SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO AO CURSO. 4
1.1 Importância do estudo dos solos 4
1.2 A mecânica dos solos, a geotecnia e disciplinas relacionadas. 4
1.3 Aplicações de campo da mecânica dos solos. 5
1.4 Desenvolvimento do curso. 5
5. LIMITES DE CONSISTÊNCIA. 32
5.1 Noções básicas 32
5.2 Estados de consistência. 32
5.3 Determinação dos limites de consistência. 33
5.4 Índices de consistência 36
5.5 Alguns conceitos importantes. 36
7. ÍNDICES FÍSICOS. 56
7.1 Introdução. 56
7.2 Relações entre volumes. 56
7.3 Relação entre pesos e volumes - pesos específicos ou entre massas e volumes - massa
específica. 56
7.4 Diagrama de fases. 58
7.5 Utilização do diagrama de fases para a determinação das relações entre os diversos
índices físicos. 59
7.6 Densidade relativa 59
2
9. COMPACTAÇÃO. 84
9.1 Introdução 84
9.2 O emprego da compactação 84
9.3 Diferenças entre compactação e adensamento. 84
9.4 Ensaio de compactação 85
9.5 Curva de compactação. 85
9.6 Energia de compactação. 87
9.7 Influência da compactação na estrutura dos solos. 88
9.8 Influência do tipo de solo na curva de compactação 89
9.9 Escolha do valor de umidade para compactação em campo 89
9.10 Equipamentos de campo 90
9.11 Controle da compactação. 93
9.12 Índice de suporte Califórnia (CBR). 96
1. INTRODUÇÃO AO CURSO
Por ser o solo um material natural, cujo processo de formação não depende de forma
direta da intervenção humana, o seu estudo e o entendimento de seu comportamento depende
de uma série de conceitos desenvolvidos em ramos afins de conhecimento. A mecânica dos
solos é o estudo do comportamento de engenharia do solo quando este é usado ou como
material de construção ou como material de fundação. Ela é uma disciplina relativamente
jovem da engenharia civil, somente sistematizada e aceita como ciência em 1925, após trabalho
publicado por Terzaghi (Terzaghi, 1925), que é conhecido, com todos os méritos, como o pai
da mecânica dos solos. Um entendimento dos princípios da mecânica dos sólidos é essencial
para o estudo da mecânica dos solos. O conhecimento e aplicação de princípios de outras
matérias básicas como física e química são também úteis no entendimento desta disciplina. Por
ser um material de origem natural, o processo de formação do solo, o qual é estudado pela
geologia, irá influenciar em muito no seu comportamento. O solo, como veremos adiante, é um
material trifásico, composto basicamente de ar, água e partículas sólidas. A parte fluida do solo
(ar e água) pode se apresentar em repouso ou pode se movimentar pelos seus vazios mediante
a existência de determinadas forças. O movimento da fase fluida do solo é estudado com base
em conceitos desenvolvidos pela mecânica dos fluidos. Pode-se citar ainda algumas disciplinas,
como a física dos solos, ministrada em cursos de agronomia, como de grande importância no
estudo de uma mecânica dos solos mais avançada, denominada de mecânica dos solos não
saturados. Além disto, o estudo e o desenvolvimento da mecânica dos solos são fortemente
amparados em bases experimentais, a partir de ensaios de campo e laboratório.
A aplicação dos princípios da mecânica dos solos para o projeto e construção de
fundações é denominada de "engenharia de fundações". A engenharia geotécnica (ou
geotecnia) pode ser considerada como a junção da mecânica dos solos, da engenharia de
fundações, da mecânica das rochas, da geologia de engenharia e mais recentemente da
geotecnia ambiental, que trata de problemas como transporte de contaminantes pelo solo,
5
Este curso de mecânica dos solos pode ter sua parte teórica dividida em duas partes:
uma parte envolvendo os tópicos origem e formação dos solos, textura e estrutura dos solos,
análise granulométrica, estudo das fases ar-água-partículas sólidas, limites de consistência,
índices físicos e classificação dos solos, onde uma primeira aproximação é feita com o tema
solos, focando-se nas suas propriedades índices, e uma segunda parte, envolvendo os tópicos
tensões geostáticas e induzidas, compactação, permeabilidade dos solos, compressibilidade dos
solos, resistência ao cisalhamento, estabilidade de taludes e empuxos de terra e estruturas de
contenção, onde um tratamento mais fundamentado na ótica da engenharia civil é dado aos
solos e onde o tripé resistência, compressibilidade e permeabilidade dos solos é analisado de
forma mais minuciosa.
6
Quando mencionamos a palavra solo já nos vem a mente uma ideia intuitiva do que se
trata. No linguajar popular a palavra solo está intimamente relacionada com a palavra terra, a
qual poderia ser definida como material solto, natural da crosta terrestre onde habitamos,
utilizado como material de construção e de fundação das obras do homem. Uma definição
precisa e teoricamente sustentada do significado da palavra solo é contudo bastante difícil, de
modo que o termo solo adquire diferentes conotações a depender do ramo do conhecimento
humano que o emprega. Para a agronomia, o termo solo significa o material relativamente fofo
da crosta terrestre, consistindo de rochas decompostas e matéria orgânica, o qual é capaz de
sustentar a vida. Desta forma, os horizontes de solo para agricultura possuem em geral
pequena espessura. Para a geologia, o termo solo significa o material inorgânico não
consolidado proveniente da decomposição das rochas, o qual não foi transportado do seu local
de formação. Na engenharia, é conveniente definir como rocha aquilo que é impossível escavar
manualmente, que necessite de explosivo para seu desmonte. Chamamos de solo, em
engenharia, a rocha já decomposta ao ponto granular e passível de ser escavada de forma
manual ou mecânica, apenas com o auxílio de ferramentas como pás picaretas ou escavadeiras.
A crosta terrestre é composta de vários elementos químicos que se interligam e formam
minerais. Esses minerais poderão estar agregados como rochas ou solo. Todo solo tem origem
na desintegração e decomposição das rochas pela ação de agentes intempéricos ou antrópicos
(ação do homem). As partículas resultantes deste processo de intemperismo irão depender
fundamentalmente da composição da rocha matriz e do clima da região. Por ser o produto da
decomposição das rochas, o solo invariavelmente apresenta um maior índice de vazios do que
a rocha de origem (ou rocha mãe), vazios estes ocupados por ar, água ou outro fluido de
natureza diversa. Devido ao seu pequeno índice de vazios e as fortes ligações existentes entre
os minerais, as rochas são coesas, enquanto que os solos são granulares. Os grãos de solo
podem ainda estar impregnados de matéria orgânica. Desta forma, podemos dizer que para a
engenharia, solo é um material granular composto de rocha decomposta, água, ar (ou outro
fluido) e eventualmente matéria orgânica, que pode ser escavado sem o auxílio de explosivos.
2.2. Intemperismo
dilatação térmica diferente, o que faz a rocha deformar de maneira desigual em seu interior,
provocando o aparecimento de tensões internas que tendem a fraturá-la. Mesmo rochas com
formadas por um só mineral não têm uma arrumação que permita uma expansão uniforme, pois
grãos compridos deformam mais na direção de sua maior dimensão, tendendo a gerar tensões
internas e auxiliar no seu processo de desagregação.
Alívio de pressões - Alívio de pressões irá ocorrer em um maciço rochoso sempre que
da retirada de material sobre ou ao lado do maciço, provocando a sua expansão, o que por sua
vez, irá contribuir no fraturamento, estricções e formação de juntas na rocha. Estes processos,
isolados ou combinados (caso mais comum) "fraturam" as rochas continuamente, o que
permite a entrada de agentes químicos e biológicos, cujos efeitos aumentam a fraturação e
tende a reduzir a rocha a blocos cada vez menores.
Repuxo coloidal - O repuxo coloidal é caracterizado pela retração/expansão da argila
devido à sua variação de umidade, o que em contato com a rocha pode gerar tensões capazes
de fraturá-la.
Ciclos gelo/degelo- As fraturas existentes nas rochas podem se encontrar parcialmente
ou totalmente preenchidas com água. Esta água, em função das condições locais, pode vir a
congelar, expandindo-se e exercendo esforços no sentido de abrir ainda mais as fraturas
preexistentes na rocha, auxiliando no processo de intemperismo (a água aumenta em cerca de
8% o seu volume devido à nova arrumação das suas moléculas durante a cristalização). Vale
ressaltar também que a água transporta substâncias ativas quimicamente, incluindo sais que ao
reagirem com ácidos provocam cristalização com aumento de volume.
Como vimos, todo solo provem de uma rocha preexistente, mas dada a riqueza da sua
formação não é de se esperar do solo uma estagnação a partir de um certo ponto. Como em
tudo na natureza, o solo continua suas transformações, podendo inclusive voltar a ser rocha.
De forma simplificada, definiremos a seguir um esquema de transformações que vai do magma
ao solo sedimentar e volta ao magma (fig. 2.1).
No interior do Globo Terrestre, graças às elevadas pressões e temperaturas, os
elementos químicos que compõe as rochas se encontram em estado líquido, formando o
magma (fig. 2.1 -6).
A camada sólida da Terra pode romper-se em pontos localizados e deixar escapar o
magma. Desta forma, haverá um resfriamento brusco do magma (fig. 2.1 linha 6-1), que se
transformará em rochas ígneas, nas quais não haverá tempo suficiente para o desenvolvimento
de estruturas cristalinas mais estáveis. O processo indicado pela linha 6-1 é denominado de
extrusão vulcânica ou derrame e é responsável pela formação da rocha ígnea basalto. A
depender do tempo de resfriamento, o basalto pode mesmo vir a apresentar uma estrutura
vítrea. Quando o magma não chega à superfície terrestre, mas ascende a pontos mais próximos
à superfície, com menor temperatura e pressão, ocorre um resfriamento mais lento (linha 6-7),
o que permite a formação de estruturas cristalinas mais estáveis, e, portanto, de rochas mais
resistentes, denominadas de intrusivas ou plutônicas (diabásio, gabro e granito).
Denominam-se normalmente de batólitos os grandes blocos de rocha intrusiva formados em
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subsuperfície. Por ocasião da ocorrência de processos erosivos, esses blocos podem vir a
aflorar, resultando em belas paisagens.
Uma vez exposta, (fig. 2.1-1), a rocha sofre a ação das intempéries e forma os solos
residuais (fig. 2.1-2), os quais podem ser transportados e depositados sobre outro solo de
qualquer espécie ou sobre uma rocha (linha 2-3), vindo a se tornar um solo sedimentar. A
contínua deposição de solos faz aumentar a pressão e a temperatura nas camadas mais
profundas, que terminam por ligarem seus grãos e formar as rochas sedimentares (linha 3-4),
este processo chama-se litificação ou diagênese.
As rochas sedimentares podem, da mesma maneira que as rochas ígneas, aflorarem à
superfície e reiniciar o processo de formação de solo linha 4-1), ou de forma inversa, as
deposições podem continuar e consequentemente prosseguir o aumento de pressão e
temperatura, o que irá levar a rocha sedimentar a mudar suas características texturais e
mineralógicas (reações químicas no estado sólido), a achatar os seus cristais de forma
orientada transversalmente à pressão e a aumentar a ligação entre os cristais (linha 4-5). O
material que surge daí tem características tão diversas da rocha original, que muda a sua
designação e passa a se chamar rocha metamórfica.
Naturalmente, a rocha metamórfica está sujeita a ser exposta (linha 5-1), decomposta e
formar solo. Se persistir o aumento de pressão e temperatura graças à deposição de novas
camadas de solo, a rocha fundirá e voltará à forma de magma (linha 5-6). Obviamente, todos
esses processos. com exceção do vulcanismo e de alguns transportes mais rápidos, ocorrem
numa escala de tempo geológica, isto é, de milhares ou milhões de anos.
As rochas metamórficas podem se originar também da transformação de rochas ígneas
por níveis de pressão e temperatura elevados (linha 7-5). O Gnaisse, por exemplo, é muito
encontrado no Rio de Janeiro (RJ). Este tipo de rocha que constitui o Corcovado e o Pão de
Açúcar. A origem dessa rocha se dá da transformação granito. A fig. 2.2 ilustra o formato
achatado dos grãos de Gnaisse do Arpoador, no Rio de Janeiro
(a) (b)
Figura 2.3 – (a) Colunas hexagonais de basalto expostas na ilha de Staffa, na
Irlanda. (b) Caverna com teto de calcário e colunas de basalto, no mesmo local.
(Despertai, 08/11/2005)
Há diferentes maneiras de se classificar os solos, como pela origem, pela sua evolução,
pela presença ou não de matéria orgânica, pela estrutura, pelo preenchimento dos vazios, etc.
Neste item apresentar-se-á uma classificação genética para os solos, ou seja, iremos
classificá-los conforme o seu processo geológico de formação. Na classificação genética, os
solos são divididos em dois grandes grupos, sedimentares e residuais, a depender da existência
ou não de um agente de transporte na sua formação, respectivamente. Os principais agentes de
transporte atuando na formação dos solos sedimentares são a água, o vento e a gravidade.
Estes agentes de transporte influenciam fortemente nas propriedades dos solos sedimentares, a
depender do seu grau de seletividade.
São solos que permanecem no local de decomposição da rocha. Para que eles ocorram
é necessário que a velocidade de decomposição da rocha seja maior do que a velocidade de
remoção do solo por agentes externos. A velocidade de decomposição depende de vários
fatores, entre os quais a temperatura, o regime de chuvas e a vegetação. As condições
existentes nas regiões tropicais são favoráveis à degradação mais rápida da rocha, razão pela
qual há uma predominância de solos residuais nestas regiões. Como a ação das intempéries se
dá, em geral, de cima para baixo, as camadas superiores são, via de regra, mais trabalhadas
(sofreram por mais tempo os processos de intemperismo) que as inferiores. Este fato nos
permite visualizar todo o processo evolutivo do solo, de modo que passamos de uma condição
de rocha sã, para profundidades maiores, até uma condição de solo residual maduro, em
superfície. A fig. 2.4 ilustra um perfil típico de solo residual.
Conforme se pode observar da fig. 2.4, a rocha sã passa paulatinamente à rocha
fraturada, depois ao saprolito, ao solo residual jovem e ao solo residual maduro. Em se
tratando de solos residuais, é de grande interesse a identificação da rocha sã, pois ela
condiciona, entre outras coisas, a própria composição química do solo. A rocha alterada
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caracteriza-se por uma matriz de rocha possuindo intrusões de solo, locais onde o
intemperismo atuou de forma mais eficiente. O solo saprolítico ainda guarda características da
rocha mãe e tem basicamente os mesmos minerais, porém a sua resistência já se encontra
bastante reduzida. Este pode ser caracterizado como uma matriz de solo envolvendo grandes
pedaços de rocha altamente alterada. Visualmente pode confundir-se com uma rocha alterada,
mas apresenta relativamente a rocha pequena resistência ao cisalhamento. Nos horizontes
saprolíticos é comum a ocorrência de grandes blocos de rocha denominados de matacões,
responsáveis por muitos problemas quando do projeto de fundações.
Solo maduro
Solo jovem
Deformabilidade
Resistência
Saprolito
Rocha alterada
Rocha sã
O solo residual jovem apresenta boa quantidade de material que pode ser classificado
como pedregulho (# > 4,8 mm). Geralmente são bastante irregulares quanto a resistência
mecânica, coloração, permeabilidade e compressibilidade, já que o processo de transformação
não se dá em igual intensidade em todos os pontos, comumente existindo fragmentos da rocha
no seu interior. Pode-se dizer também que nos horizontes de solo jovem e saprolítico as
sondagens a percussão a serem realizadas devem ser revestidas de muito cuidado, haja vista
que a presença de material pedregulhoso pode vir a danificar os amostradores utilizados, vindo
a mascarar os resultados obtidos.
