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AESCOLARIZAGAO DA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL. Magde Soares CComecemos por analisar o ema desta exposigio: que rolagdesexistem enze 0 processo de escolarizagh e Ute ‘atu infant? Sob que perspectives podem estas relagtes ser analisidas? Numa primeira perspectiva, podem-seinterpretar as rel es entre excolrzagho, de um ido, e iteratura infant, de ‘0, como sendo a apropriardo, pela esol, da leeeaturs infantil: nesta perspectiva, analisse © process pelo qu ‘sla foma para sa tear infant, escola, catia 2 pedagopiz-a, par tender a seus propeos fins — fa dela unt Moratura colada, ‘Una segunds perspectva sob a qual podem ser consid sadas 38 relagdes entre escoarizacio, de um lado tests infant, de cut, € interpret-as como senda 2 produ, par a escola, de uma Itertura destinada a eiangas nest pespectva, analsaseo processo pelo qual uma Iteratura& produzid pari a escola, pura os abjetivas da escola, para ser ‘onsumid na escola, pea dentela escolar — buscase ie- tlie a escolartzaedo infant ‘Una © oua desis dass pespectva susctam 2 questo, Bo debatida © minea resolves, do concider inf SH quer se pense ent ums Mere infnil escola, ae se pense em uma Iteraizaio da escolariaco infil, ou se, yer se considere a iteratura infant como roduzia indepen tkriemente ca escola, que dela se apropeia, quer se consdere 3 Tact infantil com erature presuzida para a escola, 0 que carci uma determina eras come inti? | primis perspectvs eat subjacente 0 conceto de que at uma ierstra que édestinada a ox Que intros a ea fas, dt qual a escola lanca mao para incorpori-a As suis atvidades de ensino aprendizagem, as suas inengdes edi. Catias, Nao cabe aqul discutr se tkeatur itantl © una IMeratura destinada a erangas 04 uma literatura que ttre ‘ara erancas, mas vale a pena recordar a questio que Carlos Drummond de Andnide to bem formulow ji no tniio dos anos 40, que ainda hoje pemmanece irespordi ‘ets em em de to iS sa ae G0 ‘ie it nr ena os onc hace pining NMR {Gierbomnd Anae, Lr nok 2m cna [A pergunta de Calos Drummond de Anviide — "Ser ‘rang um ser & parte, reamando uma literatura tambérn & Fane” — conduz & mencionadh segunda perspectva sob a ‘qual podem ser analsadis 28 relagdes ene exolarzago erat fait quando se penss er ua Heras inn ‘como uma Iteratur produsida para crams © jovens. 0 que ‘gia prchzida para a lentea escolar, portito, prods {para consumo na escola ou através da escola, a expressto ‘ecolarizacio da eraura sant oma 0 sent de era ‘ao do escola, sto 6, de tense erro o ecole Este conceto de tertua infu pode parecer, aos mals radia ua heresia—talver sep, mas deve também reco sheoer que sempre se atibui itera if (como ta ‘bam 3 juveniD um eater educatvo, formadr, por iso el |qunse sempre se vincla escola, institsigto, por exceléaci, pemenaninthectnindatente! 1 ‘educatvas€ formadont de sianas & jovens;lembrese, por ‘exemplo, que Montelo Lobato, quando publicou menina tdonarisarrebitado em 1921, caacterizou-o, na capa, como “ives de etua para ss segundas série, olive fol anunei- do como “un nav lira escolar aprovado pelo governo de ‘So Paulo, « a edi fot realmente vend para governo de Sto Paulo para que o lio fosteadotaco mas eseoas Nesta mesma inhi de raclocino,é interessante observar como o desenvolvimento da teraturs infant e jen no Brasil acompanha o rtmo do desenvolvimento da educaclo cescolar basta car o ehamid boom da lersurs infant juvenil, que coincide, ato por acaso, com o momento da Inuliplicagio de vagis aa escola brie. Parece mesmo que, 20 longo do tempo, iterators infantil e joven fse Speximando cia ver mais da escola. HE autores que ves ‘portando (ou deaunciand?)a clara vineulaczo,atualmen- te, da feraturainfal ¢ joven 3 escol: Marisa tsolo fa {do “pacta da Iterator