Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Autor
2008
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos
direitos autorais.
ISBN: 978-85-7638-875-3
CDD 330
Gabarito | 145
Referências | 159
Anotações | 161
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Apresentação
Este livro tem como propósito fundamental destacar o desenvolvimento das
Ciências Econômicas e do capitalismo. Descreve as duas revoluções industriais
e como o imperialismo levou as superpotências à Primeira Guerra Mundial.
Apresenta o maior desafio do sistema liberal com uma visão consistente da
Grande Depressão e, em seguida, a Segunda Guerra Mundial. A partir desse
ponto, o rumo central do livro passa a ser direcionado à industrialização da
economia brasileira e suas fases estruturais.
Por fim, busca-se analisar o Plano Real e seu sucesso em combater a inflação.
E, com isso, destacam-se as duas fases do plano. Inicialmente a âncora cambial
e as crises internacionais. Posteriormente, o regime de metas de inflação,
seu sucesso operacional no controle inflacionário e uma apresentação dos
principais desafios da economia brasileira.
Introdução
O pensamento mercantil desenvolveu-se entre a Idade Média e o período do liberalismo econômi-
co. Nesse sentido, o mercantilismo pode ser datado, aproximadamente, entre os anos de 1500 a 1776,
variando em diferentes países e regiões.
Este texto abordará quatro tópicos importantes dessa escola de pensamento. Inicialmente, com o
objetivo de contextualizar a leitura, apresenta-se o cenário histórico vivido por esse sistema. Em seguida,
os principais dogmas são destacados, focando no pensamento dominante e explicando a visão geral do
mercantilismo. Na seqüência, discorre-se sobre o colonialismo no Brasil, desde o descobrimento até o
ciclo do ouro. E, por último, são descritos o quadro social vivido no mercantilismo e o início do sistema
capitalista.
É importante destacar que o mercantilismo em algumas regiões, principalmente na Europa Oci-
dental, pode ser interpretado como uma prática econômica de transição entre um feudalismo avançado
nas atividades comerciais, mas com uma base forte na agricultura, para um sistema capitalista voltado
para o crescimento da indústria e do livre funcionamento dos mercados. Com isso, o mercantilismo pode
ser considerado um período de transição do capital comercial para o capital industrial. É comum clas-
sificá-lo como um sistema pré-capitalista ou simplesmente capitalismo mercantil, no sentido de que o
crescimento da prática comercial possibilitou o financiamento das atividades industriais e financeiras.
As principais potências nesse período foram Portugal, Espanha, Inglaterra e França, que domina-
vam as principais rotas de comércio e as técnicas marítimas. Holanda e as regiões da Itália e Alemanha
também tiveram forte expansão do comércio. Esses estados-nações se beneficiaram do sistema mercan-
* Mestre e Doutorando em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bacharel em Ciências Econômicas pela
UFPR. Professor Adjunto de Economia do Centro Universitário Franciscano do Paraná – UNIFAE.
til e ampliaram suas riquezas ao longo desse período. As guerras entre as metrópoles eram freqüentes
e tinham como objetivo, em geral, ampliar ou proteger importantes rotas comerciais, sendo que a acu-
mulação de metais e territórios era fundamental.
Contudo, alguns países, que atualmente dominam o cenário econômico, não se beneficiaram
totalmente das práticas mercantis. Por exemplo, os Estados Unidos, devido à sua dependência política
com a Inglaterra, eram divididos em duas grandes partes:
::: um norte com uma agricultura diversificada e produção manufatureira, representada por uma
colônia de povoamento; e
::: o sul agrário, monocultor, escravista e exportador de matérias-primas, claramente uma colônia
de exploração.
Como conseqüência, a industrialização norte-americana ocorreu efetivamente sob uma guerra
civil, conhecida como a Guerra da Secessão (1861-1865). No caso do Japão, com seu isolamento desde
o século XVII e um sistema econômico próprio baseado numa espécie de campesinato1 e na existência
de oficinas e manufaturas estatais, realiza a partir de 1868 um processo intensivo de industrialização
conhecido como a Revolução Meiji, modificando significativamente a estrutura produtiva dessa ilha
asiática. No caso do Brasil, colônia de Portugal, foi extremamente explorado pela Coroa portuguesa,
através do corte predatório do pau-brasil, do ciclo do açúcar e do ouro.
Marilu Souza
Principais rotas comerciais do mercantilismo.
Em 1487, Bartolomeu Dias contorna, finalmente, o Cabo da Boa Esperança abrindo caminho para
as Índias. A partir desse período, dois fatos históricos foram de extrema relevância para o surgimento e
desenvolvimento do pensamento mercantil, conforme a visão destacada inicialmente.
