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na democracia
Aproximações entre direito e ciência
política
Andrei Koerner
Argelina Cheibub Figueiredo
Cláudio G. Couto
Daniel Wei Liang Wang
Eloísa Machado de Almeida
Luís Gustavo Bambini
Luciana Gross Cunha
Marcos Paulo Veríssimo
Octavio Luiz Motta Ferraz
Rogério B. Arantes
Vanessa E. Oliveira
Vitor Marchetti
´
Daniel Wei Liang Wang
Organizador
Andrei Koerner
Argelina Cheibub Figueiredo
Cláudio G. Couto
Daniel Wei Liang Wang
Eloísa Machado de Almeida
Luís Gustavo Bambini
Luciana Gross Cunha
Marcos Paulo Veríssimo
Octavio Luiz Motta Ferraz
Rogério B. Arantes
Vanessa E. Oliveira
Vitor Marchetti
Marcial Pons
MADRI | BARCELONA | BUENOS AIRES | São Paulo
2013
Constituição e política na democracia: aproximações entre direito e ciência política
Andrei Koerner / Argelina Cheibub Figueiredo / Cláudio G. Couto / Daniel Wei Liang Wang
Eloísa Machado de Almeida / Luís Gustavo Bambini / Luciana Gross Cunha / Marcos Paulo
Veríssimo / Octavio Luiz Motta Ferraz / Rogério B. Arantes / Vanessa E. Oliveira
Vitor Marchetti
Organização
Daniel Wei Liang Wang
Capa
Nacho Pons
Preparação e revisão
Ida Gouveia
Editoração eletrônica
Oficina das Letras®
Impressão e acabamento
Gráfica Vida & Consciência
13-07765 CDU-342
Índices para catálogo sistemático: 1. Ciências políticas e direito : Direito público 342
Andrei Koerner
Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual
de Campinas – Unicamp e pesquisador do INCT-Ineu. Mestre e Doutor em
Ciência Política pela Universidade de São Paulo e bacharel em direito pela
Universidade Federal de Santa Catarina.
Cláudio G. Couto
Professor do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getúlio Vargas
de São Paulo. Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e
Pós-Doutorado em Ciência Política pela Columbia University.
Rogério B. Arantes
Professor e Coordenador da Pós-Graduação do Departamento de Ciência Polí-
tica da Universidade de São Paulo. Mestre e Doutor em Ciência Política pela
Universidade de São Paulo.
Vitor Marchetti
Coordenador do Bacharelado de Políticas Públicas da Universidade Federal
do ABC e Doutor em Ciência Política pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo.
Introdução
1
Agradeço a Rogério Arantes e Cláudio Couto pelas sugestões feitas com relação aos
títulos do livro e deste capítulo. Agradeço também a Octávio Ferraz e Vitor Marchetti pelos
comentários feitos a esta introdução.
12 constituição e política na democracia
Cuidados na reaproximação
A aproximação entre Direito Constitucional e Ciência Política é um
processo necessário e com ganhos mútuos. Porém, é preciso ter alguns
cuidados ao se fazer isso.
Não é raro encontrar constitucionalistas citando os grandes clássicos
da política (aprendidos na aula de Introdução à Ciência Política ou Teoria
Geral do Estado durante o primeiro ano da faculdade) de forma descontex-
tualizada, contraditória e retórica, acreditando estar enriquecendo sua analise
com elementos interdisciplinares (Oliveira, 2004). Porém, pouco conhecem
a respeito dos debates contemporâneos dentro da Ciência Política e de como
suas perguntas, métodos e conclusões poderiam enriquecer o seu objeto de
estudo. Por exemplo, não é incomum encontrar trabalhos em Direito Constitu-
cional que ao falar de separação de poderes não vão além do Espírito das Leis
de Montesquieu, como se nada mais de relevante tivesse sido escrito sobre o
tema nos últimos 250 anos.
