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A obra
Narrado em terceira pessoa do singular, Casa de Pensão inicia com a chegada do jovem
maranhense Amancio ao Rio De Janeiro, que para ali se muda no intuito de estudar
medicina na Corte. Chegando à cidade, Amâncio procura o Sr. Luís Campos,
comerciante, amigo de seu pai, que lhe oferece pouso no interior. O Sr. Campos era
casado com D. Maria Hortênsia, que não se mostra muito a vontade com a chegada do
menino à sua casa, mas que acaba aceitando a decisão do marido. Embora fosse mais
econômico, Amâncio não se mostra muito satisfeito com o fato de se hospedar na casa
da família, pois ele fora para a Capital com o sonho de também viver a noite, as
mulheres, de viver plenamente os seus 15 anos.
Sobre a trajetória de Amâncio, ele apanhava do pai na infância e tinha uma aparência
frágil. Na escola, ele parecia soltar todos a repressão de casa. Até que um dia ele bate
num menino. O seu professor bate em Amâncio, em contrapartida, e ainda diz para o
menino que apanhara também bater no seu algoz. Amâncio não aceita a vingança e
discute com o professor, dando-lhe uma bofetada. Além de apanhar na escola, ao chegar
em casa, ele também apanha do pai. Este acontecimento faz com que Amâncio se torne
medroso, apesar das carícias, cuidados e proteção da mãe, D. Ângela (ou talvez por isso
mesmo).
Então, no Rio de Janeiro, Amâncio sentia-se só, até encontrar um colega (nem tão
íntimo) do Maranhão, Paiva Rocha. Eles se encontram na rua, e Amâncio o convida
para almoçar. No caminho do Hotel dos príncipes, os dois encontram dois amigos de
Paiva Rocha, Salustiano Simões e João Coqueiro. Os quatro vão almoçar. Amâncio
mostra-se maravilhado com a vida na Corte, com o almoço, com o cardápio em francês.
E não economiza neste primeiro almoço, pagando a conta para todos. João Coqueiro, ao
fim da refeição, convida Amâncio para visitá-lo. Entretanto, ele é levado, já bêbado, por
Paiva Rocha (que também lhe pede dinheiro) para a sua república, onde Amâncio
vomita e passa a noite. No dia seguinte, o ambiente degradado marca o jovem
maranhense. Ao sair ele encontra uma empregada e tenta agarrá-la, sendo repelido.
Amâncio mostra-se confuso, pois não queria permanecer na prisão da casa de Campos,
mas como sentia-se atraído por D. Hortênsia, pensava em ficar por lá. Amâncio, ao
chegar na casa da família, encontra uma carta de João Coqueiro, convidando-o a visitá-
lo. Ele vai.
João Coqueiro era filho de uma rica senhora que se casara com um homem devasso e
desregrado, que batia em João Coqueiro, fazia-o comer e até mesmo beber, para torná-lo
homem de verdade (!). Com a morte do pai, a mãe abre uma casa de pensão, mas ela
também morre em seguida. João Coqueiro e Amélia, sua irmã, vão morar, então, com
uma amiga da família, Madame Brizard, mulher de 50 anos. Com a convivência, João
Coqueiro e Mme. Brizard decidem se casar e reabrir a casa de pensão que fora da mãe
do moço.
João Coqueiro, após conhecer Amâncio, comenta com a esposa que possivelmente
encontrara um marido para a irmã, já com 23 anos. A menina, informada por Mme.
Brizard, concorda com a possibilidade.
Assim, Amâncio vai à casa de João Coqueiro. Lá, ele conhece a família, mais os filhos
de Mme. Brizard, o menino César e Nini, mulher com problemas mentais; e os
moradores da pensão, tendo destaque o casal Lúcia e Pereira. João Coqueiro mostra as
vantagens de viver ali: comida, lanches, carinho. Amâncio decide aceitar a oferta e, já
naquela noite, dorme ali. Ao acordar, ele agarra o braço de uma menina que trabalhava
ali. Enquanto isso, Mme. Brizard combinava a estratégia de Amélia: ela tinha que
parecer tímida ao rapaz.
