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, —_ ~ O PAPALAGUI Certara es UTC AyTA chefe de tribo de tiavéa nos mares do sul Semanal Set f ie | ( J Bee ORCS ANRC ores Tree ees ANODITMAS € ANTIGONA eee Tulsi de Tavs Uso com 2 sus compastena Introdugao O .repateguin — on sea 0 Branco, 0 Senbor — & este 0 nome dado cos discursos do chefe de tribo Tuiasti de Tiaséa, nor mares do Sul. Tuiavit nunca texe intencéo de publicar esses discursos na Europa, nem sequer de os mandar imprimir; destinaeam-se unicamente dos seus compa iota: polinévog. Se eu, apesar disso, transmito aos leitores europeus os dis: na, sem que ele 0 saiba e certamente contra sua vontade. & porque estou convencido de que nos vale a pena, 4 nbs, homens brancos ¢ csclarecidos, ter conbecimento do mado como w iduo ainda intima: mente ligado 2 natureza nos v2 a nds ¢ 2 nossa cultura. Através dos seus cbhos descobrimot # nosia propria imagem. ¢ isso com uma simplicidade que j8 perdemos. Os leitares particularmente fanéticos da nossa civilizagdo Indo decerto achar a sua mancira de ver ingénus, ¢ até mesmo puerl. ou parva; no entanto, mais do que uma frase de Tuiavii deixaré pensativo 0 leitor mais modesto, pois a sabedoris-de Tuiarit ndo emana de um saber cenadito, meas é mais uma inocéncia de fonte divina, Representam estes dicurios um apelo cos povos dos mares do Sul para que quebrem todos os elos com os povos esclarecidos do continente euro, peu. Tuiani, depreciador da Europa, acolensava 2 profunda conviegto de {ue 0 pior ero cometido pelos seus antepasiados fort 0 de crer que @ luz da Europa lhes aria a felicidade. Como aquela virgem de Fagaza que do alto dot rochedos expuliou 0 primeiro missionario com seu leque: «Fore dag dersénio malfazejo!r, também ele vis na Europa o negro deminio, o prin ‘ipio destruidor de que devia proteger-se, se quisesse consercar @ sua ino- ‘Quando conbeci Tuiavi, vivia ele, pacificamente, isolado do mundo europeu na longingua ithota de Upolu. pertencente ao grupo de Samoa. ns ’ aldeia de Tisvts, da qual ers o senbor ¢ 0 chefe de sribo mais proeminente ‘A primeira impressio que dava era a de um gizante enorme ¢ benévolo. Ti nha quaie dois metros de alturs e uma robustez excepcional. A vox, pelo ‘contrrio, ettava imepregnada de ternura e meiguice como a de sina mulber. Os seus grandes olhos escuros e cavados, sombreados de espessas sobrance- Uhas, tinbam algo de fascinante ¢ de parado. Mas quando Ibe dirigiemos a palevra, brilbavare calorotemente, iraindo ums alma limpida e boa. ‘Quanto ao resto, Tuiavit em nada se dstingwia dos text irmos indlge ax, Bebia 0 se1 kava('), iz de manbi e 2 tarde ao loto('), comia bananas, tires, inhames, ¢ respeitars todos os usos e costumes da sua terra natal. Sé or seus confidentes sabiam 0 que the fermentava no espirito, sempre em Busca de mais luz, quando ele se deixava ficar deitedo sobre a etteira de sus casa. de olbos semicerrados numa expécie de devancio. Enquanto qué o indigena vivia em geral como uma crionga, apenas sob 0 império dos Sentidos, inteiramente no presente « sem tomar consciéncia desi mermo nem do que de perto ox de longe 0 rodeava, Tuizvt, este, ers tim ser fore do normal. Dominaea, de longe, os seus semelbantes, porque inka a consciéncia de ser, esa fora interior que acima de tudo nos distin. gue das tibos primitives, Foi provavelmente devido a essa sua natureza excepeional que Tuiavii sentiu desejo de conbecer 2 longingua Europa: ainda ele frequentava a eico Ja mistionaria dos maristas e jd exprestana ete ardente desejo: tal v0t0, con ‘indo, 18 viria a realizar-se na idade adults. Juntando-se a um grupo que riajava através do continente, preparando a eVélkerschas('), exia criatura sedenta de experiéncias visitou, umm opés outro, todos os paises europeus ‘sim adguinu conhecimentos precisos sobre 0 modo de vide ¢ a cultura ddesies paises. Tine, mais de uma vez, ocasiéo de me espantar coms @ precisao dos seus conbecimentos, no respeitante a coisas aparentemente insignifican tes. Tuiavii rinba um apuradtssimo dom de observerlo, observapdo ests que ors sempre neutral ¢ isenta de preconceitos. Nada o faria cegar, nem afi. tarse da verdade. Ele via. por assim dizer, 0 ser em si, muito embors em toda e qualquer reflerdo, nunca se devviaste do seu préprio ponto de vinta Embora eu tivesse sivido mais de um ano a seu lado — era membro da comunidade da sua aldeia — Tuiavit s6 s¢ abria comigo quando conteguia absirair-se Por completo, ou até esquecer, 0 Europes que eu era, ou 22/8, ‘quando nos tornémos amigos, quando ele se consencen de que ex atingira 4 necersiria maturidade para compreender a sua sebedoria simples ¢ que no ira rit-me dela (0 que jamais fir). S6 ensto é que ele me leu alguns Aragmentos das nota: que tomara, Lis-mas sem énfase ¢ sem esforro orat ‘i, como se 0 que tinha para dizer foe dé certo modo histérco. Mas foi brecisamente esta mancira de ler que a mim me fez sentir tanto mais purat __ 1 claras as suas palavras, e me deu vontade de as passer para o pepel. 6 S6 muito mait tarde € que Tuiavii me passou af suas notas ¢ me per- mitiu que as traduzisse para aleméo, tradugdo essa que, segundo ele cria, iria servir unicamente para comentarios pesioais ¢ nunca como um fire em Ih, Todos estes discursos s30 apenas fragmentos. esbozos, Ele ndo queris ini- tiar a sua uobra de micioy na Polinésia — era assis que the chanaava — sem que a matéria dessas reflexies estivesse perfeitamente ordenada no seu espirito « absolutamente clara. Fui forgado a deixar 2 Oceania antes de ele ter partido em viagem de missio. “Apeser de preocubssdo que tive em treduzir 0 texto orginal do modo mais fiel possivel e de me ndo ter permitido mudar, nem ao de Je or- dem dos assuntos sratados, apessr disso, recomhero que o cardcter int e (0 lado directo do seu disurso perderam muito da sua intensidade. Aqueles que sabem das dificuldades que bd em traduzir pare alemdo uma lingua primisiva e em recriar as suas expresses ingénuas sem Ihes dar um ar banal e insonso, de boamente me perdoarao. Acha Tuiavii, esse insular sem cultura, que todas as conquistas culturais do Europen io passam de eros, de bécos tem safda. Isto poderis parecer Presume 0m foe de epor tado com tne marti ipl, ‘espelho de wie coragao bumilde. 'E carto que poe of seus compatrotas em guards e qxe spele para 4 sua capacidade de se ndo deixarem fascinar pelo Branco: fa-lo, porém, com a to: da afliae, testemunhando aim que 0 seu zelo misionsro 2 fraso do seu amor ¢ néo do seu ddio ao homem. Julgais que nos trazeis a luz». dizia-me ele no nosta iilsimo encontro, «mas, na verdade, gostarieis de nos Sirait para of vosias evan. Encara 23 coos © os acontecimentos da vide com & bpa fé eo amor 5 verdade de uma crianga e, farendo-o, esharra com contradizdes e descobre profundas carénciss moras, 5 quats enamera ¢ re ‘inemors, adicionando-as 2 sua experiincia. Nao consegue entender em que 2 que consiste 0 grande valor da cultura europea, se esta afasts 0 bomen: desi mesmo ¢ 0 torna falso, desnatunado, mau. Principiando por assim di- ‘er pela pele, pelo nasi aipecto exterior, 4 enumerar 31 nasi conguitt, designando-as com a primeira palaora que the ocorre, de uns modo perfeita: mente antiuropen ¢ sem 0 minimo respeito, vai-nos revelando o teatro um ‘ento limitado do nosso proprio ser, « pontor de nos leeara pensar se serd 0 autor, se a pega de teatro que & risivel. Ea rnen ver, nesis franqueza ingénua e nessa falta de respeito, que ‘para nbs, Europens, side o valor dos discurios de Teiaviie a raxdo de ser {fa sua publicgzo, A guerm mundial() tormou-nos cépticos perante 25s préprios: também nbs com terrogar-nos sobre 0 verdadeiro con- teido das colar, a por em diwida a 7 aici deta calbura. Nao not consideremas, pot. demasiado cuitot ¢ de Farmar par tina vex dat alters do nosso espiito até ao modo simples de 7 sem vida, Erich Scheurmana De como o Papalagui cobre as carnes com intimeros panos e esteiras ser e de pensar deste insular dos mares do Sul que, liberto sinds do fardo ds insirugdo, ¢ ginda autintico na tua maneira de sentir e de olhar, not aja. da a enzender como perdemos 0 sentido sagrado do homem eriando tdolos , i , ds opr de So, opr srt dosh de Kane 20 Impede lemonade en rarer O Pepalagui esforga-se 0 mais pos sivel por bem cobrir as suas carnes. como quando sai, muito embora uma ¢ ourra sejam exacramente 0 mesmo Hi um grande batente de madeira