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CFO – Direito Processual Penal Militar

Resumo de DPPM – Competência


Prof. Rogério Silvio
Da competência em geral

Determinação da competência
Art. 85. A competência do foro militar será determinada:
I – de modo geral:
a) pelo lugar da infração;
b) pela residência ou domicílio do acusado;
c) pela prevenção.
II – de modo especial, pela sede do lugar de serviço.

Competência
Jurisdição significa a aplicação do direito vigente ao caso concreto (é dizer o direito). E a competência é o
limite da jurisdição.
A competência significa dizer que cada juiz exerce sua parcela de jurisdição e acordo com o que lhe foi
outorgado pela CF e pelas leis.

Princpios:
Princípio da Unidade - a jurisdição é única em todo o país. Cada juiz julga nos limites de sua competência.

Princípio da Indeclinabilidade - o juiz não pode recusar a jurisdição. Se o juiz não acha fundamento na lei, deve
julgar por analogia, usos e costumes militares, princípios gerais do direito, etc, mas não pode deixar de julgar.

Princípio da Indelegabilidade - o juiz pode delegar atos processuais (carta precatória), mas não pode delegar a
função de julgar, de dirimir litígios.

Princípio da Improrrogabilidade - o juiz competente não pode invadir o âmbito jurisdicional alheio.

Princípio do Juiz Natural - quer dizer juiz competente, ou seja, que o juiz é competente para o caso, proibindo a
criação do juízo ou tribunal de exceção.

Cumpre ressaltar que na Justiça Militar Estadual – JME possui competência para processar e julgar os
militares dos Estados nos crime militares definidos em lei (art. 125, § 4º da CF) e face à inovação trazida pela EC n.
24/2004, o juiz singular passou a ter competência para processar e julgar os crimes militares contra civil e as ações
judiciais contra atos disciplinares. Na JMF o juiz não julga sozinho, atua sempre com o conselho e a JMF não tem
competência para processar e julgar as ações judiciais contra atos disciplinares.

Competência na circunscrição judiciária:

Na distribuição da competência da Justiça Militar, o CPPM reservou o art. 86 para estabelecê-la:


Art. 86. Dentro de cada Circunscrição Judiciária Militar, a competência será
determinada:
a) pela especialização das Auditorias (não existe mais. Agora são auditorias mistas -
Jorge César);
b) pela distribuição (quando na mesma circunscrição existir mais de uma auditoria com
a mesma competência - art. 98);
c) por disposição especial deste Código (art. 91 – crime praticado fora do território
nacional – AJMF da Capital da União).

Esclarece-se que as regras acima não se aplicam no caso da conexão e continência, prerrogativa de posto
ou função e de desaforamento (art. 87).

Da competência pelo lugar da infração (arts. 88-92):

Art. 88. A competência será, de regra, determinada pelo lugar da infração; e, no caso
de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

É o chamado “lócus delicti” (lugar onde a infração foi cometida). Essa é a regra.

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Relembra-se aqui que e, relação ao lugar do crime o CPM adotou um sistema misto: teoria da ubiquidade
(crimes comissivos) e teoria da atividade (crimes omissivos).

Art. 89. Os crimes cometidos a bordo de navio ou embarcação sob comando militar ou
militarmente ocupado em porto nacional, nos lagos e rios fronteiriços ou em águas
territoriais brasileiras, serão, nos dois primeiros casos, processados na Auditoria da
Circunscrição Judiciária correspondente a cada um daqueles lugares; e no último caso,
na 1a Auditoria da Marinha, com sede na Capital do Estado da Guanabara.

Se o crime for praticado a bordo de navio – (toda embarcação sob comando militar – art. 7º, § 3º, do CPM),
em porto nacional ou água nacional (Auditoria do lugar).
Se o navio estiver no mar territorial brasileiro, não mais ficará a cargo da Auditoria Especializada da
Marinha, já que não mais existe a auditoria especializada.
O STM já afirmou que o art. 89 encontra-se derrogado e a competência será definida em razão do lugar de
serviço (STM – conflito de competência 2001.01.000309-9/RJ).

