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NÉLSON CUNHA MELLO

Conversando é que a
gente se entende
Dicionário de expressões coloquiais brasileiras

1a reimpressão
Copyright © Nélson Cunha Mello, 2009

Coordenação editorial: Pascoal Soto


Assistência editorial: Max Gimenes
Revisão: Fátima Couto, Beatriz de Freitas Moreira e Margô Negro
Diagramação: Renata Milan
Capa: Sérgio Campante

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Mello, Nélson Cunha


Conversando é que a gente se entende : dicionário de expressões colo-
quiais brasileiras / Nélson Cunha Mello. – São Paulo : Leya, 2009.

Bibliografia.
ISBN 9788580440126

1. Português - Brasil - Expressões coloquiais - Dicionários I. Título.

09-10032 CDD-469.3

Índices para catálogo sistemático:


1. Brasil : Português : Expressões coloquiais : Dicionários 469.3

2009
Todos os direitos desta edição reservados à
TEXTO EDITORES LTDA.
[Uma editora do grupo Leya]
Av. Angélica, 2163 – conj. 175/178
01227-200 – Santa Cecília – São Paulo – SP
www.leya.com
“Sentenças latinas, datas históricas,
versos célebres, brocardos jurídicos,
máximas, é de bom aviso trazê-los
contigo para os discursos de sobremesa,
de felicitação e agradecimento.”

Machado de Assis

“Minha senhora, não me venha de borzeguins


ao leito! Então quer fazer de mim gato-sapato?
Pensa que vou acompanhá-la com botas de sete
léguas, até onde o diabo perdeu as botas?
Isso que você me promete é sapato de defunto.
Mas duvido, sabe? Duvido que me bote no chinelo.
Aliás, devo preveni-la de que hoje amanheci de
chinelo trocado.”

Carlos Drummond de Andrade

“Quem não vê bem uma palavra


não pode ver bem uma alma.”

Fernando Pessoa

“Um povo que não ama


as suas formas de expressão
mais autênticas
jamais será um povo livre.”

Plínio Marcos
Dedico

À memória do meu pai,


professor Neemias Rodrigues de Mello,
saudoso mestre-escola, com quem,
desde cedo, aprendi a gostar de ensinar,
a partir do dia em que me obrigou a dar
a primeira aula, aos treze anos de idade.
A ele, o meu eterno agradecimento
por ter-me convencido a abrir mão
de preciosos momentos adolescentes,
por tão nobre causa.

A todos quantos se entregam,


abnegadamente, à nobre missão
de ensinar para a vida
e de educar pelo exemplo.

Aos professores,
equipe técnico-pedagógica,
funcionários e alunos
do Colégio Cunha Mello.

Aos meus alunos e ex-alunos.

Aos amigos da
Companhia de Teatro Contemporâneo.
Agradeço

A Ângela,
amiga, parceira e companheira
de todas as horas, há longa jornada,
além de colega de profissão e de trabalho.

A Fabianni e Clarissa,
grandes amigas,
além de boas filhas.

A Dudu e Júlia,
que sempre recarregam
minhas baterias.

Aos amigos,
que colaboraram com
sugestões, apoio e incentivo.
Sumário

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

Dois dedinhos de prosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

Esclarecimentos necessários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

Noções básicas sobre língua e linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

A linguagem figurada nas expressões coloquiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

A abreviação de palavras na linguagem coloquial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

Os neologismos na linguagem coloquial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

Os bordões na linguagem do dia a dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

As corruptelas na linguagem do dia a dia . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

A origem das expressões coloquiais brasileiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

As expressões coloquiais e a língua-padrão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

Expressões coloquiais brasileiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 509
Apresentação

O bate-boca já rola há uma pá de tempo. E, de repente, o tempo fecha.


