei: Serei vosso escravo:
O cru dessossego, Aqui virei ter.
Do pai fraco e cego, Guerreiros, não coro
Enquanto não chego, Do pranto que choro;
Qual seja, – dizei! Se a vida deploro,
Também sei morrer.

Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras, Nosso céu tem mais estrelas,
Onde canta o sabiá; Nossas várzeas têm mais flores,
As aves, que aqui gorjeiam, Nossos bosques têm mais vida.
Não gorjeiam como lá. Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite, Minha terra tem primores,


Mais prazer encontro eu lá; Que tais não encontro cá;
Minha terra tem palmeiras, Em cismar – sozinho, à noite –
Onde canta o sabiá. Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o sabiá.

(Coimbra, julho de 1841)

26
a segunda fase da literatura brasileira │ UNIDADE II

Segunda geração: os ultrarromânticos


A influência dos autores ingleses e franceses (especialmente de Byron e de Musset) foi a principal
característica da segunda geração. Os autores dessa fase deixaram-se impregnar pelo chamado mal
do século: eram boêmios, egocêntricos e pessimistas, cheios de desilusões e dúvidas. Procuravam
viver de forma intensa e subjetiva. Geração também conhecida por ultrarromântica teve como
principais autores: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire e
Laurindo Rabelo.

Inspirados pela realidade histórica, conflitante também no Brasil, e pelos seus ídolos europeus,
muitos jovens intelectuais brasileiros resolveram encarar a vida como algo passageiro. Tempo breve
que devia ser intensamente vivido. De um modo bem individualista, para dele se tirar o máximo.
Seus temas são o amor e a morte, a dúvida e o tédio, a tristeza e a angústia diante da vida que levavam,
comparada à que desejavam ter. Esse conjunto todo ficou conhecido como mal do século. Sua
consequência era a excessiva boêmia, evasão que provocava geralmente um suicídio lento pela bebida e
pela tuberculose.

Álvares de Azevedo: poeta, ensaísta, contista, romancista e dramaturgo, Álvares de Azevedo fez
os estudos primários e secundários na cidade do Rio de Janeiro, onde passou a residir a partir dos
2 anos de idade. Em 1844, voltou a São Paulo, de onde retornou no ano seguinte para ingressar no
Colégio Pedro II, formando-se em 1846. Com 17 anos, matriculou-se no curso jurídico da Faculdade
de Direito de São Paulo, onde vários grupos intelectuais defendiam a formação de sociedades e
publicações de revistas como forma de atuar na vida cultural brasileira.

Participou de várias atividades acadêmicas, entre as quais a fundação da revista Ensaio Filosófico,
que discutia o sentimento nacionalista e o sentido da poesia brasileira. Elaborou, também, o
projeto de fundação de um jornal literário (Crepúsculo ou Estrela), que não chegou a se realizar.
Pertencendo a uma geração que sofreu influência vital do satanismo de Byron, o poeta não fugiu,
conforme aponta Mário de Andrade, à “imagem do rapaz morto” disseminada durante o período
romântico. Introjetando não só em sua obra, mas em sua própria vida, o mal do século. Morreu aos
21 anos incompletos, sem terminar a faculdade, deixando inédita sua obra, composta por poemas,
contos, um romance, peças de teatro (escritas entre 1848 e 1851), além de ensaios, cartas e discursos.
Em 1853, um ano após a sua morte, foi publicado o livro Lira dos Vinte Anos, cuja edição o poeta
havia deixado preparada. Observe uma poesia do autor.

Se eu morresse amanhã!
Se eu morresse amanhã viria ao menos Que sol! Que céu azul! Que doce n’alva
Fechar meus olhos minha triste irmã; Acorda a natureza mais louçã!
Minha mãe de saudades morreria, Não me batera tanto amor no peito,
Se eu morresse amanhã! Se eu morresse amanhã!

Quanto glória pressinto em meu futuro! Mas essa dor da vida que devora
Que aurora de porvir e que manhã! A ânsia de glória, o dolorido afã...
Eu perdera chorando essas coroas, A dor no peito emudecera ao menos,
Se eu morresse amanhã! Se eu morresse amanhã!

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UNIDADE II │ A SEGUNDA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

Fagundes Varela: nasceu em 1841, no município de Rio Claro, província do Rio de Janeiro.
Depois dos estudos básicos na província natal, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo
(1862) e se casou no mesmo ano. Sua vida foi marcada por inúmeros momentos de infelicidade e
alcoolismo. Os sofrimentos morais levam-no a abandonar o curso e todos os compromissos sociais:
só duas realidades o consolam – a poesia e a natureza. Em 1875, com 34 anos, morre de apoplexia,
deixando uma esposa (já no segundo matrimônio), duas filhinhas e uma obra poética marcante na
literatura brasileira.

Em Arquétipo, um dos primeiros poemas, faz profissão de fé de tédio romântico, em versos brancos.
Embora o preponderante em sua poesia fosse a angústia e o sofrimento, evidenciam-se outros
aspectos importantes: o patriótico, em O estandarte auriverde (1863) e Vozes da América (1864); o
amoroso, na fase lírica, dos poemas ligados à natureza, e, por fim, o místico e religioso. O poeta não
deixa de lado, também, os problemas sociais, como o abolicionismo.

Cântico do calvário (fragmento)


(À memória de meu filho morto a 11 de dezembro de 1863)
Eras na vida a pomba predileta Oh! filho de minh’alma! Última rosa
Que sobre um mar de angústias conduzia Que neste solo ingrato vicejava!
O ramo da esperança. – Eras a estrela Minha esperança amargamente doce!
Que entre as névoas do inverno cintilava ...........................
Apontando o caminho do pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio. Quando as garças vierem do ocidente
Eras o idílio de um amor sublime. Buscando um novo clima onde pousarem,
Eras a glória, – a inspiração, – a pátria, Não mais te embalarei sobre os joelhos,
O porvir de teu pai! – Ah! no entanto, Nem de teus olhos no cerúleo brilho
Pomba, – varou-te a flecha do destino! Acharei um consolo a meus tormentos!
Astro, – engoliu-te o temporal do norte!

Teto, caíste! – Crença, já não vives!


Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
Legado acerbo da ventura extinta;
Dúbios archotes que a tremer clareiam
A lousa fria de um sonhar que é morto!
...........................

Casimiro de Abreu: abandonou cedo os estudos secundários e se dedicou, por influência paterna,
ao comércio. Entre 1853 e 1857, viveu em Portugal. Ao retornar ao Rio de Janeiro, passou a levar
vida boêmia a partir do sucesso de seu livro As Primaveras (1859). No ano seguinte, morreu de
tuberculose. Sua poesia, bastante popular, pouco apresenta de inovador. Conhecido como “o poeta
da infância”, desdobra-se em lamentos exacerbados sobre a pureza perdida. No poema Amor e
Medo, sintetiza a insegurança adolescente frente ao sexo.

28
a segunda fase da literatura brasileira │ UNIDADE II

Meus oito anos


Oh! que saudades que tenho Naqueles tempos ditosos
Da aurora da minha vida, Ia colher as pitangas,
Da minha infância querida Trepava a tirar as mangas,
Que os anos não trazem mais! Brincava à beira do mar;
Que amor, que sonhos, que flores, Rezava às Ave-Marias,
Naquelas tardes fagueiras Achava o céu sempre lindo,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais! Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Como são belos os dias Naquela doce alegria.
Do despontar da existência! Naquele ingênuo folgar!
– Respira a alma inocência O céu bordado d’estrelas,
Como perfumes a flor; A terra de aromas cheia,
O mar é – lago sereno, As ondas beijando a areia
O céu – um manto azulado, E a lua beijando o mar!
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor! Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Livre filho das montanhas, Que doce a vida não era
Eu ia bem satisfeito, Nessa risonha manhã!
Da camisa aberto o peito, Em vez das mágoas de agora,
– Pés descalços, braços nus - Eu tinha nessas delícias
Correndo pelas campinas De minha mãe as carícias
À roda das cachoeiras, E beijos de minha irmã!
Atrás das asas ligeiras Adormecia sorrindo
Das borboletas azuis! E despertava a cantar!
........................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Terceira geração: os condoreiros


Sob a influência de Victor Hugo, romancista social e humanitário da França, quando começa a
decadência do Segundo Reinado e do regime monárquico, aparecem escritores com preocupações
sociais e políticas. O sentimento patriótico, os temas sociais, em especial a abolição, marcam a
poesia do século XIX.

29
UNIDADE II │ A SEGUNDA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

Ao negativismo da segunda geração de românticos brasileiros, segue-se uma produção literária


cheia de luz e otimismo, cujos autores escolheram o condor como símbolo libertário. Altos voos
eram seu ideal. Essa terceira geração de poetas românticos tem em Castro Alves, Tobias Barreto e
Sousândrade seu maiores representantes.

Os problemas de grande parcela do povo brasileiro começaram a comover toda a sociedade e


chegam a sensibilizar também os escritores. Começavam, entrelaçados, o movimento abolicionista
e o republicano. A essas tendências se amolda a estética romântica. Nasce a poesia romântica social,
caracterizada por uma linguagem ardente e bombástica, cheia de grandes metáforas e audazes
comparações. Chamou-se condoreira a essa poesia que, numa linguagem elevada, voa alto, como o
condor. Observe o trecho de poema de Castro Alves.

República!... Voo ousado,


Do homem feito condor!
Raio de aurora inda oculta,
Que beija a fronte ao Tabor!

Foram poucos os poetas brasileiros desse período que deixaram seu nome na História. O filósofo
que também fez poesia foi Tobias Barreto (1839-1889). O que todos conhecemos é Castro Alves, o
extraordinário Castro Alves. Um não menor, mas tardiamente divulgado, é Sousândrade.