infeni com a escola’, um pacto que Se taduz em “paso ene produtores e dssibuideres", iso €,ente os nutores que produzem ea escla que dstibu,& Nelly Nowaes Coco sim que, partrde mealos dos anos 70.6 lio infatl se toro "oma letuea que, mais do que simples vivetimento, € um fecundo iaseumento de fort ‘lo humans, ea, sia, poli, ete", e ainda de que Teratura ffi cferece matésaexteratnente fecunda par formar ou tensformar as ments", ols € "um dos mas efea- 2s insramentos de formagio dos imaturos", Fea aro ese ‘paco” i literatura infantojoveril com a escola quando se lembram: a8 fiehas de leura que aualmente acompanham ‘quse todo livro infant € jvenil a presenca frequents @ ‘haciga de esctores de ieratua infant ejovenil na escola O grande nimero de esritores de Iaeratra infant even ‘que sto profesons. sta exposigao, que tem por tema a escolarzagao da Livranura infant, poder, poks, desenvolver-se a. pai da inexpretago das relagdes entre Hteratur fafa Ccolarizagia come sendo a producto de Iieraturk par cola, para # lletela escola, poderindscutira iteratia (Go do escolar? au a opto aqui €analisir © tema escolarizag da ite. ratura infil sb oats perspeetiva sponta, iso 6, t- ‘nando 35 cages entre eratra infantile escoarizag2o como endo a apropriago, pela escola, para atender a seus ins ‘Sports, de uma iratra dstinda cranes, ov que in- teresa cian, 'No quadro desse opgto, comecemos por discutiroter- mo escolarizagdo. Escolarizagio. (© teano escolartzapdo é, em ger, tomado em sentido pejorativo, deprecintivo, quando utlizado em relagao 3 Co- Phecimentos,siberes, produgtes culturis; nBo hi cook ‘Go pejoraiva em “escolariagio da.crianga", em “eranga ‘Slurteada, ao contri hé uma conotagic posta; mas In eonotapic peiortiva em escolarizagio do.conhecimen- tor, ou "da arte", ou “da hteratora, como hé contagio pejoratva nas expresses ajetivades “conhecimento esco- FEnzado", ‘ate escolartzad’,“Iteratura escolarzad™. No tentano, 2m fee, no € corres ov juts 2 abuigfo dessa ‘onotaao pefortiva aos termos “escolarzacio"e “escolar: dado', ness expresses. No hi como ter escola sem ter escolarizagao de conhe- cimentos,saberes, antes 0 surgimento da escola ext ind Socavelmente ligado a constiuicio de “suberes escolar", que se corporifican se formalizam em crsculos, matéas € ‘Becptnas programas, etodologias, tudo isto exigklo pela livengto,responsivel pela criagto da escola, de um pao de ensino ¢ de um tempo de aprendizagem. ‘ diferenca fundamental enue © aprendizado corporat- vo medieval © 0 aprendizado escolar que se difundiu no nun cident, « parte sabretudo do século XVI, fol uma _revolugio do expo de ensino: leas disperses mantides por Drotesores olan e independents fram substi por in préio Gio abrigaco wii sas de aul como conse- (gueneise exgenela dessa favenco de um espago de ensino, ‘Tw ona “invengio" suge, um tempo de ensino: reunidos ‘Se alunos num mesmo espago, # idl de sstematizar o Se tempat impunha dela que se materializoy numa organi Tae plancamento das atividades, numa diviso €gradagao SDeothectmento, nama defingao de modos de ensiar cole- theammente aasin que surgem os gras escolares, a sis eases, os curculos as matérlase disciplins, 0 Progra. ras as metodo 08 mamas eos festos— en, aul To que consul até hoje a esséncia da escola. “asim, a enol € uma instiuiga0-€m que o floxo das tare= {fase dasagdes € ondenado atavés de procedimentes forma Tlnaon de crsino e-deorganizagao dos alunos em extlenoris (iadnde, pra, nie, spo de problem, etc), categorias que (Gcermigum um uatamento escolar especico horiios, mi {laces e volume de trabalho, logares de tabalno, sabees a Spender competéncas a adquist, modos de ensinar€ de semen procesos de walagioe de seleeo, ste) Ba ese ecndsel proceso — ordenagao de areas © agbes, procedi- tents formalzados de