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COTEQ-XXX

PREPARAÇÃO DE SUPERFÍCIE PARA REVESTIMENTOS ANTICORROSIVOS –


ALTERNATIVAS, APLICAÇÕES E RESULTADOS ESPERADOS
Laerce de Paula Nunes1, Anderson Teixeira Kreischer2, Renata Ramos3, Gabriela Bernardo4, Dirk
Hans Gunter Pohlmann 5.

Copyright 2013, ABENDI, ABRACO e IBP


Trabalho apresentado durante 12ª Conferencia sobre Tecnoclogia de Equipamentos.
As informações e opiniões contidas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade dos
autores.

SINOPSE

A preparação superfície e mais especificamente a limpeza da superfície por processos mecânicos


constitui-se em uma etapa de extrema importância na execução de revestimentos anticorrosivos.

Historicamente a limpeza por jateamento abrasivo seco com areia perdurou no Brasil por várias
décadas, entretanto com a proibição do seu uso, várias alternativas têm sido utilizadas, ou seja, o
jateamento seco com outros abrasivos, jateamento com água (hidrojateamento) e processos de
limpeza manual e mecânica manual. A limpeza manual e mecânica manual é de baixa
produtividade e tende a deixar a superfície muito lisa, portanto inadequada a uma boa aderência.

O presente trabalho apresenta as alternativas de limpeza de superfície, as aplicações, com as


vantagens e limitações de cada uma, bem como os resultados esperados. Nesta análise são
avaliados os mais recentes desenvolvimentos como, por exemplo, as esponjas abrasivas, o
hidrojateamento com partículas abrasivas e as ferramentas mecânicas de jato com cerdas flexíveis
que permitem a limpeza no grau adequado e abertura de perfil de rugosidade que assegura uma
boa aderência.

Palavras Chaves: Revestimentos, Preparo de Superfície

1 Eng. Metalúrgico – IEC – Instalações e Engenharia de Corrosão Ltda. – Gerente de Projetos


2 Eng. Metalúrgico – IEC – Instalações e Engenharia de Corrosão Ltda. – Gerente de Projetos
3 Enga. Química – IEC – Inatalações e Engenharia de Corrosão Ltda. – Gerente Comercial
4 Enga. Química – IEC – Inatalações e Engenharia de Corrosão Ltda. – Engenheira de Vendas
5 Eng. Mecânico – Tecnofink - Coordenador da Unidade de Máquinas

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INTRODUÇÃO

A limpeza da superfície constitui-se em uma etapa de extrema importância na execução de


revestimentos anticorrosivos, seja revestimentos orgânicos entre os quais se situa o revestimento
por tintas ou ainda revestimentos metálicos como a aspersão térmica, por exemplo.

A Limpeza de superfície por processos mecânicos visa remover todo e qualquer material que
possa prejudicar a adesão e ainda prover um perfil de rugosidade adequado a uma boa aderência
mecânica do revestimento.

Historicamente a limpeza por jateamento abrasivo seco com areia perdurou no Brasil por várias
décadas, entretanto com a proibição do seu uso, várias alternativas têm sido utilizadas, ou seja, o
jateamento seco com outros abrasivos, jateamento com água (hidrojateamento) e processos de
limpeza manual e mecânica manual.

A limpeza manual e mecânica manual tradicional tem sido muito empregada na realização de
revestimentos por tintas, entretanto é de baixa produtividade e tende a deixar a superfície muito
lisa, portanto inadequada a uma boa aderência.

O presente trabalho apresenta as alternativas de limpeza de superfície, as aplicações, com as


vantagens e limitações de cada uma, bem como os resultados esperados. Nesta análise são
avaliados os mais recentes desenvolvimentos como, por exemplo, as esponjas abrasivas, o
hidrojateamento com partículas abrasivas e as ferramentas mecânicas de jato com cerdas com
cerdas flexíveis que permitem a limpeza no grau adequado e abertura de perfil de rugosidade que
assegura uma boa aderência.

1. IMPORTANCIA DA PREPARAÇÃO DE SUPERFÍCIE – CONSIDERAÇÃO


HITÓRICA

Na execução dos revestimentos a preparação de superfície tem uma importância muito


significativa, visto que ela contribui decididamente para a boa aderência e para o desempenho dos
revestimentos.