Castro Alves: grande lírico e autor de temas sociais. Seu lirismo já não sofre de todo o individualismo
que caracterizou o surgimento do romantismo e dos ultrarromânticos. Mostra-se preocupado com o
mundo exterior, com o povo, com sua terra. E, ao falar desses temas, não deixa de ser extremamente
lírico. Seu amor, porém, já não é idealizado como o dos poetas anteriores. Tem forte carga sensual,
antecipando a estética realista. Para um poeta que morreu com 24 anos, deixou-nos uma produção
volumosa, esteticamente madura, com um estilo rico em figuras que empolgam o leitor. Vozes
d’África e O Navio Negreiro são seus mais divulgados poemas abolicionistas, ambos em sua obra
Os Escravos, dentro da qual alguns críticos colocam 33 poemas publicados depois da morte do
poeta. Neles, é patente a veia romântica de endeusamento da natureza. É nesta poesia que ele se
mostra realmente condoreiro. Espumas Flutuantes e Hinos do Equador são coletâneas nascidas de
amores vividos e não apenas sonhados. Engajado nas lutas do momento, muitas vezes declamou
seus próprios poemas em teatros e praças públicas, empolgando plateias de Recife, Salvador, São
Paulo e Rio. Aí, conheceu Alencar e Machado, a quem apresentou sua peça Gonzaga ou A Revolução
de Minas.

A praça! A praça é do Povo;


Como o céu é do Condor.
É o antro onde a liberdade:
Cria águia ao seu calor!

Leia este trecho do poema O Navio Negreiro, assim datado pelo autor: “São Paulo, 18 de abril de
1868”. Ele é longo, feito para empolgar. O autor divide-o em seis partes: a majestade do mar, o
destino dos marinheiros, o espanto com a triste cena que ocorre no navio, a descrição detalhada da
violência que lá está instalada, um longo apelo a Deus para que acabe com toda essa barbárie e um
grito ao Brasil que é coautor desse crime.

30
a segunda fase da literatura brasileira │ UNIDADE II

O Navio Negreiro (fragmento)


Ontem a Serra Leoa, Astros! noites! tempestades!
A guerra, a caça ao leão, Rolai das imensidades!
O sono dormido à toa Varrei os mares, tufão!...
Sob as tendas d’amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo, Existe um povo que a bandeira empresta
Infecto, apertado, imundo, P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
Tendo a peste por jaguar... E deixa-a transformar-se nessa festa
E o sono sempre cortado Em manto impuro de bacante fria!...
Pelo arranco de um finado, Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
E o baque de um corpo ao mar... Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Ontem plena liberdade, Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
A vontade por poder...
Hoje... cúm’lo de maldade, Auriverde pendão de minha terra,
Nem são livres p’ra morrer... Que a brisa do Brasil beija e balança,
Prende-os a mesma corrente Estandarte que a luz do sol encerra
– Férrea, lúgubre serpente - E as promessas divinas da esperança...
Nas roscas da escravidão. Tu que, da liberdade após a guerra,
E assim zombando da morte, Foste hasteado dos heróis na lança
Dança a lúgubre coorte Antes te houvessem roto na batalha,
Ao som do açoute... Irrisão!... Que servires a um povo de mortalha!...

Senhor Deus dos desgraçados! Fatalidade atroz que a mente esmaga!


Dizei-me vós, Senhor Deus, Extingue nesta hora o brigue imundo
Se eu deliro... ou se é verdade O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Tanto horror perante os céus?... Como um íris no pélago profundo!
Ó mar, por que não apagas Mas é infâmia de mais! ... Da etérea plaga
Co’a esponja de tuas vagas Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Do teu manto este borrão? Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

Romantismo (Prosa)
A prosa romântica é fruto de um complexo movimento de ideias políticas, sociais e artísticas,
segundo a professora Maria da Conceição Castro. Ela afirma que esse movimento encontra, no
Brasil, um clima propício ao seu desenvolvimento. O público leitor, representado por pessoas da
aristocracia rural, vê na literatura um meio de entretenimento.

O objetivo dos primeiros jornais, no século XIX, é expandir a cultura entre os leitores médios. O
jornalismo literário conta com vários adeptos. Os romances de folhetim, de crítica literária, de
crônicas passam, então, a ser cultivados. Surgem cronistas importantes, entre eles José de Alencar.

31
UNIDADE II │ A SEGUNDA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

Dos seus folhetins, Ao Correr da Pena (1851-1855), sairão mais tarde romances urbanos como
Senhora, Sonhos D’ouro, pautados em observações do autor sobre a sociedade do tempo. França
Junior – o mais prestigiado cronista da época – publica seus folhetins nos jornais O Globo Ilustrado,
O País, O Correio Mercantil. É preciso frisar que a difusão, em livro ou em jornal, de traduções
livres, resumos de romance e narrativas populares da cultura estrangeira contribuiu bastante para
a divulgação e consolidação desse novo gênero literário.

A prosa ficcional
A ficção (romance, novela e contos) inclui-se entre os gêneros literários preferidos pelo Romantismo.
Com o estabelecimento da Corte Imperial no Brasil e com o crescente desenvolvimento de alguns
núcleos urbanos, o público jovem começou a tomar um certo interesse pela literatura. É do agrado
desse público leitor o romance que tenha uma história sentimental, com algum suspense e um
desfecho feliz.

O romance romântico no Brasil tem como característica marcante o nacionalismo literário.


Entende-se por nacionalismo a tendência em escrever sobre coisas locais: lugares, cenas, fotos,
costumes brasileiros. Essa tendência contribuiu para a naturalização da literatura portuguesa
no Brasil. O romance foi uma forma verdadeira de pesquisar, descobrir e valorizar um
país novo.

Nesse período do romantismo brasileiro, a imaginação e a observação dos ficcionistas alargaram o


horizonte da terra e do homem brasileiro. Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Visconde
de Taunay, Bernardo Guimarães, Franklin Távora foram os expoentes máximos da ficção romântica
no Brasil. A narrativa, no romance romântico, é feita em 3ª pessoa. Tanto na poesia quanto na ficção
(exceto no teatro) a linguagem está impregnada de elementos plásticos e sonoros, de imagens e
comparações; a linguagem é descritiva.

O Romantismo no Brasil é considerado um marco importante na história da literatura brasileira,


porque coincide com o momento decisivo de definição da nacionalidade, que visa valorizar e
reconhecer o passado histórico.

É possível agrupar os romances românticos do Brasil a partir da temática de cada um deles.


Formam-se inicialmente dois grandes grupos, abordando diferentemente a corte e a província, a
partir dos quais podem ser feitas algumas subdivisões.

»» Urbano: Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Manuel Antônio de


Almeida.

»» Regionalista: José de Alencar, Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay,


Franklin Távora.

»» Histórico: José de Alencar, Visconde de Taunay.

»» Indianista: José de Alencar.

32
a segunda fase da literatura brasileira │ UNIDADE II

Romance urbano
Ambientado na Corte, o romance urbano caracteriza-se pela crônica de costumes, retratando a vida
social da época. A pequena burguesia é apresentada sem grande aprofundamento psicológico, visto
que a sociedade brasileira, ainda pouco urbanizada, não propicia análises de suas relações sociais
pouco variadas. Cenas de saraus, bailes, passeios ao campo etc. alternam-se com complicações de
caráter social e moral, como casamentos, namoros, bisbilhotices etc.

São romances urbanos: A Moreninha, O Moço Loiro e A Luneta Mágica, de Joaquim Manuel de
Macedo; Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida; Diva, Lucíola,
Senhora, A Pata da Gazela, Cinco Minutos e A Viuvinha, de José de Alencar.

Romance regionalista
O ambiente rústico, rural é focalizado. A atração pelo pitoresco leva o escrito romântico a pôr em
evidência tipos humanos que vivem afastados do meio citadino. Isso observamos nos livros: “O
Cabeleira”, de Franklin Távora; O Sertanejo, de José de Alencar; O Garimpeiro e A Escrava Isaura,
de Bernardo Guimarães; Inocência, de Visconde de Taunay.

Romance histórico
Está ligado, pelo assunto, ao romance de “capa e espada”; revela o gosto pelo suspense e a ênfase à
vingança punitiva. Há uma volta ao passado histórico, medieval. Apesar da influência estrangeira,
pouco a pouco o romancista volta-se para a reconstituição do clima nacional; procura ser fiel a
hábitos, instituições e modus vivendi.

Romance indianista
O romancista procura valorizar as nossas origens. Há a transformação das personagens em heróis,
que apresentam traços do caráter do bom selvagem: valentia, nobreza, brio. Essa tendência do
romance romântico encontramos nas obras: O Guarani, Iracema e Ubirajara, de José de Alencar.

33
Capítulo 2
Realismo e Naturalismo

Eça de Queiroz define assim o Realismo: “é uma reação contra o Romantismo: o


Romantismo era a apoteose do sentimento – o Realismo é a anatomia do caráter. É a
crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o
que houve de mau na nossa sociedade”.

O Realismo tem início, no Brasil, em 1881, com a publicação do livro Memórias Póstumas de Brás
Cubas. O Naturalismo também tem início no mesmo ano com a publicação de O Mulato, de Aluízio
Azevedo. Embora seja comum encontrarmos o ano de 1893 como o final do Realismo, isso não
corresponde à realidade. Diversas obras realistas foram publicadas depois, Dom Casmurro, por
exemplo, foi publicado em 1900, e Esaú e Jacó, em 1904.

Realismo
O Realismo reflete as profundas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais da segunda
metade do século XIX. A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, entra em uma nova fase,
caracterizada pela utilização do aço, do petróleo e da eletricidade; ao mesmo tempo, o avanço
científico leva a novas descobertas nos campos da física e da química. O capitalismo se estrutura
em moldes modernos, com o surgimento de grandes complexos industriais, aumentando a massa
operária urbana, e formando uma população marginalizada, que não partilha dos benefícios do
progresso industrial, mas, pelo contrário, é explorada e sujeita a condições subumanas de trabalho.

O Brasil também passa por mudanças radicais tanto no campo econômico quanto no político-
social, no período compreendido entre 1850 e 1900, embora com profundas diferenças materiais,
se comparadas às da Europa. A campanha abolicionista intensifica-se a partir de 1850; a Guerra do
Paraguai (1864/1870) tem como consequência o pensamento republicano (o Partido Republicano
foi fundado no ano em que essa guerra terminou); a Monarquia vive uma vertiginosa decadência.
A Lei Áurea, de 1888, não resolveu o problema dos negros, mas criou uma nova realidade: o fim
da mão de obra escrava e sua substituição pela mão de obra assalariada, então representada pelas
levas de imigrantes europeus que vinham trabalhar na lavoura cafeeira, o que originou uma nova
economia voltada para o mercado externo, mas agora sem a estrutura colonialista.