Os solos maduros, mais próximos à superfície, são mais homogêneos e não apresentam
semelhanças com a rocha original. De uma forma geral, há um aumento da resistência ao
cisalhamento, da textura (granulometria) e da heterogeneidade do solo com a profundidade,
razão esta pela qual a realização de ensaios de laboratório em amostras de solo residual jovem
ou do horizonte saprolítico é bastante trabalhosa, requerendo o uso de amostras de grandes
dimensões.
No Recôncavo Baiano é comum a ocorrência de solos residuais oriundos de rochas
sedimentares. Um perfil típico de solo do recôncavo Baiano é apresentado na fig. 2.5, sendo
constituído de camadas sucessivas de argila e areia, coerente com o material que foi
depositado no local (rocha mãe sedimentar). Merece uma atenção especial o solo formado pela
decomposição da rocha sedimentar denominada de folhelho, muito comum no Recôncavo
Baiano. Esta rocha, quando decomposta, produz uma argila conhecida popularmente como
"massapê", que tem em sua composição química em abundância minerais do grupo da
13
(a) (b)
Figura 2.6- Características do Folhelho/Massapê, encontrado em Pojuca-BA. (a) -
Folhelho alterado e (b) - Retração típica do solo ao sofrer secagem.
Os solos sedimentares ou transportados são aqueles que foram levados ao seu local
atual por algum agente de transporte e lá depositados. As características dos solos
sedimentares são função do agente de transporte. Cada agente de transporte seleciona os grãos
que transporta com maior ou menor facilidade, além disto, durante o transporte, as partículas
de solo se desgastam e/ou quebram. Resulta daí um tipo diferente de solo para cada tipo de
transporte. Esta influência é tão marcante que a denominação dos solos sedimentares é feita
em função do agente de transporte predominante. Pode-se listar os agentes de transporte, por
ordem decrescente de seletividade, da seguinte forma:
Os agentes naturais citados acima não devem ser encarados apenas como agentes de
transporte, pois eles têm uma participação ativa no intemperismo e portanto na formação do
próprio solo, o que ocorre naturalmente antes do seu transporte.
O transporte pelo vento dá origem aos depósitos eólicos de solo. Em virtude do atrito
constante entre as partículas, os grãos de solo transportados pelo vento geralmente possuem
forma arredondada. A capacidade do vento de transportar e erodir é muito maior do que possa
parecer à primeira vista. Vários são os exemplos de construções e até cidades soterradas
parcial ou totalmente pelo vento, como foram os casos de Itaúnas - ES e Tutóia - MA; os
grãos mais finos do deserto do Saara atingem em grande escala a Inglaterra, percorrendo uma
distância de mais de 3000km!. Como a capacidade de transporte do vento depende de sua
velocidade, o solo é geralmente depositado em zonas de calmaria.
O transporte eólico é o mais seletivo tipo de transporte das partículas do solo. Se por
um lado grãos maiores e mais pesados não podem ser transportados, os solos finos, como as
argilas, têm seus grãos unidos pela coesão, formando torrões dificilmente levados pelo vento.
Esse efeito também ocorre em areias e siltes saturados (falsa coesão) o que faz da linha de
lençol freático (definida por um valor de pressão da água intersticial igual à atmosférica) um
limite para a atuação dos ventos.
Pode-se dizer portanto que a ação do transporte do vento se restringe ao caso das
areias finas ou silte. Por conta destas características, os solos eólicos possuem grãos de
aproximadamente mesmo diâmetro, apresentando uma curva granulométrica denominada de
uniforme. São exemplos de solos eólicos:
- As dunas
Vento
Mar
- Os solos Loéssicos
Formado por deposições sobre vegetais que ao se decomporem deixam seu molde no
maciço, o Loess é um solo bastante problemático para a engenharia, pois a despeito de uma
capacidade de formar paredões de altura fora do comum e inicialmente suportar grandes
esforços mecânicos, podem se romper completa e abruptamente devido ao umedecimento.
O Loess, comum na Europa oriental, geralmente contem grandes quantidades de cal,
responsável por sua grande resistência inicial. Quando umedecido, contudo, o cimento calcário
existente no solo pode ser dissolvido e solo entra em colapso.
São solos resultantes do transporte pela água e sua textura depende da velocidade da
água no momento da deposição, sendo frequente a ocorrência de camadas de granulometrias
distintas, devidas às diversas épocas de deposição. O transporte pela água é bastante
semelhante ao transporte realizado pelo vento, porém algumas características importantes os
distinguem:
a) Viscosidade - por ser mais viscosa a água tem uma capacidade de transporte maior,
transportando grãos de tamanhos diversos.
b) Velocidade e Direção - ao contrário do vento que em um minuto pode soprar com
forças e direções bastante diferenciadas, a água têm seu roteiro mais estável; suas
variações de velocidade tem em geral um ciclo anual e as mudanças de direção
estão condicionadas ao próprio processo de desmonte e desgaste do relevo.
c) Dimensão das Partículas - os solos aluvionares fluviais são, via de regra, mais
grossos que os eólicos, pois as partículas mais finas mantêm-se sempre em
suspensão e só se sedimentam quando existe um processo químico que as flocule
(isto é o que acontece no mar ou em alguns lagos).
d) Eliminação da Coesão - vimos que o vento não pode transportar os solos argilosos
devido a coesão entre os seus grãos. A presença de água em abundância diminui
este efeito; com isso somam-se as argilas ao universo de partículas transportadas
pela água.
- Solos pluviais
A água das chuvas pode ser retida em vegetais ou construções, podendo se evaporar a
partir daí. Ela pode se infiltrar no solo ou escoar sobre este e, neste caso, a vegetação rasteira
funciona como elemento de fixação da parte superficial do solo ou como um tapete
impermeabilizador (para as gramíneas), sendo um importante elemento de proteção contra a
erosão.
A água que se infiltra pode carrear grãos finos através dos poros existentes nos solos
grossos, mas este transporte é raro e pouco volumoso, portanto de pouca relevância em
relação à erosão superficial. De muito maior importância é o solo que as águas das chuvas
levam ao escoar de pontos mais elevados no relevo aos vales. Os vales contém rios ou riachos
que serão alimentados não só da água que escoa das escarpas, como também de matéria sólida.
- Solos fluviais
Os rios durante sua existência têm várias fases. Em áreas de formação geológicas mais
recentes, menos desgastadas, existem irregularidades topográficas muito grandes e por isso os
rios têm uma inclinação maior e consequentemente uma maior velocidade. Existem vários
fatores determinantes da capacidade de erosão e transporte dos rios, sendo a velocidade a mais
16
importante. Assim, os rios mais jovens transportam mais matéria sólida do que os rios mais
velhos.
Sabe-se que os rios não possuem a mesma idade em toda a sua extensão; quanto mais
distantes da nascente, menor a inclinação e a velocidade. As partículas de determinado
tamanho passam a ter peso suficiente para se decantar e permanecer naquele ponto, outras
menores só serão depositadas com velocidade também menor. O transporte fluvial pode ser
descrito sumariamente da seguinte forma:
a) Os rios desgastam o relevo em sua parte mais elevada e levam os solos para sua
parte mais baixa, existindo com o tempo uma tendência a planificação do leito. Rios mais
velhos têm portanto menor velocidade e transportam menos sólidos.
b) Cada tamanho de grão será depositado em um determinado ponto do rio,
correspondente a uma determinada velocidade, o que leva os solos fluviais a terem uma certa
uniformidade granulométrica. Solos muito finos, como as argilas, permanecerão em suspensão
até decantar em mares ou lagos com água em repouso.
- Solos marinhos
As ondas atingem as praias com um pequeno ângulo em relação ao continente. Isso faz
com que a areia, além do movimento de vai e vem das ondas, desloquem-se também ao longo
da praia. Obras que impeçam esse fluxo tendem a ser pontos de deposição de areia, o que pode
acarretar sérios problemas. O mar também se constitui no receptáculo final das partículas
argilosas, de tamanho bastante reduzido, que permanecem em suspensão ao longo de todo o
rio, vindo a se depositar somente em águas salinas, após a sua floculação.
- Tálus - Os tálus são solos coluvionares formados pelo deslizamento de solo do topo
das encostas. No sul da Bahia existem solos formados pela deposição de colúvios em áreas
mais baixas, os quais se apresentam geralmente com altos teores de umidade e são propícios à
lavoura cacaueira. Encontram-se solos coluvionares (tálus) também na Cidade Baixa, em
17
Salvador, ao pé da encosta paralela à falha geológica que atravessa a Baia de Todos os Santos.
De extrema beleza são os tálus encontrados na Chapada Diamantina, Bahia. A fig. 2.8 lustra
formações típicas da região. A parte mais inclinada dos morros corresponde à formação
original, enquanto que a parte menos inclinada é composta basicamente de solo coluvionar
(tálus).
.
Figura 2.9 – Figura ilustrativa da geologia da região da falha e da bacia do Recôncavo, Região Metropolitana de Salvador-BA. Modificado
de Penteado (1999), apud página da ANP 2003.
19
Entende-se por textura o tamanho relativo e a distribuição das partículas sólidas que formam
os solos. O estudo da textura dos solos é realizado por intermédio do ensaio de granulometria, do
qual falaremos adiante. Pela sua textura os solos podem ser classificados em dois grandes grupos:
solos grossos (areia, pedregulho, matacão) e solos finos (silte e argila). Esta divisão é fundamental
no entendimento do comportamento dos solos, pois a depender do tamanho predominante das suas
partículas, as forças de campo influenciando em seu comportamento serão gravitacionais (solos
grossos) ou elétricas (solos finos). De uma forma geral, pode-se dizer que quanto maior for a relação
área/volume ou área/massa das partículas sólidas, maior será a predominância das forças elétricas ou
de superfície. Estas relações são inversamente proporcionais ao tamanho das partículas, de modo
que os solos finos apresentam uma predominância das forças de superfície (elétricas) na influência do
seu comportamento. Conforme relatado anteriormente, o tipo de intemperismo influencia na textura
e estrutura do solo. Pode-se dizer que partículas com dimensões até cerca de 0,001mm são obtidas
através do intemperismo físico, já as partículas menores que 0,001mm provém do intemperismo
químico.
- Solos Grossos
Nos solos grossos, por ser predominante a atuação de forças gravitacionais, resultando em
arranjos estruturais bastante simplificados, o comportamento mecânico e hidráulico está
principalmente condicionado a sua compacidade, que é uma medida de quão próximas estão as
partículas sólidas umas das outras, resultando em arranjos com maiores ou menores quantidades de
vazios. Os solos grossos possuem uma maior percentagem de partículas visíveis a olho nu (φ ≥ 0,074
mm) e suas partículas têm formas arredondadas, poliédricas e angulosas.
. Pedregulhos:
São classificados como pedregulho as partículas de solo com dimensões maiores que 2,0mm
(DNER, MIT, ABNT). Os pedregulhos são encontrados em geral nas margens dos rios, em
depressões preenchidas por materiais transportados pelos rios ou até mesmo em uma massa de solo
residual (horizontes correspondentes ao solo residual jovem e ao saprolito).
. Areias:
As areias se distinguem pelo formato dos grãos que pode ser angular, sub angular e
arredondado, sendo este último uma característica das areias transportadas por rios ou pelo vento. A
forma dos grãos das areias está relacionada com a quantidade de transporte sofrido pelos mesmos
até o local de deposição. O transporte das partículas dos solos tende a arredondar as suas arestas, de
modo que quanto maior a distância de transporte, mais esféricas serão as partículas resultantes.
Classificamos como areia as partículas com dimensões entre 2,0mm e 0,074mm (DNER), 2,0mm e
0,05mm (MIT) ou ainda 2,0mm e 0,06mm (ABNT).
O formato dos grãos de areia tem muita importância no seu comportamento mecânico, pois
determina como eles se encaixam e se entrosam, e, em contrapartida, como eles deslizam entre si
quando solicitados por forças externas. Por outro lado, como estas forças se transmitem dentro do
solo pelos pequenos contatos existentes entre as partículas, as de formato mais angulares, por
possuírem em geral uma menor área de contato, são mais suscetíveis a se quebrarem.
21
- Solos Finos
Quando as partículas que constituem o solo possuem dimensões menores que 0,074mm
(DNER), ou 0,06mm (ABNT), o solo é considerado fino e, neste caso, será classificado como argila
ou como silte.
Nos solos formados por partículas muito pequenas, as forças que intervêm no processo de
estruturação do solo são de caráter muito mais complexo e serão estudadas no item composição
mineralógica dos solos. Os solos finos possuem partículas com formas lamelares, fibrilares e
tubulares e é o mineral que determina a forma da partícula. As partículas de argila normalmente
apresentam uma ou duas direções em que o tamanho da partícula é bem superior àquele apresentado
em uma terceira direção. O comportamento dos solos finos é definido pelas forças de superfície
(moleculares, elétricas) e pela presença de água, a qual influi de maneira marcante nos fenômenos de
superfície dos argilo minerais.
. Argilas:
. Siltes:
Apesar de serem classificados como solos finos, o comportamento dos siltes é governado
pelas mesmas forças dos solos grossos (forças gravitacionais), embora sofram também a influência
de forças elétricas. Estes possuem granulação fina, pouca ou nenhuma plasticidade e baixa
resistência quando seco. A fig. 3.1 apresenta a escala granulométrica adotada pela ABNT (NBR
6502):
Areia
Pedra de
Argila Silte Fina Média Grossa Pedregulho mão
mm
0,002 0,06 0,20 0,60 2,0 60,0
Figura 3.1 - Escala granulométrica da ABNT NBR 6502 de 1995
Muitas vezes em campo temos a necessidade de uma identificação prévia do solo, sem que o
uso do aparato de laboratório esteja disponível. Esta classificação primária é extremamente
importante na definição (ou escolha) de ensaios de laboratório mais elaborados e pode ser obtida a
partir de alguns testes feitos rapidamente em uma amostra de solo. No processo de identificação
táctil visual de um solo utilizam-se frequentemente os seguintes procedimentos (vide NBR 7250):
Tato: Esfrega-se uma porção do solo na mão. As areias são ásperas; as argilas parecem com
um pó quando secas e com sabão quando úmidas.
Plasticidade: Moldar bolinhas ou cilindros de solo úmido. As argilas são moldáveis enquanto
as areias e siltes não são moldáveis.
Resistência do solo seco: As argilas são resistentes a pressão dos dedos enquanto os siltes e
areias não são.
22
Dispersão em água: Misturar uma porção de solo seco com água em uma proveta,
agitando-a. As areias depositam-se rapidamente, enquanto que as argilas turvam a suspensão e
demoram para sedimentar.
Impregnação: Esfregar uma pequena quantidade de solo úmido na palma de uma das mãos.
Colocar a mão embaixo de uma torneira aberta e observar a facilidade com que a palma da mão fica
limpa. Solos finos se impregnam e não saem da mão com facilidade.
Dilatância: O teste de dilatância permite obter uma informação sobre a velocidade de
movimentação da água dentro do solo. Para a realização do teste deve-se preparar uma amostra de
solo com cerca de 15mm de diâmetro e com teor de umidade que lhe garanta uma consistência mole.
O solo deve ser colocado sobre a palma de uma das mãos e distribuído uniformemente sobre ela, de
modo que não apareça uma lâmina d'água. O teste se inicia com um movimento horizontal da mão,
batendo vigorosamente a sua lateral contra a lateral da outra mão, diversas vezes. Deve-se observar
o aparecimento de uma lâmina d'água na superfície do solo e o tempo para a ocorrência. Em seguida,
a palma da mão deve ser curvada, de forma a exercer uma leve compressão na amostra,
observando-se o que poderá ocorrer à lâmina d' água, se existir, à superfície da amostra. O
aparecimento da lâmina d água durante a fase de vibração, bem como o seu desaparecimento durante
a compressão e o tempo necessário para que isto aconteça deve ser comparado aos dados da tabela
3.1, para a classificação do solo.