A primeira utilização de jato abrasivo que se tem registro foi patenteada nos Estados Unidos em
1870. A princípio vários fluidos foram usados como impulsionador e também vários materiais
como abrasivo.

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Dentre estes tipos de jatos, o jateamento com areia impulsionado com ar comprimido foi o que se
consagrou pela eficiência, produtividade e custo.

2. O JATEAMENTO COM AREIA

O jateamento com areia perdurou como método de preparação para aplicação de revestimentos
para proteção anticorrosiva por muitas décadas, evidentemente pelas seguintes razões:

 Custo muito compatível;

 Limpeza no grau adequado de acordo com as exigências do revestimento;

 Promove um perfil de rugosidade apropriado a uma excelente aderência do revestimento.

Não obstante estas razões, este método de limpeza provoca alguns problemas, dentre os quais:

 Danos ambientais;

 Incômodo aos vizinhos do local de execução do revestimento;

 Grau elevado de insalubridade, devido à sílica cristalina que provoca silicose, uma doença
irreversível dos alvéolos pulmonares.

Em virtude destes inconvenientes, através da Portaria nº 99 de 19 de outubro de 2004 foi


introduzida na NR-15 a proibição de uso da areia nos trabalhos de Jateamento abrasivo.

Em todo o período de uso do jateamento abrasivo com areia, algumas alternativas já vinham
sendo utilizadas, que estamos denominando neste trabalho de alternativas tradicionais.

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3. ALTERNATIVAS TRADICIONAIS DE LIMPEZA DE SUPERFÍCIE

Com a proibição do jateamento abrasivo com areia os profissionais da área de revestimentos e os


fabricantes de tinta passaram a dar uma maior atenção às alternativas, incialmente as atenções
foram concentradas naquelas já consagradas como: jateamento com granalhas de aço, jateamento
com escória de cobre, jateamento com bauxita sinterizada, hidrojateamento de alta pressão,
limpeza manual e mecânica manual.

Nas alternativas de jateamento sempre pesou a irregularidade do perfil de rugosidade e ainda o


custo bem mais elevado quando comparado ao jateamento com areia. Quanto ao hidrojateamento
ele tem a sua limitação para materiais muito aderentes e ainda pelo fato de não abrir perfil de
rugosidade.

Na limpeza manual e mecânica manual o grande problema é a tendência de polir a superfície e,


portanto, não conferir um perfil de rugosidade.

Vários trabalhos desenvolvidos por Fragata e outros mostraram que o hidrojateamento oferece a
grande vantagem de eliminar todos os contaminantes não visíveis, especialmente os salinos, o
que favorece o desempenho dos esquemas de revestimento.

4. DESENVOLVIMENTO DE TINTAS TOLERANTES

Também como consequência do uso destes métodos alternativos os fabricantes de tintas


iniciaram um processo de desenvolvimento de tintas tolerantes.

Estas tintas possuem melhor aderência química, podendo ser aplicadas em superfícies com pouca
limpeza e sem um adequado perfil de rugosidade o que favorece a aplicação em superfícies com
limpeza manual, mecânica manual e hidrojateamento.

Algumas possuem a capacidade de aderir sobre superfícies úmidas o que possibilita a utilização e
superfícies hidrojateadas antes da secagem, reduzindo tempo de aplicação e reduzindo a oxidação
pela presença de água após o hidrojateamento.

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5. ATERNATIVAS MAIS RECENTES

Ainda na busca de novas alternativas vale ressaltar que algumas dessas alternativas que já
existem há algum tempo tem tido o seu uso incrementado mais recentemente, sobre as quais
daremos mais atenção, dentre elas:

 O uso de hidrojateamento com microesferas de vidro;

 Jateamento seco com esponjas abrasivas;

 Jateamento com cerdas flexíveis.

5.1. Hidrojateamento com microesferas de vidro

O hidrojateamento com microesferas de vidro apresenta como vantagem em relação ao


hidrojateamento convencional o fato de permitir alguma rugosidade.

As microesferas de vidro possuem sílica amorfa, que pelos estudos realizados são muito menos
prejudiciais que a sílica cristalina existente nas areias.

Possui a mesma limitação do hidrojateamento quanto a capacidade de limpeza somente em


óxidos e materiais soltos e em revestimentos por tintas anteriormente aplicados.

A figura 01 mostra de forma esquemática o equipamento para hidrojateamento com microesferas


de vidro.

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REALIMENTAÇÃO MICROESFERAS
DO ABRASIVO DE VIDRO

EQUIPAMENTOS SUPERFÍCIE
HIDROJATEAMENTO HIDROJATEADA

DETRITOS SEPARAÇÃO SEPARAÇÃO


(ÓXIDOS) DE SÓLIDOS LIQUIDO-SÓLIDOS

Figura 01 – Esquema de um equipamento de hidrojateamento com microesferas de vidro

O quadro da tabela 01 mostra as vantagens, as desvantagens e as limitações do método.

Tabela 01 – Hidrojateamento com microesferas de vidro – vantagens, desvantagens e


limitações.
VANTAGENS DESVANTAGENS LIMITAÇÕES
Superfícies com materiais
Não remove materiais muito muito aderentes, tais como
Promove remoção eficiente
aderentes, como carepa de carepa de laminação e
de materiais soltos e tintas
laminação, por exemplo. revestimentos duros e
aderentes.
Remove contaminantes não
Não pode ser usado em Mais adequado ao uso de
visíveis, como ocorre no
locais onde haja restrições ao tintas tolerantes a pouca
hidrojateamento
emprego de água preparação
convencional
Tem boa produtividade Causa o aparecimento da Mais adequado ao uso de
oxidação precoce (Flush rust) tintas tolerantes a umidade
O perfil de rugosidade não é Não é adequado para
muito uniforme e tão efetivo revestimentos que exigem
Confere perfil de rugosidade
quanto no jateamento com limpeza perfeita da superfície
areia metálica

5.2. Jateamento com Esponjas Abrasivas

O jateamento com esponjas assemelha-se a um jateamento tradicional, com a diferença de que o


abrasivo são esponjas abrasivas, que podem ser recicladas e exalam muito pouca poeira.

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É adequada para uso em locais confinados e em áreas que oferecem riscos de incêndio (Áreas
Classificadas).

A figura 02 mostra de forma esquemática o equipamento para jateamento com esponjas


abrasivas.

ESPONJAS EQUIPAMENTOS SUPERFICIE


ABRASIVAS DE JATO JATEADA

ESPONJAS
PARA
REUTILIZAÇÃO

DETRITOS SEPARAÇÃO DAS ESPONJAS


(ÓXIDOS) ESPONJAS E
DETRITOS E SÓLIDOS

Figura 02 – Esquema de um Equipamento de Jateamento com Esponjas Abrasivas

O quadro da tabela 02 mostra as vantagens, as desvantagens e as limitações do método.

Tabela 02 – Jateamento com Esponjas Abrasivas – Vantagens, Desvantagens e


Limitações.
VANTAGENS DESVANTAGENS LIMITAÇÕES
Não oferece boa
Não produz poeira nem produtividade para materiais
faiscamento muito aderentes, como carepa
de laminação intacta.
Superfícies com materiais
Permite selecionar o tipo de muito aderentes, tais como
abrasivo em função da Exige equipamento específico carepa de laminação e
rugosidade desejada revestimentos duros e
Tem boa produtividade Não remove contaminantes aderentes.
salinos
Confere perfil de rugosidade
Custo mais elevado
na faixa de 25 a 120 µm

5.3. Jateamento com cerdas flexíveis

O jateamento com cerdas, na verdade não é um jateamento no sentido explícito do método,


porém se assemelha no resultado, pela excelente abertura de rugosidade.

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A figura 03 mostra de forma esquemática o equipamento para jateamento com cerdas.

CERDAS
TÉRMICAMENTE
TRATADAS

BARRA
ACELERADORA

Figura 03 – Esquema de um Equipamento de Jateamento com Cerdas Flexíveis

Há dois tipos de equipamento, o acionado pneumaticamente e outro acionado eletricamente e as


escovas devem ser selecionadas de acordo com a aplicação. A energia de arrancamento é obtida
pela aceleração das cerdas na barra aceleradora.

A figura 04 apresenta fotos do equipamento e do preparo de superfície obtidos.

(a)

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(b)
Figura 04 – fotos ilustrativas do equipamento de jateamento com cerdas
flexíveis – (a) Vista das cerdas e barra aceleradora; (b) Superfície após a
limpeza

O quadro da tabela 03 mostra as vantagens, as desvantagens e as limitações do método.

Tabela 02 – Jateamento com Cerdas Flexíveis – Vantagens, desvantagens e limitações.

Promove remoção eficiente de


materiais não muito aderentes e com
razoável eficiência para materiais
muito aderente como carepa de
laminação. É muito econômico para
pequenas áreas.
Pode ser usado em áreas Não é econômico para
classificadas com presença eventual grandes áreas
de mistura explosiva – Não provoca Não Deve Ser Usado na
faiscamento que ofereça riscos de Presença Permanente de
Incêndio (Baixa Energia) – Zonas 1 Mistura Explosiva - Zona 0
e 2 da Norma ABNT NBR IEC 60 da Norma ABNT NBR IEC
079 – Aprovado pela Directiva 60 079 -10
ATEX 94/9/CE
Possui razoável produtividade, sendo O perfil de rugosidade,
adequado para locais onde a logística embora seja uniforme,
para uso do jateamento tradicional não é tão uniforme
inviabiliza este processo. como no jateamento
Confere perfil de rugosidade na faixa com areia, porém é
de 40 a 120 µm e atende a Norma adequado a qualquer
SSPC SP-11 e ISO 8501-1 revestimento.

Estudos mostram que os revestimentos executados sobre jateamento com cerdas apresentam um
desempenho muito próximo do jateamento convencional e do hidrojateamento.

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6. ANÁLISE E RESULTADOS ESPERADOS

Como se observa após décadas de uso intensivo do jateamento abrasivo com areia, com a sua
proibição no Brasil os especialistas em revestimento sentiram a necessidade de intensificar o uso
de alternativas.

Inicialmente foram incrementadas as alternativas de uso já consagrado como as ferramentas


mecânicas o jateamento seco com vários abrasivos e o hidrojateamento.

Como estes processos não atendiam plenamente, algumas alternativas passaram a ser mais
intensamente empregadas, tais como o hidrojateamento com a introdução de pequena
porcentagem de abrasivo, o jateamento seco com esponjas abrasivas e finalmente o jateamento
com cerdas flexíveis.

Este último reúne algumas vantagens comparativamente a outros métodos que certamente o torna
um método com excelentes perspectivas de utilização.

7. CONCLUSÕES

Com base no exposto podemos concluir que:

 A proibição ao uso da areia como abrasivo no Brasil há quase dez anos, ainda não encontrou
substituto que atenda plenamente de forma técnica e econômica;

 As alternativas existentes de modo geral atendem bem aos requisitos de proteção ao meio
ambiente e de pouca insalubridade, entretanto são mais caras e às vezes não oferece o mesmo
nível de qualidade;

 Neste particular o jateamento com cerdas abrasivas apresenta um elenco de vantagens que
tornam este método bastante interessante na execução de revestimentos, em geral.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SSPC –SP 11 –Surface Preparation Nº 11 – Power Tool Cleaning to Bare Metal - SSPC
Standards (SSPC: The Society for Protective Coatings)
July 2012

ISO 8501-1 – Preparation of Steel Substrates Before Application of Paints and Related
Products.

Surface Preparation of Ship-Construction Steel/(ABS-A) Via Bristle Blasting Process -


Professor Robert J. Stango, Ph.D.,Professor Raymond A. Fournelle, Ph.D., Jorge A.
Martinez, and Piyush Khullar – Corrosion 2010 – Paper nº 10 385.

Bristle Blast SurfaceTreatment of Welded Joints Fabricated from Commercial Ship


Construction Steel - Professor Robert J. Stango, Ph.D.,Professor Raymond A. Fournelle,
Ph.D. and Jorge A. Martinez - Corrosion 2011 – Paper nº 11 417.

Fragata, Fernando L. – Palestra Técnica - Preparação de Superfícies Ferrosas por Meio de


Ferramentas Mecânicas – ELETROBRAS/CEPEL - 2012.

Ordine, Alberto P; Fragata, Fernando L.;Sebrão, Mauro Z. - Efeito do Perfil de Rugosidade


de Substratos de Aço-carbono na Medição de Espessura de Revestimentos Anticorrosivos
por Pintura - ABRACO - INTERCORR 2008 – Recife, 2008.

Nunes, Laerce P. e Lobo, Alfredo C. O – Pintura Industrial na Proteção Anticorrosiva, 4ª


edição, Editora Interciência, 2012.

Norma ABNT NBR IEC 60 079 – Classificação de Áreas.

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