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Semântica

SEMÂNTICA

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Uníntese | Uníntese Virtual

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Maria Bernardete Bechler


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Roberto de Oliveira
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Maria Bernardete Bechler


Texto

Aline Madrid
Flávia Burdzinski de Souza SEMÂNTICA
Designers Educacionais
- 2016 -
Direitos Autorais reservados à UNÍNTESE

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V SEMÂNTICA

Maria Bernardete Bechler 1

Nos primeiros estudos desta disciplina abordamos aspectos relacionados


à língua e ao signo linguístico. Para Saussure (1969) Língua é um sistema de signos
– um conjunto de elementos (palavras, sinais, frases, textos) que se relacionam
organizadamente dentro de um todo. Vimos também que signo é a associação
indissolúvel de um significante e de um significado. No estudo do signo, a área da
Fonética e da Fonologia se preocupa em descrever e analisar o significante. O
estudo do significado das línguas naturais, das palavras, dos sinais, das frases, dos
textos, é feito pela Semântica e pela Pragmática.

Para os autores Müller e Viotti (apud RODRIGUES e VALENTE, 2012) o


objeto de estudo da Semântica como área de estudo da Linguística é o significado
das línguas naturais. Porém, a definição do que é o significado vai depender da
corrente de estudos de cada autor semanticista, uma vez que há diferentes linhas
de estudos semânticos: semântica textual, semântica cognitiva, semântica lexical,
semântica discursiva e outras.

Assim sendo, nos estudos desta disciplina vamos reconhecer que “a


Semântica estuda os conceitos que construímos em nossas mentes quando
estamos diante de um signo linguístico, seja ele uma palavra, uma sentença ou um
texto” (MCCLEARY; VIOTTI apud RODRIGUES e VALENTE,2012, p .141).

1
Possui especialização em Supervisão Escolar, em Filosofia da Educação e em Coordenação de Práticas e Processos
Pedagógicos. Graduação em Letras pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e
graduação em Letras pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. Atualmente é professora
visitante da Universidade Tuiuti do Paraná e vice-diretora da UNÍNTESE. Tem experiência na área de Educação, com
ênfase em educação, ensino e aprendizagem e elaboração de projetos.

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Se a Semântica estuda os conceitos de palavras, signos, sinais,


precisamos entender o que se entende por conceito. Observem o texto ilustrativo
de MCcleary e Viotti:

Existem milhões de mesas no mundo, cada uma diferente da outra: algumas


maiores, outras menores, algumas de madeira, outras de metal, algumas
redondas, outras retangulares. Se o signo “mesa” associasse uma pronúncia a
uma mesa específica, nós teríamos que dizer que o signo mesa tem um
significado diferente para cada objeto mesa que existe no mundo. Não é isto
que acontece. Nós todos temos, em nossas mentes, uma “ideia” de mesa,
uma abstração que nos faz saber o que é uma mesa, e que nos ajuda a
reconhecer uma mesa quando estamos diante uma, não importa qual seja a
sua forma, o material que é feito, seu tamanho, ou qualquer outra
peculiaridade que ela tenha. Essa “idéia” que temos é o conceito de mesa”
(MCCLEARY; VIOTTI apud RODRIGUES e VALENTE 2012, p.141).

Um conceito não é uma imagem pictórica mental, isto é: não é uma


imagem como uma pintura que se apresenta na nossa mente, uma vez que
muitos signos não possuem uma imagem pictórica, à exemplo de “intuição”
“inveja”, “interesse”. E outros signos como “atento”, “decidido”? Qual seria a
imagem mental? Vimos então que um conceito não corresponde a uma imagem
pictórica mental.

Segundo as autoras, o conceito que temos sobre tudo o que nos rodeia
“nos ajuda a reconhecer” objetos, coisas, fenômenos, sentimentos. Assim sendo, é
o conceito que nos permite diferenciar uma coisa da outra. Sabemos que uma
brisa não é um vendaval, uma ave não é um roedor, um jornal não é um livro, etc.
Esse discernimento é possível tendo em vista que “um conceito é um princípio de
categorização” (MCCLEARY; VIOTTI apud RODRIGUES e VALENTE, 2012, p.141),
que permite ao ser humano organizar e dar significados para o mundo interno e
externo.

