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Esta nova coletânea traz como novidade a apresentação

2004 O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso no Sebrae


dos casos por área temática, visando facilitar a consulta teve sua origem em 2002 com o objetivo de disseminar
e melhor entendimento do conteúdo. 2004 as melhores práticas vivenciadas por empreendedores
e empresários de diversos segmentos e setores,
O primeiro volume da nova edição descreve casos participantes dos programas e projetos do Sebrae
vinculados aos temas de artesanato, turismo e cultura, em vários Estados do Brasil.
empreendedorismo social e cidadania. O segundo relata
histórias sobre agronegócios e extrativismo, indústria, A primeira fase do projeto, estruturada para escrever estudos
comércio e serviços. E o terceiro aborda exclusivamente de caso sobre empreendedorismo coletivo, publicou em
casos com foco em inovação tecnológica. 2003 a coletânea Histórias de Sucesso – Experiências

Os resultados obtidos com o projeto Desenvolvendo


Histórias de Sucesso Empreendedoras, em três livros integrados de 1.200
páginas, que contou 80 casos desenvolvidos em
Casos de Sucesso, desde sua concepção e implantação, Experiências Empreendedoras diferentes localidades e vários setores, abrangendo as
têm estimulado a elaboração de novos estudos sobre cinco regiões: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e
histórias de empreendedorismo coletivo e individual, e, Nordeste. Participaram 90 escritores, provenientes do
conseqüentemente, têm fortalecido o processo de Gestão quadro técnico interno ou externo do Sebrae.

Histórias de Sucesso
do Conhecimento Institucional. Contribui-se assim, de forma
significativa, para levar ao meio acadêmico e empresarial Esta segunda edição da coletânea Histórias de Sucesso –
o conhecimento acerca de pequenos negócios bem- Experiências Empreendedoras – 2004, composta de três
sucedidos, visando potencializar novas experiências volumes que totalizam cerca de 1.100 páginas, contou com
que possam ser adotadas e implementadas no Brasil. a participação de 89 escritores e vários profissionais de
todos os Estados brasileiros, que escreveram os 76 casos.
Para ampliar o acesso dos leitores interessados em utilizar
os estudos de caso, o Sebrae desenvolveu em seu portal A continuidade do projeto reitera a importância da
(www.sebrae.com.br) o site Casos de Sucesso, onde o disseminação das melhores práticas observadas no âmbito
usuário pode acessar na íntegra todos os 156 estudos de atuação do Sistema Sebrae e de sua multiplicação para
das duas coletâneas por tema, região ou projeto, bem o público interno, rede de parceiros, consultores, professores
como fotos, vídeos e reportagens. e meio empresarial.

Todos os casos do projeto foram desenvolvidos sob a orientação


de professores tutores, atuantes no meio acadêmico e em
diversas instituições brasileiras, que auxiliaram os autores
a pesquisar dados, entrevistar pessoas e escrever os casos,
de acordo com a metodologia elaborada pelo Sebrae.

Foto do site do Sebrae. Casos de Sucesso.

Esperamos que essas histórias de sucesso possam


produzir novos conhecimentos e contribuir para fortalecer
os pequenos negócios e demonstrar sua importância
econômica no País.
Série Histórias
Boa leitura e aprendizado! de Sucesso.
Primeira edição 2003.
COPYRIGHT © 2004, SEBRAE – SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer


forma ou por qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Armando Monteiro Neto
Diretor-Presidente
Silvano Gianni
Diretor de Administração e Finanças
Paulo Tarciso Okamotto
Diretor Técnico
Luiz Carlos Barboza
Gerente da Unidade de Estratégias e Diretrizes
Gustavo Henrique de Faria Morelli
Coordenação do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso
Renata Barbosa de Araújo Duarte
Comitê Gestor do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso
Cezar Kirszenblatt, SEBRAE/RJ; Daniela Almeida Teixeira, SEBRAE/MG; Mara Regina Veit, SEBRAE/MG;
Renata Maurício Macedo Cabral, SEBRAE/RJ; Rosana Carla de Figueiredo Lima, SEBRAE Nacional
Orientação Metodológica
Daniela Abrantes Serpa – M.Sc., Sandra Regina H. Mariano – D.Sc., Verônica Feder Mayer – M.Sc.
Diagramação
Adesign
Produção Editorial
Buscato Informação Corporativa

D812h Histórias de sucesso: experiências empreendedoras / Organizado


por Renata Barbosa de Araújo Duarte – Brasília: Sebrae, 2004.

392 p. : il. – (Casos de Sucesso, v.1)

Publicação originada do projeto Desenvolvendo Casos de


Sucesso do Sistema Sebrae.
ISBN 85-7333-385-5
1. Empreendedorismo 2. Estudo de caso 3. Artesanato
4. Turismo 5. Cultura I. Duarte, Renata Barbosa de Araújo II. Série
CDU 65.016:001.87

BRASÍLIA
SEPN – Quadra 515, Bloco C, Loja 32 – Asa Norte
70.770-900 – Brasília
Tel.: (61) 348-7100 – Fax: (61) 347-4120
www.sebrae.com.br
PROJETO DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO

OBJETIVO
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi concebido em 2002 a partir das prioridades
estratégicas do Sistema SEBRAE com a finalidade de disseminar na própria organização, nas
instituições de ensino e na sociedade as melhores práticas de empreendedorismo individual e
coletivo observadas no âmbito de atuação do SEBRAE e de seus parceiros, estimulando sua
multiplicação e fortalecendo a Gestão do Conhecimento do SEBRAE.

METODOLOGIA “DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO”


A metodologia adotada pelo projeto é uma adaptação do consagrado método de estudos
de caso aplicado em Babson College e Harvard Business School, que se baseia na história
real de um protagonista, que, em dado contexto, se encontra diante de um problema ou de
um dilema que precisa ser solucionado. Esse método estimula o empreendedor, o aluno ou a
instituição parceira a vivenciar uma situação real, convidando-o a assumir a perspectiva do
protagonista.

