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Econômica 2017
Estas notas de aula se prestam ao acompanhamento do aluno em sala de aula sem que
se faça necessário um esforço intensivo de cópia. Elas contêm os slides usados na aula mais
algum texto que complementa tais slides, também aqui e ali se apresentará propostas de
exercícios ilustrativos (não necessariamente com a respectiva resposta, em algumas o
exercício proposto será resolvido em sala de aula). Em cada módulo terá seu anexo contendo,
no mínimo, problemas propostas e respostas selecionadas. Desta forma, aconselha-se ao aluno
que mantenha sua cópia destas notas de aula em papel durante a aula anotando no verso das
páginas os complementos e os exercícios resolvidos em sala de aula.
O curso de Macroeconomia está organizado em 9 módulos temáticos (em princípio um
módulo a cada dia de aula) abordando as questões mais fundamentais da matéria, em uma
abordagem orientada à prática. Desta maneira, faremos uso frequente de exemplos ilustrativos
explorando conceitos, gráficos ou quantitativos. Aconselha-se adicionalmente o uso da
bibliografia indicada na figura ao final deste módulo.
Parte 1:
1 – Fundamentos da macroeconomia
2 – Contabilidade social e matriz I-P
3 – Lados – real e monetário
4 – Análise IS-LM
5 – Inflação, oferta agregada, curva de Phillips
Parte 2:
6 – Setor externo, modelo M-F
7 – Política fiscal, déficit público, estabilização
8 – Crescimento econômico
9 – Políticas de crescimento econômico
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.1/31
Macroeconomia
1 – Fundamentos da macroeconomia
2 – Contabilidade social e matriz I-P
3 – Lados – real e monetário
4 – Análise IS-LM
5 – Inflação, oferta agregada, curva de Phillips
6 – Setor externo, modelo M-F
7 – Política fiscal, déficit público, estabilização
8 – Crescimento econômico
9 – Políticas de crescimento econômico
Anexos:
Taxa de câmbio: uma explicação simples
Problemas propostos
Respostas selecionadas
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.2/31
Neste módulo vamos estender nossos modelos para uma economia pequena e aberta,
agora levando em consideração o setor externo. Essencialmente o que muda com economia
aberta é que despesas não precisam ser iguais a gastos, ou poupança S não precisa ser igual
ao investimento I . A oferta de “fundos emprestáveis” pode financiar investimento doméstico
ou investimento estrangeiro. Ajustemos nossa nomenclatura: NX = balança comercial; EX =
gastos estrangeiros em bens domésticos; IM = gastos domésticos em bens estrangeiros, e
podemos imaginar que IM C f I f G f , onde o sobrescrito f indica “no estrangeiro”. Da
mesma forma nossas variáveis tradicionais incorporam (consumo, investimento e gasto com
governo) no exterior. Ficam assim: C C d C f , I I d I f e G G d G f , onde o
sobrescrito d indica “doméstico”. Com estas definições ajustadas, nossa identidade
fundamental incorpora NX EX IM ficando agora Y C I G NX Nestes termos o
comércio internacional se caracteriza assim: NX Y (C I G) , ou seja, as exportações
líquidas de um país é a diferença entre o produto e o total de gastos. Como indica a Figura 6-
3, um superávit comercial é resultado de a saída ser maior do que o gasto ou exportações ser
maior que importações. Neste caso NX 0 . Reversamente um déficit comercial é resultado
gasto ser maior que a saída ou importações ser maior que exportações.
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.3/31
Credores e
mutuários internacionais
formam fluxos
internacionais de capitais,
mesmo que não seja o
capital físico que flui, ao
contrário, capital financeiro
(que, claro, é usado para
financiar a compra de
capital físico). Com o setor
externo levado em
consideração interessa
SI . Como já
antecipamos esta diferença
não mais precisa ser zero. Se S I , o temos uma saída líquida e o país é credor líquido; se
S I , temos um influxo líquido e o país é devedor líquido. A ligação entre comércio e o
fluxo de capital é NX S I , ou seja, balança comercial é igual à saída líquida de capitais e
esta é a identidade com o setor externo considerado.
De imediato, podemos fazer a seguinte consideração econômica: um país, como os
EUA, com grande e persistente déficit comercial ( NX 0 ), também apresenta baixo nível de
poupança relativo ao seu investimento1.
Na Figura 6-4
partimos de nosso modelo
simples, mas agora
incorporando a taxa real de
juros r *, considerada
exógena (constante) e
considerando-a superior à
taxa de juros do modelo de
economia fechada, rc , então
o investimento fica
determinado como na figura
e NX , saída líquida do
capital é ajustado pela taxa
de câmbio (veremos!).
1 A China cumpre um papel dual, alto nível de poupança em relação ao nível de investimentos. Não é
à toa que o déficit americano é principalmente coberto com poupança chinesa. Evidentemente os EUA
também pode ter forte déficit por ter uma moeda forte, mas, por ora, esta discussão está fora do nosso
escopo.
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.4/31
No primeiro
caso, como na Figura
6-5, consideremos um
aumento em G (ou
redução de T ),
portanto a poupança
diminui2 (para S 2 ).
Como r * é constante,
ela “puxa” para baixo o
investimento, mas a
poupança deslocou para
a esquerda, o que gera
NX 2 NX1 . Esta
análise gera a previsão
que déficit
orçamentário e balança de pagamentos são negativamente relacionados. Os dados tendem a
confirmar isto.
No segundo
caso, como na Figura
6-6, consideremos uma
política fiscal externa
expansionista que eleve
a taxa de juros mundial
(para r2 * ). Se S * é a
soma de todas as
poupanças dos países,
I * é a soma de todos
os investimentos dos
países no mercado de
“fundos emprestáveis”
mundial, então r *
2Esta análise vale para qualquer coisa que cause uma diminuição da poupança. Por exemplo, uma
mudança nas preferências de consumo, mudança nas leis de impostos que reduzem o incentivo à
poupança, etc.
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.5/31
ajusta para I * = S * , porque o mundo pode ser visto como uma economia fechada! Uma
expansão fiscal mundial pode reduzir S * e elevar r * , como na figura. Na pequena economia
a subida de r * reduz investimentos e reduz a demanda por “fundos emprestáveis”, apesar de
não modificar a oferta destes fundos, então aumenta fundos fluindo para o exterior.
No terceiro
caso, como na Figura 6-
7, diferente de uma
economia fechada, o
investimento não está
restrito pela oferta fixa
(internamente) de
“fundos emprestáveis”.
Então, aumento da
demanda da empresa
por fundos pode ser
satisfeita por meio de
empréstimos no
exterior, o que reduz o
fluxo líquido de capital
financeiro. Como a saída líquida de capitais é igual a NX , neste caso, NX caiu de igual
quantidade do aumento no investimento.
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.6/31
A tese central de Piketty indica que: “(...) uma diferença que pareça pequena entre
crescimento da população ( n ) e taxa de remuneração do capital ( r ), no longo prazo, pode
produzir efeitos muito potentes e desestabilizadores para a estrutura e a dinâmica da
desigualdade na sociedade”.
3Todas variáveis estrangeiras usaremos o símbolo *, como já fizemos com taxa real de juros. As figuras
a seguir se referem ao padrão dos EUA, onde a referência do câmbio é (moeda não americana/1
dólar). Portanto apreciação do câmbio ocorre quando e , depreciação e , ao contrário da maioria dos
países (e Brasil).
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Respostas:
e P 120 US $2,50
= 1,5. Significa que para comprar um BigMac americano um
P* 200Yen
japonês deveria pagar o equivalente a 1,5 BigMacs japoneses.
Por quê?
Veja o desenvolvimento na equação a seguir, onde usamos apenas a definição de taxa real de
câmbio:
Portanto, a taxa real de câmbio mede a quantidade de poder de compra no Japão que
deve ser sacrificada por cada unidade do poder de compra nos EUA. Naturalmente a taxa real
de câmbio deve ser extraída de uma cesta de bens, não apenas de um bem, como no exemplo.
Fazer esta comparação de cestas pode ser inviável, então o candidato natural são os B&S que
compõem o PIB. Então a taxa real de câmbio deve medir quantas unidades de PIB estrangeiro
equivale a uma unidade
de PIB doméstico.
Desta forma,
podemos fazer a
associação mostrada na
Figura 6-11. Um aumento
na taxa real de câmbio
dos EUA significa que os
bens americanos tornam-
se mais caros relativos
aos bens estrangeiros.
Então EUA exporta
menos e importa mais, ou
seja, NX EX IM
diminui. Em outras
palavras, a função exportação líquida reflete a relação inversa entre NX e , como mostra a
figura. Quando é relativamente baixo, os bens americanos são baratos e as exportações
líquidas são altas, quando é caro, os americanos exportam menos (melhor para importação,
pior para exportação).
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.9/31
Agregando este
fato ao nosso modelo:
NX ( ) S I (r*) , então
é a única variável
endógena (em economia
pequena e aberta a taxa de
juros mundial é dada,
portanto, esta equação
determina o valor de ).
Interprete assim: NX é a
procura líquida por
dólares: demanda externa
por dólares para comprar
exportações americanas
menos oferta americana de dólares para comprar as exportações. A saída líquida de capitais é
a oferta líquida de dólares, ou seja, a oferta de dólares de residentes nos EUA investindo no
exterior menos a procura por dólares de estrangeiros comprando ativos nos EUA.
Na Figura 6-13 se
ilustra o caso que uma
expansão fiscal doméstica
(suposto ser nos EUA!)
reduz a poupança nacional
(a reta vertical da saída
líquida de capital ou a
oferta líquida de dólares se
desloca para esquerda). Por
consequência a taxa de
câmbio sobe e NX baixa.
Os efeitos econômicos são
o incentivo ao consumo
( S ) e à importação
( IM ). O dólar vale mais
e os bens domésticos tornam-se mais caros relativos aos bens estrangeiros.
