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O COSMOS O HOMEM E A EVOLUÇÃO

Mistérios

“Não há nada oculto que não deva ser manifestado, disse Jesus, e o que foi murmurado deve ser gritado
sobre os telhados.” (“As Origens da Cabala” de Eliphas Levi)

Desde o primeiro instante em que o ser humano se viu confrontado com algo que não compreendia, algo
que não estava ao alcance da sua mente e do seu discernimento, isto passou a constituir um “mistério”
na sua vida. Mas nesse momento, aconteceu uma coisa mais misteriosa ainda: a de que o homem tinha
tomado consciência de que havia coisas que não era capaz de compreender. Este foi um passo
gigantesco na evolução do ser chamado homem. A partir dessa altura passou a considerar “mistério”
todo o acontecimento que sucedia fora do seu controle, ultrapassava o seu entendimento e cuja origem
lhe era totalmente desconhecida.

Creio que nos primeiros tempos, quando o homem começou a caminhar sobre a Terra, esses “mistérios”
que hoje têm explicações bem simples seriam o vento, que o enchia de frio e o enregelava, ou o
refrescava nos dias de calor, ou ainda lhe destruía os abrigos e arrancava as árvores quando soprava
forte demais; seria a chuva que caía dos céus e o encharcava, lhe inundava a caverna; seria o trovão que
ribombava com grande estrondo, assustando-o, fazendo-o encolher-se de medo; seria o fogo que
acompanhava o trovão, atravessava as nuvens num relâmpago ofuscante e caía na terra, às vezes
queimando árvores e outra vegetação próxima, às vezes matando gente e animais.

Estes seriam os “mistérios” daquele tempo com que o homem, ainda mal consciente de si e do meio
ambiente que o rodeava, tinha que se defrontar no dia a dia difícil da sobrevivência. Mas havia mais,
eles foram crescendo em número e variedade à medida que o homem foi ganhando cada vez mais
consciência. Havia a sucessão dos dias e das noites; o despontar da luz na aurora que o enchia de
coragem e contentamento; o percurso poderoso do Sol na abóbada celeste, que lhe reflectia a sombra, a
qual também era para ele um “mistério”; o crepúsculo que o atemorizava e lhe anunciava os terrores que
o acompanhavam durante as noites; havia ainda a alternância das estações, o calor do Verão e o frio e as
neves do Inverno.

Tudo isto e talvez mais algumas coisas, como por exemplo as fases da Lua, devia ocupar uma parcela
importante das preocupações do homem daqueles tempos remotos. De capacidades mentais ainda
reduzidas, este ser nascente para a tomada de consciência das coisas não conseguia encontrar uma
explicação satisfatória que o sossegasse, mas também não podia ocupar muito tempo com isso, que as
árduas condições de vida na altura lhe exigiam todo o seu esforço e atenção. Então, começou a atribuir a
todos estes fenómenos uma origem mágica, ainda não uma origem divina, porque nessa época, ainda
não tinha concebido o conceito de divindade. Para ele, todos estes fenómenos eram criados pela magia
dos seres que ele não via, forças que ele desconhecia e temia.

Quando aprendeu a fazer o fogo incendiando pequenas hastes secas pela fricção de duas lascas de sílex,
verificou que podia, a partir dali, dispor dele sempre que quisesse, não tinha mais necessidade de o
aproveitar quando caía do céu e fazia arder uma árvore próxima, descobrindo desta maneira o seu
enorme poder de destruição mas também que podia ser uma protecção eficaz contra os animais ferozes,
além do seu calor o poder aquecer nas noites frias. O fogo passou então a constituir a sua primeira
divindade, o seu primeiro objecto de adoração. Apesar de o poder produzir pelas suas próprias mãos, o
fogo era algo de muito misterioso que o homem não conseguia compreender (ainda hoje existe uma
certa dificuldade...) e assim, esta primeira divindade alojou-se por longo tempo no seu íntimo como um
grande “mistério”.
À medida em que o homem foi crescendo em consciência e capacidade de entendimento das coisas,
todos estes mistérios iniciais, ou quase todos, foram sendo resolvidos. Encontrou algumas explicações
para a maioria deles, que passaram a ser menos temidos. Contudo, um certo temor manteve-se no seu
íntimo pois, apesar de compreendidos não deixaram de continuar a ser uma ameaça constante à
segurança de pessoas e bens, e no fundo, o “mistério” permanecia. Este temor interior do qual a razão se
envergonha, sobreviveu até aos dias de hoje, pois todos sabemos que, no início deste milénio e no auge
desta poderosa e científica civilização, o homem continua a temer as forças da natureza, manifestem-se
elas por tempestades ou convulsões telúricas. Sabe como e porque elas se desencadeiam, mas não se
podem controlar.

Entretanto, o homem foi crescendo, foi tomando cada vez mais conhecimento das coisas, outros
“mistérios” vieram ocupar o lugar dos antigos, sobrepondo-se às simples questões do meio envolvente e
abrangendo um mais vasto e profundo equacionar de preocupações que o homem actual passou a
considerar essenciais e que são, afinal, os “mistérios” de hoje. O homem tem passado o tempo a tentar
eliminar os mistérios que encobrem a sua existência mas, de cada vez que consegue reduzir um deles a
uma equação matemática ou a uma teoria filosófica, outros surgem, desafiando as suas capacidades,
como no mito grego da hidra de nove cabeças, em que cada vez que se cortava um delas, duas outras
nasciam no seu lugar.

Estes mistérios são tão importantes para o homem que são a origem e a razão de ser de todas as
religiões que existiram e que existem, escondem-se por detrás de todas as filosofias e sustentam todas as
organizações místicas, secretas ou iniciáticas. São o alimento de toda a busca do homem, mesmo que
não o saiba ou disso não tenha consciência, ao encontro de si mesmo. E quando alguém afirma que o
seu objectivo pessoal é atingir o conhecimento (leia-se iluminação), esse objectivo não é outro senão a
tentativa de desvendar esses “mistérios”, presumindo-se que aquele que atinge o estado de iluminado
passa a dispor de todo o conhecimento e tudo deixa de constituir mistério para ele. Não duvidamos que
isto seja verdade mas, desafortunadamente para o homem, quer pelo seu estado evolutivo ainda
embrionário, quer pelos apegos que o dominam, são muito raros os seres que, na história da humanidade
terão atingido esse estado.

Os “mistérios” que o homem tanto tem procurado desvendar e tanto tem ocultado de outros homens,
isto é, ao mesmo tempo que busca esses segredos os oculta dos outros, quando se acha possuidor de
certas “chaves” que poderiam abrir as portas da revelação, são todas aquelas questões que o homem
coloca a si mesmo, as perguntas que residem no seu íntimo e para as quais tem procurado sempre as
respostas. Estas perguntas podem ser assim resumidas:

O que é a vida?

O que é e como surgiu a Criação?

Qual a origem do homem e qual a razão de ser da sua existência?

Deus existe?

O que fazemos aqui na Terra?

Naturalmente que estas perguntas podem ser colocadas de outra maneira ou abranger outros aspectos,
mas seja como for que se coloquem, o fundo das questões é sempre o mesmo, que é o de saber o que é
que, na verdade, nós, seres humanos, somos e o que fazemos aqui; o que é o universo e como foi criado.
À falta de melhor, guiando-se literalmente por palavras de textos antigos que dizem que o homem foi
criado à semelhança de Deus, o homem tem-se entretido a antropomorfizar Deus na assunção de que os
textos dizem a verdade e, invertendo o seu sentido, então Deus é semelhante ao homem, só que divino e
perfeito.
Desde os tempos mais remotos que há notícia de que certos homens, ou certas escolas, ou certos
colégios, supostamente, eram detentores destes e de muitos mais segredos, os quais eram severamente
ocultados e o seu acesso absolutamente restrito àqueles que mostrassem ter o mérito de os conhecer e
oferecessem garantias de os guardar apenas para si e de só os transmitir da mesma forma que os
recebiam, escolhendo criteriosamente entre os candidatos ao conhecimento dos “mistérios” de que eram
guardiães. O motivo aparente porque isto assim acontecia, era o de que a maioria do género humano não
estavam preparada para os receber nem tinha condições de os entender. Mas o verdadeiro motivo, era o
de que os ensinamentos destes segredos continham em si determinado poder, e este, nas mãos de
pessoas incapazes de o entender na sua verdadeira essência, podia tornar-se muito perigoso. Por outro
lado, também era muito perigoso para aqueles que o possuíam, e a história está cheia de exemplos de
gente que foi perseguida, encerrada em prisões, assassinada, queimada em fogueiras, apenas porque
mostravam saber coisas que contrariavam as normas, o poder e a moral vigentes na época.

Mas o melhor processo de ocultar eficazmente alguma coisa, é mostrá-la aos olhos de todos, numa
forma diferente da sua verdadeira forma ou numa linguagem propositadamente hermética tornando-a
ilegível no seu verdadeiro significado para aqueles que não possuírem as “chaves” para a sua
decifração. Assim, nem tudo foi ocultado, muita coisa ganhou a luz do dia sob a forma de parábolas, de
símbolos, de lendas, de textos contando histórias, por vezes quase infantis, tornando-se por esta via
insondáveis ao “profano” que se limitava a fazer deles uma leitura literal. O caso mais exemplar será o
da Bíblia, que ninguém com um mínimo de senso poderá achar que ela deverá ser entendida na sua
forma literal, e é por esta razão que ela tem sido objecto de inumeráveis interpretações. Muitas das
personagens e dos acontecimentos ali relatados não correspondem a nenhuma realidade histórica, são
apenas símbolos, metáforas de algo mais profundo que se pretende transmitir. É interessante verificar
que as figuras mais proeminentes da Bíblia parecem rodeadas de uma auréola de mistério acerca dos
dados concretos sobre a sua existência ou a sua acção. Por exemplo, não se sabe, rigorosamente, quando
é que Moisés deixou o Egipto à frente do povo hebreu, se foi no tempo do faraó Akhenaton, se no do
faraó Mernepthah ou Ramsés II; não existe nenhuma referência histórica sobre a existência do rei
Salomão, apenas a Bíblia o refere; a missão cumprida por Jesus, o Cristo, não aparece referida em
nenhum registo histórico.

O que proponho neste trabalho não é a resposta às questões que afligem o homem nem tão pouco a
decifração dos mistérios que se abrigam no íntimo de todos os que buscam saber, que querem saber,
pois isso estará sempre de maneira inviolável no coração de cada um, e cada um encontrará, porventura,
como corolário dessa busca, a sua própria resposta, a qual não será igual a nenhuma outra, mas será de
certeza a sua verdade.

O que proponho, é um voo de ave, uma vista de cima sobre questões como o Cosmos, a Criação, o
Homem, a Humanidade. Uma meditação ou um sonho em conjunto, convicto de que cada um tem a sua
própria visão destas coisas, na certeza de que ninguém pode ensinar nada a ninguém, e de que o homem
não tem nada a aprender, mas sim a relembrar.

Relembremos então...

O COSMOS, O HOMEM E A EVOLUÇÃO 2 -

As Fontes
“ (...) Onde estava o silêncio? Onde os ouvidos para percebê-lo? Não; não havia Silêncio nem
Som: nada, a não ser o Incessante Alento Eterno, para si mesmo ignoto.” (Da Estância II do
Livro de Dzyan sobre Evolução Cósmica. In “A Doutrina Secreta” de Helena Blavatsky.)

Uma das coisas que mais tem preocupado o homem de quase todos os tempos, é saber qual
a sua origem, como foi criado, de onde vem, para onde vai, saber afinal qual o sentido da
vida. Por acréscimo, e porque o homem tem a noção de que uma coisa não poderia existir
sem a outra, também deseja saber o que é o Universo, qual a sua origem e como se deu, no
seu conjunto, a Criação. Como veremos mais adiante, o homem nem sempre se terá
preocupado com estas questões porque, nas suas primeiras existências sobre a Terra tinha
esse conhecimento, estava em contacto com os «deuses», participava da Criação de uma
forma integral. Terá perdido esta condição de comunhão íntima com os «deuses» quando se
deu aquilo a que se convencionou chamar “A Queda”. Veremos também o que nos parece o
que terá sido essa “Queda”, como terá acontecido e porquê.

Para a abordagem de um assunto desta natureza, a ciência actual, apesar das suas
formidáveis conquistas no campo das experiências materiais, não nos diz quase nada, limita-
se a desenvolver algumas poucas teorias que se vão desmentindo a si mesmas à medida em
que novas descobertas vão sendo feitas ou novas teorias aparecem, pondo em causa as
anteriores. Na verdade, a ciência anda um pouco perdida, porque há lacunas que não
consegue cobrir e há coisas que não consegue demonstrar nem explicar. É um caso
paradigmático aquele em que os astrónomos modernos atribuíram, «definitivamente»,
determinada antiguidade ao Universo contada em biliões de anos. Pouco depois, outros
cientistas chegaram à conclusão de que alguns fósseis encontrados na Terra, depois de
analisados ao carbono 14, mostravam ser mais antigos em idade do que o próprio Universo, o
que, naturalmente, constituía uma impossibilidade, porque a Terra não podia existir sem o
Universo. Ou o teste do carbono 14 estava errado ou os astrónomos tinham-se enganado no
cálculo que haviam feito.

O homem não é um ser puramente material, o homem é bem mais do que o corpo que lhe
serve de invólucro na sua vida na Terra. Neste pressuposto, também todo o Universo não
deve ser encarado e analisado apenas pelo ponto de vista material. A ciência oficial não nos
oferece nada de conclusivo acerca da Criação, nem o poderia fazer pois limita-se aos
aspectos materiais e não considera que possa haver outros. Assim, preferimos recorrer às
fontes antigas, textos e tradições que nos chegaram até hoje e cuja linguagem cifrada
continua a constituir um verdadeiro quebra-cabeças, um teste à nossa capacidade e
habilidade de os entender.

Ao recorrermos às fontes antigas, estamos bem cientes de que elas podem ter sido voluntária
ou involuntariamente adulteradas ao longo do tempo. Voluntariamente para se adaptarem à
vontade dos poderes terrenos e de certas religiões, involuntariamente porque sabemos que
“quem conta um conto acrescenta um ponto”, isto é, que dificilmente alguém consegue
transmitir algo que recebeu na sua pureza original. Apesar dos eventuais erros que elas
contenham, são elas, basicamente, que nos vão servir de guia neste trabalho. Vamos
também recorrer à tradição esotérica, que não se encontra em nenhum manual, mas se acha
espalhada por um grande número de obras escritas.

A primeira fonte de que dispomos é a Bíblia. Ela é composta por dois grandes livros, o Antigo
e o Novo Testamento. Isto significa, em nosso entender, que este último, o Novo Testamento,
veio para substituir o Antigo, mas parece que não foi assim, pelo menos dentro do
cristianismo, que continua a considerar os dois.
No Evangelho de S. João, um dos quatro Evangelhos que faz parte do Novo Testamento, diz-
nos logo no início que no princípio era o Verbo, que este estava com Deus e que Deus era o
Verbo. Algumas edições actuais da Bíblia substituíram o Verbo por “Palavra”, o que é um erro
grave pois o Verbo não é a Palavra, é bem mais do que isso.

O primeiro conjunto de livros do Antigo Testamento, é chamado de Pentateuco, porque eles


são cinco e foram, hipoteticamente, escritos por Moisés. Mas Moisés, se é que existiu, não
deve ter escrito coisa nenhuma, pois para alguns pesquisadores a sua história foi decalcada
da história de Sargão I, rei da Acádia, na Baixa Mesopotâmia, que terá vivido uns duzentos a
trezentos anos antes da presumida existência de Moisés.

O primeiro livro, o Génesis, diz que Deus criou o mundo em seis dias, e ao sétimo descansou:
“No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia; as trevas estavam
sobre a face do abismo e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas. Deus disse: «faça-se
luz», e fez-se luz. Deus viu que a luz era boa. Deus separou a luz das trevas: à luz chamou
«dia» e às trevas chamou «noite». Houve uma tarde e uma manhã: foi o primeiro dia.” O dia
aqui não significa o dia terreno de vinte e quatro horas. O dia refere-se a um período mais ou
menos longo, de alguns milhões de anos, senão mais.

Um dos personagens mais misteriosos da Bíblia chama-se Enoch, pois não se sabe
exactamente quem foi. A confusão é estabelecida no Génesis: nos versículos 4-17-18, ele é
filho de Caim e pai de Irad; nos versículos 5-18-21, ele é filho de Jared e pai de Matusalém;
no versículo 5-24 diz que ele andava com Deus e desapareceu, porque Deus o arrebatou.
Este último repete-se no Novo Testamento, na carta de S. Paulo aos Hebreus, 11-5. Ou se
trata de duas figuras diferentes ou é a mesma, e então a própria Bíblia se contradiz.
Presume-se que ele tenha escrito um livro, chamado precisamente "O Livro de Enoch”,
considerado apócrifo, o que quer dizer que foi rejeitado de fazer parte da Bíblia. Parece que a
sua versão mais antiga é em língua semita etíope, mas há outras versões em aramaico e
hebreu que se diz serem as verdadeiras, parte das quais foram encontradas nas ruínas de
Qumrã e portanto, terão pertencido aos essénios. Ora estas últimas terão sido escritas entre
o século 1º e 2º antes de Cristo e não se sabe quem as escreveu, não foi de certeza o Enoch
referido no Génesis.

Seja como for, este livro de autoria misteriosa é dividido em sete partes e inclui muito do que
diz o Génesis, numa forma diferente, sendo uma das partes o que podemos chamar de
apocalíptica, um prenúncio do que mais tarde viria a ser o Apocalipse de S. João. Enoch
descreve-nos como Deus lhe conta como fez a Criação: “Nas partes mais baixas, ordenei que
as coisas visíveis descessem do invisível, e Adoil desceu muito grande, olhei-o e ele tinha um
ventre de grande luz. E eu disse-lhe: parte-te, Adoil, e deixa que o visível saia de ti. E ele
partiu-se e uma grande luz saiu dele. E eu estava em meio à grande luz; e como a luz se faz
da luz, nasceu uma grande era, e mostrou toda a criação, que eu havia pensado em criar. E
eu vi que era bom.”

Existe um livro muito antigo, considerado o mais antigo dos livros, do qual teria sido transcrito
o mais antigo documento hebreu referente à sabedoria oculta, o Siphrah Dzeniouta. Esse
livro, de que parece existir apenas um único exemplar, não se sabe onde, chama-se “O Livro
de Dzyan”, está escrito em forma de estâncias e contém algumas vinhetas. Numa dessas
vinhetas, mostra a “Essência Divina emanando de Adão (Anthropos), à maneira de um arco
luminoso que passa a formar um círculo e, depois de chegar ao ponto superior da sua
circunferência, a “Glória Inefável” retrocede e volta à Terra, levando no seu vórtice um tipo de
humanidade superior. À medida em que mais se aproxima do nosso planeta, a emanação faz-
se mais densa e escura até que, ao tocar a Terra, é negra como a noite.
O “Rig Veda” hindu, o livro mais sagrado da Índia, fala-nos assim de como terá sido o início
de todas as coisas:

“Não existe nada: nem o claro céu,

Nem ao alto a imensa abóbada celeste.

O que tudo encerrava, tudo abrigava,

E tudo encobria, que era? Era das águas

O abismo insondável? Não existia a morte,

Mas nada havia imortal. E separação

Também não existia entre a noite e o dia.

Só o UNO respirava em SI mesmo e sem ar:

Não existia nada, senão ELE. E ali

Reinavam as trevas, tudo se escondia

Na escuridão profunda: oceano sem luz.

O germe, que dormitava em seu casulo,

Desperta ao influxo do ardente calor

E faz então brotar a Natureza una.”

O Siphrah Dzeniouta que, como dissemos acima talvez seja o documento hebreu mais antigo,
chama o Criador de Elohim: “No começo (Bereschit), Elohim criou o céu e a terra. E Elohim
disse: que a luz seja feita, e a luz foi feita. E Elohim viu que a luz era boa.”

A Cabala (ou Kabbalah) mostra-nos a Criação através da Árvore Sefirótica, também


conhecida como Árvore da Vida, explicando que o mundo manifesto emerge do mundo não
manifesto. Para a Cabala, a Criação é o resultado da emanação divina através das várias
Sefiras, vindo do En Sof, o mundo não manifesto, descendo até se fixar em Malkhut, o mundo
manifestado na matéria. No dizer dos cabalistas, Deus não existe. Deus é! Deus está para
além da existência. Deus está para além de qualquer ideia que possamos formar na nossa
mente e, desta forma, evita-se a tentação de representar Deus como algo semelhante a nós,
ou que nos seja familiar. Deus é “Ayin”, que quer dizer “Coisa Alguma”. A Criação acontece
quando “Alguma Coisa” surge no meio da infinitude do En Sof para uma realidade não
manifesta, oculta em total imobilidade e silêncio absoluto. Para alguns cabalistas, este é o
“Lugar Sem Fim”. Desse lugar sai a vontade do En Sof, que se contrai, concentra ou irradia,
para permitir que o mundo manifesto emirja do não manifesto.

Poderíamos continuar a consulta de fontes antigas, como por exemplo as cosmogonias


caldeias e chinesas, ou as lendas incas, ou ainda as lendas celtas. Todas elas nos diriam
mais ou menos a mesma coisa, ainda que por outras palavras e com outros nomes. Mas isso
poderia tornar-se fastidioso. Resta-nos a posição da ciência oficial dos nossos dias. Para
esta, tudo teria tido início num chamado “Big Bang”, isto é, toda a matéria contida no Universo
estaria contraída num ponto minúsculo, ponto este que teria o peso incomensurável de toda a
matéria existente no Universo, que em determinada altura, não se sabe bem porquê, teria
explodido e iniciado um movimento de expansão, formando gradualmente todas as galáxias
com o seu incontável número de estrelas, planetas e outros astros.

Por incrível que pareça, esta teoria do “Big Bang” baseada apenas em pressupostos de
natureza material, confirma no essencial o que toda a tradição antiga nos diz sobre o
momento primeiro da Criação – que tudo terá começado em determinada altura, num
determinado ponto. No entanto, ninguém explica onde estaria contido esse ponto minúsculo
que explodiu, porque esse ponto, considerando que o fenómeno teve apenas uma origem
material, com um peso e submetido a uma pressão que não podemos sequer imaginar, teria
que estar em algum lugar. A matéria já existia, concentrada nesse ponto. A não ser que a
explicação seja outra, que não havia matéria, que não havia nenhum ponto minúsculo, que
não havia nada “nesta dimensão” e, simplesmente, a Criação se deu através dessa famosa
explosão, que aconteceu de forma repentina, num ponto qualquer do espaço, ponto esse que
não existia antes e num espaço que também não existia, pois só passou a existir depois da
explosão.

Confuso? Talvez, mas é precisamente isto que os textos mais antigos nos dizem, aos quais a
teoria do “Big Bang” não veio acrescentar nada, pretende apenas explicar as coisas sob o
ponto de vista exclusivamente material.

Hoje fala-se muito de “buracos negros” no espaço, com uma tão grande capacidade de
atracção que podem atrair tudo a si, até a própria luz. Mas esta questão dos “buracos
negros”, ao contrário do que toda a ciência reivindica, começou por ser apenas uma teoria
antes de ser demonstrada na prática, ou seja, que a ciência lançou a teoria sem a poder
demonstrar experimentalmente ou por registos fidedignos. Esta teoria baseia-se na teoria da
relatividade de Einstein e foi desenvolvida em 1916 por dois astrónomos alemães. Somente
em 1994, através de um telescópio lançado para o espaço, o Hubble, os astrónomos
puderam suspeitar, apenas suspeitar, a primeira evidência de um “buraco negro”. Sendo
assim, e se eles existem, porque não pensarmos que a Criação se tenha dado através de um
“buraco negro invertido? Quero dizer, em vez de atrair toda a matéria, luz, radiação, de cá
para lá, o teria feito de lá para cá. Penso que seja uma hipótese muito fraca, porque não vejo
bem como um “buraco negro”, se é que existe mesmo, pudesse criar outros “”buracos negros”
em sentido contrário como aqueles que, aparentemente, existem no Cosmos. No entanto... a
hipótese do “buraco negro” faz lembrar as trevas de onde se terá dado a ignição inicial, de
onde se fez luz.

A existência das trevas antes do primeiro momento de tudo coloca para mim uma outra
questão. Todos os rosacruzes conhecem uma frase que diz mais ou menos isto: “...a luz não
veio das trevas, porque as trevas não podem dar origem a coisa alguma.”