O LIVRO HISTÓRIAS DE SUCESSO – Edição 2004


Esse trabalho é o resultado de uma das ações do projeto Desenvolvendo Casos de Su-
cesso, elaborado por colaboradores do Sistema SEBRAE, consultores e professores de ins-
tituições de ensino parceiras. Esta edição é composta por três volumes, em que se
descrevem 76 estudos de casos de empreendedorismo, divididos por área temática:
• Volume 1 – Artesanato, Turismo e Cultura, Empreendedorismo Social e Cidadania.
• Volume 2 – Agronegócios e Extrativismo, Indústria, Comércio e Serviço.
• Volume 3 – Difusão Tecnológica, Soluções Tecnológicas, Inovação, Empreendedorismo e
Inovação.

DISSEMINAÇÃO DOS CASOS DE SUCESSO DO SEBRAE


O site Casos de Sucesso do SEBRAE (www.casosdesucesso.sebrae.com.br) visa divulgar as
experiências geradas a partir das diversas situações apresentadas nos casos, bem como suas
soluções, tornando-as ao alcance dos meios empresariais e acadêmicos.
O site apresenta todos os estudos de caso das edições 2003 e 2004, organizados por área de
conhecimento, região, municípios, palavras-chave e contém, ainda, vídeos, fotos, artigos de
jornal, que ajudam a compreender o cenário onde os casos se passam. Oferece também um
manual com orientações para instrutores, professores e alunos de como utilizar o estudo de caso
na sala de aula.
As experiências relatadas ilustram iniciativas criativas e empreendedoras no enfrentamento
de problemas tipicamente brasileiros, podendo inspirar a disseminação e aplicação dessas
soluções em contextos similares. Esses estudos estão em sintonia com a crescente importância
que os pequenos negócios vêm adquirindo como promotores do desenvolvimento e da geração
de emprego e renda no Brasil.
Boa leitura e aprendizado!

Gustavo Morelli
Gerente da Unidade de Estratégias e Diretrizes
Renata Barbosa de Araújo Duarte
Coordenadora do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004


ROTA TURÍSTICA CAMINHO FARROUPILHA
RIO GRANDE DO SUL
MUNICÍPIOS: CAMAQUÃ, GUAÍBA, PELOTAS, PIRATINI,
RIO GRANDE, SÃO JOSÉ DO NORTE E SÃO LOURENÇO DO SUL

INTRODUÇÃO

A história do Rio Grande do Sul é marcada por grandes acontecimen-


tos que são relembrados e passados de geração em geração como
forma de desenvolver a cultura e a tradição do povo rio-grandense.
Dentre estes feitos, um é marcadamente inesquecível: a Revolução Far-
roupilha (1835-1845). Por tratar-se de um dos principais acontecimen-
tos político-militares do Rio Grande do Sul e do Brasil, até hoje desperta
o interesse e a curiosidade dos brasileiros a tal ponto de inspirar roman-
ces e telenovelas, como a Casa das Sete Mulheres1, assistida nos lares
de milhares de brasileiros.
Em 2002, por meio da parceria entre o SEBRAE e as prefeituras de sete
municípios gaúchos (Guaíba, Camaquã, São Lourenço do Sul, Pelotas,
Piratini, Rio Grande e São José do Norte), a importância da Revolução
Farroupilha foi então percebida como uma oportunidade de desenvolvi-
mento econômico regional, propiciando a diversos empreendedores de
diferentes localidades envolvidas neste episódio histórico a possibilidade
de proporcionar-lhes melhor renda pelo turismo cultural, rural e náutico,
buscando a sustentabilidade econômica destas comunidades.

Rosane Cruz, consultora credenciada do SEBRAE/RS, elaborou o estudo de caso sob orientação da
professora Maria Suelena de Quadro, da Universidade de Caxias do Sul, integrando as atividades
do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso do SEBRAE.
1
Foi escrita por Maria Adelaide Amaral e Walther Negrão. A superprodução da Rede Globo, veicu-
lada pela TV no início de 2003, é baseada no romance homônimo da escritora gaúcha Letícia
Wierzchowski e trata de um tema pouco abordado, seja pela história seja pela ficção, a Guerra
dos Farrapos (1835). O romance mescla realidade e ficção e usa magistralmente a Revolução
Farroupilha e o Rio Grande do Sul dos meados do século XIX como cenário. O livro, no qual se
baseou a minissérie, narra as aventuras de sete gaúchas da família de Bento Gonçalves, militar
e chefe da revolução que pretendia separar o sul do resto do País. Após o início do conflito,
Bento Gonçalves manda a esposa, filhas e tias para uma propriedade à beira do Rio Camaquã,
no interior. A força motriz desse épico são as gentes, os agentes da revolução, aqueles que lutaram
nos campos de batalha, e aqueles que esperaram nas estâncias, defendendo suas propriedades e
seus filhos (informação da editora).

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 1


Elias Eberhardt

GRUPO LANCEIROS NEGROS


Elias Eberhardt

GRUPO NÚCLEO DE ARTES PIRATINENSE


ROTA TURÍSTICA CAMINHO FARROUPILHA – SEBRAE/RS

A origem dessa idéia foi o arranjo produtivo local2 – APL Turismo na


Costa Doce – que abrange uma faixa do território gaúcho que vai de Por-
to Alegre a Chuí, ao longo da costa da Lagoa dos Patos e do Oceano
Atlântico, na chamada Metade Sul do Estado. O projeto é coordenado pela
técnica Vânia Fernandes, Coordenadora do Comitê de Turismo do
SEBRAE/RS. Tudo começou pela iniciativa das prefeituras destes municí-
pios que, no ano de 2002, pela necessidade de encontrar outras alternati-
vas para desenvolver economicamente a região, fizeram uma parceria
com o SEBRAE/RS a fim de realizarem um diagnóstico que identificasse
as potencialidades turísticas da área.
Em quase dois anos de trabalho, a equipe técnica do projeto APL Tu-
rismo na Costa Doce, lançado em agosto de 2002, percorreu milhares de
quilômetros buscando informações e focando o turismo como atividade
econômica geradora de emprego e renda, dando grande importância ao
levantamento dos aspectos culturais da região abrangida pelo projeto.
Neste amplo diagnóstico, um fato se destacou: existiam dificuldades de
os municípios trabalharem de forma integrada, portanto era importante fa-
zer um trabalho que unisse a região. Surgiu, assim, a questão de como
aproveitar a riqueza natural destes municípios e integrá-los pelo turismo
cultural, como fonte de renda e desenvolvimento socioeconômico.

