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Mecânica dos Fluidos

Aula 02

Prof. Dr. Gilberto Garcia Cortez


2.4- Fluidos Newtonianos e não-Newtonianos

Os fluidos classificados como newtonianos, sejam eles mais ou menos


viscosos, caracterizam-se por terem uma viscosidade constante, ou seja,
seguem a Lei de Newton da viscosidade. São exemplos a água, o leite e os
óleos vegetais, etc. Já nos fluidos não-newtonianos a viscosidade varia com
a força aplicada (e por vezes com o tempo também) e portanto têm
propriedades mecânicas muito interessantes.
Um bom exemplo é o ketchup. Quando o frasco está em repouso o ketchup
é muito viscoso, mas quando o inclina ele torna-se menos viscoso e escorre,
e ainda, quando o mete na boca não sente a viscosidade.
O exemplo da mistura de amido e água é muito fácil de ser realizada em
nossa própria casa; uma vez obtida a mistura comprovaremos um fato
insólito: ao agitá-la lentamente comporta-se como um fluído semi-líquido,
mas ao agitá-la com força se mostra dura como uma pedra. Enquanto se
mexe devagar com uma colher, a mistura terá a textura de uma papinha,
mas tente dar um soco e seus dedos toparão com algo tão sólido quanto
uma parede.
Em resumo, de uma forma simplificada, podemos dizer que os fluidos não-
newtonianos não possuem uma viscosidade bem definida.
ττ

Taxa de deformação
A reologia é o ramo da mecânica dos fluidos que estuda as propriedades
físicas que influenciam o transporte de quantidade de movimento num
fluido. Podemos então concluir que é a ciência responsável pelos estudos do
fluxo e deformações decorrentes deste fluxo, envolvendo a fricção do fluido.

A viscosidade é a propriedade reológica mais conhecida, e a única que


caracteriza os fluidos newtonianos.

A viscosidade aparente, µap , é a viscosidade dos fluidos não-Newtonianos, a


qual é válida para uma determinada taxa de deformação. Em fluido
Newtonianos á idêntica a µ.

A viscosidade aparente diminui com o aumento da taxa de deformação em


fluidos pseudoplásticos (tornam-se mais finos quando sujeitos a tensões de
cisalhamento).
Os fluidos nos quais a viscosidade aparente cresce conforme a taxa de
deformação aumenta, são chamados de dilatantes (tornam-se mais espessos
quando sujeito a tensões de cisalhamento).
Numerosas equações empíricas têm sido propostas para descrever os
fluidos não-newtonianos independentes do tempo. Para muitas aplicações
da engenharia, essas relações podem ser adequadamente representadas
pelo exponencial que, para o escoamento unidimensional, torna-se:
n
 dv x 
τ yx = k 
 dy 
onde o expoente, n, é chamado de índice de comportamento do escoamento
e o coeficiente, k, é o índice de consistência. Essa equação reduz-se à lei de
Newton da viscosidade para n = 1 e k = µ. Para assegurar que τyx tenha o
mesmo sinal de dvx/dy, a equação anterior é reescrita na forma:

n −1 n −1
 dv x   dv x  dv x  dv x  dv x dv x
τ yx = k    = k  = µ ap
 dy   dy  dy  dy  dy
14243
dy
µ ap

onde µap é referenciado como viscosidade aparente do fluido.


Um fluido que se comporta como um sólido até que uma tensão limítrofe, τyx , seja
excedida e exibe uma relação linear entre tensão de cisalhamento e taxa de
deformação é denominado plástico de Bingham ou plástico ideal. O modelo
correspondente de cisalhamento é:
dv x
τ yx = τ y + µap
dy
Esquema de classificação dos fluidos conforme o comportamento reológico:
Existem materiais que se comportam parcialmente como um
fluido e parcialmente como um sólido. Estes são os fluidos
viscoelásticos.