aque temos que empurrar com toda a forca antes de poder penetrar na cx bana. Mas isso € s3 um comeco: 50: ‘mos obtigados a empurrar mais uns quantos batentes € 56 depois € que ficamos realmente dentro da cabana. ‘A maior parte das cabanas é habi: ada por maior aGmero de pessoas do que as que hd numa s6 aldeia de Samoa. f preciso. por iso, exactamente 0 nome da aiga(') que se quer visiar. Porque cada sige ‘ocupa a sua propria parte do bati de pedra, no cimo, em baixo ou a meio, 3 direita, 4 esquerda ou mes- ‘mo em frente. Além disso, na maior parte das veres, uma aiga nada sabe a outra, mas mesmo nada, como se entre elas houvesse, no apenas uma ede de pedra, mas Manono, Apo: Savaii() ‘€ intimeros mares Muitas vezes mal sabem 0 nome das ‘que Ihes esto 20 lado ¢ quando se encontram, a0 entrar para 0 abrigo, cumprimentam-se de mé vontade ou zunem, quais insectos hostis, como se estivessem zangadas de se verem Gonswangidas 2 wee perto uma Quando uma aiga mora li em’ci- mma, junto 20 telhado da cabana, te- mos que tepar em ziguezague ou 3 roda. através de varios ramos, antes de chegar ao sitio onde o nome da ‘aiga estiver escrito na parede. Veros entio uma graciosa imitacio de um mamilo de mulher, 0 qual devemos premer até soar um grito que faci vir a aiga, Esta, gragas 2 um bura- quinho tedondo ¢ gradeado aberto na purede, vé se nfo se trata de um inimigo. S6 depois abre. Se reconhe- ce um amigo. desprende logo um grande batente de madcita solida- por essa fresta na cabana pro- priamente dita Esta € novamente cortada por ing meras € rijas paredes de pedra e as- sim continuamos 2 insinuar-nos de barente em batente, a passar de um bag para outro bai cada vez mais pequeno. Cada bai —a palaguichama_ sala — se for grande, dois ou mais buracos. Esses buracos sio capados com vidro, que se pode afascar para fazer encrar ar fresco nos bails, coisa assiz neces- séria, Hi, no entanto, muitos bats sem buracos para 0 ar ¢ para 2 luz. Um Samoano depressa sufocatia num bad assim, onde ndo passasse 4 fresco, como acontece em rodas 2s cabanas de Samoa. Além disso, os cheiros da cabana-cozinha também tém que sair. O ar que vem de fora melhor; € quase in- uum homem ni que the aio cressam asis para poder tomar impulso ¢ levantar vo tumo 20 ar livee e 20 sol. Pois, mes- mo asim, 0 Papalagui gosta dos seus bats de pedra e nfo se apercebe de quanto eles s¥o malsios. mento dos visitantes; hi outro que serve para dormir. £ ai que se pdem as esteras, isto &,,que se as estende sobre um estrada’ de madeira com 2 fim de que o ar pase delas. Num terceiro bad, as refeigdes ¢ fazem-se nu- imo; Mo quarto, guardam- limentos; cozinhase,n0 quin- to, € toma-se banho no iiltimo, que £0 mais pequesio, eytambém 0 mais belo cubfculo. Esti enfeitado com 5 €, mesmo’ap meio, hi uma grade bacia de meal ou pedra na| qual corre gta fria ou agua aqueci da ao sol. £ nesa grande bac maior mesmo do que 9 belo eérau! de um chefe de ribo, que uma pes soa se mete, para limpar ¢ lavar 0 seu corpo de toda a pocira dos bai Cabanas hi, € claro, com maior ni- mero de bais. Como também hi cx Danas onde cada crianga, ¢ cada se vo do Papalagui, possui 0 seu pro- prio bad. Hi-os'aié para os cies ¢ para os cavals, pois nestes bats que o Papale- ui passa a vida. Encontrase, con- Soante a hora, ora num, ora nowtro bad. B af que crescem os seus filhos, entre pedras ¢ muito acima do chio. 3s veres mais alto do que 0 cimo de uma grande palmeita, De vez em quando 0 Papalagui deixa os scus bas privados, como cle thes chama, ‘vai acé outro ba6 destinado aos ne- onde nfo quer que o inco- ‘¢ onde mulheres ¢ filhos so veis. Enquanto isso, as rapa- rigas e a5 mulheres preparam 25 re- feigBes na cabana-cozinha, dao bri- Iho 4s peles para os pés ou lavam os panos. Se os Papalaguis sio ricos ¢ podem dar-se a0 luxo de ter criados, sio estes que faze wwabalhos enquanto 0s Papalaguis vio fazer vi- ou procurar novas provisdes de entos. Hi, na Europa, tantos homens a viverem deste modo quantas palmei- ras hi em Samoa, ov mesmo muitos mais. Alguns hio-de ter, por certo. uum desejo ardente de ver a floresta, ol ¢ 2 luz; mas isso € geralmente lo por docnsa a precisar de remé- Quando alguémyse nfo mostra contente com aquela vida vivida nd meio das pedras, dizem: «B umn in- riduo desnatufador, 0 que quer dizer: ignora o que Deus destinow para o homer, Esses baGs de pedra encontram-se em grande niimero € muito préxi- mos uns dos outros; nenhuma dev re, nenhum arbusto os separa; ea- contramse ombro 2 ombto, como homens, ¢ em cada um deles hé tan- os Papalaguis como numa aldeia de Samoa. Do ouzo lado, 2 distincia v7 de uma pedrada, encontra-se uma outta fila de bads, igualmente om- bro a ombro ¢ habitados por ho- mens. Enere essas duas filas ha uma cestrita greta a que o Papalagui cha- sma eruas. Essa greta €, 3s vezes, (80 longa como um rio e coberta de pe- dras duras. Muito se tem que andai primeico que se encontte um sitio mais desafogado: mas € af precisa. mente que vém desembocar outras grews. Tém o mesmo comprimento dos rios de agua doce ¢ as suas aber- ruras laterais sio outras rantas gretas de pedra, semelhantes as demais Pode-sc assim deambular dias intei- tos entre essas gretas antes de se dar com uma florestz ou um naco de eéu azul. Nunca, no meio das gre- tas, se vé, oa realidade, a cor do céu. E que em cada cabana hé pelo ‘mens um, ¢ por vezes vicios sitios onde se faz fogo, ¢ assim o ar esté sempte cheio de fumo ¢ de cinza, como acontece durante a crupgio da grande cratera de Savail, Esse ainsi fnua-se pelas greta, de modo que os bats de pedra mais altos parecem-se ‘com 08 limos dos péntanos de «man- groves, ¢ os homens apanham com terra negra n0s olhos ¢ nos cabelos € com arcia dura nos dentes. Mas isso io impede que os homens percor- fam as fais gretas desde manha até noite. Alguns sentem mesmo com isso um especial prazer. Em ccrtas Bret reina a confusdo: escoam-se os omens pot clas como espessa vasa Sto as ruas que comporram enormes caixas de vidro onde estio dispostas todas a8 coisas de que o Papalagui necesita para viver: panos, orna- ‘mentos para a cabega, peles para os és e para as macs, provisses de co- ida, care, alimentos 2 sto como sejam os faitos, 06 legumes, © muic mais. Tudo para isso & preciso ter recebido uma licenga especial e feito uma oferenda, Nessas gretas. 0 perigo ameaca por todo 0 lado, pois no 56 os homens caminham em tropel, como cite € galopam a cavalo em todas as di- recgdes ou se fazem cransportar em grandes bais de vidro que deslizam sobre rampas mecilicas. © barutho é enorme. Fica-se sudo dos ouvidos, pot viz dos easeos dos cavalos e dos péS dos homens coberos de peles dras, que ferem as pedras do chio. HR criangas 2 gritar, hé homens a stitar de alegria ou de terror, grica toda a gente! S6 aos gritos € que , « «Di-me um pouco mais de tempor —tais sto os queixumes do homem branco peje Lap uae Dizia eu que se deve eratar de uma espécie de doenca... Supoahe- mos, com efeito, que um Branco tem vontade de fazer qualquer coisa € que o seu coragio arde em desejo ue. por exemplo, the ape- se 20 sol. ou ander de canoa no rio, ou ir ver a sua bem- famada. Que faz ele encdo? Na maior parte das vezes estraga 0 pra- zet com esta idcia fora: «aio tenho tempo de ser felize. Mesmo dispon- do de todo 0. tempo que queira, rnem com a melhor boa vontade o econhece. Acusa mil ¢ uma coisas de Ihe tomarem o tempo ¢, de mau grado ¢ resmungando, debrugase sobre o trabalho que no tem vonta- de nenhuma de fazer, que no the dé qualquer prazer ¢ que ninguém, a nfo ser ele proprio, o obriga a fa- zet, Quando de repente se di conta de que tem tempo, que tem real- mente todo 0 tempo a sua frente, ou quando alguém the dé tempo — os Papalaguis dio frequencemen te tempo uns 20s outros, € mesmo 4 que mais apreciam —, nessa ‘ou jf ao cem wontade, ot jf 4E cansou desse trabalho sem alegtia. Egeralmente deixa para 0 te o que podia fazer no préprio cerendem alguas Papalaguis que nunca tém tempo. Correm desvaira- dos de um lado para 0 outro como Se estivessem possuidos pelo ait) € ‘causam terror ¢ desgraga onde quer ‘que cheguem, s6 porque perderam 0 seu cempo. Esse estado de frenesi ¢ deméncia € uma coisa terevel, uma doensa que nenbum homem de me 35 5 dicts pode cume, docaga que atio- | um individuo nfo tem a minima enconero. Corre sempre atts dele de di hor homens ¢ que os kre lrasZo pelo tempo, s6 estamos _bragos