Os autores realistas são antimonárquicos, assumem o ideal republicano e negam a burguesia. O


romance realista foi exaustivamente cultivado no Brasil por Machado de Assis. Trata-se de uma
narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo a crítica à sociedade a partir do
comportamento de determinados personagens. Para se ter uma ideia, os cinco romances da fase
realista de Machado de Assis apresentam nomes próprios em seus títulos (Brás Cubas; Quincas
Borba; Dom Casmurro, Esaú e Jacó; Aires). Isso revela uma clara preocupação com o indivíduo.
O romance realista analisa a sociedade por cima. Em outras palavras: seus personagens são
capitalistas, pertencem à classe dominante. O romance realista é documental, retrato de uma época.

34
a segunda fase da literatura brasileira │ UNIDADE II

O Realismo apresenta as seguintes características.

»» Objetivismo: o texto realista volta-se para o homem em seu comportamento social;


faz críticas à cultura e à sociedade. Abandona-se o subjetivismo romântico.

»» Universalismo: substituição do personalismo anterior.

»» Materialismo: negação do sentimentalismo e da metafísica.

»» Autores com ideais republicanos.

»» Vive-se o presente, o contemporâneo.

Principais autores realistas


Machado de Assis: filho de mulato, descendente de escravos alforriados, de saúde frágil, epilético
e gago, Machado de Assis passou por uma infância sofrida. Ficou órfão de mãe muito cedo e também
perdeu a irmã mais nova. Não frequentou escola regular, mas, em 1851, com a morte do pai, sua
madrasta emprega-se como doceira num colégio do bairro e ele passa a vender doces.

Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender e se tornou um dos maiores
intelectuais do país. Em São Cristóvão, conheceu a senhora francesa, Madamme Gallot, proprietária
de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de francês, que Machado falava
fluentemente, tendo traduzido o romance Trabalhadores do Mar, de Vitor Hugo, na juventude.
Também aprendeu inglês, chegando a traduzir poemas desse idioma, como O Corvo, de Edgar Alan
Poe. Posteriormente, estudou alemão, sempre como autodidata.

Iniciou sua carreira profissional como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Oficial, cujo Diretor
era o romancista Manuel Antonio de Almeida. Em 1855, aos 15 anos, estreou na literatura, com a
publicação do poema Ela, na revista Marmota Fluminense. Continuou colaborando intensamente
nos jornais, como cronista, contista, poeta e crítico literário, tornando-se respeitado como intelectual
antes mesmo de se firmar como grande romancista. Machado de Assis conquistou a admiração e a
amizade do romancista José de Alencar, principal escritor da época.

Em 1864, publica o livro de poemas chamado “Crisálidas”. Em 1869, casa-se com a portuguesa
Carolina Xavier de Novaes, irmã do poeta Faustino Xavier de Novaes e quatro anos mais velha
do que ele. Em 1873, ingressa no Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, como
Primeiro-Oficial. Posteriormente, ascenderia na carreira de servidor público, aposentando-se no
cargo de diretor do Ministério da Viação e Obras Públicas.

Podendo dedicar-se com mais comodidade à carreira literária, escreveu uma série de livros de
caráter romântico. É a chamada primeira fase de sua carreira, marcada pelas obras: Ressurreição
(1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876), e Iaiá Garcia (1878), além das coletâneas de contos:
Contos Fluminenses (1870), Histórias da Meia Noite (1873), das coletâneas de poesias: Crisálidas
(1864), Falenas (1870), Americanas (1875), e das peças: Os Deuses de Casaca (1866), O Protocolo
(1863), Queda que as Mulheres têm para os Tolos (1864) e Quase Ministro (1864).

35
UNIDADE II │ A SEGUNDA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

Em 1881, abandona, definitivamente, a influência romântica e publica Memórias Póstumas de Brás


Cubas, que marca o início do Realismo no Brasil. O livro, extremamente ousado, é escrito por um
defunto e começa com uma dedicatória inusitada: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do
meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas”. Tanto este livro, como
as demais obras de sua segunda fase, vão muito além dos limites do Realismo, apesar de serem
normalmente classificados nessa escola. Machado, como todos os autores de gênio, escapa aos
limites de todas as escolas, criando uma obra única.

Suas principais características são: a introspecção, o humor e o pessimismo com relação à essência
do homem e seu relacionamento com o mundo. Da segunda fase, são obras principais: Memórias
Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1892), Dom Casmurro (1900), Esaú e Jacó (livro)
(1904), Memorial de Aires (1908), além das coletâneas de contos Papéis Avulsos (1882), Várias
Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1906), Relíquias da Casa Velha (1906) e da coletânea de
poesias Ocidentais.

Em 1904, morre Carolina Xavier de Novaes e Machado de Assis escreve um de seus melhores poemas,
Carolina, em homenagem à falecida esposa. Muito doente, solitário e triste depois da morte da
esposa, Machado de Assis morreu em 29 de setembro de 1908, em sua velha casa no bairro carioca
do Cosme Velho. Nem nos últimos dias, aceitou a presença de um padre que lhe tomasse a confissão.

Raul Pompéia: sua principal obra, O Ateneu, reflete experiências de sua infância rica e reclusa em
um colégio interno. Estudou Direito, exerceu o magistério e também colaborou com jornais e revistas.
Era abolicionista e republicano. Sua vida foi marcada por polêmicas, inimizades e crises depressivas.
Suicidou-se em 1895, caluniado e humilhado na imprensa. Foi um escritor que não se pode enquadrar
em único estilo, com influências naturalistas, realistas, expressionistas e impressionistas.

Naturalismo
Com as novas concepções a respeito do homem e da vida em sociedade e os estudos da Biologia,
Psicologia e Sociologia, os naturalistas procuraram analisar o comportamento humano e social,
apontando saídas e soluções. Os escritores naturalistas ocuparam-se, principalmente, com os temas
mais obscuros da alma humana (patológicos) e, por causa disso, outros fatos importantes da nossa
história como a Abolição da Escravatura e a República foram deixados de lado.

O Naturalismo e o Realismo procuraram retratar a sociedade de forma bem objetiva. O autores


naturalistas, no entanto, abordam o homem como produto biológico que age por instintos e chega
ser comparada a animais (zoomorfização). O homem, assim, é desprovido do livre-arbítrio. Ele está
à mercê das leis físicas, químicas, hereditárias e sociais. O cientificismo exagerado talvez seja a
principal característica da escola.

Os textos procuram apresentar descrições minuciosas e linguagem simples. Há preferência por


temas como miséria, adultério, crimes, problemas sociais, taras sexuais etc. A exploração de temas
patológicos traduz a vontade de analisar todas as podridões sociais e humanas sem se preocupar com
a reação do público. Ao analisar os problemas sociais, o naturalista mostra uma vontade de reformar a
sociedade, ou seja, denunciar esses problemas era uma forma de tentar reformar a sociedade.

36
a segunda fase da literatura brasileira │ UNIDADE II

Autores naturalistas
Aluísio Azevedo: foi um crítico impiedoso da sociedade brasileira e de suas instituições.
Abandonou as tendências românticas em que se formara para tornar-se o introdutor do naturalismo
no Brasil, influenciado por Eça de Queirós e Émile Zola. Seus temas prediletos, focados na realidade
cotidiana, foram o anticlericalismo, a luta contra o preconceito de cor, o adultério, os vícios e a vida
do povo humilde.

Nascido em São Luís, Aluísio viajou para o Rio de Janeiro, aos 17 anos, a chamado do irmão, o
teatrólogo Artur Azevedo. Começou a estudar na Academia Imperial de Belas-Artes e logo passou a
colaborar, com caricaturas e poesias, em jornais e revistas.

A partir da publicação de seu primeiro romance, Uma Lágrima de Mulher (1880), em estilo
romântico e extremamente sentimental, viveu durante 15 anos do que ganhava como escritor.
Por isso, sua obra pode ser dividida em duas partes: a primeira, romântica, escrita para agradar
o público e vender bem, de modo a garantir-lhe a sobrevivência. A segunda, naturalista, para
expressar sua visão de mundo e as mazelas do Brasil. Foi esta que lhe deu destaque na história da
literatura brasileira.

O livro O Mulato, publicado em 1881, no auge da campanha abolicionista, provocou um grande


escândalo. O autor tentava analisar a posição do mestiço na sociedade maranhense de seu tempo
e atacou o preconceito racial. Até 1895, escreveu 19 trabalhos, entre romances e peças teatrais.
Continuou colaborando em jornais e revistas, com caricaturas, contos, críticas e novelas.

Ao ingressar por concurso na carreira diplomática, em 1895, encerrou a sua história literária. A
serviço do Brasil, esteve na Espanha, no Japão, no Uruguai, na Inglaterra, na Itália, no Paraguai e
na Argentina, onde morreu.

Além de O Mulato, os romances que o consagraram perante a crítica e o público culto foram: Casa
de Pensão (1884), inspirado em um caso da crônica policial do Rio, que descreve a vida nas pensões
chamadas familiares, onde se hospedavam jovens que vinham do interior para estudar na capital; e
O Cortiço (1890), considerado sua obra-prima, onde narra, em linguagem vigorosa, a vida miserável
dos moradores de duas habitações coletivas.

Adolfo Caminha: provavelmente tenha sido o mais ousado autor do naturalismo brasileiro.
Foi expulso da Marinha por se envolver em adultério. Retirou-se da vida social, mas continuou
a participar da vida literária. Em 1891, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se dedicou ao
jornalismo e literatura, escrevendo algumas das obras-primas do naturalismo como A Normalista
e Bom-Crioulo. A primeira é a história chocante de um incesto em que a personagem principal é
seduzida pelo padrinho. A segunda trata das minorias sexuais condicionadas pelo ambiente.

Domingos Olímpio: formado em Direito, exerce o Jornalismo como abolicionista e republicano.