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.10/31
Na Figura 6-14 se
ilustra o caso em que a taxa
de juros mundial r * se
eleva, então o investimento
reduz, o que aumentará a
saída líquida de capital (ou
a oferta de dólares no
mercado de câmbio) e a
reta da saída líquida de
capital desloca para a
direita com a redução do
investimento. Por
consequência a taxa real de
câmbio de equilíbrio baixa
e NX sobe refletindo um
incentivo às exportações (deprime as importações), o dólar torna-se menos valioso e os bens
domésticos mais baratos em relação aos bens estrangeiros.
Na Figura 6-15
se ilustra o caso em que
houve um aumento da
demanda de
investimento, portanto a
reta vertical da saída
líquida de capital se
desloca para a esquerda
e o efeito é semelhante à
expansão fiscal com
diminuição de poupança
do caso 1. As
consequências e
resultados econômicos
então são os mesmos.
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.11/31
Nosso último caso, como mostra a Figura 6-16, considera uma política restritiva às
importações (política
protecionista), por
exemplo, via tarifas e
quotas de importação.
Aplica-se também para
mudanças nas
preferências entre bens
domésticos e bens
estrangeiros. Supondo
uma mesma taxa real de
câmbio, uma elevação
na quota de importação,
por exemplo, reduz as
importações e, por
consequência, no gráfico
NX se desloca para a
direita. A demanda por dólares aumenta, mas a oferta de dólares é fixa (uma política
protecionista não altera poupança ou investimento), o que eleva a taxa real de câmbio. O
aumento no preço dos bens domésticos em relação ao estrangeiro estimula importações e
deprime exportações, assim tende a abaixar as exportações líquidas. Observe o resultado
disto: mesmo que políticas protecionistas não alterem a balança de pagamentos, ela afeta a
quantidade de comércio, importações diminuem, mas exportações também diminuem. O
modelo que temos estudado não aconselha tais políticas. No entanto, elas são feitas na prática,
principalmente porque com elas se favorecem certos setores preferenciais na sociedade.
A Figura 6-17 mostra os determinantes da taxa nominal de câmbio: o estado da oferta
e da demanda agregada e
a estratégia de alocação
de recursos dos
investimentos
internacionais estão
representados pelo termo
NX ( ) S I (r*) , os
termos na forma
M
L(r , Y ) refletem no
P
país e no exterior as
expectativas sobre a
estabilidade política e
financeira e as oscilações
da política monetária. Ao
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.12/31
reescrevermos a equação da taxa nominal de câmbio em termos dos seus constituintes vemos
a Dicotomia Clássica em ação: a taxa real de câmbio é determinada por variáveis reais,
enquanto a taxa nominal de câmbio é determinada por variáveis nominais. Aplicando a
definição de taxa, como no módulo 5, Figura 5-9, reescrevemos:
e P * P
* , ou seja, para um dado valor de taxa real de câmbio, a
e P* P
taxa de crescimento da taxa real de câmbio é igual à diferença de inflação doméstica e
inflação externa. Suponha que os EUA seja o país doméstico e o México é o país estrangeiro.
Suponha que a taxa de inflação do México ( * ) é maior que a dos EUA ( ). Então a
inflação do México que é maior que a nos EUA implica que mais rápido o dólar deve elevar-
se em relação ao peso.
A Figura 6-18
mostra uma relação
muito clara entre a
diferencial da inflação e
a taxa de valorização do
dólar. Maior a inflação
do país em relação aos
EUA, mais rápido o
dólar americano
depreciará contra a
moeda deste país. Ou
ainda, para poucos países
como o Japão, que tem inflação mais baixa que a americana, vemos que a taxa de câmbio dos
EUA se apreciará mais em relação às moedas destes países.
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.13/31
Como mostra a Figura 6-20 a seguir, a premissa aqui é que temos uma economia
pequena com perfeita mobilidade de capitais, ou seja, a taxa real de juros é aquela
determinada pelo mundo: r r * 4. Com esta premissa, modificamos o modelo IS para IS*. Se
o mercado de B&S está em equilíbrio, a curva IS* pode ser descrita por
Y C(Y T ) I (r*) G NX (e) , muito semelhante ao modelo IS do módulo 3 (vide Figura
3-22), apenas agregando o novo termo NX (e) .
4 Ou seja, a taxa de juros neste contexto é uma constante, pois é determinada externamente ao país!
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.14/31
A intuição do
formato da curva IS*
é o seguinte: (a)
agora r não pode
variar, trocamos para
a variável e ; (b) e
então NX (como
na Figura 6-11),
portanto Y . A
lógica usada aqui é:
se o dólar é mais
caro, melhor para
exportações, pois
bens estrangeiros
ficaram mais caros que bens domésticos, e, naturalmente, pior para as importações.
Exemplo2: O que acontece com IS* se os impostos são reduzidos (preparando para discutir
política fiscal!)?
Respostas: Inicie em um ponto qualquer da IS*. Neste ponto: Y C I G NX . Agora,
com um corte nos impostos a renda disponível é maior e o consumo aumenta. Com o resto
igual, o mercado B&S está em desequilíbrio: C I G NX Y Ou seja, um aumento de Y
(na quantidade certa!) deveria restaurar o equilíbrio. Portanto, dado o valor de e , maior Y e
IS* se desloca para a direita.
Resposta alternativa:
Início: C I (G T ) NX Y . Se T então:
C I (G T ) NX Y
Vimos na
Figura anterior a
forma da curva IS*
por uma via intuitiva.
Vamos agora como na
Figura 6-21 derivar a
curva IS* via a “Cruz
Keynesiana”. Um
aumento na taxa
nominal de câmbio
diminui NX (vide
Figura 6-11) que
desloca a despesa
planejada para baixo
(vide Figura 3-19 e
contabilize nela a mais NX : E C I G NX ). Então na “Cruz Keynesiana” a renda Y
abaixa, portanto IS* sumariza estes movimentos ( Y menor, e maior).
Vamos a
seguir, como na
Figura 6-22, fazer a
análise equivalente
para LM*. O ponto
de partida é a
equação
M
L(r*,Y ) , como
P
no Módulo 3, mas
com as restrições que
P é fixo, r * é
exógeno e o BC
estabelece M.
Nestes termos, LM*
é vertical e Y deve
ajustar de modo a
M
igualar a demanda por moeda ( L ) da oferta de moeda ( ).
P
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.16/31
Exemplo3: O que ocorre se aumentar M ? Por quê? (preparando para discutir política
monetária!)?
Respostas: Se M sobe então a demanda por moeda deve subir para restaurar o equilíbrio.
Uma queda em r deveria causar a demanda por moeda subir, mas em uma pequena economia
r r * é exógeno. Então a única maneira de restaurar o equilíbrio é subir Y , equivale dizer, a
reta LM* desloca para a direita.
O modelo de
Mundell_Fleming
(chamaremos modelo
M-F) mostrado na
Figura 6-23 trata do
equilíbrio IS*-LM*.
Algebricamente é
traduzido nas duas
equações:
Graficamente é como mostra a Figura 6-23. Relembrando, para nossos propósitos, por
simplicidade, por ora vamos considerar o modelo M-F com P (preço nacional) fixo. Ao final,
no entanto, levantaremos esta restrição.
Na Figura 6-24 se mostra os efeitos de uma política fiscal expansionista, sob câmbio
flutuante, segundo o
modelo M-F. Com
PF expansionista em
economia fechada
poderíamos esperar
um aumento de Y e
de r com a curva IS
se deslocando para a
direita. Porém como
LM* é vertical,
aumenta taxa
nominal de câmbio
sem aumentar o
produto. A
explicação
econômica: como
vimos antes uma
expansão fiscal pressiona para cima a taxa de juros do país. Em uma pequena economia aberta
com perfeita mobilidade de capital, tão logo a taxa de juros doméstica suba, mesmo que
ligeiramente, com a taxa de juros mundial, imenso volume de capital financeiro estrangeiro
vai fluir para tirar vantagem da diferença de taxa. Porém, para estrangeiros comprarem títulos
nacionais eles precisam antes adquirir moeda nacional. Portanto, a entrada de capital causa um
aumento na demanda estrangeira por moeda local no mercado de câmbio, fazendo a moeda
local depreciar. Isto faz as exportações mais caras para estrangeiros e importações mais
baratas para nacionais. Então NX , a queda de NX compensa o efeito da expansão fiscal.
Por outro lado o modelo M-F afirma que Y = 0. Como explicar? Porque manter o
equilíbrio no mercado monetário requer que Y não mude: a expansão fiscal não afeta a oferta
M
real de moeda ( ) ou a taxa de juros (porque a economia é pequena). Portanto, qualquer
P
alteração na renda jogaria o mercado de moeda fora do equilíbrio. Então a taxa de câmbio tem
que subir até que NX tenha caído o suficiente para compensar o impacto expansionista da
política fiscal na saída5.
5 É útil reinterpretar agora crowding-out. Numa economia fechada, a política fiscal expansionista reduz o
investimento por causa do aumento da taxa de juros; em uma economia aberta e pequena, reduz
exportações porque a taxa de câmbio deprecia ( e ).
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.18/31
Na
Figura 6-25 se
mostra os efeitos
de uma política
monetária
expansionista
sob o regime de
câmbio flutuante,
segundo o
modelo M-F.
Numa economia
fechada
esperaríamos a
sequência
M r I Y .
6 Não é foco neste curso, mas adiantamos que em uma economia grande e aberta os diversos
resultados quanto as variáveis de interesse ( r , e e NX ) são de intensidade e sentido intermediário
entre economia fechada e pequena economia aberta, como é o nosso caso aqui. A racionalidade por
trás destes resultados é que, diferente de uma pequena economia, uma grande economia afeta a taxa
de juros mundial. Porém, como uma pequena economia, poupança e investimentos não precisam ser
iguais.
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.19/31
As relações das
políticas fiscal e
monetária no modelo
M-F, sob o regime de
câmbio flutuante, estão
sumariadas na Figura 6-
26.
No longo
prazo, porém, quando
os preços são flexíveis,
a taxa real de câmbio
pode se mover, mesmo
que a taxa nominal de
câmbio esteja fixa.
Observe que sob taxas
flutuantes a PF não é
efetiva, pois o BC não
altera M e não
desloca LM*. Já sob o
regime de câmbio fixo,
a PF pode ser muito
eficaz em modificar a saída, pois é possível mover a curva LM* resultado em manter a taxa de
câmbio e aumentando a saída.