UMA OPORTUNIDADE REAL

A Costa Doce, uma das mais belas regiões do Rio Grande do Sul, com
grandes lagos, lagoas e rios, possui também uma história magnífica,
pois nesse território aconteceram os grandes eventos político-militares da
história do extremo-sul brasileiro. A colonização, o povoamento, a defesa
das fronteiras do País, as grandes revoluções tiveram passagens marcan-
tes nesta região.
Aproveitar este potencial para desenvolver o turismo e, assim, criar em-
prego e renda na região foi um desafio assumido pelo SEBRAE/RS que as-
sinou contrato de parceria com 20 municípios da Metade Sul do Estado –

2
“É uma estratégia que permite o surgimento de ações próprias de uma abordagem coletiva capaz
de permitir uma adequada percepção da força econômica e social de um conjunto de pequenos
negócios em um determinado território. O arranjo produtivo local acontece de forma natural para
atender demandas específicas, oportunidades conjunturais e estruturais das economias regionais”
(SANTOS et al., 2003).

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 3


TURISMO E CULTURA

de Guaíba a Santa Vitória do Palmar –, e se propôs montar e realizar um


programa de apoio ao desenvolvimento do turismo, nascendo, desse
modo, o Projeto APL Turismo na Costa Doce.

“A proposta era trabalhar o desenvolvimento regional


focado no turismo”.
Vânia Fernandes, coordenadora do Comitê de Turismo do
SEBRAE/RS

A parceria entre as prefeituras e o SEBRAE/RS teve como objetivo a for-


matação de produtos turísticos que beneficiassem os empreendimentos lo-
cais e trouxessem maior número de turistas para a região. O foco de cada
município era a melhoria e a capacitação de seus empreendedores, para
tal as prefeituras começaram a apoiar financeiramente as ações de diag-
nóstico e qualificação de produtos visando à possibilidade de gerar tra-
balho e renda e de reorganizar o turismo regional.

“O diagnóstico mostrou que o aporte cultural era muito forte.


A estratégia era a ligação de tudo isto. Então, um dos
pressupostos foi formatar um produto regional”.
Vânia Fernandes, coordenadora do Comitê de Turismo do
SEBRAE/RS

A equipe técnica de consultores defendia a integração entre os diversos


municípios trabalhando a identidade local. Foi assim que a idéia de criar
uma rota turística focada na Revolução Farroupilha teve início no final de
2002, quando ainda não se falava na minissérie que teve grande impacto
na mídia, “A Casa das Sete Mulheres”.

“Quando andava de táxi, perguntava aos taxistas o que era um turista


na sua percepção, e eles respondiam: ‘ Turista é aquele que me pede
para ir a um CTG [Centro de Tradição Gaúcha]’. Um dia eu estava
em Camaquã e uma professora disse que a história da Revolução
Farroupilha estava ali. Por que então não resgatar este nacionalismo
gaúcho? O mercado estava precisando de uma coisa assim”.
Carlos Augusto Alves, 2004

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ROTA TURÍSTICA CAMINHO FARROUPILHA – SEBRAE/RS

UM POUCO DE HISTÓRIA: A REVOLUÇÃO FARROUPILHA

“Nunca esqueceis que sois os administradores do melhor patrimônio


das gerações que vos devem suceder, que esse patrimônio é a
Liberdade e que estais na obrigação de defendê-la à custa de
vosso sangue e de vossa existência”.
Bento Gonçalves da Silva, manifesto de 25 de setembro de 1835

A Revolução Farroupilha ocorreu nos primeiros anos do século XIX. A


riqueza da indústria do charque propiciou aos fazendeiros o desen-
volvimento comercial da região, mas foi ameaçada pela política do Impé-
rio brasileiro, que aumentou os impostos sobre as charqueadas e sobre
outros produtos da economia rural, o que fez com que os proprietários
das charqueadas se aliassem aos fazendeiros e liderassem um movimento
rebelde contra o Império. Assim, neste cenário histórico, composto por di-
versos municípios gaúchos, nasceu parte dos valores que passam de ge-
ração em geração e são resgatados pelo tradicionalismo do povo gaúcho.
Prédios e sítios em Guaíba, Camaquã, São Lourenço, Cristal, Piratini, Pe-
lotas, Rio Grande e São José do Norte testemunham a riqueza gerada pela
indústria do charque, motivo básico do conflito e de vários combates en-
tre os farroupilhas e os soldados do Império do Brasil. Figuras como Ben-
to Gonçalves, Gomes Jardim, Domingos José de Almeida, Corte Real,
Onofre Pires, David Canabarro, General Neto, Giuseppe e Anita Garibaldi,
Joaquim Teixeira Nunes e seus Lanceiros Negros, John Griggs, Caxias e
Grenfell estão presentes na cultura e na memória dos habitantes da região.
O movimento rebelde teve como um de seus ideólogos o intelectual
pelotense e homem de negócios Domingos José de Almeida. Pelotas per-
maneceu fiel ao Império, embora tenha sido invadida pelos farroupilhas
duas vezes, mas de seu comércio e de sua sociedade saíram homens e
dinheiro para engrossar e sustentar as tropas do general Bento Gonçal-
ves. Também da riqueza de Domingos José de Almeida e da sua senzala,
onde moravam centenas de escravos, nasceu um dos corpos de comba-
tentes mais destacados da Revolução Farroupilha, os Lanceiros Negros,
que foram liderados pelo coronel Teixeira Nunes. Ao caminhar pelas ruas
do centro de Pelotas, entre os prédios da época, não é difícil imaginar
que naquelas salas, naqueles sobrados, os prósperos homens do co-
mércio e do campo se reuniam para conspirar nos primeiros anos da
década de 1830.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 5


