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ECOTURISMO

EM BONITO
MATO GROSSO DO SUL

INTRODUÇÃO

O município de Bonito tornou-se conhecido nacional e internacio-


nalmente por suas belezas naturais, como grutas, rios de águas cristalinas,
cachoeiras, flora e fauna, sendo eleito em 2002, como o melhor destino
para o ecoturismo no país pela revista de publicação nacional Viagem.
A profissionalização da atividade turística começou há 10 anos por
uma ação conjunta do Sebrae/MS, EMBRATUR, SENAC/MS e Prefeitura
Municipal que capacitaram cerca de 1.700 pessoas entre empresários,
guias e outros profissionais. O resultado desse trabalho ocasionou um
aumento de até 1.000% na oferta de serviços ao turista, incluindo novos
hotéis e restaurantes, exploração profissional dos atrativos e agências
especializadas em ecoturismo.
O sucesso de suas belezas naturais vinha atraindo, ao longo dos
anos, um grande número de turistas. O êxito estava causando inúmeros
problemas para a infra-estrutura do município, tais como: sistema
inadequado de coleta, tratamento e distribuição das águas potáveis,
esgoto e lixo, infra-estrutura viária inadequada para atender aos locais
turísticos, ao escoamento da produção agropecuária e ao baixo índice
de ocupação dos atrativos turísticos na baixa temporada.

Jorge Tadeu de Barros Veneza, Consultor do Sebrae Mato Grosso do Sul, elaborou o estudo
de caso sob a orientação de Helene Kleinberger Salim e César Simões Salim, baseado no
curso Desenvolvendo Casos de Sucesso, realizado pelo Sebrae, Ibmec-RJ e PUC-Rio,
integrando as atividades da Prioridade Potencializar e Difundir as Experiências de
Sucesso no Sistema Sebrae.
ESTÂNCIA MIMOSA

GRUTA BONITO
ECOTURISMO EM BONITO - MS

HISTÓRIA DE BONITO

B onito1 teve suas origens na história da formação do município


de Miranda, ligado à expansão espanhola do século XVI no vale do
Paraguai, como ponto de apoio às expedições que pretendiam alcançar
as minas do Peru. Em 1580, Ruy Dias Melgarejo fundava a primeira
cidade de Santiago de Xerez às margens do rio Miranda. Após vários
conflitos com os índios que habitavam a região, o povoado mudou-se
para as margens do rio Mondego (Aquidauana), permanecendo apenas
algumas famílias que conviviam pacificamente com os indígenas. Esse
relacionamento amistoso facilitou a implantação da Missão Itatim, que
foi alvo constante de ataques de bandeirantes paulistas e colonos espanhóis
que pretendiam aprisionar os índios e mestiços aldeados para
escravizá-los.
A Coroa Portuguesa expulsou os espanhóis da região do vale do
rio Paraguai, após a descoberta de ouro em Cuiabá. A mando do
capitão-general da Capitania de Mato Grosso, Caetano Pinto de Miranda
Montenegro, em 1778, foi construído o Presídio de Nossa Senhora do
Carmo do Rio Miranda. Um pequeno povoado começou a desenvolver-se
em volta do presídio, que, em 1857, seria elevado à categoria de vila
e passaria a denominar-se Miranda e, em 7 de outubro de 1871, foi
elevada à categoria de município.
Durante a Guerra do Paraguai (1865 – 1870), vários colonos e
fazendeiros ajudaram no abrigo e condução das tropas até a região de
fronteira. Os índios Guaicurus também participaram dos combates. Após
o final da guerra, muitas pessoas que haviam fugido retornaram junto
com novos colonos vindos de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do
Sul e outras regiões. Em função dos constantes ataques indígenas, muitas
famílias foram dizimadas, dificultando a criação de um povoado.
O núcleo habitacional que se transformaria na sede do município
se iniciou em terras da fazenda Bonito, adquirida do Sr. Euzébio pelo
capitão Luiz da Costa Leite Falcão, em 1869, e considerado o desbra-
vador de Bonito, tendo sido também seu primeiro escrivão e tabelião.
Coordenação Técnica do Projeto: Arnaldo Leite e Márcia Gonzaga Rocha.

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www.bonito-ms.com.br
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A fundação oficial da cidade de Bonito se deu, em 24/02/1927, pelo


capitão Manoel Ignácio de Faria, genro do capitão Luiz da Costa Leite
Falcão. Foi elevada a distrito pela Lei n.° 693, de 11/06/1915, e o
município foi criado pela Lei n.° 145, de 02/10/1948. No dia 3 de
outubro, passou-se a comemorar sua emancipação política.
A 330 km da capital de Mato Grosso do Sul, Bonito possuía cerca
de 17 mil habitantes 2 (2002) e era nacional e internacionalmente
conhecido por suas belezas naturais, distribuídas entre grutas, rios de
águas cristalinas, cachoeiras, flora e fauna abundante. O município
pertence a MRH – Microrregião Homogênea de Bodoquena, possuindo
uma extensão territorial de 4.947,90 km2, equivalendo a 1,38% do total
do Estado de Mato Grosso do Sul. Possuía um clima tropical úmido,
topografia predominante ondulada e vegetação de cerrado.
GRÁFICO 1

População do município de Bonito

16827
15553
12796
11014 10332
6350 7913 5904
5110 5221
4031
1563

1970 1980 1991 2000


RURAL URBANA TOTAL

A ESTRUTURA TURÍSTICA DE BONITO

A té a década de 70, os únicos atrativos de Bonito eram a Gruta


do Lago Azul e a Ilha do Padre, visitados principalmente pelos moradores
do município, além de seus amigos e parentes que moravam em outras
regiões.

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Fonte: IBGE
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No final da década de 80, houve um discreto aumento de visitantes,


que procuravam também o Aquário Natural, as Cachoeiras do Mimoso e
o Rio Sucuri, além do passeio de Bote, então os proprietários despertaram
para a exploração econômica de seus atrativos. O Decreto n.° 076/85
foi aprovado em 14/04/86, autorizando a desapropriação da área que
seria transformada no Balneário Municipal, visando atender à comunidade
local. A infra-estrutura e a organização dos passeios eram ainda precárias,
tendo apenas duas agências e alguns hotéis de acomodações simples
na cidade.
Em 1993, o fluxo de turistas teve seu início após a transmissão em
rede nacional de diversos documentários sobre a região. Foram desse
período as primeiras experiências de limitar o número de visitantes em
alguns passeios. Esse dilema foi fundamental para que o município
buscasse o desenvolvimento profissional das atividades turísticas.
Em virtude da sua natureza calcária, os atrativos turísticos de Bonito
eram muito frágeis, correndo o risco de degradação diante de uma
exploração turística desordenada. Para manter a sustentabilidade dessa
atividade econômica, diversas medidas foram tomadas, a fim de coordenar
a exploração turística sem comprometer o meio ambiente.
A realização do primeiro Curso de Formação de Guias de Turismo,
em 1993, com o apoio do Sebrae/MS, Governo do Estado, EMBRATUR
e Prefeitura Municipal de Bonito, e coordenado pela Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul, constituiu o marco inicial para a
profissionalização do turismo em Bonito. Desde essa época, realizaram-se
outros cursos de formação de guias, suprindo a crescente demanda
turística.
Nesse período, existiam em Bonito três atrativos turísticos com
pouca infra-estrutura para recebimento de turistas, seis agências de
turismo, seis meios de hospedagem (hotéis e pousadas) que ofereciam
300 leitos e trinta guias de turismo em processo inicial de atuação na
área turística, gerando, na época, 180 empregos diretos.
A comunidade também se mostrava preocupada com o início do
processo de desenvolvimento do turismo no município, fato este que
foi registrado nos trabalhos iniciais realizados, em que se destacavam
alguns comentários dos participantes desses eventos:
“Os atrativos naturais são frágeis!”, “Ecoturismo não é um simples
produto! É um conceito de viagem, com respeito ao meio
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ambiente!”, “Precisamos convocar vontades para atuar na busca


de um propósito comum!” e “O uso racional depende da elevação
do nível de consciência, de posturas ambientalmente corretas!”

O CONTEÚDO CENTRAL

E m 1993, o município estava despertando para o turismo, que


seria um dos setores que causariam impactos diretos na geração de
ocupações produtivas e renda. Na época, as lideranças da comunidade
já manifestavam sua preocupação com a fragilidade dos atrativos naturais
e com o delicado equilíbrio do meio ambiente da região, pois o
ecoturismo não era um simples produto, mas um conceito especial de
viagem, com forte apelo de respeito ao meio ambiente.
Nesse mesmo ano, o Sebrae/MS, atuando em parceria com a
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Prefeitura Municipal, a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,


Governo do Estado e EMBRATUR, implantou em Bonito o primeiro
Curso de Formação de Guias de Turismo, com aulas teóricas e práticas,
especializando os participantes em atrativos naturais, e capacitando 30
profissionais da região.
Dentre eles, citamos o caso do Sr. Valdemir Martins, que ocuparia
o cargo de Secretário Municipal de Turismo.
“Cheguei a Bonito há 10 anos. A idéia era abrir uma mercearia,
mas acabei fazendo um curso de guia de turismo, promovido pelo
Sebrae/MS, e não parei mais.”
Martins era um dos inúmeros exemplos de empresários e profissionais
que iniciaram o trabalho de desenvolvimento turístico de Bonito, reconhecido
como um dos destinos de ecoturismo mais procurados do Brasil.
Nessa época (1993), não se faziam o levantamento e a consoli-
dação de dados referentes ao número de turistas que visitavam o município,
a receita gerada e seu tempo de permanência na cidade. Esses levanta-
mentos tornaram-se indispensáveis em função da necessidade de o exe-
cutivo municipal, as entidades e os empresários do setor controlarem
o fluxo de visitantes e para planejamento de ações de divulgação e
investimentos na infra-estrutura municipal e nos atrativos turísticos.
ANÁLISE DE DADOS TURÍSTICOS

Análise de Dados 2002


Média de turistas (por ano) 100.000
Gasto médio (por turista – por dia) R$ 120,00
Estada em Bonito (número de dias por turista) 4
Receita gerada no turismo R$ 48 milhões
Fonte: Conselho Municipal de Turismo de Bonito – COMTUR

A utilização racional dos recursos naturais disponíveis à visita


turística dependia da elevação do nível de consciência do turista, que
deveria conter seus impulsos de tocar ou interferir no ambiente que via
e que o deslumbrava. Essa foi uma das preocupações demonstradas
pelas lideranças e comunidade local, que posteriormente mobilizaram
outras iniciativas, que proporcionassem o desenvolvimento do turismo
e, ao mesmo tempo, conservasse o meio ambiente.
Entre as iniciativas adotadas, teve grande importância o Seminário
Estratégico de Turismo realizado em maio de 1994. Guias, empresários,
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técnicos e secretários municipais, em um total de 32 participantes,


identificaram problemas e soluções para o desenvolvimento desse
novo potencial encontrado.
Diversas ações foram, então, desencadeadas para o ordenamento
e o desenvolvimento do turismo local. Dentre elas, em 1995, a Lei
Municipal nº 689/95 tornou obrigatório o acompanhamento de guias
aos passeios turísticos locais. Seu credenciamento pela EMBRATUR
garantia segurança ao visitante, aliada a uma variedade de informações
sobre o local visitado, ao mesmo tempo que se tornava um fiscal da
preservação ambiental.
Ainda em 1995, a estruturação da atividade turística foi comple-
mentada pela aprovação da Lei Municipal nº 695/95 que instituiu
o Conselho Municipal de Turismo - COMTUR, integrado por quatro
representantes escolhidos pelo chefe do executivo municipal e por seis
representantes dos segmentos ligados ao trade turístico local,
posteriormente alterado para sete representantes.
O COMTUR tinha como principal objetivo fomentar o turismo de
maneira organizada e sustentável no município, apoiando ações que
visassem divulgar o Município de Bonito em outras regiões, dando
apoio ao trade e à comunidade, seja na implantação de alguma
atividade ou na parceria de projetos de cunho social.
Embora o estatuto do COMTUR instituísse reuniões quinzenais, essas
aconteciam semanalmente. Aos conselheiros, eram apresentadas propostas
e solicitações de apoio às atividades ligadas ao turismo, que eram
discutidas em sessões abertas ao público, votadas e registradas em ata.
Os Conselheiros representavam as associações de classe, eram
eleitos por voto direto e cumpriam mandato de dois anos. As seguintes
associações estavam representadas no COMTUR: Associação Comercial,
Associação de Bares e Restaurantes, Associação dos Transportes,
Associação Bonitense de Hotelaria, Associação de Agências de Turismo,
Associação de Guias de Turismo e Associação dos Atrativos Turísticos.
Os representantes do Executivo Municipal eram: Vice-prefeito,
Assessor Jurídico, Secretário de Turismo, Indústria e Comércio e
Secretário de Meio Ambiente, Agricultura e Pecuária.
Um dos diferenciais de Bonito, que também se refletia no desen-
volvimento da atividade turística do município, era o critério de escolha
do secretário de turismo. O processo era feito por eleição e o secretário
era escolhido pelo trade turístico, a partir de uma lista tríplice. Essa
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iniciativa procurava garantir a seriedade e o comprometimento de


todos com os planos estabelecidos pela Secretaria de Turismo.
A Resolução Normativa nº 09/95, do COMTUR, regulamentou a
instituição do voucher único, principal instrumento para viabilizar o
ordenamento da atividade turística em Bonito. Emitido e controlado
pela Secretaria de Turismo, Indústria e Comércio de Bonito, o voucher
era comercializado pelas agências de turismo do município.
Voucher, que significa "recibo" em inglês, era o elo entre o poder
público, os empresários, os guias e os turistas que visitavam Bonito.
Funcionava como um passaporte que dava direito de visitação a locais
escolhidos e foi a forma encontrada de controlar o acesso dos turistas,
sempre com a presença de um guia especializado. Além dessa
organização e controle, o voucher único centralizava os pagamentos da
visitação aos atrativos turísticos e o serviço dos guias nas próprias
agências de turismo e, ainda, possibilitava o controle estatístico de
visitação turística aos atrativos.
A Prefeitura Municipal imprimia e distribuía entre as 25 agências de
turismo do município talões numerados do voucher. Neles, eram preen-
chidas informações a respeito da agência organizadora do passeio,
identificação do guia e do atrativo, horário de visita e valor total do
passeio. Nesse valor, estavam inclusos os valores referentes ao guia,
agência, atrativo e ISS – Imposto Sobre Serviço, destinado à Prefeitura.
A fragilidade ambiental da região motivou o controle do número
de visitantes diários por atrativo. O acompanhamento de guia de
turismo era obrigatório para todos os sítios turísticos, combinado com
um número máximo de turistas que ele poderia levar no grupo.
Além de centralizar os pagamentos e organizar o fluxo turístico, que
era uma preocupação constante em ecossistemas frágeis como os de
Bonito, o voucher ajudava a mapear a atividade turística local, o que
permitia a tomada de decisões e a aplicação de planos de ação, de
acordo com as deficiências percebidas. A partir desses estudos, soube-
se que o turista gastava, em média, R$ 100,00 por dia, com quatro dias
de permanência e realizava quatro passeios.
Assim, quando o turista chegava a Bonito, devia obrigatoriamente
passar por uma agência local para agendar seus passeios, pegar os
respectivos vouchers e seguir para o atrativo acompanhado de um guia
de turismo.
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Simultaneamente à criação do COMTUR, foi instituído o Fundo


Municipal de Turismo, o FUTUR. O fundo era administrado pelo COMTUR
e mantido com quarenta por cento da arrecadação obtida com os ingressos
da Gruta do Lago Azul, principal atrativo da localidade. Prioritariamente,
os recursos foram destinados ao marketing promocional – folders, vídeos,
cartazes – e ao acesso a feiras e workshops no Brasil e no exterior.
Nesse período, o grau de preocupação das lideranças, empresários
e entidades ligadas ao turismo, com a conservação do meio ambiente
e com a profissionalização do turismo, possibilitou a implantação do
Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT, realizado
pela parceria da Prefeitura Municipal e EMBRATUR, tendo como objetivo
treinar monitores municipais do PNMT, sensibilizando-os quanto à impor-
tância do turismo para o desenvolvimento sustentável dos municípios.
Como resultado da Oficina de 1ª Fase do PNMT, foram capacitados 10
técnicos municipais.
Segundo levantamentos realizados em 1997, pelo COMTUR, a receita
com o turismo em Bonito atingiu cerca de 12 milhões de reais.
Em 1998, o Sebrae/MS, em parceria com a Prefeitura Municipal,
implantou o Programa de Emprego e Renda – PRODER, que contou
com ampla participação da comunidade. Esse estudo visou apurar a
realidade local, com vistas ao levantamento de potencialidades para a
implementação de ações que tinham como fim o desenvolvimento
econômico e social do município, tendo como vertente principal de
sustentação o turismo.
O Plano de Ação Municipal contemplou, entre outros, o Programa de
Desenvolvimento do Turismo e Meio Ambiente, no qual se destacavam
divulgação das atividades turísticas, qualificação dos recursos humanos,
promoção de educação ambiental, conservação dos recursos naturais e
criação de um banco de dados estatísticos sobre o turismo.
Em outras áreas, o plano indicou ao Poder Executivo Municipal
setores e ações a serem trabalhadas, tais como: recuperação de estradas
vicinais, implantação de usina de reciclagem e compostagem de lixo,
criação de viveiros de mudas, sinalização das vias de acesso aos pontos
turísticos, etc.
Realizou-se, também, um estudo sobre o potencial de visitas e
cálculo científico da capacidade de carga das grutas Nossa Senhora
Aparecida e Gruta do Lago Azul. Essa iniciativa visava iniciar o processo
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de licenciamento ambiental e a implantação dos seguintes empreen-


dimentos previstos: melhoria e ampliação do caminho da Gruta do
Lago Azul, caminho interno da Gruta Nossa Senhora Aparecida, construção
de centro de recepção aos turistas para as grutas e demais infra-estruturas
de apoio externas às cavernas.
Em 1999, realizou-se uma Ação Global no KM 21 – Águas de
Miranda, visando proporcionar uma conscientização ambiental aos
moradores dessa colônia de pescadores, tratamento médico e
odontológico, realização de vacinação dos moradores, emissão de
documentos de identidade, certidão de nascimento e outros, além de
melhorar as vias de acesso. A ação contou com diversos parceiros,
sendo eles: Prefeitura Municipal, Sebrae/MS, SENAC, Governo do
Estado, SESC, Comando Militar do Oeste e outros.
Por iniciativa da Prefeitura Municipal, realizou-se em 1999 o projeto
Conheça Bonito, para 650 alunos de 5ª a 8ª séries e que incluía um city
tour acompanhado por guias locais especializados, destinado à
conscientização da importância do turismo e do meio ambiente.
Em Bonito, o Plano de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável,
iniciado em outubro de 2001, provocou a integração das atividades de
turismo e da agricultura. O envolvimento começou com a implantação da
Feira do Produtor na Praça da Liberdade, no centro da cidade. O projeto
começou tímido, mas, com a Comunidade Ativa em parceria com o
Programa Sebrae de Desenvolvimento Local – PSDL, estabeleceu-se a
implantação de barracas padronizadas para os produtores dos assenta-
mentos rurais. A proposta era para 25 barracas, mas já, na inauguração,
o número subira para 50 e, até o final do ano, a prefeitura pretendia
ampliar para 100, dando oportunidade a outras famílias de produtores
e, também, a artesãos da cidade.
Inaugurada oficialmente no dia 27 de abril de 2002, a Feira do
Produtor de Bonito atraiu a atenção de toda a população e dos turistas.
Na solenidade de inauguração, o Prefeito Geraldo Marques destacou
que o desenvolvimento que todos esperavam para o município seria
possível agora, com a implantação do Desenvolvimento Local Integrado
e Sustentável – DLIS/PSDL. Disse, ainda, que Bonito se preparava, com
muito cuidado, para esse desenvolvimento, realizando obras de infra-
estrutura como rede de esgoto e construindo um aeroporto internacional.
Segundo afirmou, tudo o que fosse estabelecido pelo Fórum de DLIS
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como meta, seria ouvido e cumprido na íntegra.


Na feira se vendiam desde frutas, verduras e legumes até farinha de
mandioca, queijo, mel, pão e doces caseiros. Tudo diretamente da
roça. Seu Adão Jara Ayvi estava trabalhando com toda a família. Ele
fazia garapa de cana e a esposa e os filhos vendiam pães e doces
caseiros, e dizia que quase não estava dando conta da procura.
Além dos produtos do campo, a feira do produtor contava com
uma praça de alimentação. Toda semana aconteciam apresentações
com grupos culturais de música regional, danças, capoeira e outras
atrações. A feira era realizada sempre aos sábados, a partir da 16 horas.
Com a participação do Sebrae/MS e Prefeitura Municipal de Bonito
foram capacitados, em quase uma década, 1.627 pessoas dentre
empresários, guias de turismo e demais profissionais envolvidos na
atividade. O resultado desse trabalho de desenvolvimento do capital
humano e do capital social, que incluiu treinamentos e discussões
sobre métodos para um turismo profissional, ocasionou um aumento
de até 1.000% na oferta de serviços ao turista, como foi o caso do
número de leitos da hotelaria, conforme tabela.
DADOS TURÍSTICOS - 1993 E 2001
Especificação 1993 2001
Número de leitos da hotelaria 300 3.200
Número de U.H. – aptos. (em construção) ---- 430
Número de emprego diretos 180 2.500
Número de agências de turismo 6 25
Número de atrativos turísticos 3 32
Número de guias de turismo 30 121
Meios de hospedagens 6 67
Fonte: Conselho Municipal de Turismo de Bonito – COMTUR

Em Bonito, existiam, nesse momento, 32 atrativos turísticos e 25


agências de turismo que praticavam o mesmo preço, sendo a qualidade
no atendimento o diferencial entre elas. A rede hoteleira era composta
por aproximadamente 80 hotéis e pousadas dos mais diferentes níveis.
Possuía restaurantes que ofereciam desde refeições rápidas até pratos
à base de peixe e carne, inseridos na culinária regional.
Bonito encontrava-se em uma fase de expansão da rede hoteleira,
inclusive com a vinda de grandes grupos nacionais e internacionais. O
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empreendimento do Grupo Odebrecht, um resort com 192 aparta-


mentos, já estava em fase de construção e mais duas outras grandes
empresas do ramo já sinalizavam investimentos semelhantes.
As opiniões dos empresários locais ainda divergiam sobre as
conseqüências da entrada desses grandes grupos, como se verificou na
conversa com os empresários e pioneiros do turismo local, Cláudio
Carneiro e Eduardo Coelho.
Para Cláudio Carneiro, proprietário do atrativo turístico Rio Sucuri,
localizado na Fazenda São Geraldo, a vinda desses novos empreendedores
sanaria parte do problema com fluxo turístico que, em certas épocas
do ano, decrescia consideravelmente. Para Eduardo Coelho, proprietário
da Estância Mimosa, era o momento de uma maior integração entre
os representantes de classe dos profissionais do turismo, comunidade
e poder público, para a criação de regras à preservação do meio ambiente
e, também, dos profissionais já instalados, em função de uma competição
desequilibrada.
O próprio Secretário Interino de Turismo do município, Ivan Batiston,
alertava:
“Isso aqui não é praia! Devemos prezar por um turismo de quali-
dade e conservação e, por isso, analisar com muita cautela, com
os diversos segmentos do turismo, todas as propostas de instalação
de novos empreendimentos na região.”
Além da discussão sobre os crescentes investimentos, alguns elos
da cadeia do turismo bonitense não eram, ainda, explorados, como a
questão do artesanato e culinária local. Existia, também, o potencial do
turismo histórico na região em torno de Bonito, como nos municípios
de Guia Lopes da Laguna, Nioaque, Jardim e Bela Vista que foram
palco da Guerra do Paraguai e já abrigaram colonizações espanholas e
indígenas de grande porte.
Como resultado dos investimentos ainda crescentes na região, a
renda gerada com a atividade turística foi de R$ 21 milhões para um
município de 17 mil habitantes, somente no ano de 1999, com elevada
consciência de conservação ambiental.
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FREQÜÊNCIA DE VISITANTES POR ATRATIVO


Atrativo 1997 1998 1999 2000 2001
Abismo Anhumas ------ ------- ------- 1.540 1.235
Aquário Natural 19.527 20.289 26.381 21.829 23.632
Balneário do Sol ------ ------ ------ 878 3.429
Balneário Municipal 12.410 6.343 9.320 8.130 5.909
Bote Descida
Rio Formoso 30.504 31.409 34.487 29.229 30.791
Bóia Cross 1.540 1.965 3.282 2.770 2.187
Bonito Aventura ------ ------ ----- 3.308 3.692
Cachoeiras Aquidaban 2.033 1.435 1.381 1.720 2.021
Cachoeiras do Mimoso 3.245 1.671 517 2.024 897
Fazenda Ceita Cor ------- ------- 2.295 4.024 4.369
Gruta do Lago Azul 34.109 36.212 43.827 43.852 46.056
Gruta São Miguel ------- ------- ------- 7.121 2.772
Mimosa Turismo Rural ------- ------- 2.332 3.779 8.325
Parque das Cachoeiras ------- 5.966 8.546 5.457 5.849
Parque Monte Cristo ------ ------- 3.430 2.169 1.742
Projeto Vivo 541 907 2.088 2.210 972
Rio da Prata 7.830 3.631 1.057 Jardim 145
Rio do Peixe 12.434 13.009 15.349 11.645 11.275
Rio Sucuri 14.971 16.643 26.342 22.192 21.146
Outros 4.711 5.831 5.458 2.076 2.588
Total Geral 143.855 145.311 186.092 175.952 179.032
Fonte: Conselho Municipal de Turismo de Bonito – COMTUR

Apesar do constante aumento no número de turistas que visitavam Bonito,


existia o problema da sazonalidade com a redução de turistas que era mais
acentuada no mês de julho, em virtude do período de inverno. Com o
objetivo de amenizar o problema, criou-se, em 2001, o Festival de Inverno,
realizado na segunda quinzena de julho, tendo como foco atrair turistas
do Estado, principalmente localizados na capital, maior e mais próximo
centro emissor de turistas. Em 2002, aconteceu a 2ª edição do Festival.
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CONCLUSÃO

A s parcerias e a persistência foram os instrumentos essenciais para


a superação dos obstáculos que, certamente, aconteceram e poderiam
acontecer. Ultrapassar os limites impostos pela dura realidade de nossos
dias era o que se esperava de todas as pessoas, entidades e instituições
que aceitaram o desafio de participar do desenvolvimento do turismo
em Bonito/MS.
Prova disso, destacaria o Prêmio Superinteressante de Ecologia 2002 –
categoria fauna, que o Parque Ecológico Baía Bonita e a Universidade
para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal – UNIDERP,
ganharam pelo desenvolvimento do projeto “Turismo sustentável e conser-
vação de natureza no Aquário Natural de Bonito”. Para disputar o prêmio,
foram enviados 500 projetos de todo o Brasil à Editora Abril. O res-
ponsável pelo projeto, o biólogo José Sabino, afirmava que o resultado
indicaria a sustentabilidade da operação turística no rio Baía Bonita.
Eleito o melhor destino para ecoturismo no País pela revista de
publicação nacional Viagem, o município de Bonito passou a ser cada
vez mais procurado para visitações que deveriam aumentar ainda mais,
a partir de fevereiro do ano seguinte, quando seria inaugurado o
aeroporto da cidade. O Secretário de Meio Ambiente, Cultura e Turismo,
Márcio Portocarrero, dizia que o primeiro reflexo da classificação de
Bonito fora sentido na Feira de Turismo de Aventura promovida em
São Paulo, onde, segundo ele, o estande de Mato Grosso do Sul foi o
mais visitado.
As missões técnicas de outros estados eram consideradas como
outro fator relevante da organização e profissionalização do turismo de
Bonito. Normalmente, organizadas pelo Sebrae/MS e lideranças do
município, missões técnicas de várias cidades do país já visitaram
Bonito para conhecer a administração local em turismo. Desde 2000,
foram dez missões dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Distrito
Federal, Bahia, Paraná e Mato Grosso, compostas de empresários, guias,
professores e acadêmicos do curso de turismo, representantes do
poder público, de organizações não governamentais e sindicatos rurais,
que proporcionaram o intercâmbio empresarial e a disseminação da
forma de desenvolvimento do turismo praticado no município. Ao todo
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foram realizadas dez missões técnicas, com previsão de mais cinco que
seriam realizadas até o final do ano de 2002.
As lideranças e a comunidade mostravam animadas com os
resultados do desenvolvimento do turismo em Bonito. O desafio agora
era receber mais pessoas, sem perder a qualidade no atendimento ao
turista, e buscar a preservação dos atrativos e do meio ambiente.
Mas nem tudo foram flores – como se pode observar a seguir,
extraída da tabela de freqüência de visitantes por atração, o passeio ao
Rio da Prata teve redução significativa para Bonito, pois sua conta-
bilização passou a ser realizada pelo Município de Jardim/MS. Isso
aconteceu em função de estar o atrativo localizado nesse município,
que, a partir de 2000, passou a explorar o referido atrativo e a controlar
o seu fluxo de visitantes.

FREQÜÊNCIA DE VISITANTES POR ATRAÇÃO


Atrativo 1997 1998 1999 2000 2001
Rio da Prata 7.830 3.631 1.057 Jardim 145
Fonte: Conselho Municipal de Turismo de Bonito – COMTUR

PONTOS PARA DISCUSSÃO

A leitura do caso “Ecoturismo em Bonito/MS” permitiu que fossem


levantadas algumas questões:

• Quais seriam as medidas que poderiam ser tomadas pelos interessados


na manutenção da média de visitação de Bonito durante o ano?

• Como se manteria a renda do pessoal ocupado na atividade turística


na baixa temporada?
ECOTURISMO EM BONITO - MS

• O que o município poderia fazer para receber mais turistas na alta


temporada, preservando os atrativos turísticos?

• Que critérios estariam sendo utilizados para a exploração de novos


atrativos turísticos?

• O estabelecimento de parcerias para inclusão de atividades turísticas


localizadas em outros municípios da região seria, realmente, viável e
uma das formas de receber mais visitantes?

Diretoria Executiva do Sebrae Mato Grosso do Sul (2002): Luiz de Alvarenga Moreira, Maura
Catharina Gabínio e Souza e Mauro de Freitas Infante Vieira.

Agradecimentos:
Associação Bonitense de Agências de Ecoturismo – ABAETUR, Associação Bonitense de Hotelaria –
ABH, Associação Comercial e Industrial de Bonito – ACIB, Associação dos Operadores de Bote de
Bonito, Associação de Proprietários de Atrativos Turísticos de Bonito e Região – ATRATUR, Associação
de Restaurantes, Bares e Similares de Bonito, Associação de Transportes de Bonito – ATB, Associação
dos Guias de Turismo de Bonito – AGTB, Banco do Brasil, Câmara de Dirigentes Lojistas – CDL,
Centro Nacional de Estudo, Conselho Municipal de Turismo de Bonito – COMTUR, EMBRATUR,
Faculdade Estácio de Sá, Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional – IPHAN, Prefeitura Municipal de Bonito, Proteção e Manejo de Cavernas do IBAMA –
CECAV, Sebrae/MS, SENAC, Sindicato Rural de Bonito, Universidade Católica Dom Bosco – UCDB,
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS.

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