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Informativo 615-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
CADASTRO NACIONAL DE EMPRESAS INIDÔNEAS E SUSPENSAS
Mera divulgação do nome da empresa punida no CEIS da CGU não gera dano.
DIREITO AMBIENTAL
RESPONSABILIDADE CIVIL
Análise do acidente com o navio Vicuña
DIREITO CIVIL
LEI DE LOCAÇÕES
O prazo de 30 meses previsto no art. 46 da Lei de Inquilinato não pode ser alcançado pela prorrogação de contratos.
ALIMENTOS
O valor recebido pelo alimentante (devedor) a título de participação nos lucros e resultados deve ser incorporado à
prestação alimentar devida?
DIREITO DO CONSUMIDOR
CONTRATOS BANCÁRIOS
Saque indevido em conta corrente não configura, por si só, dano moral.
PLANO DE SAÚDE
Legitimidade ativa de usuário de plano de saúde coletivo para questionar a rescisão unilateral promovida pela
operadora.
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
É incabível a rejeição do seguro garantia judicial pelo exequente, salvo por insuficiência, defeito formal ou
inidoneidade da salvaguarda oferecida.
DIREITO PENAL
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Súmula 599-STJ.
NULIDADE
Indeferimento do pedido de incidente de falsidade formulado anos após a prova ter sido juntada e depois da
sentença condenatória.
DIREITO ADMINISTRATIVO
A divulgação do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas - CEIS pela CGU tem
mero caráter informativo, não sendo determinante para que os entes federativos impeçam a
participação, em licitações, das empresas ali constantes.
STJ. 1ª Seção. MS 21.750-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/10/2017 (Info 615).
CEIS
O Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) é um banco de informações mantido pelo
Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU) que consolida a relação
das empresas e pessoas físicas que sofreram sanções tendo como efeito restrição ao direito de participar
de licitações ou de celebrar contratos com a Administração Pública.
O CEIS é, portanto, uma fonte de consulta para os gestores públicos quando estão realizando processos
de compras.
A Lei nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção) trouxe a obrigatoriedade para os entes públicos de manter o
Cadastro atualizado. Assim, existe um sistema integrado mantido pela CGU, que é alimentado diretamente
pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, Distrito Federal e Municípios. Dessa forma, tão logo uma
empresa ou pessoa física seja punida, o próprio órgão/entidade que aplicou a sanção faz a inclusão no CEIS.
Vale ressaltar que o impedimento de licitar imposto pelo Governo com base no art. 7º da Lei nº
10.520/2002 ficou restrito ao Estado de São Paulo.
O Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) é apenas um banco de dados que noticia
quais as sociedades empresárias ou profissionais que sofreram sanções que restringem o seu direito de
contratar com a Administração Pública.
No presente caso, a sanção administrativa foi aplicada pelo Governo do Estado de São Paulo, através da
Secretaria Estadual de Educação sendo a Controladoria-Geral da União apenas a divulgadora da
informação repassada por aquele Estado.
Assim, a CGU não tem o poder de rever ou desfazer o ato punitivo.
Vale ressaltar que a inclusão do nome da autora no Portal da Transparência e no Cadastro de Empresas
Inidôneas e Suspensas (CEIS) não gera, por si só, qualquer dano à empresa. Isso porque o impedimento de
contratar e licitar não decorre do fato de a empresa estar no CEIS. Este impedimento existe porque a
empresa foi punida pelo Governo do Estado de São Paulo e a simples divulgação não muda nada isso nem
faz com que ela passe a ser punida em todo o Brasil.
Se a empresa estiver sendo indevidamente excluída de licitações por outro ente cuja decisão não se aplica
(outros Estados, Municípios etc), deverá ingressar com ações judiciais contra esse ente que está tolhendo
seu direito. A divulgação de seu nome no CEIS não interfere nada.
DIREITO AMBIENTAL
RESPONSABILIDADE CIVIL
Análise do acidente com o navio Vicuña
tanto pela contratação quanto pelo pagamento do frete marítimo. O navio contratado pela
empresa chilena para o transporte foi o “BTG Vicuña”, de bandeira do Chile. Ocorre que
quando já estava atracado no porto de Paranaguá/PR, o navio explodiu. Isso provocou uma
tragédia ambiental porque houve o vazamento de milhões de litros de óleo e de metanol. Em
razão do derramamento, a pesca na região ficou temporariamente proibida.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.602.106-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/10/2017 (Info 615).
Ação de indenização
João, pescador profissional que atuava naquela bacia, ingressou com ação de indenização contra as
indústrias “B”, “D” e “S”.
Na ação, o autor alegou que as referidas empresas eram destinatárias (proprietárias) da carga
transportada pelo navio Vicuña no momento de sua explosão e que, por isso, seriam também
solidariamente responsáveis pelos danos decorrentes do acidente.
João argumentou que deveria ser indenizado por danos morais e materiais em razão de ter ficado
temporariamente impedido de exercer sua profissão de pescador por conta do acidente.
A ação foi julgada procedente? O STJ concordou com a tese de João e dos demais pescadores? As
empresas adquirentes da carga do navio Vicuña podem ser consideradas responsáveis pelo dano
ambiental e, consequentemente, pelos danos extrapatrimoniais suportados pelos pescadores
profissionais que se viram impedidos temporariamente de exercer seu trabalho?
NÃO.
As empresas adquirentes da carga transportada pelo navio Vicuña no momento de sua explosão, no
Porto de Paranaguá/PR, em 15/11/2004, não respondem pela reparação dos danos alegadamente
suportados por pescadores da região atingida, haja vista a ausência de nexo causal a ligar tais prejuízos
(decorrentes da proibição temporária da pesca) à conduta por elas perpetrada (mera aquisição pretérita
do metanol transportado).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.602.106-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/10/2017 (Info 615).
Os riscos do transporte marítimo não estão relacionados com as atividades das indústrias
Os riscos inerentes ao transporte marítimo não estão relacionados com as atividades desenvolvidas pelas
indústrias.
Tais riscos eram próprios das atividades econômicas da SOCIEDAD NAVIERA ULTRAGAZ (a proprietária da
embarcação envolvida no incidente objeto) e da empresa CATTALINI TERMINAIS MARÍTIMOS (responsável
pela exploração do terminal portuário onde se deu o evento danoso).
Quando muito, seria razoável estender a responsabilidade proveniente da assunção desse risco à empresa
vendedora da carga (METHANEX CHILE LIMITED), haja vista ter sido ela, na espécie, a contratante do
serviço de transporte.
