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Fundamentos de economia

Autor

Lucas Lautert Dezordi

2008
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© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos
direitos autorais.

D532 Dezordi, Lucas Lautert. / Fundamentos de Economia. /


Lucas Lautert Dezordi. — Curitiba : IESDE Brasil S.A.,
2008.
164 p.

ISBN: 978-85-7638-875-3

1. Economia. 2. Revolução industrial. 3. Industrialização – Brasil.


4. Reforma. I. Título.

CDD 330

Todos os direitos reservados.


IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel
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Sumário
A escola mercantilista | 7
Introdução | 7
Cenário histórico do mercantilismo | 8
Os principais dogmas | 10
O colonialismo no Brasil | 11
O quadro social: do mercantilismo ao capitalismo nascente | 12

A Primeira Revolução Industrial e o pensamento de Adam Smith | 17


Introdução | 17
A grande potência mundial | 18
O sistema capitalista | 19
Os impactos sociais | 21
Conclusão | 22

A Segunda Revolução Industrial e a Escola Clássica | 27


Introdução | 27
A expansão da Revolução Industrial no mundo | 27
Escola Clássica | 30
Conclusão | 32

Do Imperialismo à Primeira Guerra Mundial | 37


Introdução | 37
O Imperialismo (1870-1914) | 38
A economia brasileira no século XIX | 41
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) | 43
Conclusão | 46

A Grande Depressão e o pensamento keynesiano | 51


Introdução | 51
A economia na década de 1920 | 51
Grande Depressão da década de 1930 | 53
A economia keynesiana | 58
Conclusão | 59

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O processo de industrialização da economia brasileira entre 1930 a 1945 | 65
Introdução | 65
O Brasil no período da Grande Depressão | 66
A industrialização nacional na década de 1940 | 70
Conclusão | 72

A Segunda Guerra Mundial e suas conseqüências | 77


Introdução | 77
A economia mundial antes e durante a Segunda Guerra | 77
A economia após a Segunda Guerra: um mundo polarizado | 82
Conclusão | 85

A Guerra Fria e os choques do petróleo | 89


Introdução | 89
A Guerra Fria no período de 1950 a 1980 | 89
Choque do petróleo | 93
Conclusão | 96

A economia brasileira nas décadas de 1950 e 1960 | 101


Introdução | 101
O Plano de Metas (PM) e o caminho para a industrialização | 101
O Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg) | 103
Pensamento econômico brasileiro | 106
Conclusão | 107

O milagre econômico brasileiro e a crise dos anos 1980 | 111


O milagre econômico e os choques do petróleo | 111
A crise dos anos 1980 | 115
Conclusão | 117

O Plano Real e a estabilidade da economia brasileira | 123


Introdução | 123
A implementação do Plano Real | 123
Âncora cambial | 125
Conclusão | 128

O desempenho recente da economia brasileira e seus principais desafios | 133


Introdução | 133
O regime de metas de inflação | 133
Principais desafios da economia | 138
Conclusão | 139

Gabarito | 145

Referências | 159

Anotações | 161
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Apresentação
Este livro tem como propósito fundamental destacar o desenvolvimento das
Ciências Econômicas e do capitalismo. Descreve as duas revoluções industriais
e como o imperialismo levou as superpotências à Primeira Guerra Mundial.
Apresenta o maior desafio do sistema liberal com uma visão consistente da
Grande Depressão e, em seguida, a Segunda Guerra Mundial. A partir desse
ponto, o rumo central do livro passa a ser direcionado à industrialização da
economia brasileira e suas fases estruturais.

Analisa com detalhes o período da Guerra Fria e a divisão política e econômica


do mundo nessa conturbada fase. Descreve as dificuldades enfrentadas pelas
economias capitalistas com os choques do petróleo, vivendo uma inflação
combinada com recessão econômica. O livro também descreve a melhor
fase da economia brasileira: o milagre econômico, com taxas de crescimento
espetaculares. Em seguida, é apresentada a crise dos anos 1980, com o problema
da hiperinflação e os insucessos planos de estabilização da economia.

