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Direito da União Europeia

A crise dos refugiados e o acordo Schengen

“A Comissão Europeia defende o prolongamento por mais três meses dos controlos em
determinadas fronteiras do espaço Schengen de livre circulação, devido ao fluxo migratório.
Os Estados-membros envolvidos na recomendação enviada, esta quarta-feira, ao Conselho da
União Europeia, são a Áustria, Hungria, Eslovénia, Alemanha, Dinamarca e Suécia.
O comissário europeu para a Imigração e Assuntos Internos, Dimitris Avramopoulos, explicou
que “não devemos esquecer que 60 mil refugiados permanecem bloqueados na Grécia e ao
longo da chamada rota dos Balcãs, sendo que o sistema de relocalização não está a funcionar.
Esses são problemas muito concretos que temos de enfrentar e que nos levaram a tomar a
decisão de fazer esta proposta”.
A situação ficou mais calma desde março passado, não porque a União tenha criado novos
mecanismos para gerir os fluxos migratórios, mas devido ao acordo com a Turquia para travar
a chegada de mais pessoas.
A eurodeputada socialista eslovena Tanja Fajon está contra o prolongamento, argumentando
que “é uma mensagem muito negativa para os cidadãos, causa danos económicos e é muito
contraditória”. “Por um lado, a Comissão Europeia diz que se deve repor plenamente a livre
circulação de Schengen, que é um grande marco da União mas, por outro lado, age
completamente ao contrário”, acrescentou. A reposição de controlos em curso vigora até 12 de
fevereiro e deverá ser prolongada até meados de maio. A recomendação terá de ser aprovada
pelos 28 países da União Europeia.” http://pt.euronews.com/2017/01/25/bruxelas-recomenda-
prologamento-de-controlos-fronteiricos
Neste trabalho pretendo abordar o tema da crise migratória que tem abrangido a Europa
e relaciona-la com o facto de os estados-membros da UE terem tomado medidas cada
vez mais rígidas para o controlo fronteiriço, pondo assim em risco a aplicabilidade do
acordo Schengen. Referindo ainda por outro lado a ameaça dos objetivos da união na
ordem internacional, nomeadamente a defesa dos direitos fundamentais.
Começo com uma breve explicação sobre a situação da crise migratória. Nos últimos
anos, a europa tem vindo a sofrer a maior deslocação de pessoas em massa desde a
segunda guerra mundial. A grande maioria destas pessoas foge da guerra e do terror na
síria e noutros países conturbados, como o Afeganistão, a Somália ou a Turquia.Muitas
chegam á Europa em busca de asilo, esta é uma forma de proteção internacional
concedida ás pessoas que fogem dos países de origem e não podem regressar por existir
um receio fundado de perseguição, daí o nome refugiados, nestes casosa UE tem a
obrigação legal e moral de proteger quem precisa, os estados-membros, são
responsáveis pela análise dos pedidos de asilo e decidem quem beneficiará de proteção
(art.78º TFUE). No entanto, nem todas as pessoas que chegam á europa necessitam de
proteção, muitos apenas pretendem melhorar as suas condiçõesde vida, e portanto quase
90% dos refugiados e migrantes pagam a grupos criminosos para que os façam
atravessar as fronteiras, ficando numa situação irregular, sendo que muitas destas
pessoas acabam por morrer ao tentarem fazer a travessia.O fornecimento de abrigo,
alimento e água a estas pessoas constitui uma grande pressão sobre os recursos de
alguns estados-membros, nomeadamente para a Grécia e Itália, que são os países onde
chegam a grande maioria de migrantes, sendo que muitos deles pretendem alcançar
posteriormente outros países.O acordo Schengen é uma convenção realizada em 1985,
entre 5 estados-membros da UE, que decidem suprimir ocontrolo nas suas fronteiras
internas. A criação do espaço Schengen é um dos maiores feitos da UE, visto que
garantir segurança e criar um clima de confiança demorou muitos anos, após duas
guerras devastadoras. Atualmente este espaço abrange 26 países europeus (22 dos quais
estados-membros) estes países fazem parte de um espaço sem controlo nas fronteiras
internas, o que significa que não se efetua controlo nas fronteiras entre dois estados
Schengen, e que se efetuam controlos harmonizados, com base em critérios claramente
definidos nas suas fronteiras externas, ou seja, nas fronteiras entre um estado Schengen
e um estado não Schengen(art. 77º nº1 alínea b) e c) TFUE). Portanto, tanto os cidadãos
da UE como os nacionais de países terceiros podem viajar livremente dentro deste
espaço, só sendo objeto de controlo quando atravessam as suas fronteiras
externas(art.77º nº1 alínea a) TFUE).Os estados Schengen partilham de uma fronteira
comum, pela qual são responsáveis conjuntamente, a fim de garantir a segurança desta.
Nesta fronteira os nacionais da UE são submetidas a controlos mínimos de modo a
verificar a sua identidade com base nos documentos de viagem, enquanto que os
nacionais de países terceiros devem apresentar um documento de viagem válido e um
visto se exigido, ou um titulo de residência, bem como documentos que justifiquem o
objetivo da estadia.
É em 1999 que o tratado de Amesterdão integra a cooperação Schengen no quadro
jurídico da UE.
Acho ainda necessária uma breve referencia ao principio de liberdade de circulação,