Publicou sua principal obra, Luzia-Homem, cujas cenas se desenvolveram no Ceará, onde nasceu.
O livro tematiza a violência e o sadismo que florescem como literatura naturalista. Há nuances
de Romantismo na morosidade da descrição das paisagens, onde a natureza, às vezes, é madrasta
principalmente por causa da seca. Explora a duplicidade da personagem principal, ela é bonita,

37
UNIDADE II │ A SEGUNDA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

gentil e retirante da seca, mas também tem força descomunal. Muda-se para o Rio de Janeiro aos
30 anos de idade, passando a escrever sob o pseudônimo de “Pojucan”. Em 1904, fundou e dirigiu a
revista literária Os Anais, na qual colaboraram destacados nomes das letras pátrias.

38
Capítulo 3
Parnasianismo e Simbolismo

O Parnasianismo
O Parnasianismo representou na poesia o espírito positivista e científico da época, em oposição
ao Romantismo. Nasceu com a publicação de uma série de poesias, precedendo de algumas
décadas o Simbolismo. O seu nome vem do Monte Parnaso, a montanha que, na mitologia grega,
era consagrada a Apolo e às musas, uma vez que os seus autores procuravam recuperar os valores
estéticos da Antiguidade Clássica.

Apresenta características bem-definidas como a sacralidade da forma, o respeito às regras de


versificação, o preciosismo rítmico e vocabular, a rima rica e a preferência por estruturas fixas,
como os sonetos. O emprego da linguagem figurada é reduzido, com a valorização do exotismo e
da mitologia. Os temas preferidos são os fatos históricos, objetos e paisagens. A descrição visual é
o forte da poesia parnasiana, assim como para os românticos são a sonoridade das palavras e dos
versos. Os autores parnasianos faziam uma “arte pela arte”, pois acreditavam que a arte deveria
existir por si só, e não por subterfúgios, como o amor, por exemplo.

A poesia parnasiana preocupa-se com a forma e a objetividade, com seus sonetos alexandrinos
perfeitos. Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira formam a trindade parnasiana
no Brasil. A escola é a manifestação poética do Realismo, dizem alguns estudiosos da literatura
brasileira, embora ideologicamente não mantenha todos os pontos de contato com os romancistas
realistas e naturalistas. Seus poetas estavam à margem das grandes transformações do final do
século XIX e início do século XX.

Características
Preciosismo: focaliza-se o detalhe, muito presente nas escolas clássicas: descrição detalhada,
rima, escolha precisa da palavra.

Objetividade e impessoalidade: o poeta apresenta o fato, a personagem, as coisas como são


e acontecem na realidade, sem deformá-los pela sua maneira pessoal de ver, sentir e pensar. Essa
posição combate o exagerado subjetivismo romântico.

Arte pela Arte: a poesia vale por si mesma, não tem nenhum tipo de compromisso, e justifica por
sua beleza. Faz referências ao prosaico, e o texto mostra interesse a coisas pertinentes a todos.

Estética/culto à forma: como os poemas não assumem nenhum tipo de compromisso, a estética
é muito valorizada. O poeta parnasiano busca a perfeição formal a todo custo, e, por vezes, se mostra
incapaz para tal. Aspectos importantes para essa estética perfeita são: rimas ricas, valorização dos
sonetos e metrificação rigorosa.

39
UNIDADE II │ A SEGUNDA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

Temática greco-romana: a estética é muito valorizada no Parnasianismo, mas, mesmo assim, o


texto precisa de um conteúdo. A temática abordada pelos parnasianos recupera temas da Antiguidade
Clássica, características de sua história e sua mitologia. É bem comum os textos descreverem deuses,
heróis, fatos lendários, personagens marcados na história e até mesmo objetos.

Cavalgamento ou encadeamento sintático: ocorre quando o verso termina quanto à métrica


(pois chegou na décima sílaba), mas não terminou quanto à ideia, quanto ao conteúdo, que se
encerra no verso de baixo. O verso depende do contexto para ser entendido. Tática para priorizar a
métrica e o conjunto de rimas.

Principais autores
Alberto de Oliveira: nasceu na cidade de Palmital de Saquarema (RJ), em 28 de abril de 1857.
Após cursar Medicina até o terceiro ano, abandonou o curso e optou pela área de farmacêutica,
formando-se em 1883. Alberto de Oliveira, além de professor de Literatura Brasileira,
exerceu a função de Diretor-Geral de instrução do Rio de Janeiro e foi um dos fundadores da
Academia Brasileira de Letras. Considerado pela crítica como sendo o mais Parnasiano dos
poetas brasileiros, Alberto de Oliveira, durante seus oitenta anos de vida, presenciou várias
transformações políticas e sociais, porém, isso não alterou o seu estilo literário, que permaneceu
sempre fiel ao Parnasianismo. Sua poesia sempre seguiu às rígidas regras da escola Parnasiana,
ou seja, perfeição formal e métrica rígida. A sua linguagem é cuidadosamente trabalhada,
chegando às vezes a ser rebuscada. Os temas giram em torno de bibelôs. Como exemplo, podem-
se citar os sonetos Vaso Grego e Vaso Chinês. A sua obra, dedicada exclusivamente à poesia, é
composta por: Canções Românticas; Sonetos e Poemas; Versos e Rimas; Poesias (em três séries; a
última, póstuma).

Olavo Bilac: estudou Medicina, mas acabou por se formar em Direito. No Rio de Janeiro,
dedicou-se ao jornalismo e à literatura. Em 1888, lançou o livro Poesias e, no ano seguinte,
mostrando-se estar muito envolvido como os ideais republicanos e nacionalistas, escreveu
o Hino à Bandeira. Ainda nesse período, escreveu outro hino: Profissão de Fé, considerado o
hino dos poetas Parnasianos, uma vez que compara o trabalho do poeta ao de um ouvires, que
trabalha as joias de forma minuciosa. Em 1893, foi exilado em Ouro Preto, por fazer oposição
ao Governo de Floriano Peixoto. Em 1907, foi eleito o primeiro “Príncipe dos Poetas do
Brasil”, em concurso realizado pela revista Fon-Fon. Devido ao sucesso que Olavo Bilac fazia
entre os jovens, o presidente Venceslau Brás o convidou para liderar as campanhas cívicas de
alfabetização e do serviço militar obrigatório. Em 28 de dezembro de 1918, o poeta faleceu no Rio
de Janeiro.

Desde o início de sua carreira poética, Olavo Bilac buscou a forma perfeita. A maioria de seus poemas
é escrito na forma fixa de soneto, com versos de 12 sílabas poéticas. Sua linguagem é extremamente
elaborada e as inversões gramaticais são uma constante em sua obra. Bilac foi tão fiel às regras do
Parnasianismo que os acontecimentos sociais e políticos de seu tempo, inclusive o seu exílio, não
influenciaram sua poesia. Sua obra é composta por: Poesias, Poemas Infantis e Tarde. Além disso,
devem ser incluídos vários contos, novelas e crônicas.

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a segunda fase da literatura brasileira │ UNIDADE II

Profissão de Fé
Não quero o Zeus Capitolino, Torce, aprimora, alteia, lima
Hercúleo e belo, A frase; e, enfim,
Talhar no mármore divino No verso de ouro engasta a rima,
Com o camartelo. Como um rubim.
[...]
Que outro – não eu! – a pedra corte Invejo o ourives quando escrevo:
Para, brutal, Imito o amor,
Erguer de Atene o altivo porte Com que ele, em ouro, o alto relevo,
Descomunal. Faz de uma flor.

Mais que esse vulto extraordinário, Imito-o. E, pois, nem de Carrara,


Que assombra a vista, A pedra firo.
Seduz-me um leve relicário O alvo cristal, a pedra rara,
De fino artista. O ônix prefiro.
Corre desenha, enfeita a imagem,
A ideia veste. Por isso, corre, por servir-me,
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Sobre o papel,
Azul-celeste. A pena, como em prata firme,
Corre o cinzel.

Raimundo Correa: formou-se advogado pela Faculdade do Largo São Francisco e, logo depois,
retornou ao Rio de Janeiro, onde fez uma bem-sucedida carreira judiciária. Faleceu a 13 de setembro
de 1911, em Paris, onde foi tratar da saúde. Raimundo Correia iniciou sua carreira poética com o livro
Primeiros Sonhos, revelando forte influência dos poetas Românticos Fagundes Varela, Casimiro de
Abreu e Castro Alves. Em 1883, com o livro Sinfonias, assumiu o Parnasianismo e passou formar,
ao lado de Alberto Oliveira e Olavo Bilac, a famosa “Tríade Parnasina”. Os temas adotados por
Raimundo Correia giram em torno da perfeição formal dos objetos. Ele se diferencia um pouco
dos demais parnasianos porque sua poesia é marcada por um forte pessimismo, chegando até a ser
sombrio. Ao analisar a obra de Raimundo Correia, percebe-se que há nela uma evolução. Ele iniciou
sua carreira como Romântico, depois adotou o Parnasianismo e, em alguns poemas aproximou-se
da escola Simbolista. A sua obra é composta por Primeiros Sonhos; Sinfonias; Versos e Versões;
Aleluias e Poesias.

Vicente Carvalho: advogado, jornalista, político, magistrado, poeta e contista, nasceu em Santos,
em 1866, e faleceu em São Paulo, em 1924. Em 1886, com 20 anos, tornou-se bacharel em Direito.
Em 1891, foi deputado no Congresso Constituinte do Estado. Em 1892, na organização do primeiro
governo constitucional do Estado, foi escolhido para a Secretaria do Interior. Por ocasião do golpe
de estado de Deodoro, abandonou o cargo que vinha exercendo e mudou-se para o interior de São
Paulo. Em 1907, tornou-se juiz de direito e, depois, ministro do Tribunal da Justiça do Estado.

Vicente de Carvalho foi, durante toda a sua vida, um jornalista combativo. Poeta lírico, ligou-se
desde o início ao grupo de jovens poetas de tendência parnasiana. Foi grande artista do verso, da
fase criadora do Parnasianismo. Da sua produção poética ele próprio destacou poemas que são
de extrema beleza, como: Palavras ao Mar, Cantigas Praianas, A Ternura do Mar, Fugindo ao
Cativeiro, Rosa, Rosa de Amor, Velho Tema, O Pequenino Morto.

