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RESUMO
Introdução
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relação a outros países (Estados Unidos, França, Suécia, Uruguai), dez anos após à
aprovação da referida lei, ainda se reflete a ausência da Libras nos espaços públicos,
sobretudo na escola, onde o processo de ensino e aprendizagem não inclui a Libras no
uso corrente das práticas pedagógicas e nem como disciplina no currículo. Infelizmente,
ainda é grande o desconhecimento, gerando, uma política de resistência, desvalorização
e desrespeito ao estatuto linguístico da Libras.
Contudo, as pesquisas afirmam que as línguas de sinais são verdadeiramente
línguas. Stokoe, um linguista americano, comprovou, “que a língua dos sinais atendia a
todos os critérios linguísticos de uma língua genuína, no léxico, na sintaxe e na
capacidade de gerar uma quantidade infinita de sentenças (QUADROS; KARNOPP,
2004, p. 30). Posteriormente divulgou um dicionário e uma gramática de ASL (Língua
de Sinais Americana). Estes foram os primeiros estudos linguísticos sobre as línguas de
sinais. A partir disso, outros linguistas tomando por base os estudos de Stokoe,
pesquisaram as línguas de sinais de seus países evidenciando, assim, o estatuto de
língua2. Com o reconhecimento legal, a Libras é mais uma dentre as inúmeras línguas e
é tão brasileira quanto à língua portuguesa e as línguas indígenas do Brasil, pois são
faladas por surdos e ouvintes nativos brasileiros.
As organizações sociais de/para surdos lutam para que a Libras seja respeitada e
incluída no âmbito educacional, na comunicação entre pais e filhos surdos, nos meios de
comunicação social a fim de que se garanta um crescente contato e adesão à sua
aprendizagem. Após a aprovação da “Lei da Libras”, houve a sua regulamentação,
através do decreto nº 5626 de 22 de Dezembro de 2005. De uma maneira geral, o teor
do documento é abrangente no que refere à inclusão da Libras como disciplina
curricular, da formação de professor e de tradutor e intérprete, do acesso das pessoas
surdas à educação através da Libras e da língua portuguesa e do direito à educação e
saúde dessas pessoas.
Este trabalho tem o objetivo de realizar um estudo de análise comparativa dos
planos de ensino da Libras como segunda língua (L2) de seis Instituições de Ensino
Superior (IES) localizadas em quatro regiões brasileiras. Com base nesse material foram
selecionados os aspectos das ementas e dos conteúdos devido à abrangência dos
assuntos e enfoque dado a essa disciplina. Ressaltamos que foi feita uma pesquisa
documental (MARCONI; LAKATOS, 2009), através de contato estabelecido com os
professores de Libras de algumas universidades federais para disponibilização do
material como também a informação dos cursos que incluíram a referida disciplina nos
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Portanto, nos artigos acima está assegurado o acesso da comunidade escolar para
aprendizagem da Libras, sobretudo na formação de professores. Os termos em destaque
dizem respeito às instituições de educação superior que devem tomar providências
cabíveis como a reformulação dos projetos pedagógicos para inserir a Libras como
disciplina obrigatória na matriz curricular dos cursos de licenciaturas, considerando o
prazo máximo de dez anos a partir da sua publicação e observando os percentuais
mínimos. Dessa forma, essas instituições, frente a uma política de expansão, devem
garantir a presença do professor de Libras nos seus quadros efetivos.
Vimos acima como o ensino de Libras como segunda língua começou a “ganhar
terreno” na sociedade e nas instituições de ensino. Vimos também que durante muito
tempo exigiu-se apenas uma “formação técnica”, através de cursos de capacitação, para
os instrutores que atuam e atuavam no ensino de Libras como segunda língua.
Com a oficialização da Língua Brasileira de Sinais por meio da lei 10.436/2002
fica obrigada, pela legislação, a inclusão da disciplina de Libras nos currículos de cursos
superiores, tais como: Letras, Pedagogia, Fonoaudiologia e demais licenciaturas. A
partir de então, surge a necessidade da formação, em nível superior, de professores e
tradutores dessa língua.