estendidos, no Ihe concede 0 ‘0 nosso com lel» pra. ssa. Quin. E EF sem obecados pelo medo foe Oe eeaeeamee cae ee oe Ge de perderem 0 seu tempo, codos os de me vires per. ‘EM - que no se queixava de estar a sempre o tempo a0 pé de sh para Pepelaguis —sciam homens, mu: urbar! Nio tenho tempo! eu, tata —_-etder tempo e que o tinha de so- Ihe cantar ou contar qualquer cols. Iheres ou criancas de tenra idade —, de empregar bem o teuls Tudo se bras mas esse era pobre, sujo ¢ des Mas o tempo € ealma, ¢ sabem com exactidio quantas passa como se 0 que anda depressa -—«~Prezado. As pessoas. desviavar: a de 05 ver - osol ea lua desde que tivesse mais valor ¢ bravura do que 0 idos na nossa esteira, O Papala~ gui nao se apercebeu ainda do que 0 pois ele andava devagar € tempo & no o compreende. E por olhar sortidente, calmo ¢ bondoso. isso que o malerata, com os seus mo- Quando the perguntei qual a razio dos rudes. disso, 0 seu tosto crispouse ¢ tes pondeu-me com vor triste: «Nunca soube empregar o meu tempo de rmaneira dtil;€ por iso que ndo pas- so.de um pobre-diabo desprezado por toda a gentels Aquele homem tioha tempo, mas nem mesmo cle cra feliz ‘ © Papalagui® emprega ‘todas. as suas forcas, bem coma, sua eapaci- dade de ratiocinio, em tentar ganhar tempo. Utiliza 2 gua, 0 fogo, 2 tempestadé e os relimpagos para pa- rar 0 tempo. Pbe rodas de ferro nos do di que vai devagae sentiam envergonkados quando, 20 perguntarem-me a idade que cinha, eu no era capaz de responder a al perpunta. que s6 me dava vontade de fir! «Mas ndo podes deixar de sa ber a tua idade!» Eu calava-me, pen: sando para comigo: mais vale ato saber. Ter uma idade, quer dizer: ter vi vido um determinado nimero de tas, Isto de se perguntar qual 0 ni. mero de luas apresenca grandes peri- gos. pois foi assim que. se acabou Vi um homem cuja cabega és ¢ da asas as palavras, $6 para ga- ee ee ee te ee eee calaeaiaeue aac em geral 2 vide dos homens. Ora ente do vermelho 20 ra? Como € que o Papalagui empre- nunca nos queiximos do tempo. acontece que cada um, sempre mule homem que rolava of 2 0 seu tempo? Nunca percebi amamorlo ¢ acolhemo-lo tal como olhos' em todas os sentidos, que ‘uito bem, embora, pelos seus ges- ele era, nunca covremos abria 2 boca como um peixe que val tos ¢ palavras, sempre me tivesse da- nunca tentémos amalgamé- ad oe re re ad eo ~ tarda muito que cu no morrals Na- morrer ¢ batia com os pés ¢ com as do a impressio de alguém que 0 télo em pedasos. Nunca ele nos da mais entéo Ihe causa alegria ¢, de mos, tudo porque o seu ctiado Grande Espirito tivesse convidado deixou desesperados ou acabrunha- facto, acaba por morer dai a pouco gara um. pou ais tarde do que para um foro, i dos. Se algum de nés ha af a quem tempo. tha prometido. Esse atraso minimo ‘A mea ver, € precisamente por 0 falce tempo. que diga! Todos 6s 0 Raros sio os que, na Eutopa. dis- represeatava para o amo uma perda Papalagui tentar reter o cempo com possufmos em quantidade, no te- Bem realmente de tempo. Ou tal- enorme ¢ irteparivel. O criado teve as mios, que ele se Ihe escapa pot mos razdes de queixa. Néo precisa vez nem sequer existam. £ por isso entre 05 dedos, como uma sempente mos de mais tempo do que 0 que que eles passam a vida a correr 3 ve- Papalagui expulsou-o, dizendo: designa algo que s6 percence. Diz pois o Papalag respeito de tudo. quanto s¢ enc ‘as imediagSes da sua cabana: isto € 40 meu. Ninguém, a nio ser cle, tem dircito Aquilo. Por toda a parte onde 4s quanto vejas junto do Papalagui. seja frato, 4rvore. ribeiro, floes ou um monte de terra, sem: pre ele te diré: elseo € meu! Toma cautela, ndo toques 0 que te 30 pereencels E se eu, mesmo ass cares, desata a gritas, 2 cham. drfo, 0 que € um tetmo particular- mente humithante, ¢ nado isso 36 porque te aueveste a tocar num «mew do teu préximo, Entio, os seus amigos, ¢ bem assim os servos dos chefes de tribo de mais alea es- tinpe acortem, acortencam- =e pata 0 fale pui pai, ¢ eis-ce pros crito para 0 resto dos teus dia. Hii leis especiais que fam com ptecisio a quem pertencem os virios emeuse, para que ninguém desace a tocar nas coisas que outra pessoa de- clarou percencerem-the. Hi na Euro- pa seres humans que ttm por Gnica ocupagio velar por que ninguém transgrida essas leis, ou seja, nin- guém tire 20 Papalagui aquilo de que cle mesmo se apropriou. Com isto, quer o Papalagui convencer-se 2 rio que obreve um verdadeiro como se Deus Ihe tivesse de- finitivamente cedido a sua propric= dade, como se fosse a cle, ¢ néo & Deus, que as palmeiras, a8 arvores, as flores, 0 mar, 0 céu ¢ as nuvens pertencem, Papalagui é obrigado a tex estas leis ¢ estes guardas para as seus inG- meros emeus, a fim de que aqueles ‘que tém poucos ow nenhiuns «meus» se nfo apoderem deles. De facto, ‘quando uns se apropriam de muicos, ‘os outros fica sem nenhuns. Por- ‘que nem toda a gente conhece as manhas ¢ os sinais secretos precisos para se apropriar de muitos «meus Para o fazer, h& que ser dorado de tum certo caréetey: o qual ném sem- ppre_ correspond de honra que nés.temos, Aquéles que pos- stem poucos «meus, porque aio querem ‘magoar Deus riem roubar- -lhe coisa alguma, sio provavelmen- melhores de todos os Papala~ sas no 95 hi muitos, de cer ima vergonha. So incapa- es de agi de outro modo. Muitas vezes, ignoram que se comporcam mal, ptecisamente porque todos pro- sem reflectirem no que fazem, ¢ sem se envergonharem. Hi também aqueles 2 quem o pai ofere- ce todas of seus emeus» nz hora em que nascem. Deus, em todo 0 «aso, jf quase nada tem. Com isso do semeus € do «teur, os homens jf. qua- se tudo Ihe tiraram. Os raios de sol que Deus manda 2 todos, jd no sd0 tepartidos de igual maneira, pois a- guns goram mais deles do’ que ou- twos. Na imaior pan das vezcs, $6 uum pequeno némero de Papalaguis beneficia das bela € grandes pres soalheiras, mas muitos sio 0 que, na sombre, recebem apenas uns pli. dos ris de sol. Deus ja nto pode cdadeira alegria, pois jf n30 todo-pod meio do Seu grande rcino. O Papa lagui renega-o quando diz: «B tudo meu! Embora pense muito, no pensa 0 bastante para disio se dar conta. Pelo contriti, afirma que a sua maneira de proceder € honesia ¢ conforme com as leis. Mas aos olhos de Deus nio 0 é. © Papalagui, se seflecsse bem, sabetia que aquilo que nfo estamos aptos a guardar nos io pertence, que, no fando, nada hé que possa- mos conservar. Perceberia entdo que se Deus nos deu o seu vasto reino, foi para que todos nele_sivéssemos lugar ¢ af vivéssemos felizes. E esse teino era suficientemense grande pa- ra poder proporcionar a todos um equeno lugar ao sol e uma peque> fia alegria. Todos teriam, oa verda- de, um lugar debaixo de uma pal- meir, um pequeno espaco onde poisar os pés. Foi isso que Deus pre- viu e quis. Como podia ele ver es- quecido um s6 que fosse d= entre 05 seus filhos? E, a0 entanto, quantos hhomens no andam em busca do pe- quero lugar que Deus thes reservou! Como o Papalagui odo respeica os mandamentos de Deus e se-artogs 0 diseico de criac as suas propria ies, a Deus envia-the mui sua propriedade, En a degradacio, 2 po a humidade € 0 ca 08 «meuss, Entrega 0s seus tesouros & sanha do fogo ¢ da tempestade. Mas, sobrerudo, instila o medo na alma do Papalagui, a ansiedade quanto Aquilo tudo de que se apro- priou. Para que the ngo levem de noite 0 que de dia juntou, vése 0 Papalagui forcado a permanccer acordado; o seu sono nunca &, pot isso, verdadciramente profundo. Vé -se forgado a ter 25 mios ¢ 0 espltito 2 constantemente presos & ponta dos seus «meuse. Oh! como todos esses emeuse 0 atormentam a cada passo, ‘como eles exclamam entre gargall das: «Roubaste-nos 2 Deus, mas 06s agora torruramas-te ¢ fazemos-te so- fret a valer!» Mas Deus infligiu 20 Papalagui tum castigo ainda pior do que o me- do: a luta entre os que ttm pouco fou nenhum «meus ¢ os que de mui- tos se apropriaram. £ uma lura en- camigada e sem merce, a que se ta- wa noite ¢ dia, Todos eles softem com essa lura, que thes tira 2 alegria de viver. Os que sio ricos deveriam partlhar aquilo que tém, mas esses nada querem dar. Os que nada tém querem que thes déem alguma coi- sa, e nunca obtém nada. Estes, tam- bbém io € pela gloria de Deus que combarem: ou tardaram simpl mente em roubat, ou nisso se mos- raram desajeitados, ou, por tiltimo, faunea se thes propotcionou a oca- sito. Muito poucos se dio conta de que estio de facto a pilhar o ri de Deus. $6 