::: O primeiro acontecimento: Cristóvão Colombo descobre a América em 1492, aumentando
consideravelmente o fluxo de metais preciosos (o ouro e, principalmente, a prata para a Eu-
ropa). Denis (1987, p. 90) destaca que “a Espanha conquista rapidamente o México e o Peru: os
tesouros artísticos e as minas fornecem grandes quantidades de ouro e prata, que asseguram
a supremacia espanhola na Europa durante um século.”
::: O segundo fato relevante: Vasco da Gama atinge a Índia em 1498, contornando a África e
abrindo uma nova rota comercial. Estima-se que só nessa viagem a embarcação portuguesa
tenha lucrado mais de 6 000% com os produtos vendidos na Europa.
A combinação desses dois eventos históricos, a ampliação dos metais preciosos e a expansão de
mercadorias possibilitaram um período único na história da humanidade, isto é, a integração comercial
entre a América – Europa – Ásia.
O comércio mundial introduziu mercadorias inteiramente novas na Europa: o chá, trazido pelos
holandeses em 1606; o café, o cacau, o tabaco, incorporados pela Espanha em 1558. Em seguida, a co-
mercialização do tomate, do milho, da batata e da baunilha foi amplamente intensificada.
O comércio das outras mercadorias expande-se sem precedentes: o açúcar, os melaços, o rum são
comercializados em larga escala com as Índias Ocidentais, tais como os escravos negros, cujo comércio
a partir de 1510 se desenvolve rapidamente.
Os principais dogmas
As doutrinas do sistema mercantil não se baseavam na necessidade de se explicar teoricamente
o funcionamento da economia. Esta ciência só se desenvolve efetivamente no século XVIII, concomi-
tantemente com a Revolução Inglesa e com o pensamento de Adam Smith. Com isso, os principais
pensamentos mercantis são apresentados na forma de dogmas pertencentes à escola mercantilista.
Podem-se descrever quatro grandes princípios básicos (metalismo, nacionalismo, colonialismo e popu-
lação numerosa) e analisar suas inter-relações.
Metalismo ou bulionismo
O metalismo argumenta que a quantidade de ouro e prata no território de uma nação determina
sua riqueza. Nesse caso, um país com uma forte atividade comercial iria acumular mais metais precio-
sos, gerando, com isso, mais riqueza para a sociedade. O ouro e a prata, em algumas regiões, eram con-
siderados a única forma de poder e riqueza.
Galbraith (1989, p. 33) descreve um pensamento de Cristóvão Colombo: “O ouro é uma coisa
maravilhosa! Quem o possui, é senhor de tudo o que desejar. Com o ouro, é até possível abrir às almas
o paraíso”.
Assim, era fundamental que o governante possuísse o máximo desse metal precioso em seu ter-
ritório. Nesse sentido, as exportações de um país eram mais incentivadas que as importações. Era práti-
ca comum a proibição de importações de alguns produtos não-essenciais. O metalismo estava focado
em uma visão primitiva baseada na idéia de que um ganhador necessariamente gera um perdedor, isto
é, o lucro de um país é a desgraça do outro.
Nacionalismo
A formação do estado-nação na figura do rei absolutista tinha como objetivos ampliar as rotas
comerciais, obter novos mercados consumidores, expandir as colônias, assegurar a segurança no co-
mércio internacional, manter o monopólio comercial, e controlar rigorosamente as importações. O na-
cionalismo mercantil levou, inevitavelmente, ao militarismo. Galbraith (1989, p. 31) argumenta que o
grande cientista social alemão, Max Weber (1864-1920), estimou que cerca de 70% das receitas públicas
da Espanha e cerca de dois terços das receitas dos outros países europeus eram empregados em guer-
ras para manter os monopólios comerciais que geravam lucros fenomenais para as nações.
A guerra era, realmente, um estado comum. De 1494 a 1559, ocorreram conflitos na Europa em
praticamente todos esses anos. A Inglaterra, durante o período de 1656 a 1815, conviveu com 84 anos
de guerras.
