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EMBARGOS DE TERCEIRO

Art. 1.046. Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho na posse de seus bens por
ato de apreensão judicial, em casos como o de penhora, depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial,
arrecadação, arrolamento, inventário, partilha, poderá requerer Ihe sejam manutenidos ou restituídos
por meio de embargos.
§ 1o Os embargos podem ser de terceiro senhor e possuidor, ou apenas possuidor.
§ 2o Equipara-se a terceiro a parte que, posto figure no processo, defende bens que, pelo título de sua
aquisição ou pela qualidade em que os possuir, não podem ser atingidos pela apreensão judicial.
§ 3o Considera-se também terceiro o cônjuge quando defende a posse de bens dotais, próprios,
reservados ou de sua meação.
Art. 1.047. Admitem-se ainda embargos de terceiro:
I - para a defesa da posse, quando, nas ações de divisão ou de demarcação, for o imóvel sujeito a atos
materiais, preparatórios ou definitivos, da partilha ou da fixação de rumos;
II - para o credor com garantia real obstar alienação judicial do objeto da hipoteca, penhor ou
anticrese.

Art. 1.049. Os embargos serão distribuídos por dependência e correrão em autos distintos perante o
mesmo juiz que ordenou a apreensão.
Art. 1.050. O embargante, em petição elaborada com observância do disposto no art. 282, fará a prova
sumária de sua posse e a qualidade de terceiro, oferecendo documentos e rol de testemunhas.
§ 1o É facultada a prova da posse em audiência preliminar designada pelo juiz.
§ 2o O possuidor direto pode alegar, com a sua posse, domínio alheio.
Art. 1.051. Julgando suficientemente provada a posse, o juiz deferirá liminarmente os embargos e
ordenará a expedição de mandado de manutenção ou de restituição em favor do embargante, que só
receberá os bens depois de prestar caução de os devolver com seus rendimentos, caso sejam afinal
declarados improcedentes.
Art. 1.052. Quando os embargos versarem sobre todos os bens, determinará o juiz a suspensão do curso
do processo principal; versando sobre alguns deles, prosseguirá o processo principal somente quanto
aos bens não embargados.
Art. 1.053. Os embargos poderão ser contestados no prazo de 10 (dez) dias, findo o qual proceder-se-á
de acordo com o disposto no art. 803.
Art. 1.054. Contra os embargos do credor com garantia real, somente poderá o embargado alegar que:
I - o devedor comum é insolvente;
II - o título é nulo ou não obriga a terceiro;
III - outra é a coisa dada em garantia.

1. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL (CPC, arts. 591/592)


O devedor responde com bens que estão no seu patrimônio, bens futuros e
PASSADOS.
2. Em relação aos bens passados é que surgirá, na maioria dos casos, a discussão
vertida nos Embargos de Terceiro.
3. Outras situações comuns estão ligadas ao vinculo que o terceiro tem com um dos
litigantes (RESPONSABILIDADE SECUNDÁRIA)
4. Embargos de Terceiro, segundo MARCATO, é ação de rito especial que visa
manter na posse pessoal que tenha sido desapossado, ou esteja na iminência de sê-
lo, por conta de ordem judicial.
5. Diversidade de naturezas jurídicas;
a. Possessório;
Protege a posse, mas não “pela posse” (N. Nery) – ou seja – ao embargante não
é exigido que comprove a “regularidade” de sua posse. Deve-se, ao contrário,
comprovar que o bem não encontra-se na esfera de responsabilidade
patrimonial do réu/executado.
b. Petitório;
EMBARGOS DE SENHOR
Compromissário comprador - Súmula 84 do STJ vs. Súmula 654 do STF.
Adquirente de coisa litigiosa – É PARTE (“quem adquire coisa litigiosa não é
terceiro: não pode opor embargos de terceiro...” STJ, RT 759/353) –
CONEXÃO DO INSTITUTO DA AQUISIÇÃO DA COISA
LITIGIOSA/SUCESSÃO POSSESSÓRIA COM A FRAUDE À
EXECUÇÃO E A LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA.
Art. 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular,
por ato entre vivos, não altera a legitimidade das partes.
§ 1o O adquirente ou o cessionário não poderá ingressar em juízo,
substituindo o alienante, ou o cedente, sem que o consinta a parte
contrária.
§ 2o O adquirente ou o cessionário poderá, no entanto, intervir no
processo, assistindo o alienante ou o cedente.
§ 3o A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus
efeitos ao adquirente ou ao cessionário.