Neste ínterim, também Amélia cuida de Amâncio, mas a pensão começa a perder seus
hóspedes devido à doença de Amâncio, e este começa a sustentar a casa. E quando ele
pensa em sair da casa, Amélia diz amá-lo. Em função de sua doença, Amâncio acaba
indo para Santa Teresa, com a sua nova família, é claro. Lá, ele passa a ter uma vida de
homem casado com Amélia, com a conivência de João Coqueiro, que fingia não ver o
que se passava. Este sentimento aumenta quando Amâncio perde seu pai e herda sua
parte da herança. Aproveitando-se na ocasião, Amélia pede uma casa a Amâncio, que
reluta, mas cede. Por esta época, Amâncio é aprovado nos testes do primeiro ano da
faculdade, e numa festa em comemoração do fato, ele tenta agarrar D. Hortênsia, mas
esta recua.
Como Amâncio não havia ainda visitado a mãe, D. Ângela lhe escreve, pedindo uma
visita, mas Amélia se impõe e não o deixa partir, dizendo que ela poderia ir junto, após
o casamento. Amâncio recua, a vida de homem casado o oprime. Por esta época,
Amâncio escreve uma carta se declarando a D. Hortênsia, mas Amélia a encontra e
mostra ao seu irmão. Durante uma discussão sobre a viagem, Amâncio chama a família
de filantes e pensa em partir sem comunicá-los. Entretanto, João Coqueiro já havia se
preparado para isto.
Certo dia, quando Amâncio partiria para o Maranhão, já no cais, ele é detido pela
polícia, acusado por João Coqueiro de ter violentado sua irmã. Com o fato, o Sr.
Campos pensa em defendê-lo, mas desiste ao receber a carta que Amâncio escrevera
para sua esposa.
Apesar das testemunhas falsas, Amâncio é absolvido do crime. João Coqueiro, então,
passa a ser chacoteado por estudantes, que o acusavam de exploração, de viver na casa
que de Amâncio. Desesperado com a pressão de Mme. Brizard e humilhado com a
situação, João Coqueiro procura Amâncio num quarto de hotel e o mata. Ironicamente,
aqueles que apoiavam Amâncio durante o processo, automaticamente passam a
simpatizar com a ação de João Coqueiro.
[editar] Personagens
*Amâncio: preguiçoso jovem, que não gostava de estudar e sim apenas de festas e
badalações;
*João Coqueiro: dono da pensão, quer que Amâncio se case com Amélia;
*Mme. Brizard: esposa de João Coqueiro, apóia o romance de Amélia com Amâncio;
*Lúcia e Pereira: hóspedes da casa de pensão; Lúcia também é uma das pessoas que
querem tomar o dinheiro de Amâncio, e Pereira é seu marido, que não faz nada na vida;
Análise da obra
A obra foi baseada num fato real: a Questão Capistrano, crime que sensibilizou o Rio de
Janeiro em 1876/77, envolvendo dois estudantes, em situação muito próxima à da
narração de Aluísio Azevedo. Neste livro, o autor estuda as influências da sociedade
sobre o indivíduo sem qualquer idealização romântica, retratando rigorosamente a
realidade social trazendo para a literatura um Brasil até então ignorada.
Autor fiel à tendência naturalista difundida pelo realismo, Aluísio Azevedo focaliza,
nesta obra, problemas como preconceitos de classe, de raças, a miséria e as injustiças
sociais. Descreve a vida nas pensões chamadas familiares, onde se hospedavam jovens
que vinham do interior para estudar na capital. Diferente do romantismo, o naturalismo
enfatiza o lado patológico do ser humano, as perversões dos desejos e o comporta-
mento das pessoas influenciado pelo meio em que vivem.
Estilo
Linguagem
Não se pode dizer que a linguagem do romance é regionalista; pelo contrário, o padrão
da língua usada é geral e o torneio frasal, a estrutura morfo-sintática é completamente
fiel aos padrões da velha gramática portuguesa.