Colonialismo
Com o objetivo de expandir o comércio, criando uma subordinação político-econômica, as gran-
des nações mercantis buscavam ampliar constantemente suas colônias. A relação entre as metrópoles
e as colônias era bem simples. Estas deviam abastecer a metrópole com matéria-prima e metais precio-
sos. Além disso, as colônias eram fontes de mão-de-obra escrava e sua sociedade mercantil um grande
mercado consumidor. Com isso, as colônias só podiam comprar produtos de suas metrópoles. Brue
descreve bem essa subordinação:
Os atos de navegação britânicos de 1651 e 1660 são bons exemplos dessa política. Os bens importados para a Grã-
Bretanha e para as colônias tinham de ser transportados em navios ingleses ou coloniais [...]. Certos produtos das
colônias tinham de ser vendidos somente para a Inglaterra e outros tinham de chegar à Inglaterra antes de serem en-
viados para países estrangeiros. As importações estrangeiras para as colônias eram restritas ou proibidas. A fabricação
colonial era restrita ou ilegal, em alguns casos, de modo que os territórios dependentes permanecessem fornecedores
de matérias-primas de baixo custo e importadores de bens manufaturados. (BRUE, 2005, p. 15)
O Brasil, como colônia de exploração da Coroa portuguesa, viveu intensamente esse processo,
inicialmente com o ciclo do açúcar e do tabaco e, posteriormente, com a atividade de mineração.
População numerosa
Uma população numerosa e focada para o trabalho era imprescindível para a formação de exér-
citos numerosos a serviço das nações e também na expansão da oferta de trabalho com o objetivo
de redução dos salários. Esse era um ponto importante, pois com salários muito baixos, o custo de
produção era reduzido, possibilitando um preço competitivo para as exportações.
Brue (2005) ressalta que durante o reinado de Henrique VIII na Inglaterra (1509-1547), foi decre-
tado que os “vagabundos” deveriam ter suas orelhas decepadas, e a morte era a pena para o terceiro
delito da vagabundagem. Conseqüentemente, durante o período mercantil, nenhuma teoria sobre o
salário e o trabalho foi desenvolvida.
O colonialismo no Brasil
O descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 1500, ocorre em um contexto vivido
pelas grandes navegações e pela expansão das rotas comerciais da Coroa portuguesa no mundo. Cabe
destacar que, no início do século XVI, a preocupação principal de Portugal era expandir o comércio com
a Índia e não colonizar as terras brasileiras. Portanto, os primeiros anos da ocupação portuguesa foram
preponderantemente focados na exploração da madeira conhecida como pau-brasil – que influenciou
na origem do nome do nosso país.
O historiador econômico Prado Jr. (1976) comenta que portugueses e franceses comercializaram
ativamente, durante a primeira metade do século XVI, a madeira encontrada na costa brasileira. A ex-
ploração foi predatória, argumenta o historiador, devido à importância econômica da madeira como
matéria-prima da indústria têxtil, pois dela era extraído um corante muito útil na tinturaria. Além da
utilização da mão-de-obra indígena no corte e transporte dessa grande árvore (um metro de diâmetro
e 10 a 15m de altura) os portugueses não se preocuparam em criar bases fixas de povoamento no ter-
ritório brasileiro. A comercialização do pau-brasil era monopólio de Portugal, que cobrava o direito de
exploração. A primeira concessão referente ao pau-brasil data de 1501, autorizando Fernando de No-
ronha a comercializá-la exclusivamente até 1504.
A partir de 1530, a Coroa portuguesa, por meio de uma divisão política da costa brasileira em capi-
tanias hereditárias, organiza alguns núcleos de produção de cana-de-açúcar. Inicialmente, a mão-de-obra
utilizada nas fazendas era a indígena, criando assim uma estrutura agrícola escravista e de monocultura.
Os engenhos, fazendas especializadas na manipulação da cana e no preparo do açúcar, desen-
volveram-se rapidamente, agora com a mão-de-obra africana, com o objetivo de vender esse valorizado
produto para a metrópole portuguesa. Além do açúcar, o tabaco também foi amplamente produzido no
Brasil seguindo as doutrinas mercantilistas impostas por Portugal.
Entretanto a descoberta de grandes jazidas de ouro, no início do século XVIII, impulsionou a ativi-
dade de mineração no Brasil. A Coroa portuguesa despende uma atenção quase que exclusiva para a
exploração dos metais preciosos, gerando uma grande decadência nas atividades agrícolas, inclusive
da cana.
A exploração do ouro, apesar de ser livre, era submetida a um regime rigoroso de produção. A
fiscalização era estreita e a Coroa reservava-se o direito, como tributo, à quinta parte de todo o ouro
extraído. As principais jazidas encontravam-se em Ouro Preto, Minas Gerais.
A estrutura social vivida no Brasil Colônia tinha no topo da pirâmide os senhores da terra, autori-
dades civis, militares e eclesiásticas, todas elas provenientes da classe dominante da metrópole.