Esta frase encerra um ensinamento muito profundo, pois as trevas correspondem ao “não-
ser”, à não existência, ao nada. As trevas não podem conter a luz, porque elas não contêm
nada e portanto, também não podem originar nada. A luz ter-se-á originado nas trevas e não
das trevas. Isto faz-nos lembrar de novo a Árvore Sefirótica da Cabala e a região acima da
primeira Sefira, a Kether, chamada de En Sof, a “Coisa Alguma” de onde terá saído a vontade
para as emanações. Seja em que ponto for que nos coloquemos nessa Árvore Sefirótica, nós
só podemos ter consciência do que é manifestado, portanto, das emanações. O que se passa
para além dessas emanações é para nós completamente desconhecido, são as trevas no
sentido em que não conseguimos conceber na nossa mente nenhuma espécie de fenómeno.
É o absoluto desconhecido, por isso, para nós, são as trevas, o que não quer dizer que sejam
de facto trevas.
Embora confirmando, de certo modo, o que a tradição antiga nos diz sobre como se terá dado
a Criação, a ciência de hoje não nos esclarece de forma convincente sobre o assunto,
limitando-se a estabelecer algumas teorias e deixando no ar algumas lacunas muito difíceis
de preencher. No que se refere ao homem, naturalmente que descartamos completamente a
teoria de Darwin da evolução das espécies porque, como veremos adiante, o homem não é
uma das muitas espécies criadas, mas sim, um ser totalmente diferente, constituindo ele
próprio um reino à parte entre os reinos da natureza.

Independentemente de certos erros cometidos no passado por motivos de ordem religiosa,


em que princípios do conhecimento fundamental foram completamente adulterados para
transformar o homem no centro de toda a Criação, que de facto o é, mas não no sentido que
deu origem a essas aberrações, à completa deturpação das leis e princípios universais, a
ciência tem vindo a confirmar ao longo do tempo tudo o que os antigos sabiam.
Exemplificando, os gregos conheciam e desenvolveram teorias acerca do átomo e da energia
electromagnética. Como sabemos, isto só veio a ser comprovado nos últimos dois séculos.
Os signos do Zodíaco eram do conhecimento dos egípcios, dos caldeus, dos hebreus e dos
hindus, o que demonstra que eles conheciam as leis de gravitação e o movimento dos astros.

Socorrendo-nos dos textos antigos, da tradição oculta, podemos talvez aí encontrar certas
“chaves” que nos forneçam alguma luz sobre como se terá formado a Criação e saber quem é
o homem e como ele apareceu e tem evoluído ao longo das eras, desde o princípio, e
esperar, que um dia destes, a ciência venha confirmar alguns dos conceitos que, à partida,
nos podem parecer inverosímeis.

Esta compreensão, se alguma vez a chegarmos a atingir, talvez nunca a consigamos exprimir
inteiramente pois, como todo o conhecimento verdadeiro, ela reside no entendimento interior
de cada um. Mais do que um processo intelectual, trata-se de conseguirmos integrar dentro
de nós o significado e a simbologia que nos chega desde os tempos mais remotos.

Isto faz com que cada um crie dentro de si uma concepção individual acerca da Criação e de
como tudo se formou, e nenhuma destas concepções individuais é menos verdadeira que as
outras, pode ser apenas que alguns consigam ir um pouco mais longe que outros, mas a
essência é a mesma. Como tudo o que existe sobre a Terra, nenhum homem é igual a outro
homem, em todos os aspectos um homem é um universo único, e por isso, as suas
concepções acerca seja do que for, são também concepções únicas. Existe uma verdade
única que está para além da nossa capacidade de entendimento, essa verdade é aquilo que
cada homem procura dentro da sua verdade, que não é igual a nenhuma outra.

Obra: Manuel O. Pina

Pesquisa: Ir.'. José Carlos Lopes - M.'. I.'. - Or.'. de Curitiba – PR

O COSMOS, O HOMEM E A EVOLUÇÃO 3 -

O Verbo
“... a última Vibração da Sétima Eternidade palpita através do Infinito. A Mãe entumece e se
expande de dentro para fora, como o Botão de Lótus.” (Da Estância III do Livro de Dzyan –
Cosmogénese – “A Doutrina Secreta” de Helena Blavatsky)

O Evangelho de S. João diz-nos que no princípio era o Verbo, que o Verbo estava com Deus,
e que o Verbo era Deus. Nesta única frase que, aparentemente se refere a três coisas
distintas, mas que não o são – trata-se apenas de três formas diferentes do mesmo princípio
– encontramos três conceitos acerca da mesma e única verdade. Por um lado, que no
princípio nada mais existia senão o Verbo, pois se no princípio era o Verbo, quer dizer que
nada mais havia para além dele; por outro lado, o Verbo estava com Deus, portanto, o Verbo
era algo que pertencia a Deus ou que era parte de Deus; por fim, o Verbo é o próprio Deus,
ou seja, Deus manifesta-se através do Verbo, que é uma emanação de Si e que é, ao mesmo
tempo, Ele próprio.

Nós temos a tendência de associar o termo Verbo a uma emissão de som, à palavra
proferida. Talvez não estejamos muito errados, embora uma emissão de som possa ter várias
cambiantes, pode ser um som musical, uma palavra ou até um som inaudível aos nossos
ouvidos humanos. Para a tradição oculta, cujo conhecimento nos chega através das estrofes
do Livro de Dzyan, a emissão de um som ou de uma palavra é algo de muito responsável. A
palavra não existe por si, não é independente, ela é formada primeiro no pensamento e só
depois é que é proferida. Portanto, a palavra está intimamente associada ao pensamento que
a criou.

Pronunciar uma palavra é dar forma sensorial a algo que já existe no plano do pensamento, é
evocar esse pensamento e fazê-lo presente. Se a palavra que proferimos é um nome, neste
caso estamos a definir um Ser (uma entidade), e o expomos e condenamos, por meio da
emissão da palavra (ou Verbo) à influência de potências ocultas.

Nós somos criadores, no verdadeiro sentido do termo, quando pensamos, pois cada
pensamento é uma criação não só da nossa mente, como também de tudo aquilo que
sentimos e que leva à sua elaboração. Quando o transformamos em palavra passa a ser,
para cada um de nós, aquilo que Ele, o Verbo, o converte quando a pronunciamos.

A palavra é a arma mais poderosa que o homem tem tido, desde sempre, à sua disposição,
pois só através dela se conseguem mover multidões. Nenhuma guerra, nenhuma revolução é
possível, se não houver a palavra a motivar as pessoas e a uni-las num objectivo comum.
Nenhuma transformação da humanidade em termos políticos, económicos ou mesmo de
educação, foi feita senão pelo uso apropriado da palavra. Por exemplo, há quem diga que o
nazismo teve origem na profunda recessão económica que grassava na Alemanha na altura.
Isto é em parte verdade, essa recessão económica não fez mais do que colocar o povo
alemão em condições receptivas para a propaganda do regime que o levou a cometer as
maiores atrocidades, ou seja, as condições económicas tiveram um efeito de amplificação
sobre a força das palavras usadas na propaganda.

Assim, a palavra de cada homem é em si uma potência de energia e pode tornar-se,


inconscientemente para ele, em bênção ou maldição, dependendo do uso que dela faça. A
nossa ignorância acerca das propriedades da ideia e da matéria causa-nos frequentemente
problemas sérios, e pode tornar-se fatal para nós. As agências de publicidade sabem isto,
talvez de forma inconsciente ou empírica, mas sabem-no, e não há ninguém hoje em dia,
nesta sociedade de mercados, que não seja, de alguma maneira, condicionado pelas ideias
lançadas por elas. Veja-se o caso do azeite, produto apreciado desde a mais remota
antiguidade, que nos anos recentes foi lançado ao ostracismo como prejudicial para a saúde
porque era preciso lançar no grande consumo os produtos seus sucedâneos. Isto feito, toda a
gente consumindo óleos e margarinas das mais variadas origens, ressuscitaram-se as
qualidades do azeite, que afinal até é bom para o colesterol.

Através da palavra nós temos o poder de dispensar saúde ou malefícios de acordo com as
influências ocultas, unidas pela Sabedoria Suprema aos seus elementos, isto é, as letras que
os compõem e os números correspondentes a essas letras. Isto leva-nos à Cabala que, além
da Árvore Sefirótica também possui um alfabeto constituído por 3 letras mães ou matrizes, 7
letras duplas e 12 letras simples. Cada uma das letras possui um significado oculto, é uma
potência de energia e, conforme a sua associação, assim podemos retirar os efeitos que
desejarmos – a sua combinação produz efeitos mágicos. Isto acontece da mesma forma com
o sânscrito, que é também um alfabeto muito antigo, acontecia com o alfabeto egípcio e
acontece com todos os alfabetos, mesmo com o que usamos hoje no mundo ocidental.

Nós habituámo-nos, nesta sociedade de hoje transformada no reino da quantidade, a não dar
o devido valor às palavras que pronunciamos. Corrompemos o seu sentido, especulamos
com elas, para atingirmos objectivos nem sempre os mais correctos. A palavra tornou-se uma
mercadoria de uso corrente e a sua aplicação tem-se multiplicado até à infinidade. Os efeitos
deste uso indiscriminado e irresponsável não podem deixar de se fazer sentir, e talvez muitos
males que afligem a humanidade tenham origem, precisamente, no mau uso que fazemos do
seu poder. Cabe aqui lembrar uma das profecias do Papa João XXIII:

“Babilónia tem demasiadas línguas. Quebraste a cadeia, tu o sabes. Sabê-lo-ás até à morte.
Línguas diferentes para o sacramento, línguas diferentes para a palavra.

Hoje ela desapareceu.

Retiraste o exorcismo ao sacramento (pela palavra) e viste o rosto de Satanás.

Não basta falar.”

As vogais, por exemplo, são potências ocultas formidáveis. Todos conhecemos ou ouvimos
falar que os “mantras” cantados pelos brâmanes e, no geral, pelas religiões orientais, são
usados para produzirem determinados efeitos.

O Livro de Dzyan chama ao poder da palavra “a Legião da Voz”, uma referência às entidades
ocultas por detrás desse poder. Diz que esta Legião é o protótipo da “Hoste do Logos” ou
“Verbo”, o Princípio da Unidade Eterna. Isto é, por outras palavras, a mesma coisa que nos
diz o Evangelho de S. João, pois o Verbo é o “UM” manifestado, não eterno na sua presença
(porque é uma manifestação de Deus), mas eterno na sua essência (porque é Deus). Diz
ainda o Livro de Dzyan que a “Legião da Voz” está relacionada com o som e a linguagem,
como efeito e corolário da Causa – o Pensamento Divino. Quando a mente cria e evoca um
pensamento, o signo representativo deste existe gravado por si mesmo no campo astral, que
é o receptáculo de todas as manifestações da existência. O signo expressa a coisa, quer
dizer, a coisa já existe gravada na tela astral e o pensamento apenas a coloca em actividade;
a coisa é a virtude oculta do signo, ou seja, o efeito que o pensamento provoca ao despertar
a força oculta.

Falando ainda do Evangelho de S. João que, por algum motivo é considerado o mais
hermético, podemos afirmar que o Verbo é o Pensamento Divino, a Causa de todas as coisas
criadas. Podemos imaginar esse Verbo, emanado do Pensamento Divino, como uma vibração
primordial, uma vez que tudo quanto existe é vibração, tudo está em constante movimento, a
própria matéria é vibração, pois os átomos que a constituem e lhe dão forma vibram
permanentemente. Quando se diz que a matéria é vibração, evidentemente que não estamos
a falar de como ela se apresenta aos nossos olhos físicos, porque aí não conseguimos
observar nenhuma espécie de movimento, estamos a falar da sua constituição interna que é
feita de átomos e outras partículas.

É notável que a ciência ainda não tenha chegado a nenhuma definição concreta sobre o
comportamento dos átomos. A Física Quântica também não o conseguiu fazer, diz apenas
que o comportamento é uma coisa como nunca se viu, querendo com isto dizer que
transcende todas as leis da física conhecidas e testadas. Quanto ao sistema de um átomo,
formado por um núcleo e rodeado de electrões, como se fosse um sistema planetário, os
electrões não giram à volta do núcleo como os planetas à volta do Sol. Parecem antes
movimentar-se em ondas e não é possível saber-se a posição de um electrão num
determinado e exacto momento. Por outro lado, a matéria vista em termos atómicos é um
imenso vazio, pois os componentes dos seus átomos encontram-se a enormes distâncias
entre si. Se fosse possível aumentar o tamanho do núcleo de um átomo para 1 milímetro de
diâmetro, os seus electrões estariam a 100 metros de distância. Por isso, o mundo atómico é
um imenso e escuro vazio. Um átomo é tão pequeno que uma simples gota de água contém
milhões de milhões de milhões de átomos.

Apesar deste imenso vazio, uma força extremamente poderosa os mantém unidos e permite
formar todas as coisas a que chamamos matéria. Os electrões estão em permanente
movimento, seja sob a forma de ondas ou de outra qualquer, originando o que chamamos de
vibração, que abrange todo o Universo.

O Livro de Dzyan diz-nos, acerca do “Despertar do Cosmos”, que uma vibração freme através
do infinito, tocando o Universo inteiro e o germe latente nas trevas. Estas, as trevas, ao serem
tocadas por essa vibração primordial, irradiam luz, e esta luz vai originar o nascimento do
Cosmos.

Dito de outra maneira, isto é o mesmo que encontramos no Evangelho de S. João, no


Génesis, na tradição hindu e na tradição hebraica dos ensinamentos da Cabala, cuja Árvore
Sefirótica nos mostra a Criação como o resultado das emanações divinas. Um raio (supomos
de luz), vindo de cima, do En Sof (o mundo não manifestado), atravessa todas as Sefiras até
se condensar na matéria (Malkhut), que é a Sefira mais inferior e corresponde ao mundo
plenamente manifestado, ou seja, à existência da matéria. É interessante verificar que o outro
nome de Malkhut é Reino, e isto pode muito bem querer dizer que, apesar de colocado no
último grau da escala descendente, ele é o cume atingido por todo o processo da Criação – a
obra final de Deus.

O COSMOS, O HOMEM E A EVOLUÇÃO 4 -

A Luz

“As Trevas irradiam a Luz, e a Luz emite um Raio solitário sobre as Águas e dentro das Entranhas da
Mãe” (Da Estância III do Livro de Dzyan – Cosmogénese – A Doutrina Secreta de Helena Blavatsky)

Esta frase que transcrevemos de uma das estrofes do Livro de Dzyan incluído no volume que trata da
Cosmogénese (geração do Cosmos) da Doutrina Secreta, faz-nos lembrar, com um pouco de
imaginação, a gestação de um ser humano. A luz aqui é o princípio masculino que fecunda as águas que
estão dentro da mãe, princípio feminino. Portanto, a Criação dá-se pela união destes dois princípios.

A Luz aparece depois do Verbo se manifestar, é assim uma emanação do Verbo, e encontramo-la em
todas as descrições sobre o início da Criação:

 Para S. João, a Luz resplandeceu nas trevas, e estas não a compreenderam. Esta não
compreensão diz-nos que a luz não foi irradiada pelas trevas, mas sim nas trevas, dando a ideia
de que a luz era algo de estranho que surgiu no seu interior.

 No Génesis temos o conhecido “Fiat Lux” que Deus ordenou.

 Enoch diz que Adoil se partiu em dois e uma grande luz saiu dele.

 Na tradição hebraica é Elohim que diz para a luz ser feita.

 O Livro de Dzyan fala num arco luminoso e descreve a luz irradiando das trevas e emitindo um
raio solitário nas águas para dentro do Abismo da Mãe.

 Na Cabala, é um raio que desce do En Sof, atravessa as Sefiras até se fixar em Malkhut, e
presumimos que este raio é luminoso.

Mesmo no caso do “Big Bang”, pelo que podemos imaginar, deve ter sido seguido por uma luz
fulgurante pois, pelo que nós sabemos, existe sempre uma emissão de luz em qualquer tipo de explosão.

A Luz não é, objectivamente, o que nós percebemos através da nossa visão, como as trevas também o
não são. O que nós percebemos com os nossos sentidos objectivos é o que os antigos chamavam de
“Maya” (Ilusão), e sob este ponto de vista, a luz só existe como contraponto da sombra, porque sem esta
não a podíamos perceber. Na tradição rosacruz a luz e as trevas são uma e a mesma coisa, são idênticas
entre si, separadas apenas pela nossa mente. O ocultismo oriental ensina que as trevas são a única
realidade verdadeira, a base e a raiz da luz, porque sem as trevas a luz não poderia manifestar-se. Diz
ainda esta tradição oriental que as trevas são a luz subjectiva e absoluta.

Embora não partilhando inteiramente destes conceitos, compreendemos que a luz e as trevas podem ser
uma e a mesma coisa porque ambas estão contidas na unidade que é Deus, e que uma e outra são
manifestações de carácter diferente da Vontade Divina, a luz sendo o gerador positivo de todo o
movimento que deu origem à Criação, e as trevas a quietude absoluta, a não existência. A Igreja
Católica figura as trevas como a residência e origem do mal, por isso chama Trevas ao Diabo (Lúcifer),
o qual, no Livro de Job, é chamado de “Filho de Deus”, a estrela resplandecente da manhã. Ele foi o
primeiro Arcanjo que emergiu das profundezas do caos e foi chamado de Lux (Lúcifer), o “Filho
Luminoso da Manhã”, significando que era a luz da aurora da Criação. A Igreja sacrificou-o ao novo
dogma, transformando-o em Satã, porque era mais antigo e de mais elevada categoria que Jeovah e
portanto, para entronizar este como o Deus criador, teve que enviar Lúcifer para as profundezas das
trevas (inferno). Claro que isto é muito complicado de resolver, até para os teólogos, pois pressupõe a
existência de uma hierarquia na qual Jeovah não ocuparia o lugar mais elevado, como o faz supor toda a
doutrina católica.

Nas estâncias do livro de Dzyan, a Luz é representada como a Essência Radiante, o Luminoso Ovo, o
Radiante Filho do Dois, o OEAOHOO que brilha como o Sol, o Germe que é Aquele, e Aquele é a Luz,
a Chama Fria. São tudo formas herméticas de contar uma coisa que, de outro modo, talvez fosse bem
difícil de explicar, embora estas também não sejam nada fáceis. Como todos os livros antigos, este
também está escrito em forma de metáforas, para que possa ser lido e compreendido por quem possua
as “chaves” para o seu entendimento.
Procurando seguir as ideias transmitidas nestas estrofes herméticas, a Criação forma-se a partir do
Verbo, vibração primordial no oceano de trevas, que é o não manifestado, o que não se move, mas onde
a vida permanece num estado latente e, como diz S. João, a vida manifesta-se pela Luz. A Luz é o Raio
omnipresente e espiritual que fecunda o Ovo Divino e convoca a matéria cósmica (coágulos) para que
comece a sua série de diferenciações. Os coágulos são a primeira diferenciação, são a matéria a partir da
qual tudo se veio a formar, são a origem da Via Láctea e de todas as galáxias. Isto é o que diz o Livro de
Dzyan, e aqui aparece um termo importante: diferenciações.

Para podermos compreender como este termo é importante, basta-nos pensar que a Criação se fez a
partir do Um, da Unidade, onde tudo estava contido. Só começa a verdadeira obra criadora no momento
em que algo se diferencia dessa unidade. A Criação é assim a multiplicidade das coisas, é a
diferenciação exponencial. Esta diferenciação é tão perfeita que nada, rigorosamente nada no Universo
é igual, não existem cópias.

A Via Láctea, a nossa galáxia, onde o nosso planeta Terra está inserido, possui ainda vastas regiões
preenchidas por aqueles coágulos, aquela matéria primordial fecundada pela Luz e de onde se formam
as estrelas, os planetas e todos os outros astros. Isto quer dizer que a Criação só terá sido um acto
instantâneo no seu início, quando o Ovo Luminoso foi fecundado pelo Raio emitido pela Luz, e que
depois disso é um processo contínuo, isto é, que a Criação se faz permanentemente. Planetas, estrelas,
asteróides, estão sempre a ser criados, num movimento incessante. E quando uma estrela atinge o seu
ocaso e morre, isto também é um acto criador, pois a sua matéria irá ser usada no nascimento de um
outro astro.

O nascimento, o crescimento (desenvolvimento), a plenitude, a decadência e o ocaso (morte), é um


padrão universal, tudo o que é criado está sujeito a esta lei imutável. Quer dizer, tudo o que é criado e
formado, porque a essência da matéria, os átomos, esses não sofrem qualquer espécie de mudança,
limitam-se a mudar de composição. Em todo este processo, a luz está sempre presente, porque só
através dela é que o movimento se origina. No caso da Terra, é a luz solar que mantém este planeta
como um viveiro exuberante de vida.

Um outro aspecto sempre presente na obra da Criação é a dualidade, a existência dos opostos. O Livro
de Dzyan diz que “o Pai e a Mãe geram Oeaohoo, o Radiante Filho dos Dois, que passa a ser o imenso
Espaço Luminoso e que brilha como o Sol”. O Espaço Luminoso é o Raio que, à primeira vibração da
nova Aurora, incidiu sobre as profundezas cósmicas, de onde surgiu diferenciado como Oeaohoo, “o
mais jovem” (a nova vida), para se converter no germe de todas as coisas. É o “Homem incorpóreo que
traz em si mesmo a Ideia Divina”, é o gerador da Luz e da Vida; é o Resplandecente Dragão da
Sabedoria para os orientais; é o Logos, o Verbo do Pensamento Divino para os filósofos gregos; é o
Resplandecente “Filho do Sol” a síntese da Sabedoria Universal, que contém em si mesmo os “Sete
Exércitos Criadores (Sefiras), sendo assim a essência da Sabedoria manifestada. Mais adiante veremos o
significado destes “Sete Exércitos Criadores” que, em termos de Cabala poderão ser as sete Sefiras logo
abaixo do primeiro triângulo da Árvore Sefirótica, mas que pode também ter outro sentido.

A Luz não é o início, mas a consequência da primeira vibração. Imaginemos como se terá dado esse
início. Tudo está quieto, não existe o menor movimento, não existe tempo nem espaço, tudo está
mergulhado em trevas, nada existe. Deus está recolhido em Si mesmo. Ele é o Um. De repente, um
sopro, uma pulsação, sacode a quietude – é o Pensamento Divino, é o Verbo. O resultado deste sopro é
uma Luz Radiante que fecunda o Ovo virginal (as profundezas cósmicas), o princípio feminino, a base
de toda a existência material. Eles são o Dois, o Pai e a Mãe, que geram o Três, o Filho, ou seja, o início
da Criação.

A Luz em si é fria, mas produz o Fogo, o qual produz o Calor. A Tela Universal, que é o material
primordial da formação dos mundos, a matéria cósmica, é constituída por átomos os quais contém em si
calor interno e calor externo. Assim a vida nasce desse calor, que resulta da existência das duas
polaridades pois, como sabemos, os átomos contêm essas duas polaridades, além de uma terceira, que é
neutra. Veja-se o caso da electricidade, ela própria tem calor porque é energia originada dos átomos,
mas para que se manifeste tem de ter as duas polaridades, a positiva e a negativa. Sem estes dois pólos
opostos não poderia haver electricidade.

A Luz é assim o Pai, o princípio masculino, o pólo positivo, o raio que vai fecundar o ovo primordial,
que é a Mãe, o princípio feminino, o pólo negativo. Os números, o Um, o Dois, o Três, etc.,
encontramo-los na Árvore Sefirótica da Cabala, que é constituída por dez Sefiras. Aqui temos também o
princípio das duas polaridades, a positiva e a negativa, que são equilibradas pela coluna central, entre as
duas outras colunas de sentido oposto.

Para Z’ev ben Shimon Halevi, no seu livro “O Caminho da Kabbalah”, a palavra Sefirotes ou Sefiras
significa safiras ou luzes cintilantes. Diz ele que da Infinidade sai a vontade do En Sof – temos aqui a
primeira vibração. Esta (a vontade) contrai-se, ou, como dizem alguns, concentra-se ou até mesmo
irradia, para permitir que o Mundo Manifesto possa emergir do Não Manifesto. A vontade do En Sof,
saindo do ocultamento (trevas), é chamada de En Sof Aur, sendo que a Luz – Aur em hebraico – é o
símbolo da Vontade. Temos assim que a Vontade Divina é expressa em Luz, ou seja, o Verbo, o som
primordial expressou a sua vontade através da Luz.

A primeira Sefira chama-se Kether ou Coroa, é a expressão do Uno, a Unidade Manifesta Perfeita. A luz
passa então ao estágio seguinte de manifestação activa, Hokhmah, que é compensada pelo terceiro
estágio como manifestação passiva, Binah. Chegamos assim ao número três. Por muitos séculos, estas
duas Sefiras depois da Coroa foram chamadas de “O Grande Pai” e “A Grande Mãe”.

Contudo, nada mais poderia suceder se a luz ou o raio vindo do En Sof e depois de cruzar as três
primeiras Sefiras, não fosse capaz de ultrapassar o vão, ou intervalo ocupado pela Não-Sefira chamada
Daat. Este vão ou intervalo é conhecido como “O Abismo” e é um ponto crucial, que pode reter a luz e
evitar que ela continue a sua descida na construção da Árvore (vida), ou seja, na criação da matéria.
Este “Abismo” é um dos pontos mais complexos da Cabala e os cabalistas têm muita dificuldade em o
definir. Ele é o ponto de cruzamento ou sobreposição entre os diversos mundos. Por exemplo, na
construção do homem usando os símbolos da Árvore Sefirótica, a face superior da Asiyyah (feitura) é
ao mesmo tempo a face inferior de Yezirah (formação), ou seja, o Daat de Asiyyah é o Yesod de
Yezirah, o primeiro é o conhecimento do corpo, o segundo a fundação da psique. Juntos, representam a
imagem que o homem faz do seu corpo. O foco Daat-Yesod assim sobrepostos representa o órgão
psicobiológico da percepção do homem.