Nenhuma das situações acima mencionadas se verificou no caso concreto. Em razão disso, afasta-se o
dever de indenizar, por ausência do nexo causal imprescindível à sua configuração.
DIREITO CIVIL
LEI DE LOCAÇÕES
O prazo de 30 meses previsto no art. 46 da Lei de Inquilinato
não pode ser alcançado pela prorrogação de contratos
Importante!!!
Se a locação residencial foi celebrada por escrito e com prazo igual ou superior a 30 meses,
quando chegar ao fim o prazo estipulado, termina o contrato e o locador poderá pedir a
retomada do imóvel sem a necessidade de apresentar qualquer justificativa. Diz-se, assim, que
o locador pode fazer a chamada “denúncia vazia”. Isso está previsto no art. 46 da Lei nº
8.245/91.
Vale ressaltar, contudo, que não é cabível a denúncia vazia quando o prazo de 30 meses,
exigido pelo art. 46 da Lei nº 8.245/91, é atingido com as sucessivas prorrogações do contrato
de locação de imóvel residencial urbano.
Em outras palavras, o art. 46 da Lei nº 8.245/91 somente admite a denúncia vazia se um único
instrumento escrito de locação estipular o prazo igual ou superior a 30 meses, não sendo
possível contar as sucessivas prorrogações dos períodos locatícios (accessio temporis) para se
atingir esse prazo de 30 meses.
Ex: o contrato de locação foi celebrado por 12 meses; depois foi prorrogado mais duas vezes,
totalizando 36 meses; não se aplica o art. 46 porque o período mínimo de 30 meses foi
alcançado com prorrogações.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.364.668-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/11/2017 (Info 615).
Em outras palavras, o inquilino afirmou que, no presente caso, em que o contrato de locação é inferior a
30 meses, para a retomada do imóvel pelo locador exige-se “denúncia cheia”.
Parêntese: chama-se de “denúncia vazia” a possibilidade de o locador solicitar a retomada do imóvel sem a
necessidade de apresentar justificativas. Em contrapartida, fala-se em “denúncia cheia” quando a lei exige,
para a retomada do imóvel, que o locador demonstre que existe alguma das hipóteses previstas na lei.
Ação de despejo
Diante da recusa do locatário, João ajuizou ação de despejo contra Pedro postulando a desocupação do
imóvel e a entrega das chaves.
Afirmou que a situação em tela não se enquadra no art. 47, mas sim no art. 46. Isso porque houve três
prorrogações do contrato (3 x 12 meses), de forma que o contrato firmado teve, no final das contas, prazo
superior a 30 meses, se computados os períodos de prorrogação. Logo, aplica-se a regra do art. 46 da Lei
nº 8.245/91, que preconiza:
Art. 46. Nas locações ajustadas por escrito e por prazo igual ou superior a trinta meses, a resolução
do contrato ocorrerá findo o prazo estipulado, independentemente de notificação ou aviso.
§ 1º Findo o prazo ajustado, se o locatário continuar na posse do imóvel alugado por mais de trinta
dias sem oposição do locador, presumir-se-á prorrogada a locação por prazo indeterminado,
mantidas as demais cláusulas e condições do contrato.
§ 2º Ocorrendo a prorrogação, o locador poderá denunciar o contrato a qualquer tempo,
concedido o prazo de trinta dias para desocupação.
A tese de João foi acolhida pelo STJ? Nesta situação, aplica-se o art. 46 ou o art. 47 da Lei nº 8.245/91?
NÃO. A tese de João não foi acolhida. Aplica-se o art. 47 da Lei.
O locador pretendia que o prazo de 30 meses fosse conseguido mediante o instituto da “acessão de
tempo” (acessio temporis), isto é, por meio da soma dos prazos dos diversos contratos sucessivos.
O STJ, contudo, não concordou com essa possibilidade.
Quando a Lei nº 8.245/91 quis adotar a accessio temporis, ela o fez expressamente, como no caso do art.
51, II. Veja:
Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a renovação do
contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente:
(...)
II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos
escritos seja de cinco anos;
O art. 46, caput, por sua vez, traz a expressão “por prazo igual ou superior a trinta meses”, sem permitir
explicitamente a contagem de múltiplos contratos prorrogados. Assim, a lei é clara quanto à
imprescindibilidade do requisito temporal em um único contrato, cujo objetivo é garantir a estabilidade
contratual em favor do locatário.
Essa é também a opinião da doutrina:
“(...) Não se admite a soma de prazos contratuais para os fins deste artigo. A lei é clara quando
estabelece, como requisito, contrato escrito por prazo igual ou superior a trinta meses, e seu
objetivo é claro: em troca da estabilidade contratual conferida ao locatário, pelo prazo de dois
anos e meio, através de um só ajuste, compensa-se o locador com o direito de retomar o prédio
ao fim daquele prazo. Assim, não pode aproveitar o locador a soma de mais de um contrato, ainda
que não tenha ocorrido hiato temporal entre eles, porque ausente aquela compensação acima
referida" (BARROS, Francisco Carlos Rocha de. Comentários à lei do inquilinato. São Paulo: Saraiva,
1997, p. 232)
Nesse contexto, fica evidente que o art. 46 da Lei do Inquilinato somente admite a denúncia vazia se um
único instrumento negocial estipular o prazo igual ou superior a 30 (trinta) meses, não se podendo atingir
esse número de 30 meses com base em sucessivas prorrogações.
Em suma:
A denúncia vazia não é admitida quando o prazo de 30 meses, exigido pelo art. 46 da Lei nº 8.245/91, é
atingido com as sucessivas prorrogações do contrato de locação de imóvel residencial urbano.
Em outras palavras, o art. 46 da Lei nº 8.245/91 somente admite a denúncia vazia se um único
instrumento escrito de locação estipular o prazo igual ou superior a 30 meses, não sendo possível contar
as sucessivas prorrogações dos períodos locatícios (accessio temporis) para se atingir esse prazo de 30
meses.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.364.668-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/11/2017 (Info 615).
ALIMENTOS
O valor recebido pelo alimentante (devedor) a título de participação nos
lucros e resultados deve ser incorporado à prestação alimentar devida?
Augusto não concordou com a decisão. Qual é o recurso que ele pode interpor neste caso?
Agravo de instrumento.
Em seu recurso, o alimentante alegou que os alimentos não podem incidir sobre verbas esporádicas,
eventuais e incertas, que visam premiar o esforço pessoal do trabalhador, tendo natureza indenizatória e
que não integram os rendimentos do alimentante, como é o caso da participação nos lucros e
gratificações.