Após realizados estes testes, classifica-se o solo de modo apropriado, de acordo com os
resultados obtidos (areia siltosa, argila arenosa, etc.). Os solos orgânicos são identificados em
separado, em função de sua cor e odor característicos.
A distinção entre solos argilosos e siltosos, na prática da engenharia geotécnica, possui certas
dificuldades, já que ambos os solos são finos. Porém, após a identificação tátil visual ter sido
realizada, algumas diferenças básicas entre eles, já citadas nos parágrafos anteriores, podem ser
utilizadas para distingui-los.
Peneiramento: utilizado para a fração grossa do solo (grãos com até 0,074mm de diâmetro
equivalente), realiza-se pela passagem do solo por peneiras padronizadas e pesagem das quantidades
retidas em cada uma delas. Retira-se 70g (solos finos) a 120g (solos grossos) da quantidade que
passa na peneira de #10 e prepara-se o material para a sedimentação.
Sedimentação: os solos muito finos, com granulometria inferior a 0,074mm, são tratados de
forma diferenciada, através do ensaio de sedimentação desenvolvido por Arthur Casagrande. Este
ensaio se baseia na Lei de Stokes, segundo a qual a velocidade de queda, V, de uma partícula
esférica, em um meio viscoso infinito, é proporcional ao quadrado do diâmetro da partícula. Sendo
assim, as menores partículas se sedimentam mais lentamente que as partículas maiores.
O ensaio de sedimentação é realizado medindo-se a densidade de uma suspensão de solo em
água, no decorrer do tempo. A partir da medida da densidade da solução no tempo, calcula-se a
percentagem de partículas que ainda não sedimentaram e a velocidade de queda destas partículas (a
profundidade de medida da densidade é calculada em função da curva de calibração do densímetro).
Com o uso da lei de Stokes, pode-se inferir o diâmetro máximo das partículas ainda em suspensão,
de modo que com estes dados, a curva granulométrica é completada. A eq. 3.1 apresenta a lei de
Stokes.
24
γ S −γ W
V= ⋅ D 2 onde,
18 µ
γ S → peso específico médio das partículas do solo
γ W → peso específico do fluido (3.1)
µ → viscosidade do fluído
D → diâmetro das partículas
Deve-se notar que o diâmetro equivalente calculado empregando-se a eq. 3.1 corresponde a
apenas uma aproximação, à medida em que durante a realização do ensaio de sedimentação, as
seguintes ocorrências tendem a afastá-lo das condições ideais para as quais a lei de Stokes foi
formulada.
As partículas de solo não são esféricas (muito menos as partículas dos argilo minerais que
têm forma placóide).
A coluna líquida possui tamanho definido.
O movimento de uma partícula interfere no movimento de outra.
As paredes do recipiente influenciam no movimento de queda das partículas.
O peso específico das partículas do solo é um valor médio.
O processo de leitura (inserção e retirada do densímetro) influencia no processo de queda das
partículas.
D10 - Diâmetro efetivo - Diâmetro equivalente da partícula para o qual temos 10% das
partículas passando (10% das partículas são mais finas que o diâmetro efetivo).
D30 e D60 - O mesmo que o diâmetro efetivo, para as percentagens de 30 e 60%,
respectivamente.
Coeficiente de uniformidade:
D60
Cu =
D10 (3.2)
De acordo como valor do Cu obtido, a curva granulométrica pode ser classificada conforme
apresentado abaixo:
Cu < 5 → muito uniforme
5 < Cu < 15 → uniformidade média
Cu > 15 → não uniforme
Coeficiente de curvatura:
2
D30
Cc =
D60 x D10 (3.3)
A NBR- 6502 apresenta algumas regras práticas para designar os solos de acordo com a sua
curva granulométrica. A tabela 3.2 ilustra o resultado de ensaios de granulometria realizados em três
solos distintos. As regras apresentadas pela NBR-6502 serão então empregadas para classificá-los,
em caráter ilustrativo.
Tabela 3.2 - Exemplos de resultados de ensaios de granulometria para três solos distintos.
PERCENTAGEM QUE PASSA
# Abertura (mm) Solo 1 Solo 2 Solo 3
3" 76,2 98
1" 25,4 100 82
¾" 19,05 100 95 72
No 4 4,8 98 88 61
No 10 2,0 92 83 45
No 40 0,42 84 62 20
No 200 0,074 75 44 03
Argila ------ 44 21 00
Silte ------ 31 23 03
Areia ------ 17 39 42
Pedregulho ------ 08 17 53
Pedra ------ 00 00 02
Considerar a areia com partículas entre 0,074mm e 2,0mm.
Quando da ocorrência de mais de 10% de areia, silte ou argila adjetiva-se o solo com as frações
obtidas, vindo em primeiro lugar as frações com maiores percentagens.
Em caso de empate, adota-se a seguinte hierarquia: 1°) Argila; 2°) Areia e e 3°) Silte
No caso de percentagens menores do que 10% adjetiva-se o solo do seguinte modo, independente da
fração granulométrica considerada:
1 a 5% → com vestígios de
5 a 10% → com pouco
Para o caso de pedregulho com frações superiores a 10% adjetiva-se o solo do seguinte modo:
10 a 29% → com pedregulho
> 30% → com muito pedregulho
Denomina-se estrutura dos solos a maneira pela qual as partículas minerais de diferentes
tamanhos se arrumam para formá-lo. A estrutura de um solo possui um papel fundamental em seu
comportamento, seja em termos de resistência ao cisalhamento, compressibilidade ou
permeabilidade. Como os solos finos possuem o seu comportamento governado por forças elétricas,
enquanto os solos grossos têm na gravidade o seu principal fator de influência, a estrutura dos solos
finos ocorre em uma diversificação e complexidade muito maior do que a estrutura dos solos
grossos. De fato, sendo a gravidade o fator principal agindo na formação da estrutura dos solos
grossos, a estrutura destes solos difere, de solo para solo, somente no que se refere ao seu grau de
compacidade. No caso dos solos finos, devido a presença das forças de superfície, arranjos
estruturais bem mais elaborados são possíveis. A fig. 3.3 ilustra algumas estruturas típicas de solos
grossos e finos.
Areia compacta
Estrutura dispersa
Areia fofa
+
+
Placas individuais,
Estrutura floculada
Quando duas partículas de argila estão muito próximas, entre elas ocorrem forças de atração
e de repulsão. As forças de repulsão são devidas às cargas líquidas negativas que elas possuem e que
ocorrem desde que as camadas duplas estejam em contato. As forças de atração decorrem de forças
de Van der Waals e de ligações secundárias que atraem materiais adjacentes. Da combinação das
forças de atração e de repulsão entre as partículas resulta a estrutura dos solos, que se refere à
disposição das partículas na massa de solo e as forças entre elas. Lambe (1969) identificou dois tipos
básicos de estrutura do solo, denominando-os de estrutura floculada, quando os contatos se fazem
entre faces e arestas das partículas sólidas, ainda que através da água adsorvida, e de estrutura
dispersa quando as partículas se posicionam paralelamente, face a face.
28
Os solos são formados a partir da desagregação de rochas por ações físicas e químicas do
intemperismo. As propriedades química e mineralógica das partículas dos solos assim formados irão
depender fundamentalmente da composição da rocha matriz e do clima da região. Estas
propriedades, por sua vez, irão influenciar de forma marcante o comportamento mecânico do solo.
Os minerais são partículas sólidas inorgânicas que constituem as rochas e os solos, e que
possuem forma geométrica, composição química e estrutura própria e definidas. Eles podem ser
divididos em dois grandes grupos, a saber:
- Primários ⇒ Aqueles encontrados nos solos e que sobrevivem a transformação da rocha
(advêm portanto do intemperismo físico).
- Secundários ⇒ Os que foram formados durante a transformação da rocha em solo (ação
do intemperismo químico).
3.6.1. Solos Grossos - Areias e Pedregulhos
As partículas dos solos grossos, dentre as quais apresentam-se os pedregulhos, são
constituídas algumas vezes de agregações de minerais distintos, sendo mais comum, entretanto, que
as partículas sejam constituídas de um único mineral. Estes solos são formados, na sua maior parte,
por silicatos (90%) e apresentam também na sua composição óxidos, carbonatos e sulfatos.
Silicatos - feldspato, quartzo, mica, serpentina
Grupos Minerais Óxidos - hematita, magnetita, limonita
Carbonatos - calcita, dolomita
Sulfatos - gesso, anidrita
O quartzo, presente na maioria das rochas, é bastante estável, e em geral resiste bem ao
processo de transformação rocha solo. Sua composição química é simples, SiO 2, as partículas são
equidimensionais, como cubos ou esferas e ele apresenta baixa atividade superficial (devido ao
tamanho de seus grãos). Por conta disto, o quartzo é o componente principal na maioria dos solos
grossos (areias e pedregulhos)
Os solos finos possuem uma estrutura mais complexa e alguns fatores, como forças de
superfície, concentração de íons, ambiente de sedimentação, etc., podem intervir no seu
comportamento. As argilas possuem uma complexa constituição química e mineralógica, sendo
formadas por sílica no estado coloidal (SiO2) e sesquióxidos metálicos (R2O3), onde R = Al; Fe,
etc.
Os feldspatos são os minerais mais atacados pela natureza, dando origem aos argilo minerais,
que constituem a fração mais fina dos solos, geralmente com diâmetro inferior a 2 µm. Não só o
reduzido tamanho, mas, principalmente, a constituição mineralógica faz com que estas partículas
tenham um comportamento extremamente diferenciado em relação ao dos grãos de silte e areia.
O estudo da estrutura dos argilo minerais pode ser facilitado "construindo-se" o argilo
mineral a partir de unidades estruturais básicas. Este enfoque é puramente didático e não representa
necessariamente o método pelo qual o argilo mineral é realmente formado na natureza. Assim, as
estruturas apresentadas neste capítulo são apenas idealizações. Um cristal típico de um argilo mineral
é uma estrutura complexa similar ao arranjo estrutural aqui idealizado, mas contendo usualmente
substituições de íons e outras modificações estruturais que acabam por formar novos tipos de argilo
minerais. As duas unidades estruturais básicas dos argilo minerais são os tetraedros de silício e os
octaedros de alumínio (fig. 3.4). Os tetraedros de silício são formados por quatro átomos de
oxigênio equidistantes de um átomo de silício enquanto que os octaedros de alumínio são formados
29
por um átomo de alumínio no centro, envolvido por seis átomos de oxigênio ou grupos de
hidroxilas, OH-. A depender do modo como estas unidades estruturais estão unidas entre si, podemos
dividir os argilo minerais em três grandes grupos.
Al
Si Si
Al o o
o
Si
Al
Si o
Si Al
Al
Si Si o
Si Si
K Al o
o
Al
Si
Al Si o Al
Si
Si
Al
Al
Si
Si
Si Al Si
Al Si
Como a união entre as camadas adjacentes dos argilo minerais do tipo 1:1 (grupo da
caulinita) é bem mais forte do que aquela encontrada para os outros grupos, é de se esperar que
estes argilo minerais resultem por alcançar tamanhos maiores do que aqueles alcançados pelos argilo
minerais do grupo 2:1, o que ocorre na realidade: Enquanto um mineral típico de caulinita possui
dimensões em torno de 500 (espessura) x 1000 x 1000 (nm), um mineral de montemorilonita possui
dimensões em torno de 3x 500 x 500 (nm).
A presença de um determinado tipo de argilo mineral no solo pode ser identificada
utilizando-se diferentes métodos, dentre eles a análise térmica diferencial, a técnica de difração de
raios X , a microscopia eletrônica de varredura, etc.
minerais é geralmente expressa em unidades como m2/m3 ou m2/g. Quanto maior o tamanho do
mineral menor a superfície específica do mesmo. Deste modo, pode-se esperar que os argilo minerais
do grupo 2:1 possuam maior superfície específica do que os argilo minerais do grupo 1:1. A
montemorilonita, por exemplo, possui uma superfície específica de aproximadamente 800 m2/g,
enquanto que a ilita e a caulinita possuem superfícies específicas de aproximadamente 80 e 10 m 2/g,
respectivamente. A superfície específica é uma importante propriedade dos argilo minerais, na
medida em que quanto maior a superfície específica, maior vai ser o predomínio das forças elétricas
(em detrimento das forças gravitacionais), na influência sobre as propriedades do solo (estrutura,
plasticidade, coesão, etc.)
31
O solo é constituído de uma fase fluida (água e/ ou ar) e se uma fase sólida. A fase fluida
ocupa os vazios deixados pelas partículas sólidas.
4.1. Fase Sólida
Caracterizada pelo seu tamanho, forma, distribuição e composição mineralógica dos grãos,
conforme já apresentado anteriormente.
Fase composta geralmente pelo ar do solo em contato com a atmosfera, podendo também se
apresentar na forma oclusa (bolhas de ar no interior da fase água). A fase gasosa é importante em
problemas de deformação de solos e é bem mais compressível que as fases sólida e líquida.
Preenche os vazios dos solos. Pode estar em equilíbrio hidrostático ou fluir sob a ação da
gravidade ou de outros gradientes de energia.
4.3.2. Água Capilar
É a água que se encontra presa às partículas do solo por meio de forças capilares. Esta se
eleva pelos interstícios capilares formados pelas partículas sólidas, devido a ação das tensões
superficiais nos contatos ar-água-sólidos, oriundas a partir da superfície livre da água.
4.3.3. Água Adsorvida (adesiva)
É uma película de água que adere às partículas dos solos finos devido a ação de forças
elétricas desbalanceadas na superfície dos argilo minerais. Está submetida a grande pressões,
comportando-se como sólido na vizinhança da partícula de solo.
Quando tratamos com solos grossos (areias e pedregulhos com pequena quantidade ou sem a
presença de finos), o efeito da umidade nestes solos é frequentemente negligenciado, na medida em
que a quantidade de água presente nos mesmos tem um efeito secundário em seu comportamento.
Pode se dizer, conforme aliás será visto no capítulo de classificação dos solos, que podemos
classificar os solos grossos utilizando-se somente a sua curva granulométrica, o seu grau de
compacidade e a forma de suas partículas. Por outro lado, o comportamento dos solos finos ou
coesivos irá depender de sua composição mineralógica, da sua umidade, de sua estrutura e do seu
grau de saturação. Em particular, a umidade dos solos finos tem sido considerada como uma
importante indicação do seu comportamento desde o início da mecânica dos solos.
Um solo argiloso pode se apresentar em um estado líquido, plástico, semi-sólido ou sólido, a
depender de sua umidade. A este estado físico do solo dá-se o nome de consistência. Os limites
inferiores e superiores de valor de umidade para cada estado do solo são denominados de limites de
consistência.
No estado plástico, o solo apresenta uma propriedade denominada de plasticidade,
caracterizada pela capacidade do solo se deformar sem apresentar ruptura ou trincas e sem variação
de volume.
A manifestação desta propriedade em um solo dependerá fundamentalmente dos seguintes
fatores:
Umidade: Existe uma faixa de umidade dentro da qual o solo se comporta de maneira
plástica. Valores de umidade inferiores aos valores contidos nesta faixa farão o solo se comportar
como semi-sólido ou sólido, enquanto que para maiores valores de umidade o solo se comportará
preferencialmente como líquido.
