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ANÁLISE DO FILME “GÊNIO INDOMÁVEL”: REFLEXÕES SOBRE A

TEÓRIA DE ARISTÓTELES1
Luciana Silva Dias2

Toda teoria que não é contextualização e refletida fica restrita ao campo da


mecanização e não cumpre o seu papel de fornecer bases para o aluno desenvolver uma
consciência crítica e política. Nessa ótica, objetivamos fazer uma releitura do filme Gênio
Indomável fazendo uma reflexão com base na teoria de Aristóteles sobre: qualidade
natural, condições para desenvolver as qualidades, virtudes morais e amizade.
Segundo Aristóteles todos os indivíduos que estão dentro da sociedade possuem
uma função social, por sua vez, a sociedade funciona bem quando todos cumprem bem
sua função. A função depende de duas variáveis: a primeira é a qualidade natural e a
segunda são as condições para que essas qualidades floresçam.
O filme Gênio Indomável mostra o exemplo de um jovem chamado Will, um
pobre rapaz da periferia, órfão, agressivo, porém, nasceu com uma qualidade natural
incrível para resolver equações matemáticas, impressionava a todos que o conhecia. Para
Aristóteles, Will, não estava cumprindo bem a sua função, pois havia nascido com uma
habilidade para lidar com os números, mas estava trabalhando ora como faxineiro, ora
como pedreiro, ou seja, não estava cumprindo sua finalidade dentro da sociedade, pois
sua qualidade natural era voltada para resolução de problemas matemáticos, logo, a sua
função dentro da sociedade seria trabalhar nessa área.
No decorrer do filme verificamos que Will tem dificuldades de se relacionar,
prefere abandonar as pessoas (como meio de fuga), antes que as pessoas o abandonem,
apresentava uma conduta social inadequada.; por determinação legal ele precisava
trabalhar com o professor Gerald Lambeau que percebe sua qualidade natural para área
da matemática e buscava investir no seu potencial, Will precisava fazer terapias, passou
por cinco analistas, mas nada funciona, pois ele debocha de todos.
Segundo Aristóteles a segunda variável é submeter o sujeito as condições para
que as qualidades naturais sejam desenvolvidas. Notamos, que Will não foi submetido

1
Trabalho da disciplina de Ética em Educação
2
Acadêmica do Curso de Pedagogia, do Campus Senador Helvídeo Nunes de Barros(CSHNB).
desde criança a florescer suas qualidades, ao que parece Will foi adotado e devolvido,
sofreu várias agressões físicas, que influenciaram diretamente na formação de sua
personalidade. Ou seja, não houve condições para Will desenvolver a suas qualidades
naturais desde criança, por isso, este trabalhava como faxineiro de uma universidade.
Assim, as condições farão com que a qualidade natural se desenvolva ou não.
Quando o professor Lambeau descobre o dom de Will ele propõe condições para
que a qualidades natural de Will fosse florescida, mas notamos que inicialmente Will não
deliberou (ação imediata) corretamente em relação as oportunidades que foram oferecidas
durante as entrevistas de emprego e até mesmo no seu relacionamento com Skylar(a moça
por quem estava apaixonado), porque a deliberação exige virtude e nesse momento Will
não poderia ser considerado um sujeito virtuoso. Will não conseguia refletir sobre suas
ações, logo, não pode ser considerado virtuoso, pois a atividade virtuosa pressupõe a
atividade racional.
No filme, também, conseguimos compreender a ideia de “alma” segundo
Aristóteles, o ser humano possui uma alma racional, está alma é bipartida uma parte da
alma lida com nossas ações e paixões, outra lida com a razão pura ou contemplação. Para
Aristóteles o indivíduo deve lidar com os dois para ser feliz., já que isto é condição para
sermos felizes. Porém, só conseguimos lidar com as nossas ações ou paixões; ou com
nossa razão pura ou contemplação por meio da virtude. A virtude moral é boa disposição
do homem para lidar com as ações e paixões e a outra virtude é a intelectual que refere-
se a boa disposição do homem diante da busca pela verdade. Assim, o homem virtuoso
moralmente submete as paixões ao entendimento da razão, não as negando, mas sendo
moderado em relação as paixões e ações.
Nesse sentido, a virtude é o meio termo entre a falta e o excesso. Para ser
virtuoso é preciso saber escolher bem para sua vida, isso é possível quando eu escolho na
medida certa. No decorrer do filme notamos que Will estava sempre no extremo: da
valentia, da grosseria, da temperança, principalmente, dessa última. Will se preocupava
muito em desfrutar dos seus prazeres, vivia nas baladas, bebendo com seus amigos. Para
Aristóteles os amigos de Will não poderia ser considerado amigos verdadeiros, porque o
amigo de verdade se preocupa com sua situação e condena seus vícios e está preocupado
com o seu bem e com sua virtude.
Aristóteles não considera correto Will reprimir seus prazeres, mas alerta para o
fato de saber aproveitar os prazeres na medida certa. Desse modo, Will pode adquirir tais
virtudes através da prática, do hábito, não por meio de uma ação mecânica, mas a partir
de um agir consciente.
Inicialmente nada funciona, pois Will debocha de todos os analistas, até
conhecer Sean, que identifica o medo existente por trás das atitudes agressivas de Will,
leva o jovem a refletir e analisar seu comportamento, seus valores e escolhas. Os dois
tornam-se amigos, porque Sean é o único que consegue quebrar as defesas do jovem, o
único que consegue fazê-lo baixar as armas. E assim, Sean consegue dar ao jovem Will
oportunidades para ele refletir e fazer a melhor escolha. Apesar de não ficar claro no
filme, podemos inferir que Will começou a refletir sobre suas ações, já que ele decide ir
em busca de sua namorada e possivelmente começará a exercer sua qualidade natural.

REFERÊNCIAS:
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret : 2011.
GÊNIO INDOMÁVEL. Direção: Gus Van Sant. Roteiro: Matt Damon e Ben Affleck,
EUA, 1997. 126 minutos.

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