O raio continua a sua descida, ultrapassa Daat e passa por Hesed e Gevurah, mais uma vez a
manifestação positiva e negativa, para se firmar em Tiferet, também conhecida por Beleza e que é “A
Coisa Chamada, Criada, Formada e Feita”. Mas ainda não há existência como nós a percebemos,
continua apenas no Pensamento Divino já totalmente formada e criada. A existência só se verifica
bastante mais abaixo, em Malkhut, o Reino, depois do raio passar por mais dois pólos, Nezah e Hod e
ter ultrapassado mais um intervalo, neste caso uma Sefira, que é Yesod, também conhecida como
Fundação ou Fundamento.

É em Yesod que a imagem começa a existir e dá forma, vida e vontade à materialidade de Malkhut, que
é a Sefira que absorve na sua composição de Força, Forma e Consciência a mais densa e a mais rica de
todas as combinações da substância Divina.

O COSMOS, O HOMEM E A EVOLUÇÃO 5 -

O Tempo
“O Tempo não existia, porque dormia no Seio infinito da Duração” (Da Estância I do Livro de Dzyan –
Cosmogénese – A Doutrina Secreta de Helena Blavatsky)

O tempo é talvez um dos conceitos mais difíceis de entender, embora, para a mente objectiva, não o
seja. Para esta, o tempo é o período durante o qual uma acção ou evento ocorre; é também, uma
dimensão representando uma sucessão de tais acções ou eventos. Na nossa civilização, o tempo é um
dos elementos fundamentais do mundo físico, tudo é medido e regulado por ele. Existem actualmente
três métodos de medição do tempo: os primeiros dois baseiam-se na rotação de Terra sobre o seu eixo,
considerando o movimento aparente do Sol através do céu e o movimento aparente das estrelas. O
terceiro método baseia-se na revolução da Terra à volta do Sol.

Apesar de ele ser esse elemento fundamental na nossa civilização, o tempo não deixa por isso de ser
também uma das coisas mais relativas que existem. Esta relatividade foi teorizada por Einstein e
comprovada mais tarde por experiências efectuadas: o tempo encurta ou contrai-se, quando uma pessoa
se desloca sobre a Terra no sentido inverso ao do movimento do Sol; deslocando-se no sentido do
movimento do Sol, o tempo alonga-se ou dilata-se. As diferenças verificadas são tão ínfimas que só
podem ser medidas em microsegundos mas, seja como for, é uma demonstração prática de que o tempo,
mesmo visto pelo lado objectivo, não é uma constante.

O tempo nasceu simultaneamente com o início da Criação, pois antes desse primordial alento que
colocou tudo em movimento, o tempo não existia. Como diz a tradição antiga, na chamada “Noite do
Universo”, o tempo jazia adormecido no seio infinito da Duração, e o Pai Eterno, envolto em suas
vestes invisíveis, dormira mais uma vez por sete eternidades. Aqui existem três conceitos que,
aparentemente, significam a mesma coisa, mas na verdade são coisas diferentes: o tempo, a duração e a
eternidade. Para nós, duração seria o acumular de determinado tempo, e eternidade o tempo infinito,
mas parece que não é bem assim.

A duração ou as sete eternidades nesse texto de sabedoria antiga, pertencem ao estado de não-existência,
e esse estado não pode ser medido em tempo. O estado de não-existência é a condição em que tudo está
vazio, nada existe, é a escuridão absoluta, são as trevas, nada pulsa, tudo está quieto – só que não
sabemos o que é este tudo, uma vez que nada existe.

De acordo com essa tradição antiga, o tempo é uma ilusão que se produz pela sucessão dos nossos
estados de consciência na nossa viagem através da duração eterna, e só existe onde há consciência, em
que esta possa produzir a ilusão. O presente é uma linha matemática que separa a eternidade em duas
partes, uma chamamos de passado e outra de futuro, mas trata-se da mesma duração eterna. O futuro e o
passado são uma e a mesma realidade, se lhe podemos chamar assim. É o “Eterno Presente” dos
místicos. Na nossa consciência, o tempo corre do futuro para o passado porque, à medida que vamos
tomando consciência do «vir a ser» (futuro), passamos a ter consciência do «foi» (passado). Isto quer
dizer que nem o futuro nem o passado existem, pois são ambos a duração eterna onde tudo permanece
imóvel. Eles, o passado e o futuro, assim como o tempo, só existem como uma ilusão que é percebida
pelos nossos sentidos.

Já vimos que, objectivamente, a nossa noção de tempo depende do movimento da Terra e das estrelas.
Se não houvesse esse movimento teríamos, com certeza, muita dificuldade em contar o tempo. No
entanto, como entender que o tempo seja uma ilusão se percebemos a sucessão dos dias e das noites, das
horas, das estações do ano, dos anos, dos meses, dos séculos e dos milénios? Não é verdade que
estamos já no terceiro milénio? Não é verdade que estamos no ano de 2009 da era cristã? O que fazer de
todos os acontecimentos de que temos conhecimento através da História nestes dois mil anos? Como
poderemos nós conceber a não existência do tempo se temos consciência de que nascemos, crescemos e
morremos, da mesma forma que vemos acontecer em toda a natureza? Na verdade, nada existe que dure
eternamente, tudo o que existe está sujeito a mudanças. Aquilo a que chamamos tempo não é mais do
que a tomada de consciência dessas mudanças. Toda a existência está em constante e permanente
mudança. Nós nunca podemos repetir uma mesma situação por mais perfeita que seja essa repetição
porque, quando a repetimos, tudo o que a envolve, incluindo nós mesmos, já mudou.

É bem conhecida aquela velha lei de Lavoisier que diz que, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo
se transforma. Ele dizia que depois de uma combustão ou um processo químico, a quantidade de
matéria continuava a ser a mesma, mudava apenas de forma. Isto deixou de ser verdade a partir do
desenvolvimento da ciência atómica, em que existe perda de matéria quando da desintegração do
átomo. Mas no essencial, a lei continua correcta, pois na desintegração do átomo a matéria que se perde
é transformada em energia, e esta, mais tarde, poderá voltar a ser matéria. Isto quer dizer que a matéria
que existe é permanente, apenas assistimos e tomamos consciência das suas transformações que
formam, na nossa consciência, a ilusão do tempo.

Mas se não há criação de matéria nova e se não há perda de matéria, estamos perante um problema que
é o de saber como é, de facto, o processo da Criação. Julgamos que está subentendido que este processo
é contínuo, é permanente, isto é, que dura desde o início, desde a primeira vibração do Verbo. Não
estamos enganados, só que este processo não inclui a criação de matéria nova. Toda a matéria existente
no Universo foi criada, ou activada, de uma vez numa dada altura, depois disso nada mais acontece a
não ser a transformação permanente dessa matéria.

Voltamos assim à história do “Big Bang” que talvez não esteja tão longe da verdade como muitos
podem pensar. Imaginemos que antes do primeiro alento, antes da vontade do Verbo se ter manifestado,
tudo já existia, todos os átomos, todas as partículas, tudo mergulhado num sono letárgico onde não se
verificava nenhum movimento, nenhuma troca de energia. Isto eram as trevas. Quando a vontade do
Verbo se manifestou em Luz, tudo começou de repente a pulsar, a vibrar. O “Fiat Lux” terá sido a
ignição que colocou tudo em marcha e foi nessa altura que começou também a acção do tempo, que não
é mais do que o registo consciente das transformações que se operam permanentemente.

O Livro de Dzyan diz que o Universo está contido numa tela imensa onde os átomos se contraem e
expandem permanentemente, e nessa contracção e expansão fica o registo das mudanças que se vão
operando em toda a coisa criada, sendo que a Tela é a Duração Eterna, onde não existe tempo, nem
passado nem futuro, apenas o Eterno Presente com todas as transformações operadas.

Evidentemente que temos muita dificuldade em absorver este conceito de tempo. Costumamos dizer
que o tempo é uma coisa muito relativa, mas logo alguém nos diz que uma hora tem sempre sessenta
minutos. Pois é, mas se não é assim, se o tempo não é uma coisa relativa, vejamos a questão dos sonhos
com que todos estamos familiarizados. Muitas vezes temos sonhos muito longos, acordamos com a
impressão de termos passado a noite inteira a sonhar mas, se formos ver, e isto já foi testado e
confirmado por inúmeras experiências, esses sonhos não duraram mais do que alguns poucos minutos.
No entanto, na nossa consciência, eles duraram a noite inteira. Quando estamos a fazer uma coisa que
nos agrada muito ou estamos completamente absorvidos numa actividade que nos dá intenso prazer, o
tempo parece que se acelera, não damos pela sua passagem. Ao contrário, quando estamos numa
situação desagradável ou que nos contraria, o tempo demora uma “eternidade” a passar.

Martinés de Pasquallys, no seu livro “Tratado da Reintegração dos Seres Criados”, diz logo no princípio
o seguinte:

“Antes do tempo, emanou Deus seres espirituais, para sua própria glória, na sua dimensão divina. Esses
seres deviam exercer um culto que a Divindade lhes fixara em leis, preceitos e mandamentos eternos.
Eles eram pois livres e distintos do Criador; e não se pode recusar-lhes o livre arbítrio com o qual foram
emanados sem destruir-lhes a faculdade, a propriedade, a virtude espiritual e pessoal que lhes eram
necessárias para operar com precisão nos limites em que deviam exercer o seu domínio. Estes primeiros
seres não podem negar ou ignorar as convenções que o Criador produziu com eles ao dar-lhes leis,
preceitos, mandamentos, pois era tão somente nessas convenções que assentava a sua emanação”.
Há aqui duas questões importantes: uma a do livre arbítrio que foi concedido a esses seres, mas sob
determinadas condições, o que por si só, estabelece uma aparente contradição; a outra questão é a de
terem sido criados antes do tempo.

Vejamos primeiro a questão do livre arbítrio e a aparente contradição que parece inferir-se das palavras
do autor. Todos nós dispomos de livre arbítrio, isto é, podemos agir pelos ditames exclusivos da nossa
consciência e não condicionados por qualquer espécie de factor externo. Esta é a verdadeira essência do
livre arbítrio, que se traduz para nós, numa extrema dificuldade em o usarmos correctamente, pois
dificilmente nos podemos tornar imunes a influências exteriores à nossa consciência. Então, esses seres
criados por Deus antes do tempo dispunham, de facto, de livre arbítrio. As leis, os preceitos, os
mandamentos a que estavam sujeitos, faziam parte da sua consciência, pois fora com eles que eles
foram emanados, e assim podiam agir com pleno uso do livre arbítrio dentro dos limites estabelecidos
pela sua consciência.

Antes do tempo quer dizer, em nosso entender, que não estavam sujeitos a nenhuma transformação, a
nenhuma mudança. Esses seres foram criados completos, não nasceram de nenhuma mãe, não
cresceram, pois isto significaria mudanças e portanto, o tempo também correria para eles. Para tentar
compreender isto, socorro-me da tradição hindu, que divide os tempos de existência do Universo em
dias e noites de Brahma, os quais contêm vários Mavantaras e estes vários Kalpas, o que tudo somado
dá um número astronómico de anos para cada dia de Brahma e o mesmo número de anos para cada
noite. Segundo esta tradição, a Criação conheceu vários ciclos, chamados dias de Brahma, e entre estes
ciclos existem as noites onde tudo fica, por um incomensurável número de anos, completamente
adormecido. Em cada recomeço, em cada novo dia de Brahma, o tempo recomeça a contar. Não nos
custa admitir que esses seres criados antes do tempo, o tenham sido em ciclos anteriores, e assim, em
relação ao actual, eles tenham permanecido adormecidos no seio da Divindade.

Evidentemente que esses seres não eram seres corpóreos, não pertenciam ao plano da matéria, e só
podemos, de facto, falar em existência temporal, entendendo essa existência no plano puramente
material. Pois o tempo, embora não exista como coisa criada, ele existe apenas como um conceito, uma
regra ou uma lei, ele é um puro produto da concepção humana. O tempo é de natureza material. Não se
pode aplicar a outros mundos ou outros planos, que se regem por regras que estão para além do nosso
entendimento. Martinés de Pasquallys diz-nos que eles existiam no seio da Divindade, mas sem
distinção de acção, de pensamento e de entendimento particular, não podiam agir nem sentir senão pela
vontade do seu superior que os continha e no qual tudo se animava.

Já vimos que, apesar de todas estas aparentes restrições, eles dispunham, na verdade, de livre arbítrio,
condicionado apenas pela sua consciência a qual, era a consciência de Deus, ou a consciência com que
Deus os tinha inseminado. Eles existiam em Deus, quer dizer, agiam e pensavam segundo o pensamento
de Deus, eram como que uma extensão do próprio Deus. O autor diz-nos ainda que, esta existência em
Deus é de uma necessidade absoluta, pois que é ela que constitui a imensidão da potência divina. Deus
não seria o pai e senhor de todas as coisas se não tivesse inata em si uma fonte inesgotável de seres que
emana da sua pura vontade e quando lhe apraz. Serão pois, estes seres criados antes do tempo, puras
emanações divinas, extensões do próprio Deus – em nosso entender: os «operários» da Criação.

Em relação ao tempo restam-nos ainda duas questões importantes: a primeira tem a ver com a doutrina
da reencarnação; a segunda, com a existência dos chamados “arquivos acásicos”.

De forma explícita ou implícita a todo o ensinamento esotérico e a algumas religiões, a nossa evolução
faz-se através de um sem número de reencarnações sucessivas, espaçadas, segundo alguns, por uma
centena e pouco de anos, dizem outros, de uma forma aleatória. O objectivo das sucessivas
reencarnações é o de nos irmos aperfeiçoando até atingirmos um tal grau de perfeição que já não
precisemos de voltar à Terra. A evolução, atingido este estágio de perfeição, continua em outro plano,
até que possamos de novo nos reintegrar na fonte de onde partimos, no Pai. Se o tempo não existe, ou
não passa de uma ilusão criada pelos nossos estados de consciência, se o passado não existe e é apenas
uma das partes da duração eterna (a outra é o futuro), como entender essas vidas anteriores que,
segundo parece, todos nós tivemos?

Seguindo a mesma linha de raciocínio, existirão porventura os “arquivos acásicos” onde todas as
existências e todos os acontecimentos ficam registados, e aos quais alguns de nós têm o dom de os
poder consultar, de os acessar?

Estas parecem ser questões de resposta impossível, mas não são, se nos lembrarmos do que se disse
atrás sobre a Tela, que é a duração eterna e é constituída por átomos que se contraem e expandem,
registando sobre essa Tela todas as mudanças operadas em todas as coisas criadas. Ou seja, não é
diferente o que se passa numa única vida ou em várias vidas – é tudo mudança. Não se trata de vidas
paralelas, nem de mundos paralelos, como à primeira vista pode parecer. Trata-se de vidas sucessivas
diferenciadas no tempo pelos nossos contínuos e sucessivos estados de consciência. A matriz, que é a
Tela, não conhece o tempo – ela é a eternidade, o Eterno Presente, nós é que imprimimos a noção de
tempo às nossas vidas através da nossa consciência.

O COSMOS, O HOMEM E A EVOLUÇÃO 6 -

A Hipótese de Saturno

“Homenagem a ti, Touro de Amentet, o deus Toth rei da eternidade, está comigo. Sou o
Grande Deus perto do barco divino, combati por ti. Sou um dos deuses, aqueles chefes
divinos, que fazem Osíris sair vitorioso dos seus inimigos no dia da pesagem das palavras.”
(Do Livro Egípcio dos Mortos).

No início, após o primeiro impulso da Criação, após a manifestação do Verbo em Luz, o


nosso sistema planetário não existia. A Via Láctea era um conjunto de nebulosas indistintas
constituídas pela matéria primordial da formação dos mundos (coágulos brancos). De acordo
com a antiga ciência oculta que nos chegou através da Índia, a lei das transformações ou do
renascimento dos mundos sob formas semelhantes mas sempre novas, após longos sonos
cósmicos (noites de Brahma), aplica-se tanto às estrelas como aos planetas, tanto aos deuses
como aos homens.

O nosso sistema planetário não passava de uma dessas nebulosas, à qual a tradição antiga
chama Saturno. De facto, verificações recentes confirmam que este planeta ainda está num
período de contracção, o seu núcleo é ainda pequeno em relação à enorme massa gasosa que
o compõe mais os satélites que o circundam, e liberta três vezes mais calor do que aquele
que recebe do Sol, quer dizer, está ainda, aparentemente, numa situação por que outrora
passaram todos os astros do nosso sistema solar, incluindo a Terra, o que também quer dizer
que o actual Saturno é o remanescente de toda aquela nebulosa de onde se criou o nosso
sistema planetário.

Esta nebulosa englobava toda a massa que veio a formar mais tarde, por fases, o Sol e os
planetas tal e qual os conhecemos hoje. A nebulosa saturnina, essa massa indistinta, não
tinha luz mas tinha calor originado pelo conjunto de átomos que a constituía. Não havia
nenhum brilho no seu interior, nenhum clarão de luz se soltava da sua imensidão que,
supomos, abrangeria a distância que hoje vai do Sol ao Saturno actuais.

No entanto, essa massa não estava em repouso, não jazia adormecida, algo se agitava no seu
seio, pois o seu interior era atravessado por arrepios de frio e emanações de calor. O Génesis
fala-nos destas convulsões que se verificavam no interior da nebulosa quando diz: “A Terra
estava sem forma e vazia; as trevas estavam sobre a superfície do abismo e o Espírito de
Deus movia-se sobre as águas.”

Esta é uma forma alegórica de contar a mesma história. Os Elohim, que na tradição hebraica
e no singular é o Criador, mas que seriam os seres criados por Deus antes do tempo no dizer
de Martinés de Pasquallys, representavam o Espírito de Deus e pertenciam à mais alta
hierarquia dos Poderes.

Cabe aqui fazer um parêntese para explicar o que era esta hierarquia de Poderes. Esta
hierarquia existe tanto na teologia cristã, como na tradição hebraica, caldeia ou na tradição
hindu, só que nesta última tomam nomes diferentes. Podemos chamar-lhes anjos,
inteligências ou energias. Na obra “A Cabala” de Papus encontram-se mapas com a
descrição destes Poderes, a sua ordenação hierárquica, a sua correspondência com os nomes
de Deus, com as letras do alfabeto hebraico e com as Sefiras da Árvore Sefirótica. Na
tradição hindu, estes Elohim chamam-se “Dhyân-Chohans”, e na tradição caldeia, estes
seres chamam-se “Asuras” ou “Devas”.

Na tradição hebraica foi Elohim que pronunciou o “Fiat Lux” dando origem a todo o
processo da Criação. Isto só se pode compreender porque para esta tradição não é permitido
pronunciar o nome de Deus, e então atribui-lhe o nome Elohim no singular, numa alegoria
ao Deus supremo. De outro modo não se poderia compreender que os hebreus atribuam o
mesmo nome Elohim a outros seres da sua hierarquia, como por exemplo, “Schaddai-
Elohim”, “Elohim-Helion”, “Gibor-Elohim” e “Tseobaoth-Elohim”. Da mesma forma, o
nome Jeovah aparece associado a vários dos seres que constituem a sua árvore hierárquica.
Que nos perdoem os cabalistas, mas é assim que compreendemos a escala mostrada no
“Mundo Divino” de R. P. Esprit Sabbathier.

Na tradição cristã, os Elohim têm o nome de Tronos e, segundo ela, eles sacrificaram-se,
dando o seu corpo em holocausto para permitirem o nascimento dos Arqueus ou Espíritos do
Começo. Este corpo dado assim em sacrifício, não era mais do que calor vital, emanação de
amor.

Os Arqueus, também eles uma classe de Elohim, eram seres criados por Deus antes do
tempo e eram provenientes de uma evolução cósmica anterior, permanecendo passivos no
seio da Divindade. Tomaram novo alento com o sacrifício dos Tronos, recebendo destes a
força e o calor vital que os tornava «deuses criadores» numa nova evolução cósmica.

Temos aqui uma questão interessante, a cedência do lugar e energia dos Elohim (Tronos) aos
Arqueus, para que estes pudessem agir no processo criativo. Isto quer dizer que a hierarquia
desses seres não resulta somente da sua importância ou poder, mas também das suas
propriedades e virtudes e existem em função da necessidade. Neste caso, a necessidade do
trabalho da Criação obrigou os primeiros a sacrificarem-se em favor dos últimos, para que
estes pudessem prosseguir no processo criativo. Por outro lado, estes seres, os Arqueus, diz-
se que vinham de uma evolução cósmica anterior e renasceram para uma nova evolução
cósmica. Esta evolução cósmica é o que anteriormente referimos como “o dia de Brahma”
que, de acordo com a tradição hindu, abrange um período superior a quatro biliões de anos,
ao qual precede e se segue um período de duração semelhante chamado “a noite de
Brahma”, em que tudo se recolhe sobre si mesmo.

Assim, o Universo renasce ao fim de um longo período de absoluto repouso, e com ele
renascem também muitos seres que participaram em Universos anteriores. Se isto acontece
com o Universo, como não acreditar que a evolução do homem se faz através de inúmeros
renascimentos, ou encarnações? O sistema é o mesmo, o homem reflecte o Universo em si,
ele é o microcosmo que repete, como um eco, o que se passa no macrocosmo. Como dizia
Thoth, ou Hermes Trismegistus, o que está em baixo é como o que está em cima.

Segundo Édouard Schuré, no seu livro “A Evolução Divina da Esfinge ao Cristo”, era pela
acção destes seres, os Arqueus, que se verificavam as emanações de calor no interior da
nebulosa saturnina a qual, do mesmo modo que um ser vivo, tinha a sua inspiração e
expiração. A inspiração produzia o frio e a expiração o calor. Durante a inspiração os
Arqueus penetravam no seu seio; durante a expiração aproximavam-se dos Tronos e bebiam
a sua essência. Assim, cada vez mais eles iam tomando consciência de si mesmos, e cada
vez mais se desprendiam da massa saturnina. Explicando melhor, a evolução destes seres, os
Arqueus, era feita através da sua actividade no interior da nebulosa saturnina e evoluíam
junto com ela, depurando-se e despojando-se dos seus elementos inferiores, deixando atrás
de si uma fumaça gasosa.

Então, estes seres não eram perfeitos? Não tinham sido eles emanados directamente de Deus
e agiam segundo a consciência que Deus lhes imprimira? Não, nenhum ser é perfeito,
mesmo que pertença à mais alta hierarquia, pois a perfeição não existe, ela é, ela está em
Deus e somente aí. A evolução não é algo individualizado no homem ou na natureza
terrestre, não é algo que diga respeito apenas a um mundo específico ou conjunto de
mundos. A evolução engloba todo o Universo, todas as coisas e todos os seres. Portanto, a
partir do primeiro instante da Criação, tudo está em evolução permanente.

Ao mesmo tempo que os Arqueus exerciam a sua tarefa criadora, outros Elohim de segunda
hierarquia actuavam na nebulosa por dentro, colocando-a em rotação. Por isso, ao seu redor,
a formação de um anel de fumaça gasosa que, rompendo-se mais tarde, devia formar o
primeiro planeta, o Saturno actual com o seu anel e os seus oito satélites.

Por esta descrição podemos afirmar que a Criação não é obra de Deus? De modo nenhum
pois, estes seres que assim operavam eram eles próprios criados por Deus e agiam de acordo
com os seus desígnios. Podemos dizer que a construção de uma catedral é obra de Deus?
Claro que sim, embora tenha sido erigida por seres humanos. É assim com todas as coisas,
pois nada existe que não seja a expressão da vontade do Criador.

Neste momento, os cépticos, aqueles que não acreditam em nada senão naquilo que os seus
sentidos físicos podem experimentar e verificar, talvez sorriam e digam para si mesmos que
isto não passa de um exercício de imaginação prodigiosa, e que a formação dos planetas, das
estrelas, não foi mais do que obra do acaso associando átomos ao longo de milhões e
milhões de anos, de modo a surgirem em matéria concentrada na forma de planetas, estrelas
e todo o mundo material que conhecemos. Respeitamos esta sua posição pois, ela faz parte
do seu plano evolutivo. Mas nós sabemos que o acaso não existe, que nada acontece por
acaso, que há sempre uma causa e um efeito que presidem a qualquer acontecimento. Se isto
é assim, se existe sempre uma razão por detrás de qualquer ocorrência, não faz nenhum
sentido, para nós, pensarmos que a formação dos sistemas planetários, como o nosso, tenha
sido obra do acaso.

A própria teoria de Darwin e dos seus seguidores até aos dias de hoje sobre a evolução das
espécies, não desmente isto, até o comprova, pois ela diz que as espécies vão evoluindo e se
adaptando em função das condições climáticas e do meio ambiente em que vivem. Ou seja,
a causa está nas condições a que têm de se adaptar, o efeito nessa adaptação. Não diz que a
evolução é feita ao acaso. No entanto, os defensores desta teoria continuam a defrontar-se
com um enigma para o qual ainda não conseguiram obter uma resposta satisfatória: as
espécies parecem manter-se no mesmo estado, sem qualquer mutação, durante longos
períodos, e de repente, de forma abrupta, sofrem uma mudança. Isto leva a crer que a
evolução das espécies não é feita de forma gradual, esta condição parece não existir. O que
está verificado são mutações abruptas, repentinas, no sentido em que se realizam num curto
período de tempo comparado com aquele em que as espécies não sofrem nenhuma alteração.