Tipo de argilo mineral: O tipo de argilo mineral (sua forma, constituição mineralógica,
tamanho, superfície específica, etc.) influi na capacidade do solo de se comportar de maneira
plástica. Quanto menor o argilo mineral (ou quanto maior sua superfície específica), maior a
plasticidade do solo. É importante salientar que o conhecimento da plasticidade na caracterização
dos solos finos é de fundamental importância.
Estado Sólido - Dizemos que um solo está em um estado de consistência sólido quando o
seu volume "não varia" por variações em sua umidade. Na verdade, mesmo no estado sólido o solo
apresenta variações volumétricas por umedecimento/secagem, mas estas são de pequena monta se
comparadas com o que acontece nos outros estados de consistência do material.
33
Estado Semi - Sólido - O solo apresenta fraturas e se rompe ao ser trabalhado. O limite de
contração, wS, separa os estados de consistência sólido e semissólido.
Estado Plástico - Dizemos que um solo está em um estado plástico quando podemos
moldá-lo sem que o mesmo apresente fissuras ou variações volumétricas. O limite de plasticidade,
wP, separa os estados de consistência semissólido e plástico.
Estado Fluido - Denso (Líquido) - Quando o solo possui propriedades e aparência de uma
suspensão, não apresentando resistência ao cisalhamento. O limite de liquidez, w L, separa os estados
plástico e fluido.
É o valor de umidade para o qual o solo passa do estado plástico para o estado fluido.
90
86
Teor de umidade, w (%)
82
78,7
N w (%)
78 53 70,11
35 75,20
28 75,91
74 22 81,07
18 83,26
12 86,32
70 25 78,70
10 100
É o valor de umidade para o qual o solo passa do estado semissólido para o estado plástico.
limite de plasticidade o valor médio dos teores de umidade determinados. A fig. 5.3 ilustra a
realização do ensaio para determinação do limite de plasticidade (vide NBR 7180).
Rolo de solo
Placa de vidro fosco
É o valor de umidade para o qual o solo passa do estado sólido para o estado semissólido.
V 1 (5.1)
w s = − x100
P s w
Uma vez conhecidos os limites de consistência de um solo, vários índices podem ser
definidos. A seguir, apresentaremos os mais utilizados.
O índice de plasticidade (IP) corresponde a faixa de valores de umidade do solo na qual ele se
comporta de maneira plástica. É a diferença numérica entre o valor do limite de liquidez e o limite de
plasticidade.
IP = wL − wP (5.2)
I P = 0 → NÃO PLÁSTICO
1 < IP < 7 → POUCO PLÁSTICO
7 < I P < 15 → PLASTICIDADE MÉDIA
IP > 15 → MUITO PLÁSTICO
wL − w
IC =
IP (5.3)
umidade da amostra indeformada. A sensibilidade de um solo é calculada por intermédio da eq. 5.4,
apresentada adiante.
RC
St =
R' C (5.4)
Segundo Skempton:
S t < 1 → NÃO SENSÍVEIS
1 < St < 2 → BAIXA SENSIBILIDADE
2 < S t < 4 → MÉDIA SENSIBILIDADE
4 < St < 8 → SENSÍVEIS
St > 8 → EXTRA - SENSÍVEIS
Quanto maior for o St, tem-se uma menor coesão, uma maior compressibilidade e uma menor
permeabilidade do solo.
IP
A=
% < 0.002mm (5.5)
800
700
600
500
400
0
Ilita
0,5 < A < 1,5
Figura 5.4 - Variação do IP em função da fração argila para solos com diferentes argilo
minerais.
39
Por serem constituídos de um material de origem natural, os depósitos de solo nunca são
estritamente homogêneos. Grandes variações nas suas propriedades e em seu comportamento são
comumente observadas. Pode-se dizer contudo, que depósitos de solo que exibem propriedades
básicas similares podem ser agrupados como classes, mediante o uso de critérios ou índices
apropriados. Um sistema de classificação dos solos deve agrupar os solos de acordo com suas
propriedades intrínsecas básicas. Do ponto de vista da engenharia, um sistema de classificação pode
ser baseado no potencial de um determinado solo para uso em bases de pavimentos, fundações, ou
como material de construção, por exemplo. Devido a natureza extremamente variável do solo,
contudo, é inevitável que em qualquer classificação ocorram casos onde é difícil se enquadrar o solo
em uma determinada e única categoria, em outras palavras, sempre vão existir casos em que um
determinado solo poderá ser classificado como pertencente a dois ou mais grupos. Do mesmo modo,
o mesmo solo pode mesmo ser colocado em grupos que pareçam assaz diferentes, em diferentes
sistemas de classificação.
Em vista disto, um sistema de classificação deve ser tomado como um guia preliminar para a
previsão do comportamento de engenharia do solo, a qual não pode ser realizada utilizando-se
somente sistemas de classificação. Testes para avaliação de importantes características do solo
devem sempre ser realizados, levando-se sempre em consideração o uso do solo na obra, já que
diferentes propriedades governam o comportamento do solo a depender de sua finalidade. Assim,
deve-se usar um sistema de classificação do solo, dentre outras coisas, para se obter os dados
necessários ao direcionamento de uma investigação mais minuciosa, quer seja na engenharia,
geoquímica, geologia ou outros ramos da ciência.
Neste capítulo serão apresentados os dois sistemas de classificação dos solos mais difundidos
no meio geotécnico, a saber, o Sistema Unificado de Classificação do Solos, SUCS (ou “Unified Soil
Classification System”, USCS) e o sistema de classificação dos solos proposto pela AASHTO
(“American Association of State Highway and Transportation Officials”). Deve-se salientar, contudo,
que estes dois sistemas de classificação foram desenvolvidos para classificar solos de países de clima
temperado, não apresentando resultados satisfatórios quando utilizados na classificação de solos
tropicais (principalmente aqueles de natureza laterítica), cuja gênese é bastante diferenciada daquela
dos solos para os quais estas classificações foram elaboradas. Por conta disto, e devido a grande
ocorrência de solos lateríticos nas regiões Sul e Sudeste do país, recentemente foi elaborada uma
classificação especialmente destinada a classificação de solos tropicais. Esta classificação, brasileira,
denominada de Classificação MCT, começou a se desenvolver na década de 70, sendo apresentada
oficialmente em 1980 (Nogami & Villibor, 1980). No item 6.3 é feita uma introdução à classificação
MCT.
40
As quatro maiores divisões do Sistema Unificado de Classificação dos Solos são as seguintes:
(1) - Solos grossos (partículas com φ > 0,075mm: pedregulho e areia), (2) - Solos finos (partículas
com φ < 0,075mm: silte e argila), (3) - Solos orgânicos e (4) - Turfa. Os solos orgânicos e as turfas
são geralmente identificados visualmente. Cada grupo é classificado por um símbolo, derivado dos
nomes em inglês correspondentes: Pedregulho (G), do inglês "gravel"; Argila (C), do inglês "Clay";
Areia (S), do inglês "Sand"; Solos orgânicos (O), de "Organic soils" e Turfa (Pt), do inglês "peat". A
única exceção para esta regra advém do grupo do silte, cuja letra representante, M, advém do Sueco
"mjäla".
A) Solos Grossos
Os solos grossos são classificados como pedregulho ou areia. São classificados como
pedregulhos aqueles solos possuindo mais do que 50% de sua fração grossa retida na peneira 4
(4,75mm) e como areias aqueles solos possuindo mais do que 50% de sua fração grossa passando na
peneira 4. Cada grupo por sua vez é dividido em quatro subgrupos a depender de sua curva
granulométrica ou da natureza da fração fina eventualmente existente. São eles:
A.2 - Grupos GP e SP
Formados por solos mal graduados (curvas granulométricas uniformes ou abertas). Como os
subgrupos SW e GW, possuem no máximo 5% de partículas finas, material que passa na peneira 200,
mas suas curvas granulométricas não completam os requisitos de graduação indicados para serem
considerados como bem graduados. Dentro destes grupos estão compreendidos as areias uniformes
das dunas e os solos possuindo duas frações granulométricas predominantes, provenientes da
deposição pela água de rios em períodos alternados de cheia/seca.
A.3 - Grupos GM e SM
São classificados como pertencentes aos subgrupos GM e SM os solos grossos nos quais
existe uma quantidade de finos suficiente para afetar as suas propriedades de engenharia: resistência
ao cisalhamento, deformabilidade e permeabilidade. Convenciona-se a quantidade de finos necessária
para que isto ocorra em 12%, embora sabendo-se que a influência dos finos no comportamento de
um solo depende não somente da sua quantidade mas também da atividade do argilo mineral
preponderante. Para os solos grossos possuindo mais do que 12% de finos, deve-se realizar ensaios
com vistas a determinação de seus limites de consistência w L e wP, conforme procedimento descrito
no capítulo 5. Para que o solo seja classificado como GM ou SM, a sua fração fina deve se situar
abaixo da linha A da carta de plasticidade de Casagrande (vide fig. 6.2).
A.4 - Grupos GC e SC
São classificados como GC e SC os solos grossos que atendem aos critérios especificados no
item A.3, mas cuja fração fina possui representação na carta de plasticidade acima da linha A. Em
outras palavras, são classificados como GC e SC os solos grossos possuindo mais que 12% de finos
com comportamento predominante de argila.
OBS: Os solos grossos possuindo percentagens de finos entre 5 e 12% devem possuir
nomenclaturas duplas, como GW-GM, SP-SC, etc., atribuídas de acordo com o especificado
anteriormente. De uma forma geral, sempre que um material não se encontra claramente dentro de
um grupo, devemos utilizar símbolos duplos, correspondentes a casos de fronteira. Ex: GW-SW
(material bem graduado com menos de 5% de finos e formado com fração de grossos com iguais
proporções de pedregulho e areia) ou GM-GC (solos grossos com mais do que 12% de finos cuja
representação na carta de plasticidade de Casagrande se situa muito próxima da linha A). A fig. 6.1
apresenta um fluxograma exibindo os passos básicos a serem seguidos na classificação de solos
grossos pelo Sistema Unificado.
42
SOLOS GROSSOS
Pedregulho (G). Mais que 50% da Areia (S). Menos que 50% da fração
fração grossa retido na # 4 (4.75mm) grossa retido na # 4 (4.75mm)
Menos que 5% Entre 5 e 12% Mais que Menos que 5% Entre 5 e 12% Mais que 12%
passam na # passam na # 12% passam passam na # passam na # passam na #
200 200 na # 200 200 200 200
GW GP GM GC SW SP SM SC
Nomes Nomes
duplos: duplos:
GW-GM SW-SM
Figura 6.1 - Classificação dos solos grossos pelo SUCS.
43
B) Solos Finos
Os solos finos são classificados como argila e silte. A classificação dos solos finos é realizada
tomando-se como base apenas os limites de plasticidade e liquidez do solo, plotados na forma da
carta de plasticidade de Casagrande. Em outras palavras, o conhecimento da curva granulométrica
de solos possuindo mais do que 50% de material passando na peneira 200 pouco ou muito pouco
acrescenta acerca das expectativas sobre suas propriedades de engenharia.
A Carta de plasticidade dos solos foi desenvolvida por A. Casagrande de modo a agrupar os
solos finos em diversos subgrupos, a depender de suas características de plasticidade. Conforme é
apresentado na fig. 6.2, a carta de plasticidade possui três divisores principais: A linha A (de eq. IP =
0,73(wL – 20)) separa argilas (acima da linha) de siltes (abaixo da linha), a linha B (wL = 50%) separa
solos de baixa plasticidade (à esquerda da linha) dos de alta plasticidade (à direita da linha) e a linha
U (de eq. IP = 0,9(w L – 8) que é o limite superior da classificação. Deste modo, os solos finos, que
são divididos em quatro subgrupos (CL, CH, ML e MH), são classificados de acordo com a sua
posição em relação às linhas A e B, conforme apresentado nos subitens seguintes.
OBS: 1) Solos cuja representação na carta de plasticidade se situe dentro da zona CL-ML devem ter
nomenclatura dupla. 2) Solos cuja representação na carta de plasticidade se situe próximo à linha LL = 50 %
devem ter nomenclatura dupla: (MH-ML ou CH-CL). 3) Solos cuja representação na carta de plasticidade
se situe próximo à linha A devem ter nomenclatura dupla: (MH-CH ou CL-ML). 4) As argilas inorgânicas
de média plasticidade possuem wL entre 30 e 50%.
B.1 - Grupos CL e CH
B.2 - Grupos ML e MH
B.3 - Grupos CL - ML
Os solos classificados como CL-ML são aqueles com representação na carta de plasticidade
acima da linha A e que tenham índice de plasticidade entre 4 e 7%. Esse grupo recebe um nome
duplo porque não apresenta característica específica de uma determinada região.
B.4 - Grupos OL e OH
e) Observações complementares
Apesar dos símbolos utilizados no SUCS serem de grande valia, eles não descrevem
completamente um depósito de solo. Em todos os solos deve-se acrescentar informações como odor,
cor e homogeneidade do material à classificação. Para o caso de solos grossos, informações como a
forma dos grãos, tipo de mineral predominante, graus de intemperismo ou compacidade, presença ou
não de finos são pertinentes. Para o caso dos solos finos, informações como a umidade natural e
consistência (natural e amolgada) devem ser sempre que possível ser fornecidas. A Tabela 6.1
apresenta algumas informações sobre o comportamento esperado para os diferentes grupos da
classificação SUCS.
comumente sofrem elevada mudança de volume entre os estados seco e úmido. Os valores dos
índices do grupo vão de 1 a 16. Esses valores crescentes mostram o efeito combinado do aumento
dos índices de plasticidade e diminuição dos materiais grossos.
O Grupo A-7 engloba os solos argilosos e plásticos, que apresentam alto limite de liquidez e
estão sujeitos a elevada mudança de volume. Os valores dos índices do grupo vão de 1 a 20. O
grupo A-7 é subdividido em A-7-5 (materiais com índice de plasticidade moderado em relação ao
limite de liquidez) e A-7-6 (materiais com elevados índices de plasticidade em relação aos limites de
liquidez, estando sujeitos a elevadas mudanças de volume).
O índice de grupo é utilizado para auxiliar na classificação do solo. Ele é baseado na
performance de diversos solos, especialmente quando utilizados como subleitos. O índice de grupo é
determinado utilizando-se a eq. 6.1, apresentada adiante:
Usar o sistema de classificação da AASHTO não é difícil. Uma vez obtidos os dados
necessários, deve-se seguir os passos indicados na fig. 6.3 (a e b), da esquerda para a direita, e
encontrar o grupo correto por um processo de eliminação. O primeiro grupo à esquerda que atenda
as exigências especificadas é a classificação correta da AASHTO. A classificação completa inclui o
valor do índice de grupo (arredondado para o inteiro mais próximo), apresentado em parênteses, à
direita do símbolo da AASHTO. Ex: A-2-6(3), A-6(12), A-7-5(17), etc.
Devido a sua ligação histórica com a classificação de solos para uso rodoviário, a
classificação da AASHTO é bastante utilizada na seleção de solos para uso como base, sub-bases e
subleitos de pavimentos.
47
SOLOS GROSSOS
35% ou menos passando na # 200
Menos que 15% Menos que 25% Menos que 10% LL ≤ 40% LL ≥ 41% LL ≤ 40% LL ≥ 41%
passa na # 200. passa na # 200. passa na # 200.
Menos que 30% Menos que 50% Não plástico
passa na # 40. passa na # 40.
Menos que 50% IP < 6%
passa na # 10
IP < 6%
SOLOS SILTO-ARGILOSOS
35% ou mais passando na # 200
Silte Argila
IP ≤ 10% IP ≥ 11%
a) b)
Figura 6.4 – Perfis de solo em Jambeiro -SP: a) Laterítico; b) Saprolítico. (Marson,
2004).