No ano de 2006, para o cumprimento da lei 10.436/02, foi criado o exame
ProLibras que é uma proposição do Ministério da Educação para reconhecer e certificar
profissionais que possam ensinar e/ou traduzir a Libras, esse exame é uma combinação
de exame de proficiência e certificação profissional. O ProLibras é uma ação de curto
prazo para “certificar profissionais para participarem dos processos de inclusão dos
surdos brasileiros. À medida que contarmos com a formação de profissionais para
atuarem nessas áreas, a certificação terá cumprido seu papel” (QUADROS et Al, 2009,
p. 22). Portanto, o exame ProLibras objetiva avaliar a compreensão e produção em
Libras, mas ele não substitui a formação necessária para os profissionais dessa área.
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EMENTAS CONTEÚDOS
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Libras
Noções de signwriting (escrita de sinais)
Cultura e identidade surda. Desconstrução dos Culturas surdas / identidades surdas; Nome /
mitos em relação às línguas de sinais A Língua batismo do sinal pessoal; Apresentação pessoal/
de Sinais Brasileira – Libras: características e cumprimentos; Famílias e relações entre os
I básicas da fonologia. Noções básicas de léxico, parentescos;
E de morfologia e de sintaxe com apoio de Numerais cardinais e numerais para
S recursos visuais (figuras, fotos, dramatizações, quantidades; Saudações/ advérbio de tempo/
etc.). Praticas de Libras em contexto. dias de semana / calendário / ano sideral;
3 Características das roupas/ cores; Cotidiano /
situações formais e informais;
Objetos e partes de sala de aula
Pessoas / coisas / animais
Plural / singular; Localização de trabalho /
escola / casa;
Sinais relacionados ao ambiente de estudo e de
curso; Perspectiva / direções; Sinais
relacionados ao ambiente doméstico; Profissão
/ função / ambiente de trabalho;
Meios de comunicação; Valores monetários;
Alimentos e bebidas / pesos / medidas;
Esportes;
Meios de transportes / Estados do Brasil /
línguas do mundo.
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A palavra ementa tem sua origem no verbo latim emeniscor, que significa ideia,
apontamento ou instrumento para lembrança. Saindo dessa concepção cotidiana da
palavra, o termo ementa passou a ser incorporado pela terminologia técnica de
diferentes áreas. De acordo com Guimarães, 2004:
No âmbito da Educação, a ementa é comumente entendida como
relação de tópicos em programas de ensino. No entanto, é de estranhar
uma concepção de tal natureza, pois, partindo-se do pressuposto que
todo plano de ensino deva conter ao menos o conteúdo programático,
os objetivos, e o modus operandi (metodologia de ensino e avaliação)
da disciplina, deveria a ementa, enquanto síntese, permitir a efetiva
visualização de tais aspectos (GUIMARÃES, 2004, p. 31).
A ementa de uma disciplina costuma ser uma descrição discursiva que resume o
conteúdo conceitual ou processual da disciplina. As características formais de uma
ementa disciplinar devem apresentar tópicos essenciais da matéria sob a forma de frases
nominais e deve ser redigida em texto contínuo, e não em tópicos, permitindo a
visualização da disciplina no seu todo.
Podemos observar acima que a ementa da disciplina de Libras da IES 1 não
possui estrutura adequada ao que temos como padrão de organização de ementa, pois há
um detalhamento excessivo na descrição dos conteúdos. Acreditamos que tenha havido
uma confusão em organizar o que seria o conteúdo programático e como ele deve ser
destacado na ementa disciplinar.
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que nos leva a uma reflexão: por que o ensino de Libras sempre inicializa pela
aprendizagem do alfabeto manual? Não poderíamos pensar em um ensino de Libras
mais contextualizado na vivência da língua? É claro que verificamos algumas tentativas
nesse sentido, por exemplo, a iniciativa de introduzir nas aulas canções e histórias em
Libras para contextualizar a língua, como observamos na descrição de conteúdo da IES
2, mas são iniciativas ainda tímidas diante de conteúdos que parecem se apresentar
ainda de forma categórica. Outra maneira de vivenciar a língua pode apresentar-se
através de outras atividades que não só a de aprender sinais, como por exemplo,
iniciativas de assistir a filmes sobre surdez, elaborar PCC’s decorrentes de visitas a
instituições de surdos, entre outras, como aparece no programa de algumas
universidades na descrição da metodologia que, no momento, não será analisada.