c. Rescisório;
Defesa em processo de execução;
d. Mandado de Segurança.
Ordem ilegal de apreensão judicial.
6. Cabível na Justiça do Trabalho, Juizado Especial Civil (CHIMENTI, Teoria e
Prática dos Juizados Especiais Cíveis. 6a ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p.
293/294)
7. Não só bens susceptíveis de posse são protegidos via embargos de terceiro:
a. Quaisquer bens susceptíveis de penhora/alienação (linhas telefônicas, quotas
sociais, títulos de clubes, automóveis, ações e outras commodities
negociáveis em bolsa);
b. Marcas e patentes;
c. Direito de exploração obtidos junto ao poder público;
d. Créditos;
e. Proteção do credor hipotecário ou do bem gravado por qualquer garantia
real;
f. Penhora on line;
g. Compromisso de compra e venda;
h. Ofício remetido ao DETRAN, capitania dos portos etc;
i. Herança do herdeiro/cônjuge excluído do inventário.
8. NÃO É POSSÍVEL CUMULAR COM DEMANDA DE INDENIZAÇÃO (Nery,
1o TACivSP).
9. COISA JULGADA NÃO IMPEDE A PROPOSITURA DE EMBARGOS DE
TERCEIRO. Fundamento: art. 472 do CPC: “a sentença faz coisa julgada entre
às partes as quais é dada, não beneficiando nem prejudicando terceiros...”
10. Por isso, pode-se promover os embargos de terceiro em face de processo de
execução/cumprimento de sentença (CARÁTER RESCISÓRIO)
11. Embargos de terceiro de natureza preventiva (STJ admite – RT 659/184): A
SITUAÇÃO DO SÓCIO...
12. ALEGAÇÃO, PELO TERCEIRO, DE ILEGITIMIDADE, POR SIMPLES
PETIÇÃO – IMPOSSIBILIDADE... Via correta Embargos de Terceiro
CASOS ESPECIAIS DE EMBARGOS DE TERCEIRO
13. Exceção de pré-executividade – IMPOSSIBILIDADE DE COLHEITA DE
PROVAS...
14. Cônjuge.
- Tem legitimidade para interpor embargos de terceiro, para proteger
seus bens, embora haja júris minoritária que afirma ser ela
LITISCONSORTE (“legitimidade conglobante”?) / direitos reais
decorrentes de imóveis – litisconsórcio necessário.
- (meação)
- Júris já entendia que poderia haver venda da coisa (STJ, RT
698/212) – Art. 655-B. Tratando-se de penhora em bem indivisível, a meação
do cônjuge alheio à execução recairá sobre o produto da alienação do bem.
(Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).
15. Fiador – nulidade da fiança prestada sem outorga conjugal – Súmula
16. “Embargos de Terceiro – Legitimidade da Mulher Casada – Penhora de Bem de
Família – Lei 8.009/90 – Incidência Sobre Penhora Efetivada Antes de sua
Vigência. (...) 2. Tem a mulher legitimidade para impugnar, em embargos de
terceiro, a constrição que recaiu sobre o imóvel residencial, em decorrência de
fiança prestada somente por seu marido.” (TRF da 4 a R., 3a T., v.u., AC
94.01.24842-7/MG, rel. Juiz convocado Flávio Dino, j. em 27/04/2000, RePro
103/335)
17. CONJUGE DO EXECUTADO – legitimidade por conta da Súmula 134. 1 A
intimação do cônjuge da penhora (§ 3o do art. 669 do CPC) não tem o condão de
transformá-lo em parte.2
18. IMPENHORABILIDADE alegação por:
- membros da entidade familiar para preservação do lar,
- da meação do cônjuge ou da companheira3 que não é parte na
relação jurídica que deu origem à ação executiva e à penhora.
- co-possuidores4 ou por
- condôminos, como o sócio ou os herdeiros, enquanto não efetivada
a partilha dos bens.
Em outras palavras, a impenhorabilidade da coisa pode ser alegada via
embargos de terceiro, quando o terceiro e o executado, de algum
modo, têm composse ou são co-proprietários da coisa, ou seja, terceiro
e executado detêm a coisa pelo mesmo título, seja por relação familiar,
sociedade ou em razão de herança. É o que se depreende dos arts. 1o e
5o da Lei 8.009/90.
- A doutrina afirma que ao companheiro 5 (inclusive nas uniões
homoafetivas6) é outorgado o manejo dos embargos de terceiro, 7 a

1
STJ, Súmula 134: “Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do executado pode opor
embargos de terceiro para defesa de sua meação.”
2
Isto porque, segundo clássica definição, “parte é aquele (ou aqueles, como com mais espaço se verá) que
se situa num dos pólos da relação jurídica.” (ALVIM, Thereza. O Direito Processual de Estar em Juízo.
São Paulo: RT, 1996, p. 12). Para Olavo de Oliveira Neto “parte, seja no processo de conhecimento, seja
no processo de execução, pode ser definida como aquele que pede, e aquele contra o qual se pede a tutela
jurisdicional.” (OLIVEIRA NETO, Olavo de. A Defesa do Executado e dos Terceiros na Execução
Forçada. São Paulo: RT, 2000, p. 40 – grifos no original)
3
“União Estável – Aplicação da Lei 8.009/1990. 1. Configurada a união estável aplica-se, por inteiro, a
disciplina da Lei 8.009/1990. Assim, guarnecendo os bens móveis residência na qual morou o casal, que
vivia em união estável, estão eles, em princípio, afastados da penhora.” (STJ, 3 a T., v.u., REsp 103.011,
rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. em 25/03/1997, LEX-STJ 99/191)
4
Os filhos, por exemplo. Cf.: SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Embargos de Terceiro. São Paulo:
Atlas, 2004, p. 66.
5
BRITO, Rodrigo Toscano de. “Alienação de Bens na União Estável e Embargos de Terceiro.” In:
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. (coord.) Ética, Família e o Novo Código Civil. Belo Horizonte: Del
Rey/IBDFAM, 2004, p. 563.
6
“...um conjunto de princípios constitucionais impõe a inclusão das uniões homoafetivas no regime
jurídico da união estável, por se tratar de uma espécie em relação ao gênero. A tese acessória é a de que,
ainda quando não fosse uma imposição do texto constitucional, a equiparação de regimes jurídicos
decorreria de uma regra de hermenêutica: na lacuna da lei, deve-se integrar a ordem jurídica mediante o
emprego da analogia. Como as características essenciais da união estável previstas no Código Civil estão
presentes nas uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo, o tratamento jurídico deve ser o mesmo.”
(BARROSO, Luís Roberto. “Diferentes, mas Iguais: o Reconhecimento Jurídico das Relações
Homoafetivas no Brasil.” RDE 5/168)
7
Neste sentido: AMADEO, Rodolfo das Costa Manso Real. Embargos de Terceiro: Legitimidade Passiva.
São Paulo: Atlas, 2006, p. 78. Na jurisprudência: “Embargos de Terceiro – Possibilidade – Companheira
– Homologação da Partilha – Ausência da Expedição dos Formais. I- Os embargos de terceiro podem ser
fim de alegar impenhorabilidade, já que nos termos do art. 5 o da
Lei 9.278/96 os bens adquiridos, onerosamente na constância da
união estável, passam a constituir condomínio dos conviventes, e
poderão, então, ser considerados bem de família.
- O problema é que, diferentemente do casamento, a união estável
não é, em regra, comprovável documentalmente. A prova de sua
existência é eminentemente fática. Rodolfo das Costa Manso Real
Amadeo,8 com, base em ensinamentos de José Horácio Cintra
Gonçalves Pereira e Vera Cecília Camargo de Siqueira Ferreira
defende, acertadamente, a possibilidade de prova da união nos
próprios embargos de terceiro, inclusive mediante justificação
prévia, para deferimento da liminar.
- Os embargos de terceiro, no caso de alegação de
impenhorabilidade, não pressupõem a posse do bem.9
19. Adquirente de imóvel de empreendimento imobiliário;
20. Compromissário comprador;
21. Adquirente (Fraude à execução/Fraude contra credores)
- O registro da penhora, a fraude à execução
- A CELEUMA SE CIRCUNSCREVIA EM DEFINIR EM QUE
HIPÓTESES A ALIENAÇÃO DO BEM PENHORADO
CONFIGURAVA FRAUDE À EXECUÇÃO, OBVIAMENTE,
QUANDO DO GRAVAME NÃO SE TEM O REGISTRO NO
ÓRGÃO RESPONSÁVEL.10