Em 1980, pesquisadores brasileiros (vide Nogami & Villibor 1980) apresentaram uma
metodologia para classificação e estudo das propriedades mecânicas e hidráulicas de solos tropicais,
Metodologia MCT (Miniatura – Compactado – Tropical). Neste trabalho será apresentado apenas a
parte referente a classificação de solos tropicais, em solos de comportamento laterítico (L) e de
comportamento não laterítico ou saprolítico (N), sendo que a parte referente às propriedades
mecânicas pode ser encontrada em Nogami & Villibor (1995). A classificação se baseia nos
resultados dos ensaios de compactação Mini-MCV e perda de massa por imersão.
Ensaio de compactação: Este ensaio foi baseado no método proposto por Parsons (1976),
conhecido como MCV (Moisture Condition Value). O ensaio de compactação deve ser realizado
com 200g de material que passa na peneira 10 (2mm de abertura) em pelo menos cinco teores de
umidades diferentes. As 200g de material são colocadas num molde cilíndrico de 50 mm de diâmetro
e 130mm de altura (fig. 6.5) e um pistão distribui uniformemente a energia empregada, compactando
o solo em ambas as extremidades. O solo é compactado com um soquete de 2.270g de massa,
caindo de uma altura de 30,5cm. Após a aplicação de uma série de golpes efetua-se a leitura da
altura do corpo de prova, h(n), apenas para os golpes que correspondem à serie de Parsons (1976):
1, 2, 3, 4, 6, 8, 16, 24, 32, 48, 64, 96, 128, 192, 256.
Da fig. 6.6 obtém-se também o coeficiente c` utilizado na classificação MCT, que é dado pela
inclinação da linha de variação de altura do corpo de prova x log do número de golpes. Esse
coeficiente se relaciona com a granulometria do material, sendo que para as argilas e solos argilosos
c` é maior que 1,5, areias e siltes não plásticos apresentam c` menor que 1,0 e misturas de solos
(areias siltosas, areais argilosas, argilas arenosas) apresentam c` entre 1,0 e 1,5.
52
um fator de acordo com a forma de massa desprendida durante a imersão. Segundo Nogami &
Villibor (1995), quando a porção do solo se desprende na forma de uma bolacha usa-se um fator de
correção de 0,50. já Vertamatti (1988) apresenta novos fatores de correção do Pi, como mostra a
fig. 6.8.
Figura 6.8 – Fator de correção do Pi proposto por Vertamatti (1988) em função da forma
desprendida.
Para fins de classificação utiliza-se o gráfico da fig. 6.10, elaborado a partir do conhecimento
dos coeficientes c` (eixo das abscissas) e e`(eixo das ordenadas). O coeficiente e` é obtido a partir do
conhecimento do coeficiente d`(inclinação da parte reta do ramo seco da curva de compactação,
correspondente a 12 golpes do ensaio de mini-MCV) e da perda de massa por imersão Pi corrigida
(porcentagem da massa desagregada em relação à massa total do ensaio quando submetida à imersão
em água) expresso pela fórmula empírica (eq. 6.3):
Desde a elaboração da classificação MCT, esta vem passando por modificações nos
equipamentos utilizados, nos procedimentos de obtenção de seus parâmetros e na quantidade de
amostra utilizada. Todas as modificações são para torná-la mais simples e rápida, de modo que seja
usada com mais facilidade no meio rodoviário.
Em 1988, Vertamatti modificou o ábaco de classificação da MCT para levar em consideração
os solos sedimentares da região amazônica, ditos transicionais. Dessa forma, o novo ábaco (fig.
6.11) passou a ser denominado MCT-M (modificado), dividindo o solos em onze grupos, a saber:
NA (areia não laterítica), NG` (solo argiloso não laterítico), NS`(solos siltoso não laterítico),
NS`(solo silto-argiloso não-laterítico), NS'G` (solo siltoso-argiloso não laterítico), TA`(solo arenoso
transicional), TA`G` (solo areno-argiloso transicional), TG` (solo argiloso transcional), LA (areia
laterítica), LA' (solo arenoso laterítico), LA`G`(solo areno-argiloso laterítico), LG`(solo argiloso
laterítico)
55
7. ÍNDICES FÍSICOS.
7.1. Introdução
O comportamento de um solo depende da quantidade relativa de cada uma de suas três fases
(sólidos, água e ar). Diversas relações são empregadas para expressar as proporções entre elas. Na
fig. 7.1 mostrada a seguir estão representadas, de modo esquemático, as três fases que normalmente
ocorrem nos solos, ainda que, em alguns casos, todos os vazios possam estar ocupados pela água e a
água possa conter substâncias dissolvidas.
Pesos Volumes
Zero Pa Ar Va
Vv
Pt Pw Água Vw Vt
Ps Sólido Vs
Massas Volumes
Zero Ma Ar Va
Vv
Mt Mw Água Vw Vt
Ms Sólido Vs
Onde: Va, Vw, Vs, Vv e Vt representam os volumes de ar, água, sólidos, de vazios e total do
solo, respectivamente. Ps, Pw, Pa e Pt São os pesos de sólidos, água, ar e total e Ms, Mw, Ma e Mt
são as respectivas massas de sólidos, água, ar e total.
Vv
n=
Vt (7.1)
Os vazios do solo podem estar apenas parcialmente ocupados por água. A relação entre o
volume de água e o volume dos vazios é definida como o grau de saturação, expresso em
percentagem e com variação de 0 a 100% (solo saturado).
57
Vw
Sr = (7.2)
Vv
O índice de vazios é definido como a relação entre o volume de vazios e o volume das
partículas sólidas, expresso em termos absolutos, podendo ser maior do que a unidade. Sua variação
é de 0 a ∞.
Vv
e= (7.3)
Vs
O peso específico de um solo é a relação entre o seu peso total e o seu volume total,
incluindo-se aí o peso da água existente em seus vazios e o volume de vazios do solo. A massa
específica do solo possui definição semelhante ao peso específico, considerando-se agora a sua
massa.
Pt Mt
γ = , ρ= onde γ = ρ ⋅ g
Vt Vt (7.4)
7.3.2. Peso Específico das Partículas sólidas
O peso específico das partículas sólidas é obtido dividindo-se o peso das partículas sólidas
(não considerando-se o peso da água) pelo volume ocupado pelas partículas sólidas (sem a
consideração do volume ocupado pelos vazios do solo). É o maior valor de peso específico que um
solo pode ter, já que as outras duas fases que compõe o solo são menos densas que as partículas
sólidas.
Ps
γs =
Vs (7.5)
Ps
γd =
Vt (7.6)
É o peso específico do solo quando todos os seus vazios estão ocupados pela água.
58
Pt
γ sat = , quando, Sr = 1
Vt (7.7)
Neste caso, considera-se a existência do empuxo de água no solo. Logo, o peso específico do
solo submerso será equivalente ao o peso específico do solo menos o peso específico da água.
As relações entre pesos ou entre volumes, por serem adimensionais, não serão modificadas
caso no lado direito da fig. 7.1, os volumes de água, ar e sólidos sejam divididos por um
determinado fator, conservado constante para todas as fases. Este fator pode ser escolhido, por
exemplo, para que o volume de sólidos se torne unitário (ou, em outras palavras, dividindo-se todos
os termos por Vs). Deste modo, utilizando-se as relações entre volumes e entre pesos e volumes,
definidas anteriormente, temos:
Pesos Volumes
γ w Sr e
⋅ e Sr e
1+e
γs
1
Figura 7.2 - Relações entre volumes e entre pesos e volumes adotando-se um volume de
sólidos unitário.
Uma outra forma de organizar as relações entre volumes e entre pesos e volumes em um
diagrama de fases seria adotando um volume total igual a 1. Neste caso teríamos o resultado
apresentado na fig. 7.3
Das figs. 7.2 e 7.3 e utilizando-se as definições dadas para o índice de vazios e a porosidade
tem-se:
e n
n= ou e =
1+ e 1− n (7.9)
59
Pesos Volumes
0
n
γ w Sr n Sr n 1
γ s (1-n)
1-n
Figura 7.3 - Relações entre volumes e entre pesos e volumes adotando-se um volume total
de solo unitário.
Com o uso das figs. 7.2 e 7.3, diversas relações podem ser facilmente definidas entre os
índices físicos. As eqs. 7.10 a 7.12 expressam algumas destas relações:
γ
γD =
1+ w (7.10)
γ S .w = γ w ⋅ Sr.e (7.11)
γ S + Sr.e ⋅ γ w
γ =
1+ e (7.12)
A umidade é definida como a relação entre o peso da água e o peso dos sólidos em uma
porção do solo, sendo expressa em percentagem. Pela análise da fig. 7.2 temos que:
Pw γ w ⋅ Sr ⋅ e
w= =
Ps γs (7.13)
Vw Sr ⋅ e
θ= = = Sr ⋅ n
Vt 1 + e (7.14)
OBS: Apesar de alguns índices físicos serem apresentados em percentagem, o cálculo das
relações entre eles deve ser feito utilizando-os na forma decimal. Todos os outros índices devem
estar em unidades compatíveis.
60
Notas importantes:
Umidade
Peso específico do solo (γ)
Peso específico das partículas sólidas (γs)
61
7.7.2.1. Em Laboratório
7.7.2.2. Em Campo
ÍNDICES FÍSICOS
n (%) e γd γ γsat
SOLOS kN / m3
Areia c / pedregulho 18 - 42 0.22 - 0.72 14 - 21 18 - 23 19 - 24
Areia Média a Grossa 25 - 45 0.33 - 0.82 13 - 18 16 - 21 18 - 21
Areia Fina e Uniforme 33 - 48 0.49 - 0.82 14 - 18 15 - 21 18 - 21
Silte 30 - 50 0.48 - 1.22 13 - 19 15 - 21 18 - 22
Argila 30 - 55 0.48 - 1.22 13 - 20 15 - 22 14 - 23
Sobre o peso específico das partículas, algumas observações necessitam ser mencionadas:
Segundo dados de Lambe e Whitman (1969), γs geralmente se encontra no intervalo de 22 a
29 kN/m3 e é em função dos minerais constituintes do solo.
Solos orgânicos tendem a apresentar valores de γs menores que o convencional, enquanto
que solos ricos em minerais ferrosos tendem a apresentar γs > 30 kN/m3.
63
8.1. Introdução
F
= lim (8.1)
A 0
A
Mostra-se que o estado de tensão em qualquer plano passando por um ponto em um meio
contínuo é totalmente especificado pelas tensões atuantes em três planos mutuamente ortogonais,
passando no mesmo ponto. As componentes de tensão em cada plano formam o tensor de tensões
naquele ponto. Desta forma, o tensor de tensões é composto de nove componentes, formando uma
matriz simétrica. O produto do tensor de tensões pelo versor da normal do plano passando pelo
ponto considerado (vetor (n1;n2;n3) apresentado na fig. 8.1) fornece as componentes da tensão
atuando sobre o plano (componentes Px, Py e Pz do vetor P apresentado na fig. 8.1).
Apesar do solo constituir um sistema particulado, composto de três fases distintas, (água, ar
e partículas sólidas) e o conceito de tensão em um ponto advir da mecânica do contínuo, este tem
sido utilizado com sucesso na prática geotécnica. Além disso, boa parte dos problemas em mecânica
dos solos podem ser encarados como problemas de tensão ou deformação planos, de modo que para
estes casos o tensor de tensões apresentado na fig. 8.1 se torna mais simplificado, podendo o estado
de tensões em um ponto ser melhor representado utilizando-se da construção gráfica do círculo de
Mohr.
64
Deve-se salientar contudo, que devido ao fato de o solo constituir um sistema particulado,
em cada ponto do maciço podem existir estados de tensões diferentes para cada uma de suas fases
componentes.
Por serem fluidos, não suportando tensões cisalhantes, as tensões existentes nas fases água e
ar do solo são sempre ortogonais ao plano passando pelo ponto considerado. Pode-se dizer ainda,
que na maioria dos casos, a pressão nos vazios de solo preenchidos por ar é igual à pressão
atmosférica (adotada geralmente como pressão de referência ou zero).
O princípio das tensões efetivas - Postulado por Terzaghi, para o caso dos solos saturados,
o princípio das tensões efetivas é uma função da tensão total (soma das tensões nas fases água e
partículas sólidas) e da tensão neutra (denominada também de pressão neutra, é a pressão existente
na fase água do solo), que governa o comportamento do solo em termos de deformação e resistência
ao cisalhamento.
Mostra-se experimentalmente que, para o caso dos solos saturados, o que governa o
comportamento do solo em termos de resistência e deformabilidade é a diferença entre a tensão total
e a pressão neutra, denominada de tensão efetiva As tensões normais desenvolvidas em qualquer
plano num maciço terroso, serão suportadas, parte pelas partículas sólidas e parte pela água (ver Fig
8.2). As tensões cisalhantes somente poderão ser suportadas pelas partículas sólidas, já que os
fluidos, por definição, não são capazes de suportar tensões cisalhantes de forma estática.
Nível do terreno, NT
Nível de água, NA
z
σz (σz- u) zw
σx u (σx -u)
Uma parcela da tensão normal age nos contatos inter partículas e a outra parcela atua na
água existente nos vazios do solo. Assim, a tensão total num plano será a soma da tensão efetiva,
65
resultante das forças transmitidas pelas partículas, e da pressão neutra, dando origem a uma das
relações mais importantes da Mecânica dos Solos, proposta por Terzaghi:
' = −u (8.2)
Onde, σ′ é uma das componentes de tensão normal efetiva do solo, σ é a mesma componente
de tensão em termos totais e u é a pressão neutra no ponto considerado.
Para visualizar um pouco melhor o efeito da água no solo imagine uma esponja colocada
dentro de um recipiente com água suficiente para encobri-la (a esponja se encontra totalmente
submersa). Se o nível de água for elevado no recipiente, a pressão total sobre a esponja aumenta,
mas a esponja não se deforma. Isto ocorre porque os acréscimos de tensão total são
contrabalançados por iguais acréscimos na tensão neutra, de modo que a tensão efetiva permanece
inalterada (vide eq. 8.2).
z=⋅z (8.3)
Onde:
u = γw ⋅ zw
(8.4)
Onde:
66
A fig. 8.3 abaixo, mostra um diagrama de tensões com a profundidade em um perfil de solo
estratificado.
Uso do peso específico submerso - Caso o nível de água, apresentado na fig. 8.2, estivesse
localizado na superfície do terreno, o cálculo das tensões efetivas poderia ser simplificado pelo uso
do conceito de peso específico submerso, discutido no capítulo de índices físicos. Neste caso, a
tensão vertical total será dada por σz = γsat⋅z, enquanto que a pressão neutra no mesmo ponto será u
= γw⋅z. A tensão efetiva, correspondente à diferença entre estes dois valores, será: σ'z = σz - u =
γsat⋅z. - γw⋅z, o que faz com que tenhamos: σ'z= (γsat - γw)⋅z = γsub⋅z, onde γsub é o peso específico
submerso do solo.
Segundo Jaky (1956), o coeficiente de empuxo em repouso do solo pode ser estimado com o
uso da eq. 8.7, onde φ' é o ângulo de atrito interno efetivo do solo, apresentado em detalhes no
capítulo de resistência ao cisalhamento (volume II).
Apesar destas limitações, a simplicidade das soluções obtidas justifica o amplo emprego desta
teoria. Em análises mais avançadas, o método dos elementos finitos, incorporando modelos de
68
comportamento tensão - deformação mais realistas para os solos, tem sido frequentemente utilizado
para a avaliação de tensões e deformações induzidas em uma massa de solo.