TURISMO E CULTURA

Outro município de destaque durante a revolução foi Piratini. Esta ci-


dade é a principal referência da Revolução Farroupilha, não só por ter
sido a primeira capital da República Rio-Grandense, a partir de 10 de no-
vembro de 1836, mas porque também foi palco de inúmeros episódios
da guerra contra o Império e vários homens nascidos no município par-
ticiparam da luta.
Guaíba teve destacada participação na epopéia farroupilha quando,
em 1835, a Estância das Pedras Brancas serviu como quartel-general e
ponto de partida do contingente farrapo para a tomada de Porto Alegre.
O cenário composto pela casa de Gomes Jardim e o Cipreste Histórico –
hoje patrimônio gaúcho – serviu a um dos momentos mais importantes
da Revolução Farroupilha, ali os líderes farroupilhas planejaram a toma-
da da Capital da Província.
Em 18 de setembro de 1835, José Gomes de Vasconcellos Jardim, co-
mandando aproximadamente 60 homens, partiu da Praia da Alegria, atra-
vessando o Guaíba em barcaças. A tropa se reuniria aos demais
revolucionários, liderados por Onofre Pires (primo de Bento Gonçalves),
para darem início à invasão de Porto Alegre, no célebre 20 de setembro de
1835, e ganhar a primeira batalha da Revolução Farroupilha, o combate da
Ponte da Azenha, em Porto Alegre.
Após essa conquista, Bento Gonçalves, na manhã de 21 de setembro,
também atravessou o Guaíba. Sua entrada em Porto Alegre foi triunfal,
sendo o cortejo militar aplaudido e saudado pela população, que se en-
contrava nas ruas. Estava assim iniciada a mais longa guerra civil da his-
tória do País. Proclamada a República Rio-Grandense, em novembro de
1836, Gomes Jardim assumiu a presidência.
Ao acabar a Revolução Farroupilha, Bento Gonçalves seguiu para a Es-
tância do Cristal, em Camaquã. Sua última participação política foi uma car-
ta que enviou ao General David Canabarro, comandante do exército
republicano, no dia 22 de fevereiro de 1845, três dias antes da assinatura
do acordo de paz. Informava que não iria a Ponche Verde porque estava
doente, que apoiava as decisões dos líderes republicanos e recomendava
a urgência da pacificação honrosa.
Portanto, esses lugares e suas edificações fazem parte do cenário onde
ocorreram os fatos marcantes da revolução e onde viviam seus protago-
nistas. Mas não era suficiente que alguns poucos gaúchos soubessem dis-
to. Era preciso criar uma forma de perpetuar a história e divulgar para
um número maior de pessoas estes acontecimentos, e, por outro lado,

6 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


ROTA TURÍSTICA CAMINHO FARROUPILHA – SEBRAE/RS

tornava-se importante a valorização desses lugares para sua manutenção,


propiciando o desenvolvimento econômico dessas regiões.
Como então aproveitar a riqueza natural desses municípios e integrá-
los por meio do turismo cultural como fonte de renda e desenvolvimento
socioeconômico?

UMA ESTRADA LONGA E TORTUOSA A SER PERCORRIDA

C erca de 50 consultores dos mais diferentes ramos de atividade, entre


historiadores e jornalistas, técnicos de turismo, administradores, nutri-
cionistas, arquitetos, engenheiros, economistas e especialistas em navegação
e piscicultura, foram mobilizados para realizar um levantamento completo
das potencialidades da região, mapeando as atrações paisagísticas, históricas
e sociais, trabalhando na formatação de projetos, capacitação de empreen-
dedores e mobilização da comunidade e de autoridades para criação de um
clima favorável ao desenvolvimento dos negócios na área do turismo.
O trabalho de criação de um produto turístico regional que valorizasse os
aspectos históricos das localidades envolvidas com a Revolução Farroupilha
foi a solução encontrada pelo grupo de consultores do SEBRAE/RS, que
trabalhou ativamente sob a liderança de Vânia Fernandes e coordenação
técnica de turismo da consultora Mirella Pacheco. A idéia surgiu como um
produto do APL Turismo na Costa Doce a partir do diagnóstico realizado
pelos consultores do SEBRAE/RS, que, com historiadores e a própria co-
munidade, identificaram os aspectos relevantes e os empreendimentos
que poderiam participar da construção de um roteiro turístico.

“A identidade local estava focada no patrimônio material, cultural


e na história da região, onde se sobressaía a Revolução Farroupilha.
Era então importante a criação de um projeto regional que aproveitasse
tudo isso”.
Vânia Fernandes, coordenadora do Comitê de Turismo do SEBRAE/RS.

A Rota Turística Caminho Farroupilha foi planejada para abranger sete


municípios – Guaíba, Camaquã, São Lourenço do Sul, Pelotas, Piratini, Rio
Grande e São José do Norte –, onde são mais fortes e marcantes os vestígios
históricos deixados pela Revolução Farroupilha (1835-1845). Esses locais
evocam os principais lugares que foram testemunhas vivas das grandes dis-