Por fim, busca-se analisar o Plano Real e seu sucesso em combater a inflação.
E, com isso, destacam-se as duas fases do plano. Inicialmente a âncora cambial
e as crises internacionais. Posteriormente, o regime de metas de inflação,
seu sucesso operacional no controle inflacionário e uma apresentação dos
principais desafios da economia brasileira.

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A escola mercantilista
Lucas Lautert Dezordi*

Introdução
O pensamento mercantil desenvolveu-se entre a Idade Média e o período do liberalismo econômi-
co. Nesse sentido, o mercantilismo pode ser datado, aproximadamente, entre os anos de 1500 a 1776,
variando em diferentes países e regiões.
Este texto abordará quatro tópicos importantes dessa escola de pensamento. Inicialmente, com o
objetivo de contextualizar a leitura, apresenta-se o cenário histórico vivido por esse sistema. Em seguida,
os principais dogmas são destacados, focando no pensamento dominante e explicando a visão geral do
mercantilismo. Na seqüência, discorre-se sobre o colonialismo no Brasil, desde o descobrimento até o
ciclo do ouro. E, por último, são descritos o quadro social vivido no mercantilismo e o início do sistema
capitalista.
É importante destacar que o mercantilismo em algumas regiões, principalmente na Europa Oci-
dental, pode ser interpretado como uma prática econômica de transição entre um feudalismo avançado
nas atividades comerciais, mas com uma base forte na agricultura, para um sistema capitalista voltado
para o crescimento da indústria e do livre funcionamento dos mercados. Com isso, o mercantilismo pode
ser considerado um período de transição do capital comercial para o capital industrial. É comum clas-
sificá-lo como um sistema pré-capitalista ou simplesmente capitalismo mercantil, no sentido de que o
crescimento da prática comercial possibilitou o financiamento das atividades industriais e financeiras.
As principais potências nesse período foram Portugal, Espanha, Inglaterra e França, que domina-
vam as principais rotas de comércio e as técnicas marítimas. Holanda e as regiões da Itália e Alemanha
também tiveram forte expansão do comércio. Esses estados-nações se beneficiaram do sistema mercan-

* Mestre e Doutorando em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bacharel em Ciências Econômicas pela
UFPR. Professor Adjunto de Economia do Centro Universitário Franciscano do Paraná – UNIFAE.

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8 | Fundamentos de Economia

til e ampliaram suas riquezas ao longo desse período. As guerras entre as metrópoles eram freqüentes
e tinham como objetivo, em geral, ampliar ou proteger importantes rotas comerciais, sendo que a acu-
mulação de metais e territórios era fundamental.
Contudo, alguns países, que atualmente dominam o cenário econômico, não se beneficiaram
totalmente das práticas mercantis. Por exemplo, os Estados Unidos, devido à sua dependência política
com a Inglaterra, eram divididos em duas grandes partes:
::: um norte com uma agricultura diversificada e produção manufatureira, representada por uma
colônia de povoamento; e
::: o sul agrário, monocultor, escravista e exportador de matérias-primas, claramente uma colônia
de exploração.
Como conseqüência, a industrialização norte-americana ocorreu efetivamente sob uma guerra
civil, conhecida como a Guerra da Secessão (1861-1865). No caso do Japão, com seu isolamento desde
o século XVII e um sistema econômico próprio baseado numa espécie de campesinato1 e na existência
de oficinas e manufaturas estatais, realiza a partir de 1868 um processo intensivo de industrialização
conhecido como a Revolução Meiji, modificando significativamente a estrutura produtiva dessa ilha
asiática. No caso do Brasil, colônia de Portugal, foi extremamente explorado pela Coroa portuguesa,
através do corte predatório do pau-brasil, do ciclo do açúcar e do ouro.