A bordo de aeronave – art. 90: No caso da aeronave o crime tem que ter sido praticado durante o voo
(deslocamento da aeronave.
1ª situação: crime praticado dentro do espaço aéreo correspondente ao Território Nacional: Auditoria do lugar do
pouso após o crime;

2ª situação: Se o pouso ocorrer em lugar remoto ou em tal distância que torne difíceis as diligências – Auditoria do
lugar onde houver partido a aeronave;

3ª situação: no mesmo caso da 2ª situação, se houver mais de uma auditoria, será competente a auditoria mais
próxima da 1ª (qual? observação: Jorge César critica a redação de difícil compreensão).

Se o crime for praticado fora do território nacional: Auditoria da Capital da União (art. 91).

Outros casos especiais de competência em razão do lugar do art. 92:


1) iniciada a execução em território estrangeiro – consumação no Brasil – auditoria do lugar do resultado.
2) iniciada a execução no Território Nacional – consumação fora dele - auditoria do lugar último ato de execução.

O parágrafo único do art. 92 prevê o critério da distribuição se houver mais de uma auditoria na
circunscrição. Mas, encontra-se parcialmente derrogado, mormente à especialização das auditorias, visto que não
mais existem as auditorias especializadas, conforme consta no art. 11 da LOJM da União.
Portanto, prevalece o critério da distribuição (+ de uma auditoria) e o do lugar da infração (se forem em
sedes diferentes dentro da mesma circunscrição).

Da competência pelo lugar da residência ou domicílio do acusado (art.93) e da Competência pela sede do
lugar de serviço (art. 96):

Art. 93. Se não for conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pela
residência ou domicílio do acusado, salvo o disposto no artigo 96.

Residência é a casa, asilo inviolável.

Domicílio é o lugar da residência dentro do município.

Se o autor for militar da ativa (aplica o art. 96 – sede do lugar de serviço), o lugar de sua residência será
sempre o lugar do serviço nos termos do art. 76 do Código Civil: “Têm domicílio necessário o incapaz (o do
representante legal), o servidor público (o do serviço), o militar, o marítimo (onde se encontrar subordinado) e o
preso (onde cumpre a sentença)”.

Da competência pela prevenção (arts.94-95):


Art. 94. A competência firmar-se-á por prevenção, sempre que, concorrendo dois ou
mais juízes igualmente competentes ou com competência cumulativa, um deles tiver
antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa,
ainda que anterior ao oferecimento da denúncia.

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Conflito positivo de competência, prevalece a prevenção, ou seja, o juiz que primeiro conheceu do fato
(expediu um mandado de prisão, busca e apreensão etc).

Casos em que pode ocorrer


Art. 95. A competência pela prevenção pode ocorrer:
a) quando incerto o lugar da infração, por ter sido praticado na divisa de duas ou mais jurisdições;
b) quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições;
c) quando se tratar de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições;
d) quando o acusado tiver mais de uma residência ou não tiver nenhuma (civil e militar inativo), ou forem vários os
acusados e com diferentes residências (e não se souber o lugar da infração)
Da competência pela especializaçao das auditorias (art.97):

Sem aplicabilidade, visto que não mais existem as auditorias especializadas, conforme consta no art. 11 da
LOJM da União. Vide:

§ 2º As Auditorias tem jurisdição mista, cabendo-lhes conhecer dos feitos relativos à


Marinha, Exército e Aeronáutica.

§ 3º Nas Circunscrições em que houver mais de uma Auditoria e sedes coincidentes, a


distribuição dos feitos cabe ao Juiz-Auditor mais antigo.

§ 4º Nas circunscrições em que houver mais de uma Auditoria com sede na mesma
cidade, a distribuição dos feitos relativos a crimes militares, quando indiciados somente
civis, faz-se, indistintamente, entre as Auditorias, pelo Juiz-Auditor mais antigo.

Aplicar-se-á os outros critérios (prevenção, lugar do serviço etc).

Da competência pela distribuição (art.98):

Art. 98. Quando, na sede de Circunscrição, houver mais de uma Auditoria com a mesma
competência, esta se fixará pela distribuição.

Juízo prevento pela distribuição


Parágrafo único. A distribuição realizada em virtude de ato anterior à fase judicial do
processo prevenirá o juízo.

Dispensa maiores comentários.

Da competência pela conexão ou continência (arts.99-106):

A conexão e a continência visam a economia processual, a celeridade do feito e evitar decisões


contraditórias.
Conexão é a interligação entre duas ou mais infrações, levando a que sejam apreciadas perante o mesmo
órgão jurisdicional.