ensino, tatamento peculiar dos st pores pels selegdo, « conseqdente exclusfo, de conteddos, alt ordenacioeseqhenciag desses contedos, pelo modo Te encima © de fazer aprender esses conieddos — € 9 see roses que e chums excolaizagdo,processo ineel ep & da ewénca mesma ca escola, € 0 PrOCES#O GUE Iratat © que « eons, Poranto, nfo hi como evitr que a Heraturs, qualaver featur, no a6 4 Ieratua fant juvenl, 20 se tomar aber excola’ se esolaize,e no se pode ater, em 5, ‘Soho dito antesonente, conotao pejorativa 2 esa col “aaelo,inevvel e neessris; no ve pode etic, 08 Neh Ta, porque Iso significa negar a prOpdia esc. Disse em tse porque, pita, na realidade escola es ‘escolanzario acaba por aqui, sm, sentido nega, pelt aan centers Instancias de escolarizagio da literatura infantil ‘Sto tts as principals instincts de escolarizagzo ‘atura em ger puticlamente da erst inar feenescolra eitua e estado delvos de itecitrs, em ger determina © orientada por professores de Portugues, A etre do Heros como nsiancia de ‘excolartzagdo da hteratra fra € Sempre avallada, por mais que se ‘masearem também as formas de avaiagio — que se dé ura prova, que se pega preenchimento de Jemos, © que lnos bem, um vo. ‘Com esses brevescomentirlos sobre essas dus instincias de escolarizagio da erature —a biblioteca escolar ea letu- 1a de livros —0 que se quer debar ro € que a leratur € smarhert hemes 2S sempre e inevitavsimentecacolarizada, quando dela se pro ‘em er ta privilege na disousto que se faz neste texto, Aleitura e estudo de textos como instancia de escolarizacio da literatura ‘ola do acess ao veo na biblioteca escola, ao ado dt letra de livres promovida em aulas de Pongo, a eratura fe apresena a escola sob a forma de fragmentos que devers er lidos, compreendios, nerpreados. Ceramente € nesta instncia que a escolariagto dz teratura € mais wens © também nesta iasnca que ela tem sido mats inadequad ‘Consideraremos quro aspecos principals da tera de exon na escola a questi da slap de textos: gros, au tones e obras; a questo da selec do fragmento que const: lull Oreo ser ldo © extadado; a questio da tansferéncit 26h stint | vom scan do texto de seu suport trio para um superteddaico, 4 Pina dot Asclopio de generos, autores cobras (Osgéneros teres nos tore didaticos No quattro da grande diversdade ‘var as rlangas& perceprao do podtico a0 gosto Selegdo de autores obras ‘Também aqui se verifies 2 inadequac escoatzagao da weratra infant. Em primero lugae — aspecto que 6, cera- ‘mente, o menos grave —hi uma grande recorrncla dos met mos autores das mesmas obras nas colds dies pa as quatro primelas series do primelra grau, Poemas 8 fe < mais fegdene, se usa © poema para fins omtogricos oo ‘ais amplamente conhecios, como Elis Joe, ‘srumatias,Vjam-se dos exemplos (os gifs sto mes) ‘ell, Roseana Murray, A mesma recoréndia de ‘Um our aspect que revel inaequad escolaizaso da Terra infant € qu, exceuadas os autores ¢obnisrecorens tementeutlzados, porque amplamente conhecidas, como dito cima, verifici-s ausdacia de erties apropriados pars se lego de autores e texas na verdad, oa se lang mio de obras autores mito conhcios, ou de auoees pouco representa vos obras de poucs quallide. muso cama, por exemplo, pamenarner Ann tte 29 4 Inclust de textos do prépo ator do vo didi; vee or exemplo, a escolarzagto —inadequacta— ch poesia, pt presentagio rang do seguinte poems no 0 conceto de autora, de obra, de fragmento de obra Aselegio do fragmento que constitrio texto Em livros dditicos encontramse, em geral, como textos para letra, rgmentos de textos maiores, ji que € preciso a 30! Ansett tear aren oqo doer een etinarane-Aenettnrtel 3 Nem se ata de explorao de nonsense ou de arava sto apeesentalo, ltd gues que os precedem ou os seguem alguns exemplos | ‘omprovario es aflemagto 1a "textos" que