opostos pela companheira que vê os bens que possui penhorados por força de execução fiscal movida
contra seu par por força da União Estável, a companheira detém a posse de uma fração ideal dos bens do
casal, dentro dos limites de sua meação. A homologação judicial da partilha concretiza e especifica a
posse, não sendo necessária a expedição dos formais para isso. Recurso provido.” (STJ, 2 a T., v.u., REsp
426.239-RS, rela. Mina. Eliana Calmon, j. em 04/05/2004, DJU 28/06/2004, p. 230)
8
AMADEO, Rodolfo das Costa Manso Real. Embargos de Terceiro: Legitimidade Passiva. São Paulo:
Atlas, 2006, p. 81.
9
PINHEIRO, Jorge Duarte. Fase Instrutória dos Embargos de Terceiro. Coimbra: Almedina, 1999, p. 30.
10
Como bem observa Teori Albino Zavascki, a discussão só se põe quando não há registro da penhora.
Estando registrada, a presunção é a de que o adquirente sabia (rectius, deveria saber) da penhora, e,
portanto, adquiriu em fraude (ZAVASCKI, Teori Albino. Comentários ao Código de Processo Civil. São
Paulo: RT, vol. VIII, 2000, p. 282-283). Idêntica é a orientação do direito italiano, no qual também é
problemática a questão da publicidade da penhora. Giovanni Verde defende a reforma da legislação, para
alcançar “una maggiore chiarezza... nel predisporre meccanismi del pignoramento e la sopravvenuta
modificazione in ordine alla posibilità di disporre materialmente e giuridicamente del bene da parte del
debitore.” (VERDE, Giovanni. “Pignoramento in Generale.” In: SANTORO-PASSARELLI, Francesco.
MORTATI, Constantino. (Dirs.) Enciclopedia del Diritto. Milano: Giuffrè, vol. XXXIII, 1983, p. 805).
No mesmo sentido: “Gli atti di disposizione del bene pignorato eventualmente compiuti, o che ne limitano
la disponibilità, sono inefficaci nei confronti del creditore procedente e dei creditori che intervengono
nell’esecuzione, salvi gli effeti del possesso di buona fede per il imobili non iscritti in pubblici registri.”
(REDENTI, Enrico. VELLANI, Mario. Lineamento di Diritto Processuale Civile. Milano: Giuffrè,
2005, p. 201 – grifei)
- - A alienação do bem penhorado é possível, por que ainda que
constrito, é de propriedade do devedor.11
- O art. 593 do CPC, na sua interpretação literal, reza que considera-
se em fraude à execução a alienação de bens que leve o devedor à
insolvência (eventus damni).
- O art. 593 NÃO FALA DA PRESENÇA DE REQUISITO
SUBJETIVO PARA A CONFIGURAÇÃO DA ALIENAÇÃO
FRAUDULENTA.
- A doutrina mais atual e a jurisprudência dominante no STJ 12
afirmam que também para a fraude à execução dever-se-ia
perquirir do devedor e do adquirente os mesmos requisitos
subjetivos da fraude contra credores (consilium fraudis,13 ou ao
menos a prova de que o adquirente não tomou os devidos
cuidados), embora a corrente doutrinária que negue esta
aproximação dos institutos seja majoritária, como se verá adiante.