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 7


TURISMO E CULTURA

putas de interesses entre produtores gaúchos e o governo imperial. Por ter


sido a Revolução Farroupilha uma revolta de cunho sociopolítico e econô-
mico de longa duração, no Estado existem não apenas cidades, mas tam-
bém inúmeros pontos geográficos estrategicamente determinantes para o
desfecho do conflito.
A Rota Turística Caminho Farroupilha foi lançada em setembro de 2003,
envolvendo 35 consultores do SEBRAE e aproximadamente 25 empreen-
dedores, as prefeituras de sete municípios e outras instituições locais. O ca-
minho a ser trilhado para efetivação desta parceria foi árduo e existiam
inúmeras dificuldades. Uma delas residiu no fato de que, embora se reco-
nhecessem as potencialidades de cada município acerca da temática, era
preciso articular os envolvidos.
Inicialmente o jornalista Danilo Ucha fez a pesquisa histórica e um levan-
tamento bibliográfico, que resultou num longo texto sobre toda a região,
base de informação para os consultores. Depois, as consultoras Maria Lucia
Souto e Naida Menezes complementaram os documentos relativos a cada
município. Posteriormente, foram realizadas reuniões nas comunidades, in-
centivando a participação dos empreendedores locais na idéia de criação de
uma rota turística integrada cujo foco era a Revolução Farroupilha.
O primeiro obstáculo enfrentado para efetivação do produto Rota Turís-
tica Caminho Farroupilha foi o individualismo dos municípios, principal-
mente na região sul do Estado. Para quebrar as resistências da composição
de um grupo integrado numa ação conjunta, a estratégia utilizada foi a de
identificar produtos culturais de cada região que caracterizassem o municí-
pio e contassem a história vivida naquela localidade. A primeira reunião re-
gional ocorreu em Guaíba, em julho de 2003, e foram convidados os
secretários de turismo dos municípios envolvidos e os empreendedores in-
tegrantes da rota regional. Uma das preocupações na formatação da rota foi
sua aceitação pelo Movimento do Tradicional Gaúcho (MTG), que aprovou
a idéia de desenvolver um produto que tivesse logomarca, material promo-
cional e espaço na mídia com o objetivo principal de divulgar o “tradicio-
nalismo” gaúcho e desenvolver aquelas localidades.
Para o entendimento do processo histórico vivido na região, foram rea-
lizadas oficinas culturais contando fatos da Revolução Farroupilha. Após a
primeira sensibilização, dois consultores do SEBRAE/RS, Carlos Augusto
Alves e a arquiteta Ceres Storchi, responsáveis pela museografia da rota,
percorreram a região formatando a rota a ser visitada pelos turistas, que
mais tarde foi apresentada aos municípios envolvidos. Após este desenho

8 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


ROTA TURÍSTICA CAMINHO FARROUPILHA – SEBRAE/RS

inicial, a equipe técnica de consultores do Projeto APL Turismo Costa Doce


analisou a proposta e definiu as diretrizes técnicas para a formatação do
produto. O passo seguinte foi levar esta proposta de trabalho para os em-
preendedores, prefeituras e comunidades envolvidas.

“[...] houve a revalorização do tradicionalismo gaúcho


e o entendimento do que era a Revolução Farroupilha”.
Consultora externa Mirella Pacheco, coordenadora técnica
de turismo – APL Costa Doce.

A rota constitui-se numa importante opção para o turismo, caracteriza-


da por uma tendência no mundo inteiro, que é a busca por destinos turís-
tico-culturais e históricos. A abordagem do SEBRAE/RS em trabalhar
regionalmente a temática farroupilha se justificou pelo próprio mercado tu-
rístico, que orienta para esta forma de organização dos produtos turísticos,
bem como pelas diretrizes da abordagem em arranjos produtivos e pelo
Programa Nacional de Regionalização Turística. Na implantação desta rota,
foram contempladas as diferentes relações entre as atividades e instituições
culturais e toda a cadeia produtiva que move o turismo.
A Rota Turística Caminho Farroupilha foi desenhada de forma a mostrar
os locais onde começou a Revolução Farroupilha, os homens e mulheres
que nela se envolveram, os fatores econômicos e políticos que alimentaram
o conflito e o legado de uma década de lutas, que contribuiu para a forma-
ção do Rio Grande do Sul contemporâneo. São apresentadas as estâncias
dos líderes farroupilhas, destacando-se o papel das mulheres no movimen-
to, as roupas de época e as lides campeiras. As charqueadas são símbolos
de riqueza e poder de um período que lançou os fundamentos da econo-
mia e da política rio-grandense. Os antigos sobrados e palacetes, de arqui-
tetura austera e forte, ainda guardam os passos de políticos e guerreiros que
construíram uma identidade para o sul do Brasil.

“É como um quebra-cabeça. Se o turista fecha o quebra-cabeça,


ele conhece a Revolução Farroupilha”.
Carlos Augusto Alves, consultor externo.

Em cada localidade de visitação, foram instalados painéis que divulgam


resumidamente os fatos acontecidos naquele local e a temática que está
sendo tratada no município visitado. Esses painéis foram confeccionados

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 9


TURISMO E CULTURA

pelas consultoras Maria Lúcia Souto, historiadora, Maria Tereza Custódio,


museóloga, e Ceres Storchi, arquiteta, sendo que o custo da impressão fi-
cou por conta das prefeituras dos municípios e dos empreendedores locais.
Essas edificações já existiam e muitas já recebiam visitação de turistas,
mas a idéia de congregar os esforços dos diferentes municípios e de seus
empreendedores em ações integradas, que possibilitassem a exploração de
seus aspectos históricos mais relevantes, deu-se inicialmente pela parceria
do SEBRAE/RS, das prefeituras dos sete municípios envolvidos e dos em-
preendedores. Todos os empreendimentos da Rota Caminho Farroupilha
eram pequenos negócios; muitos deles, inicialmente, com uma atuação in-
formal ou isolada no mercado turístico regional e que, após a criação da
rota, mudaram sua estratégia de atuação.
Um dos grandes diferenciais desta rota é a complementaridade que
existe entre os envolvidos, bem como a rede entre os atores locais – atra-
tivos, serviços turísticos, artesãos, fornecedores de produtos coloniais, en-
tidades de apoio, prefeituras, comércio e serviços de apoio ao turista.

“Nosso trabalho é buscar o que é bom no local e melhorar”.


Lucia Brunelli, consultora externa.

Todas as ações propostas para as comunidades e empreendedores en-


volvidos na Rota Farroupilha foram implantadas de forma participativa e
com uma abordagem sistêmica. Foram realizadas reuniões quinzenais e/ou
mensais nas comunidades, além de reuniões com os fóruns regionais de
turismo.
Todos os atrativos turísticos e os empreendimentos que participam da
Rota Caminho Farroupilha fazem parte do Projeto APL Turismo na Costa
Doce, com exceção do Parque Bento Gonçalves, em Cristal, de responsa-
bilidade da Secretaria Estadual da Cultura.
Para divulgação do produto, foi realizado um Famtour com 11 agências
de turismo da região e do centro do País em novembro de 2003. Nessa eta-
pa os empreendedores contribuíram com hospedagem e alimentação e o
SEBRAE/RS providenciou transporte para o grupo de turistas. Em dezembro
de 2003, foram realizadas as reuniões para comercialização do produto com
atuação das consultoras Rita Michelon e Regina Cardona.
Houve a criação de um pool de operadoras de turismo para comercia-
lização do produto ao cliente final. Uma estratégia inédita no sul do País
foi usada, que é a comercialização em conjunto pelas diversas operadoras.