A população que administrava a vida na colônia vinha logo abaixo. Eram funcionários, sacerdotes,
administradores dos engenhos, comerciantes e pequenos proprietários de terra. Em seguida, apresen-
tava-se em grande escala a população trabalhadora livre, com remuneração muito baixa e sem poder
de compra. E, na base da pirâmide, encontravam-se os escravos, grande força de mão-de-obra mesmo
com péssimas condições de trabalho.
criação das sociedades anônimas por ações, o mercado acionário e o conseqüente financiamento das
indústrias.
Em 1733, John Kay inventou a lançadeira volante, que permitia um tecelão trabalhar duas vezes
mais depressa. A indústria de hulha desenvolve-se junto com a metalurgia e a bomba a vapor é inserida
na Europa em 1710. A agricultura e a pecuária também sofrem grandes transformações pela substi
tuição de pousios2 pela cultura de forragens, permitindo alimentar o gado durante o inverno.
Gradativamente, o capital comercial foi perdendo importância em relação ao capital industrial,
devido à ampliação da produtividade advinda das novas invenções e do crescente ambiente concor-
rencial.
Pode-se argumentar que no início do século XVIII, o mercantilismo estava perdendo espaço para
o capitalismo nascente, reduzindo o poder do rei absolutista e ampliando a participação do mercado
na economia.
Texto complementar
Mercantilismo
(BRASIL, 2008)
A doutrina e a política mercantilista situam-se numa fase histórica precisa: a do capitalismo
mercantil, etapa intermediária entre o esfacelamento da estrutura feudal, de um lado, e o surgimen-
to do capitalismo industrial, de outro. [...]
Numa perspectiva global, a desintegração do regime feudal de produção derivou dos abalos
sofridos pelo sistema, em decorrência do ressurgimento do comércio a longa distância no conti-
nente europeu. Efetivamente, a ampliação do raio geográfico das atividades mercantis provocou
transformações relevantes na estrutura feudal.
A abertura do Mediterrâneo à presença ocidental, possibilitando o comércio com o Oriente, e
o conseqüente aumento do volume das trocas entre regiões européias, até então comercialmente
isoladas, geraram um universo econômico complexo, diante do qual o feudalismo reagiu de modos
diversos. [...]
As monarquias absolutistas foram instrumento político empregado na superação das crises
determinadas pela desintegração do feudalismo. Efetivamente, a unificação territorial e a centrali-
zação política dos Estados nacionais europeus, rompendo o isolacionismo dos feudos, possibilita-
ram o disciplinamento das tensões resultantes da expansão do setor mercantil. A primeira função
da monarquia absolutista foi a manutenção da ordem social interna dos Estados nacionais, median-
te a sujeição de todas as forças sociais – do plebeu ao nobre – ao poder real.
2 As terras em pousio são submetidas a um período de descanso após a colheita agrícola. Esse pousio pode ser de um a dois anos, em geral,
dependendo do desgaste da terra.
Atividades
1. Descreva a importância da atividade mercantil entre a transição do feudalismo para o capitalismo.
2. Destaque e explique os dois principais fatores históricos que contribuíram para o desenvolvi-
mento do mercantilismo.
3. O metalismo argumenta que a quantidade de ouro e prata no território de uma nação determina
sua riqueza. Nesse caso, um país com uma forte atividade comercial iria acumular mais metais
preciosos, gerando com isso, mais riqueza para a sociedade. Era fundamental, assim, que o
governante possuísse o máximo desse metal precioso em seu território. A formação do estado-
nação na figura do rei absolutista tinha como objetivos: ampliar rotas comerciais; obter novos
mercados consumidores; expandir as colônias; assegurar a segurança no comércio internacional;
manter o monopólio comercial e controlar rigorosamente as importações. O nacionalismo
mercantil levou, inevitavelmente, ao militarismo. Com isso, a acumulação de ouro e prata –
metalismo – era financiada diretamente pela nação.
4. O sistema mercantil possibilitou o crescimento do rei, com base na atividade comercial. Com isso,
o mercantilismo do século XVI ao início do século XVIII foi marcado por um forte controle central,
nas principais regiões da Europa Ocidental. O governo concedia privilégios de monopólios a
empresas envolvidas no comércio exterior e restringia a livre entrada no comércio interno para
limitar a concorrência. Com isso, o sistema econômico privilegiava um grupo restrito da base social.
Nas cidades mercantis, os grandes mercadores não só eram influentes no governo, com eram o
próprio governo. A população em geral trabalhava para o Estado ou para os grandes comerciantes
com um salário baixo e com péssimas condições. Como conseqüência, observou-se uma atividade
econômica altamente concentradora de riqueza: lucros elevados e salários baixíssimos.