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DOCUMENTÁRIO – FOCO NARRATIVO

Segundo Ken Dancyger, o documentário pessoal é diferente do documentário


político/social ou do documentário cinema-verdade

1a) ideologia (Dizga Vertov – o poder do documentário está na capacidade de capturar a


vida real dos eventos.

2a) ideologia (John Grierson) – o documentário teria um poder educativo

3a ideologia ( Robert Flaherty – o documentário pessoal tem o tom mais apoiado na visão
do realizador do que na realidade antropológica da região;

Características: a)a estética visual é proeminente; b) mistura de do uso da filmagem


encenada com a filmagem realista; c) a mais vigorosa é a questão da voz: pode ser
diretamente pela narração gerada de forma distinta do estilo visual, ou ainda pela utilização
da ironia (narração ou música em relação à imagem)

Mudanças no uso da narração


A narração, o diálogo e a música são as três camadas de som – a narração é muito
poderosa. São três os usos:
1. Narrador como observador – a função é permitir que o público acompanhe em uma
excursão a algum lugar, a uma pessoa ou a uma
2. . Pode ser a posição de um especialista, uma companhia ou um processo de
descoberta

3. Narrador como investigador – alcançar a compreensão de um tema ou pessoa por


meio das ferramentas de investigação. É um documentário mais intencional e pouco
polêmico.
4. Narrador como guia – se o investigador está olhando para aprender; o guia já o fez .
Vários guias são usados para nos ajudar a compreender – primeiro no nível intelectual
e depois no nível emocional

5. Narrador como provocador – tem o objetivo de promover mudança; pode ser direta
ou irônica

NARRAÇÃO E HISTÓRIA

No século XX a narrativa se fragmenta em múltiplos centros – passamos a desconfiar das


visões totalizadoras e explicativas do universo, porque o vemos fragmentado, caótico.

A narração feita por uma voz de alguém envolvido diretamente no que narra, anula a
distância entre o narrado e a narração. O aprofundamento no processo psíquico do
personagem-narrador desmancha a noção tradicional de personagem, fragmentada
nessa voz sem rosto.

A historiografia e o escamotear do narrador


As relações entre História e Ficção, segundo Roland Barthes, após analisar discursos de
alguns historiadores clássicos (Heródoto, Maquiavel, Bossuet e Michelet):
1. Quanto ao processo de enunciação: aparece no discurso de caráter testemunhal
– são as fontes, os testemunhos, todos os elementos que o historiador recolhe e integra
seu discurso.
 Marcar no enunciado a enunciação: signos que remetem ao que já foi dito
(como dissemos acima) – pode ser reforço ou não. São também uma interferência
visível da enunciação na organização do encunciado, os flash-back ou a narrativa
em zigue-zague. Outra possibilidade são as “formas de inauguração” d discurso, ou
de abertura, que dá um caráter de “sagrado” ao início do relato
 Protagonistas: o enunciante e o destinatário (receptor): uma forma de
marcar a presença do sujeito é pela sua suposta ausência (quando quer se dar a
impressão de que a história se conta por si só)
2. Quanto ao enunciado: no exame do enunciado, Barthes se vale das categorias de
análise narrativa, dividindo o enunciado histórico em algumas “unidades de conteúdo”
(os “existentes” (agentes – dinastias, príncipes etc) e os “recorrentes” (funções –
devastar, subjugar, aliar-se, organizar uma expedição, reinar) – através deles é possível
chegar a uma unidade de conteúdo

Barthes resume um pressuposto básico de todo o seu texto: “qualquer ordenação num
discurso é significativa; mesmo a opção pela desordem, a enumeração caótica dos fatos ,
pode ser significativa de uma determinada visão crítica da História linear”.
A análise revela dois níveis do discurso histórico: um o das significações ao fato narrado e
outro perceptível através da temática do historiador ou da estrutura narrativa. “Perceber
isso é descobrir que os fatos não existem por si, mas nascem do sentido que lhes é
atribuído, do recorte que o historiador faz no real ao expressá-lo por palavras; não mera
cópia como quer fazer crer ainda muitos historiadores

Conclusão: uma questão de ponto de vista...

A questão técnica do Foco Narrativo é complexa porque não é meramente técnica e é


possível indicar que:
1. O Narrador é um entre vários outros elementos com os quais se articular orgânica e
especificamente, na composição das obras singulares;
2. A técnica na Ficção está intimamente relacionada com problemas ideológicos e
epistemológicos;
3. Que, por isso mesmo, ao discutir questões de técnica narrativa, voltamos aos
grandes problemas: da representação, dos encontros e desencontros entre ficção e
realidade, do velho parentesco da literatura com a História.

Eduardo Coutinho – Consuelo Lins


Nos documentários brasileiros do início dos anos 60, a presença do diretor estava fora de
questão. Havia uma separação radical entre quem filma e quem é filmado, uma
“exterioridade” do sujeito em relação ao seu objeto, não havendo contaminação possível
entre os dois lados da câmera.
Não apenas o diretor de fotografia, o técnico de som e o diretor são filmados em muitas
sequências, mas a própria narração de Coutinho indica as condições de produção de
diversas entrevistas, mostrando ao espectador a relatividade do que está sendo filmado.

Transformações de dona Elizabeth no cinema e na vida

Até reencontrar Coutinho, em 1981, dona Elizabeth Teixeira vivia na clandestinidade


, como Marta Maria da Costa, em São Rafael, interior do Rio Grande do Norte. Após os
dois reencontros em três dias há a transformação:
O 1o encontro é marcado pela emoção, mas também por constrangimentos em
função da presença do filho Abraão, que pressiona a mãe que faça algumas declarações
de princípio “Mãe reconheça a abertura política do presidente Figueiredo, graças a ele nós
estamos aqui”. Ruídos ambientes, palavras entrecortadas, inaudíveis tudo está presente.
Ela diz o que o filho quer e depois fala do sofrimento da clandestinidade. Aí sua voz ganha
confiança
A modificação de Elizabeth pode ser entendida também como uma liberação. Edgar
Morin foi o primeiro a fazer uma relação entre a dimensão do documentário e a psicanálise,
no sentido de uma ideia terapêutica “comunicação pode significar liberação”

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