mui ve 0 apelo de algum homem justo exortando toda 2 gente 2 restituir 0 meus 2 Deus. ‘Que pensasics vés, iemios, de um homem que, possuindo uma cabana suficientemente grande para If caber toda a aldeia de Samoa, recusasse 0 seu testo, por uma noite que fosse, 0 viandante que passa? Que pensa- rieis de um homem que, ten mos um cacho de bananas, nem tuma 36 oferecesse a0 esfomeado que Iha pede? Leio no vosso oll dignagdo ¢ veio nos vossos labios um & exactamente se comporta vida. grande desprezo. assim que o Papalag. em todas as circunstinci ‘Ainda que tenba cem ¢ tuma s6 dard a quem nenhuma cem. Antes 0 censura por nio @ poss Pode ter uma cabana cheia, de a baito, de provisBes mais que st clentes para ele ¢ part que nunca Ihe passari pe que nada tém que co- ¢ esfomcados. E, n0 encanto, slo os Papalaguis pilidos ¢ esfomeados. ‘A palmeira deixa car as folhas ¢ 08 fruros uando estes amadurecem. O Papalagui vive como uma palmeira aque cerivesse folhas efrutos, dizendo: «So meus! Nao tendes o direito de 0s apanhar ou de os comer!» Como faria cla entio, quando viessem- 0s novos frutos? A’palmeira € bem mais sensa- tado que o Papala E verdade que ent alguns hé.que cém mais do que 0 outros. Honramas, assim, o chefe de ‘ribo que possui mais esteitas © mais the este ‘aos seus porcos, que nés mesmes, ais, Ihe oferece- ‘mos como alofa, a fim de the expri- ‘mitmos a nossa alegria ¢ louvarmos 10 seu Animo valoroso ¢ 0 seu espirito Hacido. © Papalagui, esse, tem res- peito pelo grande niimeto de esteias € de porcos que o seu irmfo possui, € nio pelo seu valor ¢ inteligéncia, ‘que nfo the inceressim para nada Nao tem por assim dizer nenhum respeito por um-itmao-que nio pos: sua estes nem pores. Como as estciras € 05 porcos no Yao ter por si mesmas a casa dos po- bres e esfomeados, também nio vé 0 Papalagui qualquer razio para levacthos. E que ele nfo contra eles por causa dos «meus» ¢ teu, logo thes levaria as esteiras de ‘que necessitam para que comparti- Ihasem também do seu grande ‘meus, Partlharia sua esteira com cles, em ver de os deixar expostos as trevis da noite ‘Mas 0 Papalagui ignora que Deus ‘nos deu as palmeiras, as bananas, 0 delicioso saro, as aves da floresta ¢ os peixes do mat para ni mos deles ¢ setmos fe ‘nfo apenas alguns, enquanto os de- mais se véem forcados a viver na in- igincia ¢ oa miséria. Se Deus poe bens nas mios do ho- Deus estende as suas indimeras maos a todos os homens: nao € desejo set. que um tena muito mais do que 0 outro, ou que alguém diga: «Eu ce- ‘nho um lugar 20 sol, mas o teu lu gat, esse, € 4 sombral» Todos temos um luger ao sol, Quando Deus guarda rudo na sua mio juste, nfo hi turas nem misé- ria. O Papalagui, esse _manhoso, quer fazer-nos crct 9 $e da pereence a Deus! £ tence tudo quanto consigas-abarcer com as ruas mios!» Nao demos ouvi- B dos « estas palaveas fahamo-nos 3 nossa de que cado pertence a Deu de propriedade, whem no igo a acepeio que nds Aaguando dis minbas -mpre os indigenas partic O Grande Espirito pode mais do que a maquina Nota de Erich Scheurmann: Se eu disser go leitor que os sgenas de Samoa comunidade de entender por qu adopts uns tom de pertence @ todos. Deus. Tudo pertence a Caps FeO peneda Lap ato ieee cB a ii faz imensas coisas uma testemunha que proclama a que houver, a mo da méquina que- pastam. Apanha-os, ¢ dé-os depois a O roel ts oar fiat mre USE! EL amie nina pen es don dei que nés nunca perceberemos, que nas palavras do vosso servo, ainda parte 9 fruto do taro para dar 20s fi gole € os toma a tanpin 2 coke sob ‘slo, para a nossa cabeca, como que que o hom senso vos leve a duvidar thos. O grande mago dx Europa é 2 forma de mil estrelinhas. purlam- pesadas pedras, Sio coisas que nés do que vos digo. Porque as obras do ‘méquina, Possante é a sua mio, que pos luas ands, Seria facil pata o Pas Papalagui slo grandes ¢ dignas de munca se cansa. Consegue cortar. se palagui admiragio. E medo tenho ev que uiser, cem, ou 8 de vés percam a confianca i réprios, sabendo da existin- und, ante a noite, as 8 as de uma luz tio clara € panos to finos ¢ ma-brilhante que a gente se julgaria em como se tvesem sido tecidos pleno dia. em sem receio, essas coisas singulares cia de um cal poder. Se quisesse dedos habeis de uma mbém, amide, forsa os que o Papalzgui sabe fazer. contar-vos quanto os. meus a. Tecia de manha a noite ¢ © Papalagui tem o dom de fazer olhos viram. por onde principiar? ia tantos panos que estes se de tudo uma tanga c uma mocz.. Todos vés conheceis 2 grande ca- amontowam numa grande pilha. com uma mensagem para os seus ir. Agarra no raio fulminante, no fogo’ nea a que o Branco chama navio. Miscrivel ¢ digna de d6 € a nossa dos distantes, Os raios obedecer escaldance ¢ na Agua veloz e dom- Pois no se parece ela com um enor. forse, em comparagio com 2 enotme — levam a mensagem. 05 4 sua vontade. Aprisionaos, d&- me peixe gigante? Como € posivel forcs da maquina © Papalagui aumentou a forga de | -thes ordens; e eles obedecem, pas ele conseguir ir mais depressa de : sam a set os seus guerteitos mais va uma ilha para a outra do que uma lorosos. Sabedor de todos os seus se- das mosses canoas, conduzidas pelos ‘gredos, consegue tornar 0 raio mais fortes remadores? Reparastes na mance ainda mais pronto e cert ponca da barbatana da cauda, quan ¢ fogo escaldante ainda mais excal- do ela esti em movimento? Fustiga dante ¢ a agua veloz ainda mais ve- © remexe a Agua cal e qual como 0s loz. peixes da lagoa. Bessa grande bar- © Papalagui parece ser de facto 0 que wespassa 0 céu('), 0 enviado de Deus, pois domina céu e tera a seu ©. segredo do’ Papala- belprazer. £2 um tempo, peixe, gui. Um segredo oculto no bojo do peisaro, verme ¢ cavalo, Faz buracos igance. & af que se encontra a fa terra, através da terra e por baixo ‘que da tanta forga 2 barba- dos mais largos vios. Insiqua-se por tana, e € a maquina que en ‘entre rochas ‘© montanhas. Amara da essa forsa. ‘Nao sou su! rodas de ferro aos pés ¢ caminka mente forte pata poder explicar-vos mais depressa do que © mais veloz 0 que é uma méquina, Uma coisa € todos 08 seus membros. Alongou 33 suas mios para 14 dos mares, até 3s estrelas, € tomou os seus pés mais ipidos que 0 vento € as ondas. O'seu ouvido € capaz de aperceber tum sussurto em Savaii e a sua vor possui asas de péssaro. Os olhos dele até de noite vem. Vé através do ho- mem como se 2 came deste fosse gua limpida, ¢ distingue as imua- dicies que hi no fundo da gua De tudo isto fui eu testemunha Mas 0 que aqui vos digo € apenas lima pequena parte de tudo quant 5 meus olhos viram, ¢ me deixou estupefacto. A grande ambicio do Branco €, podeis crer, realizar sem- favalo. Eleva-se nos ares. Sabe voar. cerca: come pedras negras ¢ em con- qualquer altura que se queira ouvi- ces milagees. E assim Vico planar no céu como um alee rapartida di forga. Nunca um ser a, Pondo uma chapa de vidro dian- Brancos passim as waz, Tem uma enorme canoa para humano sera capar de rer canta forga te de uma pessoa, mas pesquisss, a ver andar sobre « agua ¢ outra para an- como ela ¢ € capaz de reproduzi-la mil vezes, como hao-de vencer Deus. dar debaixo de agua. Voa, com a A mquina do Papalagui @ a ‘caso queira, Mas ainda vii maiores so na realidade o que esté em causa: ajuda de ourra canoa, de nuvem em maior das suas mocas, Se a gente der rs. JA vos disse que o Papala- 0 Papalagui aspira 2 tornat-se Deus. uve. a0 Papalagui-o-tronco de um iff'da ‘apanhava os fais do céu. —Gostaria de destoonar 0 Grande Es- Eu sou apenas, queridos ismios, floresea virgem, dos mais ressentes exactamente assim que a5 coisas se € aptopriar-se de todos os seus 46 47 dence poderes. Deus é, no entanto, mai © mais poderoso do que o maior Popalaguis, mais as suas méquin E Deus quem decide qual de ns irk morter, ¢ quando morreri. Ba ele que em primeiro lugar obedecem 0 sol, a Agua e 0 fogo, ¢ no seri nos nnossos dias que um Branco vai do- mar & sua vontade o nascer da lua € a direcgio dos ventos. snenbum da- grande impor- feaco set, queridos ir- mis, aquele de nés impressionar por tais milagres, aque- le que, subjugado pelas suas obras, Se prostemnat perante 0 Branco, aquele que se sentir pobre e despre: Xie pot nfo ser apa de conseuir a : apalagui se afigurem, ‘espantosos, vistos de perto, 2 clara luz do sol, aio cém mais importincia do que o simples acto de talhar uma moca ov de en- ‘sangar uma esteira. O que o Papala- sui