10 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


ROTA TURÍSTICA CAMINHO FARROUPILHA – SEBRAE/RS

O pool de operadoras gaúchas, formado por sete empresas, investiu entre


eventos de lançamento e promoção nos jornais de maior circulação no
Estado, aproximadamente R$ 7,5 mil, demonstrando seu interesse na nova
alternativa turística como um novo produto de destaque no Rio Grande do
Sul. Para divulgar a rota para o mercado turístico foi realizado um evento
de lançamento comercial, promovido pelo pool de operadoras gaúchas, em
março de 2004, no Palácio Piratini, e foram convidadas diversas empresas
do ramo turístico. O evento teve como tema a cultura gaúcha e como car-
dápio a gastronomia campeira.
Um diferencial nas ações de capacitação dos empreendedores da Rota
Caminho Farroupilha foi a oficina para monitores de atrativos/empreen-
dimentos turísticos ocorrida em setembro de 2003. Esta capacitação deu-
se por meio de uma visita técnica em que os participantes conheceram
todos os principais pontos turísticos do roteiro. A visita foi acompanha-
da por consultores especializados em turismo, condução de roteiros e ex-
pressão corporal. Cada monitor recebeu uma apostila com os textos da
pesquisa histórica, para qualificar o atendimento e indicar como os temas
seriam abordados durante a visitação turística. Nessa oficina itinerante, os
participantes puderam compreender melhor a questão da complementa-
riedade entre os locais de visitação do caminho farroupilha.
A rota turística, de cunho histórico-cultural, apresenta as mais modernas
técnicas de museografia, com painéis explicativos dos fatos históricos cor-
respondentes a cada local visitado e de fácil compreensão. Em cada muni-
cípio foram criados roteiros internos com guias especializados, passeios ou
apresentações de grupos artísticos. Por se trabalhar a especificidade temá-
tica da Revolução Farroupilha, foi muito importante que todas as ações
promovidas pudessem enriquecer o panorama cultural na região, sem per-
da da identidade local. O curso de capacitação para os agentes de viagem
locais, chamados de receptivos, focalizou o que era o produto Rota Cami-
nho Farroupilha, para que todos em cada município tivessem informações
acerca da complementaridade do roteiro.
No entanto, alguns fatos ainda precisavam ser trabalhados, como o
preço do pacote turístico. As agências desejavam um preço mais baixo
para facilitar a comercialização, por outro lado, os receptivos queriam
maior valorização do produto, alegando sua característica única. Outro
aspecto era o preço cobrado por cada município pelo ingresso das atra-
ções turísticas, pois não existia um padrão na seqüência da rota. En-
quanto em um município o ingresso era de R$ 2,00, em outro custava

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 11


TURISMO E CULTURA

R$ 8,00, o que representava uma diferença muito grande entre os pre-


ços cobrados.

“Nós colocamos este valor, por não ter noção do que os outros cobravam”.
Miriam Leão, Secretaria de Turismo de Guaíba.

Numa segunda etapa, após a definição de quais seriam os empreen-


dimentos que comporiam o roteiro turístico, as ações voltaram-se para a
qualificação dos atores. Os consultores fizeram contato com os empreende-
dores de cada município para desenvolver um plano de ação em prol de
melhorias. O trabalho com os empreendedores englobou cursos de capaci-
tação e palestras informativas, focando desde o que eles deviam dizer ao
turista até o papel do seu estabelecimento no roteiro.
Uma das preocupações iniciais foi a melhoria na qualidade dos servi-
ços, tanto na hotelaria como na gastronomia.
Houve melhorias no processo de qualificação dos serviços a partir de
oficinas com duração de cinco horas-aula sobre segurança alimentar e
gastronomia básica, em que se reuniram dois municípios próximos e se
montaram turmas de empreendedores interessados e envolvidos na Rota
Caminho Farroupilha. Ocorreram três oficinas entre os meses de janeiro
a agosto de 2003, com aproximadamente 70 empreendimentos partici-
pantes. Outra oficina oferecida pelos consultores foi a de gastronomia
campeira, que formou 17 turmas neste mesmo período, totalizando 304
empreendimentos capacitados.

“A charqueada tem uma comida simples, sem muita variedade,


e nosso trabalho foi diversificar os pratos oferecidos, sem
descaracterizar a comida campeira”.
Kátia Tanielian, consultora externa.

Os empreendedores receberam, ainda, consultoria técnica do


SEBRAE/RS nas seguintes áreas: turismo (arquitetura, patrimônio cultural,
náutico, turismo, turismo rural); design (desenvolvimento de logomarcas
e rótulos); gestão financeira.