Art. 99. Haverá conexão:


a) se, ocorridas duas ou mais infrações, tiverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por
várias pessoas reunidas ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o
lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras;
b) se, no mesmo caso, umas infrações tiverem sido praticadas para facilitar ou ocultar
as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;
c) quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares
influir na prova de outra infração.

De acordo com a doutrina, a conexão se divide em três espécies: a) intersubjetiva; b) objetiva; c)


instrumental.

Fala-se em conexão intersubjetiva quando houver necessariamente vários crimes e vários agentes, pouco
importando se esses se uniram em concurso, reciprocidade ou simultaneidade.

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a) Conexão intersubjetiva por concurso: duas ou mais infrações penais praticadas por várias pessoas em concurso
(concurso de pessoas – dois militares furtam gasolina no quartel, outro furta a viatura em outro quartel e um quarto
militar sequestra o Comandante da Unidade, e no final colocam fogo na viatura e no Comandante que foi amarrado
dentro do veículo, utilizando a gasolina para o fogo);

b) Conexão intersubjetiva por reciprocidade: duas ou mais infrações penais cometidas por duas ou mais pessoas,
umas contra as outras (vários autores se agridem, uns ameaçam outros, e alguns são assassinados);

c) Conexão intersubjetiva por simultaneidade: duas ou mais infrações penais praticadas, ao mesmo tempo, por
várias pessoas reunidas, sem qualquer ajusto prévio (um avião cai no quartel e vários militares saqueiam a carga e
praticam lesões).

Por conseguinte, a conexão objetiva (lógica ou material) se revela quando o crime é praticado para
facilitar a execução de outro (mata a sentinela para poder matar o Comandante), ocultar-lhe (provocar incêndio para
esconder o furto no local) ou garantir a impunidade (matar a testemunha do crime) manutenção da sua vantagem
(matar o comparsa para ficar sozinho com o bem subtraído).

E, por derradeiro, a conexão instrumental (probatória ou processual), que se concretiza quando a prova
de um crime influencia na existência de outro (o militar “A” furta uma arma de fogo do quartel e a vende para o
militar “B”. furto e receptação: um só processo)

A continência é o vínculo que une vários infratores a uma única infração, ou a reunião de várias infrações
em concurso por decorrerem de conduta de um só autor.

Casos de continência
Art. 100. Haverá continência:
a) quando duas ou mais pessoas forem acusadas da mesma infração;
b) na hipótese de uma única pessoa praticar várias infrações em concurso.

A conexão e a continência determinarão a unidade do processo (art. 102), salvo nos casos de:

1) no concurso entre a jurisdição militar e a comum (súmula 90 do STJ – SOMENTE SE FOR NA ESFERA
ESTADUAL);

2) no concurso entre a jurisdição militar e a do Juízo de Menores (INIMPUTABILIDADE).

Regras para determinação: competência por conexão ou continência (art. 101):

A reunião do processo pela conexão e a continência acarreta na prorrogação da competência em relação a


um dos crimes, é por isso que o legislador estabelece qual juízo terá competência sobre outro.

Concurso e prevalência
1) jurisdição especializada e a cumulativa (ou MISTAS - todas as auditorias tem jurisdição cumulativa – EB, FAB
e Marinha): preponderá a especializada (obs: não existe mais auditoria especializada) – segue a regra do item 2.

2) jurisdições cumulativas:
a) lugar do crime com cominação da pena mais grave;
b) se vários crimes de igual gravidade – lugar onde tenha ocorrido o maior número de infrações.

3) nos demais casos, determina-se pela prevenção, salvo disposição especial (vide comentários ao art. 94)

4) Categorias - no concurso de jurisdição de diversas categorias, predominará a de maior graduação. (ex: STM e
AJMF, prevalece STM - TJM e AJME, prevalece os tribunal).

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Prorrogação de competência:

Art. 103. Em caso de conexão ou continência, o juízo prevalente, na conformidade do


artigo 101, terá a sua competência prorrogada para processar as infrações cujo
conhecimento, de outro modo, não lhe competiria.

Prorrogação de competência NECESSÁRIA - decorre da conexão e continência.


Prorrogação de competência VOLUNTÁRIA – decorre da situação de competência territorial, não alegada
pelo acusado e até 48 h após o seu interrogatório (art. 143 do CPPM).
DELEGAÇÃO de competência – transferência de atribuição jurisdicional de um juiz para outro (ex: carta
precatória).