11
“... alienação de bem penhorado, móvel ou imóvel, que não é proibida no direito brasileiro, não se
confunde com fraude de execução, caracterizando-se esta pela alienação ou oneração de bens antes da
penhora, causando a insolvência do devedor.” (DIAS, Ronaldo Brêtas C. “Fraude à Execução pela
Insolvência do Devedor. Alienação do Imóvel Penhorado. Ausência de Registro.” RePro 94/73). O bem
penhora serve de “garantia do juízo”. Entretanto significativa doutrina adverte: “... em todo o direito de
garantia existe, aliás, uma alienação potencial, para o caso de inadimplemento” (LIMA, Alcides de
Mendonça. Comentários ao Código de Processo Civil. 7a ed. Rio de Janeiro: Forense, vol. VI, 1991, p.
436). Logo, ainda que permitida, a alienação do bem penhorado é, no mínimo, uma afronta ao Poder
Judiciário (exceto quando com o produto da alienação o devedor quite seus débitos, antecipando-se à
possível “alienação extrajudicial”, art. 685-C).
12
“Enquanto a fraude, no direito privado, ensejaria uma anulação do ato de disposição, baseada na
insolvência do alienante e na intenção de prejudicar credores por parte de ambos os sujeitos do negócio
oneroso, no Código de Processo Civil, o legislador não teria se preocupado em invalidar o ato nocivo,
limitando-se a, objetivamente, submeter os bens alienados à responsabilidade executória pelas dívidas do
transmitente. Essa ótica, porém, não resistiu à construção jurisprudencial e doutrinária que solidamente
se elaborou e definitivamente se estabeleceu entre nós acerca da fraude de execução. (...) Dessa forma,
devem ser vistas como requisitos comuns de ambas as variantes da fraude: 1) a fraude da alienação por
parte do devedor; 2) a eventualidade de consilium fraudis pela ciência da fraude por parte do adquirente; e
3) o prejuízo do credor (eventu damni), por ter o devedor se reduzido à insolvência, ou ter alienado ou
onerado bens, quando pendia contra ele demanda capaz de reduzi-lo à insolvência.” (THEODORO Jr.,
Humberto. “Fraude Contra Credores e Fraude de Execução.” RT 776/29). Depois o autor arremata:
“Incumbe, portanto, àquele que invoca o art. 593 do CPC demonstrar ambos os elementos da fraude, de
maneira que, estando o terceiro de boa-fé, não haverá como sujeitá-lo à responsabilidade executiva pelo
débito do alienante.” ( Op. Cit., p. 30)
13
“(...) Mesmo com a citação do devedor, prévia à alienação do bem, seria necessário que o credor provasse
a ciência do adquirente acerca da execução fiscal proposta contra o alienante para que se configurasse a
fraude. Na hipótese, o Tribunal a quo fixou a premissa fática que o adquirente encontrava-se de boa-fé.
Recurso não conhecido” (STJ, 2ª Turma, v.u., REsp 798124/RS, rel. Min. Francisco Peçanha Martins, j.
em 15/12/2005, DJU 6/3/2006, p. 370). Na doutrina: THEODORO Jr., Humberto. “Fraude Contra
Credores e Fraude de Execução.” RT 776/11; CORRÊA, Luiz Fabiano. A Proteção da Boa-Fé nas
Aquisições Patrimoniais. Campinas: LEX, 2001, p. 188; OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Manual da
Penhora. 2a ed. São Paulo: RT, 2005, p. 126; ROCHA, José de Moura. Sistemática do Novo Processo de
Execução. São Paulo: RT, 1978, p 172; GRECO, Leonardo. O Processo de Execução. Rio de Janeiro:
Renovar, vol. II, 2001, p. 35-36.
- Por esta corrente, é ônus do exeqüente, 14 cuja penhora se vê
ameaçada pela alienação realizada pelo executado, comprovar que
o adquirente sabia15 (ou deveria saber, se tivesse a prudência de um
“homem comum”16) que o bem estava constrito em processo
executivo.
- O PROBLEMA GIRA EM TORNO DO REGISTRO DA
PENHORA.
(i) a Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73), em seu art.
240, reza que o registro da penhora faz prova quanto à
fraude de qualquer transação posterior.
(ii) A Lei 8.953/9417 obriga o registro para validade da
penhora.18
(iii) a ausência de publicidade do gravame impede que o
adquirente de boa-fé saiba da constrição e, por conta da
segurança jurídica que deve presidir as aquisições
14
“Ação de Execução e Embargos de Terceiro – Fraude à Execução – Citação Válida – Alienação de
Veículo Posteriormente à Penhora – Inocorrência de Restrição à Alienação no DETRAN – Presunção
Relativa de Boa-Fé do Adquirente – Ausência de Prova da Má-Fé – Inexistência de Fraude...” (TJMG,
13a C.Civ., v.u., AC 1.0471.03.012472-4/001-1, rel. Des. Elpidio Donizetti, j. em 29/09/2006, DOEMG
10/11/2006). No mesmo sentido: “(...) Conquanto a presença do consilium fraudis não seja legalmente
exigida para a configuração de fraude à execução, a doutrina e a jurisprudência têm relevado de maneira
significativa o aspecto subjetivo do adquirente de bem objeto de litígio, perquirindo acerca de sua boa ou
má-fé no momento da realização do negócio jurídico. Não havendo ao tempo da aquisição qualquer
lançamento de impedimento sobre o veículo junto ao DETRAN e não tendo o credor demonstrado que a
adquirente tinha conhecimento da execução movida contra o primitivo proprietário, inexiste qualquer
elemento que possa conduzir à convicção de que não agiu esta com a mais estrita lisura e boa-fé, não
configurada, portanto, a fraude à execução.” (TJMG, 13a C.Civ., v.u., AC 2.0000.00.492901-5/000-1, rel.
Des. Elias Camilo, j. em 25/05/2006, DOEMG 13/06/2006)
15
É a posição de Araken de Assis: “(...) a falta de registro somente provoca a inversão do ônus da provar o
conhecimento pelo terceiro da litispendência” (Manual da Execução. 11a ed. São Paulo: RT, 2007, p.
257). Na jurisprudência: “(...) Não registrada a penhora, a ineficácia da venda, em relação à execução
fiscal, depende da demonstração de que o adquirente tinha conhecimento da constrição. Precedentes...”
(STJ, 2ª Turma, v.u., REsp 200.583/RS, rel. Min. João Otávio de Noronha, j, em 3/05/2005, DJU
27/6/2005, p. 307). Neste sentido: WAMBIER, Luiz Rodrigues. (coord.) ALMEIDA, Flávio Renato
Correia de. TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 9a ed. São Paulo: RT, vol. II,
2007, p. 130.
16
CHICUTA, Kioitsi. “Averbação do Ajuizamento da Execução no Registro de Imóveis. Reflexos da
Alteração do CPC pela Lei 11.382/2006.” Revista do Advogado 90/79.
17
A redação do art. 659, caput, dada pela Lei 8.953/94 era a seguinte “A penhora de bens imóveis realizar-
se-á mediante auto ou termo de penhora e inscrição no respectivo registro.” (grifei)
18
CORRÊA, Luiz Fabiano. A Proteção da Boa-Fé nas Aquisições Patrimoniais. Campinas: LEX, 2001, p.
190. Na Itália, a jurisprudência – segundo afirma Giovanni Verde – resolveu a questão pela validade da
alienação em caso de a penhora não estar registrada (VERDE, Giovanni. “Pignoramento in Generale.” In:
SANTORO-PASSARELLI, Francesco. MORTATI, Constantino. (Dirs.) Enciclopedia del Diritto.
Milano: Giuffrè, vol. XXXIII, 1983, p. 806). Já (corretamente), parcela da doutrina defende que o registro
é mera publicização de ato processual que é válido, e portanto, o registro da penhora não integra o ato de
penhora em si, mas apenas garante sua eficácia em face de terceiros. Cf.: DIAS, Ronaldo Brêtas C.
“Fraude à Execução pela Insolvência do Devedor. Alienação do Imóvel Penhorado. Ausência de
Registro.” RePro 94/70.
patrimoniais, o adquirente não poderia sofrer os ônus da
ausência do registro;19
(iv) a fraude à execução está capitulada como “crime contra o
patrimônio” e não como “crime contra a administração da
Justiça”, o que revela seu caráter privatístico – no qual
deve imperar os valores da segurança jurídica e do bom
funcionamento da ordem social e econômica;20
(v) é ônus do exeqüente registrar a penhora, como medida
acautelatória21 de seus interesses, e a omissão em
providenciar a publicidade da constrição atrai o eventual
prejuízo decorrente da conduta omissiva;22
(vi) a constrição do bem sem a prerrogativa de o adquirente se
manifestar no processo feriria o contraditório e a ampla
defesa.23