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UNIDADE II │ A SEGUNDA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

O Simbolismo
O Simbolismo tem início no Brasil em 1893, com a publicação de dois livros: “Missal” e
“Broquéis”, ambos do poeta catarinense Cruz e Sousa, e estende-se até 1922, quando se realizou
a Semana de Arte Moderna. A escola reflete um momento histórico complexo, que retrata
insatisfações mundiais. A partir de 1881, na França, pintores, autores teatrais e escritores,
influenciados pelo misticismo advindo do grande intercâmbio com as artes, pensamento e
religiões orientais – procuram refletir em suas produções a consonância a essas diferentes
formas de olhar o mundo, de ver, e demonstrar o sentimento. Marcadamente individualista e
místico, foi com desdém apelidado de “decadentismo” – clara alusão à decadência dos valores
estéticos então vigentes. Mas em 1886, na França, um manifesto traz a denominação que viria
marcar definitivamente os adeptos dessa corrente: Simbolismo. Pode-se dizer que o precursor
do movimento, na França, foi o poeta francês Charles Baudelaire com As Flores do Mal, ainda
em 1857.

Os temas são místicos, espirituais. Abusa-se da sinestesia, sensação produzida pela interpenetração
de órgãos sensoriais: “cheiro doce” ou “grito vermelho”, das aliterações (repetição de letras ou sílabas
em uma mesma oração: “Na messe que estremece”) e das assonâncias, repetição fônica das vogais:
repetição da vogal “e” no mesmo exemplo de aliteração, tornando os textos poéticos simbolistas
profundamente musicais.

No Brasil, as características da escola se apresentam principalmente na obra de dois autores: Cruz e


Sousa e Alphonsus de Guimarães. Cruz e Souza foi considerado o “Cisne Negro” ou “Dante Negro”.
Figura mais importante do Simbolismo brasileiro, sem ele, dizem os especialistas, não haveria essa
estética no Brasil. Sua obra apresenta uma evolução importante: na medida em que abandona o
subjetivismo e a angústia iniciais, avança para posições mais universalizantes – sua produção inicial
fala da dor e do sofrimento do homem negro (observações pessoais, pois era filho de escravos), mas
evolui para o sofrimento e a angústia do ser humano.

Outro grande autor do período foi Alphonsus de Guimarães, que preferiu se manter fiel a um “triângulo”
que caracterizou toda a sua obra: misticismo, amor e morte. A crítica o considera o mais místico poeta
de nossa literatura. O amor pela noiva, morta às vésperas do casamento, e sua profunda religiosidade e
devoção por Nossa Senhora geraram um misticismo exagerado. Um exemplo é o Setenário das Dores
de Nossa Senhora, em que ele atesta sua devoção pela Virgem. A morte aparece em sua obra como um
único meio de atingir a sublimação e se aproximar de Constança – a noiva morta – e da Virgem. Daí
o amor aparecer sempre espiritualizado. A própria decisão de se isolar na cidade mineira de Mariana,
que ele próprio considerou sua “torre de marfim”, é uma postura simbolista.

Principais características
Subjetivismo: a visão simbolista interessa-se mais pelo particular e individual do que pelo geral.
Tudo se volta para o indivíduo e o seu mundo interior. Dessa forma, é uma poesia que se opõe
à poética parnasiana e se reaproxima da estética romântica, porém mais do que se voltar para o
coração, os simbolistas procuram o mais profundo do “eu”, buscam o inconsciente, o sonho.

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a segunda fase da literatura brasileira │ UNIDADE II

Musicalidade: característica marcante da estética simbolista com recursos de aliteração


e assonância.

Transcendentalismo: um dos princípios básicos dos simbolistas era sugerir por meio de
palavras sem nomear objetivamente os elementos da realidade com ênfase no imaginário e na
fantasia. Para interpretar a realidade, os simbolistas se valem da intuição e não da razão ou da
lógica. Preferem o vago, o indefinido ou impreciso. Por isso, gostam tanto de palavras como:
névoa, neblina, bruma, vaporosa.

Principais autores
Cruz e Sousa: filho de negros alforriados, desde pequeno recebeu a tutela e uma educação
refinada de seu ex-senhor, o Marechal Guilherme Xavier de Sousa, de quem adotou o nome de
família. Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com
quem aprendeu Matemática e Ciências Naturais. Em 1881, dirigiu o jornal Tribuna Popular, no
qual combateu a escravidão e o preconceito racial. Em 1883, foi recusado como promotor de
Laguna por ser negro. Em 1885, lançou o primeiro livro Tropos e Fantasias, em parceria com
Virgílio Várzea. Cinco anos depois, foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como arquivista
na Estrada de Ferro Central do Brasil, colaborando também com o jornal Folha Popular. Em
fevereiro de 1893, publicou Missal (prosa poética) e, em agosto, Broquéis (poesia) e promoveu
o início do Simbolismo no Brasil. Em novembro do mesmo ano, casou-se com Gavita Gonçalves,
também negra, com quem teve quatro filhos, todos mortos prematuramente por tuberculose, o
que o levou à loucura. Faleceu em 19 de março de 1898, no município mineiro de Antônio Carlos,
num povoado chamado Estação do Sítio, para onde fora transportado às pressas vencido pela
tuberculose. Seus poemas são marcados pela musicalidade, pelo individualismo, pelo sensualismo,
além de uma obsessão pela cor branca.

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UNIDADE II │ A SEGUNDA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

Antífona
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras Infinitos espíritos dispersos,
De luares, de neves, de neblinas! Inefáveis, edênicos, aéreos,
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Fecundai o Mistério destes versos,
Incensos dos turíbulos das aras Com a chama ideal de todos os mistérios,

Formas do Amor, constelarmante puras, Do Sonho as mais azuis diafaneidades,


De Virgens e de Santas vaporosas... Que fuljam, que na Estrofe se levantem,
Brilhos errantes, mádidas frescuras, E as emoções, todas as castidades,
E dolências de lírios e de rosas, Da alma do Verso, pelos versos cantem,

Indefiníveis músicas supremas, Que o pólen de ouro dos mais finos astros,
Harmonias da Cor e do Perfume... Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Que brilhe a correção dos alabastros,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume... Sonoramente, luminosamente.

Visões, salmos e cânticos serenos, Forças originais, essência, graça,


Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes... De carnes de mulher, delicadezas...
Dormências de volúpicos venenos, Todo esse eflúvio que por ondas passa,
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes ... Do Éter nas róseas e áureas correntezas...

Cristais diluídos de clarões álacres, Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,


Desejos, vibrações, ânsias, alentos, Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Fulvas vitórias, triunfamentos acres, Passe, cantando, ante o perfil medonho,
Os mais estranhos estremecimentos... E o tropel cabalístico da Morte...

Flores negras do tédio e flores vagas,


De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas,
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...

Alphonsus de Guimaraens: seus sonetos apresentam uma estrutura clássica e são profundamente
religiosos e sensíveis na medida em que ele explora o sentido da morte, do amor impossível, da solidão e
da inadaptação ao mundo. Contudo, o tom místico imprime, em sua obra, um sentimento de aceitação
e resignação diante da própria vida, dos sofrimentos e dores. Outra característica marcante de sua
obra é a utilização da espiritualidade em relação à figura feminina, que é considerada um anjo, ou
um ser celestial. Sua obra, predominantemente poética, consagrou-o como um dos principais autores
simbolistas do Brasil. Em referência à cidade em que passou parte de sua vida, é também chamado de
“o solitário de Mariana”, a sua “torre de marfim do simbolismo”. Sua poesia é quase toda voltada para
o tema da morte da mulher amada. Viveu seus últimos anos na obscuridade ao lado de sua esposa,
Zenaide de Oliveira, com quem teve 14 filhos, dois dos quais também escritores: João Alphonsus e
Alphonsus de Guimaraens Filho.

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a segunda fase da literatura brasileira │ UNIDADE II

Ismália
Quando Ismália enlouqueceu, E, no desvario seu,
Pôs-se na torre a sonhar... Na torre pôs-se a cantar...
Viu uma lua no céu, Estava longe do céu...
Viu outra lua no mar. Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
No sonho em que se perdeu, As asas para voar. . .
Banhou-se toda em luar... Queria a lua do céu,
Queria subir ao céu, Queria a lua do mar...
Queria descer ao mar... As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma, subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

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Capítulo 4
Pré-Modernismo

O que se convencionou chamar de Pré-Modernismo no Brasil não constitui uma escola literária
propriamente dita, mas um período de transição. Pré-Modernismo é, na verdade, um termo
genérico que designa uma vasta produção literária que caracterizou os primeiros vinte anos
desse século. Nele é que se encontram as mais variadas tendências e estilos literários – desde os
poetas parnasianos e simbolistas, que continuavam a produzir, até os escritores que começavam a
desenvolver um novo regionalismo, alguns preocupados com uma literatura política, e outros com
propostas realmente inovadoras. É grande a lista dos autores que pertenceram ao Pré-Modernismo,
mas, indiscutivelmente, merecem destaque: Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha,
Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos.

O período tem início em 1902, com a publicação de dois livros: Os Sertões, de Euclides da Cunha, e
Canaã, de Graça Aranha, e se estende até o ano de 1922, com a realização da Semana de Arte Moderna.

Apesar de não constituir uma escola literária, apresentando individualidades muito fortes, com
estilos às vezes antagônicos – como é o caso, por exemplo, de Euclides da Cunha e Lima Barreto –
percebe-se alguns pontos comuns entre as principais obras pré-modernistas. Eram obras inovadoras,
que apresentavam ruptura com o passado, com o academicismo; primavam pela denúncia da realidade
brasileira, negando o Brasil literário, herdado do Romantismo e do Parnasianismo. O grande tema do
Pré-Modernismo é o Brasil não oficial do sertão nordestino, dos caboclos interioranos, dos subúrbios.
Acentuavam o regionalismo, com o qual os autores acabam montando um vasto painel brasileiro:
o Norte e o Nordeste nas obras de Euclides da Cunha, o Vale do Rio Paraíba e o interior paulista
nos textos de Monteiro Lobato, o Espírito Santo retratado por Graça Aranha, ou o subúrbio carioca,
temática quase que invariável na obra de Lima Barreto. Difundiram os tipos humanos marginalizados,
que tiveram ampliado o seu perfil, até então desconhecido, ou desprezado, quando conhecido – o
sertanejo nordestino, o caipira, os funcionários públicos, o mulato –, e traçaram uma ligação entre os
fatos políticos, econômicos e sociais contemporâneos, aproximando a ficção da realidade.

