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3. Um dos exemplos mais profícuos da vedetização nos últimos anos é a das celebridades
desportivas. As suas importâncias mediáticas deixaram de estar restringida às carreiras
desportivas e as suas vidas pessoais, transformadas em narrativas melodramáticas e
transportadas para as revistas cor-de-rosa, tablóides ou videojogos. Contudo, os media
criam com frequência narrativas que opõem heróis e vilões desportivos, e contribuem
para destruir personagens que eles próprios construíram (como os casos de Armstrong e
Pistorius recentemente demonstraram). “O herói desportivo perdeu a inocência:
profissionalismo exigente, marketing, publicidade, interesses económicos e também,
como é óbvio, os discursos mediáticos que modelam tudo isto contribuem para que a
autenticidade primordial do herói (que era a dos primeiros atletas olímpicos) se degrade.
As narrativas do chamado jornalismo desportivo, mediatizadas pela imprensa escrita, pela
rádio e pela televisão, trabalham no sentido de configurar atletas como personagens de
ficção”. (Reis, 2013)
4. Nos noticiários, a vedetização se faz passar por realidade ou se transmuta em hiper-
realidade, num duelo entre a narrativa jornalística e a narrativa literária, as narrativas
factuais e as narrativas ficcionais. A cultura das celebridades (celebrity culture), que
segundo alguns investigadores anglo-saxónicos seria o pivô da pós-modernidade, existe
em função dos relatos mediáticos construídos segundo perspetivas específicas,
privilegiando certos pontos de vista e certas versões, em detrimento de outras, construindo
personagens, dando voz a determinados atores sociais e silenciando outros (Fulton, 2005)
e que engloba multicanais. Muitas vezes a vedetização afeta a objetividade jornalística,
que vê-se assim confundida com a vertente de entretenimento presente em muitas
narrativas mediáticas. “O ‘contrato de receção’ que o jornalista implicitamente celebra
com o leitor pressupõe uma ‘conduta de objetividade’ que o distinga do ficcionista, do
ator de teatro e de cinema, do relações públicas e do publicitário. Sem esse compromisso
com o ‘real’, o jornalista destrói a razão de ser da sua existência e dilui-se no vasto oceano
dos outros géneros de comunicação.” (Mesquita, 2000:25). Ao mesclar códigos com o
intuito de atrair leitores, o jornalismo constrói e difunde mitos a partir das características
da sociedade vigente para, através desses, propagar ideologias, normas e padrões; visando
audiência, obtenção de lucro e manutenção do poder.