Os fluidos viscoelásticos tem algumas características, tais como:

- o tensor extra de tensões não é mais uma função linear, mas


descrevem efeitos viscosos e elásticos do escoamento do fluido
em questão;

- a viscosidade normalmente é muito maior do que a dos fluidos


newtonianos;

- a viscosidade é dependente da temperatura.


Comparativo de propriedades de fluidos não newtonianos:

Estas substâncias quando


Massas de farinha de trigo,
Viscoelásticos Modelo Maxwell submetidas à tensão de
gelatinas, queijos, líquidos
(propriedades elásticas) cisalhamento sofrem uma
(propriedades elásticas deformação e quando cessa,
poliméricos, glicerina,
Modelo Kelvin-Voigt plasma, biopolímeros,
e viscosas acopladas) (propriedades viscosas) ocorre uma certa recuperação
saliva, etc.
da deformação sofrida

Alguns lubrificantes,
A viscosidade aparente diminui
Reopético conforme a duração da tensão
suspensão de pentóxido de
vanádio e argila bentonita.
Dependente do tempo
Suspensões concentradas,
A viscosidade aparente aumenta emulsões, soluções
Tixotrópico conforme a duração da tensão protéicas, petróleo cru,
tintas, ketchup.
A viscosidade aparente diminui Polpa de frutas, caldos de
Pesudoplástico conforme o aumento da tensão fermentação, melaço de
de cisalhamento . cana.
Suspensões de amido,
A viscosidade aparente aumenta
soluções de farinha de milho
Dilatante conforme a duração da tensão
e açúcar, silicato de potássio
de cisalhamento .
Independente do e areia.
tempo Este tipo de fluido apresenta
Fluidos de perfuração de
uma relação linear entre a
Plásticos de Bingham tensão de cisalhamento e a taxa
poços de petróleo, pasta
dental, maionese, mel, etc.
de deformação.
A relação entre a tensão de
Sangue, iogurte, purê de
Herschel-Bulkley cisalhamento e a taxa de
tomate, etc.
deformação não é linear.
2.5- Algumas propriedades dos fluidos
2.5.1- Massa específica
A massa específica de uma substância, designada por ρ , é definida como a
massa de uma substância contida numa unidade de volume. Esta
propriedade é normalmente utilizada para caracterizar a massa de um
sistema fluido.

ρ =
m  kg ; g ; kg ; etc.
V  m 3 cm 3 L 

2.5.2- Volume específico


O volume específico, ν , é o volume ocupado por uma unidade de massa da
substância considerada. Note que o volume específico é o recíproco da
massa específica, ou seja:
1  m 3 cm 3 L 
ν =  kg ; g ; kg ; etc.
ρ  
Normalmente não é utilizado o volume específico na mecânica dos fluidos,
mas é uma propriedade muito utilizada na termodinâmica.
2.5.3- Peso específico
O peso específico de uma substância, designada por γ , é definido como o
peso da substância contida numa unidade de volume. O peso específico está
relacionado com a massa específica através da relação:

γ = ρ.g  N ; dina ; lbf ; etc.


 m 3 cm 3 ft 3 
onde g é a aceleração da gravidade padrão (9,807 m/s2). Note que o peso
específico é utilizado para caracterizar o peso do sistema fluido enquanto
que a massa específica é utilizada para caracterizar a massa do sistema
fluido.

2.5.4- Densidade relativa


A densidade relativa de um fluido, designada por SG ( specific gravity ), é
definida como a razão entre a massa específica do fluido e a massa
ρágua = 1000 kg/m3). Nesta condição, temos:
específica da água a 4°°C (ρ

ρ fluido
SG fluido = ( Adimensional )
ρ água a 4 C
0
2.6- Lei dos gases perfeitos
Os gases são muito mais compressíveis do que os líquidos. Sob certas
condições, a massa específica de uma gás está relacionada com a pressão e a
temperatura através da equação:

m
PV = nRT = RT (lei dos gases perfeitos)
M
m
PM = RT = ρRT
V
P = Pressão absoluta do gás
M = massa molar do gás
PM 
ρ = 
RT R = constante universal dos gases ideais
T = temperatura absoluta
R = 82,05 cm 3 .atm/mol.K
3. Estática dos fluidos
3.1- Introdução

Por definição, um fluido deve deformar-se continuamente quando


uma tensão tangencial de qualquer magnitude lhe é aplicada. A
ausência de movimento relativo (e por conseguinte, de deformação
angular), implica a ausência de tensões de cisalhamento.