A política comercial
sob taxa de câmbio fixo está
ilustrada na sequência de
figuras 6-32 e 6-33. Supondo
uma restrição nas importações
(impõe-se tarifas ou quotas)
ocorre uma pressão
ascendente na taxa de câmbio
(IS* vai para a direita). Para
se contrapor a este movimento
da taxa de câmbio o BC deve
vender moeda nacional, o que
eleva M e desloca LM* para
a direita, até que e 0 , mas neste caso Y 0 .
Na Figura 6-34, a seguir, se encontra um sumário dos efeitos sobre algumas variáveis
de interesse das diversas políticas – expansão fiscal, expansão monetária e restrição à
exportação - sob os dois tipos de regimes cambiais para o modelo M-F.
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.23/31
Vamos a seguir refinar o modelo M-F. Nossa premissa era que a taxa de juros de uma
economia pequena e aberta
com plena mobilidade de
capital seria a mesma da
mundial, r r *. No
7
entanto o risco país e
mudanças esperadas no
câmbio podem ser motivo
para as taxas de juros serem
diferentes. Deste modo
deve-se agregar o prêmio de
risco assim: r r * ,
onde é o prêmio de risco.
O prêmio de risco tem um
valor tal que depende das
percepções dos investidores
do risco político e
econômico de manter ativos no país e percepções da taxa esperada de depreciação ou
apreciação da moeda do país. Incorporando o prêmio de risco ao modelo:
M
(1) Y C (Y T ) I (r * ) G NX (e) e (2) L(r * , Y )
P
7É o risco de que o país devedor não honrará seus compromissos por causa de turbulência política ou
econômica. Assim, os credores vão exigir uma taxa de juros maior para compensá-los deste risco.
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.24/31
Suponha,
como na Figura 6-36,
um aumento no
prêmio de risco.
Então a taxa real de
juros deve aumentar,
então o investimento
deve cair e a curva
IS* deve deslocar para
a esquerda. Por outro
lado, numa curiosa e
talvez imprecisa
previsão do modelo,
com a subida da taxa
de juros, embora os
investimentos devam diminuir, a LM* desloca-se para direita porque a queda no câmbio
estimula as exportações líquidas por uma maior quantidade ainda, subindo a renda agregada.
Vejamos a intuição econômica: por que cai a taxa de câmbio? O aumento do prêmio
de risco faz com que os investidores estrangeiros vendam algumas de suas participações na
produção de bens domésticos e tire seus “fundos emprestáveis” para fora do país. Esta saída
de capitais provoca um aumento da oferta de moeda nacional no mercado de câmbio, que
causa a queda na taxa de câmbio. Ou, em termos mais simples, um aumento do risco país ou a
diminuição esperada da taxa de câmbio faz a moeda do país menos desejável.
A discussão final é sobre o melhor regime cambial: flutuante ou fixo.
Entre os
argumentos pró-câmbio
flutuante é que se adotado
permite à política
monetária perseguir outros
objetivos que não seja
apenas a queda na
inflação. Dentre os
argumentos pró-câmbio
fixo seria evitar incerteza e
volatilidade, as transações
internacionais seriam mais
previsíveis. Outro
argumento pró-câmbio
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.25/31
flutuante é que ele obrigaria uma disciplina monetária que preveniria alta inflação. Costuma-
se dizer em Macroeconomia da “Trindade Impossível”: uma nação não pode ter as três
simultâneas – fluxo livre de capitais, política monetária independente e taxa de câmbio fixo.
Cada nação deveria escolher uma das arestas do triângulo. Exemplos mundiais são mostrados
na Figura 6-37.
Sigamos o costume, como nos diversos modelos adotados, de ver como se processa a
passagem do curto prazo para o longo prazo. Como ponto de partida, como na Figura 6-39,
vamos considerar que no curto prazo Y1 Y à taxa de câmbio 1 . Então existe uma pressão
descendente nos preços, a curva LM* vai paulatinamente para a direita ( vai caindo, NX
vai subindo) e a oferta agregada de curto prazo vai para baixo, até que, no longo prazo
voltamos à condição ( Y e 2 ). Ou seja, a análise é similar à que fizemos para economia
fechada.
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.26/31
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.27/31
ANEXO:
Taxa de Câmbio: uma explicação simples
Três aspectos sobre a taxa de câmbio são abordados neste anexo: sua definição,
questão de câmbio alto e baixo, relação taxa de câmbio nominal e saída líquida de capital.
2) Vamos supor agora que a taxa de câmbio “normal” ou “natural” no momento seria
R$3,20/US$ e não R$4,00/US$ ou mais, como já foi recentemente. Significa que a
R$4,00 por 1US$ (como em janeiro/2016) se gasta mais reais para obter 1 US$, então
a taxa está DEPRECIADA, ou seja, a moeda nacional está valendo menos. Isto é bom
para as exportações (cada dólar recebido do exterior nas transações comerciais se
traduz em mais reais!), porém é ruim para as importações (cada dólar que precisamos
gastar no exterior consome mais reais!).
3) A demanda por divisas ( NX (e) , onde e é a taxa nominal de câmbio) depende de:
a) Do volume de importações, pois os importadores precisam de dólares para pagar
compras feitos do exterior;
b) Da saída de capitais, que são os dólares necessários para pagar juros no exterior,
amortizações de empréstimos no exterior, etc.
Taxa de
Preço de B Preço de B
câmbio
em US$ em R$
(R$/US$)
Taxa de câmbio alta 4,00 10,00 40,00
Taxa de câmbio
2,50 10,00 25,00
baixa
Observe que esta nomenclatura é contrária à que usamos na apostila módulo 6, pois lá,
centramos as definições de câmbio no caso dos EUA, que, como vimos, adota relação inversa
desta!
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.29/31
6 - Exercícios Propostos:
6-1) Numa pequena economia aberta qual a identidade fundamental do setor externo e qual
a sua interpretação? Defina taxa real de câmbio. Qual a relação que se deve esperar
entre a taxa real de câmbio e exportações líquidas? Dê uma interpretação econômica
para esta relação.
6-2) Considerando uma economia pequena e aberta, qual o resultado esperado de uma
redução de impostos? E de uma emissão de moeda? Analise ambas as situações em
termos do diagrama IS*-LM*.
6-3) Compare para uma economia aberta e pequena a eficácia das políticas fiscal,
monetária e de restrição às importações para os regimes de câmbio flutuante e de
câmbio fixo. Mostre evidências de cada uma das suas escolhas.
6-5) Considere a função exportação líquida para os EUA. Dê uma interpretação econômica
tanto para uma taxa real de câmbio alta quanto para uma taxa nominal de câmbio
baixa.
6-6) No contexto do modelo M-F como ficam as equações do modelo quando se considera
o risco-país ? Qual o efeito de um aumento em ?
6-7) Use o modelo M-F para derivar a forma da curva da demanda agregada através de uma
dinâmica com gráficos.
6-8) Mostre o ajustamento de curto para longo prazo entre oferta e demanda agregada
usando o modelo M-F.
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.30/31
6 - Respostas Selecionadas
Câmbio Fixo:
PF expansionista inicialmente faz IS* se deslocar para direita, e o BC para manter o câmbio
desloca LM* para a direita de acordo, portanto apenas Y , não alterando e e NX .
Módulo 6 – Setor Externo, Modelo M-F Macroeconomia 2017 Pg.31/31
1 – Fundamentos da macroeconomia
2 – Contabilidade social e matriz I-P
3 – Lados – real e monetário
4 – Análise IS-LM
5 – Inflação, oferta agregada, curva de Phillips
6 – Setor externo, modelo M-F
7 – Política fiscal, déficit público, estabilização
8 – Crescimento econômico
9 – Políticas de crescimento econômico
Anexos:
Déficit público: Brasil e mundo
Problemas propostos
Respostas selecionadas
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.2/30
Este módulo trata das questões de governo e do setor público, sua dívida, problemas
de mensuração orçamentária, visões da dívida do governo e políticas de estabilização.
Em uma
perspectiva histórica,
ao início do século
XX as economias
ocidentais
experimentavam um
progressivo estado
de liberalismo
econômico que
eventos como a 1ª.
Guerra e a Grande
Depressão dos finais
dos 30´s fizeram
realçar as funções do
Estado: alocativa,
distributiva e
estabilizadora. Por outro lado, os governos, neste trajeto, foram acumulando dívidas e
promovendo formas de política fiscal para se autofinanciar. Ainda neste nosso tempo a
relação Dívida/PIB se mantém alta, como ilustra a Figura 7-4 para os países do OCDE.
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.3/30
A
pergunta que se
impõe é: por que
países que tem
déficit público
em relação ao
PIB mais
elevado que o
Brasil, como
EUA, Itália,
Espanha e
Coréia, têm
taxas de inflação
quase nulas? Ou
ainda, qual a
taxa de juros
que se paga a
dívida? A
resposta é múltipla e não se encontra no montante da dívida e sim no perfil de financiamento,
na fortaleza da sua moeda e nos perfis temporais de seus pagamentos. Outros condicionantes
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.4/30
A dívida pública, enfim, precisa ser analisada também à luz de outras variáveis que
compõem o cenário da conjuntura e do contexto mundial. Desenvolvemos mais este assunto
no anexo deste módulo, situando diversos contextos históricos contemporâneos e outras
varáveis macroeconômicas relacionadas.
8 Picketty acrescenta outra visão da redução maior da dívida/PIB dos países ricos no entre guerras.
Segundo ele, “os países ricos são duplamente ricos: tem uma produção interna mais elevada e tem
capital investido no exterior. (...) Isto acarreta que, neles, a Renda Nacional seja maior que o Produto
Nacional. Com os países pobres, o contrário”.
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.5/30
As funções
econômicas do setor
público que
mencionamos estão
sumariadas e
exemplificadas na
Figura 7-7. Destacamos
que a função
estabilizadora do setor
público vem da
percepção que o pleno
emprego e a
estabilidade de preços
não ocorrem de maneira automática na economia. É claro que a visão econômica do
economista analista pode fazer variar bastante quanto ao que o Estado deveria ou não fazer
neste sentido.