fax assemelha-se, a0 fim e a0 ca- cadeiras de uma ctianga da do que o Branco faz de longe que seia, as Grande Espitito Nio ha divida de que as cabanas pertencentes aos als mais altamente colocados —e a que les chamam palicios — so enotmes € esto es- plendidamence adornadas, néo hi dsvida de que as aleas cabanas que les edifcaram em cabanas As vezes cume do Tofu fo ainda — mas tudo € rosco; nunca dé aguela sensagio de vida e calor que dio os ibiscos, com as suas flores cor de fogo, ou a8 fo- thas de uma palmeira, o& uma flo- de cons, ébria de formas e co- aranha. A consitugio de uma miquina exige menos génio ¢ mint- cia do que a criagio de uma Gnica formiga das arcias, daquelas que vi- vyem nas nossas cabanas, Dizia eu que o Branco se eleva até as nuvens como um passaro. Mas a gaivota, essa, voa mais alto ¢ mais depressa do que ele, mesmo em ple- nna tempestade. ¢ as asas saem-the de facto do corpo, 20 passo que as do Papalagui sto falsas, partem-se ¢ ‘caem com facilidade Assim, todos esses milagres cém uum ponto fraco, oculto em qualquer parte, Nio hi maquina que no ne- cessite de ser vigiada © impulsiona- da, Todas clas contém uma secreta maldicio. Pois se € verdade que a pocente mio da maquina -€ capaz-de fazer tudo quanto & possivel. cam- bém € verdade que devora o amor que exisce em todo 0 objecto saido mios. De que quina? A maquina € um ser sem vi da, ftio, incapaz de falar do seu tra: balho. quando o terminow € de levar 0 que acabou de fazer 20 pai c 4 mic, para cles também se alegrarem. Como poderia eu gostar da minha canoa como gosto se, sem que eu fosse para af chamado, uma méquina ma pudesse reconstruir a dispse das fa € as ceparte como muito,bem lhe apraz, Nio & a0 homem que cabe reinar assim, © go € impunemente que 0 omem sc esforea por ser peixe, verme. “Isso cazthe mt proveites do que cle préprio jules, Se eu attavessar uma aldeia a cavalo, far na sua cabana, Rara- anha em chegar mais de im da viagem. O Papal ating tnais depressa esse fim. E mal ele 0 atinge. logo parte com outro dest co. O Papalagui leva, pois, toda a vida a correr até perder 0 flego, ¢ cada vez mais se esquece do que € andar, passear, caminhar alegremen- te para um fim que vird 20 nosso encontto sem que 0 tenbamos pro- curado, Por isso cu vos digo: a méquina é tum belo bringuedo para essa erianga grande que € 0 Papalagui. Os seus artificios no nos devemy atemoti © Papalagui ainda no conse até: 2 presente dara, qualquer mi- - quina que consiga preservar-nos da $f a0 que Deus incessante- mente faz ¢ cria. Nenhuma dessas suas miquinas, neahum desses seus antificios ¢ feiciavias foi capaz ainda de prolongar a vida, de cornar pessoa mais alegre tas desse artista que € Deus €_de: rexemos_oBranco._quando-cle-s¢ ‘uer Fazer passar por Deus 49 Todos ot Papalaguis sém uma pro- tempo a tecelagem de eseins. Bice Nao é ele que enrola a sua estima e fisslo. O chefe de tribo mais impor- fissio, E dificil ex ‘mostra entdo 20 rapaz como se tece a prende numa crave, no € ele que ante nao sabe prender a sua rede 2 s0 €. E qualquer coisa que uma pes- uma esteira. Ensina-o 2 fazer uma vai a cabana-cozinha cozer um fruto, uma trave, nem lavat a sua malga, Soa devia ter vontade de fazer, mas esteira sem precisar sequer de olhat nto € ele ambém que lavari a sua isso apesar da. grande sabedoria do que raramente tem. Ter uma profis- para o que esti a fazer. As vetes o seu espitito © da forga do seu brag. SHo significa fazer sempy ‘apaz leva imenso tempo para 0 con- fazer uma coi coisa seguir. Quando finalmente 0 conse- de toda a que se acaba pot fazi gue, abandona o mes izse en . de igual e de olhos fechados! Se as ‘do que «tem uma pr ‘modo, capaz de conduzir uma cana mios sé fizerem cabanas ou Se o Papalagui, mais tarde, se der no lag conta de que prefere construir caba. profissio - saborear, I» 0 que equivale sempre ¢ em qualq profissdes para as mulheres. La falhou 0 alvo!> Ora roupe na lagoa e fazer rmudar rnoas para p8r 105 pé, so profissdes assim de profissio € conttitio 2 mo- de mulheres; conduzir uma piroga ral. Qualquer honrado Papalagui ‘no mar € cacar pombos na floresta corterd o rsco de perder a sua hoara virgem 20, profisScs de homem. se disser: «No posso fazer esse tra- ‘A mulher abandona em geral a sua balho. pois nao sinto qualquer sats Profistio quando se case, 20 asso fagdo com issols ou «Quando faco que o homem & precisamente nessa esse trabalho, as mos no me obe- € uma grande fraqueza ¢ apresenta grandes perigos: pois qualquer pes- soa pode, um dia, ver-se obrigada a anravessar a lagoa de canoa © Grande Espirito deu-nos mios ppara podermos apanhar os fratos das frvores ¢ 05 bolbos de taro cos pin- altura que se consagra 2 ela. Qual- decem!» tanos. Deu-nos maos para protege quer ali 96 daré a sua filha em casa- Hi, entre os Papalaguis, tantas, ‘mos 0 10580 corpo dos inimigos, pa mento a um pretendente que exerca _profissdes quantas pedras hi na la- ra saborearmos as delicias da danca, jf uma profissio. Um Papalagui sem goa. O Papalagui faz de cada acco profissio ndo pode casarse. Um uma profissio. Quando apanha as Branco tem a obrigacao ¢'o dever de folhas caidas da arvore do pio. exer- ter uma profissio. ce uma profissic, Quando alguém E por essa razo que, muito antes Java as malgas onde a gente come, ainda das taruagens da puberdade, exerce outra profissio ainda. Desde todos os eapazes brancos sio obtiga- que se faca qualquer coisa, quer com dos a des as mos quer com a cabeca, exerc uma profissio. £ do jogo ¢ de todos os demais divert- mentos, ¢ nto, decerto, para nos pormos 56 2 construif cabanas, 36 a apanhar fratos ou s6 a desentetrar “Bolbos; antes. pelo contririo, pare que elas estejam sempre a0. n0ss0 dispor € nos permitam defendermo- aneira, todos aqueles actos -nos em quaisquer circunstincis. O Papalagui @ incapaz de com- preender isto. Para vermos quio fal- so € 0 seu comportamento, comple- mesma lo outns rants profisdes: en dor ¢ arcumador de nheiro de frutos,lavado a muito importante ena aiga fa- las. O Papalagui -se tanto nisso como no que se de- quanto o homem € capaz de fazer pescador de peixes,colhedot de fru: tamente falso ¢ conttério 20s manda- scia comer no dia seguite. Se o jo- numa profisio. tos. $6 a profissio confere a cada um —mentos do Grande Espitito, basta vem ali! escolher como profssio te- Quando um Branco diz: «Sou tus o diteito de exercer uma actividade. _olhatmos para os Brancos que, inca- um velho ali’ levilo-d a si-tussiln(). isso. € a sua_profissio; ‘Assim se explica 0 facto de a pazes de correr porgue 2 sua profis w-ecelion de esteiras, ou seja, um nfo faz outra coisa que nlo scja es. maior parce dos Papalaguis apenas s40 0s impede de-se meverem, ct homem que consage todo o seu crever cartas umas attis das outras. saber fazer 0 que constitui a sua pro- uma batriga igual & dos pu 32 33 basta ver como sfo incapazes de le- vanear ou de langar uma azagaia, por rerem a mio demasiado habicua- Gh 2 segurar 0 05S que serve pars escrever € estarem todo o vempo ser tacos & sombra a escrever éassis; base ta ver como sio incapazes de impor uma directriz a um cavalo selvagem, 6 por estarem semy as estrelas ou a desent: cabega E taro que um Papalagui aduho saiba ainda dar cambalhotas ow fazer cabriolas como uma crianga, Ao an- dar arrasta 0 corpo, como se houves- se alguma coisa 2 entravarlhe os movimentos. Nega ele que isto seja uma fraquera e pretende que corre dar cambalhotas ou fazer cabr ‘seus ossos endureceram ¢ cornaram- -se igidos ¢ os misculos perderam toda a flexibilidade, pois a profissio dele os condenou ao sono ¢ 4 morte. A profissio €, também ela, um aifie que di cabo da vida e promete belas coisas 20 homem, 20 mesmo tempo aque the suga o sangue. rambém com isso, o seu caricter de ait Que alegria nfo bana! Quealegria fazer uma ca. fio de coco, cobrir finalmente o tee- to com folhas seeas de cana do aci- car! Nem vale 2 pena falar na alegria que toda a sente durante onstrusto colectiva da cabana do chefe da tibo: € uma grande fesca, fem que até mesmo as mulheres ¢ 25 abater as vores ¢ comer os barotes? E se esses nfo ti- de ajudar a par os sua profissio € s6 pér os barcotes de pé? Esse os que cruzam as craves do tecto no tivessem o direito de aju- ac a cobti-lo com folhas de cana do porque 2 sua profissio @ 56 to de festejar 2 sua it so todos aqueles que ju rutrum! Vejo que isto vos faz rir ¢ tenho a certeza de que direis 0 mesmo que eu: «Se apenas temos o ditcito de fa- et uma $6 coisa e no podemos par- par em todos os trabalhos para os quais € necessiria 2 forga do. ho- mem, aio seaticemos nem merade do prazery se € que chegamos mes- ‘mo 2 sentit algum!