Parece que, de repente, as espécies, sejam elas animais ou vegetais, tomam consciência de
que precisam mudar. Então começam um processo rápido de adaptação às novas condições.
Uma das coisas que nunca entendemos muito bem e que constitui, de certo modo, um
mistério, é o caso das pestes que grassaram na Europa durante a Idade Média, quando não
havia antibióticos ou penicilina, nem nenhum tipo de medicamento que as combatesse
eficazmente. Estas pestes apareciam ás vezes com características extremamente virulentas,
devastavam populações inteiras e depois, de repente, desapareciam. Hoje acredita-se que os
vírus provocadores dessas pestes ganhavam uma certa forma de consciência de que, se
continuassem o processo indefinidamente, se destruíam a si próprios por esgotarem os
corpos hospedeiros onde proliferavam, e assim, em determinada altura paravam e remetiam-
se a uma forma de letargia até ao dia de reaparecerem no mesmo ou em outro local.

Definitivamente, e considerando apenas a extrema complexidade dos seres mais simples, a


Criação não pode ser obra do acaso, assim como o homem também não o é, mas isto
veremos mais adiante. Mas para os que tenham dificuldade em aceitar a existência destes
seres criados por Deus antes do tempo, os quais tenham sido, realmente, os construtores do
Universo ao serviço, bem entendido, do seu Grande Arquitecto, talvez lhes seja mais fácil
aceitá-los como formas de energia, controladas e operando pela vontade de Deus na
grandiosa obra da Criação. Seja como formas de energia ou sob o aspecto de seres celestiais,
com asas ou sem elas, o que é certo é que eles fazem parte do imaginário do homem desde
os tempos mais remotos.

Com toda a sua actividade, o grande sonho dos Arqueus era o de criarem um mundo, mas
não o podiam fazer na sombria nebulosa de Saturno, que englobava, como já dissemos, toda
a matéria de que é formado hoje o nosso sistema planetário. O Sol ainda não existia, não
havia luz, e eles precisavam de luz, de luz física, porque sem ela não podiam criar. Eles
lembravam-se, ou pressentiam, essa luz criadora de outra evolução cósmica onde tinham
também desempenhado o papel para que se sentiam vocacionados – criar! Na sua alma
divina, eles não tinham deixado o seio de Deus, eles operavam dentro dele, idealizavam a
majestade do Arcanjo, a beleza do Anjo, idealizavam o homem em toda a sua alegria e
tristeza. Mas para que esse sonho de criação se concretizasse, eles precisavam de luz,
precisavam de um Sol no coração de Saturno.

Neste sonho não concretizado por falta de luz, os Arqueus entorpeceram, porque eles não
podiam criar a luz, isto não estava dentro das suas capacidades, embora fossem Elohim de
grande poder. Voltaram então os Tronos, que se envolveram como um tufão na noite
saturnina. Outros Poderes os ajudaram neste trabalho de condensação de toda aquela massa
gasosa que borbulhava entre ondas de frio e calor. Quanto tempo durou esta tarefa? Não
conseguimos sequer imaginar, talvez alguns largos milhões de anos. Quando os Arqueus
despertaram do seu longo e profundo letargo, acharam-se a flutuar sobre uma esfera de fogo
e sob uma coroa de luz etérea, ao redor de um núcleo de fumaça sombria.

O primeiro Sol tinha nascido. O astro inteiro, com o seu centro obscuro e a sua fotosfera,
ocupava o espaço que vai do Sol actual ao planeta Júpiter. Os Arqueus eram os seus jovens
mestres, os novos deuses que deslizavam sobre um oceano de chamas. Em júbilo, saudaram
a luz envolvente. Através dos fluidos véus das ondas luminosas, eles perceberam, pela
primeira vez, os Tronos, semelhantes a círculos alados que subiam afastando-se na direcção
de um astro longínquo. Este ia diminuindo e se perdendo no infinito, onde os Tronos
desapareceram com ele. Então os Arqueus gritaram: “A noite saturnina acabou! Eis-nos
vestidos de fogo e reis da luz. Agora podemos criar segundo o nosso desejo, pois o nosso
desejo é o pensamento de Deus.”

Para a nossa mente habituada ao mundo material que nos rodeia, há aqui coisas muito
estranhas: seres que deslizam sobre um oceano de chamas; seres que se afastam no espaço
em direcção a um astro longínquo, que pode ser um planeta ou uma estrela. Esse oceano de
chamas devia ter temperaturas elevadíssimas e portanto, não podiam permitir nenhumas
condições de vida. Devemos notar que estamos a falar de seres que não têm corpo material,
que são seres etéreos ou, se quisermos, que vivem numa dimensão totalmente diferente da
nossa. O que entendemos como condições para a vida se manifestar, são aquelas que nós
concebemos no nosso plano material. Embora conheçamos a história da salamandra (fénix)
que renasce das cinzas, que sobrevive ao fogo, não concebemos a ideia de que, por exemplo,
num mar de fogo e chamas que deve ser o Sol, ou num planeta onde as temperaturas
extremas sejam muitas vezes superiores às da Terra, ou ainda na ausência de oxigénio e na
presença de gases tóxicos, de que a vida possa existir. Naturalmente que não existe, nos
moldes e nos padrões da nossa dimensão. Por isso, as várias sondas que têm sido lançadas
para o espaço em procura de sinais de vida, não encontraram nada nem encontrarão nunca,
enquanto essas sondas forem concebidas por uma tecnologia que está conforme essa ideia, a
de que a vida só pode existir pelos nossos padrões.

Por esta tecnologia que desenvolvemos, nós não conseguimos ver os átomos, conseguimos
apenas percebê-los. Nós não conseguimos ver nem perceber as partículas mais pequenas que
o átomo, conseguimos apenas suspeitar da sua presença, porque em campos experimentais
vemos os seus efeitos e o rasto que deixam na sua passagem, por vezes a velocidades
superiores à da luz. Nós não sabemos, nem sequer suspeitamos, do que possa haver ainda
para lá dessas partículas. Deste modo, podem verificar-se padrões de vida que não encaixam
nas nossas concepções e não os conseguimos ver porque estão em campos vibratórios muito
diferentes daquelas a que conseguimos até hoje ter acesso. A vida pode ter formas de
manifestação que não cabem dentro da nossa imaginação.

Por outro lado, os seres que não são da Terra, mesmo esses seres angélicos que chamamos
de Elohim, podem não residir simplesmente no espaço, pois isto seria fazer do nosso planeta
o único local habitado de todo o Universo. Eles podem habitar alguns do infindável número
de astros que compõem a nossa galáxia, só para falar desta, como as estrelas, os planetas e
alguns desses astros estranhos com uma tremenda capacidade de emissão energética
chamados quasares.

Para tentarmos compreender a Bíblia e outros textos antigos de uma forma diferente daquela
que a sua leitura literal nos conta, em que Deus (humanizado) agiu directamente, temos de
abrir a nossa mente e tentar alcançar, nem que seja em sonho, as prodigiosas possibilidades
da Criação em se manifestar, como resultado da vontade primeva, do Verbo.

Dizem que em versões mais antigas da Bíblia, a palavra Deus como Ser Criador, aparece no
plural: “No princípio, os Deuses criaram o céu e a terra”. Estes Deuses seriam os Elohim,
esses seres de fogo, espíritos criadores. No entanto, mesmo nessa altura, já acontecia o
drama que tem envolvido a Criação em todos os tempos – a existência de seres sombrios. Os
Arqueus perceberam que ao redor da luz etérea que os envolvia, vogavam espíritos
elementares assombrando o Sol que nascia. O astro mostrava-se luminoso, mas era rodeado
por uma auréola negra – era a primeira demonstração de que a Criação não é possível sem
perda, que a luz só existe porque se opõe à sombra, que só temos consciência do bem pelo
seu oposto, o mal. É a esta situação que se refere a parte do Génesis quando diz: “E Deus
separou a Luz das trevas”.

Que seres elementares e sombrios seriam estes? De onde provinham? Sabemos que seres
desta natureza podem ser criados por pensamentos, tornando-se formas-pensamento e
agindo independentes do seu criador. Já vimos atrás os perigos que pode acarretar o mau uso
da palavra, mas a palavra, antes de ser formulada, é pensamento. Alguém disse um dia que
pensar mal ou desejar mal a outra pessoa, é o mesmo que fazer mal a essa pessoa. Através
do pensamento nós somos criadores, podemos fazer as coisas acontecer. Os seres
elementares assim criados, essas formas-pensamento, podem ser de natureza amorosa como
podem ser sombrios e carregados de ódio, conforme o pensamento que os originou. O que
acontecia naquela altura e que os Arqueus vislumbraram, é o que acontece hoje ao redor da
Terra, esta encontra-se rodeada de seres tenebrosos originados pelo homem, por todo o mal
que o homem foi capaz de criar até hoje. Estes seres exercem uma influência poderosa sobre
a humanidade, os continentes, as nações, e por isso vemos a cada dia acontecerem as coisas
mais inimagináveis.

Os que rodeavam o primeiro Sol não podiam ter sido criados pelos Elohim, nem os Arqueus
nem os Tronos os poderiam ter criado, pois eram seres divinos e, por esta condição
incapazes de o fazer. Poderiam ser oriundos de uma evolução cósmica anterior mas, o mais
provável, era serem originários de algum outro ponto da Via Láctea onde haveria já mundos
criados num estágio muito mais avançado do que a Terra, pois esta nem sequer ainda existia.
Helena Blavatsky, na sua “Doutrina Secreta” afirma que os seres elementares das escalas
inferiores não podem ascender a escalas superiores senão numa próxima evolução cósmica.
Isto pode ser uma explicação para a sua existência à volta do nosso primeiro Sol. Mas a
Criação, ainda que instantânea no momento do “Fiat Lux”, é uma obra progressiva, aliás
como parece demonstrado acima pelo trabalho dos Arqueus e dos Tronos, e assim, no
Universo da altura, já deviam existir outros sistemas planetários com os seus mundos já
habitados por seres no seu caminho de evolução e portanto, com capacidade de emitirem
pensamentos sombrios. O homem já devia existir em algum lugar do Universo. Será que isto
era assim? Talvez, pois parece uma hipótese aceitável.

A esfera do primeiro Sol ia até ao Júpiter actual. Mais do que qualquer dos planetas que
sairiam do seu interior, este astro estava vivo. Era constituído por um núcleo tenebroso de
fumaça e por uma vasta fotosfera, não de metais em fusão como a do Sol actual, mas de uma
matéria mais subtil, de fogo etéreo, límpido e transparente. Um espectador que estivesse
colocado em Sírius e observasse o Sol de então, teria visto periodicamente a estrela brilhar e
empalidecer, reacender-se e dilatar-se. Os astrónomos têm observado inúmeros fenómenos
semelhantes no firmamento. O Sol primitivo respirava, inspirava e expirava regularmente.
Enquanto que a inspiração parecia que lhe fazia perder alento, a expiração era uma
maravilhosa irradiação de luz que se projectava para o infinito. Esta situação provinha da
actividade dos deuses, dos Elohim que reinavam no astro.

Nesta altura, a missão dos Arqueus estava cumprida. Eles eram os espíritos do começo e,
como tal, tinham dado início ao nascimento do primeiro Sol do nosso sistema planetário.
Chegara a hora deles partirem para outras paragens para poderem gerar outros sois. Mas não
partiram abandonando atrás de si tudo quanto tinham iniciado, a obra estava apenas
começada e havia que a continuar no contínuo processo da evolução cósmica. Esta tarefa
competiria a outros seres, sonhados e concebidos há muito pelos Arqueus, mas apenas, nessa
altura, como formas-pensamento. Entre os Elohim, os Arqueus são dos mais poderosos
mágicos pois, pela sua força de vontade podem dar vida e personalidade às formas-
pensamento. Assim o fizeram, deram forma aos seres que lhes sucederiam na obra que
haviam encetado, revestiram-nos de um corpo luminoso, astral, e de uma sensibilidade
resplandecente. Então, sob o impulso dos Arqueus, os Arcanjos elevaram-se e tornaram-se
os senhores do primeiro Sol.

Havendo uma hierarquia de seres, é natural que cada um desses seres tenha uma função
específica para a qual foi criado. É assim que vemos os Tronos substituírem-se aos Arqueus
e estes aos Tronos, e depois darem lugar aos Arcanjos. Neste plano, como em qualquer dos
planos da Criação, cada ser tem a sua própria tarefa a cumprir. O novo Sol estava criado,
havia que o habitar com seres que pudessem fazer com que esse Sol se continuasse a
desenvolver.

À medida que se desenvolvia a vida espiritual dos Arcanjos, estes perceberam que na linha
do Zodíaco se ia concentrando, num círculo prodigioso, um exército de espíritos sublimes,
de formas diversas e majestosas. Eram os Querubins, que vinham concentrar-se em círculo
ao redor do mundo solar para a incubação e fecundação dos Arcanjos. Os Querubins, junto
com os Serafins, pertencem à mais alta hierarquia de Elohim. Eles são os habitantes do
espaço espiritual, os Elohim da harmonia e da força. Vinham de todos os lados, das
profundezas da galáxia, organizados em doze grupos. Os Querubins, junto com os Serafins,
que são os espíritos do amor, estão mais próximo dos mistérios de Deus do que qualquer
outro ser. Este acontecimento, esta reunião de Querubins em doze grupos ao redor do mundo
solar, era conhecido dos magos da Caldeia e é a origem dos doze signos do Zodíaco,
designação que foi conservada até aos dias de hoje.

Os antigos identificaram cada uma das constelações do Zodíaco com uma categoria de
Querubins, e os seus quatro pontos cardeais eram representados pelos caldeus, pelos
egípcios e pelos hebreus sob a forma de animais sagrados. Estes animais são o touro, o leão,
a águia e o anjo ou o homem. São os quatro animais sagrados representados na Arca da
Aliança de Moisés; são os quatro evangelistas, Mateus, Marcos, Lucas e João; são os quatro
animais sagrados do Apocalipse de S. João. A Esfinge egípcia do vale de Gizé resume-os a
todos numa única forma, simbolizando a evolução divina e terrestre. A águia foi mais tarde
substituída pelo escorpião, não sabemos porquê, uma vez que a águia simboliza a morte e a
ressurreição, e o escorpião apenas a morte.

As convulsões deste Sol primevo continuaram, agora sob o impulso da vontade dos
Arcanjos, que por sua vez conceberam os Anjos. Dois novos planetas surgiram deste Sol –
Júpiter e Marte. Mas a formação da Terra foi precedida de um acontecimento crucial que
vem descrito em todas as tradições, nas mais diversas formas, mas cujo significado é o
mesmo. Na tradição oculta chamou-se “O Combate do Céu”; para os gregos é o mito de
Prometeu, ao qual se liga “O Combate dos Titãs e dos Deuses”; na tradição judaico-cristã foi
chamado “A Queda de Lúcifer”.

A Terra só foi formada depois desta “Guerra dos Céus”, que terminou com a queda dos
Anjos que se teriam revoltado contra Deus. Por muito que este episódio possa constituir uma
alegoria, e não o podemos entender de outra forma, senão teríamos que ver Deus como um
comandante supremo de um exército contra quem se teriam revoltado algumas das hostes
desse exército, uma coisa do género “A Revolta na Bounty”, corresponde no entanto a algo
de muito transcendente que aconteceu entre as hostes celestiais com consequências no
processo de criação do Homem, pois esta revolta teve como causa exclusiva a criação do ser
humano.

Parece evidente que esta revolta não poderia ser contra Deus, porque Deus não é um ser
contra quem, alguém ou algum ser se possa revoltar, mesmo que esse ser pertença a uma
classe elevada de Elohim, como os Arcanjos. E não é possível porque tudo está contido no
seu seio, nada é exterior a Deus. Assim, entendemos que tenha sido mais o resultado de uma
tomada de consciência por parte das hostes que desobedeceram ao plano idealizado, ou seja,
ao plano que estava impresso nas suas consciências.

Lúcifer era um Arcanjo, o seu nome significa “Portador da Luz”, e era o Génio do
conhecimento e do livre arbítrio. Todos os seres criados até então eram andróginos, sem
sexo, uniam em si em perfeita harmonia as duas polaridades, a masculina e a feminina.
Lúcifer concluíra que, para criar o homem como ser independente, rebelde e senhor dos seus
desejos, era necessário separar os sexos, e moldou, na Luz Astral, a forma deslumbrante da
futura mulher, a Eva ideal. Milhões de Anjos e Arcanjos ficaram extasiados com a imagem
e, entusiasmados com a ideia, colocaram-se ao lado de Lúcifer. Foi quando toda a restante
hierarquia recebeu ordem para o deter, ou seja, foi quando essa restante hierarquia agiu de
acordo com o propósito para que fora criada.
Como todos sabemos, e como não poderia ser de outra forma, o combate que se seguiu (se é
que chegou a haver algum combate...) terminou com a derrota de Lúcifer e dos seus pares, e
a consequente queda num plano inferior, num planeta que ainda não era a Terra actual, mas a
Terra primitiva semelhante à Lua.

A Bíblia não nos esclarece acerca deste acontecimento, antes ainda confunde um pouco as
coisas pois, mostra-nos no Génesis duas criações sucessivas do homem: primeiro, Deus
criou o homem e fê-lo homem e mulher, portanto um ser hermafrodita ou andrógino; depois
criou a mulher a partir de uma costela de Adão, aqui a separação dos sexos. Mas estas duas
criações não foram feitas pelo mesmo Deus, porque a primeira é referida como tendo sido
feita por Deus, a segunda por Javé Deus. De qualquer maneira, entendemos que este
acontecimento esteve sempre previsto, desde o primeiro instante, e corresponde a uma
evolução natural na corrente da evolução cósmica. Estava, desde o princípio, inserido no
plano divino. Se a vida, tal como a conhecemos na Terra, é o objectivo de toda a Criação,
portanto da vontade divina, ela não poderia ser concebida na ausência da dualidade
representada pelos sexos, pois tudo está feito em função dessas polaridades distintas e
opostas. A Cabala fala-nos disso nas duas colunas exteriores da Árvore Sefirótica.

Então a “Guerra dos Céus” não será mais do que uma alegoria a algo que está impresso,
desde o princípio, nessa Tela imensa da Duração que é o pensamento de Deus, e que Lúcifer,
o Arcanjo caído (ou sacrificado), não é outro senão o Adão primeiro, o Adam Kadmon, que
desceu ao mundo da matéria para aí ser o progenitor ancestral do Homem e este, através do
seu corpo animal poder percorrer o caminho ascendente que o elevará a uma posição
superior em toda a hierarquia dos seres. Mas para que isto pudesse ser feito, o homem
precisava de dispor da sua vontade e do livre arbítrio, com os quais pudesse moldar a sua
individualidade ao ser obrigado a uma escolha permanente, num mundo potencialmente
criado para o bem e para o mal, tudo dependendo da sua vontade.

Édouard Schuré diz a este respeito o seguinte:

“Primeiro despertar do Desejo, do Conhecimento e da Liberdade, a tocha de Lúcifer não se


acenderá com todo o seu brilho novamente senão no sol do Amor e da vida divina, em
Cristo.

(......) Da elevação do Homem ao estado angélico, devia nascer no fim dos tempos
planetários um novo Deus, a individualidade livre e criadora. Mas, antes, era preciso haver
uma descida, em sombria espiral, no doloroso laboratório da animalidade! E quem poderia
decidir qual sofrerá mais, o Homem, mais humilhado, mais atormentado à medida que toma
consciência de si mesmo, ou o Anjo invisível que sofre e luta com ele?.”

O COSMOS, O HOMEM E A EVOLUÇÃO 7 -

O Homem

“Os Anjos aspiram a ser homens; pois o Homem Perfeito, o Homem-Deus, está acima dos
próprios Anjos”. (Eliphas Levi)
As fontes que permitiram desenvolver a hipótese da criação do nosso planeta, assim como
do nosso sistema planetário, ter tido origem numa nebulosa original chamada Saturno, da
qual o actual Saturno seria o seu remanescente, também dizem que os Arcanjos fizeram
várias tentativas frustradas de criação do Homem, e que essas experiências resultaram em
grande parte nos animais que passaram a habitar a Terra. Esta é uma afirmação algo
arriscada pois, a variedade do mundo animal é tão grande que nos é difícil conceber que
grande parte do reino animal tenha tido essa origem. Aceitamo-la com reservas na convicção
de que os três reinos da natureza terrestre, o mineral, o vegetal e o animal, foram criados
com um sentido harmónico e de escalonamento hierárquico, em que cada um tem a sua
função a desempenhar no plano evolutivo.

Muitos dos animais que povoam a Terra são, muito provavelmente, o resultado de mutações
sucessivas conforme expresso na teoria de Darwin, embora seja difícil explicar as lacunas
(os saltos) que aparecem entre uma forma e outra da mesma espécie. Por outro lado, existem
dois grupos que se suspeita não serem originários da Terra, que não foram criados aqui, mas
que foram trazidos de outro planeta. É o caso das formigas e das abelhas. De facto, tanto um
como o outro, têm um comportamento, uma organização social, um sentido gregário, que
não tem semelhança com qualquer outro grupo de insectos. Além disso, as formigas e as
abelhas têm também um papel fundamental no equilíbrio ecológico da natureza.

A segunda estância do Livro de Dzyan diz que sem ajuda a natureza falha. A isto
acrescentaríamos que, mesmo com ajuda, pode haver falhas. Isto quer dizer que a natureza,
deixada livre, sem qualquer interferência na sua acção, falha no sentido de não produzir o
que foi idealizado que ela produzisse. Falha apenas neste sentido, porque por outro lado ela
adapta-se naturalmente às condições ambientais e produz o que essas condições permitirem.
Mas se houver interferência exterior, as falhas também podem produzir-se, porque os seres
que interferem também podem cometer erros. A nossa história actual está repleta de casos
em que a natureza foi severamente agredida pela acção descuidada ou irresponsável do
homem.

Não nos podemos surpreender que, na descrição sobre a formação do nosso sistema
planetário a que entendemos chamar “A Hipótese de Saturno”, tenha ficado uma certa
sensação, um certo sentimento de que as coisas nem sempre terão corrido bem. Ainda que
agindo e pensando pela acção e pensamento do próprio Deus, já vimos que os seres que
chamamos de Tronos, Querubins, Arqueus, Arcanjos, Anjos, não são tão perfeitos como
poderíamos pensar, até porque eles próprios também estão no seu processo evolutivo. Esses
seres cometeram erros, tiveram limitações na sua acção e até desencadearam uma espécie de
“conflito” que terminou com a “queda” dos Anjos rebeldes.

No que se refere à criação do Homem, parece que houve algumas tentativas que saíram
frustradas, das quais terão resultado os primatas que ainda hoje povoam a Terra. Depois
destas tentativas, os Arcanjos conseguiram criar finalmente o Homem, mas não o homem
como é hoje, criaram o Homem primordial, aquele que seria o progenitor de todos os
homens pois, para chegar ao estágio actual foi necessário proceder a várias mutações, fazer
algumas “correcções”. E isto não foi obra do acaso, não foi o resultado da associação
aleatória de moléculas e átomos como ainda defende certa ciência (já há cientistas que não
estão bem certos disto...), mas sim obra de seres criadores, deuses para toda a tradição
antiga, e esses deuses nem sempre terão acertado.
Por outro lado, a partir de determinada altura, esses seres criadores não estavam totalmente
de acordo uns com os outros, do que resultou a denominada “Guerra dos Céus” e que parece
ter tido origem num problema de natureza sexual, pois foi a partir do momento em que
Lúcifer idealizou a figura deslumbrante da futura Mulher que tudo se desencadeou. Não terá
sido apenas esta a única razão, como veremos mais adiante, mas foi sem dúvida uma das
peças fundamentais para a completa transformação do homem no ser que passou a habitar e
a dominar a Terra. Os seres angélicos eram astral e espiritualmente andróginos, e a sua
irradiação de Amor era sem perturbações e sem desejos egoístas, o que se compreende dada
a sua androginia. Ora, a confusão estabeleceu-se quando apareceu a primeira tentativa de
separação dos sexos, que é o mesmo que dizer a separação do homem em suas duas
polaridades opostas e complementares, o homem macho e o homem fêmea, que passou a
chamar-se mulher.

Tudo isto nos faz sentir que, por detrás de todas estas coisas algo se esconde e que,
aparentemente escapa à nossa percepção. O surgimento de um conflito a nível espiritual
entre a hierarquia dos seres é uma situação estranha e que transcende as nossas concepções
acerca do modo como esses seres evoluem e agem. Para tentarmos compreender, na verdade,
como se terá dado a Criação e como foi concebido o Homem, temos de tentar descortinar
através da névoa com que todas estas coisas nos são transmitidas.