19
Esta é a disposição do art. 2.913 do Código Civil Italiano: “Inefficacia delle alienazioni del bene
pignorato. Non hanno effetto in pregiudizio del creditore pignorante e dei creditori che intervengono
nell’esecuzione (Cod. Proc. Civ. 498 e seguenti) gli atti di alienazione dei beni sottoposti a pignoramento,
salvi gli effetti del possesso di buona fede per i mobili (1153 e seguenti) non iscritti in pubblici registri.”
Na Jurisprudência: “Civil e Processual – Fraude à Execução – Veículo Automotor – Sucessivas Vendas –
Inexistência de Restrição Junto ao DETRAN – Boa-Fé do Adquirente – CPC, art. 593, II. I. Não se
configura fraude à execução se o veículo automotor é objeto de sucessivas vendas após aquela iniciada
pelo executado, inexistindo qualquer restrição no DETRAN que pudesse levar à indicação da ocorrência
do consilium fraudis. II. Ademais, em se tratando de bem móvel, não há a praxe de os compradores
pesquisarem junto a cartórios de distribuição e protesto para verificar se contra o vendedor pesa alguma
dívida ou ação. III. Precedentes do STJ.” (STJ, 4a Turma, v.u., REsp 618.444/SC, rel. Min. Aldir
Passarinho Jr., j. em 7/04/2005, DJU 16/5/2005, p. 356)
20
CORRÊA, Luiz Fabiano. A Proteção da Boa-Fé nas Aquisições Patrimoniais. Campinas: LEX, 2001, p.
190.
21
THEODORO Jr., Humberto. A Reforma da Execução do Título Extrajudicial. Rio de Janeiro: Forense,
2007, p. 33.
22
CORRÊA, Luiz Fabiano. A Proteção da Boa-Fé nas Aquisições Patrimoniais. Campinas: LEX, 2001, p.
188.
23
“O que não é aceitável, do ponto de vista humanitário, é que o adquirente, que muitas vezes não sabia da
existência de ação contra o devedor (...) venha a ser privado dos seus bens antes de que em regular
processo de conhecimento tenha tido ampla possibilidade de demonstrar a inexistência de fraude e a
eficácia da alienação ou oneração, mesmo em relação ao credor exeqüente.” (GRECO, Leonardo. O
Processo de Execução. Rio de Janeiro: Renovar, vol. II, 2001, p. 36)
- ENTRETANTO, há corrente mais restritiva, 24 defendendo que,
independentemente do registro da penhora, a alienação é
fraudulenta.25

(i) A letra da lei (art. 593), que não exige o requisito


subjetivo;

(ii) a função do processo executivo, que ficaria fragilizada


com a possibilidade de o devedor alienar (ainda que
validamente, ou seja, por preço justo em negócio
entabulado com adquirente de boa-fé), o bem objeto da
constrição, o que configuraria dolo (ao menos do
alienante/executado26)

(iii) nulidade do ato de disposição, por conta de que houve


decréscimo patrimonial do devedor, nos termos do art.
593, II, do CPC.27
- Tratando-se de bem móvel, desde que não suscetível à registro,
Francisco Antonio de Oliveira admite a decretação da fraude à
execução independentemente de o adquirente estar ou não de boa-
fé,28 bastando que a alienação dê-se posteriormente ao ajuizamento
da ação.
24
“(...) é pacífico na doutrina brasileira, a sua alienação [do bem penhorado] importa ineficácia, por se tratar
de ato de disposição eu atenta contra uma situação processual de natureza pública, violando a função
jurisdicional que o Estado exerce no processo” (OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. Alienação da
Coisa Litigiosa. Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 139). Neste sentido: NERY Jr., Nelson. NERY, Rosa
Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante. 7a ed. São Paulo:
RT, 2003, p. 989; LIMA, Alcides de Mendonça. Comentários ao Código de Processo Civil. 7a ed. Rio de
Janeiro: Forense, vol. VI, 1991, p. 446; DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução Civil. 3a ed. São
Paulo: Malheiros, 1993, p. 291; PAES, P. R. Tavares. Fraude Contra Credores. 3a ed. São Paulo: RT,
1993, p. 29; CAHALI, Yussef Said. Fraudes Contra Credores. São Paulo: RT, 1990, p. 82-83;
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de Execução Civil. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006,
p. 83-84; DIAS, Ronaldo Brêtas C. “Fraude à Execução pela Insolvência do Devedor. Alienação do
Imóvel Penhorado. Ausência de Registro.” RePro 94/73-74.
25
LENZ, Luis Alberto Thompson Flores. “A Natureza das Normas Processuais e o Registro da Penhora.”
RT 627/63, que cita em seu abono as posições de Cláudio Nunes do Nascimento, Pontes de Miranda,
Orlando de Souza e José Frederico Marques. O autor cita o seguinte aresto do STF: “ Fraude à Execução
– Nulidade da alienação quando pendia demanda capaz de alterar o patrimônio do Alienante, reduzindo-
o à insolvência – Não se requer que em tal demanda haja penhora, e, muito menos, que tenha sido
inscrita – Nem há que cogitar de boa ou má-fé do adquirente.” (STF, 1a T., v.u., RE 75.349-PR, rel. Min.
Luiz Gallotti, RTJ 64/285). Mas o STF já decidirá em confronto com esta orientação, em acórdão
noticiado por Yussef Said Cahali (Fraudes Contra Credores. São Paulo: RT, 1990, nota 53, p. 82), mas
sem as referências do julgamento. Mais atualmente: “Para a caracterização da fraude à execução basta a
citação do alienante para o processo de conhecimento. Inteligência do art. 593, II, do CPC. Ineficácia
objetiva da alienação, independente da demonstração de existência de conluio fraudulento” (TJ-SP, 4 a
CDPr, v.u., AC 320.481-4/2, rel. Des. Maia da Cunha, j. em 02/02/2006, BOLAASP 2.490/446)
26
ROCHA, José de Moura. Sistemática do Novo Processo de Execução. São Paulo: RT, 1978, p 170.
27
LIMA, Alcides de Mendonça. Comentários ao Código de Processo Civil. 7a ed. Rio de Janeiro:
Forense, vol. VI, 1991, p. 441.
28
OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Manual da Penhora. 2a ed. São Paulo: RT, 2005, p. 220-221.
- Data venia, a nova redação do art. 666 implica na necessária
retirada da coisa do domínio material do réu, o que deve ser ainda
mais observado.
- José Eli Salamacha não exclui a possibilidade de o adquirente
manter válida a aquisição, pela comprovação da boa-fé, mas
vincula esta hipótese à demonstração de que tenha realizado a
aquisição com a cautela devida – ou seja – tendo obtido junto às
Justiças Estadual e Federal certidão sobre propositura de
demandas em face do alienante (na comarca de situação do imóvel
objeto da transação e na comarca de domicílio do vendedor). Diz
o autor:
Haverá presunção relativa em benefício do credor (autor), podendo ser
declarada de imediato a fraude à execução, se a demanda tramitar na mesma
comarca em que se localizar o (1) bem litigioso ou o bem alienado/onerado a
terceiro, ou (2) no domicílio do alienante, ou (3) na mesma comarca em que se
localizar o bem penhorado, cabendo ao adquirente provar o contrário em
embargos de terceiro. Justifica-se essa presunção, pois a praxe comercial
moderna recomenda que qualquer adquirente de imóvel, além de obter certidão
negativa e ônus no registro imobiliário, obtenha também na comarca onde se
situa o bem alienado e no domicílio do alienante (se este for em local diverso do
bem), certidões negativas ou positivas, no mínimo, da justiça (estadual e
federal)...”29

