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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA


ARQUITETURA E URBANISMO

BIANCA PINTO LOIOLA

Arquitetura Ecológica:
Estudo Preliminar para Implantação de Ecovila no Maranhão

São Luís
2016
BIANCA PINTO LOIOLA

Arquitetura Ecológica:
Estudo Preliminar para Implantação de Ecovila no Maranhão

Monografia apresentada como exigência


para obtenção do grau de Bacharelado
em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Estadual do Maranhão.

Orientador: Prof.ª Drª Sanadja de Medeiros


Souza

São Luís
2016
Loiola, Bianca Pinto

Arquitetura ecológica: Estudo preliminar para implantação de ecovila no


Maranhão / Bianca Pinto Loiola– São Luís, 2016.
73 f

Monografia (Graduação) – Curso de Arquitetura, Universidade Estadual


do Maranhão, 2016.

Orientadora: Prof.ª Drª Sanadja de Medeiros Souza

1. Ecovilas. 2. Biocontrução. 3. Habitação. I. Título

CDU: 728.31:502.15(812.1)
BIANCA PINTO LOIOLA

Arquitetura Ecológica:
Estudo Preliminar para Implantação de Ecovila no Maranhão

Aprovado em: 28/07/2016

_____________________________________

Profa. Dra. Sanadja de Medeiros Souza

(Orientadora)

_____________________________________

Prof. Dr. Hermes Fonseca

(Examinador)

_____________________________________

Érika Boucinhas

(Examinador)
AGRADECIMENTO

Poucos sabem que carrego algo de Nossa Senhora onde quer que eu vá, um
adesivo no carro, sua imagem no meu quarto e até na pele já penso em homenageá-
la. Trazia um santinho de Nossa Senhora Desatadora dos Nós no bolso da jaqueta na
primeira vez que viajei para o exterior, indo morar na Espanha. E é em devoção a esta
minha mãe que faço o primeiro agradecimento, a ela que me agraciou com a aprovação
no vestibular, há quase seis anos atrás e que sem suas graças eu jamais teria concluído
este trabalho final.
Os próximos merecedores incontestáveis de todo o meu agradecimento são os
meus pais, o Sr. Plácido e a Sra. Ana Lucia que já me tinham nos braços quando
concluíram seus respectivos TCCs de nota máxima, que lutaram e batalharam todos os
dias para que eu e o meu irmão tivéssemos as melhores oportunidades e que trazem
em suas histórias de vida exemplos de superação, coragem e valores.
Agradeço também a minha avó, Maria de Jesus, parceira de tantas horas e de
tantas promessas. Aquela que sempre apoiou todos os meus sonhos por mais loucos
que parecessem, a única avó capaz de acompanhar um neto em romaria de seis horas
e no final, está mais inteira que ele.
Levaria horas mencionando todos os amigos e professores, brasileiros e
catalães que me auxiliaram nesta jornada, porém seis anos não podem e nem devem
ser resumidos em poucas linhas. Terei a missão de agradecê-los pessoalmente um a
um.
Por fim, preciso agradecer a minha “chefa”. Minha prima Kerla com quem, como
estagiaria aprendi bem mais do que a faculdade seria capaz de me ensinar. Foram
várias as manhãs e as tarde de ajuda nos trabalhos, costuma dizer que ela tem o poder
de resolver minha vida em cinco minutos. E estou certa que aprendi também, no dia a
dia do escritório a ter a dedicação e a paciência necessária para amar o doce e o
amargo da profissão que escolhi seguir para o resto da minha vida.
"Eu sou a minha cidade, e só eu posso mudá-la. Mesmo com o coração sem
esperança, mesmo sem saber exatamente como dar o primeiro passo, mesmo
achando que um esforço individual não serve para nada, preciso colocar mãos à obra”
(Paulo Coelho).
RESUMO

Este trabalho final de graduação, desenvolvido na área de projeto de arquitetura,


apresenta o projeto de uma Ecovila no Maranhão, em nível de Estudo Preliminar
visando proporcionar, por meio de uma arquitetura ecológica, um modelo para um
processo de habitar gestado de modo a respeitar e integrar-se com o meio ambiente e
com a comunidade, demonstrando soluções construtivas viáveis e de baixo custo,
capazes de promover a preservação da natureza, a aproximação do ambiente
construído com a paisagem natural e o bem-estar do cidadão. Os estudos
fundamentaram-se em pesquisas, artigos, dissertações e estudos de ecovilas
existentes, bem como de tecnologias de construção sustentáveis e ecologias. O
desenvolvimento da pesquisa possibilitou a elaboração de uma proposta de
implantação de uma Ecovila em solo maranhense.
.

Palavras-chave: Arquitetura ecológica, Sustentabilidade, Habitação social, Ecovila.


ABSTRACT

This final work graduation, developed in architecture design area, presents the
design of an Ecovillage in Maranhão, the preliminary study level to provide, through an
ecological architecture, a model for a process of living gestated in order to comply and
integrate with the environment and the community, demonstrating viable constructive
solutions and low cost capable of promoting the preservation of nature, the approach of
the built environment with the natural landscape and citizen welfare. Studies
substantiate in research articles, dissertations and existing ecovillage studies and
sustainable building technologies and ecologies. The development of research made
possible the development of a deployment proposal for an ecovillage in Maranhão soil.

Keywords: Ecological Architecture, Sustainability, Social Housing, Ecovillage.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Edifício de barro de Weilburg – Alemanha ................................................ 17


Figura 2 - Catedral Vegetal em Bergamo .................................................................. 18
Figura 3 - Estrutura do Escritório Tamedia em Madeira Plantada ............................. 19
Figura 4 - Classe de Tecnologies de Baix Cost per a la Cooperació (BAM) ............. 20
Figura 5 - Maquete, Planta Baixa e Fachada Principal da Casa Cubierta ................. 31
Figura 6 - Layout Casa Moderna Caipira .................................................................. 33
Figura 7 - Vista Aérea da Auroville ............................................................................ 34
Figura 8 - Programa de Necessidades Ecovila..........................................................35
Figura 9 - Terreno para Implantação......................................................................... 36
Figura 10 - Zoneamento do Terreno para Implantação de Ecovila........................... 37
Figura 11 - Topografia do Terreno para Implantação de Ecovila.............................. 37
Figura 12 - Setorização Ecovila................................................................................. 38
Figura 13 – Pisograma S Modelo Max Lider.............................................................. 39
Figura 14 - Programa de Necessidades do Modelo Habitacional.............................. 42
Figura 15 - Estudo de Ventilação e Insolação ........................................................... 43
Figura 16 - Detalhe da Fundação no Modelo 3D....................................................... 44
Figura 17 - Montagem das Formas para o Pisé ........................................................ 45
Figura 18 - Dimensões do Tijolo de Solocimento ...................................................... 46
Figura 19 - Muros decorativos ................................................................................... 47
Figura 20 - Face Externa da Parede de Garrafas ..................................................... 48
Figura 21 - Esquema do Banheiro Seco e do Segregador de Urina ......................... 49
Figura 22 - Bambu Trançado..................................................................................... 50
Figura 23 - Assentamento das Lajotas ...................................................................... 51
Figura 24 - Montagem das Telhas............................................................................. 52
Figura 25 - Detalhe do Telhado Verde no Modelo 3D ............................................... 53
Figura 26 - José Alcino, Criador do Painel Solar de Pet ........................................... 54
Figura 27 - Mortero de Arcilla, em exposição do BAM .............................................. 54
Figura 28 - Modelo Habitacional Ecológico 3D.......................................................... 55
Figura 29 - Detalhe 3D do Pátio Interno da Habitação Ecológica............................. 55
Figura 30 - Modelo Habitacional 3D Fachada Sudeste............................................. 56
Figura 31 - Modelo Habitacional Vista 3D................................................................. 56
Figura 32 - Aldeia Ianomâmi..................................................................................... 58
Figura 33 - Cisterna Veneziana em Corte................................................................. 60
Figura 34 - Ecoponto São Luís.................................................................................. 61
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 14

2.1 ARQUITETURA ECOLÓGICA ......................................................................... 14

2.1.1 ARQUITETURA ECOLÓGICA NO MUNDO .............................................. 14


2.1.2 TECNOLOGIAS DE BAIXO CUSTO PARA A COOPERAÇÃO ................. 19
2.1.3 ECOVILAS NO BRASIL ............................................................................. 22
2.1.4 MARANHÃO E SUSTENTABILIDADE ...................................................... 26

3 METODOLOGIA..................................................................................................... 29

4 CONCEITO ............................................................................................................ 30

4.1 REFERÊNCIAS PROJETUAIS ........................................................................ 30


4.1.1 MODELO HABITACIONAL ........................................................................ 30
4.1.2 ECOVILA ................................................................................................... 33

4.2 CONCEPÇÃO DA ECOVILA ............................................................................ 35

4.2.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES ........................................................... 35


4.2.2 TERRENO ................................................................................................. 36

4.3 PROPOSTA ECOVILA (ESTUDO PRELIMINAR)... 37

4.3.1 SETORIZAÇÃO ......................................................................................... 37


4.3.2 VIAS E PAVIMENTAÇÃO...........................................................................39
5 EDIFICAÇÕES ....................................................................................................... 40

5.1 PROPOSTA MODELO HABITACIONAL ......................................................... 40

5.1.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES ........................................................... 41


5.1.2 VENTILAÇÃO E INSOLAÇÃO ................................................................... 42
5.1.3 FUNDAÇÃO ............................................................................................... 43
5.1.4 PAREDES .................................................................................................. 44
5.1.5 BANHEIRO SECO ..................................................................................... 48
5.1.6 PISOS ........................................................................................................ 49
5.1.7 COBERTURAS .......................................................................................... 51
5.1.8 REVESTIMENTOS .................................................................................54