upresenam apenas 0 ‘apéncia nara, exon ia, detsando oletor na expecta | ‘Ya 6 que acontecer nese liga? com estes pessoragens? ‘Assim, em um livro didtico, prope se ih crianga, Lode esto 38 “rovas" que a jibbit se ps a canta? € | texto de letra, fragmento do lvro Meni bonita do lag 4 absolut flix de sentido das trovas que nao so ora. fa, de Ana Maria Machado, es fragment Conn eve, presertae 3 eane oni da hist, =P sigdo—peronugens,snngso-—e arunci# 3 complicagao— Observe-se que 0 “texto se nica com um mad Esta cone jumgio lowodus uma sentenga que cones algo que ter ‘sido dio em sentenga anterior: © que? Em apresentado: de que princess lento principe que la esau, princess edava eyperando um principe? E depots, 0 onteceu? A princes ter aceite o principe ou ate? © texto se chama Procurando frm Perantas que ‘tangs far, far 3 proessoea, tet dese confor Coen (por que um bicudo io pode ser um pombo-corei?) in slatese, c conchuindo este item sobre a agmentacao ba paratva em "textos" proporios 2 leita em vos didti- pois thala 0 conceito que a celanca te ‘estrada narativa, dithe uma ile texto e pode induzita a produ ela mesma pseudotextos, jt ‘que estes ¢ que be sto apresentados como modelo ‘Um out aspecto que evidencia a exolrizagto inadequada “Teansferéncia do texto de seu suporte Iiterdrio para pagina dolivro didstco le ua colegto didi que apresenta o mesmo texto iv 4 (o que ji €surpreendente),impondo: de estrous lin Toe indique que se tata de uma “adupacio", as alteragbes fedas 30 inteirumente dispenses, nao sejustiicam pela 0 vanes, € realmente (que agra ge mencions) Compare-se: 14 ciferencas de paragrafago: os us skims parigraos ‘do texto al como apresentado no iva I constitiem im $6 Parigrafo no texto tal como apresentado no Livro 4: qual a Trio? A hipstese sert que testo pars exangas de primeira Série deve ter paigafos euros? Por que? No Livo 4, 4 personiicagao da lua, do 08, da teem & enfatizada pelo uso de macula: aparece wma Lua de cara tncbada boa-note, ona Lua, O Gea ea Tera ican mt: toexcuros no Livro 1, as makisculas desaparecem,empobve ‘condo desnecessariamente 0 texto. Palveas « expresses so liminadas no texto do Live 1 a lua fez caret ¢ no Lua fez wma: carta: Nao me amolet segunda forma de dstoreaa do texto, no proceso de ferénci de seu superte—o lio de literatura tnfan- “para © suporteescae— 9lvo ditico — € alters Iteratura so aqueles casos em que o live dltico apresen- gape tet eu iv nl em usec tr "Nessa colog, vod para erlang em fs ‘lo, hd uma ou das eases em cad pina esta toma qua- {e ieiramente por istracio que completo significado da sta tale me rs lace, faa dels 0 sequin text: eee ‘as 0 lio dite, € 2 aleracio 10 obeect a cririos que preservem trio, que propiiem 2 evianga [Ce pesento da cabega de um bode, no origina [EEIDesenho de uma boss, no orginal [Be Desena da eabepa de um rato, no origi 46 asetnnnine trie en ttt et ido personagem do text, escrever quem frase; escrever © nome des persons os de texto informatio, no para a letra 1s ainda, com freqhéncis,exeretlos de opiniao sobee © text, rags — 0 que achou? Gostou dotexto? —e exerci ‘que pretendem buseae no texto umn ‘que o texto nos ensina? Nestes caso, & sempre interessante observar @resposta que, no Livro ‘como resposa “corretafrequertemente, iforma-se a0 pro fessor o que o aluno deve achar... deve aprender do tex "6... Por exemplo, 2pés um texta de Malba Taha, em ue lum prinipe condena um criado 2 mote, porter quebrado & Acho um absurdo. Ou sejas0 que 0 aluno deve “achat” jt sth pre-estabelecido, Conelusio CConsideramas como escolarzap da Meratur tania apropriaco dessa literatura pela escola, para atender a seus fins formadores e educativos Defendemes que essa escolarizagto € ineviive, porque | suena

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