- o adquirente deve comprovar que se cercou das necessárias


precauções, a aquisição se manterá.30
- A comprovação de que, apesar de todos os esforços, o adquirente
não teve como obter informações sobre o processo executivo e a
respectiva penhora é o elemento constitutivo da procedência de
suas alegações, geralmente lançadas em embargos de terceiro,31
como demonstra a doutrina colacionada.
- cercando-se dos cuidados mínimos, munindo-se das certidões de
distribuição de ações32. A Lei 7.433/85, que dispõe sobre os
requisitos para a lavratura de escrituras públicas, determina, em seu

29
SALAMACHA, José Eli. “Fraude à Execução e Proteção do Credor e do Adquirente de Boa-Fé.” In:
SANTOS, Ernane Fidélis dos. WAMBIER, Luiz Rodrigues. NERY Jr., Nelson. WAMBIER, Teresa
Arruda Alvim. (coords.) Execução Civil: Estudos em Homenagem ao Professor Humberto Theodoro
Júnior. São Paulo: RT, 2007, p. 35. Complementa o autor: “Se, no entanto, a demanda não tramitar na
mesma comarca em que se localizar o (1) bem litigioso ou o bem alienado/onerado a terceiro, ou (2) no
domicílio do alienante, ou (3) na mesma comarca em que se localizar o bem penhorado, entendemos que
a presunção relativa deva ocorrer em favor do adquirente, pois na maioria dos Estados as justiças
estaduais não possuem seus cartórios distribuidores interligados” (Op. Cit., p. 36), grifos, em ambas as
citações, no original.
30
ARMELIN, Donaldo. “Registro da Penhora e Fraude de Execução.” Revista do Advogado 40/75.
31
“Embargos de Terceiro – Fraude à execução – Não Caracterização. Imóvel adjudicado a outro credor.
Compradora que desconhecia qualquer ação. Providência de documentos de praxe, nada constando que
pudesse impedir a transação. Presunção de boa-fé da adquirente não elidida.” (TJ-SP, 4a CDP, v.u., AC
267.734-5/6-00, rel. Des. Soares Lima, j. em 20/04/2006, BOLAASP 2.506/4.180-4.181)
art. 1o, § 2o, que o tabelião fará constar declaração que lhe foram
apresentadas certidões de “feitos ajuizados”, entre outras. Ao
apresentar as certidões de “feitos ajuizados”, o executado e o
adquirente comprovam cabalmente que se precaveram de todas as
formas para realização da alienação, que poderá ser futuramente
embargada, mas certamente por erro imputável à máquina
judiciária,33 e não à má-fé do adquirente. Neste caso, o ônus de
provar que aquele que adquiriu a coisa sabia do processo é do
exeqüente.
- Theotonio Negrão e José Roberto F. Gouvêa, in Código de
Processo Civil e legislação processual em vigor, 39ª edição, 2007,
p. 794
“Para que se tenha por fraude à execução a alienação de bens de que
trata o inciso II do art. 593 do CPC, é necessária a presença
concomitante dos seguintes elementos: a) que a ação já tenha sido
aforada; b) que o adquirente saiba da existência da ação, ou por já
constar no cartório imobiliário algum registro dando conta de sua
existência (presunção ‘juris et de jure’ contra o adquirente), ou porque
o exeqüente, por outros meios, provou que do aforamento da ação o
adquirente tinha ciência; c) que a alienação ou a oneração dos bens
seja capaz de reduzir o devedor á insolvência, militando em favor do
exeqüente a presunção ‘juris tantum’ (RSTJ 111/216 e STJ-RT
811/179).”
- Art. 179 do Código Penal: “Fraudar execução, alienando,
desviando, destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Parágrafo
único - Somente se procede mediante queixa.”
- Nelson Hungria defende a possibilidade de que se configure o
crime mesmo sem a citação do devedor, verbis: “... para que o
crime se apresente é necessário que, ingressando o credor em juízo,
esteja iminente a execução, ou seja, a penhora ou apreensão
32
“Há inegável tendência de proteção ao terceiro adquirente de boa-fé, mas não se lhe perdoa quando atua
desprovido da diligência ordinária de um homem comum.” (CHICUTA, Kioitsi. “Averbação do
Ajuizamento da Execução no Registro de Imóveis. Reflexos da Alteração do CPC pela Lei 11.382/2006.”
Revista do Advogado 90/79)
33
Passível, inclusive, de fazer o Erário responder pela má prestação dos serviços judiciários, por conta de
equívoco no registro dos processos e/ou emissão de certidão lavrada sem o cuidado com as devidas
informações. A Constituição brasileira adotou, entre outros, o princípio do “risco administrativo”,
responsabilizando o Estado pela má prestação dos serviços a ele subordinados. Rui Stoco ensina que “por
ele (princípio do risco administrativo), o Estado responde pela reparação de seu mau funcionamento, ainda
que não se verifique culpa de seus encarregados ou prepostos. Ao particular é que não seria justo arcar,
sozinho, com as conseqüências danosas desse mau funcionamento, desde que não seja proveniente de caso
fortuito ou força maior.” (STOCO, Rui. Tratado da Responsabilidade Civil. 5a ed. São Paulo: RT, 2001,
p. 760). Neste sentido “A responsabilidade da Administração Pública se estende às suas falhas na
prestação de informações oficiais de que possam resultar danos aos particulares, se não corresponderem à
realidade.” (TJ-SP, 2a C., AP., rel. Des. Vasconcellos Pereira, j. em 29/12/1993, JTJ-LEX 152/86 apud
STOCO, Rui. Op. Cit., p. 762)
judicial dos bens... Em qualquer caso, é necessária a ciência
inequívoca do devedor, ainda que extrajudicialmente, de que seus
bens estão na iminência de penhora, bem como a vontade de
frustrar a execução, em prejuízo do credor exeqüente (ou dos que
possam vir, em concurso, à execução).” (Comentários ao Código
Penal. Rio de Janeiro: Forense, vol. VII, 1955, p. 289-290).
- O crime, de acordo com a Lei 9.099/95 (art. 61), é considerado de
“menor potencial ofensivo”, posto que a pena máxima é “não
superior a 2 (dois) anos”. Processa-se mediante representação (art.
76), sendo vedada a prisão em flagrante e a imposição de fiança,
caso o autor do fato delitivo seja imediatamente levado ao juizado,
ou perante a autoridade policial assumir compromisso de
comparecer ao Juizado para a audiência preliminar (art. 69, par.
único), quando intimado.
- No entanto, há jurisprudência (da seara civil) que exige além da
citação, a intimação da penhora, para configuração da fraude: STJ,
4a T., v.u., REsp 4.132-5/RS, rel. Min. Sálvio de Figueiredo
Teixeira, j. em 02/10/1990, RJSTJ 26/346.
- A DISCUSSÃO PERDERÁ FORÇA, POR CONTA DO NOVO
Art. 615-A do CPC, que trata da possibilidade de o credor, assim
que distribuir a petição inicial da execução, obter certidão que
poderá averbar nos diversos registros patrimoniais existentes (de
imóveis, veículos, ou outros bens – como aeronaves, embarcações,
etc.).
- A razão da importância do novo dispositivo, como acentua Athos
Gusmão Carneiro,34 encontra-se na influência que deverá ter na
questão da fraude à execução.35
- Antes do art. 615-A do CPC, o credor não tinha muitas opções de
conduta para coibir atos de alienação do bem penhorado pelo
executado. O procedimento do processo executivo, antes da Lei
11.382/06, trazia uma série de embaraços ao registro da penhora 36,