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.6/30
O
problema
principal,
consenso mínimo
entre os analistas,
é que o déficit
deve ser corrigido
pela inflação. Na
D
Figura 7-11,
D
representa a taxa
de crescimento da
dívida nominal e
D é o déficit
nominal
reportado. Ora, os
gastos governamentais deveria incluir rD real e não iD nominal. Portanto, D reportado é
exagerado e se deveria expurgar a inflação.
Exemplo1: Em 1979 o déficit nominal nos EUA era US$28 bilhões, a inflação era 8,6% e a
dívida era de US$ 495 bilhões no começo do ano. Analise o crescimento da dívida nominal.
Respostas: Calculando o déficit nominal reportado: D 0,086 $495bi = US$ 43 bilhões.
Como o déficit real = $28bi - $43bi = $15 bilhões excedentes!
Conclusão: Mesmo que a dívida do governo estivesse subindo, a dívida real do governo esteve
caindo!...
Dois outros
problemas estão
ilustrados na Figura 7-
12. A contabilização
dos ativos de capital
do governo é
problemática.
Atualmente a
contabilização não
leva em conta os
ativos do governo, mas
deveria! A proposta é
o déficit ser
contabilizado como
mudança na dívida
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.9/30
subtraído da mudança nos ativos. Por exemplo, a BR101 é um ativo do governo ou não?
Como contabilizar? Gastos com educação devem ser contabilizados como capital humano9?
Os que são contra contabilizar os ativos do governo argumentam que é difícil programar na
prática, os que são a favor argumentam que, mesmo com imperfeições é melhor que ignorar!
Da mesma forma passivos não são contabilizados, como os exemplos listados na Figura 7-12.
Outro problema é que o déficit varia ao longo do ciclo do negócio devido aos
estabilizadores automáticos (seguro-desemprego, sistema de imposto de renda, etc.). Por isto
pode ser
difícil julgar a
política fiscal,
por exemplo,
um déficit é
devido a uma
crise (se a
recessão
aumenta,
diminui o
produto, então
sobe o déficit
orçamentário
mesmo sem
G ou T )
ou a um
deslocamento
expansionista? De qualquer forma, por uma ou por outra razão, o setor público é quem paga.
Uma solução proposta é o déficit orçamentário ciclicamente ajustado. Ele é útil, pois reflete as
variações das políticas, mas não o estágio atual do ciclo de negócio.
9Segundo Piketty, capital humano não é capital porque não pode pertencer a outra pessoa e não pode
ser comprado e vendido em um mercado permanente.
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.10/30
Na visão
ricardiana, um déficit
financiado por corte de
impostos não afeta o
consumo e a renda
nacional. Portanto não
afeta r , I ou NX . Esta
visão considera que a
dívida do governo
equivale a um imposto
do futuro,
reciprocamente o
imposto do futuro
equivale a um imposto
atual, portanto, “financiar o governo por dívida é equivalente a financiá-lo por impostos”. A
base desta visão é que os consumidores são “forwarding-looking”, ou seja, um corte no
imposto hoje implica um aumento de imposto no futuro. Os consumidores não se sentem mais
ricos, então não irão
aumentar o consumo,
portanto a poupança
privada se mantém na
mesma quantidade da
queda da poupança
pública. Note que se o
consumidor entende que
um corte de imposto atual
NÃO significa um
aumento de imposto
futuro, ele irá consumir
mais. Então a
Equivalência Ricardiana
não significa que toda
política fiscal é
irrelevante! A visão ricardiana tem seus críticos. Três destas críticas estão listadas na Figura
7-17.
Particularmente chamamos atenção para o debate do elo entre as gerações (terceira
crítica na figura).
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.12/30
Aproveitamos
a discussão da dívida
pública para colocar a curiosa visão de Piketty a respeito: “(...) o endividamento público
britânico não teria, sob certas condições, qualquer impacto sobre a acumulação de capital
nacional, (...). O fenômeno do tão temido crowding-out não se produziu e o crescimento do
endividamento público parecia financiado por um aumento da poupança privada. Por certo,
isso não significa que se tratasse de uma lei universal, válida a todo tempo e em todo lugar:
tudo dependia, sem dúvida, da prosperidade do grupo social em questão (na época, uma
minoria de britânicos dispunha dos meios para gerar a poupança adicional necessária), da taxa
de juros oferecida e, evidentemente, da confiança no governo”. Historiando as visões de
dívida pública – rentista, progressista e contemporânea - Piketty afirma: “(...)(visão rentista)
no século XIX a dívida rendia muito, o que era uma vantagem para os credores e reforçava a
riqueza privada, no século XX a dívida foi corroída pela inflação (...) (visão progressista)
permitiu que se financiassem os déficits com os recursos daqueles que tinham emprestado ao
Estado (...) (visão contemporânea) no século XXI esta visão continua a impregnar os
espíritos, ainda que a inflação tenha voltado a níveis mais altos que do século XIX e seus
efeitos redistributivos sejam relativamente obscuros. (...) Foi no final dos anos 70, década
caracterizada por uma mistura de inflação alta, aumento de desemprego e relativa estagnação
econômica (a “estagflação”) que um novo consenso dominante a favor de uma inflação baixa
se desenvolveu.”
Também curiosa e progressista era a visão de Keynes em 1936 para reduzir a dívida
pública:
“(...) a inflação, aceita pelo Reino Unido a contragosto por causa da forte defesa nos meios
conservadores do padrão-ouro de antes de 1914, era a maneira mais simples – ainda que não a
mais justa – de reduzir o peso do endividamento público e das riquezas do passado”.
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.13/30
Existe um debate
em curso sobre o ativismo
ou não de política fiscal. Se
o governo deve ou não
lançar mão destes
instrumentos. Este debate
toma a forma de orçamento
equilibrado (contra política
fiscal) versus política fiscal
ideal (pró- política fiscal).
Na Figura 7-20 está
sumariado este debate. Os
que defendem o ativismo
da política fiscal
argumentam que o déficit deve ser usado para estabilizar a saída e o emprego, tem efeito
anticíclico para as flutuações na renda e redistribuir renda através de gerações, quando
apropriado. Os contra o ativismo da política fiscal discordam, particularmente daquele último
argumento do déficit intergeracional, pois, dizem, os futuros contribuintes não podem
participar do processo decisório, portanto, seus argumentos não podem ser levados em conta.
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.14/30
Resumidamente, a dívida
governamental pode ter os
efeitos:
1) Pode levar à inflação;
2) Políticos podem transferir
o fardo dos impostos da
geração atual para a
geração futura;
3) Pode reduzir a credibilidade política internacional do país. Por consequência diminui a
atratividade do investimento estrangeiro.
público no século XX (...) hoje (2012) tem o seguinte paradoxo: o país que mais usou
a inflação para se livrar das dívidas do século XX não quer ouvir falar de uma alta
superior a 2% a.a.”
4) Resgatar títulos com superávits primários – tem sido muito usado ultimamente, mas
apresenta custos políticos10.
10O debate gira em torno de produzir superávit primário para reduzir o estoque da dívida versus usar
estes recursos para educação, saúde, saneamento, etc.
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.16/30
Nesta seção vamos nos debruçar principalmente nas questões de política monetária, ou
seja, o policemaker em questão é o presidente do BC.
Na Figura 7-
25 estão os
argumentos pró-
políticas ativas, a
primeira questão
sobre políticas.
Essencialmente se
entende que o
ativismo pode reduzir
a gravidade e a
duração da crise, ou
mesmo, se possível,
impedi-la!
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.17/30
Exemplos mais citados pró- política ativa tem sido: (1) Comparando a crise do
subprime nos EUA de 2008 com o crash de 1929, a omissão de ação em 1929 levou a uma
quebradeira geral e, talvez, a maior guerra mundial, enquanto a injeção de recursos públicos
em bancos e empresas nos EUA e Reino Unido, berços do capitalismo, talvez tenha salvada a
economia de consequências trágicas; (2) Na prática, quase todos os países mais desenvolvidos
tem frequentemente adotado políticas anticíclicas, ainda que o discurso para os outros países
menos desenvolvidos seja ultra liberal.
Na Figura 7-26 estão listados argumentos contra o ativismo. Se a política fiscal requer
ação no Congresso, então
é de se esperar que seus
efeitos sejam longos e
difíceis. Já a política
monetária poderia
trabalhar com defasagens
menores, mas as firmas
fazem seus planos de
investimento
antecipadamente e
defasagens mais longas ou
incertas tornam previsões
difíceis. Também, se as
condições mudam antes
de se sentir o impacto da
política, ela pode ter efeito contrário, ou seja, pode desestabilizar a economia.
Estabilizadores
automáticos são políticas
que estimulam ou
deprimem a economia sem
que se faça mudança
política deliberada. Por
exemplo, no imposto de
renda a fatura fiscal de
cada pessoa depende da
sua renda. Em recessão,
rendimentos médios caem,
a pessoa paga menos
impostos. É como se o
governo desse um corte de
imposto nas recessões. Já o
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.18/30
Um dos fatores que mais afeta os modelos são as expectativas. Lembre que a curva de
Phillips no módulo 5
consideravam-se as
expectativas: um aumento
no crescimento da moeda e
da inflação reduz somente
o desemprego se a inflação
esperada permanece
inalterada. Talvez tenha
sido este o caso no
passado. Mas agora, se
aumentar o crescimento da
moeda fizer as pessoas
criarem expectativas de
inflação, o desemprego
pode não cair. É esta a
chamada “Crítica de Lucas”.
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.19/30
Na Figura 7-30
se confrontam dados
reais e previstos. Cada
linha verde representa
a média das últimas 20
previsões. Observe que
as três primeiras
previsões falharam em
prever a severidade da
recessão, enquanto as
três últimas previsões
falharam em predizer a
velocidade de
recuperação. Estes
erros de previsão
podem ser vistos como
argumentos contra o ativismo das políticas.
Nas Figuras 7-32 até 7-34 são dados argumentos pró- regras, basicamente a
desconfiança em
policemakers e do
processo político (tais
desconfianças elevam os
problemas de expectativas
dos agentes econômicos) e
a inconsistência temporal
da política discricionária
(para quem precisa, como
empresários, traçar
cenários e estratégias com
horizonte temporal amplo,
ser enganado no momento
da tomada de decisão
nunca é uma boa ideia!).