A A
2
1
B B
(a)
(b)
Figura 8.4 - (a) Exemplo de distribuição de acréscimos de tensão vertical devido a um
carregamento na superfície do terreno e (b) isóbaras de acréscimo de tensões verticais para 20,
10, 5 e 2 kPa, considerando uma carga pontual de 100 kN (Boussinesq).
Pode-se dizer que embora as perturbações no estado de tensão inicial de um maciço de solo,
provocadas por um determinado carregamento, se propaguem indefinidamente, a intensidade destas
perturbações (ou os valores dos acréscimos de tensão induzidos na massa de solo) diminuem
bastante em profundidade e com o afastamento lateral, de modo que a influência, do ponto de vista
prático, destas cargas, é limitada a uma determinada região. Unindo-se os pontos da massa de solo
69
Na profundidade (z), a área da sapata aumenta de z/2 (para o método 2:1) ou z.tan φo
(espraiamento), para cada lado. Assim, a tensão nesta profundidade será estimada pela eq. 8.9:
Q (8.9)
Δ σ z ( z)=
b z⋅l z
Q lo z
σzo = Q
bo x lo bo
bo
Z φo 2
Q σz1 = Q lo + z
bz x l z 1
a bo a bo + z
a) Espraiamento segundo um ângulo φo b) Método 2:1
a
tan o = ⇒ a=z⋅tan o
z l z =l o 2⋅z⋅tano b z =b o 2⋅z⋅tan o
Figura 8.5 - Distribuição de tensão vertical com a profundidade, segundo um ângulo de
espraiamento (a) ou método 2:1 (b).
O ângulo de espraiamento (φo) é função do tipo de solo, com valores típicos de:
solos muito moles: φo < 40°
areias puras: φo ≅ 40° a 45°
argilas rijas e duras: φo ≅ 70°
rochas: : φo > 70°
70
As tensões dentro de uma massa de solo são melhor estimadas empregando as soluções
obtidas a partir da teoria da elasticidade. Apesar das hipóteses adotadas nestas formulações, seu
emprego aos casos práticos é bastante frequente, dada a sua simplicidade e ao fato de produzirem
resultados bem mais próximos do real do que aqueles obtidos com o uso da solução simplificada,
apresentada no item anterior. Existem formulações para uma grande variedade de tipos de
carregamento. Serão apresentados aqui, apenas os casos mais frequentes, sem nos preocuparmos
com o desenvolvimento matemático das equações resultantes.
Boussinesq (1885) desenvolveu as equações para cálculo dos acréscimos de tensões vertical,
radial e tangencial, causados pela aplicação de uma carga pontual agindo perpendicularmente à
superfície de um terreno (Fig. 8.7). Para obtenção da solução, assumiu as seguintes hipóteses:
maciço homogêneo, isotrópico, semi - infinito e de comportamento linearmente elástico (validade da
lei Hooke), a variação de volume do solo sob aplicação da carga é negligenciada, dentre outras. A
eq. 8.10 apresenta a solução de Boussinesq, para o cálculo do acréscimo da tensão vertical em
qualquer ponto do maciço, obtida por meio de integração das equações diferenciais da teoria da
elasticidade.
A estimativa dos acréscimos de tensões verticais é muito mais frequente, em termos práticos,
que de tensões tangenciais, radiais e de cisalhamento. Esta é geralmente realizada por intermédio de
um fator de influência (Nb), apresentado na eq. 8.10, utilizando-se de fórmulas e ábacos específicos
para cada tipo de carregamento. Os valores de N b dependem apenas da geometria do problema,
sendo dado em função de r/z, no ábaco da fig. 8.8. Observar que Δσz é independente do material, já
que os parâmetros elásticos não entram na equação final de Boussinesq.
71
Q
"Carga Pontual"
Onde:
Q = carga pontual
z = profundidade que vai da superfície do terreno (pto de
aplicação da carga) até a cota onde deseja-se calcular σz
r = distância horizontal do ponto de aplicação da carga até
r
onde atua σz
R = distância do ponto de aplicação da carga até onde atua σz
R z
∆σz
[{ } ]
3
τ zr Q 2⋅π Q (8.10)
Δ σ z = 2⋅ 2 2,5
= 2⋅N B
∆σr z r z
∆σθ
1+ ()
z
Figura 8.7 - Carga concentrada aplicada na superfície do terreno - Solução de
Boussinesq.
0,50
0,45 Q
Boussinesq z= 2
N
z
0,40
3
0,35
2⋅
N B= 2 5
0,30 r
1 2
z
N
0,25
1
0,20
N W= 2 3
0,15 r
12⋅ 2
z
0,10
Westergaard
0,05
0,00
0,00 0,30 0,60 0,90 1,20 1,50 1,80 2,10 2,40 2,70 3,00
r/z
z/r
Figura 8.8 - Fatores de influência para tensões verticais devido a uma carga concentrada
(NB: Solução de Boussinesq e NW: Solução de Westergaard).
As distribuições de acréscimos de tensões em uma massa de solo, induzidas por outros tipos
de carregamentos mais frequentes na prática da engenharia, puderam ser estabelecidas a partir da
integração da solução de Boussinesq. A seguir são apresentados os casos de carregamento que
julgamos ser de maior interesse prático para o Engenheiro.
As tensões induzidas no ponto (A), por uma carga uniformemente distribuída ao longo de
uma linha (Y) na superfície do terreno foram obtidas por Melan (fig. 8.9) e estão apresentadas nas
eqs. 8.11 a 8.13. Esta solução pode ser utilizada para o cálculo dos acréscimos de tensão no solo
causados pela construção de um muro de fundação delgada, por exemplo.
3
2q z (8.11)
z= ⋅
z x 2 2
2
2q x 2⋅z (8.12)
x= ⋅
z 2x 2 2
2q z 2⋅x (8.13)
xz = ⋅
z 2x 2 2
Em se tratando de uma placa retangular em que uma das dimensões é muito maior que a
outra, como por exemplo, no caso das sapatas corridas, os esforços introduzidos na massa de solo
podem ser calculados por meio da fórmula desenvolvida por Terzaghi & Carothers. A fig. 8.10
apresenta o esquema de carregamento e o ponto onde se está calculando o acréscimo de tensões.
Observar que a placa tem largura 2b e está carregada uniformemente com q. As tensões num ponto
A, situado a uma profundidade (z) e distante (x) do centro da placa são dadas pelas eqs. 8.14 a 8.16,
com ângulo α dado em radianos. Esta solução é geralmente utilizada no cálculo do acréscimo de
tensões devido às fundações de residências com poucos pavimentos e/ou solo com alta capacidade
de suporte, onde é possível de utilizar o conceito de sapata corrida como fundação.
73
q
z= ⋅ sen ⋅cos 2 (8.14)
q
x = ⋅−sen ⋅cos 2 (8.15)
q
xz = ⋅sen ⋅cos 2 (8.16)
Newmark (1935), integrou a equação de Melan (8.11) e obteve a equação para cálculo da
tensão vertical (σz) induzida no canto de uma área retangular uniformemente carregada. Para o caso
de uma área retangular de lados (x) e (y), uniformemente carregada (fig. 8.11), as tensões verticais
em um ponto situado numa profundidade (z), na mesma vertical de um dos vértices, é dada pela eq.
8.17. Esta solução é empregada para o cálculo dos acréscimos de tensões devidos à fundações rasas
como sapatas e radiers e mesmo tubulões. ATENÇÃO: valores de arco-tangente negativos devem ser
somados a π por conta da convenção de sinais da função.
[ ]
2 2 1 /2
q 2⋅m⋅n⋅m n 1 m2n 22 2⋅m⋅n⋅m2n 211/ 2
z= ⋅ ⋅ arctan (8.17)
4 m2n 2m2⋅n 21 m2n 21 m2 n2−m2⋅n 21
74
onde:
q = carga por unidade de área, ou seja, σo
m = x/z
n=yz
x, y = largura e comprimento da área uniformemente carregada.
Os parâmetros m e n são intercambiáveis. Pode-se observar que a eq. 8.17, depende apenas
da geometria da área carregada (m e n), assim, felizmente, a eq. 8.17 pode ser reescrita em função de
um fator de influência:
z=q⋅N (8.18)
A M B
A
P I III
N
II IV
D C
(a) (b)
Figura 8.13 - Esquema para cálculo das tensões em qualquer ponto - Placa retangular
uniformemente carregada.
0,2 0,009 0,018 0,026 0,033 0,039 0,043 0,047 0,050 0,053 0,055 0,057 0,059 0,061 0,062 0,062 0,062 0,062
0,3 0,013 0,026 0,037 0,047 0,056 0,063 0,069 0,073 0,077 0,079 0,083 0,086 0,089 0,090 0,090 0,090 0,090
0,4 0,017 0,033 0,047 0,060 0,071 0,080 0,087 0,093 0,098 0,101 0,106 0,110 0,113 0,115 0,115 0,115 0,115
0,5 0,020 0,039 0,056 0,071 0,084 0,095 0,103 0,110 0,116 0,120 0,126 0,131 0,135 0,137 0,137 0,137 0,137
0,6 0,022 0,043 0,063 0,080 0,095 0,107 0,117 0,125 0,131 0,136 0,143 0,149 0,153 0,155 0,156 0,156 0,156
0,7 0,024 0,047 0,069 0,087 0,103 0,117 0,128 0,137 0,144 0,149 0,157 0,164 0,169 0,170 0,171 0,172 0,172
0,8 0,026 0,050 0,073 0,093 0,110 0,125 0,137 0,146 0,154 0,160 0,168 0,176 0,181 0,183 0,184 0,185 0,185
0,9 0,027 0,053 0,077 0,098 0,116 0,131 0,144 0,154 0,162 0,168 0,178 0,186 0,192 0,194 0,195 0,196 0,196
1,0 0,028 0,055 0,079 0,101 0,120 0,136 0,149 0,160 0,168 0,175 0,185 0,193 0,200 0,202 0,203 0,204 0,205
1,2 0,029 0,057 0,083 0,106 0126 0,143 0,157 0,168 0,178 0,185 0,196 0,205 0,212 0,215 0,216 0,217 0,218
1,5 0,030 0,059 0,086 0,110 0,131 0,149 0,164 0,176 0,186 0,193 0,205 0,215 0,223 0,226 0,228 0,229 0,230
2,0 0,031 0,061 0,089 0,113 0,135 0,153 0,169 0,181 0,192 0,200 0,212 0,223 0,232 0,236 0,238 0,239 0,240
2,5 0,031 0,062 0,090 0,115 0,137 0,155 0,170 0,183 0,194 0,202 0,215 0,226 0,236 0,240 0,242 0,244 0,244
3,0 0,032 0,062 0,090 0,115 0,137 0,156 0,171 0,184 0,195 0,203 0,216 0,228 0,238 0,242 0,244 0,246 0,247
5,0 0,032 0,062 0,090 0,115 0,137 0,156 0,172 0,185 0,196 0,204 0,217 0,229 0,239 0,244 0,246 0,249 0,249
10,0 0,032 0,062 0,090 0,115 0,137 0,156 0,172 0,185 0,196 0,205 0,218 0,230 0,240 0,244 0,247 0,249 0,250
O cálculo das tensões induzidas por uma placa circular de raio r, uniformemente carregada,
foi resolvido por Love, a partir da integração da equação Boussinesq, para toda área circular. Para
pontos situados a uma profundidade z, abaixo do centro da placa de raio r, as tensões induzidas
podem ser estimadas pela eq. 8.19:
76
[ { } ]
1,5
1
z =q⋅ 1− 2
r
1
z
(8.19)
O gráfico da fig. 8.14 pode ser utilizado para o cálculo do fator de influência (ver eq. 8.18)
para o caso de um ponto cuja vertical esteja a uma distância x do centro da área circular. O fator de
influência é obtido em função das relações z/r e x/r, onde z é a profundidade, r é o raio da placa
carregada e x é a distância horizontal que vai do centro da placa ao ponto onde se deseja calcular o
acréscimo de tensão vertical. Observar que neste gráfico os fatores de influência são expressos em
porcentagem. Para obtenção dos valores de Nσ , para pontos quaisquer do terreno, também pode-se
utilizar a tabela 8.2. Vale acrescentar que quando tem-se x/r = 0, tem-se o acréscimo de tensões
induzida na vertical que passa pelo centro da placa circular carregada, cujo valor deverá ser igual ao
calculado com o emprego da eq. 8.19.
Tabela 8.2 - Fatores de influência para uma placa circular de raio r, carregada
x/r
z/r 0 0,25 0,50 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
0,25 0,986 0,983 0,964 0,460 0,015 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000
0,50 0,911 0,895 0,840 0,418 0,060 0,010 0,003 0,000 0,000 0,000
0,75 0,784 0,762 0,691 0,374 0,105 0,025 0,010 0,002 0,000 0,000
1,00 0,646 0,625 0,560 0,335 0,125 0,043 0,016 0,007 0,003 0,000
1,25 0,524 0,508 0,455 0,295 0,135 0,057 0,023 0,010 0,005 0,001
1,50 0,424 0,413 0,374 0,256 0,137 0,064 0,029 0,013 0,007 0,002
1,75 0,346 0,336 0,309 0,223 0,135 0,071 0,037 0,018 0,009 0,004
2,0 0,284 0,277 0,258 0,194 0,127 0,073 0,041 0,022 0,012 0,006
2,5 0,200 0,196 0,186 0,150 0,109 0,073 0,044 0,028 0,017 0,011
3,0 0,146 0,143 0,137 0,117 0,091 0,066 0,045 0,031 0,022 0,015
4,0 0,087 0,086 0,083 0,076 0,061 0,052 0,041 0,031 0,024 0,018
5,0 0,057 0,057 0,056 0,052 0,045 0,039 0,033 0,027 0,022 0,018
7,0 0,030 0,030 0,029 0,028 0,026 0,024 0,021 0,019 0,016 0,015
10,0 0,015 0,015 0,014 0,014 0,013 0,013 0,013 0,012 0,012 0,011
77
A fig. 8.15 mostra uma distribuição triangular de carga vertical aplicada sobre uma placa
retangular de comprimento infinito e largura 2b, com a carga variando de 0 a um valor q, ao longo
da largura. A tensão vertical induzida num dado ponto de coordenadas (x, z) é dada pela eq. 8.20:
z=
q x
⋅ ⋅−sen 2
2⋅ b (8.20)
2b
q
α
z β
x
∆σz
Figura 8.15 - Carregamento triangular de comprimento infinito.
são em função das dimensões a e b, como apresentado nesta figura e o ponto considerado deve se
situar na extremidade da área de largura b.
Pode-se observar na fig. 8.17, que para b/z = 0, recai-se no caso de carregamento triangular.
Analogamente, através da aplicação do principio da superposição, computa-se a soma ou a diferença
dos efeitos das partes do aterro, conforme indicado para o ponto P da fig. 8.18.
Figura 8.18 - Esquema para cálculo das tensões induzidas no ponto, para um aterro.