este principio é extensivo, em primeira analise, a qualquer pessoa, pois a todos é
atualmente reconhecido o direito de livre deslocação, através das fronteiras internas da
união, a titulo de beneficiários de qualquer serviço e mesmo na qualidade de simples
turistas ou estudantes. Com o aumento do numero de migrantes que se dirigem para a
europa , abriu-se um intenso debate sobre esta situação. Países como a Hungria, a
Grécia e Itália, reivindicam um maior financiamento para as suas politicas de fronteiras
e uma melhor distribuição dos recém chegados, o qual deve acontecer segundo os art`s
79º nº1 e 80º TFUEConsequentemente o controlo das fronteiras foi aumentado, de
modo a se fiscalizar mais eficientemente as entrada em cada país.
Os paises inseridos no espaço Schengen afirmam que os controlos fronteiriços não
significam um enceramento das fronteiras, mas que é necessário a existênciade um
processo ordenado, de forma a se poder canalizar da melhor maneira o fluxo de
migrantes, evitando-se as atividades criminosas e de modo a que a ordem pública seja
mantida. Afirmam ainda que os controlos temporários das fronteiras são permitidos no
quadro Schengen, o controlotemporário poderá ser ativado em caso de emergênciapor
um primeiro período de 10 dias, podendo posteriormenteser alargado. Seguindo este
pensamento existem também restrições ao principio da livre circulação de pessoas,
sendo que o direito de entrada no território de um estado pode ser limitado por razões de
ordem publica esegurança publica. O TJ, salienta que a exceção de ordem de circulação
de pessoas, não poderá ser unilateralmente determinada pelos estados membros, por este
motivo determinou-se a adoção da directiva 2004/38/CE de 29-4-2004, que contém
disposições relativas áslimitações pelos estado membros do direito de entrada e de
residência dos cidadãos da UE, pelos motivos acima referidos. O TJ admitiu ainda a
aplicabilidade direta desta diretiva, caracterizando-se pelo facto de a norma ser
suscetível de incorporação direta na ordem juridica interna (art. 288º TFUE).
Concluindo a questão que se coloca éa de saber se com o aumento do fluxo migratório
na Europa e consequentemente aumento do controlo fronteiriço estará em causa o
propósito do acordo Schengen e o desenvolvimento que este proporcionou no aumento
da confiançae segurança entre os estados inseridos neste espaço. Os estados membros
afirmam que o que pretendem é regressar ao espaço Schengen, no entanto existem
problemas que terão de ser resolvidos primeiramente, visto que não se pretende que
estas pessoas que viajam em busca de uma melhor qualidade de vida fiquem a viver em
condições precárias, o que tem acontecido visto que os países que as recebem já não tem
condições para tratar de tantas pessoas. Há ainda o problema da situação ilegal em que
muitos se encontram e o facto de se acreditar que este seja o passaporte de entrada de
alguns terroristas para os países da UE, de modo a que a maioria da população veja a
receção destas pessoas como algo negativo e prejudicial.
Tudo isto justifica a suspensão deste acordo, podendo dizer-se que este se encontra em
risco, pelo menos a curto prazo, até que se encontre algum tipo de solução para resolver
estes problemase se possa retomar os ideais de Schengen. O fim do acordo terias várias
consequências negativas, visto que as normas e acordos para o movimento de bens e
serviços são baseados no princípio de livre circulação de Schengen e consequentemente,
os cidadãos europeus seriam extremamente prejudicados, uma vez que dois terços dos
negócios das empresas na UE são realizados com empresas de outros Estados-membros.
Concluindo o poder de compra e a qualidade de vida da maioria das pessoas seriam
afetados. O acordo também prevê vias legais para a entrada de refugiados na Europa.
Um dos objetivos da UE, é promover a paz (art3º nº1 do TUE)e tem presente valores
como o respeito pela dignidade humana,a igualdade, o respeito pelos direitos dos
homens,incluindo o respeito pelos direitos das pessoas pertencentes a minorias. A
UEestá a financiar projetos para dar resposta às necessidades humanitárias mais
urgentes e aumentou a sua capacidade de realização de operações de busca e salvamento
no Mediterrâneo e de combate às redes criminosas.Os Estados Membros acordaram na
recolocação de 160 000 requerentes de asilo da Grécia e de Itália noutros
Estados-Membros da UE até setembro de 2017. Embora a UE tenha começado a
desenvolver uma política comum de asiloem 1999, as regras não foram concebidas para
fazer face à chegada de uma grande quantidade de pessoas num curto espaço de tempo.
A Comissão tem agora sobre a mesa novas propostas para rever a legislação vigente, em
conformidade com as necessidades atuais e futuras.
Bibliografia

 http://pt.euronews.com/2017/01/25/bruxelas-recomenda-prologamento-de-
controlos-fronteiricos;
 Leitão,Luis Manuel Teles de Menezes, “Direito das Obrigações”, 2017, 11ª
edição;
 Tratado de Lisboa,4ª edição, Maria Luisa Duarte, Rui Tavares Lanceiro,
AAFDL editora, 2017;
 http://www.secomunidades.pt/vistos/images/docs/Directiva38.2004%20pt00770
123.pdf.

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