5.2 OUTRAS EDIFICAÇÕES...................................................................................57


CONSIDERAÇÕES FINAIS: .................................................................................... 70

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 72
12

INTRODUÇÃO

O índice de população vivendo nas cidades em 2010 chegou a


impressionante marca de 84% no país, as cidades são as principais responsáveis pelo
consumo dos recursos naturais e energéticos, além de contribuírem com mais de ¾
da contaminação global.
As cidades em que vivemos apresentam características, como forte
impermeabilização do solo, abundância de materiais altamente refletores,
absorventes e transmissores de energia além de reduzida cobertura vegetal,
geradoras de um grande desequilíbrio ambiental.
O excessivo consumo de energia e matéria com correspondente geração de
resíduos, poluição atmosférica, hídrica, sonora e visual, afetam e interferem
negativamente no ambiente urbano, na qualidade de vida de suas populações e atuam
de forma local e regional (HOUGH, 1995). Diante deste contexto, modelos positivos e
ecologicamente sustentáveis se tornam uma necessidade latente.
As ecovilas clamam pela reconexão, comunidade e natureza, demonstra um
exemplo viável de um futuro humano sustentável, através de soluções práticas de um
menor impacto ambiental, uma melhor gestão de resíduos e principalmente uma
construção com comprometimento ecológico utilizando recursos locais, sejam eles,
humanos ou materiais.
O Maranhão é o estado mais rural do país (36,9% da população), diversas
famílias ainda vivem conectadas à produção da terra, próximas a natureza e com
fortes vínculos sociais. Essa população luta diariamente pela sobrevivência em frente
ao atual modelo de urbanização crescente. A Global Ecoville Network, desde 1995
busca compartilhar novas ideias, experiências, tecnologias além de práticas
educacionais para promover as ecovilas como um novo modelo de cidade orgânica,
equilibrada e coerente para o consumo dos recursos naturais do planeta.
"O estudo e aplicação do modelo das Ecovilas não é somente para
ecologistas. O modelo deve ser apresentado às pessoas de forma sistêmica, numa
metodologia não linear, para gerar assim, uma massa crítica e um ponto de transição"
(CAPRA, 1996, p.).
Visando o conceito exposto, o Estudo Preliminar de uma Ecovila no
Maranhão proporciona, por meio de uma arquitetura ecológica, um modelo para um
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processo de habitar melhor gestado com o meio ambiente e com a comunidade,


demonstrando soluções construtivas viáveis e de baixo custo capazes de promover a
preservação da natureza, a aproximação do ambiente construído com a paisagem
natural e o bem-estar do cidadão.
Trata-se de um projeto visando o cultivo do sentimento de pertencimento
da comunidade com sua localidade, e que tem como objetivo geral a produção
arquitetônica, em fase de estudo preliminar, de uma Ecovila. Promovendo a reflexão
e implementação de uma cultura socioambiental, baseada no respeito ao meio
ambiente, na consciência ecológica e na gestão responsável dos recursos do planeta.
Tudo isso, representado num modelo arquitetônico mais sustentável para o
desenvolvimento de ecovilas para a região do Maranhão, tendo como referenciais
práticas ecológicas na esfera urbana, utilizando materiais que contribuam de maneira
positiva e com menor impacto ambiental para a composição do projeto, de maneira
leve, acessível, levando em consideração também conforto lumínico, acústico e
térmico.
Já as etapas metodológicas se resumem em três fases: a primeira é a
fundamentação teórica, fundamentada na coleta de dados, pesquisando-se artigos,
dissertações, projetos de ecovilas existentes e pesquisa de campo realizada através
de visitas técnicas ao terreno de implantação e órgãos municipais; a segunda etapa é
a análise dos dados coletados, e os resultados dessas análises, e por último a
proposta projetual, iniciando pelos referenciais projetuais, passando pela concepção
e partido, até chegar à proposta final.
O Programa de Desenvolvimento de Comunidades Sustentáveis da
Organização das Nações Unidas incorporou a ideia de Ecovilas, o que torna este
estudo de implantação um projeto atual e salutar. O mesmo tende a proporcionar
desenvolvimento e qualidade de vida para comunidades e aparece como uma solução
de gestão para Zonas de Interesse Social tanto no perímetro rural quanto no urbano.
Diante desse contexto, da necessidade de uma conscientização ecológica e
de práticas de vida mais sustentáveis, é que se insere este projeto.
14

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 ARQUITETURA ECOLÓGICA

2.1.1 ARQUITETURA ECOLÓGICA NO MUNDO

Le Corbusier, grande ícone modernista, no livro Urbanisme exprime sua


máxima:

Há que construir-se ao ar livre. A geometria transcendente deve


reinar ditar todos os traçados e chegar a suas consequências menores
e inumeráveis. A cidade atual morre por não ser geométrica. Construir
ao ar livre, remodelar o terreno estrambótico insensato, que é o único
existente hoje em dia, por um terreno regular. E fora disso não há outro
modo de salvação (CORBUSIER, 1925, p.).

O conceito acima reproduz o medo, ou simplesmente a antipatia por linhas


curvas que alguns arquitetos e urbanistas ainda hoje possuem ao projetar, a
transformação das formas naturais do meio ambiente em linhas retas se configura
numa premissa clássica, porém extremamente preocupante do ponto de vista
ecológico uma vez que o impacto ambiental e o gasto de recursos para regularizar
este terreno “insensato” é extremamente alto.
Nos primórdios, a primeira moradia humana foi a caverna, a função era
puramente de abrigo. Com o tempo, já sedentário, o homem construiu moradas que
atendessem melhor suas necessidades, porém os materiais construtivos continuavam
sendo aqueles encontrados na natureza. Os recursos do entorno eram respeitados e
aproveitados de maneira integrada, as cheias de um rio eram usadas para inundar
áreas de plantio, por exemplo: as folhas das árvores viravam telhados, a madeira era
usada na construção das paredes e assim por diante. A arquitetura primitiva tinha
como premissa soberana a função.
15

Thoreau, já em 1854, ainda descreve a natureza não como um cenário


impessoal a emoldurar o homem, mas como alvo de uma experiência pessoal e direta,
alicerçada na emoção. O homem não acima da natureza e sim parte constituinte dela.
Desta forma em que momento a arquitetura das nossas cidades se afastou tanto
dessa constatação?
A reprodução dos espaços e o predomínio da forma sobre a função, talvez
seja, a melhor resposta. O pontapé inicial possivelmente com a arquitetura clássica
que privilegiava o geométrico e os terrenos planos. Espaços muitas das vezes
deslocados da escala humana e que abusavam de materiais que viajavam quilômetros
até o local onde seriam utilizados, até os tempos atuais.
Em arquitetura, se faz comum reproduzir modelos conceituados no mundo em
locais que em nada dialogam com o terreno para o qual fora inicialmente projetado.
São Luís tem como exemplo claro disso o uso excessivo de vidros em fachadas, ainda
se valendo do argumento de uma eficiência energética que só seria alcançada em
localidades de clima frio.
Essa falta de cuidado ou preocupação com as reais condições climáticas o
entorno e o relevo na hora de projetar produziu espaços desconectados da natureza,
verdadeiros rasgos na paisagem natural geradores de desequilíbrios. Tem-se cada
ano mais enchentes, secas e demais catástrofes justo por travarmos uma briga com
as linhas curvas e disformes do meio ambiente ao invés de entender e trabalhar lado
a lado com elas.
Soa assustador, porém em alguns casos deve-se desligar dos ícones e
discordar de Le Corbusier. A atual face das nossas cidades; excessivo consumo de
energia, grande geração de resíduos, poluição atmosférica, hídrica, sonora e visual
exige uma mudança urgente no processo de habitar. Se faz necessário interferir
menos no meio natural, permitir a fluidez da paisagem, integra-se, causar o menor
impacto ambiental possível, usufruir dos recursos locais, ser sustentável,
energeticamente consciente etc. A arquitetura que carrega todos estes parâmetros e
preocupações se define Arquitetura Ecológica.
Precisamos distinguir um pouco o conceito de arquitetura ecológica do de
arquitetura sustentável, embora ambas sejam muito similares e em alguns casos até
sinônimas. A primeira é aquela que tem cuidado especial com a integração do edifício
com o meio ambiente, procurando causar o menor impacto possível à natureza. Está
associada a técnicas passivas de construção, como iluminação e ventilação natural,
16

às estratégias verdes, como os jardins verticais e os telhados verdes, ao


aproveitamento da água da chuva, e ao uso de materiais locais e naturais como, por
exemplo; a terra, o bambu, tijolos ecológicos, entre outros.
Já o termo sustentável, muito mais recente, tem como melhor definição a de
Brundland, (1987) da ONU – “desenvolvimento sustentável é aquele que atende as
necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de atenderem a suas necessidades e aspirações”. Portanto a arquitetura
sustentável busca minimizar os impactos ao meio ambiente, sendo ecologicamente
correta, mas também deve promover o desenvolvimento social e cultural, além de ser
viável no âmbito econômico.
Além de utilizar técnicas passivas de construção, a arquitetura sustentável
pode utilizar novas tecnologias que otimizam a edificação, como por exemplo, o uso
de painéis solares fotovoltaicos, materiais fabricados em escala industrial e sistemas
de automação, entre outros. Por isto ao conceito de arquitetura sustentável se torna,
muito melhor aceito e difundido na construção contemporânea, incluindo até mesmo
leis para a sua garantia em muitas cidades.
A arquitetura ecológica não é novidade, usar recursos locais na construção
não é uma pratica recente, os índios já construíam com terra antes de serem
colonizados e até mesmo os esquimós utilizam o gelo para fazer os iglus.
"Grandes monumentos arquitetônicos, como a grande muralha da China e as
pirâmides mexicanas, são de adobe. No Iêmen há prédios de nove andares
construídos com adobe. O Taj Mahal é todo de bambu, e está lá há 700 anos" (Peter
Van Lengen).
Na Alemanha, em Weilburg, está um prédio com seis andares com quase 200
anos, que já resistiu a um incêndio, construído com taipa de pilão (terra crua). A Escola
Ecológica, na Indonésia, além de ser feita de bambu ainda ensina técnicas de
construção com ele, colheita e jardinagem, além da educação tradicional. O campus
conta com tecnologia de ponta, onde agricultores, arquitetos e jardineiros transmitem
total estímulo à educação.
17

Figura 1 - Edifício de barro de Weilburg – Alemanha


Fonte: (http://www.ntcbrasil.com.br/).