Cenário histórico do mercantilismo


A expansão crescente do comércio nas comunidades feudais, advinda do excedente agrícola,
possibilitou o desenvolvimento das cidades e a consolidação da classe social burguesa. Esta, enraizada
no comércio, ampliou suas atividades mercantis de acordo com as necessidades cada vez mais com-
plexas nas cidades.
O fortalecimento da relação entre o rei e a burguesia em detrimento do enfraquecimento do
poder do senhor feudal foi fundamental para a expansão do comércio com segurança entre os conti-
nentes, através das Grandes Navegações.
No final do século XV são realizados grandes e expressivos progressos na arte de navegação de
longa distância, com a invenção do telescópio e as descobertas astronômicas. Rotas comerciais, até en-
tão não exploradas, ganham novas perspectivas e desafios. No lado espanhol, a possibilidade de chegar
às Índias, pela confirmação da tese de que a Terra não era plana, mas sim circular. E, do lado português,
a visão de contornar o continente africano para, finalmente, estabelecer novos caminhos comerciais
com o Oriente.

1 Campesinato consiste em um grupo organizado de camponeses voltados para a atividade agrícola.

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A escola mercantilista | 9

Marilu Souza
Principais rotas comerciais do mercantilismo.

Em 1487, Bartolomeu Dias contorna, finalmente, o Cabo da Boa Esperança abrindo caminho para
as Índias. A partir desse período, dois fatos históricos foram de extrema relevância para o surgimento e
desenvolvimento do pensamento mercantil, conforme a visão destacada inicialmente.
::: O primeiro acontecimento: Cristóvão Colombo descobre a América em 1492, aumentando
consideravelmente o fluxo de metais preciosos (o ouro e, principalmente, a prata para a Eu-
ropa). Denis (1987, p. 90) destaca que “a Espanha conquista rapidamente o México e o Peru: os
tesouros artísticos e as minas fornecem grandes quantidades de ouro e prata, que asseguram
a supremacia espanhola na Europa durante um século.”
::: O segundo fato relevante: Vasco da Gama atinge a Índia em 1498, contornando a África e
abrindo uma nova rota comercial. Estima-se que só nessa viagem a embarcação portuguesa
tenha lucrado mais de 6 000% com os produtos vendidos na Europa.
A combinação desses dois eventos históricos, a ampliação dos metais preciosos e a expansão de
mercadorias possibilitaram um período único na história da humanidade, isto é, a integração comercial
entre a América – Europa – Ásia.
O comércio mundial introduziu mercadorias inteiramente novas na Europa: o chá, trazido pelos
holandeses em 1606; o café, o cacau, o tabaco, incorporados pela Espanha em 1558. Em seguida, a co-
mercialização do tomate, do milho, da batata e da baunilha foi amplamente intensificada.
O comércio das outras mercadorias expande-se sem precedentes: o açúcar, os melaços, o rum são
comercializados em larga escala com as Índias Ocidentais, tais como os escravos negros, cujo comércio
a partir de 1510 se desenvolve rapidamente.

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10 | Fundamentos de Economia

Os principais dogmas
As doutrinas do sistema mercantil não se baseavam na necessidade de se explicar teoricamente
o funcionamento da economia. Esta ciência só se desenvolve efetivamente no século XVIII, concomi-
tantemente com a Revolução Inglesa e com o pensamento de Adam Smith. Com isso, os principais
pensamentos mercantis são apresentados na forma de dogmas pertencentes à escola mercantilista.
Podem-se descrever quatro grandes princípios básicos (metalismo, nacionalismo, colonialismo e popu-
lação numerosa) e analisar suas inter-relações.

Metalismo ou bulionismo
O metalismo argumenta que a quantidade de ouro e prata no território de uma nação determina
sua riqueza. Nesse caso, um país com uma forte atividade comercial iria acumular mais metais precio-
sos, gerando, com isso, mais riqueza para a sociedade. O ouro e a prata, em algumas regiões, eram con-
siderados a única forma de poder e riqueza.
Galbraith (1989, p. 33) descreve um pensamento de Cristóvão Colombo: “O ouro é uma coisa
maravilhosa! Quem o possui, é senhor de tudo o que desejar. Com o ouro, é até possível abrir às almas
o paraíso”.
Assim, era fundamental que o governante possuísse o máximo desse metal precioso em seu ter-
ritório. Nesse sentido, as exportações de um país eram mais incentivadas que as importações. Era práti-
ca comum a proibição de importações de alguns produtos não-essenciais. O metalismo estava focado
em uma visão primitiva baseada na idéia de que um ganhador necessariamente gera um perdedor, isto
é, o lucro de um país é a desgraça do outro.