Na ordenação do Universo, existe uma razão para todas as coisas, porque nada foi feito e
organizado ao acaso. Por este motivo, deve haver também uma razão para as hostes
celestiais estarem organizadas numa hierarquia perfeitamente estabelecida. Elohim parece
ser um nome genérico para muitos destes seres, pelo menos para os de mais elevada
categoria, como por exemplo os Tronos e os Arqueus. Todos eles são seres criadores, pois
todos têm a faculdade de criar, só que cada um pode criar até um limite específico, vimos
isto na criação do Sol de Saturno em que os Arqueus não podiam criar a luz que precisavam.
Vimos também isto quando os Arqueus criaram os Arcanjos para estes continuarem o
processo de criação que eles tinham iniciado. Se quisermos organizar esta hierarquia de
Poderes (na tradição cristã chamam-se Poderes), ou as faculdades de Deus em acção para a
tradição hebraica, teremos o seguinte:

1ª Tríade – Serafins (Amor), Querubins (Harmonia) e Tronos (Vontade).

Este primeiro grupo está acima de qualquer outro Poder. Age em todo o Universo e faz parte
da Esfera Divina. Está acima do espaço e do tempo, mas a sua acção manifesta-se no
espaço-tempo.

2ª Tríade – Virtudes (Forma), Dominações (Movimento) e Principados (Sabedoria).

Estes são os Poderes ordenadores e equilibrantes, intermediários entre os Poderes superiores


e os inferiores. Eles ordenam e equilibram todo o sistema planetário.

3ª Tríade – Arqueus (Personalidade), Arcanjos (Fogo) e Anjos (Vida).

Estes Poderes são os que estão logo acima do Homem e agem directamente com ele. Como
vimos anteriormente, os Arqueus são os iniciadores, os espíritos do começo, os que fizeram
saltar a primeira chispa do “Fiat Lux”. Os Arcanjos são a própria Luz, o Fogo criador, os que
descem à voragem da matéria e amam o Homem, ao qual deram o sopro e a vida. Os Anjos
são os seres que acompanham o Homem na sua vida terrestre, que sofrem e se alegram com
ele, que o guiam através das múltiplas encarnações da sua viagem. Os Anjos não são o Eu
superior do Homem, são seres independentes deste mas ligados a ele individualmente. Uma
das suas missões é, precisamente, tentar despertar em cada homem o seu Eu superior.

Os Poderes destas três Tríades vêem depois a concentrar-se na individualidade que é


representada por Lúcifer, ele próprio também um Arcanjo, que concedeu ao Homem e por
amor deste, a liberdade.

Podemos comparar esta organização de Poderes com a Árvore Sefirótica da Cabala, onde o
raio divino de En Sof percorre todas as esferas (Sefiras) de emanação até se concentrar em
Malkhut, que é o mundo da matéria criada. Os cabalistas afirmam que existem quatro reinos
presentes numa Árvore Sefirótica. Assim, comparando com as Tríades acima, teremos o
seguinte:

 1º Reino – AZILUT – englobando Kether, Hokhmah e Binah. Este é o reino da


emanação e é correspondente à 1ª Tríade de Serafins, Querubins e Tronos.

 2º Reino – BERIAH – contendo as Sefiras de Hesed, Gevurah e Tiferet. É o reino da


criação, correspondente à 2ª Tríade de Principados, Dominações e Virtudes.

 3º Reino – YEZIRAH – incluindo Nezah, Hod e Yesod. É o reino da formação,


correspondente à 3ª Tríade e onde agem os Arqueus, Arcanjos e Anjos.

 4º Reino – ASIYYAH – é o reino da feitura, da coisa feita. É a matéria em todo o


esplendor de Malkhut. É o Homem criado, feito espírito e matéria.

Temos aqui, visto de uma maneira ou de outra, o número 10, que contém em si todos os
atributos da Divindade que é o 1, pois o número 10 é igual a 1 (1+0=1). O Homem é o 10, o
resultado de todo o processo da Criação, mas também é o 1, porque todos os atributos da
Divindade estão nele – ele é o reflexo da face de Deus, de onde proveio e para onde volta,
na sua interminável ronda ao encontro da sua natureza superior.

Voltando à chamada “Guerra dos Céus” e à impressão de que os Poderes angélicos nem
sempre terão feito um trabalho perfeito, o que não nos custa aceitar, uma vez que sendo eles
uma emanação da vontade Divina, tal como o Homem também o é, e estando eles também
no seu plano evolutivo, é natural que haja algo de imperfeição na sua acção. Afinal a
perfeição está em Deus, é Deus, e eles não são Deus, mas sim forças que agem por vontade
Dele. Isto é importante porque há uma certa tendência para confundir Deus com as suas
manifestações e por isso, os numerosos cultos que se formam em relação a determinadas
divindades como se fossem o próprio Deus. Embora Deus seja omnipresente, uma vez que
está em tudo, Ele não age directamente, Ele manifesta-se sempre através de terceiros, que
são os instrumentos da sua manifestação.

No combate ou guerra dos céus que terminou com a derrota de Lúcifer e dos seus
seguidores, e sua consequente queda no mundo da matéria, as coisas, provavelmente, não
poderiam ter-se passado de outra forma, pois este acontecimento terá estado, desde o início,
no pensamento Divino. A matéria só existe como resultado de duas energias, a positiva e a
negativa, os átomos que a constituem possuem estas duas polaridades, e tudo o que existe é
feito por associação de átomos. Ainda que não consigamos nem chegar perto dos chamados
desígnios de Deus, é muito difícil que a matéria, como resultado último da Criação, pudesse
ser formada de outro modo.

É caso para pensarmos: será que Lúcifer, na verdade, foi derrotado? Ou terá competido à sua
hoste descer ao mundo espesso da matéria para aí poder prosseguir na sua obra de criação do
Homem como ser independente e livre? Helena Blavatsky, a respeito do Génesis, diz o
seguinte na sua “Doutrina Secreta”: “Por outra parte, a Serpente não é Satã, mas o Anjo
Radioso, um dos Elohim revestido de glória e esplendor, que, havendo dito à mulher: «Se
comerdes do fruto proibido, não morrereis certamente», cumpriu a promessa e tornou o
homem imortal em sua natureza incorruptível. É o Iao dos Mistérios, o chefe dos Criadores
Andróginos dos homens.”

Mais adiante, afirma ainda: “O Capítulo III (Génesis) contém (esotericamente) o


descerramento do véu de ignorância que limitava as percepções do Homem Angélico, feito à
imagem dos deuses, “sem ossos”, e o despertar nele da consciência da sua natureza real;
mostra-nos deste modo o Anjo Radioso (Lúcifer) como um ser que dá imortalidade, um ser
que ilumina.”

Eliphas Levi, a propósito de Lúcifer (Satã para os católicos), diz o seguinte no seu livro “As
Origens da Cabala”: “Teólogos do demónio, supondes que Satã é livre? Se ele é, ainda pode
voltar ao bem; se não for, não será responsável pelos seus actos, mas apenas instrumento de
alguém mais forte do que ele, um escriba da justiça divina; fará tudo o que Deus quiser.
Deus, para prová-lo, faz que ele tente e torture suas débeis criaturas. Então Satã não é o
monarca das trevas: é o agente da luz velada. Logo, é útil a Deus; executa as obras de Deus;
Deus não o arrojou longe, posto que o mantém sob a sua mão. Assim, aquele que é
reprovado por Deus, por ele é rechaçado para sempre. O agente de Deus é o representante de
Deus e, segundo as leis da boa política, o representante de Deus é o próprio Deus.”

Fica-nos a ideia de que, nesta altura dos acontecimentos, se tinha chegado a uma espécie de
impasse, a uma solução de continuidade no processo da criação do Homem e da sua
evolução: o Homem, para poder cumprir a sua missão de construção da sua própria evolução
e, por extensão, da evolução planetária, teria que participar de forma integral do mundo da
matéria, para daí poder renascer purificado e elevar-se ao mais alto da hierarquia na forma
perfeita do Homem-Deus. Para isso era também necessária a separação dos sexos, que
correspondia à imersão do homem no mundo da matéria. O homem teria que conhecer o seu
lado sombra, a sua parte obscura e poder assim optar, para poder emergir em luz ou afundar-
se nas trevas da animalidade.

De acordo com o Génesis da Bíblia o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. E
Deus o fez homem e mulher e lhe ordenou para ser fecundo, para se multiplicar e dominar
sobre a Terra. Na verdade, é bem isto o que o homem tem feito, tem sido fecundo, tem-se
multiplicado e tem dominado sobre a Terra. Ele domina sobre a Terra, mas não domina a
Terra nem a natureza. No seu processo de aprendizagem, o homem tem sido, a seu modo,
um criador, mas tem sido mais um elemento predador do que um companheiro de viagem.
Para deter completo domínio da Terra e da natureza, o homem tem de aprender a respeitá-
las, mas para que isso suceda, um longo caminho tem ainda de percorrer.

Como diz a Bíblia, se o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, isto significa que
ele é o espelho da Divindade, não no sentido da imagem que se reflecte num espelho, mas
no de que o homem contém em si todos os predicados dessa Divindade. Dito de outra forma,
ele é o objecto último da Criação, a mais perfeita criatura criada, reflecte em si todas as
características da própria Divindade e do que ela concebeu quando “pensou” a Criação. Por
outro lado, possui algo que mais nenhuma criatura possui, o livre arbítrio, a capacidade de
pecar, a capacidade de ofender a Deus, que não é mais do que a capacidade de ir contra a sua
própria natureza ou contra os desígnios com que foi criado.

A liberdade concedida ao homem (o livre arbítrio) é para ele a suprema dádiva de Deus, a
oportunidade de se poder elevar por seu exclusivo mérito, pelos ditames da sua consciência
sempre soberana. Ao contrário, pode constituir também a sua maior maldição, dependendo
dos seus pensamentos e acções. Isto é demonstrado de forma exemplar na “Odisseia” de
Homero, na viagem que Ulisses faz no seu regresso a casa, nas tentações a que tem de
resistir, nos obstáculos que tem de ultrapassar. Esta é, verdadeiramente, uma viagem
iniciática, uma perfeita alegoria do destino do homem sobre a Terra, do percurso que tem de
fazer e das dificuldades que tem de ultrapassar, na sua volta à casa matriz, no retorno à sua
origem, e neste regresso volta enriquecido com toda a experiência acumulada numa
evolução feita num ambiente em que tem de conquistar, palmo a palmo, o mérito da sua
ascensão, tornando-se um ser superior entre a mais alta hierarquia do círculo Divino. É a isto
que também se refere a parábola de Jesus sobre o filho pródigo.

O homem, na tradição oculta, é o microcosmo que reflecte o macrocosmo. É a confirmação


da lei que nos foi ensinada por Hermes Trismegistus, que para alguns seria a mesma
entidade que Thoth, para outros um dos primeiros homens celestes, um dos Manus
instrutores dos homens, lei essa que diz que o que está em baixo é como o que está em cima.

Z’ev ben Shimon Halevi dá-nos uma maravilhosa imagem da criação do Homem no seu
livro “O Caminho da Kabbalah”. Diz ele o seguinte: “Depois que o Senhor (Adonai, o nome
de Deus correspondente a Malkhut) já havia descansado em equilíbrio no sétimo dia de
Malkhut, Ele observou que não havia nenhum homem para arar o solo. Isto significa que
enquanto a Face superior de Yezirah era inerente à Face inferior de Beriah não havia nada
abaixo para formar a Face superior de Asiyyah, simbolizada na palavra «adamah», ou
“solo”. Portanto, Deus “plasmou o homem, pó da terra”: isto é, Deus seguiu pela Árvore
Yezirática abaixo para “fazer” o mundo de elementos e acção, e “insuflou em suas narinas
(neshamet hyim) um sopro de vida”. Aqui está o Homem no Éden, o Jardim daquele Mundo
Yezirático que se estende para cima até ao Céu de Beriah e para baixo até à Terra de
Asiyyah. Abaixo, a Face inferior de Asiyyah, tornou-se a parte da Terra que estava além da
porta do Éden. Quando Adão e Eva caíram e foram forçados a deixar o Éden, foram
baixados para essa Face inferior de Asiyyah a fim de vestirem peles de animais, que nós,
humanos encarnados, portamos até hoje na forma do corpo físico. Contudo, ainda temos na
Face superior de Asiyyah, uma conexão directa com o jardim inferior do Éden, e de vez em
quando, em certos momentos de lucidez, entramos nela, mesmo que seja para vislumbrar a
sua beleza estranhamente familiar.”
É uma bela descrição feita em termos cabalísticos. Os quatro reinos tocam-se e envolvem-se
reciprocamente, nenhum deles é independente dos outros. Assim, o mundo superior, Azilut,
que é emanação pura, abrange na sua circunferência o En Sof, Kether, Binah e Hokhmah; o
mundo seguinte, Beriah, que é criação, inclui 3 Sefiras de cima, Kether, Binah e Hokhmah
mais Gevurah, Hesed e Tiferet; O terceiro mundo, Yezirah, que é formação, envolve as três
últimas Sefiras do mundo anterior mais Nezah, Hod e Yesod; por último temos o mundo de
Asiyyah, a feitura, que abrange na sua circunferência Tiferet, Nezah, Hod, Yesod e Malkhut.
É através de Tiferet, a Beleza, que o autor diz que pudemos por vezes estabelecer uma
conexão directa com o jardim do Éden, em certos momentos de lucidez.

O primeiro Homem criado chamou-se Adão, mas este não é o nome de um indivíduo mas
sim, o nome do ser criado chamado Homem. Martinés de Pasquallys diz que Adão, no seu
primeiro estado de glória, era um verdadeiro émulo do Criador. Sendo um puro espírito, lia
como num livro aberto os pensamentos e operações divinas. Diz ainda que Adão viu que era
grande o seu poder e conhecia com exactidão todos os seres activos e passivos que
habitavam desde a superfície terrestre e o seu centro até ao centro celeste chamado
misteriosamente “céu de Saturno”. Diz também que Deus lhe concedeu os mais vastos
poderes, ao ponto dele ser o Homem-Deus governando sobre a Terra, até ao dia da
prevaricação de Adão, que fez com que fosse condenado a viver no mundo escuro da
matéria: “É por isso que o anjo do Senhor diz, conforme rezam as Escrituras: «Expulsemos
daqui o homem que teve conhecimento do bem e do mal, que ele poderia alterar-nos nas
nossas funções espirituais, e evitemos que ele toque a árvore da vida, e que por este meio
viva para todo o sempre.”

A árvore da vida aqui representa o espírito Criador, e viver por este meio para todo o sempre
significa viver em função da dualidade, entre o bem e o mal, a que esta expulsão o
condenou.

É interessante verificar que o Homem foi criado com todos os atributos divinos, mas que a
sua condição posterior é consequência de dois episódios designados como “quedas”:
primeiro a queda dos anjos, de Lúcifer, por ter idealizado Eva e, por acréscimo, a separação
dos sexos, mas também por ter concedido ao homem o livre arbítrio a partir do qual, ele se
sentia livre para agir segundo a sua própria vontade e consciência; a segunda queda é a do
próprio Homem, de Adão, a sua expulsão do Éden por ter tido conhecimento do bem e do
mal.

Podemos imaginar estas duas “quedas” como autênticas revoluções no processo da Criação,
autênticos cataclismos siderais que estavam, como já dissemos, desde o início no
pensamento de Deus, pois ambas eram necessárias para que o Homem pudesse cumprir a
missão para que fora criado. Fica-nos, no entanto, uma estranha sensação: de que ambas as
quedas são uma e a mesma coisa, ou que a última, a do Homem, está intimamente ligada à
primeira, porque uma não faz sentido sem a outra. Explicando melhor, o homem não poderia
aceder ao conhecimento do bem e do mal, que provocou a sua queda, sem o livre arbítrio, o
qual lhe fora concedido em resultado da revolta dos Anjos. A “Doutrina Secreta” de Helena
Blavatsky, abre talvez uma pequena porta para que possamos entender melhor, quando diz:
“A Filosofia Esotérica não admite nem o bem nem o mal per si, existindo independentes na
natureza. Percebe-se a razão de ser de ambos, no que respeita ao Cosmos, na necessidade
dos opostos, dos contrastes, e, relativamente ao homem, em sua natureza humana, em sua
ignorância, em suas paixões. Não há demónios ou seres absolutamente pervertidos, como
não há anjos absolutamente perfeitos, embora possa haver Espíritos de Luz e Espíritos de
Trevas; assim, Lúcifer (O Espírito da Iluminação Intelectual e da Liberdade de Pensamento)
é, metaforicamente, o farol que orienta, que ajuda o homem a encontrar o seu caminho por
entre os escolhos e os bancos de areia da Vida, pois Lúcifer, no seu aspecto mais elevado, é
o Logos, e, no aspecto inferior, é o “Adversário” – aspectos ambos que se reflectem no
nosso ego.”

Desde o primeiro alento, o sopro de Deus, a vibração primordial, todo o processo da Criação
desaguou nesse ser esplendoroso que contém em si todas as virtudes e potencialidades
divinas – o Homem. Por detrás de todas as convulsões físicas da matéria, conseguimos ver a
acção dos Poderes espirituais: foram os Arqueus que deram o primeiro impulso, os espíritos
do começo; depois vieram os Arcanjos, espíritos do Sol, génios da Luz; em Lúcifer, uma
Luz adentrando as Trevas do Abismo, a compaixão pelo Homem; o Homem, o sofrimento e
o desejo, a “via-sacra” do seu caminho, os espinhos do crescimento interior; com Cristo, a
redenção e a ressurreição, a promessa de um novo Éden, um novo jardim do Paraíso.

O COSMOS, O HOMEM E A EVOLUÇÃO 8 -

As Várias Humanidades

“Lá, montanhas enormes surgiram atrás de montanhas, as espécies fervilharam sobre as


espécies e as raças humanas rolaram umas sobre as outras como o limo dos rios.” (Édouard
Schuré – “O Mistério da Índia”, do livro “A Evolução Divina da Esfinge ao Cristo.”)

Aparentemente, para determinada teosofia, o planeta foi ocupado por vários tipos de ser
humano, numa progressão ascendente até chegar ao indivíduo dos nossos dias. As grandes
obras de um passado remoto não podem assim ser atribuídas a esses seres humanos, dado
que não seriam capazes de edificá-las. Portanto, só podemos atribuir essas grandes
realizações a seres a que nos habituamos a chamar de deuses.

O mito de Adão como primeiro homem criado, por este ponto de vista, também não se refere
a um indivíduo, mas a um conjunto de seres que formaram uma dessas primeiras
humanidades. Provavelmente a criação mais tardia, ou mais próxima de nós, uma vez que,
segunda a tradição, reunia em si todas as faculdades idealizadas por Deus para ser o último e
o primeiro da Criação.

Estes primeiros homens não eram humanos, no sentido em que o entendemos hoje, eram
seres celestes, não tinham corpo físico. Eram seres puramente espirituais, semelhantes aos
Anjos e Arcanjos, eram andróginos e dispunham de um corpo etéreo.

Aqui parece que entramos no mundo da ficção científica a qual, aliás, costuma recorrer a
mitos antigos para criar histórias recheadas de imaginação. Como se trará apenas de ficção
científica temos tendência para achar que tudo não passa de uma rica fantasia dos seus
autores. Mas… às vezes a realidade parece ultrapassar a ficção.

A noção de que o primeiro homem criado era um ser celeste, quer dizer, que não tinha corpo
físico, parece ressaltar sem muita margem para dúvidas, de toda a tradição antiga. Este
homem não havia descido ainda ao estado da matéria, não havia ainda encarnado, embora a
Terra fosse o seu lar, o planeta ao qual pertencia. Não sabemos se a passagem do homem ao
estado da matéria se deu antes ou depois da “queda” de Adão e Eva, se na conhecida
tentação da serpente para comerem o fruto proibido já tinham um corpo físico pois, de
acordo com os ensinamentos ocultos, houve várias tentativas de criação do Homem (do
homem físico) e as primeiras terão sido experiências frustradas.

As fontes sobre este período de passagem do homem ao estado físico são muito confusas,
não parecem obedecer a uma cronologia e, alguns acontecimentos cruzam-se ou sobrepõem-
se, não deixando ver claramente o que terá, na verdade, acontecido. Não parece haver
dúvidas de que o Génesis confirma que o primeiro homem foi criado como um ser
andrógino e depois, numa segunda criação, é que houve a separação dos sexos com a criação
de Eva a partir de uma costela de Adão. A tentação da serpente e a consequente queda dá-se
com Eva, pois é esta que a serpente tenta, e por sua vez Eva leva Adão a comer do fruto
proibido, o que quer dizer que já eram homem e mulher distintos.

A existência de seres celestiais é confirmada de certo modo por um texto da Mesopotâmia


chamado “Enuma Elish”, cujo título foi traduzido como “A Epopeia da Criação” e é referido
e comentado no livro “O 12º Planeta” da autoria de Zecharia Sitchin. Este texto conta-nos
que a Criação não foi feita em 6 dias, como diz o Génesis, mas a descrição encontra-se
dividida em 6 tábuas de argila em escrita cuneiforme, ou seja, cada tábua corresponde a um
dos seis dias indicados na Bíblia. Ao sétimo dia corresponde uma sétima tábua, que não nos
diz que foi para Deus descansar, mas dedicado ao enaltecimento da divindade babilónica.
Como descrição do começo de tudo, diz-nos este texto que “Quando nas alturas o céu não
fora nomeado e em baixo a Terra não fora chamada”, que dois primitivos corpos celestiais
deram à luz uma série de “deuses celestiais”. Estes deuses celestiais não eram mais do que
os planetas que se foram formando, criando o sistema planetário em redor do Sol.

Os textos mesopotâmicos confirmam que em determinada época os deuses habitaram a Terra


e que foram estes deuses os responsáveis pelas experiências mal sucedidas de criação do
homem, até que finalmente o conseguiram. Dessas experiências terão resultado os vários
monstros que povoam a mitologia antiga. Portanto, se foram eles que acabaram por criar o
homem, este não existia nessa altura, o que acaba por entrar em contradição com a
“Doutrina Secreta” da Blavatsky e com a denominada tradição primordial.

Conforme a “A Doutrina Secreta”, houve várias raças criadas que se foram substituindo
sobre a Terra. O termo raça aqui aplicado refere-se a humanidade, a um grupo de seres
humanos criado com determinadas características e faculdades, não se refere a distinções de
cor de pele ou outras diferenças, mas sim a um tipo específico de humanidade. As primeiras
raças terão sido destruídas pelos próprios deuses por a sua criação ter saído frustrada. Estes
deuses eram os Arcanjos e talvez os Homens Celestes andróginos, o Adão primordial pois,
se os primeiros foram os idealizadores do homem, os segundos terão sido, pelo menos, os
seus instrutores e guias. De qualquer maneira foi este Homem Celeste que se procurou dotar
de corpo físico, foi o arquétipo ou forma a partir do qual se procurou criar o homem de
faculdades físicas nas tentativas de criação das primeiras raças ou humanidades.

Não sabemos se houve, de facto, duas quedas, primeiro a dos Anjos e depois a do Homem. A
Bíblia não contém nenhuma indicação, nenhum indício, acerca da queda dos Anjos. Esta
aparece apenas no “Livro de Enoch”, que se supõe ser anterior à Bíblia. A sensação que se
tem é de que não se tratou de dois acontecimentos separados no tempo e espaço, mas de um
único, em que as duas quedas são uma e a mesma coisa e que terá sucedido em simultâneo
com as tentativas de criação das primeiras raças pois, embora o processo da criação seja um
desenvolvimento complexo em que várias coisas podem suceder ao mesmo tempo, existe
uma ligação directa entre os motivos que originaram essas quedas e a criação do homem
como ser dominante sobre a Terra. Nos textos mesopotâmicos e na interpretação de Zecharia
Sitchin, esta queda corresponde à revolta dos “anunaki”, que se terão recusado a continuar o
trabalho penoso nas minas de ouro do sudeste africano, e que foi a partir deste
acontecimento que os deuses decidiram então criar o ser humano para trabalhar nessas
minas.

A “Doutrina Secreta” diz que houve 4 raças e que nós, na actualidade, pertencemos à 5ª
raça, cada uma delas com várias sub-raças ou variantes da raça matriz. As primeiras duas
raças eram andróginas ou hermafroditas e reproduziam-se, primeiro por exudação,
produzindo seres chamados “nascidos do suor”, e depois de forma ovípara. A reprodução
por via sexual só veio a acontecer em meio à existência da terceira raça, com consequências
catastróficas como veremos mais para a frente.

É interessante verificar que a forma ovóide se encontra ligada a todo o processo da criação.
A este respeito conta-se que Sai Baba, para muitos um Avatar encarnado no final de século
passado e do milénio e que vive no sul da Índia, em determinadas ocasiões especiais e
testemunhado por milhares de pessoas, ele pára o seu discurso e extrai da boca uma coisa
semelhante a um ovo chamada “Lingam” e que, segundo ele, representa o mistério da
criação cósmica e contém as cinco substâncias elementares da criação do mundo. Diz-se que
a criação e o nascimento destes “Lingams” dão-se com enorme sofrimento de Sai Baba, com
convulsões semelhantes a um nascimento corpóreo e que só cessam quando o objecto
ovóide brota da sua boca.