Outro ponto interessante nesta arquitetura é o apelo econômico justo por conta da
utilização de materiais disponíveis no ambiente e ausência de necessidade de mão
de obra altamente qualificada. Um grupo de amigos norte americano dentre eles Brian
Liloia construíram com as próprias mãos a COB House, uma casa utilizando um
material moldável feito de argila, areia e palha. A construção levou nove meses e
custou oito mil reais. Em sua composição, foram utilizados barro, madeira, pedras,
areia e fibra.
O problema é a maneira tímida com que este conceito é empregado na arquitetura
moderna e nas grandes construções, neste quesito países como a Alemanha, a
Indonésia, o México e os EUA são os que mais se destacam por terem exemplos de
construções modernas que seguem o conceito de construção ecológica.
Certamente, o nome mais conhecido quando se discute construções sustentáveis
é Johan Van Lengen, autor do livro Manual do Arquiteto Descalço que já teve edições
em vários países e se configura leitura obrigatória para o tema.
Fundador do Bio-Arquitetura e Tecnologia Intuitiva (1987), denominado Tibá,
Johan compartilhou técnicas com terra, bambu, madeira, pedras e demais materiais
de baixo custo e fácil disponibilidade provando a viabilidade e as vantagens da
arquitetura ecológica. Ainda hoje o Tibá é referência executando grandes projetos em
Moçambique, no México, no Brasil etc, melhor gestados com o meio ambiente,
geradores de pouquíssimo impacto ambiental e extremamente coerentes com a
natureza e a vida moderna.
O Tibá influenciou a criação de muitos outros centros de educação e construção
18

ecológica no mundo como, o BAM (Bio-arquitetura mediterrânea) e o TETO. Também


influenciou muitas universidades, a Politécnica de Cataluña tem como projeto de
extensão permanente atividades de cooperação com tecnologias construtivas de
baixo custo em assentamentos, zonas de refugiados, quilombos, áreas rurais, dentre
outros.
O arquiteto italiano Giuliano Mauri, também usou bem os conceitos de
arquitetura ecológica no projeto da Catedral Vegetal, em Bergamo. Uma imensa
estrutura com 42 colunas e 5 corredores construídos com 1.800 troncos de abeto, 600
de castanheiro e 6.000m de troncos de aveleira unidos entre si por madeiras flexíveis,
estacas, e cordas que foram unidas através de uma antiga arte de entrelaçamento. O
resultado é uma arquitetura surpreendente que será influenciada pela natureza, pelo
crescimento das espécies e pelas estações do ano.

Figura 2 - Catedral Vegetal em Bergamo


Fonte: (http://anatomiarquitetonica.blogspot.com.br/).

Por fim, recentemente o arquiteto Shigeru Ban foi o vencedor do Prêmio


Pritzker (2014) e vem se destacando não só pelo uso de materiais não convencionais
(particularmente o papel), mas também por desenvolver projetos de alta qualidade e
de baixo custo, para os que mais precisam - refugiados e vítimas de desastres
naturais.
Para Shigeru Ban, a sustentabilidade é um fator intrínseco à arquitetura. Em
suas obras há um esforço para encontrar produtos e sistemas adequados que estão
em harmonia com o meio ambiente e que usem materiais renováveis e produzidos
localmente, sempre que possível. Seu edifício de escritórios Tamedia recém-
inaugurado em Zurique, por exemplo, usa um sistema estrutural de madeira trançada,
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completamente desprovida de peças metálicas nas juntas ou de cola.

Figura 3 - Estrutura do Escritório Tamedia em madeira plantada


Fonte: (http://www.designboom.com).

2.1.2 TECNOLOGIAS DE BAIXO CUSTO PARA A COOPERAÇÃO

O caráter econômico da Arquitetura Ecológica se dá principalmente em função


de dois elementos: a escolha adequada de materiais e o emprego de mão de obra
local. Por utilizarem técnicas simples e de rápido aprendizado, valorizando a
arquitetura tradicional, este tipo de construção pode aproveitar o trabalho do próprio
morador, familiares, vizinhos e demais voluntários.
Cooperação e voluntariado fazem parte importantíssima deste processo, uma
vez que gera um forte vínculo morador x comunidade x habitação, além de baratear
muito os custos. O canteiro de obras na construção ecológica acaba funcionando
como uma escola repartindo técnicas e desenvolvendo estas tecnologias de baixo
custo para que as mesmas possam ser cada vez mais adequadas e eficientes nas
edificações futuras.
20

Figura 4 - Classe de Tecnologies de Baix Cost per a la Cooperació (BAM)


Fonte: Autoria própria.

Além do Tibá, do BAM e do TETO, institutos conhecidos por trabalharem com


cooperação existem várias cartilhas e livros já lançados que auxiliam neste
desenvolvimento construtivo desde a escolha do material mais adequado para
edificação, elaboração projetual até a construção em si. Dentre eles destaco o Manual
do Arquiteto Descalço, de Johan Lengen, o Caderno de Consumo Sustentável –
Construções, do Ministério do Meio Ambiente, e a cartilha Curso de Bioconstrução,
também produzida pelo Ministério do Meio Ambiente.
A escolha adequada do material ou materiais que serão utilizados em uma
construção ecológica se configura peça fundamental para uma menor geração de
resíduos, reduzido impacto ambiental, menor custo, máximo conforto térmico e
acústico, maior eficiência energética etc. Para tanto precisamos reconhecer as
potencialidades locais (presença de jazidas, argila, areia, bambu ou demais materiais
construtivos em abundância no terreno ou próximo dele) e as características básicas
destes materiais na edificação (condições térmicas, flexibilidade, resistência,
umidade, durabilidade). Os materiais mais comumente utilizados nas construções
ecológicas são:

a. TERRA

A maioria das técnicas construtivas tradicionais utiliza terra por este ser um
material abundantemente encontrado na natureza, diminuindo muitos os custos da
edificação. Ela aparece na fabricação de adobes e superadobes, nas paredes de taipa
de mão, de pilão, pisé etc. Capaz de controlar a entrada e saída de calor e a umidade,
uma construção com terra crua tem excelente conforto térmico, além de produzir
21

baixíssimo impacto ambiental.

b. PEDRA

Muitos solos são ricos em pedras e os diversos tipos permitem uma grande
variedade de utilização. Na bioconstrução as pedras podem ser usadas desde a
fundação apoiando as paredes de terra sobre elas, até mesmo nas próprias paredes,
em muros, pisos, fornos, lagos etc. Maximizando assim a resistência destes
elementos.

c. MADEIRA

A madeira é um recurso renovável e abundante se utilizado de maneira


consciente, quando ela provém da exploração de matas e florestas a preocupação
com a legalidade e com o tamanho do impacto ambiental deve ser redobrada. Mesmo
na compra de madeira plantada é necessário saber a origem desta madeira e todos
os demais aspectos legais para uma utilização ecológica. Neste contexto o bambu é
uma excelente opção de material, pois tem crescimento rápido, não necessita ser
reflorestado (se extraído corretamente) apresenta alta flexibilidade, podendo ser
utilizado até mesmo em locais onde ocorrem terremotos, resistência e grande leveza.
Retentora de CO2, a madeira por ser orgânica necessita tratamento para evitar o
apodrecimento, aumentar a durabilidade e diminuir a retração do material, depois que
a edificação estiver pronta.

d. PALHA

O clima brasileiro permite o crescimento de diversas espécies de palmeiras, o


que gera uma variedade de palhas que podem ser utilizadas em mesclas com terra
para o adobe ou a taipa, com argila para o COB etc. Essa mistura garante melhoria
de resistência e melhor aglutinação dos componentes. A palha proveniente do resíduo
da produção do arroz também pode ser transformada em fardos ou prensada e ser
utilizada na construção de paredes evitando a queima desse resíduo.

e. RESÍDUOS COMO RECURSO


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A arquitetura ecológica tem como uma das principais premissas gerar um ciclo
fechado, ou seja, levar em conta o tratamento e o aproveitamento de todos os resíduos
gerados na construção e também no funcionamento posterior da edificação. Lixo de
cozinha, lixo seco (plásticos, papéis, latas), esgoto primário e secundário, restos de
construção, águas pluviais etc. Casas antigas podem ter seus materiais construtivos
reutilizados em uma nova edificação, no banheiro seco o resíduo passa a ser usado
na compostagem, assim como o lixo orgânico, as águas pluviais e provenientes das
pias podem ser tratadas e armazenadas, o lixo seco vira paredes, divisórias, moveis
brinquedos e até painéis solares.

2.1.3 ECOVILAS NO BRASIL

O conceito de ecovila foi definido em 1995 junto com a criação do Global


Ecovillage Network, na Escócia, em um encontro entre membros de comunidades
sustentáveis e veio para materializar os ideais da permacultura. Hoje essa definição é
aceita internacionalmente pela ONU:

Ecovilas são comunidades rurais ou urbanas de pessoas, que


buscam integrar um ambiente social assegurador de um estilo de vida
de baixo impacto ecológico. Para atingir este objetivo, as ecovilas
integram vários aspectos do projeto ecológico, permacultura,
construções de baixo impacto, produção verde, energia alternativa,
práticas de fortalecimento de comunidade e muito mais
(gen.ecovillage.org).

Essas vilas, também geram atividades internas de lazer para sua comunidade,
convívio social, serviços de saúde, educação, trabalhos comunitários, entre outras
atividades produzindo uma grande autonomia.
São vários os projetos de Ecovilas conhecidos fora do Brasil, podemos
destacar o Eco Truly Park, no Peru, a Comunidade Finca Bellavista Treehouse, na
Costa Rica, o Tamera Peace Research Village, em Portugal, e o Inanitah, no
Nicarágua. E no nosso país? Será que o modelo de ecovilas como comunidade
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habitável possui de fato uma expressão significativa?


O próprio Global Ecovillage Network nos responde um pouco essa pergunta
com seu banco de dados contendo mais de 30 ecovilas brasileiras registradas (2016),
esse número em 2002 era de apenas sete. Por se tratarem em sua grande maioria de
comunidades rurais, muitas ecovilas não aparecem nesta listagem, mas igualmente
existem e resistem como meio sadio de habitação e arquitetura.
Interagindo com grupos internacionais, o Global Ecovillage Network e o World
Ecovillage Movement, o Movimento Brasileiro de Ecovilas também aparece como forte
expressão nesse cenário, tendo representatividade em fóruns, lideranças locais e
encontros mensais, defendendo seus pontos de vista conforme assertiva abaixo:
"Nosso grupo não pretende criar nenhuma ecovila nem liderar
nada, mas ajudar, cooperar, trabalhar na interação entre os
grupos, criando atividades integrativas, visando organizar uma
linha de ação, traçando estratégias e estabelecendo
democraticamente uma agenda"
(https://mbecovilas.wordpress.com)

