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Pos ai sunt tratado no primeiro capitulo aticulando teoria ¢ pica de ers mais precisos, as oriemages come nde abertura colocando voce, jdvem pesqulisi dor, no universo do debate académica sobre a descoberta cientiti ‘em seguida, focalizam a pesquisa social todas as estates metodologica. Dada a peculiaridade dos instrumentos deabordagem qualita- tivaem pesquisa social, juleamos conveniente nos deter com mais profundlidade sobre eles, remetendo o estudo das téenicas de pes {isa quanttativa para outro Tivo. Os autores deste estudo somos todos estuiosos e pesquisado~ ‘es com longa experiéneia de trabalho em pesquisa. Falamos partir de nossa pripria vivéncia de produgao intelectual ¢ buscare- mos compartilhar com voee nossas proprias indagayées, percur- sos ¢ descobertas. ‘Seja bem-vindo a estas paginas. Esperamos seu olharcurioso se encontrando com o nosso e, sobretudo, esperamos suas perzun tas e questionamentos. Come muito bem disse o grande filbsofo Heidegger, “a pergunta &a devoedo do pensamento!™ 0s autores Capitvio 1 O DESAFIO DA PESQUISA SOCIAL Maria Cecilia de Sousa Minayo 1, Ciencia e ci tificidade Do ponto de vista antropotdgico, podemos dizer que sempre exist preocupagao do homo sapiens como conhecimento da rea- Tidade. As tribos primitivas, através dos mitos, explicaram ¢ expl ccamos fendmenos que cercam a vidae a morte, o lugar des indivi ‘duos na organizagdo social, seus mecanismos de poder, controle e reproducdo. Dentro de dimensées histéricas imemoriais até nos- is, as eligides e filosofias tem sid poderosos instrumentos explicativos dos significados da existéncia individual e coletiva A poesia ere continuama desvendarlgicas profundas einsus- peitadas do inconsciente coletive, da vida cotidiana e do destino humano. A cigneia é apenas uma forma de expressio dessa busca, do exclusiva, nio conelusiva, nao definitiva Na sociedade ocidental nto, a ciéneia 6 a forma hege- Imdnica de construe da realidade, considerada por muitos eriti- ‘cos como um nove mit, por sus pretensao de Gnice promotor € critério de verdade, No entanto,continuamos a fazer porguntas ea buscar solugies, Para problemas essenciais, comoa pobreza, am séria a fome, a violgneta, a eiéncia eontinta sem respostas| esis il propostas. As explicagdes histéricas da hezemonia da eigneia sobre outras formas de conhiecimento nie cabe aqui aprofundar Meneionaremos duas raze a primeira, de ordem extem sta sta possibilidade de responder a quest0est as postas pelo desenvolvimento industrial. A sewun= da raziio, de ordem interna, consiste no fato de os cientistasterem cconsezuido estabelecer uma linguagem fundamentala em concei- tos, méfodos e téenicas para compreensio do mundo, clas eoisss, dos fendmenos, ds processos das relagdes. Fssalinguagem & uti- Tizada de forma coerente, controlada ¢instituida por wna eomu: niidade que a controlae aministra sua reprodugio (© campo cientifico, apesar de sua normatividade, & permes: ‘do poreontfites econtradigdes. Eparanomearapenas una das com troveérsias que aqui nos ineressa, citamos o grande embate sobre cientficidade das cigneias sociais, em comparagio com as cién cas da natureza, Ha aqueles que buscam a unitormidade dos pro- cedimentos para compreet sural e0 social como condigaio para atribuiroestatuto de “ciéncia” ao campo socal. Hi os que rei vindicam a total diferenga e especificidade do campo humano. Paul de Bruyne etal. (1995) advozam que a ideia da ciemtifi- cidade comporta, 20 mesmo tempo, um polo de unidade e um polo de diversidade. Ou seja, existe possbilidade de encontrarmos se ‘methangas rlativamente profundas em todos os empreendimentos {que se insttuiram partir da ideiageral de um conhecimento cons- ‘ido por meio de conceitos, soja de eater sistemsitico, seja de ea- ‘iter exploratrio edindmico. Essa idea repre joue ral de autorregulagio do processo de construgio de conhecimento. Mas, pr outro lado, a cientiicidade no pode ser reduzida anna for- ‘na determinada de conhecer: ela pré-contém., por assim dizer, versts mianeiras coneretas ¢ potenciais de realizaglo. ‘Tal reflexive se tomna particularmente fundamental para nos so objeto de estudlo neste peyueno livro, a pesquisa social. Aine lerroguco enorme em torno da cientificidade das cieneias so ciais se desdobre em varias questes, A primeita diz respeito & possibfidade conereta de tratarmos de na realidade da qual nos proprios, enquanto seres humanos, somos agentes: — essa ordem ‘de conhecimento nao escapariaradicalmente a toda possibilidade de objetivagio? Em segundo hugar, serd que, buscando a objetivagio propria das ciéneias naturas, no estariamos descaracterizando 0 que hi Ue essencial nos fendmenos processos soci, ou seja 0 profun- Ado sentido dado pela subjetividade? Por fim, em terecino lugar, que método geral nbs poderiamos propor para explorar uma realidad tio marcada pela especificidade «pela diferenciagdo? Como garantira possbilidade de um acordo Fundado numa panilha de principios e nio de procedimentos? Em resumo, as cigneias sociais hoje, como no passado, conti- ‘nua na pauta de plausibilidade enquanto conhecimento cient «0. Seu dilema sera seguiros eaminhos das cignciasestabelecidas © empobrecer Seu proprio objeto? Ou encontrar seu nlicleo mais profundo, abandonando a ideia de cientificidade? A situagio nio € facil