Nacionalismo
A formação do estado-nação na figura do rei absolutista tinha como objetivos ampliar as rotas
comerciais, obter novos mercados consumidores, expandir as colônias, assegurar a segurança no co-
mércio internacional, manter o monopólio comercial, e controlar rigorosamente as importações. O na-
cionalismo mercantil levou, inevitavelmente, ao militarismo. Galbraith (1989, p. 31) argumenta que o
grande cientista social alemão, Max Weber (1864-1920), estimou que cerca de 70% das receitas públicas
da Espanha e cerca de dois terços das receitas dos outros países europeus eram empregados em guer-
ras para manter os monopólios comerciais que geravam lucros fenomenais para as nações.
A guerra era, realmente, um estado comum. De 1494 a 1559, ocorreram conflitos na Europa em
praticamente todos esses anos. A Inglaterra, durante o período de 1656 a 1815, conviveu com 84 anos
de guerras.

Colonialismo
Com o objetivo de expandir o comércio, criando uma subordinação político-econômica, as gran-
des nações mercantis buscavam ampliar constantemente suas colônias. A relação entre as metrópoles

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A escola mercantilista | 11

e as colônias era bem simples. Estas deviam abastecer a metrópole com matéria-prima e metais precio-
sos. Além disso, as colônias eram fontes de mão-de-obra escrava e sua sociedade mercantil um grande
mercado consumidor. Com isso, as colônias só podiam comprar produtos de suas metrópoles. Brue
descreve bem essa subordinação:
Os atos de navegação britânicos de 1651 e 1660 são bons exemplos dessa política. Os bens importados para a Grã-
Bretanha e para as colônias tinham de ser transportados em navios ingleses ou coloniais [...]. Certos produtos das
colônias tinham de ser vendidos somente para a Inglaterra e outros tinham de chegar à Inglaterra antes de serem en-
viados para países estrangeiros. As importações estrangeiras para as colônias eram restritas ou proibidas. A fabricação
colonial era restrita ou ilegal, em alguns casos, de modo que os territórios dependentes permanecessem fornecedores
de matérias-primas de baixo custo e importadores de bens manufaturados. (BRUE, 2005, p. 15)

O Brasil, como colônia de exploração da Coroa portuguesa, viveu intensamente esse processo,
inicialmente com o ciclo do açúcar e do tabaco e, posteriormente, com a atividade de mineração.

População numerosa
Uma população numerosa e focada para o trabalho era imprescindível para a formação de exér-
citos numerosos a serviço das nações e também na expansão da oferta de trabalho com o objetivo
de redução dos salários. Esse era um ponto importante, pois com salários muito baixos, o custo de
produção era reduzido, possibilitando um preço competitivo para as exportações.
Brue (2005) ressalta que durante o reinado de Henrique VIII na Inglaterra (1509-1547), foi decre-
tado que os “vagabundos” deveriam ter suas orelhas decepadas, e a morte era a pena para o terceiro
delito da vagabundagem. Conseqüentemente, durante o período mercantil, nenhuma teoria sobre o
salário e o trabalho foi desenvolvida.

O colonialismo no Brasil
O descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 1500, ocorre em um contexto vivido
pelas grandes navegações e pela expansão das rotas comerciais da Coroa portuguesa no mundo. Cabe
destacar que, no início do século XVI, a preocupação principal de Portugal era expandir o comércio com
a Índia e não colonizar as terras brasileiras. Portanto, os primeiros anos da ocupação portuguesa foram
preponderantemente focados na exploração da madeira conhecida como pau-brasil – que influenciou
na origem do nome do nosso país.
O historiador econômico Prado Jr. (1976) comenta que portugueses e franceses comercializaram
ativamente, durante a primeira metade do século XVI, a madeira encontrada na costa brasileira. A ex-
ploração foi predatória, argumenta o historiador, devido à importância econômica da madeira como
matéria-prima da indústria têxtil, pois dela era extraído um corante muito útil na tinturaria. Além da
utilização da mão-de-obra indígena no corte e transporte dessa grande árvore (um metro de diâmetro
e 10 a 15m de altura) os portugueses não se preocuparam em criar bases fixas de povoamento no ter-
ritório brasileiro. A comercialização do pau-brasil era monopólio de Portugal, que cobrava o direito de
exploração. A primeira concessão referente ao pau-brasil data de 1501, autorizando Fernando de No-
ronha a comercializá-la exclusivamente até 1504.