No Brasil, também se destacam ainda a existência da ENA Brasil, uma rede


de conexão e articulação entre ecovilas e iniciativas afins, do IPEMA - Instituto de
Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica, uma organização da Sociedade Civil de
Interesse Público para fomentar e difundir a permacultura na criação de
assentamentos humanos sustentáveis, e do IPEC - Instituto de Permacultura e
Ecovilas do Cerrado, uma organização que visa estabelecer soluções apropriadas,
demonstrando a viabilidade de uma cultura sustentável, oportunizando experiências
educativas e disseminando modelos.
Devem-se considerar as diferenças entre as ecovilas mais desenvolvidas e as
brasileiras. As grandes ecovilas, como por exemplo, Auroville (Tamil Nadu, Índia) e o
Movimento Sarvodaya para a Paz (Índia) têm um forte cunho social. A primeira pode
ser considerada uma cidade devido a sua dimensão e a segunda é caracterizada por
ser a maior rede de ecovilas existente, além da grande capacidade de transformação
social de regiões pobres do país onde está inserida, Sri Lanka (Bissolotti, 2004). As
Ecovilas aparecem como uma proposta viável para populações brasileiras de baixa
renda e não somente na área rural, uma vez que uma comunidade autosustentável se
torna capaz de driblar problemas sociais como a fome e a pobreza. No Brasil algumas
já desempenham esse papel:

a. VILA CÉU DO MAPIÁ - SANTO DAIME – ACRE


24

Dentro da Floresta Nacional do Purus e Mapi – Inauini, no Acre, se encontra


a Associação dos Moradores do Mapiá. Por ser uma área de preservação ambiental,
a associação é responsável, junto com o IBAMA, da administração da floresta onde
está inserida. Com mais de vinte anos de existência é integrada por vários segmentos
sociais, desde profissionais liberais e trabalhadores de centros urbanos até a
população tradicional do local que seguem a doutrina espiritual do Santo Daime
(SANTO DAIME, 2004). A vila abriga uma escola, posto de saúde, casa de artesanato
e de ofícios femininos, oficina de motores, casa de farinha, cozinha comunitária, cerca
de cem residências e se caracteriza tanto pela sustentabilidade ecológica quanto pelo
grande trabalho social ajudando na capacitação profissional de crianças e jovens. A
região sofre com doenças como malária, hepatite, lechimoniose, hanseníase, logo a
comunidade da ecovila tem papel importante para impedir o êxodo rural.

b. CLAREANDO - SERRA DA MANTIQUEIRA – SÃO PAULO

Trata-se de um condomínio rural com 23 hectares, dois de mata nativa que se


encontra em área de proteção ambiental. Cada família integrante ainda se envolve em
atividades ligadas à permacultura, apicultura, horticultura, construção com materiais
alternativos, entre outras. Esta ecovila promove piqueniques, reflorestamento,
tratamento de esgoto e oficinas sobre soluções ecológicas.

c. ECOVILA BAMBU - IVOTI – RIO GRANDE DO SUL

Uma escola de autossuficiência, como se denominam, de 9 hectares


localizada na serra gaúcha. Fundada por um bioconstrutor e uma terapeuta holística
tem como base principal a permacultura. Atuam como um espaço comunitário
ensinando inúmeras práticas tradicionais como: agricultura orgânica, bioconstrução,
sistemas agroflorestais, permacultura, criação de animais, energia alternativa, artes
em geral etc. O mais curioso desta ecovila talvez seja o seu objetivo de existência:
Ser como o bambu.

“Se curva, mas não quebra ensinando assim a preciosa lição da


humildade e da flexibilidade; a fragilidade é apenas aparente e
há registros de que suporta até furacões; vive sempre em
25

comunidade dando exemplo da importância da família; não se


deixa derrotar pelas adversidades e mesmo após um inverno
rigoroso retorna rapidamente ao vigor; busca a sabedoria no
vazio com seu interior oco, lembrando-nos de estar receptivos
ao novo; cresce sempre para o alto visando os céus e o mundo
espiritual; vive na simplicidade com poucos ou quase nada de
galhos ou adornos sem utilidade” (Ecovila Bambu).

d. ARCA VERDE - SÃO FRANCISCO DE PAULA – RIO GRANDE DO SUL

O projeto do instituto iniciou em 2005, contem 13 moradores e 15 sócios


usufruindo de 25 hectares. Possuem autonomia de 30% na alimentação e operam
com uma moeda social dentro da ecovila (verdinha) contendo até mesmo um
Ecobanco na Arca. Grande parte da fonte de renda do instituto vem de cursos,
vivencias visitações e venda de produtos artesanais, a parte energética também
apresenta boas soluções com a utilização de energia solar, fotovoltaica e um projeto
de micro- hidráulica.
A infraestrutura da Ecovila Arca Verde segue seu projeto-planejamento
permacultural (em construção) que inclui hortas e agrofloresta, alojamento coletivo,
cozinha e refeitório comunitários, espaço social e espiritual, ateliês, galpões e oficinas,
espaço para as crianças, lotes de uso particular, familiar e coletivo, entre outros.

e. CATUÇABA ECOVILA - SÃO LUÍS DO PARAITINGA – SÃO PAULO

Fruto do escritório MK27, de Marcio Kogan, o Catuçaba ecovila tem caráter


comercial e é na verdade um conjunto de casas na montanha capazes de produzir a
própria energia, tratarem o esgoto que geram e usarem alimentos retirados da própria
horta, a serem construídas ao redor da fazenda Catuçaba em São Paulo. A
propriedade é de um francês, Emmanuel Rengade, que resolveu investir em um
conceito de “luxo artesanal”. Uma vila ecossustentável com uma boa dose de
sofisticação.
Quem adquire um lote de terra pode construir o projeto de Kogan, que é o
único permitido, mas pode ser construído em diferentes escalas e ter seu interior
modulado em outras configurações. Os proprietários dos lotes recebem acesso à
infraestrutura e aos serviços do hotel-fazenda.
A ecovila tornou-se um dos dez projetos escolhidos para testar e aprimorar a
versão piloto do Residencial Casa, certificação de sustentabilidade residencial que
26

está sendo desenvolvida pelo Green Building Council (GBC). Cada casa tem 100%
da madeira certificada FSC, energia elétrica gerada para 100% do consumo por
turbina eólica e painéis fotovoltaicos, um sistema de tratamento de esgoto para 100%
dos efluentes, possuem 80% dos resíduos desviados de aterro e devido à utilização
da ventilação e iluminação natural da paisagem conseguem ter uma redução
energética de 35%. Em 2015, o projeto piloto ganhou o selo Platina como Referencial
GBC Brasil Casa.

2.1.4 MARANHÃO E SUSTENTABILIDADE

O Maranhão encontra-se em uma zona de transição do clima semiárido para o


clima úmido equatorial. Cerca de 64% da área do Estado está situada no Bioma
Cerrado, enquanto o Bioma Amazônia ocupa 35% e a Caatinga, 1%. O setor de
atividade com maior presença na economia é o setor de serviços (67%), enquanto a
agropecuária e a indústria respondem por 17% e 16% do PIB estadual,
respectivamente (IBGE, 2010). Estas atividades que são tão importantes
economicamente também são as que mais exercem pressão por desmatamento no
Estado, até o ano de 2011 este foi de 105,2 mil km², 70% da área de floresta
amazônica do Maranhão, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE).
Sustentabilidade se torna um conceito difícil de propagar em um estado cujo
capital, São Luís, tem todas as suas praias improprias para o banho
(http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2015/05/, acessado em maio de 2016) e
que ainda assim peca em um tratamento de esgoto eficiente. A quantidade de obras
embargadas e logo após autorizadas mesmo diante de derrubadas de babaçuais e
outros espécimes protegidas por lei, a edificação de grandes empreendimentos
imobiliários avançando sobre as dunas ou em áreas de preservação ambiental só
exemplificam o quanto o caminho para uma arquitetura consciente, sustentável e
ecológica será árduo e parece se tornar cada dia mais distante.
Foram vários os conflitos nos últimos anos no Maranhão entre comunidades
mais tradicionais / rurais ou assentamentos e grandes empreendimentos, podemos
citar o caso do Vinhais Velho com a Via Expressa, a comunidade da Prainha e o
27

prolongamento da Avenida Litorânea e mais recentemente, a ampliação do Porto do


Itaqui e o impasse com a comunidade do Cajueiro. Famílias que vivem da pesca, da
criação de animais, da agricultura familiar e da extração vegetal passam cada dia mais
a não ter espaço nas cidades frente ao vigente modelo de urbanização e até mesmo
a imaculada linha tênue entre urbano e rural se torna extremamente ameaçada.
O cenário não é muito animador, porém as iniciativas positivas existem apesar
de algumas não conseguirem avançar. Em 2013, o IAB promoveu um concurso para
o projeto de uma Ecovila na área da Prainha e apresentou esta solução para o
impasse entre moradores e o poder público. Diante do caráter ecológico, equilibrado
ambientalmente, fortalecedor social e de baixo custo e impacto, as ecovilas podem
existir em áreas de preservação, em florestas, reservas e a própria existência delas
vem a funcionar como melhor instrumento de controle, gestão e proteção das
mesmas.
Pequenos produtores e posseiros rurais de assentamentos do Estado e do
INCRA, de áreas de abrangência dos programas Crédito Fundiário, Cédula da Terra
e Terra Legal e de Comunidades Quilombolas aparecem como beneficiários desde
2013 no projeto Maranhão Sustentável, em parceria com o fundo da Amazônia. Ao
todo são 31 municípios assistidos com R$ 20.849.000,00 de verba. O projeto pretende
regularizar propriedades, conscientizar a população sobre práticas sustentáveis e
investir no combate ao desmatamento. Infelizmente até agora o projeto só cumpriu
29% dos resultados prometidos, o prazo de execução total era de apenas 30 meses
(2,5 anos), segundo o apresentado no site do Fundo da Amazônia.
Verba como esta poderia ser direcionada a projetos que incentivassem
comunidades maranhenses, a se tornarem ecovilas, incentivando o cultivo e a
produção artesanal e inserindo as mesmas nas técnicas de bioconstruçao. Técnicas
que muitas das vezes são bem conhecidas porem executadas em caráter rudimentar,
como é o caso das casas de taipa no interior do estado.
O Maranhão não possui nenhuma ecovila reconhecida, isto se consideramos a
presença de algumas características como fator primordial para este título.
Permacultura, bioconstruçao, reaproveitamento de resíduos e valorização cultural
aparecem pontualmente e de maneira tímida em assentamentos e comunidades. O
Tibá pontua a Regional Maranhão como uma comunidade ENA (Rede Nacional de
Ecovilas) Brasil, entretanto as informações a respeito dela são quase inexistentes e
esta não se encontra registrada como ecovila na rede global.
28

Em compensação a representatividade maranhense em fóruns, encontros,


seminários e reuniões relacionadas à ecohabitação no Brasil e no mundo existe, o que
mostra que as ecovilas são um modelo reconhecido para o estado e que falta muito
pouco para que diversas comunidades já consolidadas se tornem ecovilas
sustentáveis e ecologicamente sadias.
29