O que o STJ entende sobre o tema? Os valores recebidos a título de participação nos lucros e resultados
são incluídos no percentual que é devido a título de pensão alimentícia? Em suma, toda vez que o
devedor receber participação nos lucros e resultados, o valor da pensão deverá ser, automaticamente,
pago a mais?
1ª corrente: NÃO 2ª corrente: SIM
A participação nos lucros e resultados deve ser desvinculado do As parcelas percebidas a título de
salário ou da remuneração habitualmente recebida. participação nos lucros configuram
Trata-se de uma bonificação de natureza indenizatória, rendimento, devendo integrar a base
eventual e que depende do desenvolvimento e do sucesso de cálculo da pensão fixada em
profissional no cumprimento das metas estabelecidas. percentual, uma vez que o conceito
O recebimento, pelo alimentante (devedor), de valores de rendimentos é amplo,
adicionais e eventuais não impacta, em regra, na redefinição do especialmente para fins de cálculo de
valor dos alimentos a serem prestados, ressalvadas as situações alimentos.
em que as necessidades do alimentado não foram inicialmente STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp
satisfeitas ou sofreram alterações supervenientes que 1070204/SE, Rel. Min. Luis Felipe
justificam a readequação do valor. Salomão, julgado em 19/09/2017.
STJ. 3ª Turma. REsp 1465679/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 09/11/2017.
DIREITO DO CONSUMIDOR
CONTRATOS BANCÁRIOS
Saque indevido em conta-corrente não configura, por si só, dano moral
Importante!!!
O saque indevido de numerário em conta-corrente, reconhecido e devolvido pela instituição
financeira dias após a prática do ilícito, não configura, por si só, dano moral in re ipsa.
O saque indevido em conta corrente não configura, por si só, dano moral, podendo, contudo,
observadas as particularidades do caso, ficar caracterizado o respectivo dano se demonstrada
a ocorrência de violação significativa a algum direito da personalidade do correntista.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.573.859-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 07/11/2017 (Info 615).
SITUAÇÃO 1
Imagine a seguinte situação:
João mantém uma conta-poupança no Banco "XX".
Determinado dia, João constata que um terceiro conseguiu realizar um saque fraudulento e retirou R$ 2
mil de sua conta.
O cliente procurou o gerente do banco em diversas oportunidades tentando resolver a questão, mas a
instituição não devolveu o dinheiro, razão pela qual João teve que ingressar com ação de indenização por
danos materiais e morais.
Diante disso, indaga-se: o banco tem responsabilidade pelo saque fraudulento realizado por terceiro ou
poderá alegar que houve um caso fortuito? Qual é o tipo de responsabilidade aplicável?
O banco possui responsabilidade objetiva, com base na teoria do risco. Ele não poderá alegar caso fortuito
porque se trata de um fortuito interno (e não fortuito externo).
Súmula 479-STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.
No exemplo narrado acima, João terá direito de ser indenizado por danos morais? Há dano moral
indenizável neste caso?
SIM.
O banco deve compensar os danos morais sofridos por consumidor vítima de saque fraudulento que,
mesmo diante de grave e evidente falha na prestação do serviço bancário, teve que intentar ação contra
a instituição financeira com objetivo de recompor o seu patrimônio, após frustradas tentativas de
resolver extrajudicialmente a questão.
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 395.426-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Rel. para acórdão Marco
Buzzi, julgado em 15/10/2015 (Info 574).
Na situação narrada, o STJ considerou que a instituição financeira não adotou nenhuma providência hábil
a solucionar o problema narrado pelo consumidor, tanto que se fez necessário o ajuizamento de uma ação
judicial, em que pleiteado, além do dano moral, aquele de cunho patrimonial, consistente nos valores
sacados indevidamente da conta bancária.
Tais circunstâncias são suficientes à caracterização do dano moral, porque não podem ser consideradas
como meros dissabores, inerentes à vida social.
Diante das circunstâncias acima ressaltadas, houve violação à segurança legitimamente esperada pelo
consumidor que, além de ter seu patrimônio subtraído indevidamente, viu frustradas as tentativas de
resolução extrajudicial da questão. O cliente somente conseguiu recuperar o dinheiro indevidamente
retirado de sua conta bancária após ter ajuizado ação judicial que obrigou a instituição financeira a
recompor os depósitos. Essa circunstância vai muito além de um mero dissabor, transtorno ou
aborrecimento corriqueiro.
Além disso, há que salientar que, além do caráter compensatório, a indenização por dano moral também
tem finalidades sancionatórias e preventivas, isto é, tem como objetivo desestimular novas faltas/falhas
na prestação do serviço.
SITUAÇÃO 2
Imagine agora uma situação diferente:
Pedro mantém uma conta poupança no Banco "ZZ".
Determinado dia, Pedro constata que um terceiro conseguiu realizar um saque fraudulento e retirou R$ 2
mil de sua conta.
O cliente procurou o gerente do banco comunicando o ocorrido.
Depois de alguns dias, a instituição financeira efetuou a devolução dos valores sacados, reconhecendo
que estes não foram feitos pelo autor, que foi vítima de ação criminosa.
Mesmo assim, Pedro ajuizou ação de indenização por danos morais.
O autor alegou que o saque fraudulento por terceiro na conta-corrente do consumidor gera dano moral
in re ipsa. Assim, se houve saque fraudulento da conta bancária, este fato, por si só, gera direito à
indenização por danos morais.
A tese de Pedro é acolhida pela jurisprudência? Se houve saque fraudulento da conta bancária, este
fato, por si só, gera direito à indenização por danos morais? Pode-se dizer que em caso de saques
fraudulentos existe dano moral in re ipsa (com prejuízo presumido)?
NÃO.
O saque indevido de numerário em conta corrente, reconhecido e devolvido pela instituição financeira
dias após a prática do ilícito, não configura, por si só, dano moral in re ipsa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.573.859-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 07/11/2017 (Info 615).
Embora não se tenha dúvida de que a referida conduta acarreta dissabores ao consumidor, para fins de
constatação de ocorrência de dano moral é preciso analisar as particularidades de cada caso concreto, a
fim de verificar se o fato extrapolou o mero aborrecimento, atingindo de forma significativa algum direito
da personalidade do correntista (bem extrapatrimonial).
Circunstâncias, por exemplo, como o valor total sacado indevidamente, o tempo levado pela instituição
bancária para ressarcir os valores descontados e as repercussões daí advindas, dentre outras, deverão ser
levadas em conta para fins de reconhecimento do dano moral e sua respectiva quantificação.