Como Machado de Assis, Aluísio Azevedo também usa alguns recursos desconhecidos
da língua portuguesa do Brasil, principalmente na língua oral. Assim, por exemplo, o
caso da apossínclise (é uma posição especial do pronome oblíquo que não escutamos no
Brasil, mas é comum até na língua popular de Portugal). São exemplos de apossínclise:
"Há anos que me não encontro com o amigo." (Há anos que não me...) "Se me não
engano, você está certo." Em Casa de Pensão essa posição pronominal é um hábito
comum.
Foco narrativo
Temática
Personagens
Mme. Brizard - (D. Júlia Clara Pereira, mãe da moça e do rapaz, assassino) é uma
viúva, dona da casa de pensão:
João Coqueiro - Janjão - (Antônio Alexandre Pereira, irmão da moça Júlia Pereira e
assassino de João Capistrano. Foi também absolvido).
Dr. Teles de Moura - (Dr. Jansen de Castro Júnior) advogado da família da moça.
Enredo
Por convite de João Coqueiro, co-proprietário de uma casa de pensão, junto com a sua
velhusca mulher Mme. Brizard, muda-se para lá. É tratado com as maiores preferências:
os donos da pensão queriam aproveitar o máximo de seu dinheiro e ainda arranjar o seu
casamento com Amélia, irmã de Coqueiro. Um sujo jogo de baixo interesses, sobretudo
de dinheiro. Naquele ambiente, tudo concorreria para fazer explodir a super-
sensualidade do maranhense.
"Ele, coitado, havia fatalmente de ser mau, covarde e traiçoeiro: Na ramificação de seu
caráter e sensualidade era o galho único desenvolvido e enfolhado, porque de todos só
esse podia crescer e medrar sem auxílios exteriores."
O pai de Amâncio morre no Maranhão. A mãe chama o filho. Ele pretendo voltar, logo
que terminarem os seus exames de medicina. Era preciso que o filho voltasse para vê-la
e ver os negócios que o pai deixara. Mas o rapaz está preso à casa de pensão e a Amélia:
este o ameaça e só permite sua ida ao Maranhão, depois do casamento. Amâncio
prepara sua viagem às escondidas. Mas, no dia do embarque, um oficial e justiça
acompanhado de policiais o prende para apresentação à delegacia e prestação de
depoimentos. Amâncio é acusado de sedutor da moça. João Coqueiro prepara tudo: o
caso foi entregue ao famigerado e chicanista Dr. Teles de Moura. Aparecem duas
testemunhas contra o rapaz. Começa o enredado processo: uma confusão de mentiras,
de fingimentos, de maucaratismo contra o jovem rico e desfrutável para os interesses
pecuniários de Mme. Brizard e marido. Há uma ressonância geral na imprensa e, na
maioria, os estudantes se colocam ao lado de Amâncio. O senhor Campos prepara-se
para ajudar o seu protegido, mas Coqueiro lhe faz chegar às mãos uma carta
comprometedora que Amâncio escrevera à sua senhora, D. Hortênsia. E se coloca
contra quem não soube respeitar nem a sua casa...
"Amâncio passava de braço a braço, afagado, beijado, querido, como uma mulher
famosa." Todo mundo olhava com curiosidade e admiração o estudante absolvido. E lhe
atiravam flores, Ouviam-se vivas ao estudante e à Liberdade. Os músicos alemães
tocaram a Marselhesa. Parecia um carnaval carioca.
Em outro plano, Coqueiro, sozinho, vendo e ouvindo tudo. A alma envenenada de raiva.
Em casa o destampatório da mulher que o acusava de todo o fracasso. As testemunhas
reclamavam o pagamento do seu depoimento. Um inferno dentro e fora dele. Chegaram
cartas anônimas com as maiores ofensas. Um homem acuado...
A opinião pública começa a flutuar, a mudar de posição: afinal, João Coqueiro tinha
lavado a honra da irmã...