3 METODOLOGIA

O processo metodológico se iniciou por meio de levantamento bibliográfico em:


livros, cartilhas, artigos científicos e legislações, com o intuito de estudar sobre o
conceito de sustentabilidade, tecnologias construtivas de baixo custo e impacto, e
arquitetura ecológica referenciando-os no contexto global, maranhense e
contemporâneo, a partir destes os referenciais teóricos para a concepção do estudo
preliminar da ecovila foram definidos.
Após, houve a pesquisa de exemplos de arquitetura ecológica e soluções
urbanas sustentáveis como: ecovilas existentes, construções “com terra”, utilização
local de potenciais energéticos renováveis, entre outros exemplos. Com o objetivo de
conhecer os instrumentos arquitetônicos mais adequados e de menor impacto para
as condições de clima, solo e relevo maranhense. Estas referências projetuais
ajudaram a desenhar o programa de necessidades do modelo de habitação ecológica
apresentado.
Foram realizadas algumas visitas à prefeitura de Paço do Lumiar a fim de
encontrar um terreno potencial para este tipo de empreendimento junto à secretaria
de infraestrutura. A busca pelo terreno de implantação também resultou no estudo de
mapeamentos e in loco de áreas em São Luís e em São José de Ribamar.
Mais pesquisas sobre comunidades habitacionais, eco-desenvolvimento,
sustentabilidade, permacultura e educação cultural foram necessárias para moldar o
perfil e o programa de necessidades deste estudo preliminar para a implantação de
uma ecovila no Maranhão.
Os estudos relacionados à ventilação, implantação dos edifícios no relevo
existente, fluxogramas, aproveitamento dos materiais construtivos locais, croquis e
esquemas fizeram parte do desenvolvimento deste estudo preliminar. Por fim, para o
modelo habitacional além dos já citados foram desenvolvidos estudos volumétricos,
plantas e maquetes eletrônicas a fim de eleger materiais e tipologias adequadas até
concepção final da proposta.
30

4 CONCEITO

4.1 REFERENCIAS PROJETUAIS

Ao desenvolver o estudo preliminar para a implantação de ecovila no


Maranhão, alguns projetos existentes serviram de referencial. No modelo habitacional
as referências foram tipologias avarandadas que pudessem permitir uma melhor
circulação dos ventos em função do clima quente que predomina no estado, mas que
também utilizassem materiais baratos, facilmente encontrados e técnicas de
construções mais rápidas ou já comumente utilizadas na região. Como é o caso da
taipa.
Para a proposta da ecovila em si, o principal parâmetro foi internacional. As
ecovilas brasileiras ainda estão caminhando para uma grande expressividade no país
e no mundo, as mais consolidadas estão presentes em regiões cujo solo e clima
divergem muito do encontrado no Maranhão. Portanto partiu-se da escala macro, com
a maior ecovila registrada no planeta até uma ecovila de dimensões mais reduzidas,
em solo sul-americano, e com uma realidade mais próxima do que viria a ser uma
ecovila implantada no estado.
A intenção das referências projetuais é ajudar na definição de um programa de
necessidades tanto para o modelo habitacional quanto para a ecovila que seja
harmônico com a arquitetura ecológica local e com a expressão sustentável, cultural
e ecológica que as ecovilas desempenham no mundo.

4.1.1 MODELO HABITACIONAL

As casas referência estudadas para a criação de um modelo habitacional


ecológico foram várias, algumas de caráter apenas sustentável, seja na utilização de
materiais construtivos, seja no reuso da água, outras com uma pegada ecológica
muito mais marcante e o aproveitamento máximo dos recursos locais. As habitações
que mais influenciaram este projeto foram duas:
31

a. CASA CUBIERTA – MÉXICO

Arquitetura social levando o nome da associação civil Comunidad Vivex e


construída em caráter de cooperação entre a família moradora, colegas e amigos. A
execução dos 52 m² levaram quatro anos para serem edificados (2011-2015). O tempo
largo se deu em função da disponibilidade que os familiares tinham para se dedicar a
construção, geralmente 1 ou 2 dias por semana. Isto também é influenciado pelo fluxo
de doações de materiais e recursos recebidos.

Figura 5 - Maquete, Planta Baixa e Fachada Principal da Casa Cubierta.


Fonte: (http://www.archdaily.com.br/).

Na planta baixa, o pátio interno com pérgola e um piso permeável em pedra


32

triturada, à separação nítida em dois blocos, sobre o bloco social se propõe uma
coberta que se estende até o bloco intimo gerando uma cobertura que une as duas
partes da habitação com a finalidade de melhorar o espaço interior comum
proporcionando um isolamento térmico a base de vazios e correntes naturais de ar,
gerar a captação da água da chuva para seu reuso. Custo total de R$ 20.000 (90.500
pesos mexicanos).

b. CASA MODERNISTA CAIPIRA – BRASIL

Este é o projeto de habitação da Catuçaba Ecovila, em São Paulo. Construída


com 197 m² em terreno acidentado sobre pilotis para maior aproveitamento da vista e
integração com o ambiente. A estrutura é toda de madeira laminada certificada
desenvolvida de maneira modular especialmente para esta construção, além de
também possuir dois muros laterais edificados com adobe feito com terra proveniente
do terreno.
Os caixilhos recebem vidro duplo intercalado com vidro simples para maior
conforto térmico e eficiência energética. As paredes dos dormitórios e banheiros são
de wood-frame com isolamento termo acústico de lã de garrafa PET. Painéis móveis
com toras finas de eucalipto que funcionarão como filtros de luz e calor na fachada de
maior insolação. A produção de energia da casa é efetuada através de painéis
térmicos e fotovoltaicos na cobertura além de uma pequena turbina eólica O fogão a
lenha, clássico caipira, usual para o aquecimento da casa complementa o projeto
premiado.
33

Figura 6 - Layout Casa Moderna Caipira


Fonte: (http://www.casasdecatucaba.com.br/).

4.1.2 ECOVILA

As principais ecovilas que serviram de referência para a proposta final deste


estudo preliminar já foram comentadas no capítulo sobre ecovilas no Brasil, porém
algumas internacionais apresentadas abaixo, também foram de suma importância
para a definição do programa de necessidades deste projeto.

a. AUROVILLE – ÍNDIA

A baía de Bengala, onde se encontra essa ecovila é uma região com escassez
de água, clima seco e altos índices de miséria e fome, porem desde 1968 quando foi
iniciado o crescimento da pequena comunidade resultou em uma ecocidade com
2.000 pessoas em 90 assentamentos ocupando 3.000 acres.
A Auroville já plantou cerca de dois milhões de arvores nativas, é composta por
doze fazendas, 24 escolas experimentais e mais de cem negócios na área artesanal
34

sendo um instrumento forte no combate aos problemas sociais da região, sendo assim
reconhecida pela UNESCO como comunidade internacional.
O aspecto religioso e cultural da índia se faz presente nas edificações, na
ecovila existe um centro de cura, um programa de artes marciais, um centro de
estudos indianos, um centro de idiomas, incluindo o Sânscrito e um laboratório de
pesquisas de transformação da consciência (JACKSON & SVENSSON, 2002, p.111).

Figura 7 - Vista Aérea da Auroville


Fonte: (www.auroville.org).

b. FUNDAÇÃO FINDHORN – ESCÓCIA

Implantada há mais de 30 anos, é pioneira sendo considerada comunidade


ecológica modelo pelas Nações Unidas. Com uma população atual de 500 moradores
de várias nacionalidades e constante fluxo de visitantes, a ecovila cultiva 60 % de todo
o alimento consumido por ela além de produzir 27% de toda a energia elétrica utilizada
(FINDHORN, 2002).
São 27 edificações ecológicas na comunidade, exemplos no desenvolvimento
tecnológico de bioconstruçao com materiais locais como a madeira, o feno, a argila, a
lã, entre outros e principalmente na reutilização de materiais construtivos não usuais
nas edificações: barris de Whisky, típicos da Escócia.

c. HUEHUECOYOTL – MÉXICO

Em menor escala comparada com as outras referências e mais próxima do


35

perfil inicial de uma ecovila implantada no Maranhão. Fundada em 1982 por artistas
mambembes contém atualmente cerca de 20 moradores, mas o voluntariado, a
permacultura e a cooperação agregam dezenas de outros membros a ecovila. A
origem no teatro móvel compõe a essência cultural da comunidade que promove
cursos de arte e possui membros que ainda viajam em Caravana.

4.2 CONCEPÇÃO DA ECOVILA

4.2.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES

As ecovilas apresentadas como referencial projetual possuem determinados


serviços e edifícios em comum: um núcleo educacional seja para ser usado em
oficinas, práticas religiosas ou para o ensino das técnicas de bioconstrução; um
alojamento, para abrigar voluntários e visitantes (este aspecto é de extrema
importância para a característica cooperativa das ecovilas); uma área para cultivo em
sistema de permacultura; um refeitório comunitário; etc.
A partir destes denominadores comuns o quadro abaixo define o programa de
necessidades da ecovila deste estudo preliminar:

EDIFÍCIO 1
ITEM AMBIENTE UNIDADE ÁREA (M²) TOTAL
1 QUARTO 3 (12 A 24 21,30
ALOJAMENTO CAMAS)
2 REFEITÓRIO 1 110,70
COMUNITÁRIO
3 COZINHA 1 22,80
COMUNITÁRIA 438,10
4 BANHEIRO 4 5,90 (2) M²
10,40(2)
5 LAVANDERIA 1 32,85
6 SALAS EDUCACIONAIS 4 20,15 (3)
39,60 (1)
36

7 PÁTIO COBERTO 1 117,80


EDIFÍCIO 2
9 BANHEIROS 2 10,00 450,80
10 PÁTIO COBERTO 1 440,80 M²
COMERCIAL
11 LOJA 8 20,60
12 ARMAZÉM 1 120,70 2.450,00
13 ÁREA DE CULTIVO 1 2.309,00 M²
RESIDENCIAL
14 RESIDÊNCIA 17 77,00 2.584,00
15 ESTACIONAMENTO 68 (VAGAS) 18,75 M²

Figura 08 – Programa de Necessidades Ecovila


Fonte: Autoria própria.

4.2.2 TERRENO

O terreno para esta implantação de uma ecovila no Maranhão, em caráter de


estudo preliminar, está localizado no município de São José de Ribamar em uma
localidade conhecida como Vila Piçarreira. Possui 42.670 m² e face norte voltada para
um corredor primário, a MA-201 (Estrada de Ribamar).

Figura 09 - Terreno para Implantação


Fonte: Autoria própria.

