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ID: 35 / SP8sala-V: 1
Comunicação
Tópicos: Literatura
Palavras-chave: Imagem; feminilidade; tempo giusto; Llansol
Escrita, mulher e tempo "giusto": leituras de Maria Gabriela Llansol
Maria Lúcia Wiltshire de Oliveira
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, Brasil
No estágio atual de nossa pesquisa sobre a narrativa da escritora portuguesa Maria Gabriela
Llansol (1931-2008), este trabalho tenta articular três aspectos: a natureza da escrita, a noção de
feminilidade e o conceito de tempo giusto ou slow. Para compreender o primeiro aspecto, foi
indispensável o mergulho na concepção do “nada” como substrato da escrita llansoliana,
considerando que se trata de uma prosa radicalmente liberta da mimesis realista ao propor a
invenção do mundo a partir da recusa da narratividade verossímil.
Para isso foi oportuno retomar a semiótica de Peirce da qual destacamos a imagem como um
representamen de natureza aberta (overtness) e heurística, que se aproxima do signo literário e
artístico. Ao conectar os ensinamentos de Valéry, Bachelard e Otávio Paz com o pensamento
ideoscópico e protoestético do linguista norte-americano, detecta-se um limiar entre o universo
humano, necessariamente representacional ou triádico (sígnico), e aquilo que o ultrapassa como
impressão não-representável que atinge o artista.
Aqui ausência, morte e impossibilidade de representação se tornam brilho – ou fulgor - uma vez
que a imagem sustenta o rasto luminoso resultante das sensações novas e não-codificadas que,
não obstante, oferecem o consolo de uma vivência jubilosa da morte e apesar dela, numa
experiência paralela a dos místicos.
Quando dizemos que a escrita é mulher não se trata de feminismo combativo, mas de que a
escrita literária exige do autor uma postura de submissão, para não dizer de morte de si (como
queria Barthes), e da aceitação da ausência do real, submissão ajustada ao masoquismo erógeno
porque começa na vivência da morte e chega à vida pela sublimação da arte, realizada pela
imagem. Por fim, em seu terceiro aspecto, o trabalho pretenderá articular escrita e feminilidade
ao tempo giusto, ou slow, movimento que recusa o funcionamento da máquina capitalista em
favor de formas alternativas de ver e viver o mundo, como vemos na escrita de Maria Gabriela
Llansol.