12 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


ROTA TURÍSTICA CAMINHO FARROUPILHA – SEBRAE/RS

ANÁLISE DOS RESULTADOS

U ma atividade que se beneficiou diretamente da criação do produ-


to Rota Caminho Farroupilha foi o artesanato, que recebeu aporte
técnico do Programa SEBRAE de Artesanato3. Definiu-se que uma das
potencialidades de alguns municípios era o artesanato e este precisava
ser fortalecido.
Incentivados pela criação da Rota, os centros de artesanato desenvol-
veram produtos específicos sobre os fatos históricos Foi proposto que as
crocheteiras de Camaquã, por exemplo, utilizassem uma antiga técnica, a
grampada, para produzir seus artefatos e trabalhassem a identidade regio-
nal por meio de uma ação de design de produtos em crochê, grampada
e macramé, que têm como diferencial a brasilidade e a valorização cultu-
ral da atividade artesanal. Os atores principais desta ação são 25 artesãs
de quatro municípios da região centro-sul do Estado (Barra do Ribeiro,
Tapes, Arambaré e Camaquã) que compõem a Cooperativa Regional Cro-
cheteiras da Costa Doce.
A possibilidade de criar suvenires para os turistas gerou peças artesa-
nais que ilustram episódios da história do Rio Grande do Sul. Em Tapes,
por exemplo, o grupo de artesãos Brincadeira de Pano, com o aporte téc-
nico do SEBRAE/RS, desenvolveu a coleção de bonecas Indumentária Far-
roupilha com 12 personagens da Revolução; em Pelotas, foram criados
trechos das charqueadas em estojos e caixas de madeira; em Piratini, a ar-
quitetura e detalhes da história foram representadas em objetos de couro
e madeira; em Arroio Grande, teares produzem peças em lã tingidas
artesanalmente, com fios mais finos e leves, que possam ser vendidas para
turistas de qualquer região do País. As Crocheteiras da Costa Doce, por
meio de oficinas de qualificação, visitas técnicas e participação em even-
tos, como Fimec, RS Moda e Couro Visão, e em parceria com SEBRAE/RS,
passaram a trabalhar para o fortalecimento do artesanato da região, valo-
rizando o resgate de técnicas e o trabalho em cooperação.
O município de Piratini, tombado pelo patrimônio histórico, desenvol-
veu como atrativo um city tour local, em que é apresentada uma peça tea-
tral com vestimentas da época e os personagens atuam dentro das casas
que foram palco dos acontecimentos. A representação é feita por agenda-
mento e os recursos arrecadados são o pagamento dos artistas. Esse grupo
3
Esse programa tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento sustentável do setor artesanal
como estratégia de promoção cultural, econômica e social dos territórios.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 13


TURISMO E CULTURA

de teatro amador foi formado a partir da criação da Rota e seus integrantes


foram treinados pelos consultores do SEBRAE/RS. Além deste empreendi-
mento, foi criada uma loja de bombachas, vestimenta típica do gaúcho, que
são vendidas aos turistas como lembrança da viagem.
Em São Lourenço do Sul, foi aberto um café colonial para recepcionar os
turistas do Caminho Farroupilha. O barco Cuter Minuano, em Rio Grande,
conta o evento da guerra náutica travada pelos revolucionários e os impe-
rialistas. Foi totalmente reformado, os tripulantes trajam-se com vestimentas
da época e foram colocados quadros que retratam momentos da batalha.

“A idéia da Rota foi muito boa. O roteiro abriu novas oportunidades,


o pessoal conhece mais o barco e aluga para passeios. O problema
é a sazonalidade, a demanda está pequena por causa do inverno.
O número de turistas da rota diminuiu bastante”.
Danúbio Amorim Roig, proprietário do Cuter Minuano.

Os municípios precisam vislumbrar mais as oportunidades que se


criam a partir desta proposta. Em Guaíba, por exemplo, uma loja chama-
da Bolicho instalou-se para vender lembranças aos turistas a partir da
criação da Rota.
Em Camaquã, além dos negócios ligados diretamente à Rota Caminho
Farroupilha, os empreendedores locais passaram a explorar turisticamen-
te a criação de javali, emas e os hotéis-fazenda. Também foi organizada
uma visitação à Fundação Barbosa Lessa, que permite verificar a inserção
do turismo cultural como forma de desenvolvimento regional do município.

“O Caminho Farroupilha foi resultado de uma parceria e


proporcionou uma valorização muito grande da região.
A própria comunidade não valorizava. Foi um resgate da história”.
Iolanda Oliveira Gutheil, agência receptiva de Camaquã.

Resumidamente, as principais ações realizadas foram:


• lançamento institucional, realizado em setembro de 2003;
• participação no estande da Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer do
Estado do Rio Grande do Sul na ABAV 2003;
• participação no estande do SEBRAE/RS no Festival de Turismo de
Gramado de 2003;
• Famtour Promocional – viagem de familiarização, realizada em

14 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


ROTA TURÍSTICA CAMINHO FARROUPILHA – SEBRAE/RS

novembro de 2003, pelo SEBRAE/RS e pelos parceiros locais, direciona-


da à imprensa estadual e do centro do País, além de às principais agên-
cias de viagens do Estado;
• reportagens em diversos jornais do sul e sudeste do País;
• Famtour Comercial, pool de operadoras gaúchas em fevereiro de 2004;
• lançamento comercial do Caminho Farroupilha e formação do pool de
operadoras gaúchas, em Março de 2004;
• oficina cultural para operadoras turísticas;
• estande com a temática farroupilha na Feira Nacional do Doce (Fenadoce),
de Pelotas.

Em uma primeira avaliação detectou-se que a Rota completa ficou cara


comparativamente a outros pacotes turísticos semelhantes, tendo em vista as
várias opções de locais de visitação deste produto; além disso, o tempo des-
pendido no percurso completo (5 dias) era demasiado longo, o que inviabi-
lizava a venda para um público amplo. Verificou-se que as agências que
vendiam partes do roteiro tinham melhores retornos do que as agências que
vendiam somente o roteiro completo, então, foi incorporado o conceito de
que a rota poderia ser feita em 2, 3, 4 ou 5 dias, conforme o interesse do
cliente, que seleciona as cidades que deseja visitar. Segundo dados das agên-
cias de viagens, o roteiro de 2 dias era o mais comercializado.
A estratégia para continuação do projeto vislumbrou algumas ações para
ampliar o público atingido pelo produto, como projetos de articulação com
escolas, ampliação dos horários de atendimento das atrações – que só tra-
balhavam com agendamento prévio – e alternativas de programação das ati-
vidades para atenuar os fatores de sazonalidade nas atividades turísticas.

“É preciso melhorar a Rota em termos de atrativos.


Nos meses de mais frio, por exemplo, baixou um pouco a procura”.
Miriam Leão, Secretaria de Turismo de Guaíba.

Além disso, as soluções trabalhadas deverão oferecer produtos e opor-


tunidades que justifiquem a cobrança de ingresso ou venda de serviços.
A necessidade desta visão de sustentabilidade precisaria ser trabalhada
nas comunidades para que se estabeleça toda uma rede de consciência
participativa. É necessário sensibilizar a comunidade para a compreensão
e o compromisso com a difusão do projeto, além do desenvolvimento da
cadeia produtiva como um todo.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 15


TURISMO E CULTURA

Outra proposta sugerida foi a de avaliar a Rota, comparando a viagem


de inicial feita pelos consultores e parceiros e a atual, a fim de verificar o
que melhorou e o que ainda precisa de atenção.

