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RESUMO

O que é Linguística Cognitiva?

Amanda Mendes Antunes

A Linguística Cognitiva (LC), ao invés de estudar a gramática ou descrição da


língua, analisa a semântica e os significados, ou seja, se baseia na conceitualização e
percepção humana do mundo.
Afastando da perspectiva modular de cognição adotada pelo gerativismo, a
Linguística Cognitiva adota uma perspectiva não modular, que prevê a atuação de
princípios cognitivos gerais compartilhados pela linguagem e outras capacidades
cognitivas, bem como a interação entre os módulos da linguagem, mais especificamente,
entre estrutura linguística e conteúdo conceptual. Desse modo, ela defende que a relação
entre palavra e mundo é mediada pela cognição. Assim, o significado deixa de ser um
reflexo direto do mundo, e passa a ser visto como uma construção cognitiva através da
qual o mundo é apreendido e experienciado.
Nesse sentido, a Linguística Cognitiva concebe o significado como construção
mental, em um movimento contínuo de categorização e recategorização do mundo, a
partir da interação de estruturas cognitivas e modelos compartilhados de crenças
socioculturais. Trata-se, portanto, de estabelecer uma semântica cognitiva, a qual sugere
uma visão enciclopédica do significado linguístico, em contraste com a visão de
dicionário tradicionalmente adotada nos estudos semânticos.
O conhecimento de dicionário é normalmente associado ao estudo da semântica
lexical, cujo objetivo é investigar o significado das palavras. Sequenciada com a hipótese
da modularidade, temos que o conhecimento linguístico pode ser denominado como
sendo um dicionário mental ou léxico, e assim, os significados linguísticos armazenados
na mente podem ser definidos de forma semelhante ao modo como aparecem no
dicionário.
A LC questiona a ideia de que os significados podem ser definidos de modo
isolado ou descontextualizado. Acredita-se que há uma estrutura e um conjunto
significativo de evidências que ligam as ideias e dão sentido interpretativo às palavras.
Assim, o uso da linguagem é, em grande parte, inovador, pois o conhecimento
convencional se torna aliado do conhecimento pragmático.
Nessa perspectiva, sabemos que a Linguística Cognitiva adota uma perspectiva
baseada no uso, orientada pelo contexto que virá a orientar a construção do significado.
A despeito disso, a semântica cognitiva rejeita a ideia de um léxico mental que contenha
o conhecimento semântico de forma separada de outros tipos de saber.
Sem estabelecer os significados das palavras de forma caótica e desorganizada, a
semântica cognitiva caracteriza o conhecimento enciclopédico como um sistema
estruturado e organizado em rede, assumindo que os diferentes aspectos do conhecimento
a que uma palavra dá acesso não têm status idêntico. Para isso, Langacker (1987, sinaliza
quatro especificações que contribuem para essa rede enciclopédica.
Convencional – é a informação amplamente conhecida e compartilhada pelos
membros de uma comunidade de fala.
Genérica – é o grau em que uma informação é genérica, ao invés de específica (de
um viés mais amplo).
As especificações genéricas e convencionais se sobrepõem, pois, uma
caracterização genérica tem maior probabilidade de ser convencional. No entanto, ambas
são independentes.
Intrínseca – é a caracterização do significado que não leva em conta fatores
externos (a forma das coisas é bastante intrínseca, pois diz respeito, por exemplo, a
relação de um objeto com o seu formato específico).
Característica – é a informação suficiente para identificar o membro de uma
classe, dado seu caráter único (novamente a forma, já que ela indica a maneira como a
“coisa” em questão é identificada).
Esses quatro fatores são inter-relacionados a fim de argumentar a centralidade da
rede enciclopédica.
A Linguística Cognitiva adota uma perspectiva empirista, alinhando-se a tradições
psicológicas e filosóficas que enfatizam a experiência humana e a centralidade do corpo
humano nessa experiência. Dentro dessa perspectiva, a investigação da mente humana
não pode ser separada do corpo, de modo que a experiência, a cognição e a realidade são
concebidas a partir de uma ancoragem corporal.
Em suma, a Linguística Cognitiva acredita na visão individual do homem como
sendo a geradora de significações, já que o homem constrói uma realidade projetada,
mediada pelos nossos sistemas perceptuais e conceptuais.

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