Reunião de processos:
Art. 104. Verificada a reunião dos processos, em virtude de conexão ou continência,
ainda que no processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir
sentença absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua
competência, continuará ele competente em relação às demais infrações.

Mesmo que o juiz absolva o réu ou desclassifique o crime que já era de sua competência, ele continuará
competente para julgar os demais delitos que foram atraídos.
Pode ocorrer, eventualmente, a separação do julgamento e não do processo (art. 106). São os casos em
que:

1) se, de vários acusados, algum estiver foragido e não puder ser julgado à revelia (como no caso do desertor e do
insubmisso);

2) se os defensores de dois ou mais acusados não acordarem na suspeição de juiz de Conselho de Justiça,
superveniente para compô-lo, por ocasião do julgamento.

Separação de processos:

Conforme mandamento do art 105 do CPPM, poderá (faculdade) ocorrer a separação dos processos,
sendo que o juiz (ou conselho) que em decisão fundamentada, separar os processos, deverá recorrer de ofício ao
STM, sem efeito suspensivo.
A lei prevê as seguintes situações nas quais o juiz poderá decidir pela separação:

1) quando as infrações houverem sido praticadas em situações de tempo e lugar diferentes;

2) quando for excessivo o número de acusados, para não lhes prolongar a prisão (exemplo – greve de militares –
motim);

3) quando ocorrer qualquer outro motivo que ele próprio repute relevante.

Avocação de processos:

Por fim, cita-se que mesmo havendo conexão ou continência pode ser que tenham sido instaurados dois ou
mais processos, cabendo ao juiz prevento, avocar os demais processos (art. 107).
Não poderá haver avocação de processo em que já tenha ocorrido sentença definitiva. Neste caso, ocorrerá
a unidade posterior, quando haverá soma ou unificação das penas.

Da competência pela prerrogativa do posto ou da função (art.108):


A competência por prerrogativa do posto ou da função decorre da sua própria natureza e
não da natureza da infração, e regula-se estritamente pelas normas expressas neste
Código.

PRERROGATIVA DE POSTO: é o caso do Oficial-General que é julgado pelo STM (art. 6º, I, “a”, da
LOJMU).

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PRERROGATIVA DE FUNÇÃO: é o caso do Comandante do teatro de operações (comanda as tropas na
guerra) que é julgado pelo STM no tempo de guerra (art. 95, parágrafo único, da LOJMU):
O comandante do teatro de operações (via de regra, o Oficial-General) responderá a
processo perante o Superior Tribunal Militar, condicionada a instauração da ação
penal à requisição do Presidente da República.

E se houver um co-réu junto com o Oficial-General, a prerrogativa de posto ou função atrai a competência.
Vide súmula n. 704 do STF:

Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a
atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de
função de um dos denunciados.

Do desaforamento (arts.109-110):

Desaforar significa tirar o julgamento de uma auditoria e mandar para outra. Hipóteses de desaforamento:
a) no interesse da ordem pública, da Justiça ou da disciplina militar;
b) em benefício da segurança pessoal do acusado (ameaça à integridade física do réu);
c) pela impossibilidade de se constituir o Conselho de Justiça ou quando a dificuldade de constituí-lo ou mantê-lo
retarde demasiadamente o curso do processo (o réu é o Coronel mais antigo e não existam os 04 Oficiais-Generais).

A competência para resolver sobre o desaforamento é do STM, a quem o pedido deve ser apresentado (art.
108, § 1º).
Deve ser ouvido o Procurador Geral do MPU, caso não seja este o requerente (§ 2º).
O STM designará qual a auditoria será a competente (§ 4º).

A quem cabe pedir o desaforamento (§ 1º):

Autoridades que podem pedir


a) pelos Ministros da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica (não existem mais
ministros – cabe aos respectivos Comandantes da forças Armadas);
b) pelos comandantes de Região Militar, Distrito Naval ou Zona Aérea, ou autoridades
que lhe forem superiores, conforme a respectiva jurisdição;
c) pelos Conselhos de Justiça ou pelo auditor;
d) mediante representação do Ministério Público ou do acusado.

Do novo pedido:

O pedido poderá ser novamente apresentado, após a denegação do primeiro, desde que se justifique o novo
pedido com um motivo superveniente (art. 110).

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