Segundo o Plano Diretor Participativo do município, encontra-se na Zona


Residencial 8. Esta margeada por uma Zona Industrial de Produção de Alimentos e
uma Zona Rural. Nas proximidades há alguns loteamentos residenciais, galpões
comerciais, uma igreja e um parque aquático.
37

Figura 10 – Zoneamento do Terreno para Implantação


Fonte: Autoria própria.

Quanto à topografia a área tem cinco cotas de níveis variando de 39 m a 43 m


com 1m de diferença entre elas. A leste, o terreno tem a maior altitude e vai declinando
a oeste.

Figura 11 – Topografia do Terreno para Implantação


Fonte: Autoria própria.

4.3 PROPOSTA ECOVILA (ESTUDO PRELIMINAR)

4.3.1 SETORIZAÇÃO

A implantação de todos os edifícios, bem como dos demais equipamentos


urbanos necessários a esta ecovila baseiam-se na integração com a natureza
existente, interferindo o menor possível nas curvas naturais e tomando vantagem da
38

iluminação e ventilação natural.


Na porção de cota mais baixas ao sudoeste e que receberá o escoamento
natural das aguas pluviais foi previsto três cisternas venezianas, e um pequeno lago
de captação. Nas cotas mais baixas também estão áreas próprias para cultivo, em
caráter de permacultura, assim como um edifício para armazenamento destes
alimentos, de maneira a aproveitar o potencial mercado que está margeado por uma
Zona Industrial de Produção de Alimentos possa ocasionar.
O trecho leste do terreno possui as duas maiores cotas em latitude (42 m, 43
m) e acesso a Estrada de Ribamar, este foi reservado para uma possível ampliação
da ecovila e poderá ter áreas destinadas ao poder público para a construção de
escolas, hospitais ou até mesmo para a futura edificação destes pelos próprios
moradores da ecovila.
Para a implantação dos principais edifícios e das residências, a faixa central do
terreno foi utilizada mantendo assim um nível um pouco mais elevado destes em
relação às áreas de plantio e de reuso das águas.

Figura 12 – Setorização Ecovila


Fonte: autoria própria.
39

4.3.2 VIAS E PAVIMENTAÇÃO

a. VIAS PRINCIPAIS

O terreno destinado à implantação deste estudo preliminar possui cinco cotas


diferentes, a fim de impactar o menos possível o relevo e ainda assim vencer os
desníveis de um metro de uma cota à seguinte, as vias principais seguem sempre que
possível as curvas de nível dentro do projeto. Três grandes vias de mão dupla (8
metros) cruzam a ecovila.
O asfalto, tipo de pavimentação comumente utilizado em grandes vias
impermeabiliza o solo, dificultando o escoamento de águas pluviais e exigindo um
grande trabalho de drenagem urbana. Características semelhantes também são
notadas no uso do concreto em estacionamentos.
Uma solução mais ecológica para a pavimentação de vias destinadas ao
tráfego de veículos são os blocos de concreto do tipo intertravado, rejuntados com
materiais permeáveis, blocos vazados preenchidos com grama, asfalto poroso ou
concreto poroso.
Estes não retêm calor, as cores claras garantem maior visibilidade noturna
(economia de energia na iluminação), não exigem mão de obra especializada para a
instalação ou manutenção, permitem a absorção da água das chuvas pelo solo e são
extremamente duráveis, por isso, também são mais econômicos.

Figura 13 – Pisograma S Modelo Max Líder


Fonte: www.maxlider.com.br.

Possuem grande variedade de cores e formatos, para a pavimentação das vias


principais a opção escolhida foi o Pisograma “S”. São necessárias 21 peças por m² e
40

o índice de permeabilidade do mesmo é de 80%, para garantir o tráfego de ônibus e


eventuais veículos mais pesados foi especificada uma espessura de 8 cm. O Veredas
do Lago Azul, um condomínio sustentável em Pium, região metropolitana de Natal tem
pavimentado 10 mil m² com igual modelo (o Parque Carlos Botelho em São Paulo
apresenta 30 km pavimentados com outro modelo de piso intertravado e é a maior
obra brasileira de pavimentação ecológica).

b. CALÇAMENTO

O piso intertravado permite uma vasta variedade de composições devido aos


diferentes formatos e cores. Assim para as calçadas o colorido dos blocos
retangulares favorece uma paginação dinâmica além de garantir com tons claros uma
boa visibilidade do trajeto durante todo o dia. Por não reterem calor, ajudam no
conforto térmico do pedestre além da característica antiaderente, impossibilitando um
piso escorregadio mesmo durante chuvas. Devido às cargas serem menores nas
calçadas, neste caso a espessura do bloco especificada é de 6 cm.

5 EDIFICAÇÕES

5.1 PROPOSTA MODELO HABITACIONAL

Os lotes para a construção do modelo habitacional ecológico sugerido não


aparecem demarcados explicitamente no terreno, nas ecovilas o individualismo dá
lugar ao coletivo. Portanto, cercar ou murar estas propriedades é um equívoco que
caminha na direção contraria ao que uma ecovila representa.
Ainda assim se faz necessário salientar uma área que permita uma possível
ampliação das residências mesmo que não claramente delimitada. Para tal um
afastamento com 5 m livres de cada fachada foi respeitado.
Ao todo a proposta da ecovila abriga 17 residências ecológicas do modelo
41

habitacional proposto, cada modelo foi desenvolvido para uma família de quatro
pessoas. A acessibilidade do projeto se reafirma pelos acessos rampeados, vencendo
o desnível do terreno para o piso da residência acima do baldrame de pedra.

5.1.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES

O número de pessoas por família no Maranhão que reside em domicilio


particular segundo o senso do BDE em 2013 é de 3,4. Sendo assim uma casa com
dois quartos de boas dimensões pode abrigar quatro moradores e atender este perfil.
A utilização dos familiares como mão de obra e o baixo custo para construir também
facilitam uma possível ampliação em casos de a família aumentar.
As áreas sociais precisam ser representativas no projeto, uma vez que este tipo
de comunidade nutre forte vínculo social com os vizinhos, até mesmo pela
característica cooperativa da construção, áreas de estar e de integração são
indispensáveis nesta habitação. A cozinha, a lavanderia e o banheiro são os cômodos
que mais geram gastos neste projeto em função das instalações hidro sanitárias,
portanto se optou por um layout com apenas um banheiro e próximo às demais áreas
molhadas. O programa de necessidades do modelo habitacional proposto se
desenhou da seguinte maneira:
42

Figura 14 - Programa de Necessidades do Modelo Habitacional


Fonte: Autoria própria.

5.1.2 VENTILAÇÃO E INSOLAÇÃO

O modelo habitacional foi orientado a nordeste. No Maranhão, ventos a leste e


nordeste são predominantes, logo permitir que a ventilação seja cruzada seguindo
esta orientação, ajuda a garantir um melhor conforto térmico, uma vez que a zona de
transição em que o estado se encontra do clima semiárido para o clima úmido
equatorial registra altas temperaturas.
43

Figura 15 - Estudo de Ventilação e Insolação


Fonte: Autoria própria.

Quanto à insolação, os quartos foram voltados para a nascente a fim de evitar


o aquecimento das paredes, estas pela própria escolha do material de que são feitas
(terra) e pela espessura funcionam como isolante térmico mantendo a casa mais
fresca. As fachadas noroeste e sudoeste, com maior insolação, possuem o mínimo de
aberturas possível.

5.1.3 FUNDAÇÃO

A boa durabilidade de uma casa construída com terra requer fundações acima
do piso, uma vez que a taipa não é muito resistente exposta a água e a umidade, por
isto optou-se por construir uma sapata corrida abaixo de toda a extensão das paredes
feita de pedras e concreto magro com 40 cm de altura mínimo acima do nível do solo.
Abaixo deste nível as alturas serão variáveis em função do relevo.
44

Figura 16 - Detalhe da Fundação no Modelo 3D


Fonte: Autoria própria.

5.1.4 PAREDES

As paredes do modelo foram concebidas com diferentes tecnologias


construtivas aproveitando assim o máximo das vantagens de cada uma.

a. TAIPA DE PILÃO/ PISÉ

Técnica construtiva tradicional que consiste na compressão da terra com um


pilão ou com os pés, conhecida também como pisé, as paredes principais da
residência modelo para a ecovila são em taipa de pilão. O material confere um bom
isolamento térmico e um resfriamento natural do ambiente em função da espessura
das paredes, neste caso de 40 cm. Essa espessura garante característica estrutural
a parede em uma habitação térrea, pode se fazer um reforço com tela de galinheiro
dentro das formas se caso a cobertura for muito pesada e apoiada diretamente sobre
as paredes. A casa foi toda modulada internamente para o tamanho padrão de
comprimento de uma folha de compensado, 2,20 m e a metade dessa dimensão.
45

Figura 17 - Montagem das Formas para o Pisé


Fonte: (EASTON, 1990, p.).

Para preencher a dimensão externa da casa há a necessidade de uma parede


de 40x40 cm, essa parede funciona como referência na hora da elevação das paredes,
sendo a primeira a ser construída, e a sobra de compensado da sua construção
deverá ser usada para produzir os moldes usados na fabricação dos tijolos de adobe.
As formas para as paredes utilizam duas placas de compensado de 20 mm,
alturas de 1,15 m e 1,60 m. O que confere o pé direito de 2,75 m. Para os fechamentos
laterais são usadas duas placas de compensado finas e espaçadores formam a
largura de 40 cm necessária para que a casa térrea não precise utilizar armaduras ou
pilares adicionais.

b. TIJOLO ECOLÓGICO/ SOLOCIMENTO

Composto com uma mistura de água, solo e um pouco de cimento, a principal


vantagem do tijolo de solocimento é a característica modular (dimensão inteira, meia
e canto) com vãos internos que permitem a passagem das tubulações elétricas e
hidráulicas sem quebras e evitando resíduos na obra. Torna-se ecológico pela
redução do consumo de energia na fabricação já que o mesmo não necessita de
queima. Ele também não necessita de revestimento, pode ficar aparente além de ser
possível apoia-lo diretamente no solo. Se recomenda o mesmo até em baldrames e
sapatas corridas.
Neste modelo habitacional, foram usados tijolos com as dimensões
apresentadas na imagem abaixo, e suas modulações, em todas as paredes que
46

necessitam a passagem de instalações hidráulicas além das paredes de apoio do


telhado, que estão expostas a umidade e as intempéries.