34
CARNEIRO, Athos Gusmão. “As Novas Leis de Reforma da Execução – Algumas Questões Polêmicas.”
RDDP 52/55.
35
ARAÚJO, Luciano Vianna. “A Nova Execução por Título Extrajudicial – Análise dos Arts. 585 a 684 do
CPC.” In: SANTOS, Ernane Fidélis dos. WAMBIER, Luiz Rodrigues. NERY Jr., Nelson. WAMBIER,
Teresa Arruda Alvim. (coords.) Execução Civil: Estudos em Homenagem ao Professor Humberto
Theodoro Júnior. São Paulo: RT, 2007, p. 876.
36
“(...) sem considerar as dificuldades no então ‘registro’ da penhora e que esbarra em princípios rígidos e
necessários, como, por exemplo, os da especialidade e da continuidade, impedindo, por exemplo, sua
realização pelo fato de: a) o estado civil do devedor, constante na matrícula, ser diverso daquele do
processo de execução; b) faltar intimação da penhora ao cônjuge; c) ausência de prova prévia de
averbação da construção na matrícula do imóvel, e penhora que recai em terreno e respectiva acessão
artificial.” (CHICUTA, Kioitsi. “Averbação do Ajuizamento da Execução no Registro de Imóveis.
Reflexos da Alteração do CPC pela Lei 11.382/2006.” Revista do Advogado 90/81)
sendo mesmo “quase” impossível de fazê-lo no caso de
automóveis, por exemplo.37
- Mesmo quando possível o registro, o prazo entre a propositura da
demanda executiva e o registro da penhora era bastante elástico,
permitindo toda a sorte de alienações e constituições de gravames
sobre a coisa penhorada (e por isso a existência da “fraude de
execução”, genuína criação nacional, não existente em outros
países, exatamente por conta desta burocracia para registro da
existência do processo38).
- Com o novel instituto, e assim vê a doutrina, 39 a polêmica em torno
da fraude à execução (e a própria ocorrência dela) perderá espaço,
por conta de que desde o ajuizamento da ação executiva (mas que
deve caber também no cumprimento de sentença40), o credor
poderá efetivar, por iniciativa própria, a averbação da existência de
ação (o que equivale a uma “pré-penhora”). E realizada a
prenotação do gravame antes da alienação, a discussão não se
põe,41 posto que a presunção de fraude que milita em favor do
exeqüente é do tipo juris et de jure.