Antes de explicarmos o que é categorização, é bom deixar claro o que se


entende por conceitualização: quando relacionamos um signo às nossas
experiências, quando mobilizamos o nosso conhecimento enciclopédico para dar
significado a uma palavra, estamos no processo de construção do conceito, a que
chamamos de conceitualização. Por exemplo: ao ouvirmos a expressão “manga”
podemos associar com a fruta que colhíamos subindo nos galhos da árvore, na
infância. Podemos lembrar-nos do doce que era preparado, embalado e vendido.
Também podemos associar a palavra manga com uma “manga” de camisa, de
casaco, de vestido, que pode ser curta, comprida, larga, justa. Assim, vamos
construindo os conceitos, exercitando o processo de significação, exercitando a
conceitualização.

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Numa breve abordagem sobre categorização, partimos do entendimento


de que categorizar é um processo mental do ser humano, à medida que em todos
os momentos da nossa vida estamos classificando ideias, coisas, situações, para
que possamos compreender e construir novos conhecimentos. Categorizar é
agrupar entidades (objetos, ideias, ações, etc.) por semelhanças e diferenças.

Vamos apresentar um exemplo clássico de categoria apresentado por


MCCleary e Viotti (2009): O conceito de ANIMAL, é mais abrangente que de
MAMÍFERO. Quando penso em animal, eu coloco em outro grupo todos os que
são das categorias minerais e vegetais. Portanto, eu classifico. Vejamos a relação
existente entre MAMÍFERO e CACHORRO. Cachorro é mais detalhado que
mamífero. Agora vejamos a relação entre CACHORRO e LABRADOR, POODLE,
BOXER. Cachorro É MENOS DETALHADO QUE LABRADOR. Ao conceituarmos
Labrador, vamos excluir o Poodle, o Boxer, pois as características do Labrador são
específicas dele. Na categoria do Cachorro, não estaria a cobra, porque, embora
sendo animal, não pertence a categoria de Cachorro.

Agora vamos ver um exemplo nas frases:

a) Maria é uma médica dedicada.

b) Maria tem uma médica dedicada.

Vimos acima as diferentes relações que se estabelecem entre Maria e


uma médica dedicada empregando os verbos “ser” e “ter” (“Maria é uma médica
dedicada” e “Maria tem uma médica dedicada”). O exemplo nos mostra que é
decisivo sabermos o significado de cada verbo, assim como o significado de cada
palavra, para que possamos compreender as relações estabelecidas por verbos de
categorias diferentes.

Através dos exemplos apresentados acima, procuramos demonstrar que a


língua é o mais poderoso instrumento de categorização que os seres humanos
possuem. (MCCLEARY e VIOTTI, 2009).

A Semântica contribui para a melhor compreensão do mundo, através do


entendimento Dio sentido das palavras e seu contexto. O estudo do significado
das palavras na Língua Portuguesa está assim organizado:

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5.1- Sinonímia e Antonímia

Sinonímia: “Fato linguístico que se caracteriza pela existência de palavras


sinônimas” (FERREIRA, 2009, p. 1853). Quando duas palavras ou mais apresentam
significados iguais ou semelhantes, são sinônimos. Porém, somente poderão ser
consideradas sinônimas quando as palavras puderem ser substituídas, uma pela
outra no contexto em que se apresentam. Mesmo sendo possível a substituição,
dificilmente acontece de uma palavra ter exatamente o mesmo significado de
outra. Homem saudável/Homem forte (robusto).

Não existem sinônimos perfeitos, uma vez que cada palavra traz consigo
um conjunto de valores, significados distintos.

Exemplos de palavras com significados iguais ou semelhantes:

velho – idoso, antigo;


perto – próximo, junto;
bonito – formoso;
breve – rápido, transitório.

Antonímia: “Caráter das palavras antônimas. Emprego de antônimos”


(FERREIRA, 2009, p. 153). Quando duas palavras apresentam significados
contrários, diferentes, são antônimos.

Exemplos: cedo –tarde / bem – mal / claro – escuro.

5.2- Sinônimos na LIBRAS

Para identificarmos quanto um sinônimo é próximo de outro, precisamos


analisar as marcações não-manuais utilizadas (RODRGUES e VALENTE, 2012). Na
Língua Portuguesa os adjetivos lindo e bonito não têm exatamente o mesmo
significado, uma vez que lindo tem um grau de intensidade maior. Na LIBRAS a
intensidade marcante é demonstrada pela expressão facial durante a sinalização.