Na estática dos fluidos, a velocidade relativa entre as partículas do


fluido é nula, ou seja, não há gradiente de velocidade. Uma vez que
não há movimento relativo dentro do fluido, o seu elemento não se
deforma.

Portanto, em um fluidos em equilíbrio estático atuam somente


forças de campo e normais e não há esforços tangenciais.
3.2- Equação básica da estática dos fluidos

Em um fluido em repouso (estático), submetido ao campo


gravitacional, as únicas forças que atuam sobre um elemento fluido
são o peso e as forças devidas às pressões estáticas.
Tem-se, em princípio, que a pressão p = p(x, y, z).
Consideremos um elemento de volume ∆x∆ ∆y∆∆z, com faces paralelas
aos planos de um sistema de coordenadas retangulares x, y, z,
isolado de um fluido em repouso com massa específica ρ, conforme
é mostrado na Figura 1 a seguir, na qual designamos as pressões
que atuam sobre o elemento fluido de acordo com a coordenada de
posição da face do elemento cúbico sobre a qual atua a pressão.
Figura 1: Elemento de volume isolado de um fluido em repouso
com as pressões estáticas exercidas pelo restante do fluido
O peso do elemento fluido é dado por:

W = ρ∆x∆y∆z g (1)

A força de superfície resultante, devida às pressões estáticas que


atuam sobre o elemento, é dada por:

( )
Fp = ( p x − p x + ∆x )∆y∆z i + p y − p y + ∆y ∆x∆z j + ( p z − p z + ∆z )∆x∆y k (2)

Como o fluido está em repouso, a força resultante que atua sobre


um elemento de volume deve ser nula, ou seja, tem-se um condição
de equilíbrio dada por:

∑F = W + F p = 0 (3)
( 1 ) e ( 2) em ( 3 ):
ρ ∆ x∆ y∆ z g + (p x
− p x + ∆x )∆y∆ z i + (p y
)
− p y + ∆y ∆ x ∆ z j + (p z
− p z + ∆z )∆x∆y k = 0 (4)
Dividindo pelo volume ∆x∆y∆z , rearranjando os termos e fazendo o
limite quando o volume do elemento tende a zero, obtém-se

 p x − p x + ∆x p y − p y + ∆y p − p z + ∆z 
lim  i + j+ z k  = ρg (5)
∆x∆y∆z → 0
 ∆ x ∆y ∆ z 
∂p ∂p ∂p
i + j + k = ρg (6)
∂x ∂y ∂z
O termo do lado esquerdo da equação (6) é a definição do
gradiente de pressão, em coordenadas retangulares, dado por:

∂p ∂p ∂p
∇p = i + j + k (7)
∂x ∂y ∂z
Portanto, a equação (6) pode ser escrita como:

∇p = ρ g (8)

A equação (8) é equação básica da estática dos fluidos.


Considerando o sistema de coordenadas retangulares mostrado na
Figura 1, a equação (8) pode ser decomposta nas componentes
escalares.
∂p ∂p ∂p
= ρg x = ρg y = ρg z
∂x ∂y ∂z
Por conveniência, escolhemos o referencial com o eixo y paralelo
ao vetor gravidade, de forma que:

gx = 0 gy = − g gz = 0
Assim, considerando um eixo y vertical com sentido positivo para
cima, conclui-se que a pressão varia somente em função de y, de
maneira que se pode escrever

∂p
= − ρg (9)
∂y

E que os planos xz horizontais são planos isobáricos, ou seja,


pontos que estão à mesma altura (ou profundidade) dentro do
mesmo fluido possuem pressões estáticas iguais.
3.3- Variação da pressão em um fluido em repouso
a) Variação da pressão em um fluido incompressível (ρ = cte)
Um fluido incompressível tem massa específica constante, de forma
que a integração da equação básica da estática dos fluidos fica
simplificada.
Tem-se que:

∇P = − ρ g ( 10 )

e, considerando um referencial com eixo y vertical, com sentido


positivo para cima, resulta que a equação (10) fica sendo:

dp
= − ρg = constante ( 11 )
dy
A variação da pressão com a altura é determinada por meio da
integração da equação (11) com as condições de contorno
adequadas. Considerando que a pressão num nível de referência
y0 é p0 , determina-se a pressão p(y) numa altura y com a
integração da equação (11), de forma que:

p( y ) y


p0

dp = − ρg dy
0

p ( y ) − p 0 = − ρg ( y − y 0 )

ou seja, a diferença de pressão entre dois pontos, num fluido


incompressível, é diretamente proporcional à diferença de
altura entre esses dois pontos.
Para líquidos, geralmente é mais conveniente a adoção de um
referencial com um eixo h, paralelo ao vetor campo gravitacional,
com origem na superfície livre e sentido positivo para baixo,
conforme é mostrado na Figura a seguir;

g
Patm
0
+y h
P(h)

p( h ) h


patm

dp = ρg dy
0

p ( h ) − p atm = ρg (h − 0 )
p ( h ) = p atm + ρgh
( Equação da hidrostática ) p ( h ) = p atm + γ h ( 12 )
p ( h ) − p atm = γ h
A equação (12) é conhecida como a lei de Stevin , que diz que a
diferença de pressão entre dois pontos de um fluido em repouso é
igual ao produto do peso específico (γ) do fluido pela diferença de
cotas entre dois pontos (h).
Assim, num fluido incompressível (ρ = constante):
- a pressão varia linearmente com a profundidade;
- a pressão é a mesma em todos os pontos sobre um dado plano
horizontal y no fluido.
Pressão atmosférica
Para se determinar a pressão atmosférica a uma dada altitude, é
necessário conhecer-se primeiro como a temperatura varia com a
altitude. Uma boa aproximação para a troposfera (altitudes de até
11000 km) é aquela que considera que a temperatura reduz-se
linearmente com a altitude. Nesse caso, e considerando o ar
atmosférico como gás ideal, a pressão à altitude z acima do nível do
mar, poderá ser estimada por meio da seguinte equação:

5, 26
 B.z 
p = p atm 1 −  ( 13 )
 T0 

onde patm = 101325 N/m2 (pressão atmosférica ao nível do mar na


altitude zero), B = 6,5x10-3 Kelvin/m e T0 = 288,16 Kelvin (15°C).
Exemplo. Estimar a pressão atmosférica à altitude de 3000m,
utilizando a equação (13) e comparar o valor obtido com aquele
utilizando a lei de Stevin (eq. 12).
Utilizando a fórmula exta dada pela equação (13), temos:
5, 26 5, 26
 B.z  2 6,5x10 K/m(3000m )
−3
p = p atm 1 −  = 101325N/m 1 − 
 T0   288,16K 
p ≈ 70086N/m 2

Por outro lado, utilizando a lei de Stevin com γar = 11,77N/m2, temos:

p = p atm + γ h = 101325N/m 2 + 11,77N/m 3 (3000m )


p = 66015N/m 2
Isso representa uma diferença de apenas 5,8% com relação ao
valor exato obtido por meio da equação (13). Para altitudes
inferiores a 1000m, os erros serão inferiores a 5%.
b) Variação da pressão em um fluido compressível (ρ é variável)
A variação da pressão em um fluido compressível também é
determinada através da integração da equação básica da estática
dos fluidos dada por:

∇P = ρ g ( 14 )

Para um fluido compressível a massa específica ρ não é


constante, de forma que é necessário expressá-la em função de
outra variável na equação (14). Uma relação entre a massa
específica e a pressão pode ser obtida da equação de estado do
gás ou por meio de dados experimentais.
m
PV = nRT = RT (lei dos gases perfeitos)
M
m
PM = RT = ρRT
V
PM
ρ =
RT

PM ( 15 )
∇P = g
RT

A equação (15) introduz outra variável, que é a temperatura, de


maneira que é necessária uma relação adicional da variação da
temperatura com a altura.
3.4- Medidas de pressão.
3.4.1- Barômetro de mercúrio.
As medidas de pressão são realizadas em relação a uma
determinada pressão de referência. Usualmente, adota-se como
referência a pressão nula existente no vácuo absoluto.
A pressão relativa ocorre porque muitos instrumentos de pressão
são do tipo diferencial, registrando não a magnitude absoluta,
mas a diferença entre a pressão do fluido e a atmosfera que pode
ser positiva (manômetros) ou negativa (vacuômetros).
Deve-se observar que, nas equações de estado, a pressão utilizada é
a absoluta, dada por:

p absoluta = p atm + p relativa ( 16 )

A pressão atmosférica local, representada por patm pode ser


medida por um barômetro. O mais simples é o barômetro de
mercúrio construído por Evangelista Torricelli em 1643.

( Barômetro de mercúrio )
Na Figura anterior, tem-se:
h é a altura da coluna de mercúrio no tubo de vidro;
Patm é a pressão atmosférica local; e
P0 é a pressão de vapor do mercúrio.

Aplicando a equação básica da estática dos fluidos no barômetro


de mercúrio, temos:

∇P = − ρg
dp
= − ρ Hg g
dy
pB h

∫ dp = − ρ g ∫ dy
pA
Hg
0

p B − p A = − ρ Hg gh
Pontos que estão a mesma altura, dentro do mesmo fluido, têm a
mesma pressão, de forma que pA = patm e como pB = p0 , obtém-se:
p 0 − p atm = − ρ Hg gh
ou
p atm = p 0 + ρ Hg gh ( 17 )
Em condições normais de temperatura e pressão, a pressão de
vapor do mercúrio é praticamente nula, ou seja, p0 ≈ 0,
resultando:
p atm = ρ Hg gh ( 18 )
A pressão atmosférica normal, ao nível do mar, corresponde a uma
coluna de mercúrio com altura h = 76 cm. Substituindo os dados,
ρHg = 13600 kg/m3 , g = 9,81 m/s2 , h = 0,76 m , na equação (18),
resulta:
patm = 101320 N/m2 (Pa) = 102,32 kPa

1 atm = 101325 Pa (N/m2) = 101,325 kPa = 1,01325 bar = 1,0332 kgf/cm2 =


10,332 mH2O (mca) = 760 mmHg (Torricelli) = 14,7 psi (lbf/in2) = 29,92 inHg
3.4.2- Manômetro de tubo em U com líquido manométrico.
A introdução de um líquido manométrico no manômetro de tubo
em U, permite utilizá-lo na medição de pressões de gases ou
líquidos, pois esse líquido impede que o gás escape pelo tubo. É
importante que se utilize um líquido manométrico que apresente
um peso específico bastante elevado de modo a evitar colunas
contendo o fluido manométrico muito altas.
De acordo com a lei de Stevin (equação 12), a pressão em C em
relação à pressão em B (observando que PB = PA), será dada por:

PC = PB + γ h 2 = PA + γ h 2 ( 19 )

Ocorre que em C, temos a interface do fluido com o líquido


manométrico, sendo que a pressão aí é igual à pressão em D, por se
tratar de pontos na mesma horizontal de um mesmo líquido, PC =
PD ; assim, tendo em vista o resultado anterior, temos:

PD = PA + γ h 2 ( 20 )

Aplicando novamente a lei de Stevin (equação 12), para


determinação da pressão em D, em relação à pressão na superfície
livre do líquido manométrico no tubo, onde reina a pressão
atmosférica local, resulta em:

PD = Patm + γ LM h1 ( 21 )
Igualando as equações (20) e (21), resulta o seguinte resultado:

PA + γ h 2 = Patm + γ LM h1
PA = Patm + γ LM h1 − γ h 2 ( 22 )

Na equação 22, a pressão PA representa a pressão absoluta no tubo


(como líquido ou gás). Para a medida da pressão relativa (ou
manométrica) o valor da pressão atmosférica é zero (na escala
efetiva). Assim, a pressão manométrica no ponto A será:

PA = γ LM h1 − γ h 2 ( 23 )

Para medir pressões de líquidos (ex. água) utiliza-se mercúrio


como fluido manométrico (SGHg =13,6).
Exemplo 01: Água escoa através dos tubos A e B. Óleo com
densidade relativa 0,8, encontra-se na parte superior do tubo em U
invertido. Mercúrio (densidade relativa 13,6), encontra-se no fundo
das curvas do manômetro. Determine a diferença de pressão, PA –
PB.
p C − p A = + ρ água gd1
p D − p C = − ρ Hg gd 2
p E − p D = + ρ óleogd 3
p F − p E = − ρ Hg gd 4
p B − p F = − ρ água gd 5

p B − p A = ρ água gd 1 − ρ Hg gd 2 + ρ óleo gd 3 − ρ Hg gd 4 − ρ água gd 5

p B − p A = ρ água g (d1 − d 5 ) − ρ Hg g (d 2 + d 4 ) + ρ óleo gd 3

ρ fluido ρ Hg = SG Hgρ água a 4 C 0

SG fluido = ⇒
ρ água a 4 C
0 ρ óleo = SG óleoρ água a 4 C0
p B − p A = ρ água g[d1 − d 5 − SG Hg (d 2 + d 4 ) + SG óleo d 3 ]

kg m m
p B − p A = 10 3 9,81 2 [10 − 8 − 13,6(3 + 5) + 0,8x4]inx0,0254
3

m s in
kg m
pB − p A = − 25814,43 2 2
m s
N
pB − p A = − 25814,43 2 = − 25814,43Pa
m
1kPa = 103 Pa ; 1 atm = 101,325 kPa
pB − p A = − 25,81 kPa (x − 1)
p A − p B = 25,81 kPa
p A − p B = 0,25 atm
3.4.3- Piezômetro.
O piezômetro é o dispositivo mais simples para a medição de pressão.
Consiste na inserção de um tubo transparente no recipiente (tubulação)
onde se quer medir a pressão.
- O líquido subirá no tubo piezométrico a uma altura “h”, correspondente
à pressão interna;
- Devem ser utilizados tubos piezométricos com diâmetro superior a 1cm
para evitar o fenômeno da capilaridade;
- Não serve para a medição de grandes pressões ou para gases.
Aplicando a lei de Stevin (eq. 12), considerando somente a pressão relativa
em A (ou manométrica), temos:

PA = γ h ( 24 )
3.4.4- Manômetro metálico de Bourdon.
Diferentemente dos manômetros de tubo com líquido, o manômetro de
Bourdon (Eugène Bourdon, 1849, França) mede a pressão de forma
indireta, por meio da deformação de um tubo metálico, daí o seu nome.
Conforme indica a Figura a seguir, neste manômetro, um tubo recurvado de
latão, fechado numa extremidade e aberto na outra (denominada tomada de
pressão), deforma-se, tendendo a se endireitar sob o efeito da mudança de
pressão. Um sistema do tipo engrenagem-pinhão, acoplado à extremidade
fechada do tubo, transmite o movimento a um ponteiro que se desloca sobre
uma escala. O tubo recurvado de latão, por estar externamente submetido à
pressão atmosférica local, somente se deformará se a pressão na tomada for
maior ou menor que aquela.
Assim, a pressão indicada por este manômetro é sempre a pressão
relativa. Quando não instalado, o manômetro de Bourdon indica
zero, em qualquer altitude.
Quando este manômetro ocupa um ambiente onde a pressão seja
diferente da pressão atmosférica local, a pressão indicada Pindicada
(ou manométrica ) será dada por:

Pindicada = Ptomada − Pambiente ( 25 )

onde Pambiente é a pressão no ambiente onde está o manômetro e


Ptomada é a pressão na tomada é a pressão absoluta em relação á
pressão do ambiente local onde está instalado o manômetro.

Uma escala muito utilizada neste manômetro é aquela produzida


em unidades práticas de kgf/cm2. Outras escalas de pressão
utilizadas são bar e psi.
Exemplo 02: Para a instalação da Figura a seguir, são fornecidos:
pressão indicada no manômetro de Bourdon Pindicada = 2,5 kgf/cm2 e
peso específico do mercúrio γHg = 1,36x104 kgf/m3. Pede-se
determinar a pressão no reservatório 1, P1 .
Solução: Determinemos, primeiramente, a pressão no ambiente
onde está o manômetro de Bourdon. Essa pressão é a do gás
contido no reservatório 2, P2, que é a mesma pressão que reina na
superfície livre do reservatório 2. Por sua vez, essa pressão é igual
à pressão em A, pois A está no mesmo plano horizontal da
superfície livre do mercúrio no reservatório 2. Assim, P2 = PA.
Pela aplicação direta da lei de Stevin (eq. 12) em A, levando-se em
consideração a coluna de mercúrio de altura h = 1,5m temos que a
na escala efetiva a pressão no ambiente 2 é:

P2 = PA = γ Hg h (1)

Então, a pressão relativa no ambiente onde está o manômetro de


Bourdon será:

Pambiente = P2 = γ Hg h (2)
Para o manômetro de Bourdon, temos:

Pindicada = Ptomada − Pambiente (3)

com Pindicada = 2,5 kgf/cm2 , Ptomada = P1 e Pambiente = γHg.h

Isolando Ptomada no primeiro membro na expressão acima e


substituindo estes últimos resultados, temos:

P1 = Pindicada + Pambiente = 2,5kgf/cm 2 + γ Hg .h

Reconhecendo que γHg = 1,36x104 kgf/m3 = 1,36x10-2 kgf/cm3 e que h


= 1,5m = 150cm, temos para P1 o valor de:

P1 = 2,5kgf/cm2 + (1,36x10−2 kgf/cm3 )(150cm )


P1 = 4,54 kgf/cm2
Exemplo 03: Qual é a pressão indicada pelo manômetro C se as
pressões indicadas pelos manômetros A e B são respectivamente PA
= 45 psi e PB = 20 psi? A pressão barométrica é 30,55 inHg.

14,7 = 29,92 inHg (Tabela de conversões de pressão)


Solução: A pressão barométrica correspondente local, Patm é:

 14,7psi 
Patm = 30,55inHg   = 15psi
 29,92inHg 
As pressões nos compartimentos 1 e 2 não estão à pressão
atmosférica local. O manômetro indica a pressão absoluta (tomada)
em relação à pressão do ambiente local onde está instalado o
manômetro:
Pindicada, A = Ptomada, A − Pambiente
Ptomada,A = Pindicada,A + Pambiente
Ptomada,A = 45 + 15 = 60 psia

A unidade de pressão é psi, a letra “a” no final é para frisar que o


valor da pressão é de pressão absoluta.

Tanto o manômetro A quanto o manômetro B medem a pressão no


compartimento 1. Assim,

Ptomada,B = Ptomada,A = 60 psia


O manômetro B mede a pressão no compartimento 1 (tomada B)
em relação à pressão no compartimento 2, PB:

Pindicada,B = Ptomada,B − Pambiente,2


Pambiente,2 = Ptomada,B − Pindicada,B
Pambiente,2 = 60 − 20 = 40 psia
O manômetro C mede a pressão no compartimento 2 (tomada C),
assim:
Ptomada,C = Pambiente,2
Ptomada,C = 40 psia

A leitura do manômetro C então pode ser calculada:


Pindicada,C = Ptomada,C − Pambiente,2
Pindicada,C = 40 − 15 = 25 psi

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