Os pivetes, um de topete, e o outro, um mulatinho meio folgado, parece que vão mes-
mo se embolar, rolar pelo chão, abraçados que nem filhotes de gambá. E é isso que a galerinha,
futuros geraldinos e arquibaldos, quer ver: porrada! porrada!
O de topete tem uma vara na mão. De pé de amora. Mas, peraí, em vez de baixar logo
o pau, descer o cipó no neguinho folgado, o de topete pede pra um cara segurar a “arma”. O
bundão entra na pilha, doido pra ver o circo pegar fogo. Mas, quando pega a ponta da vara,
que o louro puxa pra trás, sai com a mão toda breada de bosta de vaca. Pra delírio da mole-
cada, que explode num coro de gargalhadas. Inclusive dos falsos brigões, arengados de chinfra,
Nélson, o de topete, e Belafonte, o outro, que saboreiam o sucesso do esquete que tinham
bolado e acabado de representar.
Semanas ou meses depois, “tá lá o corpo estendido no chão” – como cantariam o Aldir
e o João, décadas depois. “Quatro velas acesas”, feito no samba do Zé Kéti, e a fisionomia do
presunto coberta por uma folha dupla da Luta Democrática, o jornal que escorria sangue.
O presunto é o Belafonte, tremendo fio desencapado. E ao lado, o Nélson, óculos escu-
ros, consternado de araque, na maior cara de pau, dá as explicações:
– Levou pau em matemática. Aí, comprou uma Grapette, misturou com formicida
e... babau!
E é nessa que o presunto se levanta, num pulo, quase uma pirueta, cantando “tutti
-frutti-óu-rúti”. Ah! Pra quê?! O respeitável público de estudantes, professorinhas, boiadeiros,
marchantes, magarefes, barnabés, altos funcionários e outros vagabundos, toma um susto só.
Do tamanho de um bonde 98, Madureira–Irajá. Ou de um trem da linha 42, dos que vinham
da Central, até ali, o Matadouro de Santa Cruz.
Essas molecagens pesadas, às vezes de extremo mau gosto, eram boladas e executadas
pelo Nélson e pelo Belafonte, dois moleques espirituosos, mas do cu riscado, os dois ali na fai-
xa dos 15, 16 anos de idade. Eram os anos 1950 e bico. Os dois, unha e carne, faziam o antigo
curso Científico no Barão do Rio Branco, colégio estadual que até hoje ocupa um pedaço de
um tasquinho das terras da antiga Fazenda Imperial de Santa Cruz. E que ainda lá está, num
prédio bem em frente à sede do outrora Matadouro de Santa Cruz, onde funcionava uma
outra escola, só de brotinhos. E que brotinhos os da Princesa Isabel!
Enquanto isso, lá no Sul, Brizola já tinha encaçapado duas empresas multinacionais. Em
São Paulo, que ainda era longe paca, Guarnieri metia lá o seu Eles não usam black-tie. Da Bahia
para o mundo, Jorge Amado começava a ser famoso por causa da Gabriela. Na televisão, Juca
Chaves tirava um sarro, numa modinha, com o fato de o Brasil ter comprado da Inglaterra um
Apresentação 14

porta-aviões todo xumbrega. E, aqui na terra, enquanto dom Hélder Câmara ainda era meio
reaça, Vinicius de Moraes, de repente, não mais que de repente, fazia um tremendo sucesso.
Nélson e o Belafonte, que também já gostavam de livro e de palco, estavam por dentro
dessas marolas. Mas eram suburbanos, clínica geral. E a alma encantadora das ruas, vibrando
com nossa primeira Copa do Mundo, misturando e mandando, falou mais alto: Drummond
e Nélson Gonçalves; Manuel Bandeira com Waldyr Calmon; Madureira chorou e Only you;
Miltinho, Bienvenido Granda e Ciro Monteiro; Dolores Duran e Maysa na Portela; Little
Richard no Salgueiro... Foi nessa que os dois tomaram, mesmo, o gosto de ouvir, falar e es-
crever legal. E dona Norma Culta viu que era bom.
Era um tempo em que a escola pública ainda valia a pena. E como valia! O ensino da
era getuliana, bom paca, em horário integral, com seus currículos tanto humanistas quanto
técnicos, já começava a ir pro espaço. Como o Velhinho, agora só um retrato na parede. Mas
ainda restavam “bolsões de excelência”, como o Barão do Rio Branco, com suas modernas ins-
talações, seu amplo e bem cuidado ginásio esportivo, seu laboratório de fazer gosto e aquela
biblioteca... federal.
Nesse tempo, moleque pobre, mas esperto, como o Nélson, o Belafonte, o Hélton, o
Nílson, se estivesse a fim, saía do curso Científico ou do Clássico direto pra faculdade. Com
os pés nas costas!
Distante uns 70 quilômetros da Central do Brasil, Santa Cruz, pelo menos até os
anos 1960, tinha peculiaridades bem marcantes. Mais ainda que o meu Irajá. E até falava um
pouquinho diferente (“o livro de Nélson” e não “o livro do Nélson”) e com um léxico bem
próprio. Quer ver só uma coisa? O leitor, por acaso, sabe o que significam o “marchante” e
o “magarefe” de que a gente falou lá atrás? E a “vala do sangue”? E o “Bodegão”? E o “ma-
caquinho”? Hein?
Por essa época, o bairro tinha como suas únicas ligações com a “cidade” o já falado
42 e o Trem da Base Aérea, no qual, além dos briosos soldados da Aeronáutica, só entrava
professorinha.
Aliás, por falar em base, foi lá, em Santa Cruz, que nasceu o “naquela base”. Que era
um dito tão onipresente quanto o “é ruim, hein?” de hoje, servindo pra tudo, do subúrbio até
a Zona Sul.
Em 1973, Nélson reunia os irmãos e, coroando de êxito o trabalho e a dedicação do seu
patriarca (eminente educador, que dedicou toda a sua vida à nobre causa da educação, sempre
com o lema “O Ensino Como Deve Ser”), a família fundava o Colégio Cunha Mello, hoje um
dos melhores do Rio de Janeiro. Mas, até aí, muita água já tinha rolado debaixo da ponte.
Terminado o curso Científico, Nélson foi à luta. E eu, que fui seu colega no colégio,
também. Cada um foi pro seu lado. Mas, passado algum tempo, nossos caminhos começaram
a se cruzar, bilaquianamente: eu, na “flor amorosa”; ele, na “inculta e bela”.
Da minha parte, fui buscar meu canudo na Faculdade de Direito. Com direito a curso
preparatório e tudo. Curso, aliás, o mesmo que, na década de 1970, frequentaria também
dona Sônia, aquela professorinha de francês que viria a ser a rainha do meu segundo e defi-
nitivo reinado. E que, preparando-se para encarar a Faculdade de Letras, teve um professor
de português muito engraçado, gozador, cheio de manhas e estratégias, como todo bom pro-
fessor de cursinho: “Se, quando venho, venho ‘da’, quando vou, craseio o ‘a’” – ela nunca mais
esqueceu.
Nélson Cunha Mello era o nome desse professor. Brincalhão, mas extremamente es-
tudioso e competente. Ator também, entre uma aula e outra. Da mesma forma que eu, que,
depois de muitas escolhas e escolas, largara havia muito tempo a faina judiciária para me
dedicar à música e aos escritos.
15 Apresentação

Quando soube do Nélson como ex-professor de minha mulher, fiquei mais feliz que
pinto no lixo. E aí o destino, as artes, a literatura, os meios de comunicação, e, principalmente
as afinidades e “hifenidades”, se incumbiram de nos juntar, mesmo, de novo.
Destarte, eis-nos aqui, genuflexos, ante Vossa Presença, excelentíssimo leitor. Cidadãos
perfeitos e acabados, dignos e reconhecidos nos caminhos que escolhemos e nas famílias que
constituímos. Sessentões ainda meio moleques (no bom sentido, é claro), botando moral em
casa, como todo coroa que aprontou, aprontou e depois virou patriarca, já curtindo nossos
netinhos, para os quais mandamos aqueles velhos conselhos, usando velhos ditados, aforis-
mos, anexins, provérbios, expressões coloquiais e o escambau a quatro, que aprendemos no
longo trajeto percorrido:
– Cuidado! Devagar também é pressa! Afobado come cru! Quem brinca com fogo
amanhece queimado! Quem tudo quer tudo perde! Gato com fome come sabão, pensando
que é queijo prato! Focinho de porco não é tomada! Nem todo pau que boia é jangada...
Lá de longe, das brumas de 1959, o de topete e o mulatinho Belafonte olham pros dois
velhotes sem entender nada.

NEI LOPES*
Seropédica, nos antigos domínios da Fazenda Imperial de
Santa Cruz, maio de 2008

* Como escritor, Nei Lopes é autor de vinte e quatro livros, entre ensaios, dicionários, contos e
a Enciclopédia brasileira da diáspora africana, devendo estrear no romance ainda em 2009; como
compositor de música popular, é autor consagrado, com dezenas de sucessos, em parcerias e inter-
pretações de grandes nomes do cenário artístico do país, já tendo sido agraciado com o Prêmio Tim
de Música; como cantor, tem sete CDs gravados, interpretando as próprias obras; como intelectual,
foi agraciado com o Golfinho de Ouro, do Estado do Rio de Janeiro, e com a comenda da Ordem
do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura, além de ter sido relacionado, em 2006, pela revista O
Globo, como um dos “100 brasileiros geniais”. (N.E.)
Prefácio

Conversando com o leitor deste livro

A vida livre das palavras se acha mais bem refletida nas chamadas construções fraseo-
lógicas de que este livro é um rico repertório, ao lado de outras que fogem ao gênero.
Essas construções nascem das múltiplas atividades culturais de que os falantes parti-
cipam. As metáforas, as alusões históricas e mitológicas, o eufemismo e o disfemismo, a visão
crítica do falante em relação às pessoas e à sociedade, tudo isso e mais alguma coisa se revela
na fraseologia, de tal modo que só com seu pleno conhecimento é que se entra no coração da
comunicação, e que se passa a entender e compreender uma língua.
Daí o interesse particular de que se reveste a fraseologia, não só para o falante nativo,
como para o estrangeiro que deseja penetrar naquilo que para ele pertence ao espaço mais
difícil e complexo da conversação diária na língua do outro.
Se “abraçar o mundo com as pernas”, para traduzir uma ação impossível, é um con-
junto verbal facilmente compreensível, que pensará o outro diante de “abraço de tamanduá”
ou “abraço de urso”? “Abrir o livro” e “abrir o verbo” por que dizem ou “abrem” coisas tão
diferentes? As expressões “com o pé direito” ou “esquerdo” estão ligadas a agouros de fonte
cultural tão antiga, mas ainda hoje não de todo esquecida. Quem advertirá no fato de que
nosso trivial “cair das nuvens” é empréstimo de metáfora francesa que “caiu no goto”, nas
boas graças das pessoas?
É assim que essas construções fraseológicas vivem a vida rica e palpitante da linguagem.
E é este manancial da fraseologia corrente no Brasil que o oportuno livro do professor
Nélson Cunha Mello põe ao alcance do leitor estudioso.

EVANILDO BECHARA*

* Membro da Academia Brasileira de Letras, o filólogo e lexicógrafo Evanildo Bechara é professor


emérito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal Fluminen-
se (UFF), além de Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra. É autor de várias das princi-
pais gramáticas da língua portuguesa, entre as quais se destacam a Moderna gramática portuguesa,
com quase quarenta edições, e Lições de português pela análise sintática, com aproximadamente
vinte edições. (N. E.)
Dois dedinhos de prosa

Este dicionário nasceu do meu fascínio pela palavra. A palavra escrita ou falada. Em
prosa ou em verso. Em linguagem culta ou coloquial. Em sentido literal ou figurado. A pa-
lavra, com toda a sua beleza e versatilidade. Com todo o encantamento e a sedução do seu
mágico universo de significados.
Desde cedo, recebi, na linguagem que me foi transmitida em casa, imagens provoca-
doras desse interesse, fosse nos ditos populares, provérbios, máximas, aforismos, ou nas frases
feitas e nas de efeito com que meus pais – professores, nordestinos – enriqueciam o dia a dia
doméstico com invejável criatividade.
Daí por diante, observar, valorizar, curtir e degustar as palavras tornou-se obsessão.
Não apenas na leitura de autores clássicos ou contemporâneos, mas em qualquer mani-
festação da linguagem verbal (com palavras), sobretudo na linguagem do povo, que, com
extrema sabedoria, vai passando, de geração para geração, as suas “pérolas”, com acentuada
riqueza de expressividade. E, aos poucos, fui aprendendo que, além de forma, som e significado,
as palavras também têm gosto, cheiro, cor, textura e sentimento. Descobri, enfim, que as pala-
vras falam, respiram. Que têm alma. Vida e alma. Que, como diz Drummond, são “a senha da
vida”, “a senha do mundo”.
Sem “dar bola” para o “casa de ferreiro, espeto de pau”, resolvi “levar fé” no “filho de
peixe, peixinho é”. Ainda jovem, tornei-me professor de língua portuguesa, enquanto atuava
no teatro amador. Mais tarde, abracei o teatro profissional e a publicidade, conciliando-os
com o magistério. Hoje, no magistério e no teatro, venho viajando deliciosamente por dife-
rentes tipos de linguagem, tendo sempre a palavra como amiga, companheira, parceira, cúm-
plice e ferramenta de trabalho.
Assim, ocorreu-me, há algum tempo, reunir em um livro formas de expressão do falar
coloquial, a princípio através de exemplos extraídos da sabedoria popular, a partir de um
grande número, àquela altura já memorizados, de tão íntimos.
“Fui à luta”. Dei início, então, a um trabalho de pesquisa tão sério e árduo quanto pra-
zeroso, durante o qual resolvi ampliar a ideia, incluindo expressões coloquiais, todas quantas
encontrasse com valor conotativo digno de registro. Passei a ficar “antenado” a toda sorte de
manifestação oral ou escrita, onde quer que se revelasse.
De tudo, passei a “fazer laboratório”: o “papo” com os amigos, pesquisas em biblio-
tecas, conversas de rua, textos de teatro e de publicidade, roteiros de cinema, programas de te-
levisão e de rádio, letras de música popular, salas de aula, livros, dicionários, jornais diários,
revistas e, como “ninguém é de ferro”, as “abobrinhas” dos “ botequins da vida”.
Dois dedinhos de prosa 20

E “deu no que deu”. Dez anos depois, “vem à luz” este Conversando é que a gente se
entende: dicionário de expressões coloquiais brasileiras, com mais de 10 mil casos, entre brasilei-
rismos, ditados populares, gírias, bordões, máximas e outras formas do falar informal. Tudo,
enfim, que compõe o universo das expressões idiomáticas que tanto enriquecem a prodigiosa
e expressiva linguagem coloquial dos brasileiros em seu cotidiano.

O autor

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