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É uma luta, como se vê, que já dura sete décadas. Contudo, não cessa, muito pelo
contrário, a proliferação nuclear, tornando permanente o perigo de guerra com o uso de tais
armas. Já existem hoje, segundo estimativas da ONU, mais de 15 mil ogivas nucleares dos
detentores declarados – e mais de 80 em Israel, que nunca declarou seu arsenal, seguindo,
assim, sem monitoramento internacional, enquanto mantém uma política regional ofensiva.
Na sua última Assembleia, realizada no Brasil em novembro de 2016, o CMP reafirmou sua
posição de princípios. Cito um trecho da resolução ali aprovada: “A abolição das armas
nucleares é mais urgente do que nunca, se desejarmos evitar uma catástrofe humana como
a experimentada pelos japoneses em Hiroshima e Nagasaki, há 71 anos, ou de proporções
maiores. O estoque global de ogivas nucleares e os novos desenvolvimentos em tecnologia
de armas nucleares e mecanismos de deslocamento estão gerando proliferação”.
Em julho do ano passado, com o voto de 122 Estados membros, a Organização das Nações
Unidas aprovou o Tratado sobre a Proibição das Armas Nucleares, o qual estabelece que
cada Estado parte se compromete a não produzir nem possuir armas nucleares, nem a
transferir tais armamentos direta ou indiretamente. É, efetivamente, um marco importante
na tomada de consciência de que uma guerra nuclear teria consequências catastróficas
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para toda a humanidade, uma posição em busca de soluções políticas e jurídicas no âmbito
internacional a fim de constituir um instrumento juridicamente vinculante para a proibição
das armas nucleares e sua total eliminação.
A maior limitação está no fato de que os países possuidores de armas nucleares não
aderem ao Tratado, assim como não aderem os países da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN) que, mesmo não sendo possuidores dessas armas, hospedam em
seus territórios bombas nucleares estadunidenses.
Em 2007, através do relatório Rumo a uma Grande Estratégia para um Mundo Incerto:
Renovando a Parceria Transatlântica, os membros da OTAN validaram a doutrina
estadunidense de “ataque nuclear preventivo” com justificativas chauvinistas e beligerantes
como a de alegadamente exercerem o direito de proteger as sociedades e “modos de vida”
em seus países. Invocando as “ameaças assimétricas” e a “incerteza” dos governos e
povos de seus próprios países, os autores desse relatório, oficiais militares dos EUA,
Alemanha, Reino Unido, França e Holanda, buscam justificar a doutrina ofensiva e a própria
continuidade de uma aliança beligerante.
Vemos exemplos dos impactos de uma receita ofensiva em diversas regiões, com
intervenções e agressões levadas a cabo sob os pretextos das “ameaças assimétricas”,
dos “Estados falhados”, da “promoção da democracia” e da comprovadamente falaciosa
luta contra o terrorismo. No mesmo relatório, os oficiais dizem, após acusarem
abundantemente o Irã por seu programa nuclear como uma ameaça existencial, que
“Alcançar a estabilidade regional” no Oriente Médio “só pode ser conseguido a um nível
estratégico mais elevado. Soluções estarão em novos equilíbrios regionais, que terão de
incluir interesses estratégicos chave, como as questões da proliferação e do acesso a
matéria-prima”. Fica evidente que os interesses estratégicos em causa são os das
potências, em detrimento dos povos da região, vítimas de constante ingerência e agressão.
Por isso, a abertura a assinaturas, em setembro deste ano, do Tratado sobre a Proibição
Nuclear, deve ser celebrada. É, certamente, um importante passo na direção do
compromisso mais ambicioso que há sete décadas exigimos: uma resposta efetiva aos
anseios dos povos em todo o mundo, à verdadeira “ameaça securitária” em todo o planeta,
que é a política belicosa baseada na ameaça de aniquilação completa, sustentada pelo
imperialismo estadunidense e seus aliados da OTAN.
Ficam comprovadas, com esse passo, a força e a capacidade dos povos, organizados em
redes ou movimentos da paz, como a Campanha Internacional para Abolir as Armas
Nucleares (ICAN), que aqui congratulamos pelo reconhecimento do seu trabalho
imprescindível, com a atribuição do Prêmio Nobel da Paz em 2017. O esforço deve ser
contínuo para a sensibilização de todos e todas sobre os efeitos e impactos desses arsenais
e sobre o seu papel na política mais abrangente sustentada pelas potências imperialistas,
uma que pretende garantir a sua hegemonia a todo custo.
Fica atestado, também, que a nossa ampla unidade nesta luta comum é capaz de promover
conquistas e culminar na criação de espaços e instrumentos para avançarmos e seguirmos
pressionando pelo passo efetivo de abolição completa, no quadro da nossa luta histórica
contra a política beligerante das grandes potências e por uma ordem internacional mais
equitativa, justa e de paz.