Em nossa análise, identificamos alguns conteúdos (temas) comuns a todos os
programas, tais como: família, cores, calendário, cumprimentos, etc; mas também
encontramos em alguns programas grupos específicos de sinais, como: profissões,
alimentos, materiais escolares, etc. Em relação aos conteúdos linguísticos percebemos
que estão bem demarcados entre conteúdos teórico e prático, sentimos falta de uma
relação mais ‘íntima’ entre essas duas partes.
Sabemos que a carga horária dispensada a essa disciplina nas universidades não
é suficiente para termos uma excelência na aprendizagem da língua, mas precisamos
oferecer o máximo possível dentro da disponibilidade de horas que temos. Afinal,
quantas horas seriam necessárias para um ensino de Libras minimamente suficiente? A
carga horária destinada a disciplina de Libras nessas IES variam de 30 a 68 horas.
Considerações Finais
As ementas e os conteúdos de seis IES que foram aqui, analisadas, contribuem
para uma maior discussão acerca da necessidade de elaboração de diretrizes curriculares
para o ensino de Libras na educação básica e no ensino superior. Além disso, outros
aspectos do programa como a metodologia, a avaliação, o uso de recursos, o material
didático parece-nos determinantes no processo de ensino e aprendizagem da Libras nos
cursos que contemplam apenas uma disciplina e que permita ao aluno o seu uso e
interesse a uma formação continuada. Apesar da Libras ser ensinada numa perspectiva
de segunda língua, devemos pensar o espaço e o momento em que a língua portuguesa é
utilizada nesse ensino. Embora não seja esse o nosso foco, compreendemos que o uso
da língua portuguesa (oral e/ou escrita) poderá influenciar na aprendizagem dos alunos.
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Na mesma direção, outro fator não menos importante, nesse contexto de ensino,
é o ensino da Libras na disciplina de Libras, ou seja, o material analisado não deixa
claro o quantitativo de carga horária em que os alunos tenham o máximo de tempo de
exploração da Libras pelo professor. Será que os conteúdos distribuídos (30 a 68 horas)
garantem esse uso efetivo? O que se constata é que existe uma separação entre
conteúdos teóricos (uso de textos, visitas, relatórios, filmes) e práticos (aprendizagem
do vocabulário), e por isso deve ser garantida uma distribuição de carga horária de
ensino efetivo em torno de 70%, considerando, apenas uma disciplina e, portanto, uma
oportunidade desses alunos e futuros professores ter acesso à aprendizagem da língua.
Outra proposição é considerar a inclusão de uma segunda disciplina que trate, de acordo
com as ementas e conteúdos acima, dos assuntos referentes à surdez (história, cultura,
educação, legislação, dentre outros), garantindo uma carga horária maior ao uso da
Libras em diversos contextos.
O material analisado é utilizado nos diversos cursos de licenciaturas.
Observamos que as semelhanças existentes entre os conteúdos das IES não permitem
que seja dado um enfoque no vocabulário específico do curso em que a disciplina foi
incluída. Os alunos, oriundos dos diversos cursos de formação de professores recebem
os mesmos conteúdos, portanto, não estabelecendo uma diferença no ensino específico
para cada curso. Embora o decreto 5626/2005 garanta uma disciplina de Libras nos
cursos de licenciaturas das IES, compreendemos que para cumprir o objetivo da
formação do aluno licenciado, o ensino da Libras para fins específicos numa condição
de outra disciplina na matriz curricular do curso, poderia contemplar o conjunto de
conhecimentos acerca do curso a serem aplicados no processo de ensino e aprendizagem
dos alunos surdos da educação básica. São iniciativas que poderiam favorecer o espaço
da Libras na IES e uma discussão sobre Política Linguística da Libras nos contextos
sócio-educacionais.
Notas
1
O termo “pessoas ouvintes” se refere àqueles que pertencem a uma comunidade majoritária e que ouve
uma língua oral-auditiva e que não apresenta um déficit auditivo.
2
No Brasil, a linguista Lucinda Ferreira Brito na década de 1980 iniciou as pesquisas sobre a Libras e
contou com a colaboração de pessoas surdas.
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Referências Bibliográficas
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