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12 | Fundamentos de Economia

A partir de 1530, a Coroa portuguesa, por meio de uma divisão política da costa brasileira em capi-
tanias hereditárias, organiza alguns núcleos de produção de cana-de-açúcar. Inicialmente, a mão-de-obra
utilizada nas fazendas era a indígena, criando assim uma estrutura agrícola escravista e de monocultura.
Os engenhos, fazendas especializadas na manipulação da cana e no preparo do açúcar, desen-
volveram-se rapidamente, agora com a mão-de-obra africana, com o objetivo de vender esse valorizado
produto para a metrópole portuguesa. Além do açúcar, o tabaco também foi amplamente produzido no
Brasil seguindo as doutrinas mercantilistas impostas por Portugal.
Entretanto a descoberta de grandes jazidas de ouro, no início do século XVIII, impulsionou a ativi-
dade de mineração no Brasil. A Coroa portuguesa despende uma atenção quase que exclusiva para a
exploração dos metais preciosos, gerando uma grande decadência nas atividades agrícolas, inclusive
da cana.
A exploração do ouro, apesar de ser livre, era submetida a um regime rigoroso de produção. A
fiscalização era estreita e a Coroa reservava-se o direito, como tributo, à quinta parte de todo o ouro
extraído. As principais jazidas encontravam-se em Ouro Preto, Minas Gerais.
A estrutura social vivida no Brasil Colônia tinha no topo da pirâmide os senhores da terra, autori-
dades civis, militares e eclesiásticas, todas elas provenientes da classe dominante da metrópole.
A população que administrava a vida na colônia vinha logo abaixo. Eram funcionários, sacerdotes,
administradores dos engenhos, comerciantes e pequenos proprietários de terra. Em seguida, apresen-
tava-se em grande escala a população trabalhadora livre, com remuneração muito baixa e sem poder
de compra. E, na base da pirâmide, encontravam-se os escravos, grande força de mão-de-obra mesmo
com péssimas condições de trabalho.

O quadro social: do mercantilismo ao capitalismo nascente


O sistema mercantil possibilitou o crescimento do rei, com base na atividade comercial. O tráfego
e o comércio de mercadorias eram monopolizados pelo Estado, beneficiando a corte e os comerciantes
ligados ao rei.
Com isso, o mercantilismo do século XVI ao início do século XVIII foi marcado por um forte con-
trole central, nas principais regiões da Europa Ocidental. O governo concedia privilégios de monopó-
lios a empresas envolvidas no comércio exterior e restringia a livre entrada no comércio interno para
limitar a concorrência. Com isso, o sistema econômico privilegiava um grupo restrito da base social. Nas
cidades mercantis, os grandes mercadores não só eram influentes no governo, como eram o próprio go­
verno. A população em geral trabalhava para o Estado ou para os grandes comerciantes com um salário
baixo e em péssimas condições. Como conseqüência, observou-se uma atividade econômica altamente
concentradora de riqueza: lucros elevados e salários baixíssimos.
Entretanto, podem-se citar algumas exceções. Por exemplo, no século XVII, como descrito por
Denis (1987), um capitalismo particular se desenvolveu na República das Províncias Unidas (atuais País-
es Baixos). Após uma revolta vitoriosa da burguesia local contra o rei da Espanha, algumas cidades ho-
landesas passam a colocar em prática uma igualdade absoluta entre a burguesia local e os mercadores
estrangeiros, ampliando a concorrência entre eles. Na primeira metade do século XVIII, o desenvolvi-
mento rápido das atividades financeiras na Inglaterra e na França estimulou o crescimento bancário, a
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A escola mercantilista | 13