> Esrov. cero de que chamacieis louco 2 qualquer um que vos mandasse servit-vos das mmios para fazer um nico trabalho, como se todos os'outros membros do Wosso corpo € 0$ vossos sentidos ess vessem doentes ou motos. E disso Iago, ¢ 3s 4.cons- quantas o Papalagui softe. Eagradé- vel ir buscar agua 3 ribeira uma ow vitias veres 20 que ir busci-la todos ‘os diss © das as hotas, desde 0 2scer 20 po: -do-sol, até as forgas 0 abandona- rem, quem vai ¢ torna a ir, sem des- canso, 4 ribeira,.geaba por atiar, de naiva,"o efntaro para bem longe, 2 fim de liberar © corpo de deias. De facto, nada ha de mais pe- ‘noso para 0 homem do que fazer sempre a mesma coisa ‘Anda se os Papalaguis fossem, to- dos cles, buscar quotidianamente Agua 4 fonte, talver chegassem a prazer com isso. Mas no! A que passam a vida a le- ‘ar um pau, numa casa suja sem sol ‘nem-huz- O que fazem nio thes exi- ge esforgo, nem thes 4 prazer; no fntanto, segundo a mancita de ver do Papalagui, no podem, de modo algum, deixar de levanar ¢ baixar a mo ou de cartegar numa pedra, pois € isso que irk pér em movimen- to ou regular uma maquina que faz, por exemplo, aros caiados, revesti ‘mentos para o peito, conchas para os panos ou qualquer coisa do géncro. Hi menos palmeiras nas nossasilhas do que Europeus com o rosto cor de cinza; ¢ iss0 porque o seu trabalho so thes causa qualquer prazer, de- vora toda a sua alegria € nem thes 44 um frato ou uma folha, sequer, comh que possum regozijarse E por isso que os individuos de diferentes profisses se odeiam feroz- mente uns 205 outies. Hi, no cora- so de todos eles, 2 modos como que um animal preso que se enca- brite sem nunce conseguir soltar-se. Ficam todos rofdos de inveja ¢ de cite 20 compararem a sua profs slo com dos outros; pois eles esta- belecem uma diferenga entre profis: sbes nobres © profisses baixas, se bem que todas 2s profissbes no pas- sem, no fundo, de actividades par- Com efeito, 0 homem nto € consticufdo unicimente por uma mo, por um pé ou por uma cabesa cle € tudo isso ao mesmo tempo Mao, pé, cabega foram feitos para cetarem juntos. Um ser humano sat dével sente-se realmente feliz quan- do todas as pares do seu corpo vi- ‘vem em harmonia com os seus senti- dos, e nio quando apenas uma parte do seu corpo vive, ¢ todas 2s outras cestio. moras. 180. perturba, desespe- ‘2 faz uma pessoa adoecer. 33 © Papalagui vive desvairado por abitante estas imtimeras thas, agra dt profisio que tem. claro qualquer irmto nos, digno desc reconhecer. E se ele nome, faz o seu trabalho. Pois se as-” 5. decerto sim nto fosse preferiria nade fazer. we, di- E'€ isso que nos diferencia dos Ban. Do lugar onde se simula a vida co.sem — cos, O Papalag quando fala do . ne pols seu caballo, apis com ve e dos muitos papéis inca tive qualquer profissio nem se sob um fardo esmagador, os jo: trabalhei como um Europeu. ens de Samoa € a cantar que vo ( Papalagui nunca conseguiu pro- para os campos de tara, varnos por que fazio seri justo ¢ ta cancar que lavam os panos na égua zotvel trabalhar mais do que o ne- corrente da ribeica. O Grande Espiri- cessirio imposto .pela vontade de to ndo quer, de cemeza, que nos tor Deus, que vem a set: ter o suficiente memos cor ‘de cinza por causa da para comes, um tecto que nos abri- profissio, que nos arrastemos como Bue, € prazer em participar nas fes- uma tartaniga ou rastejemos como 5, no largo da aldeia. E um tum molusco do fundo do lago. Quer ue pode realmente parecer li- vee-nos, iso sim, firmes e alcaneiros mitado, assim como a nossa vida em ado quanto fizermos, sem nun- ‘muito pobre de profissdes. Em con- ca perdermos a alegria do olhat ea trapartida, € sempre com alegi agilidade dos membros. nunca acabrunhado, que qualquer (9 Tas — an: asst — ei pic, 19 Pere Quueridos iemaos do vasto. mar mines coisas teria este vosso humil- de servo para vos contar, se fose 2 falar-vos de tudo quanto viu na Eu- ropa. Ainda que 0s meus discursos reas parcesem uma torente que cofresse de manhi 2 noite, nem tmesmo asim fcaleis saber toda 2 verdade, pois a vida do Papalagui pode comparar-se 20 mat: nao se the ¥# o principio nem o fim. Apresen: ta, como o'mar, muitas pada ¢ rx fara, pode sefatempertamas, sont dente ou sonhadora, Assim como tim homem nfo pode esvariat 9 mat fom a concha dt mio, assim bem 0. meu insgnficnte es no pode abarcat © grande mat que a Europa é Nat deseo, 20 menos, falar-vos disso, pois tal como 0 mar no pode fxr Sem gua, asim camber av dana Europa a0 pode exis sem aquele lugar onde se simula a vide, bem os muhes paps, Seo Papal: {gui se visse privado dessas duas coi sas, setia como o peixe que a maté atirou para a ateia e estrebucha ago- 1a 4 doida, sem poder jf nadar nem viver a seu bel-prazer. ‘Ohl o lugar onde se simula a v- da! Nao é facil descrever-vo-lo de modo a ficardes com uma nogio cla- 12 do sitio a que 0 Branco chama ci- nema, Em todas as aldeias europeias tite ese sitio misteroso que at sous preferem 2 casa do miionds fo, com que até mesmo. eansas sonham e ocupam 0 espitito. © cinema € uma eabana muito fmaot ainds do.que-+ meio das x banas de qualquer chefe de tribo de 38 outros quando [4 nos enconu Nao se vé nada quando quando s¢ sai vem-se compl ofuscado. As pessoas entram li so- capa ¢ procuram 0 caminho tactean- do 20 longo das paredes, pequeno fopacho ¢ as condusit até onde houver lugar. Sentadas no es- curo, os Papalaguis apertam-se uns cont'a os outros, sem conseguirem ver quem tém 20 lado; a sala escura std cheia de gente que nto diz uma palavra, sencada qumas tibuas és- treitas voltadas todas elas para uma pared. Ouve-se, entZo, vindo da pare de baixo dessa parede, um som muito forte e repenicado, ¢ vé-se, depois de os olhos se habiruarem 4 escuri dio, um Papalagui sentado, 2 h com um bad. Bate-lhe com as mios, espalmando os dedos em cima de tumas linguetas pretas ¢ brancas que ha no bad. De todas as vezes que cle hes roca, essas linguetas soltam tos agudos nas suas virias vores, Ercendo® uma barulheia infer ¢ selvagem, como quando hé uma ‘grande zaragata na aldeia. Esse chinfrim tem por objectivo istrair e enfraquecer 05 nostos senti- dos, para que és acreditemos no que estamos a ver € ndo duvidemos de que seja teal. Um raio de luz, branco como o luar, aparece entio ra parede: ¢ no‘meio dessa lu ‘gem-uns- homens;~homens-auté os, semelhantes @ verdadeiros Pape- laguis, ¢ vestides como cles. Mexem- andam para um lado ¢ para 0 ‘outro, cortem e saltam como se ve fazer por toda a Europa. E como a imagem da lua reflectindo-se no la: go: € a lua, mas na realidade néo € ela, O mesmo se di com as imagens que se véem na parede. Abtem a boca, temos a certeza de que esto a falar, € no entanto nfo se ouve um som, um s6 que seja, mesmo escutan- do com a mixima atengio. £ muito isto de nlo se ouvic nada, ¢ € so- io poresse motivo que o Papal gui bate ao bad daquela maneira: tenta fazernos cer que € por causa do barutho que faz que nds no ouvimos 48 pesoas a falarem. E assim surgem de vez em’quando na parede uns tex- tos 2 explicar 0 que o Papalagui disse ouvaidizer. Mas nem por isso aquelas pessoas nna parede deixam dé ser uma apa- réncia de seres humanos. Se 2 gente thes quisese rocar, logo veria que is- 0 era impossvel, que sio feiras de nz, apenas. Estio ali para mostrar ‘a0 Papalagui as suas pr6prias dores © alegras, as suas loucuras e fraquezas. Pode ano Popaagui ve perto as mais belas mulheres ‘mais belos homens. Embora muudos, pode ver os seus olhos 2 bri Thar, e os seus gestos. Eles parecem olhf-lo ¢ falar com ele. Pode ver também, sem mais incémodos, ¢ tio de perto como aos seus semethantes, 0s chefes de tribo de mais alta estir pe. Toma parte em grandes festins, em fonas, bem como nourras fests, e-em sensaglo-de 1a estar-tam- bém, de partcipar de facto naquele tepasto € naquela festa. Mas tam- bém pode ver um Papalagui roubar a donzela de uma outta aiga ou uma jovem ser infic! a0 seu amigo. Pode vet um homem furioso atirar-se 0 pescogo de tm rico aif, os dedos do homem a ence 2 carne do pescoco, pode ver os olhos do ali « sairem das érbitas, e 0 alii 2 morter 0 homem furioso a arsancar o me- tal redondo © o papel foree do pano do alii Enquanto 0s