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.21/30
Considerando formas de
modelar o comportamento do
policemaker quanto a regras,
uma das mais estudadas é a
regra de Taylor, mostrada nas
Figuras 7-36 e 37. A regra de
Taylor é uma proposta de modelar os fundos federais (EUA) com fatores empíricos que
tentam aproximar o comportamento real destes fundos. A título de exercício, vamos mapear
esta regra de Taylor ao caso brasileiro. A equação fundamental teria como alvo a meta de taxa
nominal dos fundos federais (a taxa Selic no Brasil!) e a correlação buscada com taxa de
inflação e o hiato entre o PIB atual e o de pleno emprego11. A equação da regra de Taylor
capta de forma ponderada o hiato de inflação e o gap do PIB, que é o quanto ele está abaixo
de sua taxa natural:
Y Y
i SEL i SEL 0,5( ) 0,5( )
Y
11Chama-se hiato da inflação a diferença entre a inflação atual e a inflação desejada. Chama-se hiato
do produto a diferença entre o PIB atual e o PIB de pleno emprego.
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.22/30
Exemplo3: Considere a regra de Taylor para o Brasil onde o BC tem como ideal a taxa Selic
de 2%, meta de inflação de 2%. Estabeleça sua equação e faça uma análise de sensibilidade.
Respostas: A equação de Taylor resulta da substituição direta:
Y Y
i SEL i SEL 0,5( ) 0,5( ) , então i SEL 2 0,5( 2) 0,5(hiato _ PIB)
2% Y
2%
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.23/30
Y Y
Em raciocínio alternativo, observando o termo 0,5( ) da equação de Taylor,
Y
vemos que a cada queda de 1% no PIB abaixo do pleno emprego a política monetária deverá
“afrouxar” de 0,5% na taxa Selic.
Observemos agora o comportamento concreto da taxa dos fundos federais nos EUA
versus o comportamento previsto teoricamente pela regra de Taylor:
A dívida pública vista de forma isolada pode não produzir conclusões tão
significativas assim. A seguir é mostrada uma tabela onde além de situá-la em três contextos
históricos da era contemporânea (1994, 2002 e 2014), são mostrados outros indicadores nos
momentos semelhantes (PIB, renda per capita, câmbio com o dólar, salário mínimo, ranking
econômico mundial e reservas internacionais), bem como situamos nestes momentos alguns
dados de três países representativos da economia ocidental.
Fontes diversas
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.28/30
7 - Exercícios Propostos:
7-1) Em 1979 o déficit nominal nos EUA era US$28 bilhões, a inflação era 8,6% e a dívida
era de US$ 495 bilhões no começo do ano. Analise o crescimento da dívida nominal.
7-2) Use a “Crítica de Lucas” e a curva de Phillips e mostre graficamente o efeito indicado
por Lucas.
7-3) Considere a regra de Taylor para o Brasil onde o BC tem como ideal a taxa Selic de
2%, meta de inflação de 2%. Estabeleça sua equação e faça uma análise de
sensibilidade. Conclua a taxa de sacrifício e a cada 1% de queda no PIB corresponde a
que afrouxamento na taxa Selic?
7-5) Discuta prós e contras: ativismo do BC; atuação da autoridade monetária com regras
ou com discrição; independência do BC.
7-6) Resume os efeitos de uma expansão fiscal para as variáveis taxa de juros real,
investimentos e saldo líquido externo. Considere modelos para economia fechada,
grande economia aberta e pequena economia aberta.
7-8) Conceitue: (a) déficit primário; (b) superávit primário; (c) déficit operacional; (d)
déficit nominal; (e) formas de financiamento do déficit primário; (f) estabilizadores
automáticos.
7-9) Cite e explique três efeitos perversos da dívida pública. Cite e explique quatro formas
de um país reduzir a relação dívida/PIB.
7-10) Discuta os prós e contras das previsões econômicas sob a luz de modelos, base de
dados e efeitos na inflação e na renda.
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.29/30
7 - Respostas Selecionadas
7-1)
(Fig 7-11)
7-2)
(Fig 7-29)
A crítica de Lucas assinala que aumento da taxa de crescimento da moeda pode elevar a
inflação esperada, então o desemprego não necessariamente
cairia. Sinteticamente, a sua lógica é que se (M , ) ,
considerando também as expectativas racionais (vide Figs 5-33
e 34), então somente se e inalterada. Porém, se e ,
então a Curva de Phillips apenas se desloca para cima e o valor
de não se altera, como na figura.
8- A explicação econômica é que se aumentar o crescimento
da moeda, pode fazer as pessoas criarem apenas expectativas de inflação, então se
antecipa a subida da inflação sem que o desemprego caia.
7-3)
(Fig 7-36/37)
7-5)
(Figs 7-25 até 31) – Ativismo do BC
(Figs 7-32 até 38) – Regras e Discricionarismo
(Fig 7-39) – Independência do BC
7-6)
(Fig 7-4) e em módulos anteriores
7-7)
Já respondido em 7-4a.
7-8) Conceitue: (a) ; (b) ; (c) ; (d) - (Fig 7-8) (e) (Fig 7-9) ; (f) (Fig 7-27)
Módulo 7 – PF, Déficit, Estabilização Macroeconomia 2017 Pg.30/30
7-9)
Efeitos perversos:
(Fig 7-22)
Dívida pública pode:
(1) Levar à inflação (por si só um efeito perverso);
(2) Políticos podem transferir o fardo dos impostos da geração atual para a geração futura (a
maior perversidade envolvida é que os cidadãos do futuro não estão aqui para se defender!);
(3) Reduzir a credibilidade política internacional do país, assim, reduzir a atratividade de
investidores estrangeiros, déficit comercial e importância do país em assuntos internacionais.
Redução Dívida/PIB:
(Fig 7-23).
7-10)
(Figs 7-28/29/30/31)
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.1/29
1 – Fundamentos da macroeconomia
2 – Contabilidade social e matriz I-P
3 – Lados – real e monetário
4 – Análise IS-LM
5 – Inflação, oferta agregada, curva de Phillips
6 – Setor externo, modelo M-F
7 – Política fiscal, déficit público, estabilização
8 – Crescimento econômico
9 – Políticas de crescimento econômico
Anexos:
Problemas propostos
Respostas selecionadas
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.2/29
Como mostra a
Figura 8-4, um aumento na
renda de 10% significa um
decréscimo de 6% na
mortalidade infantil. No
exemplo mostrado na figura
está também ilustrado a
correlação entre crescimento
da renda e a redução da
pobreza para um país
específico que poderia
simbolizar muitos outros em
desenvolvimento (ou
precisando de desenvolvimento).
Na Figura 8-5 fica mais claramente caracterizada a relação inversa entre renda per
capita e pobreza. Observe ainda a posição intermediária do Brasil com respeito a este
parâmetro.
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.4/29
Diferentes estratégias têm sido postas em prática por países para alcançar
desenvolvimento
econômico. Na Figura 8-6
estão listadas as
principais. De forma geral
se entende como
estratégia mais natural
para atingir este fim é a
industrialização, é sabido
que o setor industrial
apresenta cadeia
produtiva mais profunda.
No entanto, as coisas
podem não ser tão fáceis
assim. Teria campo para
todos se industrializarem?
Seriam alguns países
mais propensos a outras direções por conta de dimensões territoriais, diversidade de ambiente,
recursos naturais, clima, água, etc.? Teriam alguns países razões para desenvolver
complementaridades e sinergias com seus vizinhos ou mesmo com países não vizinhos?
Vejamos.
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.5/29
Mesmo para
países ricos, ainda
que choques ou
políticas
governamentais
tenha pequeno
impacto na taxa de
crescimento de
longo prazo, poderá
ter grande impacto
sobre o padrão de
vida em longo prazo.
O exemplo da
Figura 8-7 explora
quais seriam os efeitos de um aumento de 0,5% na taxa de crescimento e o correspondente
aumento do padrão de vida ao se acumular muito tempo.
Por fim,
nestes comentários
preliminares,
indicamos que o
consenso quanto ao
crescimento
econômico é que os
recursos estejam
plenamente
empregados. Neste
sentido os valores
nesta direção são
aqueles cinco
apontados na Figura
8-8: aumento e
melhoria da mão de
obra, aumento do estoque de capital, melhoria tecnológica e eficiência organizacional.
O que veremos a seguir é um modelo que, de início, busca se amparar em algum outro
modelo que já estudamos e que seja simples, como o que vimos nos módulos 2 e 3 com o
equilíbrio entre oferta e demanda agregada no LP e o modelo de “fundos emprestáveis”.
Trata-se do modelo de Solow.
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.6/29
O que se pretende responder com o modelo básico de Solow está listado na Figura 8-
10. Em suma, queremos tratar dos determinantes do crescimento econômico e do padrão de
vida no longo prazo.
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.7/29
O ponto
de partida é o
modelo dos
fundos
emprestáveis,
visto na sua
forma mais
simples. Em um
gráfico r Y
(taxa de juros
real por
produção) com a
poupança
igualando os
investimentos,
assim:
S Y C (Y T ) G é uma reta vertical e I I (r ) é uma reta negativamente inclinada. O
ponto de equilíbrio ilustra a que taxa de juros aqueles que emprestam iguala aos que buscam
por empréstimo, tudo o mais considerado constante (na produção o capital K é constante, o
trabalho L também).
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.8/29
O modelo
básico de Solow é o
mesmo, porém com
algumas
modificações
cosméticas: (1) o
capital não é mais
fixo porque o
investimento faz com
que ele cresça ou a
depreciação faz com
que ele encolha; (2) o
trabalho também não
é mais fixo, pois a
população cresce; (3) o consumo será simplesmente o que não se poupou; (4) por
simplicidade se desconsidera as variáveis relativas ao governo. Desta forma a função de
produção será Y F ( K , L) . Interessa no modelo de Solow a saída normaliza, per capita.