Esses escritores acabaram produzindo uma redescoberta do Brasil, mais próxima da realidade, e
pavimentaram o caminho para o período literário seguinte, o Modernismo, iniciado em 1922, que
acentuou de vez a ruptura com o que até então se conhecia como literatura brasileira.

Principais autores
Augusto dos Anjos: nasceu no Engenho Pau d’Arco, no município de Cruz do Espírito Santo,
estado da Paraíba. Foi educado nas primeiras letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, onde
viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro, compôs os primeiros versos aos 7 anos de
idade. Em 1903, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se
em 1907. Em 1910, casou-se com Ester Fialho. Dedicou-se ao magistério, transferindo-se para o Rio
de Janeiro, onde foi professor em vários estabelecimentos de ensino. Faleceu em 12 de novembro

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a segunda fase da literatura brasileira │ UNIDADE II

de 1914, por causa de uma pneumonia aos 30 anos, em Leopoldina, Minas Gerais, onde era diretor
de um grupo escolar. Durante sua vida, publicou vários poemas em periódicos, sendo o primeiro,
Saudade, em 1900. Em 1912, publicou seu livro único de poemas Eu. Após sua morte, seu amigo
Órris Soares organizou uma edição , em 1920, chamada Eu e Outras Poesias, incluindo poemas até
então não publicados pelo autor.

A obra de Augusto dos Anjos pode ser dividida, não com rigor, em três fases: a primeira, muito
influenciada pelo Simbolismo e sem a originalidade que marcaria as posteriores. A essa fase
pertencem Saudade e Versos Íntimos. A segunda possui o caráter de sua visão de mundo peculiar.
Um exemplo dessa fase é o soneto Psicologia de um Vencido. A última corresponde à sua produção
mais complexa e madura, que inclui Ao Luar. Sua poesia chocou muitos, principalmente os poetas
parnasianos, mas hoje é um dos poetas brasileiros que mais foram reeditados. Sua popularidade
se deveu principalmente ao sucesso entre as camadas populares brasileiras e à divulgação feita
pelos modernistas.

Versos Íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
Enterro de tua última quimera. O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
Somente a Ingratidão – esta pantera – A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Foi tua companheira inseparável!
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Acostuma-te à lama que te espera! Apedreja essa mão vil que te afaga,
O Homem, que, nesta terra miserável, Escarra nessa boca que te beija!
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Euclides da Cunha: em 1891, deixou a Escola de Guerra e foi designado coadjuvante de ensino
na Escola Militar. Quando surgiu a insurreição de Canudos, em 1897, escreveu dois artigos
pioneiros intitulados A Nossa Vendeia, que lhe valeram um convite do jornal O Estado de São
Paulo para presenciar o final do conflito. Isso porque ele considerava, como muitos republicanos à
época, que o movimento de Antonio Conselheiro tinha a pretensão de restaurar a monarquia e era
apoiado pelos monarquistas residentes no País e no exterior. Euclides não ficou até a derrubada de
Canudos. Mas conseguiu reunir material para, durante cinco anos, elaborar Os Sertões: campanha
de Canudos (1902). O livro trata da campanha de Canudos (1897), no nordeste da Bahia. A obra
rompe com a ideia pré-concebida de que a revolta de Canudos seria comandada a distância pelos
monarquistas. No livro, ele percebe que se trata de uma sociedade completamente diferente
da litorânea. De certa forma, ele descobriu o Brasil, ou um Brasil diferente da representação
usual que dele se tinha. Euclides conseguiu ficar internacionalmente famoso com a publicação
dessa obra-prima. Divide-se em três partes: A terra, O homem e A luta. Nelas, Euclides analisa,
respectivamente, as características geológicas, botânicas, zoológicas e hidrográficas da região,
os costumes e a religiosidade sertaneja e, enfim, narra os fatos ocorridos nas quatro expedições
enviadas ao arraial liderado por Antônio Conselheiro.

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UNIDADE II │ A SEGUNDA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

Graça Aranha: estudou Direito pela Faculdade do Recife e exerceu cargos na magistratura e na
carreira diplomática. Sua obra apresenta uma visão filosófica e artística assimilada de fontes muito
diferentes e às vezes contraditórias. Graças aos cargos que ocupou na diplomacia brasileira em
países europeus, esteve a par dos movimentos pós-simbolistas que surgiam na Europa, tentando
introduzi-los na literatura brasileira. Sua obra Canaã é um marco do chamado Pré-Modernismo,
publicada em 1902.

Lima Barreto: foi o crítico mais agudo da época da República Velha no Brasil, rompendo com o
nacionalismo ufanista e pondo a nu a roupagem da República, que manteve os privilégios de famílias
aristocráticas e dos militares. Em sua obra, de temática social, privilegiou os pobres, os boêmios e
os arruinados, sendo severamente criticado pelos seus contemporâneos parnasianos por seu estilo
despojado, fluente e coloquial, que acabou influenciando os escritores modernistas. Também queria
que a sua literatura fosse militante. Escrever tinha finalidade de criticar o mundo circundante para
despertar alternativas renovadoras dos costumes e de práticas que, na sociedade, privilegiavam pessoas
e grupos. Para ele, o escritor tinha uma função social. Em 1914, começou a publicação, em formato
de folhetins no Jornal do Dia, de sua mais importante obra Triste Fim de Policarpo Quaresma que
um ano mais tarde foi editado em brochura e considerado pela crítica especializada como basilar no
período do pré-modernismo.

Monteiro Lobato: um dos mais influentes escritores brasileiros do século XX. Foi o “precursor”
da literatura infantil brasileira e ficou popularmente conhecido pelo conjunto educativo, bem
como divertido, de sua obra de livros infantis, o que seria aproximadamente metade da sua
produção literária. A outra metade, consistindo de inúmeros e deliciosos contos (geralmente
sobre temas brasileiros), artigos, críticas, prefácios, um livro sobre a importância do petróleo e
do ferro e um único romance, O Presidente Negro, que não alcançou a mesma popularidade que
suas obras para crianças.

48
Capítulo 5
Modernismo

A Semana de Arte Moderna


O Modernismo, como tendência literária ou estilo de época, teve seu prenúncio com a realização
da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro
de 1922. Idealizada por um grupo de artistas, a Semana pretendia colocar a cultura brasileira a par
das correntes de vanguarda do pensamento europeu, ao mesmo tempo que pregava a tomada de
consciência da realidade brasileira.

O movimento não deve ser considerado apenas do ponto de vista artístico, como recomendam os
historiadores e críticos especializados em história da literatura brasileira, mas também como um
movimento político e social. O país estava dividido entre o rural e o urbano. Mas o bloco urbano
não era homogêneo. As principais cidades brasileiras, em particular São Paulo, conheciam uma
rápida transformação como consequência do processo industrial. A Primeira Guerra Mundial foi a
responsável pelo primeiro surto de industrialização e consequente urbanização. O Brasil contava com
3.358 indústrias em 1907. Em 1920, esse número pulou para 13.336. Isso significou o surgimento
de uma burguesia industrial cada dia mais forte, mas marginalizada pela política econômica do
governo federal, voltada para a produção e exportação do café.

Ao lado disso, o número de imigrantes europeus crescia consideravelmente, especialmente os italianos,


distribuindo-se entre as zonas produtoras de café e as zonas urbanas, onde estavam as indústrias.
De 1903 a 1914, o Brasil recebeu nada menos que 1,5 milhão de imigrantes. Nos centros urbanos,
criou-se uma faixa considerável de população espremida pelos barões do café e pela alta burguesia, de
um lado, e pelo operariado, de outro. Surge a pequena burguesia, formada por funcionários públicos,
comerciantes, profissionais liberais e militares, entre outros, criando uma massa politicamente
“barulhenta” e reivindicatória.

A falta de homogeneidade no bloco urbano tem origem em alguns aspectos do comportamento do


operariado. Os imigrantes de origem europeia trazem suas experiências de luta de classes. Em geral,
esses trabalhadores eram anarquistas e suas ações resultavam, quase sempre, em greves e tensões
sociais de toda sorte. Logo depois, quando ocorreu a Revolução Russa, os artigos na imprensa a esse
respeito tornaram-se cada vez mais comuns. O Partido Comunista seria fundado em 1922. Desde
então, ocorreria o declínio da influência anarquista no movimento operário.

Dessa forma, circulavam pela cidade de São Paulo, em uma mesma calçada, um barão do café,
um operário anarquista, um padre, um burguês, um nordestino, um professor, um negro, um
comerciante, um advogado, um militar etc., formando, de fato, uma “pauliceia desvairada” (título
de célebre obra de Mário de Andrade). Esse desfile inusitado e variado de tipos humanos serviu
de palco ideal para a realização de um evento que mostrasse uma arte inovadora a romper com as
velhas estruturas literárias vigentes no país.

49
UNIDADE II │ A SEGUNDA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

Primeira fase
O período de 1922 a 1930 é o mais radical do movimento modernista, justamente em consequência
da necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado. Daí o caráter
anárquico desta primeira fase modernista e seu forte sentido destruidor.

Ao mesmo tempo em que se procura o moderno, o original e o polêmico, o nacionalismo manifesta-


se em suas múltiplas facetas: uma volta às origens, à pesquisa das fontes quinhentistas, à procura
de uma língua brasileira (a língua falada pelo povo nas ruas), às paródias, em uma tentativa de
repensar a história e a literatura brasileiras, e à valorização do índio verdadeiramente brasileiro. É
o tempo dos manifestos nacionalistas do Pau-Brasil (o Manifesto do Pau-Brasil, escrito por Oswald
de Andrade, em 1924, propõe uma literatura extremamente vinculada à realidade brasileira) e da
Antropofagia dentro da linha comandada por Oswald de Andrade. Mas havia também os manifestos
do Verde-Amarelismo e o do Grupo da Anta, que trazem a semente do nacionalismo fascista
comandado por Plínio Salgado.