Não se compreende muito bem a condenação de Lúcifer por ter idealizado a figura
deslumbrante da primeira mulher, quando no Génesis se afirma que foi Deus quem a criou
para ser a companheira de Adão. A não ser que este Deus, Javé, que não é o mesmo que
criou o primeiro Adão como ser andrógino, fosse o próprio Lúcifer ou alguma das entidades
da sua hoste pois, o nome da 1ª humanidade era Jah-Heva, que mais tarde veio a dar o
Jeovah de Moisés. No Génesis diz que o homem e a mulher estavam nus e não sentiam
vergonha. Isto não pode corresponder à sua androginia, uma vez que já eram de sexos
distintos, mas pode referir-se à sua condição de pureza, onde o sentimento de vergonha não
teria qualquer cabimento, condição de pureza tal que eles ainda não tinham conhecimento do
bem e do mal – o homem da 1ª humanidade era um ser sem mente. Naturalmente que não
estamos a falar de dois únicos indivíduos, um homem e uma mulher, pois neste caso não
haveria lugar para o sentimento de vergonha entre dois seres que se conhecem íntima e
profundamente, estamos a falar de uma humanidade, talvez de milhões de indivíduos que
viviam nus, tal como acontece com os animais.
Ainda de acordo com o Génesis, a procriação por via sexual só se vem a dar depois de Eva,
“induzida” pela serpente, fazer com que Adão provasse do fruto da árvore proibida: “O
homem uniu-se à mulher , e ela concebeu e deu à luz Caim. E disse: «adquiri um homem
com a ajuda de Javé».

Da mesma forma, ela concebeu e deu à luz Abel. Há quem diga que a geração de Caim
corresponda à humanidade macho, e a de Abel à feminina. Mais adiante, e depois do próprio
Caim ter gerado descendência ao unir-se à sua mulher, diz que Seth foi criado por Adão à
sua imagem e semelhança, não diz que Adão e Eva geraram Seth.

Evidentemente que estamos perante acontecimentos que não obedecem a uma cronologia, e
os intervenientes, Adão, Eva, Caim, Abel e Seth, não são mais do que símbolos. Neste caso
do Génesis, Adão e Eva são o protótipo do Homem e Mulher primordiais, os arquétipos de
todos os homens e mulheres que se vêem a reflectir em Caim e Abel, a humanidade macho e
a humanidade fêmea. Seth é o homem físico criado.

Depois vem uma passagem misteriosa quando diz: “Nesse tempo – isto é, quando os filhos
de Deus (ou os filhos dos deuses, ou mesmo os deuses?) se uniram às filhas dos homens e
geraram filhos – os gigantes habitavam a terra. Estes foram os heróis dos tempos antigos.”

Sobre a existência destes gigantes, toda a mitologia antiga está recheada de histórias e de
fábulas em que eles aparecem e em que, normalmente, não representam um papel muito
bom. A sua existência pode explicar as ruínas ciclópicas que ainda hoje se encontram um
pouco por toda a face da Terra, e que ninguém sabe, exactamente, como foram construídas,
dado o peso e a dimensão dos seus componentes de pedra, e há quanto tempo estão ali,
como testemunhas de um passado em que os gigantes terão habitado o planeta.

Mas o texto (continuamos a falar do Génesis) fala inequivocamente dos “filhos de Deus”.
Em Enoch encontra-se a mesma referência, só que aqui diz que os “deuses”, vendo que as
filhas dos homens eram belas, se cruzaram com elas e geraram filhos. Quem eram estes
“filhos de Deus” ou “deuses”? Seriam os seres a quem chamamos Adão, ou seriam os
Arcanjos? Ou seriam ambos? De uma maneira ou de outra, é muito complicado entender
este cruzamento, uma vez que esses seres eram andróginos.

Dizem os textos antigos que a 1ª raça criou a 2ª por brotação ou exudação, e que esta, da
mesma forma, criou a 3ª. Esta terceira raça veio a separar-se em divisões ou sub-raças
diferentemente criadas: as duas primeiras produziram-se por um método ovíparo e as
últimas vieram a ser criadas por uma espécie de exudação do fluido vital cujas gotas,
coagulando-se, formavam uma bola oviforme, que servia de veículo exterior para a geração
no mesmo de um feto andrógino.

Continuando a tentar compreender a “Doutrina Secreta”, a gestação natural, tal como a


conhecemos hoje, resultado da união do homem e da mulher, seres já não andróginos mas de
sexos opostos, só vem a acontecer na 4ª raça ou 4ª humanidade, e que constitui ainda hoje
grande parte dos seres humanos actuais, pois da sétima sub-raça desta 4ª procedem os
chineses, os malaios, os mongóis, os tibetanos e os esquimós.
É no período de passagem da 3ª para a 4ª raça que se dá pela existência da Lemúria, que não
se tratou de uma terra mítica no sentido de fantasia, mas de um continente que existiu de
facto no hemisfério austral, quando a Europa e grande parte dos continentes como os
conhecemos hoje, ainda estavam submersos. A Lemúria estendia-se desde a Austrália actual
até à América do Sul e englobava parte da Ásia e da África meridional. Os seres que a
habitavam pertenciam à terceira raça e não eram ainda homens no sentido físico actual.
Eram um ser meio peixe, meio sáurio, em pleno processo de transformação. A glândula
pineal destes seres revestiu-se de um crânio, mas era um crânio aberto, ou mole, na parte
superior, por onde se escapava essa glândula, que formava uma espécie de penacho sobre a
cabeça. Isto fazia com que este ser híbrido tivesse fortes percepções do plano astral e
começasse a tê-las também do plano físico. Porém, para deixar de ser um “animal” meio
rastejante e tornar-se um homem erecto, ainda era preciso haver profundas transformações.
Então vieram os “deuses”, os “instrutores” que, como vimos antes, eram os Arcanjos ou
talvez os Adão. Vieram habitar a Lemúria, instruindo e fazendo evoluir os seres que ali
existiam. São estes os “filhos de Deus” ou os “deuses” que se uniram às filhas dos homens e
geraram gigantes, só que continuamos sem perceber com é que seres andróginos o fizeram.
A não ser que, tal como descreve Zecharia Sitchin, estes “deuses” fossem de facto seres
como nós, apenas talvez bastante mais altos, e daí o termo aplicado de gigantes.

À medida que o homem foi perdendo a sua forma de animal inferior e aproximando-se da
forma actual, a separação dos sexos foi-se acentuando. A descoberta da atracção sexual deve
ter provocado uma verdadeira catástrofe, pois as descrições são inúmeras sobre cruzamentos
entre seres de natureza diferente e que deram origem a outros seres híbridos. Diz-se que do
acoplamento das espécies inferiores da humanidade com outros mamíferos, terão nascido os
símios e que estes, ao contrário do que se supõe, não são os progenitores ancestrais do
homem mas sim, uma degeneração e degradação do homem primitivo. As más paixões
espalharam-se e ganharam raízes que perduram até aos dias de hoje, como os desejos sem
freio, a inveja, o ódio e a guerra.

Deve ser a esta época que se referem os fragmentos da cosmogonia caldeia, em escrita
cuneiforme, e se referem também alguns mitos antigos chineses. Dizem os fragmentos
caldeus que Oannes, o “Homem-Peixe”, que saia do mar todas as manhãs para instruir os
homens, falava do abismo de água e trevas, onde residiam os mais horrendos seres: homens
alados, homens com duas e quatro asas, seres humanos com duas cabeças, etc. É também a
esta situação calamitosa que se refere a lenda grega da “Caixa de Pandora”: quando a caixa é
aberta, espalha-se sobre a Terra toda a espécie de males e doenças, e quando é de novo
fechada, somente resta a Esperança. É uma história semelhante à do “Aprendiz de
Feiticeiro”, pois quando alguém, submetido por intenso desejo, envereda por caminhos que
desconhece, podem acontecer-lhe as coisas mais horríveis, resultado e fruto da sua
ignorância.

Entretanto, terríveis cataclismos assolaram a Lemúria, destruindo a maior parte do


continente e aniquilando quase todos os seus habitantes. Apenas uma elite lemuriana,
dirigida e comandada por Manu, um guia divino, conseguiu refugiar-se na parte ocidental do
continente e daí atingir uma terra recentemente emersa, a Atlântida, onde iria desenvolver
uma nova raça e a primeira civilização humana.
O Homem (homem e mulher) de sexos opostos, dotado de Mente e Desejo, surge no fim do
período lemuriano, depois das tremendas convulsões originadas pela descoberta do sexo, e
depois dos seres celestes (Arcanjos, Adão?) se terem cruzado com as formosas “filhas dos
homens” e terem gerado filhos. Esta foi a 3ª raça, e tudo leva a crer que foi no seu seio onde
se deram as duas quedas: a dos Anjos, que descendo à matéria engendraram filhos ao
cruzarem-se com as “filhas dos homens” e dotaram a sua descendência com os atributos da
consciência; a do Homem, que se separa em dois sexos diferentes e toma conhecimento do
bem e do mal. Afinal, ambas estão intimamente ligadas entre si, por isso a nossa suspeita de
que se tratou de um único evento. Diz a tradição que o Homem-Anjo assim criado,
engendrou dentro de si o demónio, abrigou-o no seu coração e contagiou Deus que aí
habitava, envolvendo o Espírito puro com o demónio impuro da Matéria.

Esta elite lemuriana que se salvou (arca de Noé?) era liderada por um ser divino chamado
Manu. Em sânscrito, Manu quer dizer Homem. Na tradição hindu, é um dos 14 progenitores
da humanidade, cada um dos quais governa o mundo por um período de tempo conhecido
como Mavantara. A duração de um Mavantara, de acordo com a mesma tradição, é de
4.320.000 anos. O actual Manu é o sétimo, chamado Vaivasvata (filho do Sol), e é o herói da
história hindu sobre o dilúvio, ou seja, a mesma personagem descrita na Bíblia como Noé.

Quem é este Manu, que para os hindus se chama Vaivasvata e para os hebreus se chama
Noé? Os fragmentos das tábuas achadas na antiga Babilónia e na antiga Caldeia reconhecem
a existência de duas raças principais no tempo em que se terá dado a queda, raças essas
precedidas por uma outra, a que aqueles fragmentos aludem como raça dos deuses. Estes
deuses eram sete, cada um dos quais criou um Homem, ou um grupo de homens em
diferentes partes do planeta. Há nos fragmentos babilónicos a referência, tal como na Bíblia,
a duas criações distintas: primeiro a criação eloísta, figurada na Bíblia, no 1º capítulo, como
acção directa de Deus (ou Elohim); depois, no 2º capítulo, a criação jeovista, em que a acção
é feita por Javé Deus (Jeovah). Cremos que a primeira se refere à criação do Homem celeste
(a raça dos deuses ou os sete deuses), e a segunda à criação das humanidades das 2ª e 3ª
raças raízes.

Manu aparece em toda a tradição antiga e por toda a parte com os mais diversos nomes.
Pode tratar-se da mesma personagem ou de personagens semelhantes, e aparece,
invariavelmente, no número de sete. Ele é Thoth dos egípcios, que pode também ser Osíris
ou Isis; é o Hermes dos gregos, o mensageiro dos deuses, ou o Apolo hiperbóreo; é o
Oannes dos caldeus, o homem-peixe; é o Enoch dos hebreus, o “divino gigante”; é o Manco-
Capac dos incas peruanos. Em toda a parte a história é semelhante, são os sete deuses que
desceram e reinaram sobre a Terra, ensinando à humanidade astronomia, arquitectura,
agricultura e todas as demais ciências que chegaram até aos dias de hoje. Primeiro aparecem
como deuses criadores; depois fundem-se no homem nascente; por fim ressurgem como
“reis e governadores divinos”.

Manu seria então um desses sete deuses, um Homem celeste, o Adão primordial, que desceu
ao mundo da matéria, misturou-se com os homens para os ensinar, instruir e conduzir. Era
um ser divino e relacionava-se directamente com Deus (Elohim). O próprio Génesis, no
capítulo 6, diz que Noé era um homem justo, íntegro entre os seus contemporâneos, e
andava com Deus. A história da Arca poderá muito bem ser o salvamento que ele efectuou
daquela elite lemuriana (elite no sentido de que eram homens já instruídos por ele), quando a
Lemúria foi destruída por um cataclismo ou uma série de cataclismos. Mas ele não era o
único ser celestial que tinha descido na Lemúria, outros filhos de Deus ou deuses o tinham
feito para se cruzarem com as filhas dos homens.

Helena Blavatsky, acerca deste episódio, conta-nos que, depois da Terra ter sido preparada
pelos poderes inferiores e mais materiais, e os seus três reinos (mineral, vegetal e animal)
terem principiado a frutificar e a multiplicar-se, os Poderes superiores, os Arcanjos, foram
obrigados pela Lei da Evolução a descer à Terra para construir o Homem. Isto quer dizer,
como suspeitávamos, que a queda foi o resultado da Lei da Evolução, e não o castigo eterno
decretado por Deus. Por outro lado, também quer dizer que o homem constitui um reino à
parte na natureza, é o quarto reino, o que concorda com a Bíblia, onde está perfeitamente
diferenciada a criação do homem em relação aos outros reinos.

Diz mais a “Doutrina Secreta” que os Arcanjos projectaram as suas sombras, mas que um
terceiro grupo, o dos Anjos do Fogo, se negaram a criar desta forma, por não quererem criar
homens sem vontade e irresponsáveis, como o haviam feito os outros Anjos. Estes Anjos do
Fogo pertenciam a um plano de consciência mais elevado que o dos outros, e verificaram
que não podiam dotar os homens com um reflexo temporal dos seus próprios atributos
porque, neste plano, não seria possível a evolução espiritual e psíquica sem que os homens
pudessem acumular mérito e demérito. Eles sabiam que se tivessem criado o homem apenas
como sombra de si mesmos, esta não passaria de uma sombra imóvel, inerte e imutável da
perfeição, seria «Eu sou o que sou», e estaria condenado a passar a vida na Terra como um
pesado sono sem sonhos, teria sido um fracasso completo no plano material.

Foram estes Anjos do Fogo, a hoste de Lúcifer, quem abriu os olhos (consciência) do
autómato criado por Jeovah (ou Javé Deus); foram estes Elohim da Luz, que sabiam muito e
amavam muito mais, os que nos conferiram a imortalidade espiritual em vez da física. São
estes os Anjos rebeldes, cuja natureza é Sabedoria e Amor.

No fim da 3ª raça, depois dos tremendos cataclismos que abalaram e destruíram o seu
continente, parte dos lemurianos mais evoluídos e conduzidos por “guias divinos” instalou-
se num novo continente que emergia das águas, a Atlântida, dando assim origem à primeira
raça atlante de gigantes.

A ERA DOS DEUSES 9 -

Jericó

Jericó é talvez a cidade mais antiga do mundo, a par em antiguidade com


as cidades da Suméria, mas mais evoluída em termos de organização
urbana e qualidade das construções. Fica situada na margem ocidental
do rio Jordão e controla a travessia deste rio. É provável que na margem
oriental tivesse havido uma cidade semelhante, alguns achados
arqueológicos naquela margem parecem confirmar esta hipótese.

Segundo a Bíblia, Jericó foi a primeira grande conquista efectuada pelos


israelitas na sua demanda da Terra Prometida, depois da morte de
Moisés. Liderados por Josué, escolhido por Iahweh para os comandar, os
israelitas lançam-se à conquista daquela cidade. As milenares muralhas
da cidade caem sob o som das trombetas dos israelitas e depois,
seguindo as instruções precisas de Iahweh, assaltam a cidade e matam
todos os seres vivos que ali se encontram, homens, mulheres, velhos,
crianças, animais, tudo, tudo foi dizimado, excepto uma prostituta e sua
família, por ter abrigado dois espiões israelitas. È Interessante como as
prostitutas aparecem mencionadas na Bíblia em diversas ocasiões.

Tudo isto está pormenorizadamente descrito no Livro de Josué da Bíblia,


que nos mostra também algumas coisas curiosas. Por exemplo, o
aparecimento a Josué, não se sabe de onde, de um homem brandindo
uma espada e que diz ser o chefe do exército de Iahweh. Então, Iahweh
(Javé em português) tinha um exército.

Nenhum israelita saído do Egipto tinha sobrevivido aos 40 anos de


deambulação pelo deserto, os que chegam às portas de Jericó e de
Canaã, a Terra Prometida, são todos descendentes dos primeiros, pelo
que se torna necessário circuncidá-los. Isto porque Iahweh havia jurado
que eles não veriam a terra que lhes prometera. Portanto, Iahweh é um
deus que faz juramentos e é vingativo, para além de cruel e sanguinário.

As trombetas que fizeram desabar as muralhas de Jericó deviam ser


alguma espécie de arma usada pelos deuses, pois não parece que
trombetas usadas pelos israelitas pudessem fazer tal estrago.

Acontece porém que estamos perante uma fábula. Esta história do Livro
de Josué e a tomada de Jericó não passam de uma fábula. Porque
aparentemente o Êxodo, a saída dos israelitas do Egipto, não existiu.
Assim como Moisés também não existiu, a sua história é uma adaptação
da história de Sargão I da Acádia (baixa Suméria), salvo das águas pela
deusa Inana ou Ishtar, da qual se tornou amante e depois, com a ajuda
dela, se tornou rei da cidade e do território. Para os eruditos cabalistas
judeus a saída do Egipto representa a aquisição do corpo mental por
parte do povo israelita, ou seja, corresponde a uma evolução do povo
judeu, melhor dizendo, a uma maior tomada de consciência.

Ao mesmo tempo em que muitas das antigas cidades referidas na Bíblia


têm vindo a ser achadas pela arqueologia, não foi encontrado o menor
vestígio acerca da existência de Moisés, assim como da saída do Egipto
do povo israelita. Quando se refere que o Génesis teria sido escrito por
Moisés, isto também parece não corresponder à verdade pois, a
explicação mais aceite é a de que os autores do Génesis teriam sido
sacerdotes judeus após a sua libertação do cativeiro na Babilónia.
Também não se sabe exactamente qual o faraó que estaria no poder no
Egipto quando do Êxodo. Depois, não existe uma única inscrição egípcia
contando a história de Moisés e a fuga do povo judeu. Portanto, tudo leva
a crer que esta parte inicial da Bíblia foi decalcada de histórias
babilónicas ou sumérias – o próprio Abraão era natural de Ur, na Caldeia,
sul da Mesopotâmia.

Para Ambrogio Donini, na sua História do Cristianismo, Josué é uma forma


abreviada de Jehoshuá, que em hebraico significa “Javé é salvação” ou
“Deus que salva”. Em termos populares, estes significados
transformaram-se em “salvador”. Na sua forma mais simples e mais
popularizada, é Jesus.

Ainda de acordo com Donini, Jesus, como abreviação de Jehoshuá,


aparece repetidamente na Bíblia, algumas vezes como Josué, como é o
caso da tomada de Jericó, mas outras como Jesus. Pelo menos três são
mencionados no Novo Testamento: Jesus, pai do mago cipriota dos Actos
dos Apóstolos (XIII,6), Jesus “o justo”, colaborador de Paulo na epístola
aos Colossenses (IV,11) e o misterioso Jesus-Barrabás que aparece em
alguns textos gregos e na versão síria e arménia do Evangelho de S.
Mateus.

Mas voltando a Jericó, a narração da sua conquista e do banho de sangue


que ela implicou, sob as ordens de Iahweh, deve ser um reflexo das
chamadas guerras dos deuses, em resultado das quais várias cidades
foram bombardeadas por engenhos nucleares, como Sodoma e Gomorra.
Estas cidades terão sido destruídas por se oporem à facção dos deuses a
que tinha aderido Abraão e seu povo. Assim, nada mais natural do que
Iahweh considerar o povo israelita como o seu povo eleito.

O enigma de Jericó tem a ver com a sua antiguidade. Numa altura em


que o ser humano ainda não vivia em povoados, já Jericó era uma cidade,
pois há vestígios arqueológicos que remontam a sua condição de urbe a
qualquer coisa como 8.500 anos antes da nossa era.

O mais intrigante ainda é que se descobriram silos para a armazenagem


de cereais. Junto do Mar Morto, numa depressão de 250 metros abaixo do
nível do mar, numa região muito quente imprópria para o cultivo de
cereais, estes silos provam a existência de uma organização eficiente
que importava cereais de algures e os armazenava para abastecimento
local.

A questão principal e que continua a intrigar os estudiosos da


arqueologia é: quem eram os habitantes de Jericó?
O COSMOS, O HOMEM E A EVOLUÇÃO -

Decadência e Ressurreição

“A alma da terra queixava-se a Brahma dizendo-lhe: «A raça dos filhos da impiedade


multiplicou-se até ao infinito. O orgulho deles é insuportável e eu gemo na opressão, sob o
peso da iniquidade: Vem em meu socorro, ó Brahma!»” (A Lenda de Krishna – extracto do
Bhagavadam, Livro Canónico Hindu – Eliphas Levi)

Este é o último capítulo da série em que pretendi efectuar uma espécie de voo de ave sobre
as questões primordiais que têm afligido o género humano desde que anda sobre a Terra.
Escolhi este título, “Decadência e Ressurreição”, no sentido de que a morte não existe,
existe apenas transformação. Da mesma forma que o homem não morre, assim as
civilizações não morrem, prosseguem sob outras formas, mas sempre num processo de
transformação. As civilizações sucedem-se umas às outras, a um período de decadência
sucede-se um período de ressurgimento ou renascimento. Sempre foi assim e assim será.

Já vimos que a Atlântida não era a “terra do leite e mel”, o paraíso perdido, que muitos
podem pensar. De facto, não era essa terra de eleição, e basta pensarmos que, se os atlantes
conseguiram desenvolver uma capacidade única no domínio da energia, como é que se
deixaram arrastar para o fundo do mar sem terem tomado as providências necessárias que
salvaguardasse, pelo menos o essencial, da sua civilização? Naturalmente, que alguma coisa
foi salva das águas, que houve sobreviventes, mas estes talvez não tenham querido, ou não
tenham podido refazer em outras terras o que tinha levado à perdição da Atlântida.

Um texto da autoria de Mark Hammons e denominado “Cientismo = A Criança Atlante das


Trevas”, diz que os atlantes não desapareceram, que continuaram e continuam, de
reencarnação em reencarnação, e que hoje estão aí, fazendo as mesmas coisas à Terra que os
atlantes fizeram, que apenas os nomes são outros. Que estes seres eram experimentadores
obcecados em transformações materiais. Que causaram terríveis danos à Terra,
simplesmente porque detinham esse poder. Que envenenaram a biosfera, romperam
estruturas da Terra para tomar dela tudo quando desejavam sem nenhum respeito pela sua
integridade. Que em todos os níveis a poluição era imensa. Diz ainda que eles fizeram isto
tudo porque assumiram que a sua existência era mais importante que o sistema planetário
em que estavam integrados.

As pessoas tendem a pensar que os atlantes eram uma grande civilização de seres
iluminados. É verdade que havia estes seres na Atlântida, verdadeiros sábios e pessoas de
muito elevada estatura moral, mas eram uma pequena minoria. A maioria ignorou todos os
avisos, não quis saber de nada, ocupada apenas com a satisfação do seu egoísmo.

Infelizmente, parece que este relato pertence à nossa actualidade, pois todos bem sabemos o
que o homem tem feito à Terra, principalmente neste curto período que não chega a dois
séculos, desde a “revolução industrial” até aos dias de hoje. O amanhã apresenta-se com
cores muito escuras pois, apesar das tímidas reacções que aparecem um pouco por toda a
parte, o homem, na realidade, continua a sua marcha a caminho da ruptura com as forças
planetárias.

Neste início de século e de milénio, assistimos a um sentimento curioso que parece ter
estado sempre escondido ou adormecido no interior de cada um, que é o sentimento de um
desastre iminente, parece que todos estamos à espera que algo de muito mau venha a
acontecer ao planeta. Abundam as profecias, as antigas e as novas; descobrem-se profecias
escondidas nos versículos do Antigo Testamento e até nos Salmos; estudam-se e encontram-
se novas revelações nas profecias de Nostradamus; já há uma data para o anunciado fim do
mundo, 21 de Dezembro de 2012, segundo um calendário maia; encontram-se novas
interpretações para o Apocalipse de S. João. Sem querer aprofundar muito a questão e para
além de constatar o facto do planeta ter atingido um estado quase crítico devido à ganância e
à falta de respeito que o homem tem tido para com a natureza, julgo que este sentimento tem
a ver com memórias longínquas de outras catástrofes, aquelas que se abateram
sucessivamente sobre a Atlântida.

Os reis-sacerdotes toltecas que levaram a Atlântida ao apogeu do seu desenvolvimento


material imprimiram também entre a população um elevado código de valores morais e
espirituais. Mas como sempre acontece, a lei da dualidade está sempre presente em todos os
seus aspectos, há sempre o lado luminoso e o lado sombra. Ao mesmo tempo que a
civilização tolteca assentava em bases de natureza elevada, foram-se desenvolvendo também
outros sentimentos inferiores. Se por um lado se procurava a harmonia com os poderes do
alto, pelo outro lado se cultuavam cada vez mais os poderes das trevas, a magia negra.
Sendo a Atlântida um conjunto de sub-raças, todas elas oriundas da raça-raíz dos
sobreviventes da Lemúria, cada uma delas constituiu-se como uma nação diferente, ou seja,
a Atlântida era uma mapa de nações e cada uma delas era governada ou tinha a supremacia
de uma das sub-raças. Isto fazia com que houvesse guerras frequentes, com vencedores
subjugando os vencidos, ou tratados de paz com o correspondente estabelecimento de novas
fronteiras.