Figura 18 - Dimensões do Tijolo Ecológico


Fonte: (http://www.tijolosolocimento.com.br/).

c. TIJOLO DE ADOBE

A taipa de pilão não pode ser facilmente executada em cima dos vãos das
janelas e das portas, já que os caixilhos de madeira tendem a não suportar o peso da
terra compactada sobre eles. Este limitador fez com que o adobe se apresentasse
como material a cumprir essa função, pois além de ser executado na obra usando
praticamente a mesma matéria prima das paredes principais é mais leve podendo ser
modulado com as mesmas dimensões do tijolo de solocimento fazendo assim uma
composição com o mesmo conforme a necessidade.
A terra para a fabricação dos adobes deve ser testada, muito negra (gordurosa)
ou branca (arenosa) não serve a mesma também não pode ter odor de mofo. Os testes
de sedimentação, contração e tira são os mais usuais para saber se a terra é
adequada para a fabricação, entretanto o traço 4-8 / 4/ 4 de areia, argila e água,
respectivamente, resulta em uma terra apropriada.

d. COBOGÓ E PAREDE DE GARRAFAS


47

A parede que une a sala e o pátio interno da casa é composta por cobogós que
permitem a circulação do ar livremente pelos ambientes, além de propiciar a
integração visual dos dois espaços. A opção escolhida foi o mais comum de 35 cm x
35 cm feito em cimento, porém diversos modelos podem ser fabricados na
comunidade utilizando formas e a mesma terra usada na fabricação do adobe. Ou
então a partir de tijolos cônicos dispostos de diversas maneiras.

Figura 19 - Muros decorativos


Fonte: (LENGEN, 2004, p.).

Outra parede que serve de elemento decorativo no pátio central da casa e


melhora a iluminação do banheiro foi feita com garrafas de vidro assentadas no
cimento conferindo um visual diferente, quase um vitral a casa, aproveitando um
material que iria para o lixo. As garrafas também podem ser colocadas dentro dos
adobes no momento de fabricação destes.
48

Figura 20 - Face Externa da Parede de Garrafas


Fonte: (http://planetasustentavel.abril.com.br/).

5.1.5 BANHEIRO SECO

São três as principais vantagens neste tipo de banheiro, por não utilizar água
na descarga e sim uma mistura de materiais secos visando a compostagem ou
desidratação dos resíduos, ele economiza água, impacta menos o meio ambiente e
ainda transforma os dejetos em fertilizante natural.
Neste projeto, diferente do que normalmente é feito, o banheiro seco faz parte
do layout da casa ao invés de aparecer como um bloco separado no terreno. Algumas
problemáticas justificam essa separação do banheiro seco do restante da casa:
possibilidade de mau cheiro, atrativo para insetos e a altura necessária para o
armazenamento dos dejetos funcionar.
A fim de solucionar estas questões e manter o banheiro seco com um perfil
mais integrado a habitação garantindo acessibilidade e conforto o modelo da caixa de
armazenamento utilizado será de concreto, pois a vedação neste material é maior do
que a obtida com os tijolos de adobe. No próprio vaso há um segregador de urina para
homens e mulheres, e as águas são conduzidas para a rega de plantas.

Figura 21 - Esquema do Banheiro Seco e do Segregador de Urina


Fonte: (ABREU et al., 2014, p.).
49

O passo a passo do sanitário Bason é descrito no Boletim Técnico n 9 – Privada


Seca Composteira do Creative Commons. Essa cartilha foi desenvolvida para o
projeto Iguatu que construiu diversos banheiros secos no estado do Paraná. Este
modelo, segundo Peter Van Lengen, pode ficar dentro da casa e ter seu deposito
colado à fundação.
Composto por duas caixas que recebem os dejetos. Há uma inclinação nas
caixas de 30 graus com o chão para facilitar o escorrimento das fezes e do pó de serra
para a parte traseira da caixa. Na parte de trás, o piso é plano. A estrutura toda tem
1,40 m de comprimento, 1,20 m de largura e 1,15 m de altura, cada tanque com
capacidade para 3 meses de uso em uma família de 5 pessoas, o composto leva 6
meses para poder ser utilizado como adubo, por isso a necessidade de dois tanques.
Por último uma chaminé de cano PVC permite que o gás metano possa escapar e que
o gás oxigênio possa entrar nos tanques e ajudar na decomposição dos dejetos.

5.1.6 PISO

São três os tipos de piso especificados neste projeto em conformidade com a


atividade desenvolvida em cada cômodo:

a. BAMBU TRANÇADO

O bambu é um material flexível, de crescimento rápido e que não precisa ser


reflorestado se extraído da maneira correta. É facilmente encontrado no Maranhão.
Para o piso do pátio interno da casa, o bambu trançado confere o visual rustico. Em
um piso tipo esteira, parte-se o tronco de bambu e retiram-se os nós do seu interior.
Depois, abrem-se os bambus e deixa-se secar com um peso em cima para que fiquem
estirados. Usam-se várias placas inteiras amarradas umas nas outras. Também é
possível fazer ripas de 3 cm e trança-las formando distintos desenhos no piso. A
madeira em climas quentes é atrativa para cupins, portanto é necessário além de não
a assentar diretamente sobre o solo, o tratamento da mesma com vernizes e demais
50

produtos que garantam a durabilidade do material. Existem várias receitas caseiras e


ecológicas para este processo.

Figura 22 - Bambu Trançado


Fonte: (LENGEN, 2004, p.).

b. LAJOTAS

Para os pisos dos quartos e da sala de estar integrada a cozinha a escolha foi
o uso de lajotas. Este material é mais fresco, não aloja insetos e pode ser limpo com
água, pois não estraga em contato com a umidade.
Também, pode ser fabricado na obra a partir de formas preenchidas com
concreto ou solocimento, ou adquirido de fabricantes locais que ainda o produzem de
maneira artesanal até mesmo com argila levada ao forno.

Figura 23 - Assentamento das Lajotas


Fonte: (LENGEN, 2004, p.).

c. CACOS DE CERÂMICA

Os banheiros são áreas molhadas e por isto geralmente possuem revestimento


51

cerâmico. Nos entulhos gerados em obras, reformas e demolições encontram-se


cacos de cerâmica, uma vez que este material costuma quebrar bastante durante o
transporte e manuseio. Aproveita-los é transformar resíduo em recurso. Os mosaicos
possíveis são os mais variados e coloridos e as propriedades do piso ficam bem
similares as dos feitos com a cerâmica inteira. Portanto este foi o piso especificado
para o banheiro do modelo ecológico.

5.1.7 COBERTURAS

a. TELHA DE GARRAFA PET

O pátio interno da residência tem um aspecto avarandado, propiciado


principalmente pela transparência das telhas da cobertura que protegem do sol e da
chuva deixando a iluminação natural penetrar o ambiente. Esta cobertura apresenta
pouca durabilidade, porém seu ínfimo custo, fácil manutenção e construção compensa
a utilização/reposição das telhas quando necessário.
Cada m² utiliza de 14 a 18 garrafas aproximadamente, dependendo da abertura
que se dá a cada telha. Para fixar estas nas ripas são usados pregos bem pequenos
e as distancias entre as ripas não deve exceder 2 m. Na extremidade do beiral a
colocação de uma calha de PVC conectada em um tonel ou caixa d’agua permite a
captação das aguas pluviais para reuso.

Figura 24 - Montagem das Telhas


52

Fonte: (www.ecodesenvolvimento.org).

b. TELHADO VERDE

Para proteger a estrutura principal da casa a solução escolhida foi o telhado


verde, essa cobertura compõe duas das três aguas totais do telhado. A estrutura
escolhida é composta de ripas e caibros em madeira, painéis de OSB (material feito
com sobras de madeira e resina) que funcionam como um forro no interior dos
cômodos e ao mesmo tempo serve de suporte para o peso da placa vegetada
utilizada, uma manta impermeabilizante logo acima do OSB e as placas vegetadas
dispostas sobre ela.
O tamanho do beiral superior a 90 cm garante a proteção das paredes de taipa
do contato direto com a água da chuva. A inclinação do telhado com 30% favorece a
drenagem da água pluvial pelas placas. Cada m² de placa (modelo comercial)
encharcada por uma hora pesa 70 kg, o OSB com espessura de 11 mm já suporta os
mesmos 70 kg. Por margem de segurança o projeto dimensiona placas de 15 mm, o
que suporta em torno de uns 85 kg. Alguns sistemas para telhado verde são mais
leves e chegam a pesar o mesmo que um telhado cerâmico convencional (50 kg/ m²).

Figura 25 - Detalhe do Telhado Verde no Modelo 3D


Fonte: Autoria própria.

c. PAINÉIS SOLARES
53

A parte mais elevada da casa, a torre onde se encontra a caixa d’ agua acima
do banheiro, se configura o local ideal para a colocação de painéis solares. O modelo
construído com garrafas pet tem como função principal funcionar como aquecedor
para o chuveiro e a torneira da cozinha. O projeto da habitação comporta dois painéis
com 60 garrafas cada um, em uma inclinação de 18,5 graus (15º de inclinação mais
2,58º de latitude) que faz referência à radiação solar local.
Cada m² do sistema tem autonomia para aquecer o equivalente ao consumo
de 1 adulto, cada placa deste projeto tem cerca de 2,5 m² e são montadas através de
um processo simples. As garrafas são cortadas de forma que se encaixem
perfeitamente umas nas outras, em fileiras de seis garrafas. Dentro das mesmas,
embalagens de leite longa vida pintadas de preto (para absorver o calor) se localizam
logo abaixo do cano de PVC de 1/2″ também pintado de preto, por onde a água circula.

Figura 26 - José Alcino, Criador do Painel Solar de Pet.


Fonte: (Fonte: http://blogreciclalixo.blogspot.com.br/).

5.1.8 REVESTIMENTOS

Todas as paredes nas suas faces externas, dando para as fachadas, serão
revestidas com argamassa de argila, uma mistura de terra, água e argila que pode
assumir diferentes tonalidades a partir do solo utilizado na fabricação. As paredes dos
quartos também serão coloridas. As construídas com tijolo de solocimento terão o
mesmo aparente, sem revestimento. O mesmo vai acontecer com o adobe e a taipa
nas faces internas da sala e da cozinha.
54

Figura 27 - Mortero de Arcilla, em exposição do BAM.


Fonte: Autoria própria.

Já os cobogós de cimento serão pintados usando tinta natural. Para fazer uma
lata de 3,6 litros se utiliza 6 kg de terra argilosa, 10 litros de água, 1 kg de cola branca
e pigmentos como açafrão ou urucum para obter a cor desejada.

Figura 28 – Modelo Habitacional Ecológico 3D


Fonte: Autoria própria.
55

Figura 29 – Detalhe 3D do Pátio Interno da Habitação Ecológica


Fonte: Autoria própria.