No final da década de 1920, a postura nacionalista apresentou duas vertentes distintas: de um lado,
um nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade brasileira e identificado politicamente
com as esquerdas; de outro, o nacionalismo ufanista, utópico, exagerado, identificado com as
correntes políticas de extrema direita.

Entre os principais nomes dessa primeira fase do Modernismo, que continuariam a produzir nas
décadas seguintes, destacam-se Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio
de Alcântara Machado, além de Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e
Plínio Salgado.

Principais autores:

Antônio de Alcântara Machado (1901-1935) – Pathé Baby; Brás, Bexiga e Barra Funda; Laranja
da China; Mana Maria; Cavaquinho e Saxofone (prosa).

Cassiano Ricardo (1895-1974) – Dentro da Noite; A frauta de Pã; Martim-Cererê; Deixa estar, Jacaré;
O sangue das horas; Jeremias sem-chorar (poesia).

Guilherme de Almeida (1890-1969) – Nós; Messidor; Livro de horas de Sóror Dolorosa; A frauta
que eu perdi; A flor que foi um homem; Raça (poesia).

Juó Bananère (Alexandre Ribeiro Marcondes Machado – 1892-1933) – La Divina Increnca


(poesia).

Manuel Bandeira (1886-1968) – Cinza das Horas; Carnaval; O Ritmo Dissoluto; Libertinagem;
Lira dos Cinquent’anos; Estrela da Manhã; Mafuá do Malungo; Opus 10; Estrela da Tarde; Estrela
da Vida Inteira (poesia); Crônicas da Província do Brasil; Itinerário de Passárgada; Frauta de
Papel (prosa).

Mário de Andrade (1893-1945) – Há uma gota de sangue em cada poema; Pauliceia Desvairada;
Losango Cáqui; Clã do Jabuti; Remate de Males; Lira Paulistana (poesia); Macunaíma (rapsódia);

50
a segunda fase da literatura brasileira │ UNIDADE II

Amar, Verbo Intransitivo (romance); Belazarte; Contos Novos (contos); A Escrava que não é
Isaura; Música, Doce música; Namoros com a Medicina; O empalhador de Passarinho; Aspectos da
Literatura Brasileira; O Baile das quatro artes (ensaios); Os Filhos da Candinha (crônicas).

Menotti Del Picchia (1892-1988) – Juca Mulato; Moisés; Chuva de Pedras (poesia); O Homem e
a Morte; Salomé; A Tormenta (romances).

Oswald de Andrade (1890-1954) – Pau-Brasil; Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de


Andrade; Cântico dos Cânticos para flauta e violão (poesia); Serafim Ponte Grande; Os Condenados;
A Estrela de Absinto; A Escada Vermelha; Memórias Sentimentais de João Miramar; Marco Zero
(2 volumes – romances); O Homem e o Cavalo; A Morta; O Rei da Vela (teatro); Um Homem sem
Profissão 1: Sob as Ordens de Mamãe (memórias).

Plínio Salgado (1901-1975) – O Estrangeiro; O Cavaleiro de Itararé (romances).

Raul Bopp (1898-1984) – Cobra Norato; Urucungo (poesia).

Ronald de Carvalho (1893-1935) – Toda a América; Epigramas Irônicos e Sentimentais; Luz


Gloriosa e Sonetos (poesia).

Segunda fase
O período de 1930 a 1945 foi marcado por um profundo e significativo momento de nossa literatura.
Refletindo o mesmo momento histórico e expessando as mesmas preocupações dos poetas da
década de 1930 (Murilo Mendes, Jorge de Lima, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e
Vinícius de Moraes), a segunda fase do Modernismo apresentou autores como José Lins do Rego,
Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Érico Veríssimo, que produzem uma literatura
de caráter mais construtivo, de maturidade, aproveitando as conquistas da geração de 1922 e sua
prosa inovadora.

Na década de 1930, o país passava por grandes transformações, fortemente marcadas pela
Revolução de 30 e pelo questionamento das oligarquias tradicionais. Não havia como não sentir os
efeitos da crise econômica mundial, os choques ideológicos que levavam a posições mais definidas e
engajadas. Tudo isso, formou um campo propício ao desenvolvimento de um romance caracterizado
pela denúncia social, verdadeiro documento da realidade brasileira, atingindo um elevado grau de
tensão nas relações do indivíduo com o mundo.

Nessa busca do homem brasileiro “espalhado nos mais distantes recantos de nossa terra”, no
dizer de José Lins do Rego, o regionalismo ganha uma importância até então não alcançada na
literatura brasileira, levando ao extremo as relações do personagem com o meio natural e social.
Destaque especial merecem os escritores nordestinos que vivenciam a passagem de um Nordeste
medieval para uma nova realidade capitalista e imperialista. E nesse aspecto, o baiano Jorge
Amado é um dos melhores representantes do romance brasileiro, quando retrata o drama da
economia cacaueira, desde a conquista e uso da terra até a passagem de seus produtos para as
mãos dos exportadores. Mas também não se pode esquecer de José Lins do Rego, com as suas
regiões de cana, os banguês e os engenhos sendo devorados pelas modernas usinas.

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UNIDADE II │ A SEGUNDA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

O primeiro romance representativo do regionalismo nordestino, que teve seu ponto de partida no
Manifesto Regionalista de 1926 (este manifesto, elaborado pelo Centro Regionalista do Nordeste,
procura desenvolver o sentimento de unidade dentro dos novos valores modernistas. Propõe
trabalhar em prol dos interesses da região nos seus aspectos diversos – sociais, econômicos e
culturais) foi A Bagaceira, de José Américo de Almeida, publicado em 1928. Verdadeiro marco
na história literária do Brasil, sua importância deve-se mais à temática (a seca, os retirantes, o
engenho), e ao caráter social do romance, do que aos valores estéticos.

Principais autores

Verso
Augusto Frederico Schmidt (1906-1965) – Navio Perdido; Pássaro Cego; Desaparição da
Amada; Canto da Noite; Estrela Solitária.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) – Alguma Poesia; Brejo das Almas; Sentimento do
Mundo; A Rosa do Povo; Claro Enigma; Viola de Bolso; Fazendeiro do Ar; Viola de Bolso Novamente
Encordoada; Lição de Coisas; Versiprosa; Boitempo; Reunião; As Impurezas do Branco; Menino
Antigo; O Marginal Clorindo Gato; Corpo (poesia); Confissões de Minas; O Gerente; Contos de
Aprendiz (prosa).

Cecília Meireles (1901-1964) – Espectros; Nunca Mais; Metal Rosicler; Viagem; Vaga Música; Mar
Absoluto; Retrato Natural; Romanceiro da Inconfidência; Solombra; Ou Isto ou Aquilo (poesia);
Giroflê, Giroflá; Escolha seu Sonho (prosa).

Jorge de Lima (1895-1953) – XIV Alexandrinos; O Mundo do Menino Impossível; Tempo e


Eternidade (com Murilo Mendes); Quatro Poemas Negros; A Túnica Inconsútil; Livro de Sonetos;
Anunciação; Encontro de Mira-Celi; Invenção de Orfeu (poesia); Salomão e as Mulheres; Calunga;
Guerra Dentro do Beco (prosa).

Murilo Mendes (1901-1975) – História do Brasil; A poesia em pânico; O visionário; As


metamorfoses; Mundo enigma; Poesia liberdade; Contemplação de Ouro Preto (poesia); O discípulo
dos Emaús; A idade do serrote; Poliedro (prosa).

Vinícius de Morais (1913-1980) – O Caminho para a Distância; Forma e Exegese; Ariana, a


Mulher; Cinco Elegias; Para Viver um Grande Amor (poesia); Orfeu da Conceição (teatro).

Prosa
Cornélio Pena (1896-1958) – Fronteira; Repouso; A Menina Morta.

Cyro dos Anjos (1906-1994) – O Amanuense Belmiro; Abdias; A Montanha.

Érico Veríssimo (1905-1975) – Clarissa; Música ao Longe; Um Lugar ao Sol; Olhai os Lírios do
Campo; O Resto é Silêncio; Noite; O Tempo e o Vento (O Continente, O Retrato e O Arquipélago);
O Senhor Embaixador; Incidente em Antares.

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a segunda fase da literatura brasileira │ UNIDADE II

Graciliano Ramos (1892-1953) – Angústia; Caetés; São Bernardo; Vidas Secas; Infância; Insônia;
Memórias do Cárcere; Viagem.

Jorge Amado (1912-2001) – O País do Carnaval; Cacau; Suor; Capitães de Areia; Jubiabá; Seara
Vermelha; Terras do Sem-Fim; São Jorge dos Ilhéus; O Cavaleiro da Esperança; Gabriela, Cravo e
Canela; Os Pastores da Noite; Dona Flor e Seus Dois Maridos; Tenda dos Milagres; Tieta do Agreste,
Tereza Batista Cansada de Guerra; Tocaia Grande; O Sumiço da Santa.

José Américo de Almeida (1887-1980) – A Bagaceira; O Boqueirão; Coiteiros.

José Lins do Rego (1901-1957) – Menino de Engenho; Doidinho; Banguê; O Moleque Ricardo;
Usina; Pedra Bonita; Fogo Morto; Riacho Doce; Pureza; Água Mãe; Eurídice.

Lúcio Cardoso (1913-1968) – Maleita; Mãos Vazias; O Desconhecido; Crônica da Casa Assassinada;
O Viajante.

Marques Rebelo (1907-1973) – Oscarina; Marafa; A Estrela Sobe; O Espelho Partido.

Otávio de Faria (1908-1980) – Tragédia Burguesa.

Patrícia Galvão (1910-1962) – Parque Industrial; A Famosa Revista (em parceria com Geraldo
Ferraz).

Rachel de Queiroz (1910-2003) – O Quinze; João Miguel; Caminho de Pedras; As Três Marias
(romances); Lampião; A Beata Maria do Egito (teatro).