Não se mostra razoável que o saque indevido de pequena quantia, considerada irrisória se comparada ao
saldo que o correntista dispunha por ocasião da ocorrência da fraude, sem maiores repercussões, possa,
por si só, acarretar compensação por dano moral.
Dessa forma, o saque indevido em conta-corrente não configura, por si só, dano moral, podendo, contudo,
observadas as particularidades do caso, ficar caracterizado o respectivo dano se demonstrada a ocorrência
de violação significativa a algum direito da personalidade do correntista.
PLANO DE SAÚDE
Legitimidade ativa de usuário de plano de saúde coletivo
para questionar a rescisão unilateral promovida pela operadora
O beneficiário de plano de saúde coletivo por adesão possui legitimidade ativa para se insurgir
contra rescisão contratual unilateral realizada pela operadora.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.705.311-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/11/2017 (Info 615).
Teoria da asserção
Prevalece no STJ o entendimento de que o exame das condições da ação deve ocorrer in status assertionis,
ou seja, à luz das afirmações do demandante. Essa é a chamada teoria da asserção (STJ. 2ª Turma. REsp
1395875/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 20/02/2014).
Assim, as condições da ação, dentre elas o interesse processual e a legitimidade ativa, definem-se da
narrativa formulada na inicial de forma abstrata, não da análise do mérito da demanda, razão pela qual
não se recomenda ao julgador, na fase postulatória, se aprofundar no exame de tais preliminares (STJ. 3ª
Turma. REsp 1561498/RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 01/03/2016).
Vale ressaltar que o STJ ainda não analisou o mérito do pedido, ou seja, se o autor terá ou não direito de
manter o plano. O STJ decidiu unicamente que o autor é parte legítima para propor a demanda, ou seja,
estão presentes as condições da ação.
JUSTIÇA GRATUITA
Recurso contra a decisão que julga a impugnação à justiça gratuita
A impugnação à justiça gratuita é feita nos autos do próprio processo ou em autos apartados?
• Antes do CPC/2015: autos apartados.
• Depois do CPC/2015: nos autos do próprio processo.
Qual é o recurso cabível contra a decisão que acolhe ou rejeita a impugnação à gratuidade de
justiça?
• Antes do CPC/2015: apelação.
• Depois do CPC/2015: agravo de instrumento.
Se a parte ingressou com a impugnação antes do CPC/2015, mas esta somente foi julgada após
a vigência do novo Código, qual é o recurso que deverá ser interposto contra essa decisão que
rejeitou ou acolheu a impugnação?
Agravo de instrumento. Cabe agravo de instrumento contra o provimento jurisdicional que,
após a entrada em vigor do CPC/2015, acolhe ou rejeita incidente de impugnação à gratuidade
de justiça instaurado, em autos apartados, na vigência do regramento anterior.
Aplica-se aqui o princípio do tempus regit actum, no qual se fundamenta a teoria do isolamento
dos atos processuais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.666.321-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/11/2017 (Info 615).
A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas?
Segundo o § 1º do art. 98 do CPC/2015, a gratuidade da justiça compreende:
I - as taxas ou as custas judiciais;
II - os selos postais;
III - as despesas com publicação na imprensa oficial, dispensando-se a publicação em outros meios;
IV - a indenização devida à testemunha que, quando empregada, receberá do empregador salário integral,
como se em serviço estivesse;
V - as despesas com a realização de exame de código genético - DNA e de outros exames considerados
essenciais;
VI - os honorários do advogado e do perito e a remuneração do intérprete ou do tradutor nomeado para
apresentação de versão em português de documento redigido em língua estrangeira;
VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exigida para instauração da execução;
VIII - os depósitos previstos em lei para interposição de recurso, para propositura de ação e para a prática
de outros atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório;
IX - os emolumentos devidos a notários ou registradores em decorrência da prática de registro, averbação
ou qualquer outro ato notarial necessário à efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo
judicial no qual o benefício tenha sido concedido.
Dispensa parcial
A gratuidade da justiça poderá ser concedida em relação a alguns ou a todos os atos processuais, ou pode
consistir apenas na redução percentual das despesas processuais que o beneficiário tiver de adiantar no
curso do procedimento (§ 5º do art. 98 do CPC/2015).
Parcelamento
A depender do caso concreto, o juiz poderá conceder ao requerente o direito de parcelar as despesas
processuais que tiver de adiantar no curso do procedimento (§ 6º do art. 98 do CPC/2015).
Multas processuais
Mesmo sendo beneficiária da justiça gratuita, a pessoa terá o dever de pagar, ao final, as multas
processuais que lhe foram impostas (§ 4º do art. 98 do CPC-2015). Ex: multa por litigância de má-fé.
Qual é o recurso cabível contra a decisão que acolhe ou rejeita a impugnação à gratuidade de justiça?
• Antes do CPC/2015: apelação.
• Depois do CPC/2015: agravo de instrumento (exceção: se a impugnação for decidida na própria
sentença, como um de seus capítulos).
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
(...)
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;
João não se conforma e quer recorrer. Qual deverá ser o recurso interposto por ele para tentar modificar
a decisão que julgou o incidente de impugnação à justiça gratuita?
Agravo de instrumento.
Cabe agravo de instrumento contra o provimento jurisdicional que, após a entrada em vigor do
CPC/2015, acolhe ou rejeita incidente de impugnação à gratuidade de justiça instaurado, em autos
apartados, na vigência do regramento anterior.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.666.321-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/11/2017 (Info 615).
A solução para essa controvérsia envolve a chamada “sucessão de leis processuais no tempo”. Nesses
casos, o STJ adota o princípio do tempus regit actum, no qual se fundamenta a teoria do isolamento dos
atos processuais.
Sobre a teoria dos atos processuais isolados, importante transcrever a lição de Marinoni e Mitidiero:
(...) 3. Isolamento dos atos processuais
A exata compreensão da distinção entre efeito imediato e efeito retroativo da legislação leva à
necessidade de isolamento dos atos processuais a fim de que saiba se a aplicação da legislação
nova importa efeito imediato ou efeito retroativo. A observação ganha em importância a
propósito da aplicação da lei nova a situações pendentes. O que interessa é saber se do ato
processual advém ou não direito para qualquer dos participantes do processo. Vale dizer: se há
ou não direito adquirido processual. Nesse caso, a lei nova tem que respeitar a eficácia do ato
processual já praticado. O exemplo clássico encontra-se no direito recursal. A lei do recurso é a lei
do dia em que se tornou recorrível a decisão. A abertura do prazo recursal dá lugar a uma situação
jurídica pendente: aguarda-se a interposição ou não do recurso. O recorrente tem direito à
observação do direito vigente à época da abertura do prazo recursal. Fora daí há ofensa a direito
processual adquirido e efeito retroativo da legislação. (...)
(MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de Processual Civil - Comentado artigo por
artigo. 5ª ed., São Paulo : RT, 2012, p. 997⁄998).
Assim, de acordo com essa teoria - atualmente positivada no art. 14 do CPC/2015 - a lei processual nova
tem aplicação imediata aos processos em desenvolvimento, resguardando-se, contudo, a eficácia dos atos
processuais já realizados na forma da legislação anterior, bem como as situações jurídicas consolidadas
sob a vigência da norma revogada. Veja o que diz o CPC:
Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em
curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a
vigência da norma revogada.
O STJ, acolhendo esse princípio, decidiu que “a lei a reger o recurso cabível e a forma de sua interposição
é aquela vigente à data da publicação da decisão impugnada, ocasião em que o sucumbente tem a ciência
da exata compreensão dos fundamentos do provimento jurisdicional que pretende combater” (AgInt nos
EDcl no AREsp 949.997/AM, 3ª Turma, DJe de 21/09/2017).
No caso examinado, a impugnação à concessão da assistência judiciária gratuita foi proposta na vigência
da Lei nº 1.050/60. No entanto, a decisão que acolheu a impugnação e revogou a gratuidade de justiça
anteriormente concedida foi proferida já na vigência do CPC/2015.
Dessa maneira, apesar de instaurado o incidente em autos apartados, o recurso cabível contra o referido
provimento jurisdicional é o agravo de instrumento, segundo a lei processual vigente à época da prolação
da decisão recorrida (CPC/2015).
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
É incabível a rejeição do seguro garantia judicial pelo exequente,
salvo por insuficiência, defeito formal ou inidoneidade da salvaguarda oferecida
O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz?
NÃO. O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, só
pode ser feito a requerimento do exequente (art. 513, § 1º do CPC/2015).
Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente
requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante demonstrativo
discriminado e atualizado do crédito (art. 524 do CPC/2015).
Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do credor:
Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão
sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do
exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias,
acrescido de custas, se houver.
Se o devedor condenado é intimado para pagar e não efetua o pagamento no prazo de 15 dias, o que
acontecerá em seguida?
1) o montante da condenação será automaticamente acrescido de multa de 10% + honorários de 10%;
2) será expedido mandado para que sejam penhorados e avaliados os bens do devedor para satisfação do
crédito. Neste momento, inicia-se a execução forçada do título diante do não cumprimento espontâneo.
Se for efetuado o pagamento apenas parcial, a multa e os honorários incidirão sobre o restante que faltou
(art. 523, § 2º do CPC/2015).
Para que o devedor apresente impugnação, é indispensável a garantia do juízo, ou seja, é necessário
que haja penhora, depósito ou caução?
• CPC 1973: SIM.
• CPC 2015: NÃO.
Em suma:
Dentro do sistema de execução, a fiança bancária e o seguro garantia judicial produzem os mesmos
efeitos jurídicos que o dinheiro para fins de garantir o juízo, não podendo o exequente rejeitar a
indicação, salvo por insuficiência, defeito formal ou inidoneidade da salvaguarda oferecida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.691.748-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/11/2017 (Info 615).
Admite-se emenda à inicial de ação civil pública, em face da existência de pedido genérico,
ainda que já tenha sido apresentada a contestação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.279.586-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 03/10/2017 (Info 615).
O banco não concordou e recorreu contra a decisão do magistrado. Afirmou que não seria possível
determinar a emenda da Inicial no caso em que ela já foi recebida pelo juiz e contestada pelo réu.
Argumentou que a emenda à inicial (quando viável) somente pode ser determinada até o oferecimento
da contestação.
Agiu corretamente o magistrado ao determinar a emenda da inicial da ACP mesmo já tendo havido
contestação apresentada? Em uma ação civil pública, é possível que o magistrado determine a emenda
da petição inicial para correção de defeitos e irregularidades relacionados ao pedido mesmo que já
tenha havido contestação?
SIM.
Em relação às ações individuais, o STJ possui julgados divergentes sobre a possibilidade ou não de emenda
da petição inicial após a apresentação da contestação. Existem julgados admitindo e outros negando.
No que tange às ações civis públicas, contudo, isso deve ser possível.
As ações civis públicas são instrumentos processuais de ordem constitucional voltados à defesa de
interesses metaindividuais, com relevância social.
Em virtude da relevância social do bem envolvido, de natureza social, para a ação civil pública deverão ser
adotados princípios distintos daqueles previstos pelo CPC para as ações individuais.
Um desses princípios que serve para distinguir o regime da ação civil pública é o princípio da efetividade.
O princípio da efetividade está intimamente ligado ao valor social e deve ser utilizado pelo juiz da causa
para abrandar os rigores da intelecção vinculada exclusivamente ao Código de Processo Civil -
desconsiderando as especificidades do microssistema regente das ações civis -, dado seu escopo de servir
à solução de litígios de caráter individual.
A ação civil constitui instrumento de eliminação da litigiosidade de massa, capaz de dissipar infindos
processos individuais, evitando, ademais, a existência de diversidade de entendimentos sobre o mesmo
caso, possuindo, ademais, expressivo papel no aperfeiçoamento da prestação jurisdicional, diante de sua
possibilidade de proteger um número elevado de pessoas mediante um único processo.
Em suma:
Admite-se emenda à inicial de ação civil pública, em face da existência de pedido genérico, ainda que já
tenha sido apresentada a contestação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.279.586-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 03/10/2017 (Info 615).
DIREITO PENAL
Princípio da insignificância
Quem primeiro tratou sobre o princípio da insignificância no direito penal foi Claus Roxin, em 1964.
Também é chamado de “princípio da bagatela” ou “infração bagatelar própria”.
O princípio da insignificância não tem previsão legal no direito brasileiro. Trata-se de uma criação da
doutrina e da jurisprudência.
Para a posição majoritária, o princípio da insignificância é uma causa supralegal de exclusão da tipicidade
material.
Se o fato for penalmente insignificante, significa que não lesou nem causou perigo de lesão ao bem
jurídico. Logo, aplica-se o princípio da insignificância e o réu é absolvido por atipicidade material, com
fundamento no art. 386, III do CPP.
O princípio da insignificância atua, então, como um instrumento de interpretação restritiva do tipo penal.
O princípio da insignificância pode ser aplicado aos crimes contra a Administração Pública?