“Na maioria das vezes, Guaíba é o último ponto da rota,


então podemos perceber como as pessoas gostam.
Fazem elogios ao roteiro e muitos relembram a visitação a Piratini.
Mas é preciso manter certo padrão na Rota como um todo”.
Miriam Leão, Secretaria de Turismo de Guaíba.

CONCLUSÃO

A Rota Caminho Farroupilha foi uma idéia de sucesso e apresentou


resultados. Houve formação dos primeiros grupos de turistas orga-
nizados por agências de viagens e operadoras turísticas, bem como vi-
sitação de turistas individuais, que viajam por conta própria. Em alguns
locais se pôde registrar aumento significativo de visitantes, como na
Fazenda Sobrado, em São Lourenço do Sul. A fazenda oferece hospe-
dagem e visitação orientada, com demonstração das lides campeiras. A
visitação era o ponto fraco da receita dos empreendedores. Antes da
Rota Caminho Farroupilha, a Fazenda Sobrado quase não tinha grupos
para visitação, operando mais no serviço de hospedagem; após o lan-
çamento da Rota, o número de visitantes aumentou de 180 visitan-
tes/ano (base 2001 e 2002), para mil pessoas no período de setembro
de 2003 a março de 2004.
Percebeu-se também maior integração entre os empreendedores
que compõem a Rota, todos compreendem a complementaridade do
Caminho Farroupilha, o que constitui o grande diferencial desta expe-
riência. Esta integração deve ser trabalhada e fortalecida, para o seu
amadurecimento e sustentabilidade.
Foi feita uma proposta de criação de uma comissão técnica compos-
ta por empreendedores e entidades públicas e privadas para monitora-
mento da rota regional, para sua consolidação, bem como o controle de
qualidade dos serviços oferecidos aos visitantes. Existe a possibilidade
de que os próprios fornecedores de serviços façam o controle da de-
manda, realizando pesquisa de acompanhamento e definindo o perfil do
turista que escolhe este tipo de passeio. Outro ponto de contínua aten-

16 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


ROTA TURÍSTICA CAMINHO FARROUPILHA – SEBRAE/RS

ção é a integração das diferentes agências de turismo envolvidas, crian-


do uma comunicação de fácil acesso para comercialização conjunta.
O projeto que originou a Rota Caminho Farroupilha, denominado
APL Turismo na Costa Doce, esteve desativado durante o primeiro se-
mestre de 2004, mas foi retomado em julho do mesmo ano, dando con-
tinuidade a projetos de desenvolvimento regional por meio do turismo
cultural e histórico.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• Como você avalia a estratégia de aproveitar a riqueza natural destes


municípios?

• É possível desenvolver as regiões envolvidas por meio do turismo cultural?

• Como você avalia a continuidade do projeto e os problemas que fo-


ram enfrentados?

•Como esta experiência desenvolve a cadeia produtiva do turismo?

AGRADECIMENTOS

Diretoria Executiva do SEBRAE/RS: Deomedes Roque Tallini, José Claudio dos Santos, Susana Kakuta.

Coordenação Técnica: Vânia Fernandes, Zaira Sinara Cabreira.

Colaboração: Zaira Sinara Cabreira, Vânia Fernandes, Mirella Pacheco, Carlos Augusto Alves,
SEBRAE/RS.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 17


TURISMO E CULTURA

ANEXOS

ROTA CAMINHO FARROUPILHA E LOCAIS PARA VISITAÇÃO


LOCAIS DE VISITAÇÃO TEMA DA ABORDAGEM FORMA DE ABORDAGEM
HISTÓRICA
GUAÍBA - Desenho Estratégico - Painéis na Casa de
- Sítio Histórico (Cipreste Farrou- da Invasão a Porto Gomes Jardim
pilha e Casa de Gomes Jardim) Alegre (início da Revo- - Placa Interpretativa no Mi-
- Ruínas do Hospital Farroupilha lução Farroupilha) rante da Escadaria do Inferno
- Marco Farroupilha - Local da Morte de - Visita orientada
(Praia da Alegria) Bento Gonçalves ao Sítio Histórico
- Museu Municipal Carlos Nobre
CAMAQUÃ - Família de Bento - Painéis no Museu Zeca
- Estância da Figueira Gonçalves Netto e na Estância da
- Museu Zeca Netto - Papel da Mulher na Figueira
- City Tour Centro Histórico Revolução Farroupilha - Visita Orientada à Estância
e Cemitério (Túmulo da Figueira, com a Geoturs
da Dona Cayetana) Viagens e Turismo
- City Tour Centro
Histórico e Cemitério
CRISTAL – VIA ESTADO - Figura de Bento - Painéis sobre a Indumentá-
Gonçalves ria Farroupilha e Bento
- Indumentária Farroupilha Gonçalves
SÃO LOURENÇO DO SUL - Garibaldi e a - Painéis ou banners
- Casa do Turista Questão Náutica na Casa do Turista
- Fazenda do Sobrado - Lides Campeiras - Placa interpretativa
- Passeio de Barco ao lado do trapiche
- Passeio de barco
- Visita orientada à
Fazenda do Sobrado
PELOTAS - Aspectos Econômicos - Painéis Charqueada
- Charqueada São João e Sociais da Revolução São João
- Charqueda Santa Rita (charque)
- Lanceiros Negros
PIRATINI - República - Exposição permanente no
- Palácio da República Rio-Grandense Museu Histórico Farroupilha
Rio-Grandense - Arquitetura - Roteiro a pé pelo
- Centro Histórico - Aspectos Centro Histórico
- Casa de Garibaldi Administrativos
- Casa do General Neto - Paz Ponche Verde
RIO GRANDE - Maçonaria - Painéis no Museu Histórico
- Túmulo de Bento Gonçalves - Visita Orientada ao Túmulo
- Museu Histórico de Bento Gonçalves
- Barco Minuano
SÃO JOSÉ DO NORTE - Combates em São José - Painel no Museu Municipal
- Museu Municipal do Norte - Passeio de Barco
- Passeio de Barco - Resistência

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ROTA TURÍSTICA CAMINHO FARROUPILHA – SEBRAE/RS

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