Uma dessas nações era dominada pelos turanianos, uma raça de tez amarelada, que
mantinham com os toltecas um tratado de amizade e boa vizinhança. Só que a partir de
determinada altura, os turanianos cortaram os laços que os ligavam aos poderes do alto,
romperam o pacto fraternal com os toltecas e, sob o impulso da ambição e da luxúria
substituíram os cultos por outros de natureza sangrenta. Acabaram por submeter a nação
tolteca cujos reis e seus seguidores, não podendo resistir ao ímpeto agressivo dos invasores,
se refugiaram no norte sob a protecção de uma nação aliada, os tlavatlis.

É durante o reinado dos turanianos que a Atlântida conhece a sua fase mais negra, da qual
nunca mais se recompôs, pois foi no fim desta fase que acabou por desaparecer nas águas. É
o império da cobiça, da violência e do terror. A magia negra toma conta dos templos onde
passam a sacrificar-se animais e até seres humanos. Os governantes endeusam-se, erguem
estátuas a si próprios e fazem-se rodear de multidões de homens e mulheres escravizados. A
mulher torna-se um instrumento de prazer, o delírio sensual cresce assustadoramente e a
poligamia passa a ser uma situação normal. Esta decadência de costumes e de valores, esta
entrega às forças mais inferiores durou séculos até à extinção completa desta ilha de
Poseidon descrita por Platão, que aconteceu cerca de dez mil anos antes de Cristo.
Entretanto, desde o início do domínio dos turanianos, alguns dos povos da Atlântida,
fugindo do despotismo, da injustiça e da escravatura, foram emigrando para oriente. Estes
imigrantes que caminhavam para oriente para fugir das calamidades da sua terra eram
amarelos uns, outros de cor acobreada, outros vermelhos, outros ainda negros. Estas eram as
cores das sub-raças existentes na Atlântida e que povoaram o mundo um pouco por toda a
parte. No entanto, um outro povo também emigrou e se fixou inicialmente na região que é
hoje a Irlanda. Este era um povo de raça branca, a origem dos semitas e dos arianos. Não se
sabe exactamente como apareceu este povo de raça branca na Atlântida, provavelmente por
cruzamentos múltiplos das várias sub-raças ali existentes.

Esta raça branca encetou uma longa caminhada rumo aos planaltos da Ásia central, um
êxodo que durou provavelmente alguns séculos, pois se fixaram primeiramente no norte,
numa região alargada que compreendia a Irlanda de hoje, a Inglaterra e os Países Nórdicos.
Estes homens eram conduzidos por guias, os mesmos guias que tinham instruído os reis
toltecas, e em cada paragem que faziam, em cada região que iam ocupando, era um tempo
em que os homens aprendiam mais alguma coisa.

A variante ariana desta raça, veio a dar origem aos árias da Índia, aos iranianos, aos gregos,
aos celtas e aos povos germânicos, numa altura em que a sua caminhada se fez em sentido
contrário, ou seja, depois de terem atingido os altos planaltos da Ásia central, daí retornaram
para se estabelecerem em vastas regiões até à Europa ocidental. A outra variante, a semítica,
estabeleceu-se na Caldeia e é a origem dos povos semitas do Médio Oriente, como os
caldeus, os babilónios, os assírios e os hebreus.

Aqui surge uma pergunta: então os egípcios? Qual a origem deles e da sua portentosa
civilização? Os egípcios não eram de origem ariana ou semita, embora os nazis quando no
poder na Alemanha e durante a Segunda Grande Guerra, na sua louca e hilariante (dramática
para os que sofreram as suas consequências) procura da “raça pura ariana” tenham tentado
estabelecer fortes laços de aliança com os egípcios e com algumas das nações árabes, no
pressuposto de terem uma origem comum. Claro que tinham uma origem comum, mas
também os semitas a tinham. Essa origem era a Atlântida, e os primitivos egípcios, os que
ergueram aquela formidável civilização, eram de raça vermelha, como vermelhos eram os
índios da América do Norte e os maias da América Central.

Isto poderá fazer pensar que esses povos que foram migrando ao longo dos séculos da
decadência da Atlântida, iam ocupando a “terra de ninguém”, isto é, que o resto do mundo
estava vazio e eles simplesmente ocupavam as terras onde chegavam. Naturalmente que não
eram assim. Quando a Lemúria acabou houve outros sobreviventes além daquela elite que se
estabeleceu na Atlântida. Estes sobreviventes devem ser a origem primitiva dos actuais
nativos da Austrália e dos malaios, assim como alguns dos povos que têm vivido no sul da
África e até da Índia. Por outro lado, como vimos atrás, havia outros seres humanos
organizados em tribos mais ou menos selvagens, os quais são muito provavelmente
representados pelo homem de Neandertal e pelo homem de Cro-Magnon. O que acontecia
com essas migrações é o que tem acontecido sempre: os invasores submetiam os naturais e
impunham-lhes as suas leis e os seus costumes, ou eram absorvidos pelas populações locais,
com as quais se cruzavam em todos os aspectos, não só em termos culturais mas também
fisicamente. Os povos que resultaram destes cruzamentos pacíficos, ou mesmo violentos, se
por um lado mantiveram certos traços que revelavam as suas origens, por outro lado eram,
de facto, o resultado dessa mistura de raças, ao ponto de nenhuma das raças que emigrou da
Atlântida se ter mantido na sua pureza original. Esta pureza, se existiu, foi apenas no
princípio.

Um outro aspecto importante é que não foram apenas os homens de raça branca que
emigraram, outros também o fizeram, como os vermelhos, os amarelos e os negros, e todos
transportaram com eles toda a carga cultural da sua terra de origem, os valores e os costumes
mais elevados, mas também os outros, o conhecimento das forças inferiores. Por isso,
porque nem tudo o que esses emigrantes trouxeram era bom, nem todos eram homens
preocupados em fazer o bem, havia muitos que procuravam o poder sobre os outros homens
através de práticas de magia negra. Entre os semitas da Caldeia estabeleceram-se cultos a
deuses sanguinários, como o culto a Moloc que exigia sacrifícios humanos. Sacrifícios
humanos eram também prática comum entre os aztecas do México, descendentes
degenerados dos maias, estes oriundos também da Atlântida. Entre os arianos espalhados um
pouco por toda a Europa, havia também cultos sanguinários. Para além dos sacrifícios
humanos, vulgarizaram-se os sacrifícios de animais, mesmo entre os hebreus e os egípcios,
que mantinham templos com essa finalidade. Apesar de toda a instrução recebida dos
Manus, dos guias divinos, muitas das populações adoptaram práticas aberrantes.

Nós sabemos que todos os grupos humanos são dirigidos por uma elite, a qual fornece os
líderes necessários à sua condução. Tanto em política como em religião, há sempre uma elite
que dirige as coisas, e os líderes não são mais, na maioria das vezes, do que a ponta do
“iceberg”, são apenas instrumentos controlados por essas elites. O exemplo recente mais
conhecido é o caso do Hitler, na Alemanha, e o caso de todos os ditadores que governaram
muitos dos países na primeira metade do século passado. Por outro lado, a democracia
também não altera grandemente as coisas, porque afinal as pessoas escolhem os líderes que
a elite já escolheu e catapultou para a ribalta das eleições.

Na história da humanidade que conhecemos, são muito raros os líderes que apareceram
espontaneamente, ou por inspiração divina, e se tornaram guias de povos, orientando-os e
governando-os com sabedoria. A grande maioria destes homens sábios prefere manter-se por
detrás do pano, nos bastidores, procurando controlar os acontecimentos pela influência junto
das forças dominantes. Foi assim no Egipto, com o faraó Tutmés III, que através de um
colégio de sábios procurou estabelecer, ou restabelecer, o culto à divindade única, façanha
conseguida mais tarde, por Amenófis ou Amenhotep IV, mais conhecido por Akhenaton.
Todo este esforço foi frustrado, porque a elite que sustinha Akhenaton não detinha,
verdadeiramente, o poder político e religioso do Egipto. Este poder há muito que tinha caído
nas mãos dos sacerdotes.

Da mesma forma que aconteceu na Atlântida, o Egipto entrou em decadência pela prática e
vontade destes sacerdotes e dos faraós que se seguiram a Akhenaton, restabelecendo o culto
a Amon e entregando-se a práticas de natureza inferior. O texto que se segue retirado da obra
“Egipto Secreto” de Paul Brunton, é um claro retrato do que aconteceu ao Egipto nos
últimos tempos:

“Os que violentaram as tumbas dos antigos egípcios, libertaram forças que puseram em
perigo o mundo. Abriram, sem o saber, os túmulos daqueles cujo ofício era a magia. Na fase
final da história egípcia, a feitiçaria e a magia negra eram prática corrente. Quando se
escureceu a Luz Branca da verdade que refulgia anteriormente, as fétidas sombras de falsas
doutrinas materialistas avançaram e generalizou-se a prática de mumificação, acompanhada
do seu complicado ritual complementar. Havia um elemento de interesse pessoal oculto,
tratando de prolongar e conservar o laço físico com o mundo da matéria: o embalsamamento
do corpo.

Nesse sombrio período, aqueles que possuíam muitos conhecimentos e pouca piedade,
invocavam as forças infernais das trevas. Às vezes, o embalsamamento era para proteger o
espírito da destruição no “purgatório” que o aguardava depois da morte. Em quase todos os
casos, esses homens preparavam os seus túmulos antes de morrer. Uma vez pronta a tumba,
invocavam um ente do mundo dos espíritos, criação elemental artificial, imperceptível aos
sentidos físicos, por vezes bom, mas geralmente maldoso, para que protegesse e vigiasse a
múmia, actuando na sepultura como um espírito guardião. Essas forças eram,
frequentemente, satânicas, ameaçadoras e destruidoras. Estavam dentro das tumbas fechadas
e podiam continuar existindo durante milénios. Quando as tumbas foram abertas, saiu uma
verdadeira chusma de perniciosos entes do infra-mundo dos espíritos que se lançaram em
fúria sobre o nosso mundo físico. Esses espíritos elementais peculiarmente criados são, neste
século, suficientes em quantidade para, do seu reino invisível que, embora imaterial e etéreo
é assaz próximo e poderoso, influir na existência física dos seres viventes e aterrorizar o
mundo.”

É uma descrição terrível, esta, sobre os últimos tempos da que um dia foi uma incomparável
civilização. Terrível também porque o homem, na sua cupidez e ignorância, tem vindo a
profanar esses locais que estavam destinados a ficarem adormecidos por toda a eternidade,
libertando toda uma legião de seres que, de uma maneira ou de outra, têm vindo a exercer
uma influência perniciosa sobre a humanidade. E não se diga que muito do que foi
profanado foi por motivos científicos e de investigação, porque afinal, nada se acrescentou
de conhecimento sobre o Egipto através deste processo. Por exemplo, não se ficou a saber,
na verdade, mais sobre Tutankhamon depois da descoberta da sua câmara funerária com a
múmia e ornamentos intactos.

Tal como o movimento aparente do Sol no céu diurno, todas as civilizações nascem, vão-se
elevando lentamente até atingirem o zénite do meio-dia. É nesta altura que atingem o seu
apogeu, todo o esplendor do que foram adquirindo no difícil caminho ascendente. Depois,
começam a descida, degenerando e envelhecendo lentamente, até se perderem
definitivamente na agonia do ocaso. Acontece o mesmo com o homem e com todos os seres
criados – nascem, crescem, atingem o apogeu, depois vão envelhecendo até a morte os fazer
partir. O caminho ascendente de crescimento é uma via festiva e renovadora, é quando o
verde viceja nos campos e a natureza se veste de cores; o caminho descendente é uma via
dolorosa, no homem é todo o cortejo das doenças, das impotências, das faculdades
diminuídas; nas civilizações é a degeneração de costumes, a inversão de valores, o emergir
da parte obscura do homem. Esta parte obscura esteve e está sempre presente, em todas as
circunstâncias, apenas ofuscada pela luminosidade dos períodos áureos. E quando essa luz
vai diminuindo é que ela se começa a manifestar em toda a sua força, até controlar
completamente o corpo moribundo e acabar de o matar.

Segundo a “Doutrina Secreta”, o homem existe sobre a Terra há dezoito milhões de anos, e
durante este tempo imenso tem evoluído nas suas formas até se tornar no que é hoje.
Começou por um ser etéreo e andrógino igual aos anjos, depois um pouco mais denso e
hermafrodita, mais tarde, à medida que a densidade do seu corpo físico aumentava, separou-
se em dois sexos diferentes e complementares. A este respeito, o “Zohar” hebreu diz que o
homem que se separa da humanidade, recusando amor a uma companheira, não encontrará
lugar depois da morte na grande síntese humana, que permanecerá fora, estranho às leias de
atracção e às transformações da vida.

Pois é disto que se trata – transformações da vida. Toda a história que temos vindo a tentar
contar sobre o nascimento e evolução cósmica, a formação do homem e a sucessão das suas
várias formas através das humanidades que foi constituindo, tudo isto não é mais do que as
transformações da vida a que o homem tem estado sujeito, por ser o objectivo de toda a
Criação, porque tudo foi feito e está feito em função do homem. O mesmo livro que
referimos no parágrafo anterior, o “Zohar” diz que o equilíbrio do homem é também o da
natureza, e que sem o homem, o mundo não existiria. Porque o homem é o receptáculo do
pensamento divino que cria e conserva o mundo; o homem é a razão de ser da Terra; tudo
quanto existiu antes dele foi trabalho preparatório para o seu nascimento e sem o concurso
dele a criação inteira teria sido um aborto.

Isto é o que nos diz o “Zohar”. Foi por isto, por o homem antigo ter criado a ideia de que era
o reflexo do pensamento divino e ser a razão de ser de toda a Criação, que idealizou Deus
como um ancião de longas barbas brancas e o colocou num trono no céu, como vem também
descrito no Apocalipse de S. João. Neste, somos surpreendidos logo no primeiro capítulo,
onde se diz que João foi arrebatado aos céus em espírito e se viu defronte de “Aquele” que
estava no meio dos “sete candelabros de ouro”, tinha numa das mãos “sete estrelas” e lhe
disse para escrever o que via e depois lhe ditou cartas para enviar às “sete igrejas”. “Aquele”
diz a João que as “sete estrelas” são os anjos das “sete igrejas” e que os “sete candelabros”
são as “sete igrejas”. Não precisamos de fazer nenhum esforço para vermos aqui retratado o
que a antiga tradição diz: que houve sete deuses criadores que criaram sete homens
diferentes em sete locais da Terra, ou seja, que as “sete estrelas” são os Anjos (Arcanjos), os
“sete candelabros” os sete Homens (Adão) primordiais, as “sete igrejas” os sete locais da
Terra. Por outro lado, as “sete igrejas” podem também significar as “sete raças” que a antiga
tradição diz serem as raças raiz, cinco das quais já estão consumados pois, de acordo com
essa mesma tradição, nós actualmente pertencemos à quinta raça, ou somos uma variante
dessa quinta raça.

Olhando para a história da Atlântida, não podemos também deixar de ver ali um esboço,
quase uma cópia, de toda a tradição que nos fala sobre a criação do homem. Segundo esta,
quando os sobreviventes lemurianos chegaram à Atlântida, estava-se na transição da 3ª para
a 4ª raça, e desta vêem-se a originar as várias sub-raças da 5ª que povoam a Terra, 5ª raça
que são os emigrantes que fugiram da Atlântida. Ora, se nos remetermos apenas à história da
Atlântida, encontramos exactamente a mesma sequência. Vejamos:

 Temos um primeiro período que podemos chamar de 1ª raça, quando os lemurianos,


conduzidos por Manu, chegam à Atlântida há mais de um milhão de anos.

 O primeiro cataclismo acontece há cerca de oitocentos mil anos, originando um


segundo período, que podemos chamar de 2ª raça.
 Este segundo período termina com outro cataclismo, há cerca de duzentos mil anos. O
período que se segue podemos chamar de 3ª raça.

 Há oitenta mil anos, a Atlântida foi de novo destruída. O período que se seguiu e
terminou há doze mil anos, podemos chamar de 4ª raça.

 Portanto, nós somos a 5ª raça, aquela que se originou na Atlântida durante a vigência
da 4ª raça, nos imigrantes que demandaram as terras do oriente e nos sobreviventes
do último cataclismo.

Acabamos por não saber se esta história foi decalcada da tradição acerca da Criação e da
criação do Homem, ou se o Génesis, a cosmogonia caldeia e toda a tradição antiga são
inspirações da história atlante.

O que sabemos, é que o homem em todo o seu extenuante e longo caminhar sobre a Terra,
tem tido sempre uma capacidade impar de regeneração e de renascimento. Ele é um criador,
cria civilizações, cria mundos, os quais, ou por degeneração ou por calamidades, são
destruídos, para renascerem mais tarde com outros homens, também eles renascidos. Como
a fénix, que no mito se consome no fogo a cada quinhentos anos para depois renascer
vivificada, o homem parece ressurgir das cinzas para continuar a criar, reforçado pelos
ensinamentos do passado, mas cometendo, talvez, os mesmos erros. No Antigo Egipto, a
fénix representava o Sol, que morre no anoitecer e renasce na aurora do dia. Para a tradição
cristã, a fénix é o símbolo da imortalidade e da ressurreição.

No seu caminhar sobre a Terra, o homem vive permanentemente a luta da sua dualidade que
se manifesta em todos os aspectos, pois ele é macho e fêmea, ele é positivo e negativo, mas
também é corpo material e espírito. Como diz Aldous Huxley na “Filosofia Perene”: “Eu
sou o poeta do corpo e o poeta da Alma. Os prazeres do Céu estão em mim e as dores do
inferno estão em mim. Os primeiros eu cultivo e alimento em mim mesmo, os segundos eu
traduzo para uma nova língua”.

Por ser assim um ser duplo na sua essência, tudo o que o homem cria é um reflexo de si
mesmo, e carrega consigo essa carga dual na busca sempre precária do equilíbrio. As
civilizações são o reflexo dos homens que as criam, as compõem e nelas vivem, e se elas
entram em decadência depois de atingirem o seu apogeu, é porque os homens que as
constituem se deixaram subjugar pelo seu lado sombrio. É como se tratasse de uma nova
“queda”. Foi assim com todas as civilizações que existiram até aos dias de hoje, e será
sempre assim, até o homem conseguir atingir um estado de perfeição que não lhe permita
mais ver-se subjugado pelos valores mais obscuros do plano material. Até lá, estará sempre
sujeito à “queda”, mas, haverá sempre a esperança da ressurreição.

Apesar de todas as iniquidades que vemos acontecer no dia a dia, apesar de todas as
angústias que nos assaltam neste início de milénio, apesar de todas as profecias anunciarem
as maiores desgraças para a humanidade, essa esperança reside no coração de cada um,
porque seja o que for que venha a acontecer, o homem sobreviverá para continuar a missão
que lhe foi conferida pelo Criador. E para terminar, julgo adequadas as palavras de Victor-
Emile Michelet, num poema seu intitulado “O Silêncio”.
O Silêncio

Não terás outra morada além do teu coração,

Pois na Terra, onde somos peregrinos,

Ninguém construirá morada permanente:

Não terás outra morada além do teu coração.

Então, ao redor dele, na atmosfera ardente,

Que dele nasce, que o envolve e que aspira

Todos os raios vindos das coisas que deseja,

Evoca o silêncio e o divino silêncio;

A forma que reveste a primeira hipóstase

Te levará nas quatro asas do êxtase.

A vida interior é feita de silêncio.

É o palácio que tem por base o silêncio.

É a flor do fogo: o silêncio é o vaso,

O silêncio é o vaso onde bebes a beleza.

Tu que passas aqui, com certeza mas sacudido

Entre tua vida real e tua vida aparente,

Tua vida real, tenebrosa e veemente

Como a paixão, o trovão e a morte,

Cobre com um véu de sombra e noite o tesouro

Dessa vida interior, que escolhe

Entre tuas almas a melhor e mais pura,

Para que nada atente para seu mistério intenso,

E que sua força virgem, integral, se aplique


A edificar a arte em que as mãos do silêncio

Venham a tecer o manto da tua alegria.

Victor-Emile Michelet

Obras consultadas para a elaboração desta série de crónicas dedicadas à evolução do homem e do universo:

1. A “BÍBLIA”.

2. “A DOUTRINA SECRETA” de Helena Petrovna Blavatsky – Editora Pensamento – São Paulo, Brasil.

3. “APÓCRIFOS – OS PROSCRITOS DA BÍBLIA” – compilação de Maria Helena de Oliveira Tricca – Editora


Mercuryo – São Paulo, Brasil.

4. “AS PROFECIAS DO PAPA JOÃO XXIII” de Pier Carpi – Edições António Ramos – Lisboa, Portugal.

5. “O CAMINHO DA KABBALAH” de Z’ev bem Shimon Halevi – Editora Siciliano – São Paulo, Brasil.

6. “TRATADO DA REINTEGRAÇÃO DOS SERES CRIADOS” de Martinets de Pasquallys – Edições 70 –


Lisboa, Portugal.

7. “A EVOLUÇÃO DIVINA DA ESFINGE AO CRISTO” de Édouard Schuré – Editora Ibrasa – Instituição


Brasileira de Difusão Cultural, Lda – São Paulo, Brasil.

8. “O LIVRO EGÍPCIO DOS MORTOS” traduzido para o inglês por E. A. Wallis Budge – Editora Pensamento –
São Paulo, Brasil.

9. “A CABALA” de Papus – Editora Martins Fontes – Sociedade das Ciências Antigas – São Paulo, Brasil.

10. “AS ORIGENS DA CABALA” de Eliphas Levi – Editora Pensamento – São Paulo, Brasil.

11. “OS SOBREVIVENTES DA ATLÂNTIDA” de Juan G. Atienza – Editora Mercuryo – São Paulo, Brasil.

12. “THE BERMUDA TRIANGLE” de Geoffrey Keyte – Internet.

13. “ACCESSIBLE REMAINS OF ATLANTIS” de Mark Hammons – Internet.

14. “FORBIDDEN ARQUEOLOGY” de Michael Cremo, Richard L. Thompson e Stephen Bernath – Internet.

15. “SCIENTISM = ATLANTEAN CHILDREN OF DARKNESS/BELIAL de Mark Hammons – Internet.

16. “EGIPTO SECRETO” de Paul Brunton. Editora Pensamento – São Paulo, Brasil.
17. “A FILOSOFIA PERENE” de Aldous Huxley.

18. “BHAGAWAN SRI SATHYA SAI BABA” – “MATERIALIZATIONS” – Internet.

O COSMOS, O HOMEM E A EVOLUÇÃO -

Decadência e Ressurreição

“A alma da terra queixava-se a Brahma dizendo-lhe: «A raça dos filhos da impiedade


multiplicou-se até ao infinito. O orgulho deles é insuportável e eu gemo na opressão, sob o
peso da iniquidade: Vem em meu socorro, ó Brahma!»” (A Lenda de Krishna – extracto do
Bhagavadam, Livro Canónico Hindu – Eliphas Levi)

Este é o último capítulo da série em que pretendi efectuar uma espécie de voo de ave sobre
as questões primordiais que têm afligido o género humano desde que anda sobre a Terra.
Escolhi este título, “Decadência e Ressurreição”, no sentido de que a morte não existe,
existe apenas transformação. Da mesma forma que o homem não morre, assim as
civilizações não morrem, prosseguem sob outras formas, mas sempre num processo de
transformação. As civilizações sucedem-se umas às outras, a um período de decadência
sucede-se um período de ressurgimento ou renascimento. Sempre foi assim e assim será.

Já vimos que a Atlântida não era a “terra do leite e mel”, o paraíso perdido, que muitos
podem pensar. De facto, não era essa terra de eleição, e basta pensarmos que, se os atlantes
conseguiram desenvolver uma capacidade única no domínio da energia, como é que se
deixaram arrastar para o fundo do mar sem terem tomado as providências necessárias que
salvaguardasse, pelo menos o essencial, da sua civilização? Naturalmente, que alguma coisa
foi salva das águas, que houve sobreviventes, mas estes talvez não tenham querido, ou não
tenham podido refazer em outras terras o que tinha levado à perdição da Atlântida.

Um texto da autoria de Mark Hammons e denominado “Cientismo = A Criança Atlante das


Trevas”, diz que os atlantes não desapareceram, que continuaram e continuam, de
reencarnação em reencarnação, e que hoje estão aí, fazendo as mesmas coisas à Terra que os
atlantes fizeram, que apenas os nomes são outros. Que estes seres eram experimentadores
obcecados em transformações materiais. Que causaram terríveis danos à Terra,
simplesmente porque detinham esse poder. Que envenenaram a biosfera, romperam
estruturas da Terra para tomar dela tudo quando desejavam sem nenhum respeito pela sua
integridade. Que em todos os níveis a poluição era imensa. Diz ainda que eles fizeram isto
tudo porque assumiram que a sua existência era mais importante que o sistema planetário
em que estavam integrados.
As pessoas tendem a pensar que os atlantes eram uma grande civilização de seres
iluminados. É verdade que havia estes seres na Atlântida, verdadeiros sábios e pessoas de
muito elevada estatura moral, mas eram uma pequena minoria. A maioria ignorou todos os
avisos, não quis saber de nada, ocupada apenas com a satisfação do seu egoísmo.