Então se redefine as variáveis: y Y / L , saída por trabalhador; k K / L , capital por
trabalhador. Ainda por simplicidade se assume retornos constantes de escala
( zY F ( zK , zL) ), de modo que se fizermos z 1 / L , então Y / L F ( K / L,1) . Finalmente:
y F (k ,1) f (k ) , que indica quanta saída um trabalhador pode produzir com k unidades de
capital (ou seja, o mesmo que buscamos nos módulos 2 e 3, só que, aqui, normalizado). O
gráfico do modelo dá conta de y f (k ) , como na Figura 8-12. A inclinação desta função é o
produto marginal do capital PMgK , que vai decrescendo com o aumento de k , pelas razões
que já analisamos em Microeconomia.
Além da função
de produção teremos as
funções consumo,
poupança e
investimento. Se s é a
fração da renda que é
poupada, poupança e
consumo são definidos
simplesmente: sy é a
função poupança,
c (1 s) y é a função
consumo. Como
partimos do modelo
sem governo e como
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.9/29
Olhando-se a
demanda por bens e a
função de produção
podemos plotar em um
mesmo gráfico o que se
produz, o que se consome,
o que se poupa, portanto, o
que se investe, tudo
normalizado por
trabalhador. É o que mostra
a Figura 8-14. A taxa de
poupança s determina a
alocação de saída entre
consumo e investimento.
Vemos então
que o investimento tem
um impacto positivo no
estoque de capital,
enquanto a depreciação
tem um impacto
negativo. Ou ainda, a
mudança no estoque de
capital ou é positiva
através de
investimento, ou é
negativa através da
depreciação. Isto nos
leva à equação central
de Solow,
Como mostra a
Figura 8-24, enquanto
não se chega ao estado
estacionário, o
investimento será maior
que a depreciação então
“puxará” k na direção
de k * . Se o ponto de
partida fosse além do
estado estacionário,
k1 k * , a depreciação
maior que o
investimento reduzirá
k na direção de k * .
Resultado: a
convergência é o estado estacionário do estoque de capital.
8-26
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.14/29
Para efeito comparativo, observe, por exemplo, Etiópia e Japão. O Brasil não aparece
na figura, mas está situado em posição intermediária, perto de México e Argentina.
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.15/29
*
O valor do estado permanente de k (chamaremos k gold ) que maximiza o consumo é
chamado “Regra
de Ouro do Estado
Estacionário”.
Observe
que diferentes
valores de s levam
a diferentes EE.
Qual o melhor? O
que faremos aqui é
adotar o critério do
maior valor
possível do
consumo por
pessoa.
Da identidade
inicial yci
derivamos
c y i (1).
No EE c* f (k*) k * .
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.16/29
É esta função que queremos maximizar, vale dizer, encontrar qual valor de k * que
maximiza esta função de consumo. Observe que mudaremos a variável independente em
relação ao modelo de Solow de k para k * . Como agora estamos sempre no EE, então
i* k * porque em EE
k 0 sempre.
A Figura 8-31
ilustra o que estamos em
busca agora.
Às vezes se
confunde este gráfico
com o outro gráfico do
modelo de Solow, as
curvas parecem
semelhantes. Porém,
além da mudança de
variável neste gráfico que
permite achar a Regra de Ouro do Estado Estacionário a solução almejada não é uma
intercessão e sim uma inclinação. Na Figura 8-32 estão listadas as quatro diferenças entre os
dois gráficos.
uma função acontece quando sua derivada primeira iguala a zero. A derivada primeira da
função de produção é o produto marginal do capital, a derivada primeira da reta de
depreciação é a taxa de depreciação .
Observe que em Economia não se caminha automaticamente para a Regra de Ouro do
Estado Estacionário. Se
nós queremos um estado
estacionário do estoque
de capital particular,
precisamos de uma taxa
de poupança que o
suporte!
A Figura 8-33
mostra o que já
prenunciamos: o valor de
*
k gold é tal que
PMgK porque
derivamos e igualamos a
zero a função c * . Ou
ainda, igualamos as
inclinações das duas
funções.
Dois cenários diferentes com resultados diferentes são considerados: transição para
Regra de Ouro iniciando com muito capital e transição para Regra de Ouro com muito pouco
capital. Analisemos cada um dos dois casos a seguir. Em todos os casos vamos supor as
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.18/29
Se k* k gold
*
como
c* f (k*) k * , um
aumento de c * requer
redução de s (poupa
menos implica que
consome mais).
Supondo que o
choque de redução de
s ocorra em t 0 .
Imediatamente sobe a
variável c e desce a
variável i (porque a
poupança reduziu),
mas k não pode modificar imediatamente, portanto y também não.
podemos imaginar que todas as gerações ficam melhores. Observe ainda que esta é uma
situação confortável para o policemaker atuar na direção da redução da taxa de poupança.
O cenário inicial que descrevemos, convenhamos, não é o mais comum no mundo de
contingências que vivemos ...
Iniciaram-se
com muito pouco
capital, ou seja, se
k* k gold
*
, ainda
considerando todas
variáveis de interesse
no estado estacionário,
aumentar c * requer
aumentar s (pois
precisa produzir mais,
o que requer
investimentos e,
portanto, poupança).
Então em t0 o
consumo cai abruptamente, o investimento sobe de mesma grandeza. Após este primeiro
momento, poupança e investimento excedem a depreciação e k se eleva em direção a um
novo e mais elevado EE. Por consequência se elevam y , c e i , como mostra a Figura 8-37.
Aqui ocorre o curioso
efeito: para o consumo
se elevar no futuro foi
preciso o consumo cair
abruptamente no
presente. Os
policemakers nesta
situação podem não se
sentir confortáveis em
privilegiar gerações
futuras em detrimento da
geração presente. Porém
existe um argumento
forte: se aumentar a taxa
de poupança, várias
gerações futuras se
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.20/29
beneficiarão, o que torna o sacrifício da geração presente mais aceitável. A Figura 8-38
resume a transição para a Regra de Ouro do Estado Estacionário quando em presença de
pouco capital.
Conclusão: Só com poupança não se garante o crescimento sustentado, a renda per capita fica
constante. Voltaremos a este assunto.
O modelo básico de Solow mostra que a acumulação de capital, sozinha, não pode
explicar o crescimento econômico sustentado. Altas taxas de poupança levam a um alto cresci
mento temporariamente, porém a economia eventualmente se aproxima do estado estacionário
no qual capital e saída são constantes.
Para explicar o crescimento econômico sustentado o modelo acrescenta duas outras
fontes de crescimento. Por ora, vamos acrescentar ao modelo o crescimento da população a
uma taxa constante n . A população, portanto a força de trabalho, crescendo a esta taxa
L
(considerada exógena ao modelo) significa que: n . Para prover intuição do motor de
L
crescimento econômico pelo crescimento populacional e o uso desta equação:
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.21/29
k sf (k ) ( n)k
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.22/29
O primeiro
termo da direita é o
investimento atual,
o segundo o
investimento de
“break-even”. Estes
dois componentes
de investimentos
estão representados
no gráfico da Figura
8-41.
Na prática,
observe que ao
incrementarmos o
modelo de Solow
com o crescimento
populacional, nós
elevamos a
inclinação da reta de
k para ( n)k ,
ela gira para a
esquerda, o que
induz reduzir o
valor de k * do
estado estacionário!
Na Figura 8-42 está
ilustrado este fato ao analisarmos o que acontece quando de um aumento em n (aumento da
taxa populacional). O valor de k * vai diminuir, portanto diminui também y * .
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.23/29
Este resultado do modelo de Solow prediz que países com maiores taxas de
crescimento
populacional terá
menores níveis de capital
e renda por trabalhador
no longo prazo. As
evidências internacionais
do resultado estão
representadas na Figura
8-43, onde se pode
observar uma correlação
inversa entre renda per
capita e crescimento
populacional. Fica claro
a “moral” do modelo
para países pobres, eles
devem, segundo o
modelo: (1) aumentar a poupança; (2) reduzir o crescimento populacional.
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.24/29
O modelo de Solow nos mostra até aqui que no longo prazo o padrão de vida dos
países depende:
(1) Positivamente de sua taxa de poupança s ;
(2) Negativamente da taxa de crescimento da população n .
Até aqui não foi respondida a questão “o que causa o tipo de crescimento sustentado
da qualidade de vida experimentada na maioria dos países da OCDE12 no longo prazo?”. Tudo
o que foi obtido até agora é que o estado estacionário leva à renda per capita constante! O
progresso tecnológico é o que deve ser acrescentado ao modelo. Mas isto será tarefa do
último módulo ...
8 - Exercícios Propostos:
8-2) Suponha L = 1000 no ano 1 e taxa de crescimento populacional de 2% a.a., qual será
a força de trabalho disponível no ano 2?
8-5) Derive a expressão da equação central do modelo de Solow na sua forma mais básica.
Derive agora a expressão desta equação levando em conta o crescimento populacional.
Em uma e outra equação está subjacente uma ideia de mobilidade do capital. Explique
isto.
8-7) Descreva a transição para a Regra de Ouro do Estado Estacionário quando se inicia
com muito capital. Quais os resultados esperados no curto e no longo prazo?
8-8) Descreva a transição para a Regra de Ouro do Estado Estacionário quando se inicia
com muito pouco capital. Quais os resultados esperados no curto e no longo prazo?
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.27/29
8-10) A conclusão do modelo de Solow é que “embora uma alta taxa de poupança produza
uma alta saída no estado estacionário, a poupança, por ela só, não pode gerar
crescimento econômico persistente”. Discuta as razões desta afirmação.
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.28/29
8 - Respostas Selecionadas
8-1)
a) (Fig 8-25/26)
b) Idem
8-2)
(Fig 8-40)
8-3)
(Figs 8-40/41/42)
8-4)
(Problema referente ao Módulo 9, Problema 9-4, colocado aqui erradamente)
8-5)
(Fig 8-16)
8-6)
(Fig 8-32)
Além da mudança de variável no gráfico que permite achar a Regra de Ouro do Estado
Estacionário, k * e não k , a solução almejada não é uma intercessão, como no modelo de
Solow, e sim duas inclinações iguais ( PMgK ) . Mais, para a “Regra de Ouro”, as curvas
de interesse agora são a função de produção e função depreciação. Na “Regra de Ouro” não
existe uma dinâmica como no modelo de Solow. A questão da “Regra de Ouro” é achar a
condição de consumo máximo c * , justamente quando se igualam aquelas duas inclinações.