e nfo & simples. Primeiro porque, seas cigncias da natureza sio pioneiras eas estrelas da idea de cient lade, no esti absolutamenteatestado que elas jéatingram sua ex- pressio adequadsa. A fisica quintica com suas descobertas¢ as teorias Sist@micas como aprofundamento das abordagens complexas, dentre ‘outros temas eientificos, vem revolucionando em seu prdprio eampo 1 ideias de espago, ce tempo e de relagdes sueito-objeto, A cientificidade, portant, tem que set pens como uma ideia reguladora de alta abstragio © ndo como sinénimo de modelos e norma a serem seguides. A histéria da cigncia revela no um “a priori” mas o que foi prexuzide em determinado momento histi- Fico com toda a relatvidade do processo de conhecimento. Podetiamos dizer, nesse sentido, que 0 labor eientifico cami nha sempre em das diregdes: numa, elabora suas teori iétodos, seus principio ¢ estabelece seus resultados: nowt n= venta, ralifica Seu eaminho, abandona certas vias e encaminha-se para certas diregdes privilewiadas. E ao fazer tal percurs0, 08 n= vestigadores aceitamy os ertérios a istorieidade, da eolaboragao sobretudo, revestem-se da humildade de query sabe que qual: quer conhecimento € aproximado, € construido. (Ora, seexiste uma ideia de devirno conceito de cientificidade, indo se pode trabathar, nas ciéncias socisis apenas coma norma da cientificidade jé construida. A pesquisa social se faz por aprox 'magdo, mas, ao progredir,elabora critérios de orientagi cada ver ‘mais precisos. Conforme lembram Bruyne etal. (1995), "na reali- dade historiea de seu devir,o procedimento eiemtifico &, a0 mesmo tempo, aquisigo de um saber, aperfeigoamento de uma metodo- logia, elaboragio de uma norma" (p.16), Obviamente isto se faz Aentro da especificidade que as ciéneias sociais representam no ‘campo do conhecimento, Por isso, para falarmos de Ciencias So- eis, dentro de sua peculiaridade, refomaremos eritérios werais que adistinguem ¢ que se encontram em autores como Demo (1995) « Minayo (2006) sem, contud, desvincul-la dos rincipios da cien- tificidade. 0 objeto das Cigncias Sociais € histirieo. Isto signifiea que ‘cada sociedade humana existe e se consti num determinado es- ppago e se organiza de forma particular e diferente de outras. Por sua ver, todas as que vivenciam a mesma época histrica tém al guns tragos cormuns, dado o fat de que vivemos num mundo mar ado pelo intluxe das comunicagdes. I2ualmente, as sociedades vvivemo presente mareado por seu passado ¢ € com tis determina ses que constroem seu fituro, numa dislética constante entre 0 ue esta dado e o que seri fruto de seu protagonismo. Portanto, provisoriedade, 0 dinamismo ca especificidade Sio carncteistcas ‘de qualquer questio social. Por isso, também, as rises tém relexo tanto no seu desenvolvimento como na decadencia das teorias so- ciais que as explicam (pois essas também sto historieas). Como conscqusncia da primeira caracteristica,& importante dizer que o objeto de estudo das cigneias sociais possui conseign- ci historica. Noutrss palavras, nio & apenas 0 investigador que tem eapacidade de dar sentido ao sou trabalho intelectal, Todos 1 geral, assim como grupos ¢ soviedades peciticas dio significado a suas agdes ea suas construgies, so ea- pazes de expliciaras intengbes de seus atos e projetam ¢ planejam seu futuro, dentro de um nivel de racionalidade sempre presente nas agdes humana. O nivel de eonscigncia histirica das Cigncias Sociais esti referido ao nivel de canscigneia historiea da soviedade dle sou tempo, embora essas eragbes humanas no se confindam Em tereero lugar, é preciso ressaltar que nas Cigncias Sociais existe uma identidade entre sujito e objeto, A pesquisa nessa dca lida com seres huumanos que, por razdes culturais de classe, de faixa etria, ou por qualquer outro motivo, «Sm um substtato comumm de identidade com o investigador, tomando-os solidariamente imbri- ccadose comprometides, como embra Lévy-Stemuss(1975):*Numa ceigncia, onde 0 observador & da mesma natureza que 0 objeto, ¢0 ohservadoré, ee proprio, una parte de sua observagio" (p23), Outro aspecto cistintvo das Ciéncias Sociais éo fato de que ela & intrinseca e exirinsecamente ideoldgica. Na verdade, nao existe uma ciéneit neutra. Toda ciéneia — embora mais intensa- mente as Ciencias Sociais passa por interesses e visbes de mun do historicamente eriadas, embora suas contribuigdes e seus efe tos tebricos ¢ téenicos ultrapassem as intenedes de seus proprios autores, No entanto, as ciéncias fisias e biolbgieas partcipam de forma diferente da ideotogia social (por exemplo, naescolha dete mas considerados relevantes e noutros que sio descartados, na es- colhu de métodos ¢técnias hi influéneias econdmicas, cullurais ete), pela natureza mesma do objeto que elas colocam ao invest- agador, Na investigagio social, a relagio entreo pesquisador e seu eampo de estudos se estabelece definitivamente. A Visi de mut slo deambos esti implicada em todo o processo de conhecimento, desde « concepeo do objeto aos resultados do trabalho e & sta aplicagio, Ou sei, relagio, neste easo, entre eonlecimiento ei teresse deve ser compreendida como ertétio de realidad e busca de objetivagio, Por fim, é preciso afirmar que o objeto das Cigncias Soci cessencialmente qualitativo. A realidade social 6a cena e 0 sei0 do

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