criação das sociedades anônimas por ações, o mercado acionário e o conseqüente financiamento das
indústrias.
Em 1733, John Kay inventou a lançadeira volante, que permitia um tecelão trabalhar duas vezes
mais depressa. A indústria de hulha desenvolve-se junto com a metalurgia e a bomba a vapor é inserida
na Europa em 1710. A agricultura e a pecuária também sofrem grandes transformações pela substi­
tuição de pousios2 pela cultura de forragens, permitindo alimentar o gado durante o inverno.
Gradativamente, o capital comercial foi perdendo importância em relação ao capital industrial,
devido à ampliação da produtividade advinda das novas invenções e do crescente ambiente concor-
rencial.
Pode-se argumentar que no início do século XVIII, o mercantilismo estava perdendo espaço para
o capitalismo nascente, reduzindo o poder do rei absolutista e ampliando a participação do mercado
na economia.

Texto complementar
Mercantilismo
(BRASIL, 2008)
A doutrina e a política mercantilista situam-se numa fase histórica precisa: a do capitalismo
mercantil, etapa intermediária entre o esfacelamento da estrutura feudal, de um lado, e o surgimen-
to do capitalismo industrial, de outro. [...]
Numa perspectiva global, a desintegração do regime feudal de produção derivou dos abalos
sofridos pelo sistema, em decorrência do ressurgimento do comércio a longa distância no conti-
nente europeu. Efetivamente, a ampliação do raio geográfico das atividades mercantis provocou
transformações relevantes na estrutura feudal.
A abertura do Mediterrâneo à presença ocidental, possibilitando o comércio com o Oriente, e
o conseqüente aumento do volume das trocas entre regiões européias, até então comercialmente
isoladas, geraram um universo econômico complexo, diante do qual o feudalismo reagiu de modos
diversos. [...]
As monarquias absolutistas foram instrumento político empregado na superação das crises
determinadas pela desintegração do feudalismo. Efetivamente, a unificação territorial e a centrali-
zação política dos Estados nacionais europeus, rompendo o isolacionismo dos feudos, possibilita-
ram o disciplinamento das tensões resultantes da expansão do setor mercantil. A primeira função
da monarquia absolutista foi a manutenção da ordem social interna dos Estados nacionais, median-
te a sujeição de todas as forças sociais – do plebeu ao nobre – ao poder real.

2 As terras em pousio são submetidas a um período de descanso após a colheita agrícola. Esse pousio pode ser de um a dois anos, em geral,
dependendo do desgaste da terra.

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14 | Fundamentos de Economia

Em breve, o Estado nacional centralizado desempenharia um segundo papel: o de estimular


a expansão das atividades comerciais. No fim da Idade Média, o comércio europeu chegara a um
impasse: a economia do Velho Mundo, além de abalada pelas tensões sociais provenientes da crise
do feudalismo, sofria uma severa depressão monetária. A Europa, possuidora de pequenas reservas
de ouro, contava basicamente com linhas externas de abastecimento do precioso minério. [...]
O mercantilismo inglês era fundamentalmente industrial e agrícola. A política econômica in-
glesa era sempre bem planejada. O governo incentivava a produção manufatureira, protegendo-a
da concorrência estrangeira por meio de uma rígida política alfandegária. Houve a formação de
uma burguesia industrial, que empregava o trabalho assalariado e era dona dos meios de produção
(máquinas, galpões, equipamentos).
O absolutismo atingiu sua maior força na França, onde o Estado intervinha na economia de
forma autoritária. O desenvolvimento da marinha, das companhias de comércio e das manufaturas
mantinha a balança comercial favorável. O mercantilismo francês atingiu seu ápice com o rei Luís
XIV. Era um país essencialmente agrícola, com o preço de seus produtos mantidos baixos para que
os trabalhadores pudessem se alimentar e não reclamar dos baixos salários, o que era favorável para
os manufatureiros. Mesmo com o incentivo e intervenção estatais, a França enfrentava uma forte
concorrência com a Inglaterra e a Holanda.
O exemplar mercantilismo holandês atraiu muitos estrangeiros, que abandonavam seus países
devido às perseguições e com seus capitais favoreceram o crescimento da Holanda, modelo de país
capitalista no começo do século XVII. Este era dominado pelas grandes companhias comerciais, ten-
do o poder central muito fraco, e desenvolvendo as manufaturas e o comércio interno e externo.
Além disso, o intervencionismo estatal não existia nesse país. Nele foram organizadas duas
grandes companhias monopolistas holandesas, com o objetivo de colonizar e explorar as posses-
sões espanholas na Ásia e luso-espanholas na América: a Companhia das Índias Orientais (Ásia) e
a Companhia das Índias Ocidentais (América). Através do desenvolvimento das manufaturas e do
poderio dessas companhias, durante o século XVII, a Holanda conseguiu acumular um grande ca-
pital. [...]
Dessa forma, percebe-se, que Estados absolutistas e capitalistas comerciais são dois pólos in-
teragentes de uma mesma realidade: a superação do modo de produção feudal e o surgimento do
capitalismo moderno. Em resumo, foi o desenvolvimento do Estado nacional absolutista que garan-
tiu a ascensão da burguesia mercantil. [...]
O mercantilismo não foi um sistema econômico e, portanto, não pode ser considerado um
modo de produção, terminologia que se aplica ao feudalismo. O mercantilismo é a lógica econômi-
ca da transição do feudalismo para o capitalismo.