Figura 30 – Modelo Habitacional 3D Fachada Sudeste


Fonte: Autoria própria.
56

Figura 31 – Modelo Habitacional Vista 3D


Fonte: Autoria própria.

5.2 OUTRAS EDIFICAÇÕES

a. EDIFÍCIO 1

O caráter cooperativo das ecovilas constitui-se uma das premissas


fundamentais para seu funcionamento harmonioso com o meio ambiente e com os
vizinhos estabelecendo o sentimento de pertencimento da comunidade com o local
onde reside e muitas das vezes até inibindo problemas sociais como falta de
segurança e violência, uma vez que uma comunidade de conhecidos está mais atenta
a comportamentos suspeitos.
Construído todo no térreo, usando a mesma modulação do modelo
habitacional: paredes em taipa de pilão com 40 cm de espessura elevadas também
40 cm do solo acima de um baldrame feito em pedra, modulares de 2,20 m /1,10 m/
0.40 m. Para os banheiros e demais áreas necessitadas de instalação hidráulica,foi
utilizado o tijolo de solo-cimento (0,25 m X 0,12 m) e no preenchimento dos vãos de
portas e janelas, o adobe com as mesmas dimensões do tijolo.
A planta baixa do edifício 1 comporta três quartos destinados a alojar visitantes
57

e/ou voluntários da ecovila, cada quarto com capacidade para quatro camas ou quatro
beliches, podendo juntos abrigar até 24 pessoas.
Um refeitório, uma cozinha comunitária e uma lavanderia foram concebidos
para atender estas pessoas e as demais que utilizarem uma das três salas destinadas
às oficinas ou a sala de uso misto.
Por fim, quatro banheiros secos com sanitário Bason atendem o edifício, dois
destes com ducha para banheiro voltado para as saídas dos quartos.

b. EDIFÍCIO 2

A referência brasileira mais forte em matéria de arquitetura ecológica é


indígena. Em um estado tão rural como o Maranhão ignorar esta referência seria um
erro, a população indígena soma 12.238 habitantes distribuídos em 1.908.89 hectares,
86% desta área já demarcada pela Fundação Nacional do Índio
(http://www.portalamazonia.com.br/secao/amazoniadeaz, acessado em junho de
2016).
O edifício 2 desta proposta é uma grande área social, que pode ser usada para
eventos, reuniões, oficinas etc. O conceito é de um grande pátio que simula um tipo
de oca usualmente construída em aldeias Ianomâmi.
A estrutura é circular com dois tipos de pilares, o de maior altura feito com tijolo
ecológico e preenchido no seu interior com concreto armado, e o de menor altura
construído com toras de madeira. Para a cobertura, a palha de carnaúba (palmeira
típica maranhense) entrelaçada com franjas que funcionam como beiral garante a
proteção da chuva.
A oca Ianomâmi possui um terreiro central usualmente utilizado para danças e
rituais, essa característica se mantém neste projeto, a planta baixa contém ainda dois
banheiros secos construídos em tijolo ecológico contendo o sanitário Bason.
58

Figura 32 – Aldeia Ianomâmi


Fonte: (http://pt.slideshare.net/liladonato/sistemas-construtivos-
tradicionais-no-brasil-arquitetura-indigena).

b. LOJAS

Quatro blocos contendo duas lojas dotadas de um banheiro seco cada uma
pretendem fomentar a atividade econômica dentro da ecovila. O objetivo é que estas
sejam usadas para a venda de produtos confeccionados localmente. A tecnologia
construtiva utilizada mantém o padrão modular da taipa de pilão utilizado nos demais
edifícios e o uso do tijolo ecológico nas paredes das áreas molhadas.

c. ÁREA DE ESTACIONAMENTO

Geralmente as ecovilas não são pensadas para veículos pessoais, o ideal é


que as distâncias sejam reduzidas permitindo que os trajetos possam ser feitos a pé
ou em veículos não motorizados favorecendo assim a mobilidade, a acessibilidade e
a permeabilidade viária.
Em conformidade com esse princípio, esta proposta apresenta dois grandes
estacionamentos para automóveis de passeio, ônibus de caravanas, trailers e demais
59

veículos motorizados que comportam vagas para todas as residências (1 carro por
família), para as lojas, mais a capacidade máxima do alojamento (24 pessoas). Essa
solução reduz a circulação de veículos dentro da ecovila sem ignorar ou excluir a
existência dos mesmos.

e. ÁREA DE CULTIVO – PERMACULTURA.

As ecovilas surgiram como um meio de habitar que pudesse por em pratica um


estilo de vida compatível com os ideais da permacultura. Logo, não se pode conceber
uma ecovila sem uma área de manejo e cultivo. Justo esta característica é uma das
principais responsáveis pelo caráter sustentável da vila, uma agricultura sadia, livre
de agrotóxicos, comunitária e respeitadora da capacidade de produção do solo.
Para o armazenamento dos alimentos produzidos nesta área de cultivo foi
construído um armazém adjunto e um banheiro seco.

f. CAPTAÇÃO DAS ÁGUAS PLUVIAIS

As edificações propostas para esta ecovila possuem em sua maioria como


cobertura o telhado verde composto por placa vegetada, esta já capta grande parte
das aguas pluviais para o crescimento das espécies vegetais cultivadas nela. Porém
devidos às dimensões da ecovila faz-se necessário uma captação maior a fim de obter
um melhor reuso deste recurso natural.
O modelo de tanque para a captação utilizado nesta proposta denomina-se
cisterna veneziana. Este, não precisa ser conectado as calhas dos telhados e pode
ser instalado em pátios, gramados e similares. Trata-se de uma cisterna construída
abaixo do solo com paredes inclinadas que permitam o escoamento das aguas que
passam entre paralelepípedos dispostos de maneira espaçada sobre este mesmo
solo.
Desta maneira, mantendo duas cisternas na parte do terreno com o nível mais
baixo, há garantia de escoamento e armazenagem das aguas pluviais. O conjunto da
cisterna conta também com uma bomba manual.
60

Figura 33 – Cisterna Veneziana em Corte


Fonte: (LENGEN, 2004, p.).

g. RECICLAGEM DO LIXO

Na planta baixa deste estudo preliminar para a implantação de uma ecovila no


Maranhão foi destinada uma área para a reciclagem do lixo. Não se trata de um
edifício com serviços específicos, porém de um espaço em que o mesmo possa ser
selecionado e manejado até mesmo nos próprios tanques usuais de coleta de lixo.
Posteriormente conforme a ampliação da ecovila e das formas de reciclagem
adotadas por ela (móveis, acessórios ou materiais de construção) esse espaço poderá
abrigar de fato uma edificação ou funcionar como um dos ecopontos que a prefeitura
de São Luís vem implantando na cidade.
61

Figura 34 – Ecoponto São Luís


Fonte: (www.oimparcial.com.br)

h. ÁREA DE AMPLIAÇÃO

As ecovilas não seguem um loteamento padrão, logo alguns ônus urbanísticos


comuns a este em uma zona residencial não se tornam obrigatórios: destinação de
áreas ao poder público, porcentagem mínima de vias e de áreas verdes etc.
Legalmente, as ecovilas se assemelham com um condomínio residencial, porém com
a vantagem da permeabilidade total da malha viária e do tecido urbano, devido à
ausência de muros e a forte troca social.
Em uma vila ecológica encontra-se uma vasta cobertura vegetal e alguns
serviços geralmente fornecidos pelo poder público como, escolas e ambulatórios são
construídos e gestados pela própria comunidade. Conforme o crescimento da ecovila
e a necessidade destes serviços estes edifícios serão construídos, da mesma maneira
que novas famílias necessitarão construir suas residências. Pensando nesta real
possibilidade foi reservada uma área para futura ampliação dentro do terreno.
62
63

(1˚ PRANCHA)
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(2˚ PRANCHA)
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(3˚ PRANCHA)
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(4˚ PRANCHA)
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(5˚ PRANCHA)
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(6˚ PRANCHA)
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(7˚ PRANCHA)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Este trabalho final de graduação, foi desenvolvido na área de projeto de


arquitetura, quando foi almejado apresentar uma proposta de uma vila ecológica
ambientada no Maranhão, visando à implementação de um modelo habitacional
ecologicamente sadio e sustentável diante da carência destes no estado.
Compreender a dinâmica funcional da ecovilas e tecnologias bio-construtivas
adequadas para cada elemento projetual, bem como identificar parâmetros de
acessibilidade, constituem etapas fundamentais para este estudo preliminar. Por
meio desse levantamento de dados e análise dos mesmos, e baseando-se nos
princípios da permacultura; posse da terra e governo comunitário, saúde e bem-
estar (físico e espiritual), educação e cultura, ética e princípios de design,
ferramentas e tecnologias, manejo da terra e da natureza, economias e finanças, foi
elaborada a proposta final.
Proposta esta que utiliza quase que em sua totalidade técnicas construtivas
tradicionais (taipa de pilão, madeira trançada, adobe, cobertura em palha) em uma
clara referência a tribos indígenas, comunidades quilombolas e rurais, populações que
mesmo atualmente ainda constroem e vivem de maneira consciente e integrada a
natureza, tendo suas delimitações ameaçadas diariamente pelo modelo
desequilibrado ecologicamente de urbanização atual.
Atualizar estas técnicas tão antigas e moderniza-las em uma arquitetura
contemporânea, porém com forte pegada ecológica transformando-as em
tecnologias bio-construtivas, configura o maior desafio cumprido neste trabalho.
Durante os anos de faculdade sempre me inquietou a impermeabilidade do tecido
urbano, a arquitetura de escalas deslocadas da realidade humana, os espaços
áridos de concreto que em nada favorecem a troca social, a forma sem função.
Voltar às origens construtivas e redescobrir a partir de tal uma arquitetura
feita para as pessoas, acessível, sustentável, ecológica e funcional motivou a
presente proposta de uma ecovila implantada no Maranhão para o trabalho de
conclusão de curso.
Tenho com este trabalho, um desejo interno de ser a cidade. Responsável
direta pela mudança nos caminhos que esta urbanização tem tomado dentro do
71

estado, me tornando uma profissional compromissada com o meio ambiente, a


qualidade de vida das pessoas, o coletivo, a acessibilidade, valorizando a cultura e
os recursos locais e defendendo a implantação e a criação de ecovilas como
modelo habitacional viável tanto na esfera rural ,quanto na urbana. Por fim, nutro a
vontade que a proposta final apresentada aqui possa ser referência para
implantações reais e que ela própria possa ser edificada no futuro.
72

REFERÊNCIAS

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Região do País. Acesso em 4 de março de 2016, disponível em
http://sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br/2014/07/10-ecovilas-brasileiras-
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Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
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