Infelizmente, parece que este relato pertence à nossa actualidade, pois todos bem sabemos o
que o homem tem feito à Terra, principalmente neste curto período que não chega a dois
séculos, desde a “revolução industrial” até aos dias de hoje. O amanhã apresenta-se com
cores muito escuras pois, apesar das tímidas reacções que aparecem um pouco por toda a
parte, o homem, na realidade, continua a sua marcha a caminho da ruptura com as forças
planetárias.

Neste início de século e de milénio, assistimos a um sentimento curioso que parece ter
estado sempre escondido ou adormecido no interior de cada um, que é o sentimento de um
desastre iminente, parece que todos estamos à espera que algo de muito mau venha a
acontecer ao planeta. Abundam as profecias, as antigas e as novas; descobrem-se profecias
escondidas nos versículos do Antigo Testamento e até nos Salmos; estudam-se e encontram-
se novas revelações nas profecias de Nostradamus; já há uma data para o anunciado fim do
mundo, 21 de Dezembro de 2012, segundo um calendário maia; encontram-se novas
interpretações para o Apocalipse de S. João. Sem querer aprofundar muito a questão e para
além de constatar o facto do planeta ter atingido um estado quase crítico devido à ganância e
à falta de respeito que o homem tem tido para com a natureza, julgo que este sentimento tem
a ver com memórias longínquas de outras catástrofes, aquelas que se abateram
sucessivamente sobre a Atlântida.

Os reis-sacerdotes toltecas que levaram a Atlântida ao apogeu do seu desenvolvimento


material imprimiram também entre a população um elevado código de valores morais e
espirituais. Mas como sempre acontece, a lei da dualidade está sempre presente em todos os
seus aspectos, há sempre o lado luminoso e o lado sombra. Ao mesmo tempo que a
civilização tolteca assentava em bases de natureza elevada, foram-se desenvolvendo também
outros sentimentos inferiores. Se por um lado se procurava a harmonia com os poderes do
alto, pelo outro lado se cultuavam cada vez mais os poderes das trevas, a magia negra.
Sendo a Atlântida um conjunto de sub-raças, todas elas oriundas da raça-raíz dos
sobreviventes da Lemúria, cada uma delas constituiu-se como uma nação diferente, ou seja,
a Atlântida era uma mapa de nações e cada uma delas era governada ou tinha a supremacia
de uma das sub-raças. Isto fazia com que houvesse guerras frequentes, com vencedores
subjugando os vencidos, ou tratados de paz com o correspondente estabelecimento de novas
fronteiras.

Uma dessas nações era dominada pelos turanianos, uma raça de tez amarelada, que
mantinham com os toltecas um tratado de amizade e boa vizinhança. Só que a partir de
determinada altura, os turanianos cortaram os laços que os ligavam aos poderes do alto,
romperam o pacto fraternal com os toltecas e, sob o impulso da ambição e da luxúria
substituíram os cultos por outros de natureza sangrenta. Acabaram por submeter a nação
tolteca cujos reis e seus seguidores, não podendo resistir ao ímpeto agressivo dos invasores,
se refugiaram no norte sob a protecção de uma nação aliada, os tlavatlis.
É durante o reinado dos turanianos que a Atlântida conhece a sua fase mais negra, da qual
nunca mais se recompôs, pois foi no fim desta fase que acabou por desaparecer nas águas. É
o império da cobiça, da violência e do terror. A magia negra toma conta dos templos onde
passam a sacrificar-se animais e até seres humanos. Os governantes endeusam-se, erguem
estátuas a si próprios e fazem-se rodear de multidões de homens e mulheres escravizados. A
mulher torna-se um instrumento de prazer, o delírio sensual cresce assustadoramente e a
poligamia passa a ser uma situação normal. Esta decadência de costumes e de valores, esta
entrega às forças mais inferiores durou séculos até à extinção completa desta ilha de
Poseidon descrita por Platão, que aconteceu cerca de dez mil anos antes de Cristo.

Entretanto, desde o início do domínio dos turanianos, alguns dos povos da Atlântida,
fugindo do despotismo, da injustiça e da escravatura, foram emigrando para oriente. Estes
imigrantes que caminhavam para oriente para fugir das calamidades da sua terra eram
amarelos uns, outros de cor acobreada, outros vermelhos, outros ainda negros. Estas eram as
cores das sub-raças existentes na Atlântida e que povoaram o mundo um pouco por toda a
parte. No entanto, um outro povo também emigrou e se fixou inicialmente na região que é
hoje a Irlanda. Este era um povo de raça branca, a origem dos semitas e dos arianos. Não se
sabe exactamente como apareceu este povo de raça branca na Atlântida, provavelmente por
cruzamentos múltiplos das várias sub-raças ali existentes.

Esta raça branca encetou uma longa caminhada rumo aos planaltos da Ásia central, um
êxodo que durou provavelmente alguns séculos, pois se fixaram primeiramente no norte,
numa região alargada que compreendia a Irlanda de hoje, a Inglaterra e os Países Nórdicos.
Estes homens eram conduzidos por guias, os mesmos guias que tinham instruído os reis
toltecas, e em cada paragem que faziam, em cada região que iam ocupando, era um tempo
em que os homens aprendiam mais alguma coisa.

A variante ariana desta raça, veio a dar origem aos árias da Índia, aos iranianos, aos gregos,
aos celtas e aos povos germânicos, numa altura em que a sua caminhada se fez em sentido
contrário, ou seja, depois de terem atingido os altos planaltos da Ásia central, daí retornaram
para se estabelecerem em vastas regiões até à Europa ocidental. A outra variante, a semítica,
estabeleceu-se na Caldeia e é a origem dos povos semitas do Médio Oriente, como os
caldeus, os babilónios, os assírios e os hebreus.

Aqui surge uma pergunta: então os egípcios? Qual a origem deles e da sua portentosa
civilização? Os egípcios não eram de origem ariana ou semita, embora os nazis quando no
poder na Alemanha e durante a Segunda Grande Guerra, na sua louca e hilariante (dramática
para os que sofreram as suas consequências) procura da “raça pura ariana” tenham tentado
estabelecer fortes laços de aliança com os egípcios e com algumas das nações árabes, no
pressuposto de terem uma origem comum. Claro que tinham uma origem comum, mas
também os semitas a tinham. Essa origem era a Atlântida, e os primitivos egípcios, os que
ergueram aquela formidável civilização, eram de raça vermelha, como vermelhos eram os
índios da América do Norte e os maias da América Central.

Isto poderá fazer pensar que esses povos que foram migrando ao longo dos séculos da
decadência da Atlântida, iam ocupando a “terra de ninguém”, isto é, que o resto do mundo
estava vazio e eles simplesmente ocupavam as terras onde chegavam. Naturalmente que não
eram assim. Quando a Lemúria acabou houve outros sobreviventes além daquela elite que se
estabeleceu na Atlântida. Estes sobreviventes devem ser a origem primitiva dos actuais
nativos da Austrália e dos malaios, assim como alguns dos povos que têm vivido no sul da
África e até da Índia. Por outro lado, como vimos atrás, havia outros seres humanos
organizados em tribos mais ou menos selvagens, os quais são muito provavelmente
representados pelo homem de Neandertal e pelo homem de Cro-Magnon. O que acontecia
com essas migrações é o que tem acontecido sempre: os invasores submetiam os naturais e
impunham-lhes as suas leis e os seus costumes, ou eram absorvidos pelas populações locais,
com as quais se cruzavam em todos os aspectos, não só em termos culturais mas também
fisicamente. Os povos que resultaram destes cruzamentos pacíficos, ou mesmo violentos, se
por um lado mantiveram certos traços que revelavam as suas origens, por outro lado eram,
de facto, o resultado dessa mistura de raças, ao ponto de nenhuma das raças que emigrou da
Atlântida se ter mantido na sua pureza original. Esta pureza, se existiu, foi apenas no
princípio.

Um outro aspecto importante é que não foram apenas os homens de raça branca que
emigraram, outros também o fizeram, como os vermelhos, os amarelos e os negros, e todos
transportaram com eles toda a carga cultural da sua terra de origem, os valores e os costumes
mais elevados, mas também os outros, o conhecimento das forças inferiores. Por isso,
porque nem tudo o que esses emigrantes trouxeram era bom, nem todos eram homens
preocupados em fazer o bem, havia muitos que procuravam o poder sobre os outros homens
através de práticas de magia negra. Entre os semitas da Caldeia estabeleceram-se cultos a
deuses sanguinários, como o culto a Moloc que exigia sacrifícios humanos. Sacrifícios
humanos eram também prática comum entre os aztecas do México, descendentes
degenerados dos maias, estes oriundos também da Atlântida. Entre os arianos espalhados um
pouco por toda a Europa, havia também cultos sanguinários. Para além dos sacrifícios
humanos, vulgarizaram-se os sacrifícios de animais, mesmo entre os hebreus e os egípcios,
que mantinham templos com essa finalidade. Apesar de toda a instrução recebida dos
Manus, dos guias divinos, muitas das populações adoptaram práticas aberrantes.

Nós sabemos que todos os grupos humanos são dirigidos por uma elite, a qual fornece os
líderes necessários à sua condução. Tanto em política como em religião, há sempre uma elite
que dirige as coisas, e os líderes não são mais, na maioria das vezes, do que a ponta do
“iceberg”, são apenas instrumentos controlados por essas elites. O exemplo recente mais
conhecido é o caso do Hitler, na Alemanha, e o caso de todos os ditadores que governaram
muitos dos países na primeira metade do século passado. Por outro lado, a democracia
também não altera grandemente as coisas, porque afinal as pessoas escolhem os líderes que
a elite já escolheu e catapultou para a ribalta das eleições.

Na história da humanidade que conhecemos, são muito raros os líderes que apareceram
espontaneamente, ou por inspiração divina, e se tornaram guias de povos, orientando-os e
governando-os com sabedoria. A grande maioria destes homens sábios prefere manter-se por
detrás do pano, nos bastidores, procurando controlar os acontecimentos pela influência junto
das forças dominantes. Foi assim no Egipto, com o faraó Tutmés III, que através de um
colégio de sábios procurou estabelecer, ou restabelecer, o culto à divindade única, façanha
conseguida mais tarde, por Amenófis ou Amenhotep IV, mais conhecido por Akhenaton.
Todo este esforço foi frustrado, porque a elite que sustinha Akhenaton não detinha,
verdadeiramente, o poder político e religioso do Egipto. Este poder há muito que tinha caído
nas mãos dos sacerdotes.
Da mesma forma que aconteceu na Atlântida, o Egipto entrou em decadência pela prática e
vontade destes sacerdotes e dos faraós que se seguiram a Akhenaton, restabelecendo o culto
a Amon e entregando-se a práticas de natureza inferior. O texto que se segue retirado da obra
“Egipto Secreto” de Paul Brunton, é um claro retrato do que aconteceu ao Egipto nos
últimos tempos:

“Os que violentaram as tumbas dos antigos egípcios, libertaram forças que puseram em
perigo o mundo. Abriram, sem o saber, os túmulos daqueles cujo ofício era a magia. Na fase
final da história egípcia, a feitiçaria e a magia negra eram prática corrente. Quando se
escureceu a Luz Branca da verdade que refulgia anteriormente, as fétidas sombras de falsas
doutrinas materialistas avançaram e generalizou-se a prática de mumificação, acompanhada
do seu complicado ritual complementar. Havia um elemento de interesse pessoal oculto,
tratando de prolongar e conservar o laço físico com o mundo da matéria: o embalsamamento
do corpo.

Nesse sombrio período, aqueles que possuíam muitos conhecimentos e pouca piedade,
invocavam as forças infernais das trevas. Às vezes, o embalsamamento era para proteger o
espírito da destruição no “purgatório” que o aguardava depois da morte. Em quase todos os
casos, esses homens preparavam os seus túmulos antes de morrer. Uma vez pronta a tumba,
invocavam um ente do mundo dos espíritos, criação elemental artificial, imperceptível aos
sentidos físicos, por vezes bom, mas geralmente maldoso, para que protegesse e vigiasse a
múmia, actuando na sepultura como um espírito guardião. Essas forças eram,
frequentemente, satânicas, ameaçadoras e destruidoras. Estavam dentro das tumbas fechadas
e podiam continuar existindo durante milénios. Quando as tumbas foram abertas, saiu uma
verdadeira chusma de perniciosos entes do infra-mundo dos espíritos que se lançaram em
fúria sobre o nosso mundo físico. Esses espíritos elementais peculiarmente criados são, neste
século, suficientes em quantidade para, do seu reino invisível que, embora imaterial e etéreo
é assaz próximo e poderoso, influir na existência física dos seres viventes e aterrorizar o
mundo.”

É uma descrição terrível, esta, sobre os últimos tempos da que um dia foi uma incomparável
civilização. Terrível também porque o homem, na sua cupidez e ignorância, tem vindo a
profanar esses locais que estavam destinados a ficarem adormecidos por toda a eternidade,
libertando toda uma legião de seres que, de uma maneira ou de outra, têm vindo a exercer
uma influência perniciosa sobre a humanidade. E não se diga que muito do que foi
profanado foi por motivos científicos e de investigação, porque afinal, nada se acrescentou
de conhecimento sobre o Egipto através deste processo. Por exemplo, não se ficou a saber,
na verdade, mais sobre Tutankhamon depois da descoberta da sua câmara funerária com a
múmia e ornamentos intactos.

Tal como o movimento aparente do Sol no céu diurno, todas as civilizações nascem, vão-se
elevando lentamente até atingirem o zénite do meio-dia. É nesta altura que atingem o seu
apogeu, todo o esplendor do que foram adquirindo no difícil caminho ascendente. Depois,
começam a descida, degenerando e envelhecendo lentamente, até se perderem
definitivamente na agonia do ocaso. Acontece o mesmo com o homem e com todos os seres
criados – nascem, crescem, atingem o apogeu, depois vão envelhecendo até a morte os fazer
partir. O caminho ascendente de crescimento é uma via festiva e renovadora, é quando o
verde viceja nos campos e a natureza se veste de cores; o caminho descendente é uma via
dolorosa, no homem é todo o cortejo das doenças, das impotências, das faculdades
diminuídas; nas civilizações é a degeneração de costumes, a inversão de valores, o emergir
da parte obscura do homem. Esta parte obscura esteve e está sempre presente, em todas as
circunstâncias, apenas ofuscada pela luminosidade dos períodos áureos. E quando essa luz
vai diminuindo é que ela se começa a manifestar em toda a sua força, até controlar
completamente o corpo moribundo e acabar de o matar.

Segundo a “Doutrina Secreta”, o homem existe sobre a Terra há dezoito milhões de anos, e
durante este tempo imenso tem evoluído nas suas formas até se tornar no que é hoje.
Começou por um ser etéreo e andrógino igual aos anjos, depois um pouco mais denso e
hermafrodita, mais tarde, à medida que a densidade do seu corpo físico aumentava, separou-
se em dois sexos diferentes e complementares. A este respeito, o “Zohar” hebreu diz que o
homem que se separa da humanidade, recusando amor a uma companheira, não encontrará
lugar depois da morte na grande síntese humana, que permanecerá fora, estranho às leias de
atracção e às transformações da vida.

Pois é disto que se trata – transformações da vida. Toda a história que temos vindo a tentar
contar sobre o nascimento e evolução cósmica, a formação do homem e a sucessão das suas
várias formas através das humanidades que foi constituindo, tudo isto não é mais do que as
transformações da vida a que o homem tem estado sujeito, por ser o objectivo de toda a
Criação, porque tudo foi feito e está feito em função do homem. O mesmo livro que
referimos no parágrafo anterior, o “Zohar” diz que o equilíbrio do homem é também o da
natureza, e que sem o homem, o mundo não existiria. Porque o homem é o receptáculo do
pensamento divino que cria e conserva o mundo; o homem é a razão de ser da Terra; tudo
quanto existiu antes dele foi trabalho preparatório para o seu nascimento e sem o concurso
dele a criação inteira teria sido um aborto.

Isto é o que nos diz o “Zohar”. Foi por isto, por o homem antigo ter criado a ideia de que era
o reflexo do pensamento divino e ser a razão de ser de toda a Criação, que idealizou Deus
como um ancião de longas barbas brancas e o colocou num trono no céu, como vem também
descrito no Apocalipse de S. João. Neste, somos surpreendidos logo no primeiro capítulo,
onde se diz que João foi arrebatado aos céus em espírito e se viu defronte de “Aquele” que
estava no meio dos “sete candelabros de ouro”, tinha numa das mãos “sete estrelas” e lhe
disse para escrever o que via e depois lhe ditou cartas para enviar às “sete igrejas”. “Aquele”
diz a João que as “sete estrelas” são os anjos das “sete igrejas” e que os “sete candelabros”
são as “sete igrejas”. Não precisamos de fazer nenhum esforço para vermos aqui retratado o
que a antiga tradição diz: que houve sete deuses criadores que criaram sete homens
diferentes em sete locais da Terra, ou seja, que as “sete estrelas” são os Anjos (Arcanjos), os
“sete candelabros” os sete Homens (Adão) primordiais, as “sete igrejas” os sete locais da
Terra. Por outro lado, as “sete igrejas” podem também significar as “sete raças” que a antiga
tradição diz serem as raças raiz, cinco das quais já estão consumados pois, de acordo com
essa mesma tradição, nós actualmente pertencemos à quinta raça, ou somos uma variante
dessa quinta raça.

Olhando para a história da Atlântida, não podemos também deixar de ver ali um esboço,
quase uma cópia, de toda a tradição que nos fala sobre a criação do homem. Segundo esta,
quando os sobreviventes lemurianos chegaram à Atlântida, estava-se na transição da 3ª para
a 4ª raça, e desta vêem-se a originar as várias sub-raças da 5ª que povoam a Terra, 5ª raça
que são os emigrantes que fugiram da Atlântida. Ora, se nos remetermos apenas à história da
Atlântida, encontramos exactamente a mesma sequência. Vejamos:

 Temos um primeiro período que podemos chamar de 1ª raça, quando os lemurianos,


conduzidos por Manu, chegam à Atlântida há mais de um milhão de anos.

 O primeiro cataclismo acontece há cerca de oitocentos mil anos, originando um


segundo período, que podemos chamar de 2ª raça.

 Este segundo período termina com outro cataclismo, há cerca de duzentos mil anos. O
período que se segue podemos chamar de 3ª raça.

 Há oitenta mil anos, a Atlântida foi de novo destruída. O período que se seguiu e
terminou há doze mil anos, podemos chamar de 4ª raça.

 Portanto, nós somos a 5ª raça, aquela que se originou na Atlântida durante a vigência
da 4ª raça, nos imigrantes que demandaram as terras do oriente e nos sobreviventes
do último cataclismo.

Acabamos por não saber se esta história foi decalcada da tradição acerca da Criação e da
criação do Homem, ou se o Génesis, a cosmogonia caldeia e toda a tradição antiga são
inspirações da história atlante.

O que sabemos, é que o homem em todo o seu extenuante e longo caminhar sobre a Terra,
tem tido sempre uma capacidade impar de regeneração e de renascimento. Ele é um criador,
cria civilizações, cria mundos, os quais, ou por degeneração ou por calamidades, são
destruídos, para renascerem mais tarde com outros homens, também eles renascidos. Como
a fénix, que no mito se consome no fogo a cada quinhentos anos para depois renascer
vivificada, o homem parece ressurgir das cinzas para continuar a criar, reforçado pelos
ensinamentos do passado, mas cometendo, talvez, os mesmos erros. No Antigo Egipto, a
fénix representava o Sol, que morre no anoitecer e renasce na aurora do dia. Para a tradição
cristã, a fénix é o símbolo da imortalidade e da ressurreição.

No seu caminhar sobre a Terra, o homem vive permanentemente a luta da sua dualidade que
se manifesta em todos os aspectos, pois ele é macho e fêmea, ele é positivo e negativo, mas
também é corpo material e espírito. Como diz Aldous Huxley na “Filosofia Perene”: “Eu
sou o poeta do corpo e o poeta da Alma. Os prazeres do Céu estão em mim e as dores do
inferno estão em mim. Os primeiros eu cultivo e alimento em mim mesmo, os segundos eu
traduzo para uma nova língua”.

Por ser assim um ser duplo na sua essência, tudo o que o homem cria é um reflexo de si
mesmo, e carrega consigo essa carga dual na busca sempre precária do equilíbrio. As
civilizações são o reflexo dos homens que as criam, as compõem e nelas vivem, e se elas
entram em decadência depois de atingirem o seu apogeu, é porque os homens que as
constituem se deixaram subjugar pelo seu lado sombrio. É como se tratasse de uma nova
“queda”. Foi assim com todas as civilizações que existiram até aos dias de hoje, e será
sempre assim, até o homem conseguir atingir um estado de perfeição que não lhe permita
mais ver-se subjugado pelos valores mais obscuros do plano material. Até lá, estará sempre
sujeito à “queda”, mas, haverá sempre a esperança da ressurreição.

Apesar de todas as iniquidades que vemos acontecer no dia a dia, apesar de todas as
angústias que nos assaltam neste início de milénio, apesar de todas as profecias anunciarem
as maiores desgraças para a humanidade, essa esperança reside no coração de cada um,
porque seja o que for que venha a acontecer, o homem sobreviverá para continuar a missão
que lhe foi conferida pelo Criador. E para terminar, julgo adequadas as palavras de Victor-
Emile Michelet, num poema seu intitulado “O Silêncio”.

O Silêncio

Não terás outra morada além do teu coração,

Pois na Terra, onde somos peregrinos,

Ninguém construirá morada permanente:

Não terás outra morada além do teu coração.

Então, ao redor dele, na atmosfera ardente,

Que dele nasce, que o envolve e que aspira

Todos os raios vindos das coisas que deseja,

Evoca o silêncio e o divino silêncio;

A forma que reveste a primeira hipóstase

Te levará nas quatro asas do êxtase.

A vida interior é feita de silêncio.

É o palácio que tem por base o silêncio.

É a flor do fogo: o silêncio é o vaso,

O silêncio é o vaso onde bebes a beleza.

Tu que passas aqui, com certeza mas sacudido

Entre tua vida real e tua vida aparente,

Tua vida real, tenebrosa e veemente

Como a paixão, o trovão e a morte,


Cobre com um véu de sombra e noite o tesouro

Dessa vida interior, que escolhe

Entre tuas almas a melhor e mais pura,

Para que nada atente para seu mistério intenso,

E que sua força virgem, integral, se aplique

A edificar a arte em que as mãos do silêncio

Venham a tecer o manto da tua alegria.

Victor-Emile Michelet

Obras consultadas para a elaboração desta série de crónicas dedicadas à evolução do homem
e do universo:

1. A “BÍBLIA”.

2. “A DOUTRINA SECRETA” de Helena Petrovna Blavatsky – Editora Pensamento – São


Paulo, Brasil.

3. “APÓCRIFOS – OS PROSCRITOS DA BÍBLIA” – compilação de Maria Helena de


Oliveira Tricca – Editora Mercuryo – São Paulo, Brasil.

4. “AS PROFECIAS DO PAPA JOÃO XXIII” de Pier Carpi – Edições António Ramos –
Lisboa, Portugal.

5. “O CAMINHO DA KABBALAH” de Z’ev bem Shimon Halevi – Editora Siciliano – São


Paulo, Brasil.

6. “TRATADO DA REINTEGRAÇÃO DOS SERES CRIADOS” de Martinets de


Pasquallys – Edições 70 – Lisboa, Portugal.

7. “A EVOLUÇÃO DIVINA DA ESFINGE AO CRISTO” de Édouard Schuré – Editora


Ibrasa – Instituição Brasileira de Difusão Cultural, Lda – São Paulo, Brasil.

8. “O LIVRO EGÍPCIO DOS MORTOS” traduzido para o inglês por E. A. Wallis Budge –
Editora Pensamento – São Paulo, Brasil.

9. “A CABALA” de Papus – Editora Martins Fontes – Sociedade das Ciências Antigas – São
Paulo, Brasil.

10. “AS ORIGENS DA CABALA” de Eliphas Levi – Editora Pensamento – São Paulo,
Brasil.
11. “OS SOBREVIVENTES DA ATLÂNTIDA” de Juan G. Atienza – Editora Mercuryo –
São Paulo, Brasil.

12. “THE BERMUDA TRIANGLE” de Geoffrey Keyte – Internet.

13. “ACCESSIBLE REMAINS OF ATLANTIS” de Mark Hammons – Internet.

14. “FORBIDDEN ARQUEOLOGY” de Michael Cremo, Richard L. Thompson e Stephen


Bernath – Internet.

15. “SCIENTISM = ATLANTEAN CHILDREN OF DARKNESS/BELIAL de Mark


Hammons – Internet.

16. “EGIPTO SECRETO” de Paul Brunton. Editora Pensamento – São Paulo, Brasil.

17. “A FILOSOFIA PERENE” de Aldous Huxley.

18. “BHAGAWAN SRI SATHYA SAI BABA” – “MATERIALIZATIONS” – Internet.

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