Para o STJ, não. Não se aplica o princípio da insignificância aos crimes contra a Administração Pública,
ainda que o valor da lesão possa ser considerado ínfimo.
Segundo o STJ, os crimes contra a Administração Pública têm como objetivo resguardar não apenas o
aspecto patrimonial, mas, principalmente, a moral administrativa. Logo, mesmo que o valor do prejuízo
seja insignificante, deverá haver a sanção penal considerando que houve uma afronta à moralidade
administrativa, que é insuscetível de valoração econômica.
Exceção
Existe uma exceção. A jurisprudência é pacífica em admitir a aplicação do princípio da insignificância ao
crime de descaminho (art. 334 do CP), que, topograficamente, está inserido no Título XI do Código Penal,
que trata sobre os crimes contra a Administração Pública.
De acordo com o STJ, “a insignificância nos crimes de descaminho tem colorido próprio, diante das
disposições trazidas na Lei n. 10.522/2002”, o que não ocorre com outros delitos, como o peculato etc.
(AgRg no REsp 1346879/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/11/2013).
Requisitos para que se configure a violência doméstica e familiar prevista na Lei Maria da Penha:
a) sujeito passivo (vítima) deve ser pessoa do sexo feminino (não importa se criança, adulta ou idosa,
desde que seja do sexo feminino);
b) sujeito ativo pode ser pessoa do sexo masculino ou feminino;
c) ocorrência de violência baseada em relação íntima de afeto, motivação de gênero ou situação de
vulnerabilidade, nos termos do art. 5º da Lei.
Coabitação significa morar sob o mesmo teto. É possível a aplicação da Lei Maria da Penha (Lei nº
11.340/2006) mesmo que não haja coabitação entre autor e vítima?
SIM. É possível que haja violência doméstica mesmo que agressor e vítima não convivam sob o mesmo
teto (não morem juntos). Isso porque o art. 5º, III, da Lei afirma que há violência doméstica em qualquer
relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.
Exemplos:
Ex1: violência praticada por irmão contra irmã, ainda que eles nem mais morem sob o mesmo teto (STJ.
5ª Turma. REsp 1239850/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/02/2012);
Ex2: é possível que a agressão cometida por ex-namorado configure violência doméstica contra a mulher
ensejando a aplicação da Lei nº 11.340/2006 (STJ. 5ª Turma. HC 182.411/RS, Rel. Min. Adilson Vieira
Macabu (Des. Conv. do TJ/RJ), julgado em 14/08/2012).
A intenção do legislador, ao editar a Lei Maria da Penha, foi de dar proteção à mulher que tenha sofrido
agressão decorrente de relacionamento amoroso, e não de relações transitórias, passageiras, sendo
desnecessária, para a comprovação do aludido vínculo, a coabitação entre o agente e a vítima ao tempo
do crime.
STJ. 6ª Turma. HC 181.246/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, DJe 06/09/2013.
A caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher não depende do fato de agente e vítima
conviverem sob o mesmo teto.
Assim, embora a agressão tenha ocorrido em local público, ela foi nitidamente motivada pela relação
familiar que o agente mantém com a vítima, sua irmã, circunstância que dá ensejo à incidência da Lei
Maria da Penha.
STJ. 5ª Turma. HC 280.082/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 12/02/2015.
COMPETÊNCIA
Não compete à JF julgar crime ambiental ocorrido em programa Minha Casa Minha Vida
pelo simples fato de a CEF ter atuado como agente financiador da obra
Importante!!!
Compete à Justiça estadual o julgamento de crime ambiental decorrente de construção de
moradias de programa habitacional popular, nas hipóteses em que a Caixa Econômica Federal
atue, tão somente, na qualidade de agente financiador da obra.
O fato de a CEF atuar como financiadora da obra não tem o condão de atrair, por si só, a
competência da Justiça Federal. Isto porque para sua responsabilização não basta que a
entidade figure como financeira. É necessário que ela tenha atuado na elaboração do projeto
ou na fiscalização da segurança e da higidez da obra.
STJ. 3ª Seção. CC 139.197-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 25/10/2017 (Info 615).
Ocorre que a construção causou o deságue de esgoto e lixo em nascentes de corpos d´água localizados na
área de proteção ambiental.
Diante disso, o Ministério Público federal ofereceu denúncia criminal contra os responsáveis pela obra
imputando-lhes a prática do crime previsto no art. 54, § 2º, V, da Lei nº 9.605/98:
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em
danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa
da flora:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
(...)
§ 2º Se o crime:
(...)
V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou
substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
O MPF afirmou que a competência para julgar este delito seria da Justiça Federal em virtude de a Caixa
Econômica Federal (empresa pública federal) ter atuado como agente financiador da obra. Logo, incidiria
a hipótese do art. 109, IV, da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
O MPF argumentou, em reforço, que os fatos acima narrados foram objeto de ação civil pública proposta
não apenas contra a construtora como também contra a CEF, processo que tramitou na Justiça Federal.
Vale ressaltar, inclusive, que a CEF, juntamente com a construtora, assinou termo de ajustamento de
conduta para a reparação do dano ambiental causado.
Na primeira situação, a CEF possui responsabilidade solidária com a construtora pela solidez e segurança
da obra, tendo em vista sua atuação fiscalizadora sobre a aplicação dos recursos públicos destinados ao
financiamento imobiliário.
Na segunda hipótese, a CEF atua apenas na qualidade de mutuante, disponibilizando os valores
necessários à aquisição do imóvel, não fiscalizando a construção.
O fato de a CEF atuar como financiadora da obra não tem o condão de atrair, por si só, a competência da
Justiça Federal. Isto porque, para sua responsabilização, não basta que figure como financeira, ou seja, é
imprescindível sua atuação na elaboração do projeto ou na fiscalização da segurança e da higidez da obra.
Em outras palavras, para ser responsabilizada por danos ambientais, a CEF deve ter atuado na qualidade
de fiscalizadora da segurança e higidez da obra, especialmente em se tratando de direito penal que
inadmite a responsabilidade objetiva.
Em suma:
Compete à Justiça estadual o julgamento de crime ambiental decorrente de construção de moradias de
programa habitacional popular (programa Minha Casa Minha Vida), nas hipóteses em que a Caixa
Econômica Federal atue, tão somente, na qualidade de agente financiador da obra.
STJ. 3ª Seção. CC 139.197-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 25/10/2017 (Info 615).
NULIDADE
Indeferimento do pedido de incidente de falsidade formulado anos
após a prova ter sido juntada e depois da sentença condenatória
Não há nulidade na decisão que indefere pedido de incidente de falsidade referente à prova
juntada aos autos há mais de 10 anos e contra a qual a defesa se insurge somente após a
prolação da sentença penal condenatória, uma vez que a pretensão está preclusa.