8-7)
(Figs 8-34/35/36)
8-8)
(Figs 8-37/38)
Módulo 8 –Crescimento Econômico Macroeconomia 2017 Pg.29/29
8-9) a)
(Figs 8-28 e 42/43)
O modelo de Solow prevê que o crescimento sustentado é maior quanto maior for a poupança
conseguida pelo país. A Figura 8-28, que relaciona produto per capita (escala logarítmica)
com investimento como percentual da saída para vários países parece confirmar isto.
O mesmo modelo também prediz que países com maior crescimento populacional terá
menores níveis de capital e renda por trabalhador no LP (Fig 8-42). Evidências internacionais
como mostrado na Fig 8-43 (renda per capita versus crescimento da população) parece
confirmar isto.
b)
(em aberto, a afirmação em si é o essencial)
8-10)
(Figura 8-44)
Na sua versão básica o modelo de Solow prevê que uma alta taxa de poupança produz uma
saída alta no EE. Porém, (1) a população cresce e (2) o progresso tecnológico oferece meios
de uma maior taxa de crescimento de forma sustentada. Então o modelo na sua forma básica
apresenta a equação PMgK n , o termo da esquerda retrata o potencial teórico de
crescimento dado pela Regra de Ouro do Estado Estacionário, e o termo da direita retrata o
potencial prático do crescimento (que deve incluir a taxa de crescimento propiciado pelo
progresso tecnológico)
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.1/27
1 – Fundamentos da macroeconomia
2 – Contabilidade social e matriz I-P
3 – Lados – real e monetário
4 – Análise IS-LM
5 – Inflação, oferta agregada, curva de Phillips
6 – Setor externo, modelo M-F
7 – Política fiscal, déficit público, estabilização
8 – Crescimento econômico
9 – Políticas de crescimento econômico
Anexos:
Problemas propostos
Respostas selecionadas
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.2/27
Y
y , que é a saída
LE
por trabalhador efetivo.
K
k , que é o capital
LE
por trabalhador efetivo.
Nestes termos, a função
de produção por
trabalhador efetivo é:
y fk )
Reescrevendo
poupança e o
investimento por
trabalhador efetivo: sy sf (k ) . Então, podemos reinterpretar o investimento de break-even,
que introduzimos no módulo passado. Agora ele é ( n g )k , quantidade necessária para
manter k constante. Observe que aqui apenas gk é novo, parte do investimento, termo para
fornecer capital para os novos “trabalhadores efetivos” criados pelo progresso tecnológico. O
termos k e nk já tínhamos no modelo básico, dando conta, respectivamente da depreciação
e do crescimento populacional.
policemaker pode perseguir com seus instrumentos esta taxa. Na Figura 9-6 se encontra as
curvas mencionadas, agora considerando a curva de investimento com a poupança adequada.
Naturalmente para alcançar a Regra de Ouro do EE a taxa de poupança deveria ser s gold e o
EE deveria estabilizar em k * gold .
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.5/27
A segunda hipótese a considerar é que iniciamos com menos capital que a Regra de
Ouro EE (vide Figura 9-7 à direita). Neste caso, o policemaker opera para aumentar a taxa de
poupança, portanto, cai o consumo e aumenta abruptamente o investimento, de modo que ao
longo do tempo a saída sobe e se estabiliza em patamar superior, o mesmo acontecendo com o
consumo, que pode alcançar valores até maiores que os originais. Neste caso, ganham as
gerações futuras, perde (em consumo) a geração atual.
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.6/27
Vamos a seguir, após este breve resumo do modelo básico, retomar o modelo de
Solow, agora considerando o progresso tecnológico.
Neste ponto, podemos chegar à Regra de Ouro do nível de capital por dois caminhos.
No primeiro caminho vamos usar detalhes da matemática. Como a derivada do logaritmo é
. .
d 1 x . x
[ln( x)] , onde x é a derivada de x , a relação 13 representa a taxa de variação de
dx x x x
x. Também o logaritmo de um produto é igual à soma de logaritmos, ln(a.b) ln a ln b .
Tomemos o resultado final na figura, Y y E L , então aplicando logaritmo e derivando em
. . . .
Y y E L y
relação a L , obtemos: = + + . Ou se fizermos meramente com variações: +
Y y E L y
0
x
13 Numa relação matemática menos rigorosa, dizemos que a relação representa bem a taxa de
x
variação da variável x , ou ainda, a variação percentual de x .
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.8/27
E L
+ . Observe que o primeiro termo é zero, pois k = 0 e y f (k ) . Resultado: a taxa
E L
g n
de crescimento do EE é g n .
Para nossos propósitos, no entanto, nos interessa mais chegar ao mesmo resultado por
outro caminho, menos dependente da matemática, e mais articulado com o raciocínio do
módulo anterior. Vimos no módulo 8 (vide Figura 8-44), apenas considerando o crescimento
populacional, que c* y * i * = f (k*) ( n)k * , onde c * é maximizado quando
derivamos esta expressão e a igualamos a zero, então: PMgK n , ou ainda, no EE i * é o
investimento de break-even e o estado estacionário de k , que maximiza o consumo, k * , é
chamado de Regra de Ouro do nível de capital. Ora, o que estamos fazendo agora é
acrescentar um novo termo para representar o progresso tecnológico, portanto:
PMgK n g . Portanto, o ponto ótimo do estoque de capital líquido da depreciação é
igual à taxa de crescimento populacional mais a taxa de crescimento do progresso
tecnológico.
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.9/27
As quatro questões listadas na Figura 9-12 são as que interessam ser respondidas sobre
políticas de crescimento pelos policemakers.
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.10/27
Exemplo: Considere um país que cresce o PIB a 3% ao ano e que apresenta o estoque de
capital por volta de duas vezes e meia do PIB anual, 10% do PIB é usado para substituir
capital depreciado e rendimentos de capital representam cerca de 30% no PIB. Este exemplo é
hipotético, mas se aproxima dos dados reais dos EUA.
Solução:
Fica então formado o sistema de equações:
k 2.5 y (1) k 0.1y (2) PMgK k 0.3 y (3)
( 2) k 0 .1 y
: = ,
(1) k 2 .5 y
então = 0.04
(3) PMgK k
: =
(1) k
0 .3 y
, então PMgK =
2 .5 y
0.12
Assim: PMgK =
0.12 – 0.04 = 0.08.
Significa que o PIB
real de 3% a.a. implica
n g = 0.03, mas
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.11/27
PMgK 0.08 0.03 n g . Então o país está abaixo da Regra de Ouro do EE, ou seja,
se aumentar a taxa de poupança, terá crescimento mais rápido até alcançar novo estado
estacionário com consumo per capita mais alto. Significa também que o país deveria poupar
mais. Obviamente outras questões caberiam aqui, mas não estamos tratando. Por exemplo,
uma moeda forte e seus impactos.
A segunda questão trata de quais políticas poderiam ser implementadas para alterar a
taxa de poupança. As possibilidades estão listadas na Figura 9-14: reduzir o déficit
orçamentário ou aumentar o
excedente orçamentário no
setor público; incentivar a
poupança privada, via, por
exemplo, redução de impostos
sobre ganhos de capital,
imposto de renda, imposto
específico para quem não
poupar, etc., substituir o
imposto de renda por um
imposto sobre o consumo,
expandir incentivos fiscais
para contas de aposentadoria
individual e outras contas de
poupança de aposentadoria.
Um leque de medidas, enfim, poderiam ser tomadas para aumentar a poupança.
A terceira questão
para o crescimento
econômico seria a alocação
de investimento na economia.
No modelo de Solow só
existe um tipo de capital. No
mundo real existem vários
tipos:
- estoque privado de capital;
- infraestrutura pública;
- capital humano14, que
consiste no conhecimento e
habilidades que os
trabalhadores adquirem através de educação e treinamento.
14Para Piketty, capital humano não é capital, pois: (1) não pode pertencer a outra pessoa; (2) não pode
ser comprado ou vendido em um mercado permanente, exceto em escravidão.
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.12/27
A última questão
referente a políticas de
crescimento é o encorajamento
do progresso tecnológico. Neste
sentido, além da política
15
industrial que mencionamos,
outros mecanismos se prestam
para isto:
- lei de patentes – busca
incentivar a inovação através de
concessão de monopólios
temporários para os inventores de
novos produtos, ou lhe outorga
direitos e garantias;
15É sempre bom ter em mente que a indústria de transformação apresenta uma cadeia produtiva
grande, diferente do setor primário e do setor de serviços. Exatamente por isto que se discute política
industrial com maior frequência.
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.13/27
O modelo de Solow mostra que o crescimento da renda por trabalhador deve vir do
progresso tecnológico, porém o faz exógeno, não o explica. Precisamos de dados empíricos.
(4) O esgotamento das ideias – talvez a desaceleração do crescimento de 1972 – 1995 seja
o normal, a anormalidade seria o rápido crescimento no período 1948 – 1972.
Poderíamos ainda considerar uma combinação de todos estes efeitos (e outros mais!).
Na Figura 9-22
acrescentamos a coluna relativa
ao período 1995 – 2000, o
período do estabelecimento nos
processos produtivos da
Tecnologia da Informação.
Observe o leitor que, à exceção
da Alemanha e do Japão, os
países da OCDE experimentaram
uma reversão no crescimento da
saída per capita. Salta aos olhos
a reversão verificada na Itália.
As respostas são incertas. Hoje se sabe que nos anos 2000s outros motores do
crescimento se impuseram,
particularmente o preço das
commodities. No entanto,
mesmo estes, nos anos 2010s
parecem em declínio. Fica,
pois, a discussão em aberto.
Voltemos ao
cotejamento do modelo de
Solow e os resultados
empíricos. O EE do modelo
de Solow apresenta
crescimento balanceado:
prediz que a saída por
Y
trabalhador, , e o estoque
L
de capital por
K
trabalhador, ,
L
crescem ambos à taxa
g , que é a taxa do
progresso tecnológico.
O progresso tecnológico
também afeta os preços.