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A escola mercantilista | 15

Atividades
1. Descreva a importância da atividade mercantil entre a transição do feudalismo para o capitalismo.

2. Destaque e explique os dois principais fatores históricos que contribuíram para o desenvolvi-
mento do mercantilismo.

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16 | Fundamentos de Economia

3. Descreva as relações entre o metalismo e o nacionalismo.

4. Descreva a organização social do mercantilismo relacionando com o lucro e os salários.

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Gabarito
A escola mercantilista
1. O mercantilismo possibilitou a ascensão e a consolidação da classe burguesa na Europa Ocidental.
Com isso, a acumulação de riqueza via expansão do comércio e a exploração das colônias
possibilitaram o financiamento das indústrias, inicialmente, na Inglaterra e na França.

2. Primeiro acontecimento, Cristóvão Colombo descobre a América em 1492, aumentando


consideravelmente o fluxo de metais preciosos, ouro e prata, para a Europa. Segundo fato
relevante, Vasco da Gama atinge a Índia em 1498, contornando a África e abrindo uma nova rota
comercial. A combinação desses dois eventos históricos, a ampliação dos metais preciosos e a
expansão de mercadorias possibilitaram um período único na história da humanidade. Isto é, a
integração comercial entre a América–Europa–Ásia.

3. O metalismo argumenta que a quantidade de ouro e prata no território de uma nação determina
sua riqueza. Nesse caso, um país com uma forte atividade comercial iria acumular mais metais
preciosos, gerando com isso, mais riqueza para a sociedade. Era fundamental, assim, que o
governante possuísse o máximo desse metal precioso em seu território. A formação do estado-
nação na figura do rei absolutista tinha como objetivos: ampliar rotas comerciais; obter novos
mercados consumidores; expandir as colônias; assegurar a segurança no comércio internacional;
manter o monopólio comercial e controlar rigorosamente as importações. O nacionalismo
mercantil levou, inevitavelmente, ao militarismo. Com isso, a acumulação de ouro e prata –
metalismo – era financiada diretamente pela nação.

4. O sistema mercantil possibilitou o crescimento do rei, com base na atividade comercial. Com isso,
o mercantilismo do século XVI ao início do século XVIII foi marcado por um forte controle central,
nas principais regiões da Europa Ocidental. O governo concedia privilégios de monopólios a
empresas envolvidas no comércio exterior e restringia a livre entrada no comércio interno para
limitar a concorrência. Com isso, o sistema econômico privilegiava um grupo restrito da base social.
Nas cidades mercantis, os grandes mercadores não só eram influentes no governo, com eram o
próprio governo. A população em geral trabalhava para o Estado ou para os grandes comerciantes
com um salário baixo e com péssimas condições. Como conseqüência, observou-se uma atividade
econômica altamente concentradora de riqueza: lucros elevados e salários baixíssimos.

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