seus olhos contem- pplam tais manifesracées de aleg de horrar, deveré 0 Papala manecer calmamente sencad poderi censurar 3 jover a sua inf delidade, nem corer em socorto do tico ali. Is, pocém, nao 0 faz so- : olha para tudo aquilo com de- leice, como se io tivesse coragio Nao’sente terror nem repulsa. Ob- serva tudo como se fosse um set de ‘outra espécie. Porque 0 espectador esté sempre convicto de que ele pr6- prio € melhor do que os homens que vé no meio da luz, conviewo de que nunca cometerd os aetos de lou- rnobte € valoroso coraclo, essa ima- gem grava-serlhe no espicto, e entio diz: «E a minha imagem!» Fica sen- "ado sem se mene, no seu assent le pau, a olhat fixamente para a pi- rede aka lis sobre a qual vaca uma luz enganadora, projectada por uum migico através de uma greca es. treita,existentena~ patede oposta AAs imagens sirmulam 2 vida. E € isso, essas imagens que ago de embriagués ¢ de delirio. Que mo: tem. Liem o que 0s chefes de respiram, que nao vivem na realida- vém a ser esses muitos papéis? Ima- nartem também hortiveis aconteci- tribo de mais alta estipe, ou os seus mentos, que um hom: de. de, que dio maior dos prazeres 20 ginal uma esteira de fina tape brans Roni poses ekacrar aa ea faa im homem sensato de- Papalagui. Naquela sila as escuras, ca, dobrada uma vez, depois di Ts Geni kescieopalaens bor ea sem sentir qualquer vergonha ¢ sem da, dobrada uma vez mais, ¢ cober iis aa fea csbles meat ean Gue singuém veja 0 seu olhar, ele 2, por todos os lados, de mindsculas cles disserum uma grande palermice pode entregatse a uma vida ficicia, inscrigdes: af cendes esses m © pobre pode ali passar portico, ¢ 0 papéis a que o Papalagui chama j rico por pobre, o doente julgar-se de nals. boa saide, fraco cre-se forre. Ca- da um pode, no escuro, fazerse pas- sat por quem quiser ¢ viver, nessa vida simulads, coisas que nunca vi veu e que jamais vivers, Tomou-se uma grande paixio pa- preciso do que aquilo que € bom, Também ld vem descrite 0 género contado até 20 mais pequeno por. de pano que waziam ao talarem,eo menor, como se no fosse mais im- ‘que comeram, ¢ 0 aome do seu cz porate € minis gostoso dar conta do valo, ¢ se softem ou no de elefan- bem, em vez do mal. so fracos do julzo: Se leres 0 jomal, nfo nccesstas de ‘esses paptis contam equi- i 2 Apolima, 2 Manono ou a Savaii vale, na nossa cerra, a mais ot me- para saber o que fazem ¢ pensam 05 Esta manhi, 0 polé nuu(‘) — teus amigos, ou como se divertem. itu, depois de uma noite Podes ficar tranquilamente estendido bem dormida, comecou por comer fia tua , uma vex que os mui- um resto de zaro da véspera e depois tos papéis te contam tudo. Parece foi pescar. Regressou 2 cabana pot uma coisa muito boa ¢ aj volta do meio-dia, deitou-se oa es- mas iso ago passa de um ‘teira, leu a Biblia e cantou até noi. ois se encontrares o teu irmi te. Sima, sua mulher, comecou por j4 ambos tiverem met dar de mamaf' 20 fiho, foi depois beca nos muitos pag banhar.se no rio, encontrou, de re- ele, sem qualquer noticia interessan- | fresso 2 casa, uma linda flor de pud, ce para dar um a0 outro, porque dos Papalaguis, 20 saf papéis que esta insctito 0 com 2 qual enfeirou os cabelos antes ambos tém a mesma coisa dentro da yuele sitio onde se si- grande saber do Papalagui. Para cn- de entrar na cabana... etc. et..2 ¢ entio ou vos calais, ou vos rio conseguem vet 2 cher todos os dias a cabeca € alimen Tudo quanto se puss, cudo 0 qu 2 tepetic 0 que dizem 05 ica; essa paixio chega 2 set de ral modo forte, que o leva a esquecer a sua verdadeica vida E uma paixto doeatia, pois um ho: io nio accita viver uma vi- numa sala escura: prefere tia, ao calor e & luz do hi enue a vida simu- ti-la como deve ser, mergulha- el ‘os homens fazer, ou no, vem-al dso, uma lada ¢ 2 vida real; ficam transtorna- de manhi e & noite, nai. escrito: os sei bons ¢ os seus maus dos: julgam-se ricos quando sio po- para pensar melhor ¢ ser mais rico pensamentos, 0 facto de se rer motto =dharmos com alguém dores € alet bres, ou belos quando sio feios; pra- de ideias: € como o cavalo que galo- uma galinha ou um poteo, ou o fac- —grias, do que ot contar a um ticam malfeicorias que nunce na vide pa _mais depressa quando comeu co dese ter construido uma nova ca-estranho que ada viu com os seus real ceriam praticado, mas que ago- muitas bananas e tem a bamtiga rnoa. Nada se passa no seu vasto pals _proprios olhos. 1 por ji ndo verem a diferenga que cheia. Ainda o alif esti a dormir na que nfo venha ficlmente descrito Os jomnais sfo maus para 0 nosso ha entre o real € 0 que 0 nio é, io uma série de mense- nas esceras de papel. A isso chama 0 espirto, mio s6 porque relatam 0 levados a pratcar. E um estado mui- geitos calcrreiam a cerra, dstibuin- Papalegui eestar ao corrente de tu- que se pass2, mas também porque to semelhante 20 que presen- do os muitos papéis. £ a prim do». Ele quer estar sempre 20 cor- nos dizem o que devemos pensar siasess, quando © Europeu, depois coisa para a qual se cstende a rente de tudo quanto se passa na sua disto ou daquilo, dos nossos chefes de beber demasiado fave europe. do Papalagui, mal ele sai do sono. terra desde 0 nascet 20 pér-do-sol ¢ de tribo ou dos chefes de ttibo dou- ppensa que caminha sobre 2s ondas. © Papalagui le. Mergulha os olhos fica indignado quando qualquer coi- tras cerras, ¢ de todos os aconteci= paptis_mergulham —no_que os papéis_contam. sa the escapa. Esti. sempre avido- de —mentos.¢ acgées dos homens._Os jor- spalagui numa espécie E todos os Papalaguis fazem o mes: ler os papeis, muito embora 14 se _nais gostariam que todos os homens a ppensassem 0 mesmo. Atacam a cabe- fae os pensamentos do individuo. © Papal: Pretendem que toda 2 gente cena cabega e pensamentos iguais aos de- Mal acabou les. E sabem como levar isso 2 cabo. prepara para engoli Quem papéis, saberi 0 que, 20 meio-dia, 0 Papalagui tem na cabeca e em que lodo, onde jf nada cresce de pensa. € de fecundo, onde 36 ha ‘Um jornal € também uma espécie miasmas ¢ nuvens de insectos que de maquina que todos os dias fabri- _picam. dade de noves pensa- Os sitios onde se simul a vida ¢ is de os muitos papéis fizeram do Papala- gui o que ele & um ser fraco © meio perdido, que preza 0 que nio € real, que peideu 2 nocio do real, que A grave doenca a. pela manhi, os muitos besa asemelhase muito a uma re. de estar sempre a pensar ppantanosa, afogada no seu pré- confunde 2 luz com 2 sua imagem ¢ com muito alimento, mas nenhum 2 vida com uma esteira coberra de fortfcante. Também se podia igual- _ inscrigbes. (apc de doe dt cds, gue meen Soe dv eo of Obie a 6 cea que chamam «Deuss e de aque 065 todos somos uma produgto, mat sim do esp pequeno que faz o homem pensar. Quando olho, daqui gucira() que hi por di . mo estou a usat do de que ela & do que a id entra Nao basta pois olhar para uma coiss, hi também que tirat qualquer saber. E esse saber que 0 Papalagui exerce do nascet a0. por -do-sol. © seu espirito esed sempre carregado como um cano de fogo ou como uma cana de pesca lancada Sgua. Esente pena de nbs, povos das muitasilhas, por nio exetcermos esse saber. Somos, a seu ver, pobres de € to estipidos como um animal em estado selvagem. E verdade que nés exercemos pou- co 9 sabet a que o Papalagui chama pensar, mas 2 questio que se pie € a de saber qual dos dois € mais es Gpid, ‘se aque, que eto pros ‘muito ou se aquele que pensa cm demasia, © Papalagui no pata de pensar: «A minha cabana & mais pe quena do que a palmeica; a palm 12 verga-se pot causa da tempestade; ou: isto € 0 fragor da tempestadels que cle pensa no que o cupa. Mas também ele proprio € abjecto dos seus pensamen sou pequeno; 9 meu coracio a sempre & quem gos fa, Mas o Papalagui penst tanto, © acto de pensar se tornow um tuma necessidade, € 28 mo uma coacgio. Vé-se obi pensar concinuamence. S6 mu custo consegue nio fazt-lo e deixar viver todas as parres do seu corpo 20 ‘mesmo cempo. Na maior pare do ‘tempo vive apenas com a cabesa, en quanto 0s seatidos dormem um pro- fundo sono. Muito embora. isso 0 rio impeca de andar normalmente, de falar, de comer ¢ de tit. perma- nece fechado na prisio dos seus pen- samentos — 05. quais sio os frutos da reflexdo, Deixase por assim dizer embriagar pelos seus prdprios pens ‘mencos. Quando brilha um belo sol, logo ele pensa: «Que belo sol que est agorals E continua a pensar, Sempre a pensar: «Mas que belo sol!> Ora isso & falso, absolucamente fal- so, € uma aberrasio, pois quando o sol brilha, vale mais nio pensar em ada, Qualquer Samoano sensato ira extender ¢ aquecer 0 se¥ corpo 20 sol. sem mais reflexdes. E goza do sol nfo sé com a cabeca, mas tam: bémm com as mios, com os pés, com a8 coras, com o ventre, em tesumo, com 0 corpo todo. Deixa a sua pele €-05-seus membros. pensarem-por si pr6prios, ¢ eles pensam & sua mane (© Papalagui. (Discursos recoinides por Erich Schueurmann. Lisboa, Ed. Antigona, 1990. ra, por certo diferente da da cabecs. 5 pensamentos barram amidde 0 caminko do Papalagui grande bloco de lava impossivel de deslocar. Se pensa em coisas ido sort; se pensa em coisas cist ‘nfo chora, Tem fome, mas nic serve de taro ou de. palusa © Papalagui € regra geral, um ser vivo dominado por uma perpécua lura entre os seus sentidos ¢ 0 seu . um ser humano “dividido ‘A vida do Papalagui faz lembrar ‘um homem que va de canoa 2 Savati € que, mal se afiste da margem, pense: «Quanto tempo levarei daqui até Sava?» E asim, pée-se 2 pen- sat, sem ver a risonka paisagem que vai atravessando. Depata fo, na margem esquerda de uma montanha, da qual jé nic mais desvia os olhos. «Que haveré ali, detris daquela‘montanha? —'pensa cle-— Alguma estfeita ou ‘profunda bata?» Tanto pensa, que cesqueee de fazer coro com os jovens remadotes: € nem sequer ouve os alegres gracejos das raparigas. Ainda mal passou a bala e 2 montanha, ¢ 4 um novo pensamento o arotmen- ta: eDaqui até A aoite nio it haver tempestade? Sim, ndo id levancarse um temporal?s E elo em busca de rnuvens iegras no céu limpido. Pensa ¢ forma a penser nessa tempestade ‘que pode vir a desabar. Nao desaba cempestade nenhuma, ¢ assim che- 2, pela noite, a Savai, sem o mini- mo contratempo. Foi como se nao tivesse feito qualquer viagem, fs seus pensamentos andaram se pre longe do seu corpo ¢ da canoa Mais valia ter ficado na cabana, em Upolu Um que assim tanto. nos atormenta &, na verdade, um ait € nto vejo razto para se gostar dele. © Papalagui gosta do seu esprito, venera-o € alimenta-o com os pensa mentos da sua cabeca. Nunca o faz passar fore ¢ no softe pot pelo facto dos seus pensament devoratem uns aos outros. Faz imen- so barulho com 9s pensamentes que tem; consente-lhes que sejam mais barulhentos do que ctiangas mal educadas, Comporta-se como se cles fossem tio preciosos como as flores, as montanhas ¢ 25 floresas. Fala dos seus pensamentas como se nla tives- se qualquer valor um homem ser va- lente © uma rapariga alegre. Com- portase como se houvesse um man- damento que impusesse a0 homem pensar mitito © como se ral manda- mento p: aitda por cima, de Deus. As palmeiras ¢ 2s montanbas nunca fazem assim canto barulho 2 pensar; se as palmeiras” cflecisem lo muidosa e ferozmente como os Pipalaguis, deverto nfo teriam cis verdes ¢ bonitas folhas nem tio be- los ¢ doirados frutos (pois é um fac- ‘que pensar faz ficar velho Alls, & bastante provivel que nem sequer pensern Ha, de resto, muieas maneiras de pensat ¢ toda a ¢s vém as seras do espirivo. Que rriste sorte 2 do-homem-que-pensa-err coisas lo longinquas como por 6 femplo: «Que ick acontecer ama- Sane sitters do da? Que fk de mim 0 Grande Espirito, quando feu chegar 20 Salgf2'2()? Onde esta ya ev antes dos enviados de Taga- me cerem dado uma dpegd()> E elo ¥8, esa maneira de pensar, como é vio rentar ver 0 sol Ge olhos fechados: no se consegue Pois também, s6 com pensar, impos piou, c isso logo vé qiiem o tenra Nunca conseguiré avancar, desde os verdes anos acé 2 idade adulta, el como as aves dos gelos, que nunca saem do mesmo sitio. Deixa de ver o . perde 2 a fresmo nada. Ate o fara perde, para le, 0 sabot, ¢ enquanto os demais dangam no largo da aldeia, ele 56 0 ‘que fax € olhar para o chio, Sem es- tar mono, vivo também no est Foi atingido pela grave doenga de estar sempre a pensit. Na Europa, dizem que este modo de proceder torneo espftico mais aberto ¢ sedutot. Quando alguém pensa muito © com rapidez, dix-se ‘que é uma grande cabeca. Em ver de cer d6 dessas grandes cabegas, 0 Papalagui respeita-as_sobremancira ‘As aldeias elegem-nas para seus che: fes, Se houver, numa aldeia, uma ‘grande cabeca, logo ela se sentiré no dever de comunicar os seus pensa- rmentos 2 todos os preseates, que os admirario e com cles se deleitario Quando uma grande cabeca motte, ‘odo 0 pais fice de luto ¢ lamenca a sua perda. Talham entio na cocha uma imagem da grande cabega © ex- péem-na 2 vista de todos, no largo do mercado, Para que a gente do ovo possa admirar bem essas cabe- 2s de pedra ¢ isso as leve 2 reflecir humildemente na pequencz da sua, talham-nas em tamanho muito maior do que o que na realidade tinham. Quando se pergunta a um Pa Porque & que pensas asim ta responde: «Para nfo ficar i> Um Papalagui que no pense, & consideredo valéa(), quan- do, na verdade, se devia ter como si nal de inceligéncia encontrar alguém © seu caminho sem ter necessidade de pensar. Eu, pot mim, acho que tudo isto ‘do passa de um pretexto, que 0 Pa palagui se deixa ir ateis de um mau to € que o verdadeito alvo dos seus pensamentos € 0 desejo de des- cobrit os poderes secreros do Grande Espirito. Ele proprio atribui 2 esse descjo um qualificativo que soa bem: «investigar. avestigar, quer dizer: ter uma coisa tio perto da vis- ta que se pode cocar-lhe e meter li 0 naciz. Essa mania de querer penetrar ¢ esquadrinhar tudo € uma paixio despreaivel ¢ de mau gosto. Ele agarra_numa_escolopendra ( passa-a com uma pequena azagaia ¢ amrancathe uma pata: «O que é que parece esta pata, assim separada do corpo? Como estava ela presa 20 cor- po?» E parte a pema, para ver a sua espessura. 18s, pura cle, € importan- , € fondamental. Tica da pata uma parcela do tamanho de um grio de areia ¢ coloca-a debaixo de um gran- de tubo possuidor de uma forga mis- esti teriosa, que permite aos olhos verem com mais nitidez. Com a ajuda des. se grande © porente olho, esquadri- raha cado — uma ligrima, um peda- go de pele, um cabelo — tudo, ab- Solutamente cudo. Vai dividindo to- das as coisas que vé, acé chegar a ponto em que j& ao pode parti-las nem subd ‘mais. Por mais mindsculo que seja, esse ponto mos+ trae, em geral, de uma imporcin- um limit para 0 ino, que s6.0 Gran- mais, algum dos olhos mégicos conseguiram descobrir 0 que existe la por detris, O Grande Espirito ado consente que lhe cou- ‘em os seus segredos. Nunci sia- guém conseguiu trepar mais alto do due o cocoruco da palméira a que se agatrou; chegando 20 cimo teve que parur, por aio havet mais tronco a que se agarrar para continuar a su- bir, Além do mais, 0 Grande Espiti to no gosta da euriosidade dos ho: mens: € por isso que estendew, sobre todas 5 coisas, grandes lianas sem principio nem fim, Eis a razio pela qual todo o individuo que siga até so fim. 0 fio dos seus pensamentos, se vé forsado a reconhecer que nem por isso ficou a saber algo mai que 25 questées para as quais ao encontrou tesposta sio do dominio do Grande Espirivo. Assim, de resto. ‘0 confessam os Papalaguis mais inte- ligentes ¢ valorosos. Mas a_maior parte dos doentes do pensimenso persiste na sua volupruosa paixdo; ¢ assim que, de mil e uma manciras, © pensamento faz 0 homem extax viaese do seu camino — como al- guém que pretendesseavanat a V6 da floresta virgem num sitio on- de nfo houvesse qualquer atalho aberto. Emaranhados nos pensamen- tos, 05 seus sentidos j& nio conse- guem (ito jf aconteceu) diferenciar ‘© homem do animal, Precendem eles que 0 homem € um animal ¢ que 0 animal tem algo de humano. E pois particularmente grave ¢ né- codes os pensamentos quer maus — sejam projeccados sobre finas cesteiras brancas. A isso chama o Pa- palagui «imprimin; de modo que tudo o que esses doentes pensam, fi- ca, ainda por cima, insctito, com 2 ajuda de uma maquina misteriosa que obra milagtes com as suas mil smios, méquina essa que possui a de- terminagto de muitos ¢ grandes che- fes juntos: inscreve os seus pensa- mentos nfo uma ou duas vezes, ape- indmeras vezes, um ade ito de vezes. Agseram depois aguis numa grande porgio teiras com pensamentos, com~” primem-nas em pequenos masos A grave docosa de esa sempre 2 pease (© Papaagu quer arses para as sas testemunha um dos mais violentos ‘reso ¢ Narurezs, Estado ¢ Liberdade. no decore eS. a = fr Ni el iM a ee r , { ‘mmesie g % ce , eee | E Sea > . 2 ° : =P tae o “ee od . Y ° o> eo

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