O salário real cresce à
taxa do progresso
tecnológico, enquanto o
preço do capital
permanece constante,
então a razão capital-
saída é constante Estas
predições parecem se
confirmar no mundo real, mas os críticos de Solow dizem ser excesso de otimismo! Uma
Y K
consequência das predições de Solow é que os países pobres (baixos e ) devem crescer
L L
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.17/27
mais rápido que os países ricos, o que significaria uma diminuição do gap entre ricos e
pobres. Diz-se que Solow prevê a convergência condicional, como mostra a Figura 9-25,
também chamado de efeito catching-up. A hipótese é que países mais pobres tendem a crescer
mais rápido que os ricos em termos per capita porque retornos decrescentes do capital não são
tão fortes quanto nos países ricos. Além do mais, os países pobres podem replicar métodos de
produção, tecnologia e instituições já testadas e vitoriosas dos desenvolvidos. As condições
são a poupança, o crescimento populacional e a educação. Japão e Alemanha do pós-guerra
foram os exemplos mais agudos deste efeito.
Neste sentido, Piketty afirma: “(...) maior parte dos ganhos provenientes da abertura do
comércio internacional advém da difusão do conhecimento e do aumento dinâmico da
produtividade, e não dos ganhos relacionados à especialização”.
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.18/27
Voltando às predições de Solow, duas razões explicam porque a renda per capita em
uns países são mais baixas que de outros:
1- Diferenças no capital (físico ou humano) por trabalhador;
2- Diferenças na eficiência da produção.
As razões que levam o fator multiplicativo da eficiência do trabalho a uma espiral virtuosa
pode ser assim colocada: a eficiência de produção encoraja acumulação de capital, e esta
apresenta externalidades que elevam a eficiência. Para além destas razões, uma terceira
variável ainda desconhecida e não prevista no modelo faz com que a acumulação de capital e
a eficiência serem maior em certos países que nos outros. Posto em termos simples, em países
pobres trabalhadores ou não tem as ferramentas e habilidades, ou não põe suas ferramentas e
habilidades para seu melhor uso.
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.19/27
Para além do
modelo de Solow, a
Teoria do Crescimento
Endógeno rejeita a
premissa básica de Solow
de a mudança tecnológica
ser exógena. Enquanto no
modelo de Solow a taxa de
crescimento do progresso
tecnológico é dada, na
Teoria do Crescimento
Endógeno se explica
decisões através da criação
de conhecimento com o
uso de pesquisa e desenvolvimento.
A racionalidade
por detrás do modelo
endógeno é: o retorno
para o capital é o incentivo para investir. Se o capital apresenta retornos decrescentes, então o
investimento não pode ser fonte de crescimento sustentável. Por outro lado, como preconiza
este modelo, se PMgK não cai, então o incentivo para investir mais que a depreciação é
constante, significa que, como assinalamos, o investimento se torna motor da economia.
é definido de forma mais estrita como plantas fabris e equipamentos, A resposta é TALVEZ
NÃO com uma definição mais ampla de capital envolvendo capital físico, humano e
conhecimento. Alguns economistas, inclusive, acreditam que o conhecimento apresenta
retornos crescentes.
Neste sentido vamos analisar um terceiro modelo, o de Dois Setores, uma extensão do
modelo de Solow com
progresso tecnológico e duas
diferenças que apontaremos
a seguir. São os dois setores
a Manufatura (Mft) e a
Pesquisa (Psq). No setor
manufatureiro, como se
espera, firmas produzem
bens. No setor de pesquisa,
universidades e centros de
pesquisa produzem
conhecimento que aumenta a
eficiência do trabalho na
manufatura (não só em
tecnologia de
produção, mas também
métodos de gestão,
etc.).
As diferenças do
modelo Dois Setores
para o modelo de
Solow são:
1) Uma fração de
trabalhadores
não produz
bens e serviços,
mas sim
conhecimento
através das pesquisas. Chamamos u a fração do trabalho na pesquisa, u é uma
variável exógena.
2) A taxa de progresso tecnológico não é exógena, mas depende da velocidade no estoque
de conhecimento, que por sua vez depende de quanto a economia aloca recursos para
pesquisa.
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.22/27
Nestes termos, Mft é como em Solow com progresso tecnológico exógeno, a saída
depende do capital e da força efetiva de trabalho empregada. A saída aumenta com o
conhecimento eficiência do trabalho L . Por setor, ficam as funções de produção:
Mft - Y F[ K , (1 u) EL]
Psq - E g (u) E , onde a função g (u ) mostra como a troca na quantidade de trabalho
devotado à pesquisa afeta a criação de novo conhecimento. Tudo que o modelo precisa é que
g (u ) seja uma função crescente. Não interessa se uma dupla de cientistas faz o conhecimento
dobrar, mais que dobrar ou menos que dobrar.
Por fim, a acumulação do capital é dada por, como em Solow, investimento bruto
menos depreciação: K sY K .
No estado estacionário, a taxa de crescimento da eficiência do trabalho é igual à taxa
E
de crescimento do padrão de vida: g (u ) , como na Figura 9-34.
E
Vistos os modelos
que procuram dar conta
do progresso tecnológico
no crescimento
econômico, surgem três
fatos sobre pesquisa e
desenvolvimento no
mundo real:
1) Muitas pesquisas
são feitas por
empresas que
procuram lucros;
2) Empresas lucram
com a pesquisa,
porque novas invenções podem ser patenteadas, criando um fluxo de lucros de
monopólio até que a patente expire;
3) Inovação produz externalidades que reduzem o custo da próxima inovação, vale dizer,
produz um círculo virtuoso.
Muito da teoria do
crescimento endógeno e o do
modelo de dois setores tenta
incorporar estes fatos para
melhor dar conta do
progresso tecnológico.
Um argumento do campo
de visão desenvolvimentista é
que externalidade positivas
na criação de conhecimento
sugere que o setor privado
não está fazendo pesquisa e
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.24/27
Uma última palavra sobre modelos de crescimento econômico nos leva a Schumpeter,
que sugeria que o progresso da economia surgia de um processo de “criação destrutiva”.
Segundo ele, a força guia por detrás do progresso é o empreendedor com uma ideia para um
novo produto, uma nova maneira de produzir um produto antigo, ou alguma outra inovação.
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.25/27
Exercícios Propostos:
9-1) No modelo de Solow básico descreva e justifique o que acontece ao longo do tempo
quando se inicia com muito capital e se vai em direção à regra de ouro do estado
estacionário. Considere as variáveis saída, y, consumo, c, e investimento i.
9-2) No modelo de Solow básico descreva e justifique o que acontece ao longo do tempo
quando se inicia com pouco capital e se vai em direção à regra de ouro do estado
estacionário. Considere as variáveis saída, y, consumo, c, e investimento i.
9-4) Considere um país que cresce o PIB a 3% ao ano e que apresenta o estoque de capital
por volta de duas vezes e meia do PIB anual, 10% do PIB é usado para substituir
capital depreciado e rendimentos de capital representam cerca de 30% no PIB. Este
exemplo é hipotético, mas se aproxima dos dados reais dos EUA. Use o modelo de
Solow para concluir se o país está ou não abaixo da “regra de ouro do estado
estacionário”. Quais as conclusões que se tiram?
9-6) Sabe-se que nos países do OCDE houve uma desaceleração da produtividade quando
comparamos os períodos pós-guerra até 1972 com o período 1972-1995. Quais são as
explicações deste fato? Qual o impacto nestes mesmos países com o advento da
tecnologia da informação?
9-8) Explique em equações e conclusões o modelo de dois setores. Faça uma comparação
com o modelo de Solow.
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.26/27
9 - Respostas Selecionadas
9-1)
(Fig 9-7) e também o módulo 8.
9-2)
(Fig 9-7) e também o módulo 8.
9-3)
(Figs 9-9/10)
Acrescenta o progresso tecnológico ao modelo. A Regra de Ouro do Estado Estacionário (que
maximiza o consumo) agora é: PMgK n g , o termo da esquerda representa o
crescimento teórico previsto pelo modelo, o termo da direita representa o crescimento real.
Significa que se PMgK n g , então o país está abaixo da Regra de Ouro EE (situação
de início com pouco capital). Se PMgK n g então o país está acima da Regra de Ouro
EE (situação – rara - de início com muito capital).
9-4)
(Fig 9-14)
A conclusão final é que o país está abaixo da Regra de Ouro do EE, ou seja, se aumentar a
taxa de poupança, terá crescimento mais rápido até alcançar novo estado estacionário com
consumo per capita mais alto. Significa também que o país deveria poupar mais. Obviamente
outras questões caberiam aqui, mas não estamos tratando. Por exemplo, uma moeda forte e
seus impactos.
9-5)
(Fig 9-16)
Módulo 9 –Políticas Cresc. Econômico Macroeconomia 2017 Pg.27/27
9-6)
(Figs 9-20/21)
Explicações:
(5) Problemas de mensuração – nem sempre e nem em todos os países os aumentos de
produtividade foram medidos total e de forma confiável. Porém, nada nos indica que
as medições após 1972 foram piores.
(6) Preços do petróleo – A desaceleração da produtividade ocorreu mais ou menos
simultâneo ao(s) choque(s) de petróleo comandado(s) pela OPEP. Porém, quando o
preço do petróleo caiu nos meados de 1980 a produtividade não acelerou.
(7) Qualidade do trabalhador – novos trabalhadores são menos produtivos que
trabalhadores experientes. Verificou-se que nos anos 1970 ingressou um contingente
jovem e mulheres no mercado de trabalho. Porém, este argumento tem sido acusado de
conter certa dose de preconceito;
(8) O esgotamento das ideias – talvez a desaceleração do crescimento de 1972 – 1995 seja
o normal, a anormalidade seria o rápido crescimento no período 1948 – 1972.
(Fig 9-22)
Impactos de TI:
Período 1995 – 2000: estabelecimento nos processos produtivos da Tecnologia da
Informação. À exceção da Alemanha e do Japão, os países da OCDE experimentaram uma
reversão na direção do crescimento da saída per capita.
9-7)
(Figs 9-28/29/30)
9-8)
(Figs 9-32/33/34)