53
a terceira fase
da literatura Unidade iII
brasileira

Capítulo 1
Tendências Contemporâneas

Pós-Modernismo
O Pós-Modernismo insere-se no contexto dos extraordinários fenômenos sociais e políticos que
ocorreram em torno e a partir de 1945: Segunda Guerra Mundial, Organização das Nações Unidas
(ONU), Declaração dos Direitos do Homem etc. O Brasil vive o fim da ditadura de Getúlio Vargas e o
início de um processo de redemocratização. Convoca-se uma eleição geral e os partidos são legalizados.

A literatura brasileira também passa por profundas alterações, com algumas manifestações
representando muitos passos adiante; outras, um retrocesso. O jornal O Tempo, excelente crítico
literário, encarrega-se de fazer a seleção. A prosa, tanto nos romances como nos contos, aprofunda
a tendência já trilhada por alguns autores da década de 1930 em busca de uma literatura intimista,
de sondagem psicológica, introspectiva, com destaque para Clarice Lispector. Ao mesmo tempo,
o regionalismo adquire uma nova dimensão com a produção fantástica de João Guimarães Rosa
e sua recriação dos costumes e da fala sertaneja, penetrando fundo na psicologia do jagunço do
Brasil Central.

Na poesia, ganha corpo, a partir de 1945, uma geração de poetas que se opõe às conquistas e
inovações dos modernistas de 1922. A nova proposta foi defendida, inicialmente, pela revista Orfeu,
cujo primeiro número é lançado na Primavera de 1947 e que afirma, entre outras coisas, que “uma
geração só começa a existir no dia em que não acredita nos que a precederam, e só existe realmente
no dia em que deixam de acreditar nela”.

Essa geração de escritores negou a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras “brincadeiras”
modernistas. Os Poetas de 45 partem para uma poesia mais equilibrada e séria, distante do que eles
chamavam de “primarismo desabonador” de Mário de Andrade e Oswald de Andrade. A preocupação
primordial era quanto ao restabelecimento da forma artística e bela; os modelos voltam a ser os
mestres do Parnasianismo e do Simbolismo.

Esse grupo, chamado de Geração de 45, era formado, entre outros poetas, por Lêdo Ivo, Péricles
Eugênio da Silva Ramos, Geir Campos e Darcy Damasceno. O final dos anos 1940, no entanto,

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a terceira fase da literatura brasileira │ UNIDADE III

revelou um dos mais importantes poetas da nossa literatura, não filiado esteticamente a qualquer
grupo e aprofundador das experiências modernistas anteriores: ninguém menos que João Cabral
de Melo Neto. Contemporâneos a ele, e com alguns pontos de contato com sua obra, destacam-se
Ferreira Gullar e Mauro Mota.

Literatura Contemporânea
A produção contemporânea deve ser entendida como as obras e movimentos literários surgidos
nas décadas de 1960 e 1970 e que refletiram um momento histórico caracterizado inicialmente
pelo autoritarismo, por uma rígida censura e enraizada autocensura. Seu período mais crítico
ocorreu entre os anos de 1968 e 1978, durante a vigência do Ato Institucional no 5 (AI-5).
Tanto que, logo após a extinção do ato, verificou-se uma progressiva normalização no país. As
adversidades políticas, no entanto, não mergulharam o país numa calmaria cultural. Ao contrário,
as décadas de 1960 e 1970 assistiram a uma produção cultural bastante intensa em todos
os setores.

Na poesia, percebe-se a preocupação em manter uma temática social, um texto participante, com
a permanência de nomes consagrados como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo
Neto e Ferreira Gullar, ao lado de outros poetas que ainda aparavam as arestas em suas produções.

O início da década de 1960 apresentou alguns grupos em luta contra o que chamaram “esquemas analítico-
-discursivos da sintaxe tradicional”. Ao mesmo tempo, esses grupos buscavam soluções no
aproveitamento visual da página em branco, na sonoridade das palavras e nos recursos gráficos. O
sintoma mais importante desse movimento foi o surgimento da Poesia Concreta e da Poesia Práxis.
Paralelamente, surgia a poesia “marginal”, que se desenvolve fora dos grandes esquemas industriais
e comerciais de produção de livros.

No romance, ao lado da última produção de Jorge Amado e Érico Veríssimo, e das obras
“lacriminosas”de José Mauro de Vasconcelos (Meu Pé de Laranja-Lima, Barro Blanco), de muito
sucesso junto ao grande público, tem se mantido o regionalismo de Mário Palmério, Bernardo Élis,
Antônio Callado, Josué Montello e José Cândido de Carvalho. Entre os intimistas, destacam-se
Osman Lins, Autran Dourado e Lygia Fagundes Telles.

Na prosa, as duas décadas citadas assistiram à consagração das narrativas curtas (crônica e conto).
O desenvolvimento da crônica está intimamente ligado ao espaço aberto a esse gênero na grande
imprensa. Hoje, por exemplo, não há um grande jornal que não inclua em suas páginas crônicas
de Rubem Braga, Fernando Sabino, Carlos Heitor Cony, Paulo Mendes Campos, Luís Fernando
Veríssimo e Lourenço Diaféria, entre outros. Deve-se fazer uma menção especial a Stanislaw Ponte
Preta (Sérgio Porto), que, com suas bem humoradas e cortantes sátiras político-sociais, escritas na
década de 1960, tem servido de mestre a muitos cronistas.

O conto, por outro lado, analisado no conjunto das produções contemporâneas, situa-se em posição
privilegiada tanto em qualidade quanto em quantidade. Entre os contistas mais significativos,
destacam-se Dalton Trevisan, Moacyr Scliar, Samuel Rawet, Rubem Fonseca, Domingos Pellegrini
Jr. e João Antônio.

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UNIDADE III │ A TERCEIRA FASE DA LITERATURA BRASILEIRA

Principais autores
Ariano Suassuna (1927-2014) – Auto da Compadecida; A Pena e a Lei; O Santo e a Porca (teatro).

Clarice Lispector (1925-1977) – Perto do Coração Selvagem; O Lustre; A Maçã no Escuro; Laços
de Família; A Legião Estrangeira; A Paixão Segundo G. H.; Água Viva; A Via Crucis do Corpo; A
Hora da Estrela; Um Sopro de Vida.

Ferreira Gullar (1930-1999) – A Luta Corporal; João Boa-Morte; Dentro da Noite Veloz; Cabra
Marcado para Morrer; Poema Sujo (poesia).

Geir Campos (1924) – Rosa dos Rumos; Canto Claro; Operário do Canto (poesia).

Guimarães Rosa (1908-1967) – Sagarana; Corpo de Baile; Grande Sertão: Veredas; Primeiras
Estórias; Tutameia; Terceiras Estórias; Estas Estórias.

João Cabral de Melo Neto (1920-1999) – Pedra do Sono; O Engenheiro; Psicologia da Composição;
Fábula de Anfion e Antiode; O Cão sem Plumas; O Rio; Morte e Vida Severina; Uma Faca só Lâmina;
Quaderna; A Educação pela Pedra; Auto do Frade; Agrestes; Crime de la Calle Relator.

Jorge Andrade (1922-1984) – A Moratória; Vereda da Salvação; A Escada; Os Ossos do Barão;


Senhora da Boca do Lixo; Rasto Atrás; Milagre na Cela (teatro).

Lêdo Ivo (1924-2012) – O Caminho sem Aventura; A Morte do Brasil; Ninho de Cobra; As Alianças;
O Sobrinho do General; A Noite Misteriosa (poesia); Use a Passagem Subterrânea (conto).

Mauro Mota (1912-1984) – Canto ao Meio; Elegias (poesia).

Nelson Rodrigues (1912-1980) – Vestido de Noiva; Perdoa-me por me Traíres; Álbum de Família;
Os Sete Gatinhos; Viúva Porém Honesta; Bonitinha mas Ordinária; A Falecida; Boca de Ouro; Beijo
no Asfalto; Toda Nudez Será Castigada; A Serpente (teatro); O Casamento (romance).

Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919-1992) – Sol sem Tempo; Lamentação Floral (poesia).

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PArA (não) FinALizAr

Caro participante, espero que esteja tudo bem com você neste momento em que terminamos o
conteúdo da disciplina!

Como se pode perceber, procuramos sintetizar bem o conteúdo e ampliar as reflexões durante a
realização do curso. Literatura não tem fim. Esta disciplina não tem um final. Ela se apresenta
renovada a cada dia. É nossa obrigação acadêmica formatar o assunto em escolas, períodos,
tendências etc. No entanto, na verdade, os autores contribuem de formas variadas. O conhecimento
que adquirimos na escola é apenas uma base intelectual objetiva. Importa-nos ler sem o compromisso
técnico do assunto. Machado de Assis, por exemplo, é universal. Guimarães Rosa não pode ser
enquadrado em apenas uma escola.

Assim, realmente, espero que o assunto permaneça em nossas vidas para sempre. Ler Mário
Quintana é para a vida toda.

Um abraço,

Marcelo Paiva

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REFERÊNCIAS
CÂNDIDO, Antônio. Formação da literatura brasileira. Vol. 2. São Paulo: Itatiaia, 1975.

_____.A poesia pantagruélica. São Paulo: Duas Cidades, 1993.

MENESES, R. Dicionário literário brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos,
1978.

MOLTA, A. História da literatura brasileira. São Paulo: Ed. Cia Nacional, 1930.

MORAES SILVA, A. de. Diccionario de língua portuguesa. Lisboa: Typographia Lacérdina,


1813.

NUNES, J. H. Discurso e instrumentos linguísticos no Brasil: dos relatos dos viajantes aos
primeiros dicionários. Campinas, 1996.

PEIXOTO, A. Panorama da literatura brasileira. São Paulo: Cia Nacional, 1940.

ROMERO, S. História da literatura brasileira. 4. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio
Editora, 1949.

ROMERO, S.; RIBEIRO, J. Compêndio de história da literatura brasileira. São Paulo:


Francisco Alves, 1909.

Sites
<www.marcelopaiva.com.br>

<www.linguaportuguesa.com.br>

<www.lol.pro.br/>

<www.estudantes.com.br/bib_virt.asp>

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