Igualmente, não é difícil encontrar trabalhos jurídicos que estão funda-
mentados em premissas baseadas no senso comum ou em afirmações que,
no mínimo, demandariam um grande trabalho empírico e conceitual para
poderem ser afirmadas com um mínimo de segurança. Por exemplo, fala-se
com frequência da paralisia decisória no Brasil, um diagnóstico bastante
controverso entre cientistas políticos (ver Figueiredo, neste volume). Também
os juristas costumam ressaltar a incapacidade do Estado de dar resposta aos
problemas sociais, o que justificaria a judicialização de políticas sociais. Essa
opinião precisaria, no mínimo, enfrentar o fato de que houve avanço no Brasil
em praticamente todos os índices que medem efetividade de políticas de
saúde, educação e pobreza nas últimas décadas.
Por outro lado, o cientista político também precisa ficar atento para o
fato de que as leis, bem como as interpretações e os métodos de interpretação
que os juízes fazem delas, mudam de forma muito rápida. Apenas a título de
exemplo, um cientista político que tenta contabilizar a taxa de sucesso das
ações diretas de inconstitucionalidade como medida de ativismo judicial pode
ser levado a engano se o tribunal decide fazer uso da «interpretação conforme».
Formalmente, a lei está mantida, porém o seu conteúdo foi mudado de forma
que a única interpretação possível é aquela que o STF entendeu ser cabível, o
que pode ser uma demonstração maior de ativismo do que se ele declarasse a
lei inconstitucional. Portanto, um pesquisador desavisado sobre as novidades
hermenêuticas do STF pode chegar a conclusões equivocadas.
18 constituição e política na democracia
Estrutura do livro
A ideia deste livro nasceu juntamente com a organização do «Curso
de Constituição e Política» promovido pela Sociedade Brasileira de Direito
Público (SBDP) ao longo do primeiro semestre de 2011.
O curso foi pensado sob as seguintes diretrizes: (1) não repetir o conteúdo
de um curso de Direito Constitucional oferecido nas faculdades; (2) reunir
professores e pesquisadores que estejam desenvolvendo trabalhos originais
e de impacto sobre a Constituição em suas respectivas áreas; (3) promover a
maior variedade possível de abordagens e metodologias; e (4) instigar e abrir
campo para futuras pesquisas.
Deste esforço resultaram duas constatações. A primeira é que existem
muitas pessoas na Ciência Política e no Direito Constitucional que estão
tratando de um mesmo objeto e formam uma literatura comum sobre a Consti-
tuição. A segunda constatação foi a de que não havia no Brasil uma publicação
destinada a reunir esta literatura. Daí nasce a ideia do presente livro.
Os capítulos que compõem este volume são baseados nas aulas profe-
ridas pelos seus respectivos autores durante o referido curso, mais as preciosas
contribuições de Vitor Marchetti e Octávio Ferraz. Importante ressaltar,
também, o apoio de um grande grupo de pesquisadores da SBDP cujo compro-
metimento e dedicação tornaram esse livro possível: Bruno Drago, Cláudia
Matsuo, Daniel Gemignani, Fernanda Balera, Fernando Sakuma, Karina
Santos, Luciana Ramos, Luciana Reis, Luciano Oliveira, Manuela Camargo,
Margareth Alves, Natália Pires e Victor Marcel.
No primeiro capítulo, «A análise política do Direito, do Judiciário e da
doutrina política», Andrei Koerner parte da tese de que a discussão técnica
no direito é política e que, portanto, o jurista, ainda que não saiba ou admita,
está sempre fazendo política. Dessa forma, a doutrina, a jurisprudência e
as normas não podem ser entendidas sem se considerar as forças políticas
em ação em um determinado contexto político. O autor analisa, entre outros
temas, a evolução do controle de constitucionalidade no Brasil para mostrar
como suas regras e usos foram moldados pelas mudanças políticas do país.