79
−2 /3
r
z
= 1−
z
q −1 (8.21)
atribuem-se valores à relação Δσz/q e calcula-se o raio r da placa necessária para produzir o
acréscimo de carga Δσz/q arbitrado a uma profundidade z (cujo valor é fixado pela escala a partir da
qual o gráfico foi construído) sob o centro da placa carregada com uma carga unitária;
b) Exemplificando:
Δσz/q = 0,8 ⇒ r/z = 1,387 ⇒ r p/(σz = 0,8) = 1,387 x AB, sendo AB o seguimento de
referência (escala) adotado (fig. 8.19). Assim, a uma profundidade z = AB, o acréscimo de carga
seria Δσz/q = 0,8 se a área carregada fosse circular de raio r = 1,387 x AB.
c) Para outros valores de Δσz/q, obtém-se um conjunto de círculos concêntricos, tais que os
anéis circulares gerados representam parcelas dos acréscimos de tensões verticais. Por exemplo, o
acréscimo de tensão vertical devido ao espaço anelar compreendido entre os círculos de r p/(Δσz =
0,8) e r p/(Δσz = 0,7) seria dado por Δσz = 0,8 - 0,7 = 0,1;
d) Cada espaço anelar é então dividido em um certo número de partes iguais (geralmente 20
setores), cada parte representando uma parcela de contribuição ao valor final do acréscimo de tensão
no solo devido a toda a área carregada. No exemplo, Nσ=Δσz/q devido a cada setor seria dada por
Δσz = 0,1/20 = 0,005.
z=q⋅n⋅N (8.22)
onde:
80
Nσ = unidade de influência
n = número de fatores de influência
Figura 8.20 – Acréscimos de tensão em camadas estratificadas provocados por uma área
carregada circular de raio a.
Como visto acima, a rigidez das placas influi na distribuição de pressões em todo o solo.
Segundo Vargas (1977), só poderemos aplicar a equação de Boussinesq e as outras derivadas a
partir dessa, se tivermos tratando de placa flexível (pressão de contato uniforme), para que a rigidez
da estrutura não possa influir na distribuição das pressões de contato. Felizmente, para a engenharia,
isso ocorre na grande maioria dos casos. Pode-se dizer ainda que a influência da forma da
distribuição das pressões de contato é maior para profundidades relativas menores (menores valores
de z/r), perdendo intensidade à medida em que a profundidade aumenta.
A aplicação de cargas sobre uma massa de solo resulta em uma variação do seu volume, a
qual poderá ocorrer devido à compressibilidade da fase fluida (ar) ou por drenagem da água
intersticial. Ao deslocamento vertical resultante desta compressão do solo dá-se o nome de recalque.
A drenagem da água intersticial está intimamente associada à permeabilidade do solo; assim, se uma
camada de argila saturada for carregada local e rapidamente, a baixa permeabilidade do solo retarda
o processo da expulsão da água intersticial e, nestas condições não-drenadas, a deformação do solo
devido às cargas aplicadas ocorre a volume constante, correspondendo a uma distorção elástica do
meio. Os recalques associados a esta distorção são designados recalques imediatos ou elásticos.
O recalque imediato (ρi) sob uma área transmitindo uma carga uniforme (q) à superfície de
um semi-espaço infinito, homogêneo, isotrópico e elástico linear, será dado por:
1− ν2
ρi = q . B. .Ι s
E (8.23)
onde (E, ν) são os parâmetros elásticos do solo; B: a menor dimensão da área carregada e I s:
o fator de influência, função da geometria e rigidez da área carregada e da posição do ponto
considerado em relação à mesma (valores dados na tabela 8.3).
83
De acordo com a eq. 8.23, o recalque imediato é diretamente proporcional à carga aplicada e
à largura da área carregada. No caso de depósitos homogêneos de argila saturada de grande
extensão, a hipótese de E assumir um valor constante é consistente e o uso da eq. 8.23 é melhor
justificado. No caso de areias, entretanto, o valor de E depende da pressão de confinamento
variando, portanto, com a profundidade e ao longo das dimensões da área carregada. Devido a esta
variação de E, a relação 8.23 não se aplica a solos arenosos. Pode-se dizer também que mesmo para
os casos em que E é aproximadamente constante com a profundidade e o material é relativamente
homogêneo, a estimativa correta deste parâmetro constitui uma árdua tarefa, devido ao
comportamento altamente não linear do solo.
84
9. COMPACTAÇÃO.
9.1. Introdução
Entende-se por compactação o processo manual ou mecânico que visa a reduzir o volume de
vazios do solo, melhorando as suas características de resistência, deformabilidade e permeabilidade.
Muitas vezes, na prática da engenharia geotécnica, o solo de um determinado local não
apresenta as condições requeridas pela obra. Ele pode ser pouco resistente, muito compressível ou
apresentar características que deixam a desejar de um ponto de vista econômico. Pareceria razoável
em tais circunstâncias, simplesmente relocar obra. Deve-se notar contudo, que considerações outras
que não geotécnicas frequentemente impõem a localização da estrutura e o engenheiro é forçado a
realizar o projeto com o solo que ele tem em mãos. Para resolver este problema, uma possibilidade é
adaptar a fundação da obra às condições geotécnicas do local. Uma outra possibilidade é tentar
melhorar as propriedades de engenharia do solo local. Dependendo das circunstâncias, a segunda
opção pode ser o melhor caminho a ser seguido.
Neste capítulo será apresentado um método de estabilização e melhoria do solo por vias
mecânicas, denominado de compactação. Deve-se ressaltar que existem diversos outros métodos de
estabilização dos solos, sendo alguns destes realizados pela mistura ou injeção de substâncias
químicas (misturas solo-cimento, "jet-ground", misturas solo-cal), ou pela incorporação no solo de
elementos estruturais, os quais têm por função conferir ao mesmo as características necessárias para
a execução da obra. Ex: solo reforçado, solo envelopado, terra armada, etc.
Os fundamentos da compactação de solos são relativamente novos e foram desenvolvidos
por Ralph Proctor, que, na década de 20 (1920), postulou ser a compactação uma função de quatro
variáveis: a) Peso específico seco, b) Umidade, c) Energia de compactação e d) Tipo de solo (solos
grossos, solos finos, etc.). A compactação dos solos tem uma grande importância para as obras
geotécnicas, já que por intermédio do processo de compactação consegue-se promover no solo um
aumento de sua resistência estável e uma diminuição da sua compressibilidade e permeabilidade,
também a longo prazo.
9.2. O emprego da compactação
Em diversas obras, dentre elas os aterros rodoviários e as barragens de terra, o solo é o
próprio material resistente ou de construção. Em vista disto, alguns métodos de estabilização ou de
melhoria das características de resistência, deformabilidade e permeabilidade dos solos foram
desenvolvidos, e a compactação é um desses métodos.
O objetivo principal da compactação é obter um solo, de tal maneira estruturado, que possua
e mantenha um comportamento mecânico adequado ao longo de toda a vida útil da obra.
9.3. Diferenças entre Compactação e Adensamento
Pelo processo de compactação, a compressão do solo se dá por expulsão do ar contido em
seus vazios, de forma diferente do processo de adensamento, onde ocorre a expulsão de água dos
interstícios do solo (capítulo de compressibilidade, volume II).
Além do mais, as cargas aplicadas quando compactamos o solo são geralmente de natureza
dinâmica e o efeito conseguido é imediato, enquanto que o processo de adensamento é diferido no
tempo (pode levar muitos anos para ocorra por completo, a depender do tipo de solo) e as cargas
são normalmente estáticas.
85
Ao se receber uma amostra de solo (no caso, deformada) para a realização de um ensaio
de compactação, o primeiro passo é colocá-la em bandejas de modo que a mesma adquira
a umidade higroscópica (secagem ao ar). O solo então é destorroado, qaurteado e
passado na peneira #4, após o que adiciona-se água na amostra para a obtenção do
primeiro ponto da curva de compactação do solo. Para que haja uma boa
homogeneização de umidade em toda a massa de solo, é recomendável que a mesma
fique em repouso por um período de aproximadamente 24 hs.
Após preparada a amostra de solo, a mesma é colocada em um recipiente cilíndrico com
volume igual a 1000ml e compactada com um soquete de 2500g, caindo de uma altura de
aproximadamente 30cm, em três camadas com 26 golpes do soquete por camada, como
demonstra fig. 9.1 apresentada adiante.
Este processo é repetido para amostras de solo com diferentes valores de umidade,
utilizando-se em média 5 pontos para a obtenção da curva de compactação.
De cada corpo de prova assim obtido, determinam-se o peso específico do solo seco e o
teor de umidade de compactação.
Após efetuados os cálculos dos pesos específicos secos e das umidades, lançam-se esses
valores (γd;w) em um par de eixos cartesianos, tendo nas ordenadas os pesos específicos
do solo seco e nas abcissas os teores de umidade, como se demonstra na fig. 9.2.
A partir dos pontos experimentais obtidos conforme descrito anteriormente, traça-se a curva
de compactação do solo, apresentada na fig. 9.2. Nota-se que na curva de compactação o peso
específico seco aumenta com o teor de umidade até atingir um valor máximo, decrescendo com a
umidade a partir de então. O teor de umidade para o qual se obtém o maior valor de γd (γdmax) é
denominado de teor de umidade ótimo (ou simplesmente umidade ótima).
γ w ⋅ Sr
γd =
γ
w + w Sr
γs
(9.1)
Proctor Normal - 3 camadas
26 golpes
30 cm Peso
2,5 kg
5 cm
10,0 cm
12,7 cm Cilindro de
compactação
γd
γ dmax
co
Ra
se
m
o
m
o
a Sr = 100%
úm
R
id
o
Wot w
Figura 9.2 - Curva de Compactação típica
87
P.h.N .n
E= onde : (9.2)
V
P → Peso do Soquete (N)
h → Altura de Queda do Soquete (m)
N → Número de Golpes por Camada
n → Número de Camadas
V → Volume de solo compactado (m 3 )
E4
E3
Sr = 100%
E2
E1
A fig. 9.4 apresenta a influência da compactação na estrutura dos solos. Conforme se pode
observar desta figura, as estruturas formadas no lado seco da curva de compactação tendem a ser do
tipo floculada, enquanto que no lado úmido da curva de compactação formam-se solos com
estruturas predominantemente dispersas.
γd
co
se
o
R
m
am
Ra
o
E2
úm
id
o
Sr = 100%
Est. floculada
E1 Est. dispersa
E2 > E1 w
Figura 9.4 - Influência da compactação na estrutura dos solos.
Figura 9.5 – Foto ilustrativa de solo compactado com estrutura bastante orientada, fruto
do uso de altas energias e valores de umidade de compactação acima da ótima.
γd
(1) 1) Areia
2) Areia argilosa
3) Argila
(2)
(3)
w
Figura 9.6 - Influência do tipo de solo na curva de compactação.
Pode-se fazer então a seguinte indagação: Porque os solos não são compactados em campo
em valores de umidade inferiores ao valor ótimo? A resposta a esta pergunta se encontra na palavra
estável. Não basta que o solo adquira boas propriedades de resistência e deformação, elas devem
permanecer durante todo o tempo de vida útil da obra.
Figura 9.7 - Variação da resistência dos solos com o teor de umidade de compactação.
Modificado de Caputo (1981).
Conforme se pode notar da fig. 9.7, caso o solo fosse compactado no teor de umidade w 1, ele
iria apresentar uma resistência bastante superior àquela obtida quando da compactação no teor de
umidade ótimo. Conforme também apresentado na fig. 9.7, contudo, este solo poderia vir a se
saturar em campo (em virtude de um período de fortes chuvas, por exemplo), vindo a alcançar o
valor de umidade w2, para o qual o valor de resistência apresentado pelo solo é praticamente nulo.
No caso de o solo ser compactado na umidade ótima, o valor de sua resistência cairia somente de R
para r, estando o mesmo ainda a apresentar características de resistência razoáveis.
9.10.1. Soquetes
Trata-se de um cilindro oco de aço, podendo ser preenchido por areia úmida ou água, a fim de que
seja aumentada a pressão aplicada. São usados em bases de estradas, em capeamentos e são
indicados para solos arenosos, pedregulhos e pedra britada, lançados em espessuras inferiores a
15cm.
Este tipo de rolo compacta bem camadas finas de 5 a 15cm com 4 a 5 passadas. Os rolos lisos
possuem pesos de 1 a 20t e frequentemente são utilizados para o acabamento superficial das
camadas compactadas. Para a compactação de solos finos utilizam-se rolos com três rodas com
pesos em torno de 10t, para materiais de baixa plasticidade e 7t, para materiais de alta plasticidade. A
fig. 9.11 ilustra rolos compactadores do tipo liso. Os rolos lisos possuem certas desvantagens como:
Pequena área de contato. Em solos de pequena capacidade de suporte afundam demasiadamente
dificultando a tração. No caso de uso do rolo liso existe a necessidade de melhoria do entrosamento
entre camadas por escarificação (ver fig. 9.12)
Para que se possa efetuar um bom controle da compactação do solo em campo, temos que
atentar para os seguintes aspectos:
tipo de solo
espessura da camada
entrosamento entre as camadas
número de passadas
tipo de equipamento
umidade do solo
grau de compactação alcançado
1) A espessura da camada lançada não deve exceder a 30cm, sendo que a espessura da
camada compactada deverá ser menor que 20cm.
2) Deve-se realizar a manutenção da umidade do solo o mais próximo possível da umidade
ótima.
3) Deve-se garantir a homogeneização do solo a ser lançado, tanto no que se refere à
umidade quanto ao material.
Cilindro de solo
compactado
Cravação do cilindro
amostrador
Figura 9.18 – Fotos ilustrativas de passos para a cravação de um cilindro de parede
rígida em uma camada de solo compactada.
Para a determinação do Índice de Suporte Califórnia teremos que passar por três fases
anteriores: a execução de um ensaio de compactação, na energia do Proctor Modificado, a
preparação dos corpos de prova, o ensaio de expansão e finalmente o ensaio de determinação do
Índice de Suporte Califórnia ou CBR ("California Bearing Ratio"), propriamente dito.
97
Este ensaio é realizado de maneira similar àquela apresentada para o ensaio de compactação
na energia do Proctor Normal. Neste caso, as dimensões do cilindro de compactação são dadas pela
fig. 9.19 e a energia de compactação empregada corresponde à do Proctor Modificado (vide tabela
9.1, coluna AASHTO).
Antes de começar a execução do ensaio, coloca-se um disco espaçador no cilindro de
compactação, conforme demostrado na fig. 9.19, cuja função é permitir a execução dos ensaios de
expansão e CBR.
15 cm
5cm
17,5 cm
5 cm (disco espaçador)
Figura 9.19 - Corpo de Prova para o Ensaio de Compactação
O solo a ser utilizado na compactação do corpo de prova deve passar pela malha de 19mm
(3/4") e ser moldado na umidade ótima determinada anteriormente.
as penetrações através de um extensômetro ligado ao pistão, como demonstra a fig. 9.20. Três
corpos de prova são preparados na umidade ótima com 12, 26 e 55 golpes, determinando-se o valor
de γd obtido para cada corpo de prova. Após a imersão em água durante quatro dias, mede-se, para
cada corpo de prova, a resistência à penetração de um pistão com φ = 5 cm, a uma velocidade de
1,25 mm/min, para alguns valores de penetração pré-determinados (0,64mm; 1,27; 1,91; 2.54; 3,81;
5,08mm; etc.).
pressão calculada
CBR= ⋅100 (9.4)
105
Com os valores obtidos dos três corpos de prova traça-se o gráfico apresentado na fig. 9.21.
O valor do Índice de Suporte Califórnia é determinado como sendo igual ao valor correspondente a
95% do γdmax determinado para a energia do Proctor Modificado. O valor de Índice de Suporte
Califórnia assim obtido é utilizado para avaliar as potencialidades do solo para uso na construção de
pavimentos flexíveis. A eq. 9.5, por exemplo, apresenta uma correlação empírica utilizada para se
estimar, a partir do I.S.C., o módulo de elasticidade do solo.
γd
55
26
95 % de γdmax
12
I.S.C I.S
.C
Figura 9.21 - Determinação do I.S.C.
100
10.1. Introdução
Qualquer projeto de engenharia, por mais modesto que seja, requer o conhecimento
adequado das características e propriedades dos solos onde a obra irá ser implantada. As
investigações de campo e laboratório requeridas para obter os dados necessários para responder a
essas questões são chamadas de exploração do subsolo ou investigação do subsolo.
