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UNIVERSIDADE LUSIADA DE LISBOA Cursos de Direito e Solicitadoria Direito Comercial da Empresa - Prova de Frequéncia - 28.01.2016 - Duragao: 3h Em 1 de Marco de 2012, Antonio, Bento ¢ Carlos, celebraram 0 contrato de constituicao da sociedade ToBenCar ~ Cultivo e Venda de Produtos Agricolas, Lda., com 0 capital social de € 90,000 dividido em 3 quotas, no valor nominal de € 30.000 cada, no qual acordaram a realizacdo imediata das entradas de Anténio e Bento, através da entrega, & sociedade, de um terreno de cultivo de que ambos eram nicos comproprietarios ¢ 0 diferimento da entrada de Carlos, a realizar mediante a entrega de um tractor, estabelecendo-se como vencimento o dia 1 de Margo de 2015. Ficou também acordado que seriam gerentes todos os sécios, que a sociedade se vinculava com a assinatura de dois deles e que nenhuma deliberacdo de sécios poderia ser tomada sem 0 voto favoravel de Antonio. Em 1 de Setembro de 2014, numa altura em que se encontravam a jantar no restaurante O Luar, Bento propés a Antonio ¢ a Carlos a aquisicéo, pela sociedade, de um dos armazéns utilizados por Daniel no seu comércio de revenda adubos, incluindo todos os méveis, utensilios ¢ produtos ali existentes, pretens4o com a qual todos concordaram, consignando tal posico num guardanapo de papel, que todos assinaram. Iniciadas as negociagdes com Daniel, Antonio constatou que a sociedade nao tinha liquide para efectuar a compra, razdo pela qual este decidiu convocar os sécios para a realizacéo de uma assembleia-geral destinada a aprovar um aumento de capital, por novas entradas, no valor de € 180.000, a qual se realizou em 1 de Outubro de 2014 e foi aprovada com os votos favoraveis de Anténio e Bento, nao tendo Carlos votado, por se encontrar ausente no estrangeiro, embora tivesse sido regularmente notificado da convocatéria. Em 10 de Outubro de 2014, Bento, em representacao da sociedade, celebrou com Daniel © referido contrato de aquisicao do armazém, o qual foi comunicado a Carlos quando regressou a Portugal, em 15 de Novembro de 2014. Carlos reagiu mal a situacao, alegando que, embora tivesse concordado com a aquisicao, nunca concordaria com 0 preco pago. Em 25 de Novembro de 2014 Anténio, descontente com a reaccéo de Carlos, vendeu regularmente a sua quota a Eduardo. Responda, sucinta mas fundadamente, as seguintes questdes: Identifique a natureza juridica da sociedade (1,5 val.) Pronuncie-se sobre a conformidade legal da realizacao do capital social (2 val.). Qualifique o direito contratualmente atribufdo a Antonio, esclarecendo se o mesmo se tansmitiu a Eduardo, em consequéncia da venda da quota (2 val.) Identifique a natureza juridica do negécio de aquisigéo do armazém (1,5 val.) 5. Comente as seguintes pretensdes de Carlos: a. Invalidade da resolucdo tomada em 1 de Setembro de 2014, com fundamento no facto de nao ter sido tomadia em assembleia-geral (2 val.). eye b. Invalidade da resolugao tomada em 1 de Outubro de 2014, com fundamento no facto de nao ter recebido 0 voto favoravel de Carlos (2 val.) ¢. Invalidade do contrato de aquisigao do armazém, com fundamento no facto de ‘© mesmo nao se encontrar compreendido no objecto da sociedade (2 val.). d. Invalidade do contrato de aquisigao do armazém, com fundamento no facto de © mesmo ter sido outorgado apenas por um dos gerentes da sociedade (2 val.). 6. Diga qual é a composicdo da geréncia apés o negécio celebrado em 25 de Novembro de 2014 (2 val.) ste Comente a seguinte afirmacao (3 val.).: Estando em causa sociedades de responsabilidade limitada, néo existe nenluma forma de responsabilizar os sécios, nessa qualidade, por dividas da sociedade. UNIVERSIDADE LUSIADA DE LISBOA Cursos de Direito e Solicitadoria Direito Comercial da Empresa ~ Prova de Frequéncia ~ 28.01.2016 ‘Tépicos de correceao da prova 1 1. Sociedade civil sob forma comercial, do tipo sociedade por quotas ~ fundamentago: objecto civil @ tipo comercial revelados pela firma; distinggo entre sociedades comerciais e sociedades civis; auséncia de definigao legal de Sociedade comercial; necessidade de recurso ao conceito de contrato de sociedade civil constante do art, 980°, CC, concatenado com os requisitos previstos no art. 1°, n® 2, CSC) 2. Esta conforme com a lel a realizagao das entradas em espécie, que foram realizadas imediatamente (eit. 26° CSC); necessidade de avaliagdo das entradas em espécie por ROC sem interesse na sociedade (art. 25° CSC); no esta conforme com a lei a realizagdo da entrada em espécie, porque 86 podem ser diferidas as entradas em dinheiro (arts. 26°, n® 3.¢ 202%, n° 4) 3. O direito contratuaimente atribuldo a Antonio ~ de que nenhuma deliberagao poderia ser tomada sem © volo favoravel dele ~ € um direito especial (art. 24° CSC), valido (art. 250°, n? 3 CSC), mas intransmissivel (arts. 24°, n° 3 CSC); distingdo entre direitos gerais e direitos especais; distingao entre direitos especiais de natureza pessoal e de natureza patrimonial; 4. O negécio de aquisigao do armazém tem a natureza juridica de um trespasse de estabelecimento comercial, parcial, por se tratar de uma unidade técnica da actividade de comércio de revenda de adubos, propriedade de Daniel; 5. a) Trata-se de uma deliberagao de sbcios unanime por escrito, valida (art, 64°, 1° parte, CSC); distingo entre deliberagées undnimes por escrito e deliberagées tomadas em assembleias universais; razdo de ser da dispensa de convocateria, b) O capital social ¢ uma mengao obrigatéria do contrato de sociedade (art. 9°, n° 4, al? f), CSO); a operagdo de aumento de capital pressupbe uma alteragdo do contrat, devendo ser tomada em assembleia geral que retina 0s votos favoravels de % dos votos correspondentes @ totalidade do capital social (art. 265°, n° 1, CSC); trata-se de uma norma injuntiva de contetide minimo, que no pode ser modificada por vontade dos sécios; devide @ auséncia de Carlos, a deliberagao no fol tomada pela referida maioria qualificada, sendo nula (art. 56°, n® 1, al* d), CSC), podendo até considerar-se inexistente, por no ter reunido o nimero minimo de votos para a sua formago. ©) Apesar de a actividade de comércio de adubos nao estar directamente compreendida no objecto da sociedade, o contrato é valido, nos termos ¢ com as ressalvas dos arts. 6°, n° 4, e 260°, n°s 1 © 2, CSC; distingao entre capacidade juridica da sociedade e objecto da sociedade: 4) Apesar de ter sido outorgado apenas por um dos gerentes da sociedade, o contrato obriga a sociedade perante Daniel, nos termos e com as ressalvas do art 260%, n’s 1 e 2, CSC; funcionamento dos poderes de representagao dos gerentes; ambito das relagdes externas e das relagdes internas; responsabiidade civil dos gerentes pela celebragéo de negécios nao compreendidos no objecto da sociedade; 6. Ageréncia ficou composta por Antonio, Bento e Carlos, visto que 0 cargo de gerente ndo se transmite para Eduardo (art. 252%, 3 e 4, CSC) e que Anténio nao renunciou a geréncia, nem foi destituldo em assembleia geral; inaplicabilidade da caducidade, pelo facto de a nomeagdo néo ter sido feita a termo, " Questéo 2 desenvolver com base na possibilidade de, nas sociedades por quotas, os sécios poderem convencionar a respectiva responsabilidade pessoal para com os credores da sociedade (art. 198°, n° 1) e de, em qualquer tipo de sociedade, ser possivel responsabllizar os sécios por dividas da sociedade, com recurso 20 instituto da desconsideragdo da personalidade juridica da sociedade, verificados os respectivos pressupostos.

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