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TEXTO 1 - MEDITAÇÃO SOBRE A PALAVRA DEUS - CURSO FUNDAMENTAL DA FÉ

1. Por que a palavra "Deus" que nada diz é tão importante para o ser humano?

De acordo com o autor, a palavra "Deus", é o fundamento que possibilita a própria palavra. Não é uma
palavra qualquer, mas é a palavra na qual a língua, ou seja, a consciência de si do mundo e da existência
conjuntamente, que se expressa, apreende - se a si em seu fundamento. Não somos nós que pensamos
a palavra "Deus" agindo ativamente como indivíduos, ou seja, não somos nós quem a introduzimos no
espaço de nossa existência. Ela chega até nós na história da língua, a qual nos situa e nos questiona
enquanto indivíduos sem que ela própria esteja sujeita a nossa disposição. Não é porque o som
fonético da palavra "Deus" depende de nós que também a palavra "Deus" seja criação nossa. É a palavra
"Deus" que nos cria, porque faz de nós seres humanos. A palavra "Deus" representa a palavra genuína
que se nos faz presente desde o arcabouço sem palavras de todas as palavras, através do seu nexo, sua
unidade e sua totalidade, totalidade que está dada, faz-se presente à nós e nos confronta com a
realidade como um todo, pelo menos enquanto pergunta. A palavra existe e procede das origens de que
o próprio homem procede. Só se pode pensar em seu fim com a morte do homem enquanto homem. É
ela quem mantém aberto o futuro, ela é a abertura para o mistério incompreensível. Ela é a última
palavra antes do silêncio que se emudece de palavras em adoração perante o mistério inefável. É a
palavra que se deve pronunciar no fim de todo falar se, em lugar do silêncio na adoração, não deva
seguir a morte em que o homem se torna animal engenhoso ou pecador eternamente perdido. É a
palavra de sentido sobrecarregado e que exige de nós mais do que suportam nossas forças, quase até
os limites do irrisório. Se nós não a ouvimos dessa forma, estaremos a ouvi-la como palavra que diz as
coisas óbvias e controláveis do dia a dia, como palavra ao lado de outras palavras. É aí teremos ouvido
algo que nada tem a ver com a palavra Deus.

"Conhecemos a expressão latina 'amor fati', amor ao destino. Essa decisão em face do destino significa
propriamente 'amor à palavra a nós dirigida', ou seja, àquele fatum que é nosso destino. Somente este
amor ao que é necessário liberta nossa liberdade. Este fatum, em última análise, é a palavra 'Deus'."

TEXTO 2 - IMAGENS DE DEUS

A partir do texto explique as afirmações:

1. A relação entre o ser humano e Deus está sempre mediada pela fé e não pelo saber.

Segundo o autor, da época mítica até a pós - metafísica atual continuamos precisando de orientações,
referências culturais, crenças e teorias que supram as carências instintivas do homem, para quem a
cultura é uma segunda natureza, e que precisa de valores e convicções para dar um sentido à sua vida,
para canalizar sua curiosidade e ânsia de saber e para encontrar linhas de conduta. Porém, não há um
sistema que possa responder a todas as impugnações. Assim não é possível uma metafísica unitária e
universal. Todavia é preciso optar pragmaticamente pela mais convincente, confiável e plausível,
enquanto não houver outra melhor. Não há uma demonstração da verdade, mas alternativas racionais
que exigem julgamento e decisão. Essa opção é coletiva, é a que subjaz a toda cultura, pois sempre há
uma construção social da realidade. Esse julgamento das distintas cosmovisões não é só intersubjetivo
(sociocultural), mas também pessoal, com uma falseabilidade prático - vivencial que vai além da mera
argumentação racional. Na metafísica sobrevivem os elementos míticos inerentes à qualquer imagem
do mundo que não só se baseia em elementos racionais, mais também na necessidade de modelos e na
capacidade cognitiva das próprias emoções, a partir das quais se criam os esboços metafísico.

O Deus da metafísica pós - moderna tem cabimento no marco de um horizonte de transcendência ao


qual o homem se abre. Ele não é o fundamentado nem o legitimador de nossas construções racionais,
muito menos o deus ex machina que dá respostas a todas as necessidades de sentido e oferece uma
resposta à multiplicidade de desejos de uma sensibilidade exacerbada. Não é funcional, no sentido de
que a fé nele resolva os problemas, nem serve como instância para escapar dos conflitos. Pelo contrário,
é marcado pela teodiceia, só podendo ser postulado a partir da crítica à religião, da suspeita das
construções da subjetividade humana e das dúvidas de uma razão que sabe que precisa extrapolar e
rebaixar o solo do empírico para interpretar uma totalidade da qual faz parte e, por isso mesmo, que
lhe escapa. É um Deus que se inscreve num horizonte de sentido, no qual é mais buscado e desejado do
que possuído, no qual a referência a ele serve para manter aberta a pergunta pelo sentido da história e
para distanciar - se dos absolutos históricos fabricados pelo homem. Serve como instância
desestabilizadora que permite compaginar a luta por uma sociedade compatível com a dignidade
humana e com a aceitação do fracasso histórico do esforço ético e utópico que move o homem.

Enfim, a ciência não tem resposta às perguntas fundamentais do homem, e as nossas próprias certezas e
convicções transcendem o âmbito da mera racionalidade. O cristianismo diviniza uma experiência
humana concreta e rejeita a resignação e o ceticismo no que diz respeito ao conhecimento de Deus.
Responde a incapacidade humana para chegar ao Absoluto, com a comunicação do mesmo numa
história humana. A pretensão da teologia cristã remete a uma confirmação escatológica. No ínterim
histórico, tais pretensões são válidas unicamente enquanto convicções de fé, arraigados na própria
experiência, suscetíveis de crítica e de negação e revisáveis à luz da experiência histórica. Só assim
podem fugir do fundamentalismo idolatrico e servir como abertura a transcendência e não como
caminhos sectarios que levam ao irracionalismo.

2. A demanda por Deus é carência, desejo e ânsia, juntamente com reflexão, exigência de verdade,
pretensão de autonomia e consciência de finitude.

É preciso voltar à pergunta sobre Deus como a chave a partir da qual se abre a razão ao teísmo. É a
própria realidade, com sua ambiguidade ontológica, com sua limitação diante da necessidade de
sentido e de significação por parte do homem e com sua resistência à esperança humana última que
mantém viva essa pergunta. Estamos sós, mas abertos a um Deus que nunca chega definitivamente,
embora dele necessitemos mais do que nunca. A passagem do tempo corrói crenças e vivências,
fazendo que esse fluir gere uma concentração em cada vez menos crenças básicas, relativizando as
demais. Cada vez cremos em menos coisas, tanto pessoal quanto socioculturalmente, mas é mais
importante comprometer - se com aquilo que cremos e que dá sentido à vida.

Rio de Janeiro, 06 de abril de 2016.

Gislene Danielski

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