Marcos Paulo Veríssimo, no capítulo «Controle de constitucionalidade
e ativismo judicial», trabalha os conceitos de «judicialização» e «ativismo
judicial» para discutir a incorporação da racionalidade político-jurídica dentro
do processo judicial de controle de constitucionalidade das leis. Essa incor-
introdução 19
desobediência civil é uma forma de se fazer política por um meio ilegal, mas
que apela ao senso de justiça da maioria com fundamento em valores consti-
tucionais. Este capítulo analisa a capacidade das teorias existentes de justificar
a desobediência civil em um Estado Democrático de Direito e o tratamento
dado no Judiciário brasileiro para casos em que aqueles que violam as leis
argumentam realizar atos de desobediência civil.
Boa leitura!
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Oxford: Oxford University Press.
8
1. O diagnóstico da ingovernabilidade
Já no seu primeiro ano de vida, a Constituição de 1988 foi duramente
criticada por ninguém menos do que o mais alto mandatário do país. Para o
presidente Sarney, a divisão constitucional de recursos e atribuições entre os
entes federativos tornava o país ingovernável. Não obstante as objeções ao
modelo federativo,2 são as instituições políticas consagradas na Constituição
de 1988 – das quais dependem as decisões sobre as políticas públicas – o
principal alvo das críticas à nossa última carta democrática. As instituições
políticas brasileiras foram vistas por muitos analistas políticos como inade-
quadas para viabilizar a governabilidade necessária para se enfrentar os
grandes desafios do país à época da promulgação da Constituição: combate à
inflação e às desigualdades sociais.
Esse diagnóstico de que as instituições políticas brasileiras estabelecidas
com a nova Constituição tornam o país difícil de se governar tem sua força
1
Esta palestra baseia-se em livros e artigos publicados pela autora em coautoria com Fernando
Limongi, particularmente a obra Executivo e legislativo na nova ordem constitucional, Rio de
Janeiro: Editora da FGV, 1999.
2
Sobre o tema do federalismo, ver o trabalho de Vanessa Elias de Oliveira, neste volume, à
p. 219.
180 constituição e política na democracia
continuação...
Sucesso * Dominância **
Coalizão de
Coalizão Unida* Coalizão Dividida** Total
Governo
Fontes: Prodasen, Câmara dos Deputados, Diário do Congresso Nacional; Banco de Dados
Legislativos do Cebrap.
* Todos os líderes dos partidos da coalizão de governo indicam de acordo com a indicação
de voto do líder do governo. (Inclui casos em que pelo menos um líder libera a bancada).
** Pelo menos um líder dos partidos da coalizão de governo se opõe à indicação de voto
do líder do governo.
*** % de votos dos membros dos partidos da coalizão de governo.
Notem que esta média não pondera o tamanho da bancada do partido dissidente.
3
Argelina Cheibub Figueiredo 185
Constituição Constituição
Poderes Legislativos do Executivo
de 1946 de 1988
Iniciativas exclusivas:
Projetos de lei «administrativos»* Sim Sim
Projetos de leis orçamentárias Não Sim
Projetos de lei sobre matéria tributária Não Sim
Emendas constitucionais Não Sim
Editar decretos com força de lei (medida provisória) Não Sim
Editar leis sob requerimento de delegação pelo Congresso Não Sim
Solicitar a urgência dos projetos de lei (votação em 45 dias em cada Casa) Não Sim
Impor restrições a emendas orçamentárias do Congresso Não Sim
4
Observe-se que não é urgência presidencial, mas urgência do Legislativo, que é muito mais
frequente.
Argelina Cheibub Figueiredo 187
Quadro 2
Direitos de líderes partidários na Câmara dos Deputados
(1946-64 e pós-1989)
Autores
Andrei Koerner / Argelina Cheibub Figueiredo
Cláudio G. Couto / Daniel Wei Liang Wang
Eloísa Machado de Almeida / Luís Gustavo Bambini
Luciana Gross Cunha / Marcos Paulo Veríssimo
Octavio Luiz Motta Ferraz / Rogério B. Arantes
Vanessa E. Oliveira / Vitor Marchetti
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