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Nas imagens2 a seguir, apresentamos a ilustração dos sinônimos bonito-


lindo/ gordo – obeso / educado – gentil (RODRIGUES e VALENTE, 2012, p. 164-
165).

BONITO BELO

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Fonte: IESDE Brasil em Aspectos Linguísticos da Libras -2012

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As imagens ilustrando GORDO-OBESO e EDUCADO – GENTIL demonstram


que o sinal manual é o mesmo, o que diferencia os sinais são as marcações não
manuais.

5.3- Antônimos na LIBRAS

Na LIBRAS também existem sinais que representam oposição, são sinais


que significam o contrário de outro sinal. Em Português os vocábulos jovem e
novo podem ser sinônimos quando queremos referir que uma pessoa é jovem.
Podemos dizer, corretamente, que uma pessoa é nova.

Na LIBRAS o emprego de jovem e novo não é aceito, formará, com


certeza, frases agramaticais, uma vez que jovem somente é empregado para
referir-se a pessoas. Novo significa pouco tempo de uso, ou de aquisição. Poderão
também ser empregados para referir pessoas em cargos recentes, ou recém
chegadas a locais, empresas e outros. Nos exemplos que seguem podemos
entender melhor o emprego de jovem e novo:

1. MARIA COMPRAR SAPATO NOVO AMANHÃ. (Maria vai comprar um


sapato novo amanhã).

2. ESTUDAR ESCOLA 2 SURD@ NOV@. (Dois surdos novos estão


estudando na escola.)

3. A UNÍNTESE TER MUIT@ INTERPRETE JOVEM. (A Uníntese tem muitos


intérpretes jovens)

4. PESSOA JOVEM GOSTAR FILMES AÇÃO. (Pessoas jovens gostam de


filmes de ação).

Em LIBRAS não é possível jovem ser sinônimo de novo. Porém, existe o


antônimo de jovem- velho e o antônimo de novo-velho, expressos nas imagens:

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Sinal antônimo de JOVEM = VELHO 13

Sinal antônimo de NOVO= VELHO24

a) Hiponímia e Hiperonímia

Mais dois vocábulos novos que fazem parte da Semântica estão sendo
apresentados neste estudo. Já vimos que sinônimo é a relação que existe entre
duas palavras com significantes diferentes e significado semelhante; antônimo é a
relação que se estabelece entre duas palavras com significados contrários. Agora
vamos entender hiponímia e hiperonímia.

Para entender o que se entende por hiponímia e hiperonímia vamos


lembrar que as palavras estabelecem uma relação de significado entre si. Observe
o exemplo que segue,

- Minha amiga cultiva margaridas, cravos, rosas, petúnias. Ela adora


flores.

Atenção às palavras: margaridas, cravos, rosas, petúnias e flores. Todas


remetem à ideia de flor. Todas as palavras listadas estabelecem alguma relação
entre si.Assim, vamos entender facilmente o conceito de hiperonímia e hiponímia:

Hiperonímia: como o prefixo hiper indica, essa palavra refere-se a uma


ideia do todo (flor), da qual se originam as outras palavras (margaridas, cravos,
rosas, petúnias).

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Fonte: IESDE Brasil em Aspectos Linguísticos da Libras -2012
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Fonte: IESDE Brasil em Aspectos Linguísticos da Libras -2012

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Hiponímia: são palavras de conceito mais restrito, mais específico em


relação a outras com um conceito mais geral. São as palavras do enunciado
acima: margaridas, cravos, rosas, petúnias, representam uma parte do todo. Flores
representam o todo.

Outros exemplos:

Hiperôimo: ave hiponômio: andorinha

Hiperôimo: felinos hiponômio: tigre, leão

b) Ambiguidade

Quando uma expressão linguística tem mais de um sentido diz-se que é


uma expressão ambígua. A ambiguidade pode ser ocasionada por fatores
sintáticos ou semânticos. A ambiguidade sintática não é o foco dos estudos da
semântica.