QUESTÕES PROESSUAIS
37
ERPEN, Décio Antônio. “Das Novas Regras da Execução e o Registro Imobiliário.” Revista do
Advogado 90/33.
38
CAMBLER, Everaldo Augusto. “Fraude de Execução.” RePro 58/157.
39
WAMBIER, Luiz Rodrigues. (coord.) ALMEIDA, Flávio Renato Correia de. TALAMINI, Eduardo.
Curso Avançado de Processo Civil. 9a ed. São Paulo: RT, vol. II, 2007, p. 130; ERPEN, Décio Antônio.
“Das Novas Regras da Execução e o Registro Imobiliário.” Revista do Advogado 90/33; RAMOS, Glauco
Gumerato. “Certidão de Ajuizamento da Execução.” In: NEVES, Daniel Amorim Assumpção. RAMOS,
Glauco Gumerato. FREI A DISCUSSÃO PERDERÁ FORÇA RE, Rodrigo da Cunha Lima. MAZZEI,
Rodrigo. Reforma do CPC. São Paulo: RT, vol. II, 2007, p. 157; CHICUTA, Kioitsi. “Averbação do
Ajuizamento da Execução no Registro de Imóveis. Reflexos da Alteração do CPC pela Lei 11.382/2006.”
Revista do Advogado 90/84; MEDINA, José Miguel Garcia. WAMBIER, Luiz Rodrigues. WAMBIER,
Teresa Arruda Alvim. Breves Comentários à Nova Sistemática Processual Civil. São Paulo: RT, vol. III,
2007, p. 74/75; THEODORO Jr., Humberto. A Reforma da Execução do Título Extrajudicial. Rio de
Janeiro: Forense, 2007, p. 33; PALHARINI Jr., Sidney. (et alii) Nova Execução de Título Extrajudicial.
São Paulo: Método, 2007, p. 59.
40
Com acerto, há doutrina que afirma que também na execução de título judicial (cumprimento de sentença)
é possível obter-se certidão para averbação nos vários registros. Neste sentido: RAMOS, Glauco
Gumerato. “Certidão de Ajuizamento da Execução.” In: NEVES, Daniel Amorim Assumpção. RAMOS,
Glauco Gumerato. FREIRE, Rodrigo da Cunha Lima. MAZZEI, Rodrigo. Reforma do CPC. São Paulo:
RT, vol. II, 2007, p. 157.
41
“A principal função do instituto é a de preservar o exeqüente contra eventual alegação de boa-fé de
terceiro adquirente de bem do executado. É que, agora, se presume em fraude à execução a alienação ou
oneração de bens efetuada após a averbação. Trata-se de presunção absoluta, ao que parece, em
consonância com a regra do § 4 o do art. 659 do CPC. Ambos os dispositivos devem ser interpretados e
aplicados conjuntamente. A presunção legal afasta a relevância da discussão sobre a boa-fé do terceiro
adquirente (desconhecimento da pendência do procedimento executivo), requisito para a configuração da
alienação do bem em fraude à execução...” (DIDIER Jr., Fredie. “Tópicos Sobre a Última Reforma
Processual (Execução por Quantia Certa) – Parte 2.” RePro 148/146 – grifos no original)
22. Causa de pedir PRÓXIMA – não pode se confundir com outras modalidade de
embargos, como EMBARGOS À ARREMATAÇÃO ou EMBARGOS DE
DEVEDOR.
23. O terceiro prejudicado pode alega vício em arrematação, que é procedimento
público (A DOUTRINA ITALIANA EQUIPARA À LICITAÇÃO)
24. A jurisprudência afirma que pressuposto é a restituição de “coisa certa e
individualizada” (RTJ 112/1.361)
25. HONORÁRIOS - princípio da causalidade e boa fé do exeqüente (em especial no
caso do compromisso de compra e venda). – Súmula 303 do STJ – quem deu
causa à penhora indevida paga os honorários.
26. O embargante, mesmo vencedor, pode arcar com honorários quando a penhora
se der por sua desídia (não registro do Compromisso de compra e venda, por
exemplo)
27. quando não houver culpa de ninguém, não deve ser arbitrado honorários – CULPA
DO ESTADO POR MÁ PRESTAÇÃO DO SERVIÇO JUDICIAL
28. NÃO FORMAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO QUANDO os embargos são
promovidos somente contra o autor da ação (exeqüente).
“Alienação fiduciária – Embargos de terceiro – Litisconsórcio passivo
necessário – Bem objeto de busca e apreensão – Indicação pelo autor –
Inexigibilidade – Em embargos de terceiro, não se exige a formação do
litisconsórcio passivo quando o bem ameaçado de constrição judicial
for indicado pelo credor fiduciário que deu causa a turbação de que se
queixa o embargante.” (2o TACiv/SP, 7a C., v.u., AC. 611.753-00/5, Rel.
Juiz Willian Campos, j. em 18/09/2001, DOESP 01/03/2002).
29. Se o bem foi indicado pelo devedor, haverá litisconsórcio.
30. PRAZO: Art. 1.048. Os embargos podem ser opostos a qualquer tempo no processo de
conhecimento enquanto não transitada em julgado a sentença, e, no processo de execução, até 5
(cinco) dias depois da arrematação, adjudicação ou remição, mas sempre antes da assinatura da
respectiva carta.
31. DA CITAÇÃO NA PESSOA DO ADVOGADO
32. Os embargos de terceiro são considerados como ação autônoma, mas também são
sempre dependentes ou subsidiários a um outro processo, chamado, por isso, de
“principal”. Nesta hipótese, é admitida a “citação” na pessoa do advogado,
dispensando a citação pessoal do embargado. Exemplos: cumprimento da sentença
(§ 1o do art. 475-J), a reconvenção (CPC, art. 316), a liquidação de sentença (CPC,
art. 475-A, § 1o), a oposição (CPC, art. 57), a habilitação de herdeiros (CPC, art.
1.057, § único). Do mesmo modo os Tribunais: RTJ 94/631, RT 489/141, RT
578/142, JTA 37/226, JTA 39/175, JTA 67/61, JTA 98/15, LEX-JTA 74/75, LEX-JTA
74/76, Amagis 11/223 (apud NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e
Legislação Processual em Vigor. 32a ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 941).
33. Como se demonstra, por analogia aos procedimentos supra indicados, nos embargos
de terceiro admite-se a citação na pessoa do advogado.
34. DENUNAÇÃO DA LIDE
35. O Professor Araken de Assis afirma:
“Os embargos comportam todas as formas de intervenção, provocada ou
voluntária, de terceiros: denunciação, chamamento e assistência, p. ex.,
observados os respectivos pressupostos de admissibilidade.” (Manual do
Processo de Execução. 4ª ed. p. 1079)
36. Clóvis do Couto e Silva anota:
“... a denunciação a lide pode ser feita pelo autor ou réu. O embargante é o
autor e pode denunciar a lide, tanto mais que poderá competir-lhe a ação
regressiva (CPC, arts. 70, III; 71).” (In Comentários ao Código de Processo
Civil. Tomo II, vol. XI, p. 468)
37. Milton Flaks afirma “Desse modo, o embargante poderá denunciar a lide a quem lhe
transferiu o domínio ou a posse do bem apreendido judicialmente, inclusive para
resguardar-se em face do risco da evicção, se for o caso.”
38. “PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIROS. DENUNCIAÇÃO À
LIDE. CABIMENTO. I - Os embargos de terceiro, por constituírem ação autônoma
que visa eliminar a eficácia de ato jurídico emanado de outra ação, comportam
denunciação à lide para resguardo de possível risco de evicção. II - Recurso
especial conhecido e provido.” (STJ, 3a T., v.u., RESP 161.759/MG, rel. Min.
Antônio de Pádua Ribeiro, j. em 03 de maio de 2005)
39. PARA NERY CABE EMBARGOS EM FACE DE ATO / PENAL, que deverá ser
proposto no JUÍZO CRIMINAL (CPP, art. 130, II)
Art. 125. Caberá o seqüestro dos bens imóveis, adquiridos pelo indiciado com os proventos
da infração, ainda que já tenham sido transferidos a terceiro.
Art. 126. Para a decretação do seqüestro, bastará a existência de indícios veementes da
proveniência ilícita dos bens.
Art. 127. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou do ofendido, ou
mediante representação da autoridade policial, poderá ordenar o seqüestro, em qualquer
fase do processo ou ainda antes de oferecida a denúncia ou queixa.
Art. 128. Realizado o seqüestro, o juiz ordenará a sua inscrição no Registro de Imóveis.
Art. 129. O seqüestro autuar-se-á em apartado e admitirá embargos de terceiro.
Art. 130. O seqüestro poderá ainda ser embargado:
I - pelo acusado, sob o fundamento de não terem os bens sido adquiridos com os proventos
da infração;
II - pelo terceiro, a quem houverem os bens sido transferidos a título oneroso, sob o
fundamento de tê-los adquirido de boa-fé.
40. Não se pode alegar FRAUDE CONTRA CREDORES na contestação dos embargos
– por conta da ANULAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO... Necessária a proposição
de nova demanda...

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