10.2.1.1. Poços
10.2.1.2. Trincheiras
São valas escavadas mecanicamente por meio de escavadeiras. Permitem um exame visual e
contínuo do subsolo, segundo uma direção e permitem, também, coleta de amostras deformadas e
indeformadas.
O amostrador padrão ou amostrador Terzaghi-Peck, o único que deve ser usado no ensaio,
possui três partes: engate, corpo e sapata cortante. É constituído de tubos metálicos de parede
grossa com corpo bipartido e ponta em forma de bisel (fig. 10.3). O engate tem dois orifícios laterais
para saída da água e ar e contém, interiormente, uma válvula constituída por esfera de aço
inoxidável, para impedir que a amostra de solo saia do amostrador quando de seu içamento. A fig.
10.4 mostra um corte do amostrador padrão indicando suas principais dimensões.
Figura 10.3- Amostrador padrão de parede grossa - vista. Apud Nogueira (1995)
geotécnicas dos solos. Atingida a cota de ensaio, por qualquer dos procedimentos, o furo deverá
estar bem limpo para a realização do ensaio de penetração.
martelo
75cm
Cabeça de 15cm
bater 15cm
15cm
revestimento
amostrador
caracterização e identificação táctil visual do solo. Estas amostras deverão permanecer à disposição
do contratante por um período mínimo de 60 dias.
Com a amostra colhida no amostrador e com o valor de N do SPT (soma dos número de
golpes para cravar os 30cm finais do amostrador) fazem-se a identificação e classificação do solo, de
acordo com a ABNT - NBR 7250/01, utilizando testes tácteis visuais com a finalidade de definir as
características granulométricas, de plasticidade, presença acentuada de mica, matéria orgânica e
cores predominantes. O nome dado ao solo não deverá conter mais do que duas frações e sugere-se
o uso das cores: branco, cinza, preto, marrom, amarelo, vermelho, roxo, azul e verde, podendo-se
usar claro e escuro, para o máximo de duas cores e o termo variegado quando não houver duas
cores predominantes. Com o valor do N do SPT obtido em cada metro, os solos são classificados,
quanto a compacidade (solos grossos) e consistência (solos finos), conforme mostram as Tabelas
10.1 e 10.2.
Tabela 10.1 - Classificação segundo o SPT, para solos arenosos (NBR 6484)
Solo SPT Designação
N
<= 4 Fofa
5-8 Pouco compacta
Areias e siltes arenosos 9 - 18 Medianamente compacta
19 - 40 Compacta
>40 Muito compacta
Tabela 10.2 - Classificação segundo o SPT, para solos argilosos (NBR 6484)
Solo SPT Designação
<= 2 Muito mole
3-5 Mole
Argilas e siltes argilosos 6 - 10 Média
11 - 19 Rija
>19 Dura
Nº DOC.: 242/01
LOCAL: SONDAGEM: SP - 14
PEN ETRAÇÃO (GOLPES/30cm ) PERFIL GRÁFICO N ÍVEL COTA PROF. DA
2 1
0,00 1,30
1
2 3 Silte argiloso com areia fina e pedregulhos, marrom
3 2
2 avermelhado, mole a médio.
7 8 N 0,00 2,60
ã 3
3 4 Silte arenoso (areia fina e média), com pedregulhos,
o
variegado (vermelho), medianamente compacto a
10 11
4 e compacto.
5 4
n
18 22 c
5 o 0,00 5,00 5
6 n
Profundidade (m)
8
Silte argiloso com areia fina, variegado (róseo), rijo.
13 16
8
9
9
15 15
9
10 10
12 13
10
11 11
0,00 10,60
15 15
12 11
12 Silte argiloso com areia fina e pedregulhos,
variegado (róseo e vermelho), rijo a duro. (Alteração
14 15 de rocha).
13 12
13
23 27
14
13
14
26 28 15
0 10 20 30 40 14
15 0,00
N1 e N2 (SPT) 14,45
29 31
15
16
19 Proprietário
20
ENGº. RESPONSÁVEL: / /
perfuração deverá ser interrompida e passa-se a observar a elevação da água no furo até a sua
estabilização, efetuando-se leituras a cada 5 minutos, durante 15 minutos no mínimo. As leituras são
efetuadas utilizando um pêndulo ou pio elétrico. Sempre que houver paralisação dos serviços, é
obrigatória a verificação da posição do nível d'água tanto no início quanto no final da paralisação.
Atualmente tem-se utilizado um parâmetro chamado RQD (Rock Quality Designation), para
expressar a qualidade das rochas. O RQD é dado pela relação entre a soma dos comprimentos dos
testemunhos com mais de 10cm dividido pelo comprimento da manobra. A Tabela 10.4 apresentada a
classificação da rocha em função do RQD.
10.2.1.7. Amostragem
di − d p
Fi = < 1 a 3%
dp
(10.1)
Relação de áreas: para minimizar a perturbação estrutural do solo, a parede do tubo não
deve ser grossa, não devendo também ser muito fina, para que, não ocorra flambagem ou
amassamento do tubo durante a cravação. Para satisfazer essas exigências deve se ter uma relação de
áreas, dado pela eq. 10.2, com valor inferior a 10%. Nesta equação, d e corresponde ao diâmetro
externo do amostrador.
2 2
de − d i
Ra = 2
<10 %
di (10.2)
112
L (10.3)
R = ⋅100
H
di
dp
de
Existem diversos tipos de amostradores de parede fina (shelby, pistão, sueco, Deninson, etc),
sendo cada um deles indicado para uma determinada condição e tipo de solo. Os amostradores mais
usuais são descritos a seguir:
b) Amostrador de Pistão: é indicado para solos coesivos muito moles, siltes argilosos e
areias. O amostrador é constituído de um pistão ou êmbolo que corre dentro do tubo de parede fina
melhorando bastante as condições de amostragem, atingindo com facilidade 100% de recuperação da
amostra (comprimento da amostra igual ao comprimento cravado do amostrador), mesmo em solos
de difícil amostragem. A fig. 10.12 apresenta o amostrador de pistão.
O papel alumínio reduz o atrito entre a amostra e as paredes do tubo permitindo a obtenção
de amostras com vários comprimentos. Esse amostrador permite uma sondagem contínua do
subsolo.
Os resultados do ensaio de cone, isto é as relações entre resistência de ponta (qc) e razão de
atrito (atrito lateral /resistência de ponta) permitem obter a classificação dos tipos de solos
encontrados, através do gráfico da fig. 10.18, apresentado por Schermertmann.
117
Os dados permitem obter, ainda, boas indicações das propriedades do solo, ângulo de atrito
interno de areias, e coesão e consistência das argilas. Foi Meyerhof (1956) quem inicialmente propôs
uma correlação do tipo qc = nN, entre a resistência de ponta (qc) e N número de golpes para cravar
30cm finais do SPT. O autor acima sugeriu para as areias um n = 4 (qc em kgf/cm2). Com base nesta
relação foi elaborado o gráfico da fig. 10.19 que estabelece as características de resistência ao
cisalhamento e de deformabilidade de areias e argilas em função dos resultados do SPT e da
resistência de ponta do CPT. Entre as experiências brasileiras menciona-se a desenvolvida por
engenheiros do grupo “estaca franki”, que com base em grande número de ensaios, chegaram aos
valores de qc/N, apresentados na Tabela 10.5.
Hoje os ensaios de CPT são realizados tendo as medidas de resistência lateral e de ponta
feitas de forma automatizada. Isto permite, além de uma maior facilidade no armazenamento e
tratamento dos dados, uma execução mais contínua do ensaio. Também outras medidas estão sendo
acrescentadas ao ensaio, como medidas de pressão neutra, que permitem estimar parâmetros
hidráulicos e de adensamento dos solos estudados. Mais recentemente ainda, sondas CPT vêm sendo
dotadas de equipamentos para medir a resistividade, pH, concentrações de gases voléteis do solo,
etc, sendo os dados obtidos utilizados no diagnóstico de áreas contaminadas (vide fig. 10.16b).
O ensaio consiste em cravar a palheta e em medir o torque necessário para cisalhar o solo,
segundo uma superfície cilíndrica de ruptura, que se desenvolve no entorno da palheta, quando se
aplica ao aparelho um movimento de rotação. A instalação da palheta na cota de ensaio pode ser
feita ou por cravação estática ou utilizando furos abertos a trado e/ou por circulação de água. No
caso de cravação estática, é necessário que não haja camadas resistentes sobrejacentes à argila a ser
ensaiada e que a palheta seja munida de uma sapata de proteção durante a cravação. Tanto o
processo de cravação da sapata, quanto o de perfuração devem ser paralisados a 50cm acima da cota
de ensaio, a fim de evitar o amolgamento do terreno a ser ensaiado. A partir daí, desce apenas a
palheta de realização do ensaio. Com a palheta na posição desejada, deve-se girar a manivela a uma
velocidade constante de 6°/min, fazendo-se as leituras da deformação no anel dinamométrico de
meio em meio minuto, até atingir o momento máximo. Em seguida deve-se soltar a mesa e girar a
manivela, rapidamente, com um mínimo de 10 rotações a fim de amolgar a argila e em seguida é feito
novo ensaio para medir a resistência amolgada da argila e com isto, determinar a sensibilidade da
argila (resistência da argila indeformada/ resistência da argila amolgada), conforme já apresentado
nesta apostila.
Para o cálculo da resistência não drenada da argila deve-se adotar as seguintes hipóteses:
Drenagem impedida: ensaio rápido;
Ausência de amolgamento do solo, em virtude do processo de cravação da palheta;
Coincidência de superfície de ruptura com a geratriz do cilindro, formado pela rotação da
palheta;
120
T = M L + 2MB (10.4)
1
ML = πD2 .H.c u
2 (10.5)
π
M B = D 3c u
12 (10.6)
6 T
cu = .
7 πD3 (10.7)
Diversos fatores podem afetar os resultados obtidos com o “vane test”, dentre eles
destacam-se a velocidade de rotação diferente da estipulada, não homogeneidade da camada de
argila, as hipóteses de superfície cilíndrica de ruptura e distribuição de tensões uniforme se
afastando das condições reais. Na realidade, a superfície de ruptura obtida em um ensaio de palheta
não é cilíndrica, pois acredita-se que as zonas próximas à palheta podem estar sujeitas a tensões mais
altas, com concentração nas extremidades das aletas, provocando, portanto, uma ruptura
progressiva. A presença de pedregulhos, conchas ou areias, podem afetar fortemente os resultados,
acarretando valores mais elevados da resistência ou danificando a palheta. Valores mais baixos que
os reais são possíveis em argilas moles amolgadas devido ao processo de cravação.
Este ensaio é usado para determinação "in situ" do módulo de elasticidade e da resistência ao
cisalhamento de solos e rochas, sendo originalmente desenvolvido na França pelo engenheiro
Menard.
O ensaio pressiométrico consiste em efetuar uma prova de carga horizontal no terreno,
graças a uma sonda que se introduz por um furo de sondagem de mesmo diâmetro e realizado
previamente com grande cuidado para não modificar-se as características do solo.
O equipamento destinado a execução do ensaio, chamado pressiômetro, é constituído por
três partes: sonda, unidade de controle de medida pressão - volume e tubulações de conexão (fig.
10.21). A sonda pressiométrica é constituída por uma célula central ou de medida e duas células
extremas, chamadas de células guardas, cuja finalidade é estabelecer um campo de tensões radiais em
torno da célula de medida. O comprimento total da sonda é da ordem de 60 a 70cm e o da célula
121
central de medida é cerca de 20cm. A unidade de controle é a parte do sistema que fica à superfície e
contém, um depósito de CO2, manômetros para medir a pressão e dispositivo de controle.
Fase inicial: corresponde ao intervalo da curva em que há reposição das tensões atuantes
e colocação em equilíbrio do conjunto sonda- perfuração - terreno;
Fase elástica: muitas vezes esta fase não é visualizada com clareza e ocorre para baixas
pressões;
Fase pseudo - elástica: ocorre deformações lineares e é onde define-se o módulo de
deformação ou módulo pressiométrico (Ep);
Fase plástica: as deformações aumentam ultrapassando o limite de plasticidade do
material, sendo determinada a partir da pressão de fluência. (Pf);
Fase de equilíbrio limite: as deformações chegam a ser muito grandes, tendendo a um
valor assintótico, denominado de pressão limite (PL).
O módulo pressiométrico é obtido na fase pseudo - elástica da curva, através da eq. 10.8:
p 2 − p1
Ep = 2,66.(v o + v m ).
v 2 − v1 (10.8)
onde: vo = volume da célula de medida no repouso; vm = volume médio do ensaio dado por
(v1+ v2)/2; v1 e v2 = volumes de água injetados, correspondentes aos pontos iniciais e finais da fase
pseudo-elástica da curva pressiométrica; p1 e p2 = pressões correspondentes aos pontos
anteriormente referidos.
A Tabela 10.6 indica a ordem de grandeza entre valores de Ep e PL dos principais tipos de
solo.
Ao passar uma corrente elétrica (I) através dos eletrodos A e B, e medir a diferença de
potencial (∆V) criada entre os eletrodos M e N, obtém-se a resistividade através da fórmula:
124
K⋅Δ V
ρ a=
I (10.9)
A resistividade (ρ) pode ser definida como sendo a maior ou menor facilidade com que uma
corrente elétrica se propaga por um material. Os valores de resistividade são afetados pela presença
de água, pela natureza dos sais dissolvidos e pela porosidade total do meio. Os resultados são
tratados com o auxílio de um software.
A técnica sísmica do cross-hole, ou transmissão direta entre furos, tem como principal
objetivo a medida, em profundidade, das velocidades de propagação das ondas de compressão (p) e
cisalhante (s) de um furo de sondagem equipado com um martelo, a outro equipado com um geofone
(GIACHETI, 1991).
As velocidades das ondas de compressão e cisalhante são determinadas através da medida do
tempo requerido para o impacto percorrer a massa de solo e ser captado pelo geofone colocado a
uma distância, em geral não excedente a 8 metros da fonte. Assim, a partir da obtenção das
velocidades de propagação das ondas e do peso específico do solo é possível estimar os módulos
cisalhante e de deformabilidade, segundo as formulações abaixo:
G = VS2 γ (10.11)
E = 2VS2 γ (1 + ν ) (10.12)
ν =
(V − 2 V )
2
C
2
S
2(V − V )
2 2
C S (10.13)
onde:
G = módulo cisalhante dinâmico (MPa)
E = módulo de deformabilidade dinâmico (MPa)
ν = coeficiente de Poisson
Vs = velocidade de propagação da onda cisalhante (m/s)
Vp = velocidade de propagação da onda de compressão (m/s)
γ = peso específico médio do solo (kN/m3)
A técnica de GPR vem sendo utilizada nos últimos anos com maior ênfase na identificação de
patologias em estruturas de concreto armado, localização de estruturas enterradas, diagnóstico de
áreas contaminadas, monitorização, levantamento de perfis geotécnicos, etc. O ensaio consiste
emissão de um pulso de onda eletromagnética, de forma e duração conhecidos, e do
acompanhamento do retorno destes pulsos à antena receptora. Sempre que o meio muda as suas
propriedades eletromagnéticas, há reflexões e refrações do pulso de onda emitido que indicam esta
mudança. Embora o ensaio seja pontual, a execução de uma série de ensaios com um determinado
125
(a) (b)
Figura 10.24 – Equipamento de GPR. (a) Antena de 1 Ghz e (b) CPU para aquisição dos
dados.
Figura 10.25 – Resultados obtidos a partir da técnica de GPR aplicada a uma laje de
concreto.
126
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA