A Linguística Cognitiva (LC), ao invés de estudar a gramática ou descrição da
língua, analisa a semântica e os significados, ou seja, se baseia na conceitualização e percepção humana do mundo. Afastando da perspectiva modular de cognição adotada pelo gerativismo, a Linguística Cognitiva adota uma perspectiva não modular, que prevê a atuação de princípios cognitivos gerais compartilhados pela linguagem e outras capacidades cognitivas, bem como a interação entre os módulos da linguagem, mais especificamente, entre estrutura linguística e conteúdo conceptual. Desse modo, ela defende que a relação entre palavra e mundo é mediada pela cognição. Assim, o significado deixa de ser um reflexo direto do mundo, e passa a ser visto como uma construção cognitiva através da qual o mundo é apreendido e experienciado. Nesse sentido, a Linguística Cognitiva concebe o significado como construção mental, em um movimento contínuo de categorização e recategorização do mundo, a partir da interação de estruturas cognitivas e modelos compartilhados de crenças socioculturais. Trata-se, portanto, de estabelecer uma semântica cognitiva, a qual sugere uma visão enciclopédica do significado linguístico, em contraste com a visão de dicionário tradicionalmente adotada nos estudos semânticos. O conhecimento de dicionário é normalmente associado ao estudo da semântica lexical, cujo objetivo é investigar o significado das palavras. Sequenciada com a hipótese da modularidade, temos que o conhecimento linguístico pode ser denominado como sendo um dicionário mental ou léxico, e assim, os significados linguísticos armazenados na mente podem ser definidos de forma semelhante ao modo como aparecem no dicionário. A LC questiona a ideia de que os significados podem ser definidos de modo isolado ou descontextualizado. Acredita-se que há uma estrutura e um conjunto significativo de evidências que ligam as ideias e dão sentido interpretativo às palavras. Assim, o uso da linguagem é, em grande parte, inovador, pois o conhecimento convencional se torna aliado do conhecimento pragmático. Nessa perspectiva, sabemos que a Linguística Cognitiva adota uma perspectiva baseada no uso, orientada pelo contexto que virá a orientar a construção do significado. A despeito disso, a semântica cognitiva rejeita a ideia de um léxico mental que contenha o conhecimento semântico de forma separada de outros tipos de saber. Sem estabelecer os significados das palavras de forma caótica e desorganizada, a semântica cognitiva caracteriza o conhecimento enciclopédico como um sistema estruturado e organizado em rede, assumindo que os diferentes aspectos do conhecimento a que uma palavra dá acesso não têm status idêntico. Para isso, Langacker (1987, sinaliza quatro especificações que contribuem para essa rede enciclopédica. Convencional – é a informação amplamente conhecida e compartilhada pelos membros de uma comunidade de fala. Genérica – é o grau em que uma informação é genérica, ao invés de específica (de um viés mais amplo). As especificações genéricas e convencionais se sobrepõem, pois, uma caracterização genérica tem maior probabilidade de ser convencional. No entanto, ambas são independentes. Intrínseca – é a caracterização do significado que não leva em conta fatores externos (a forma das coisas é bastante intrínseca, pois diz respeito, por exemplo, a relação de um objeto com o seu formato específico). Característica – é a informação suficiente para identificar o membro de uma classe, dado seu caráter único (novamente a forma, já que ela indica a maneira como a “coisa” em questão é identificada). Esses quatro fatores são inter-relacionados a fim de argumentar a centralidade da rede enciclopédica. A Linguística Cognitiva adota uma perspectiva empirista, alinhando-se a tradições psicológicas e filosóficas que enfatizam a experiência humana e a centralidade do corpo humano nessa experiência. Dentro dessa perspectiva, a investigação da mente humana não pode ser separada do corpo, de modo que a experiência, a cognição e a realidade são concebidas a partir de uma ancoragem corporal. Em suma, a Linguística Cognitiva acredita na visão individual do homem como sendo a geradora de significações, já que o homem constrói uma realidade projetada, mediada pelos nossos sistemas perceptuais e conceptuais.