A ambiguidade sintática torna possível analisar a frase de duas maneiras


diferentes, tendo em vista como a frase está estruturada. Exemplo:

Márcia pediu a João para sair.

Na frase, a ambiguidade não é causada por uma palavra de duplo sentido.


A ambiguidade nasce da estrutura da frase. A frase pode ser entendida como:

a) Márcia pediu permissão a João para sair.

b) Márcia pediu a João que saísse.

Em nossos estudos da área da Semântica no que se refere a ampla noção


sobre ambiguidade, vamos nos limitar à ambiguidade lexical, que ocorre
quando uma palavra apresenta dois ou mais sentidos diferentes, isto é, duas ou
mais palavras têm o mesmo som, mas têm o sentido diferente.

Exemplo: Eu vou te esperar naquele banco.

Sentido 1: banco de sentar

Sentido 2 : banco instituição financeira.

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A ambiguidade lexical na LIBRAS aqui apresentada, está baseada na


pesquisa realizada por Jorge Bidarra e Tânia Aparecida Martins no artigo “O
Problema da Ambiguidade Lexical para a Interpretação Envolvendo a Língua
Portuguesa e LIBRAS” (2012). Os autores demonstraram que na LIBRAS muitos
sinais são realizados com parâmetros idênticos, mas não têm o mesmo
significado. Assim sendo, quando dois sinais têm os parâmetros idênticos, porém o
sentido de cada um deles é diferente, temos o que caracteriza a homonímia. Diz-
se, então, que os sinais com os mesmos parâmetros, mas com significados
diferentes são homônimos.

QUADRO 1:

A seguir, apresentaremos exemplos de contextos em que cada um dos


homônimos INTERPRETAR/FRITAR e JEITO/BAHIA podem acontecer na realização
da comunicação envolvendo a LIBRAS e a Língua Portuguesa. As imagens que
ilustram os homônimos abaixo integram o trabalho de pesquisa dos autores Jorge
Bidarra e Tânia Aparecida Martins, antes referidos. Para facilitar a compreensão,
serão apresentados na seguinte ordem:

1° Em Língua Portuguesa, em forma de glosas.

2° Na ordem sintática da sentença em LIBRAS.

3° Na ordem básica da Língua Portuguesa.

Exemplos:

Homônimos: 1) INTERPRETAR / FRITAR

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1) INTERPRETAR

EL@ INTERPRETAR EU ENTENDER CLARO.

Ele/ela interpreta, eu entendo, fica claro.

1) FRITAR

MINHA MÃE CARNE FRITAR GOSTOSO.

A carne que minha mãe frita é gostosa.

Homônimos : 2) JEITO/ BAHIA

2) BAHIA

BAHIA ESTADO BRASIL LINDO.

A Bahia é um lindo Estado brasileiro.

EU ONTEM COMPRAR TV LOJA BAHIA.

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Ontem eu comprei uma TV na loja Bahia.

O BAHIA PERDER 0 X 2 CORINTHIANS

Que pena! O Bahia perdeu para o Corinthians por dois a zero.

2) JEITO

JEITO PESSOA PRECISA RESPEITAR.

É preciso respeitar o jeito das pessoas.

Os exemplos acima relacionados a “homônimos” evidenciam a


importância de que o contexto seja entendido para que haja a total compreensão
da mensagem.

Polissemia:

É a característica de uma palavra que tem mais de um significado.


Quando uma mesma palavra pode ser empregada com significados diferentes
temos a manifestação da ambiguidade semântica chamada de polissemia.

Ex.: Depois de muito trabalho, ele ocupa um alto posto na empresa.

Abasteço meu carro no posto da esquina, onde tem melhores ofertas.

Exemplos de palavras polissêmicas: o mesmo sinal para mais de um


significado em LIBRAS:

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Segundo Rodrigues e Valente (2012), o emprego da polissemia na LIBRAS


ainda é um desafio para os tradutores e iniciantes, uma vez que nem sempre um
sinal da línguas de sinais possui todos os significados que a palavra igual na
Língua Portuguesa.

Este estudo, embora breve, procurou demonstrar que a Semântica


estuda a língua em situações do cotidiano do falante, onde ocorre o diálogo, a
interação, daí a importância da compreensão da linguagem com seu numerosos
jogos de interpretação e do contexto situacional em que a comunicação acontece.

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