STJ. 5ª Turma. RHC 79.834-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 07/11/2017 (Info 615).
A questão chegou até o STJ. A tese do condenado foi aceita pelo Tribunal?
NÃO.
Não há nulidade na decisão que indefere pedido de incidente de falsidade referente à prova juntada
aos autos há mais de 10 anos e contra a qual a defesa se insurge somente após a prolação da sentença
penal condenatória, uma vez que a pretensão está preclusa.
STJ. 5ª Turma. RHC 79.834-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 07/11/2017 (Info 615).
Embora não exista prazo definido em lei para que se possa requerer a instauração do incidente de falsidade
documental previsto no art. 145 e seguintes do Código de Processo Penal, o fato é que o ofício expedido pela
Polícia Federal que deferiu a citada diligência, acompanhado do respectivo CD, foi juntado aos autos há mais
de dez anos, de forma que a defesa quedou-se inerte por todo esse período, deixando para impugná-lo
somente após a prolação da sentença condenatória, quando já encerrada a instrução processual.
Admitir o incidente apenas nesta fase processual significaria violar os princípios da segurança jurídica, da
razoabilidade, da lealdade processual e da boa-fé objetiva, diante da reabertura da fase de produção de
provas mesmo diante da inércia da parte.
Vale ressaltar ainda que o juiz possui a prerrogativa de indeferir, de forma fundamentada, diligências
consideradas protelatórias, desnecessárias ou sem pertinência com a instrução do processo, sem que isso
caracterize cerceamento de defesa. Trata-se de uma discricionariedade regrada do magistrado processante.
Finalmente, é importante destacar que tanto o STJ como o STF entendem que a declaração de nulidade exige
a comprovação de prejuízo, em consonância com o princípio pas de nullite sans grief, consagrado no art. 563
do CPP. O simples fato de o réu ter sido condenado não representa o prejuízo exigido pelo art. 553 do CPP:
Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação
ou para a defesa.
EXERCÍCIOS
1) A divulgação do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas - CEIS pela CGU tem mero caráter
informativo, não sendo determinante para que os entes federativos impeçam a participação, em
licitações, das empresas ali constantes. ( )
2) É cabível a denúncia vazia quando o prazo de 30 meses, exigido pelo art. 46 da Lei nº 8.245/91, é atingido
com as sucessivas prorrogações do contrato de locação de imóvel residencial urbano. ( )
3) O saque indevido de numerário em conta-corrente configura dano moral in re ipsa. ( )
4) O beneficiário de plano de saúde coletivo por adesão possui legitimidade ativa para se insurgir contra
rescisão contratual unilateral realizada pela operadora. ( )
5) Cabe agravo de instrumento contra o provimento jurisdicional que, após a entrada em vigor do
CPC/2015, acolhe ou rejeita incidente de impugnação à gratuidade de justiça instaurado, em autos
apartados, na vigência do regramento anterior. ( )
6) Dentro do sistema de execução, a fiança bancária e o seguro garantia judicial produzem os mesmos
efeitos jurídicos que o dinheiro para fins de garantir o juízo, não podendo o exequente rejeitar a
indicação, salvo por insuficiência, defeito formal ou inidoneidade da salvaguarda oferecida. ( )
7) Admite-se emenda à inicial de ação civil pública, em face da existência de pedido genérico, ainda que já
tenha sido apresentada a contestação. ( )
8) O princípio da insignificância é aplicável aos crimes contra a administração pública. ( )
9) Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei nº 11.340/2006 (Lei
Maria da Penha) é prescindível a coabitação entre autor e vítima. ( )
10) Compete à Justiça Federal o julgamento de crime ambiental decorrente de construção de moradias de
programa habitacional popular, nas hipóteses em que a Caixa Econômica Federal atue na qualidade de
agente financiador da obra. ( )
Gabarito
1. C 2. E 3. E 4. C 5. C 6. C 7. C 8. E 9. C 10. E
11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20.
21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30.
31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40.
DESTAQUE
Havendo o Conselho Nacional de Educação expedido parecer público e direcionado ao Conselho Estadual de
Educação do Paraná sobre a regularidade do Programa Especial de Capacitação de Docentes, executado pela
Fundação Faculdade Vizinhança Vale do Iguaçu, a sua desconstituição ou revogação pelo próprio Conselho
Nacional de Educação ou mesmo a sua não homologação pelo Ministério da Educação autorizam a tese de que a
União é responsável, civil e administrativamente, e de forma exclusiva, pelo registro dos diplomas e pela
consequente indenização aos alunos que detinham vínculo formal como professores perante instituição pública
ou privada, diante dos danos causados.
O objeto do debate diz respeito à responsabilidade solidária, civil e administrativa, da União e do Estado do
Paraná, pela ausência de credenciamento de instituição de ensino superior como condição para expedição de
diploma a estudantes de curso normal superior, na modalidade semipresencial, em três situações distintas,
quais sejam: a) a dos professores que concluíram o curso e que detinham vínculo formal com instituição pública
ou privada; b) a dos professores que perfizeram o curso, mas que não tinham vínculo formal com instituição
pública ou privada, enquadrando-se como voluntários ou detentores de vínculos precários de trabalho; e c) a
dos denominados "estagiários". No que concerne à primeira situação fática, deve-se ressaltar, de início, que a
Lei n. 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB), em seu art. 62, estabeleceu a
necessidade de nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, na formação de docentes para atuar
na educação básica de ensino. O art. 80 da referida legislação, por sua vez, dispôs que "o Poder Público
incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades
de ensino, e de educação continuada", ressaltando, nos §§ 1º e 2º, que a União seria responsável pelo
credenciamento das instituições prestadoras da educação a distância, bem como pela regulamentação dos
respectivos exames e registro de diplomas. Como regra de transição, a LDB dispôs no art. 87, § 3º, III, que os
entes federativos deveriam realizar programas de capacitação para todos os professores em exercício, inclusive
utilizando os recursos do ensino à distância. Vale ressaltar que, além de não restringir o universo dos
destinatários da norma de transição (p.ex., 'professores com vínculo empregatício devidamente comprovado'),
o dispositivo não referiu à necessidade de autorização federal para as modalidades não presenciais. E era
razoável que assim não o fizesse à época, haja vista a urgência na qualificação de um número significativo de
profissionais em todo o território nacional, até o final da 'Década da Educação', cujas metas foram delineadas
pela Lei n. 10.172/2001 - conhecida como Plano Nacional de Educação. Nesse contexto, é perfeitamente
defensável a tese de que o art. 87 da Lei n. 9.394/1996 atribuiu competência ao Estado do Paraná (e a União,
apenas supletivamente) - ainda que em caráter transitório e com fim específico - para credenciar instituições de
ensino para realização de programas de capacitação de docentes (e não um curso de formação regular e
permanente), inclusive na modalidade semipresencial, em consonância com as metas estabelecidas pela Lei n.
