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Sessão

SP8sala-V: Sessão paralela 3


Hora: Localização: A112
Quinta-feira, 27/07/2017:
14:30 - 16:00

Chair/coordenador de sessão: Lúcia Osana Zolin,


Universidade Estadual de Maringá

ID: 35 / SP8sala-V: 1
Comunicação
Tópicos: Literatura
Palavras-chave: Imagem; feminilidade; tempo giusto; Llansol
Escrita, mulher e tempo "giusto": leituras de Maria Gabriela Llansol
Maria Lúcia Wiltshire de Oliveira
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, Brasil
No estágio atual de nossa pesquisa sobre a narrativa da escritora portuguesa Maria Gabriela
Llansol (1931-2008), este trabalho tenta articular três aspectos: a natureza da escrita, a noção de
feminilidade e o conceito de tempo giusto ou slow. Para compreender o primeiro aspecto, foi
indispensável o mergulho na concepção do “nada” como substrato da escrita llansoliana,
considerando que se trata de uma prosa radicalmente liberta da mimesis realista ao propor a
invenção do mundo a partir da recusa da narratividade verossímil.

Neste processo o “nada” passa a ser a vivência da morte correspondente ao conceito


blanchotiano de “neutro” tratado em “A Literatura e o direito à morte” e em “A voz narrativa”.
Alicerçada a ideia de que não há literatura sem morte, tornou-se incontornável rever o conceito
de representação.

Para isso foi oportuno retomar a semiótica de Peirce da qual destacamos a imagem como um
representamen de natureza aberta (overtness) e heurística, que se aproxima do signo literário e
artístico. Ao conectar os ensinamentos de Valéry, Bachelard e Otávio Paz com o pensamento
ideoscópico e protoestético do linguista norte-americano, detecta-se um limiar entre o universo
humano, necessariamente representacional ou triádico (sígnico), e aquilo que o ultrapassa como
impressão não-representável que atinge o artista.

Aqui ausência, morte e impossibilidade de representação se tornam brilho – ou fulgor - uma vez
que a imagem sustenta o rasto luminoso resultante das sensações novas e não-codificadas que,
não obstante, oferecem o consolo de uma vivência jubilosa da morte e apesar dela, numa
experiência paralela a dos místicos.

O segundo aspecto da comunicação - a feminilidade -, se justifica não pela condição feminina da


autoria, mas em virtude da familiaridade desta condição com a morte e da alta consciência da
autora quanto a tal proximidade.Tornou-se, pois, relevante retomar o conceito freudiano de
pulsão de morte como algo inerente ao ser humano, independentemente de sexo ou gênero,
declinação que Freud faz em seus textos finais “Análise terminável e interminável” e “A
feminilidade” ao discorrer sobre a castração como medo (nos homens) ou masoquismo (nas
mulheres).
Com o apoio da pesquisa de Birman e seus seguidores, compreende-se a articulação entre o
conceito freudiano de feminilidade e a pulsão de morte (desamparo ou castração), manobra
oblíqua do pai da Psicanálise que ultrapassa a sua suposta misoginia frente ao feminino e abre
espaço para a cunhagem da noção positiva e produtiva de masoquismo erógeno.

Quando dizemos que a escrita é mulher não se trata de feminismo combativo, mas de que a
escrita literária exige do autor uma postura de submissão, para não dizer de morte de si (como
queria Barthes), e da aceitação da ausência do real, submissão ajustada ao masoquismo erógeno
porque começa na vivência da morte e chega à vida pela sublimação da arte, realizada pela
imagem. Por fim, em seu terceiro aspecto, o trabalho pretenderá articular escrita e feminilidade
ao tempo giusto, ou slow, movimento que recusa o funcionamento da máquina capitalista em
favor de formas alternativas de ver e viver o mundo, como vemos na escrita de Maria Gabriela
Llansol.

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