10.172/2001. Ante o panorama legal traçado, mostra-se temerária a conduta adotada pelo Conselho Nacional
de Educação, que, em um curto espaço de tempo (de 1º/02/2006 a 11/04/2007) e já próximo do exaurimento
da eficácia da norma transitória do art. 87 da LDB, emitiu três pareceres distintos, ora admitindo a regularidade
ora reconhecendo a irregularidade do Programa Especial de Capacitação de Docentes executado pela faculdade
recorrida (Pareceres CNE/CES n.ºs 14/2006, 290/2006 e 193/2007), com repercussão extremamente negativa
para uma gama imensa de alunos e instituições envolvidas. Dessa forma - e considerando tratar-se de caso típico
a se invocar a aplicabilidade do princípio da confiança, traduzido na boa-fé que os administrados e outros
destinatários depositam nos atos praticados pelos agentes públicos - não há falar-se em ato ilícito por parte da
instituição credenciada, tampouco do referido Estado da Federação - o que culmina na responsabilidade
exclusiva da União para a hipótese analisada.
DESTAQUE
Havendo o Conselho Nacional de Educação expedido parecer público sobre a regularidade do Programa Especial
de Capacitação de Docentes executado pela Fundação Faculdade Vizinhança Vale do Iguaçu e direcionado ao
Conselho Estadual de Educação do Paraná, o qual já havia possibilitado o ingresso anterior dos alunos sem
vínculo formal como professor de instituição pública ou privada (Portaria n. 93/2002 do Conselho Estadual de
Educação do Paraná), a sua desconstituição e/ou revogação posterior, pelo próprio Conselho Nacional de
Educação, ou mesmo a sua não homologação, pelo Ministério da Educação ou, ainda, pelo Parecer n. 193/2007
do Conselho Estadual de Educação do Paraná, autorizam a tese de que a União e o Estado do Paraná são
responsáveis, civil e administrativamente, e de forma solidária, pelo registro dos diplomas e pela consequente
indenização aos alunos que detinham vínculo apenas precário perante instituição pública ou privada, diante dos
danos causados.
O objeto do debate diz respeito à responsabilidade solidária, civil e administrativa, da União e do Estado do
Paraná, pela ausência de credenciamento de instituição de ensino superior como condição para expedição de
diploma a estudantes de curso normal superior, na modalidade semipresencial, em três situações distintas,
quais sejam: a) a dos professores que concluíram o curso e que detinham vínculo formal com instituição pública
ou privada; b) a dos professores que perfizeram o curso, mas que não tinham vínculo formal com instituição
pública ou privada, enquadrando-se como voluntários ou detentores de vínculos precários de trabalho; e c) a
dos denominados "estagiários". Quanto à segunda situação fática - além da incidência dos fundamentos
apresentados na primeira nota informativa - cabe acrescentar que o art. 87, § 3º, III, da Lei n. 9.394/1996 (Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB), ao dispor acerca da realização dos programas de capacitação,
apenas explicita a expressão "professores em exercício", não exigindo que se trate de educadores com vínculo
formal com instituição pública ou privada. Nesse sentido, correta a interpretação dada ao dispositivo legal pelo
Tribunal de origem, segundo a qual: "a expressão legal 'professores em exercício' não comporta a restrição que a
União e o Estado do Paraná pretendem estabelecer (existência de vínculo empregatício formal entre o professor e
a escola). Além disso, não é crível supor que, em toda a extensão do território estadual, inclusive nas localidades
mais distantes (zona rural), todas as escolas - incluídas as de menor porte - mantêm em seus quadros somente
profissionais contratados formalmente, com os pesados encargos legais daí decorrentes. Se, de fato, havia docentes
contratados precariamente, eles também devem ser considerados 'professores em exercício', para os fins da Lei".
Dessa forma, no caso específico dos professores que não detinham vínculo formal com instituição pública ou
privada, a responsabilidade pelo ato ilícito decorre de condutas praticadas, tanto pela União, quanto pelo Estado
do Paraná, em decorrência da edição (posterior, violadora do princípio da boa-fé e da confiança) do Parecer n.
193/2007, pelo Conselho Estadual de Educação.
DESTAQUE
Inexistindo ato regulamentar, seja do Conselho Nacional de Educação, seja do Conselho Estadual de Educação
do Paraná, sobre a regularidade do Programa Especial de Capacitação de Docentes executado pela Fundação
Faculdade Vizinhança Vale do Iguaçu relativamente a alunos estagiários, descabe falar em condenação da União
e do Estado do Paraná, devendo a parte que entender prejudicada postular a indenização em face, tão somente,
da instituição de ensino.
O objeto do debate diz respeito à responsabilidade solidária, civil e administrativa, da União e do Estado do
Paraná, pela ausência de credenciamento de instituição de ensino superior como condição para expedição de
diploma a estudantes de curso normal superior, na modalidade semipresencial, em três situações distintas,
quais sejam: a) a dos professores que concluíram o curso e que detinham vínculo formal com instituição pública
ou privada; b) a dos professores que perfizeram o curso, mas que não tinham vínculo formal com instituição
pública ou privada, enquadrando-se como voluntários ou detentores de vínculos precários de trabalho; e c) a
dos denominados "estagiários". Em relação ao terceiro ponto controvertido, no que diz respeito à
responsabilidade exclusiva da instituição de ensino quanto aos estagiários, não existiu qualquer ato
regulamentar expedido, seja pelo Conselho Nacional de Educação (ou outro órgão da União), seja pelo Conselho
Estadual de Educação do Estado do Paraná, autorizando que o curso funcionasse e permitisse a matrícula de
"alunos denominados estagiários". Dessa forma, nessa situação, descabe falar em conduta ilícita dos entes
estatais, sendo certo que houve atuação de ambos, vedando que tal prática assim ocorresse. Em havendo algum
discente que se sinta prejudicado, terá que promover a demanda, exclusivamente, em face da instituição de
ensino que, eventualmente, tenha permitido a matrícula, ao arrepio de qualquer autorização emitida pelos
órgãos públicos, mesmo que de forma minimamente precária.