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UM COMENTÁRIO DE CRISTIANISMO PURO E SIMPLES

Livro 1 O Certo e o Errado como Chaves para a Compreensão do Sentido do Universo

O ARGUMENTOOS
PREMISSA 1.1

Em comentários feitos como “Você gostaria que fizessem o mesmo com você?”; “Dê me um
pedaço de sua laranja, pois eu lhe dei um pedaço da minha” há uma expressão de um
comportamento que agrada ou desagrada. Não são comentários feitos por determinados tipos de
classes de pessoas, mas, são feitos por pessoas cultas e incultas, por adultos e crianças.

Lewis mostra que tais comentários são apelos a um padrão de comportamento que o outro(aquele
com quem está dialogando) deveria conhecer. E raramente é respondido agressivamente quando é
invocado esse padrão, algo como “Vai pro inferno com esse seu padrão!”, ao contrário, é tentando
mostrar que aquele que foi acusado não infringiu o padrão, ou que se infringiu, ele tem um motivo
para ter infringido. “Eu tinha um motivo especial para agir assim”; “A situação era diferente
quando você me deu esse pedaço de laranja”, um fato que o desobriga de cumprir o que foi
prometido.

É óbivo que os envolvidos em certas discussões conhecem a regra ou conduta de comportamento


digno ou moral com o qual os dois ou mais concordam. Não haveria sentido em demonstrar esse
código moral se os que dialogam não tivessem algum tipo de consenso sobre o certo e o errado.
Lewis chama essa regra ou lei do certo e do errado de Lei Moral, uma lei natural;

Há leis naturais que não podem ser desobedecidas por nenhum ser, corpos, por exemplo, são
“comandados” pela lei da gravitação e os organismos pelas leis da biologia, assim também o ser-
humano possui uma lei própria – com a grande diferença de que esse ser pode escolher entre
obedecer ou desobedecer à Lei da Natureza Humana.

Todo ser é sujeito a diversos conjuntos de leis, mas há apenas uma lei que é regida apenas pelo
ser-humano, nem pelos animais, nem pelos vegetais, nem pelos seres inorgânicos, a esta lei a
natureza humana pode desobedecer se assim quiser, em outras palavras o humano não pode
desobedecer às leis que tem em comum com os outros seres; mas a lei da própria natureza humana
pode. Essa lei era chamada de Lei Natural porque as pessoas pensavam que todos a conheciam
naturalmente e não precisavam que outros a ensinassem. Isso, evidentemente, não significava que
não se pudesse encontrar, aqui e ali, um indivíduo que a ignorasse, assim como existem indivíduos
desafinados.

Então uma chave para tal argumento não vem apenas da linha do que errado e sim também do que
aquilos que colocamos como moralmente correto, considerando a raça humana em geral, as
pessoas pensavam que a ideia humana de comportamento digno ou decente era óbvia para todos.
Amor, generosidade, igualdade e sacrifício próprio são realmente bons.

Se isso é falso, alguns fatores que determinados sobre guerras, por exemplo, não apresentam-se
como argumentos plausíveis. Se o Certo não for uma entidade real, que os nazistas, lá no fundo,
conhecem tão bem quanto nós e têm o dever de praticar, qual o sentido de dizer que o inimigo está
errado? Se eles não têm noção daquilo que chamamos de Certo, talvez tivéssemos de combatê-los
do mesmo jeito, mas não poderíamos culpá-los pelas suas ações, pois são ações mais normais que
alguém nascer de cabelos loiros ou castanhos.
PREMISSA 1.2

Poderá ser colocado como um contra-argumento que a ideia da Lei Natural conhecida por todos os
seres-humanos não tem fundamento pois povos de diversas épocas trataram doutrinas morais
diferenciadas umas das outras.

É uma meia verdade; sim, existem diferenças entre as doutrinas morais dos povos de diversas
épocas, mas eles nunca chegaram a constituir algo que se assemelhasse a uma diferença total. Se
alguém se der o trabalho de comparar os ensinamentos morais dos antigos egípcios, dos babilônios,
dos hindus, dos chineses, dos gregos e dos romanos, ficará surpreso com o imenso grau de
semelhança que há entre si e também com nossos próprios ensinamentos morais.

Peço ao leitor que imagine como seria uma moralidade totalmente diferente da que conhecemos;
imagine um país que admirasse aquele que foge do campo de batalha, ou em que um homem se
orgulhasse de trair as pessoas que mais lhe fizeram bem. O leitor igualmente poderia imaginar um
país em que 2+2=5. Os povos discordaram a respeito de quem são as pessoas com quem
você deve ser altruísta – sua família, seus compatriotas ou todo o género humano; mas
sempre concordaram em que você não deve colocar a si mesmo em primeiro lugar. O
egoísmo NUNCA foi admirado. Os homens divergiram quanto ao número de esposas que podiam
ter, se uma ou quatro; mas sempre concordaram em que você não pode simplesmente ter qualquer
mulher que queira.

Quando um ser-humano afirma que não acredita na existência de certo e errado, é visto logo em
seguida que esse mesmo muda sua opinião involuntariamente. Ele não pode cumprir a palavra que
lhe deu, mas se você pegar algum item que lhe pertence e ficar com ele, ele lhe dirá “Não é justo!
Se o certo e o errado não existem, qual a diferença de eu pegar algo que lhe pertence e falar
que é meu? Qual a diferença entre o justo e o injusto? Por esse motivo o “rabo” fica à mostra e
demonstra que, não importa o que digam, eles conhecem a Lei Natural tanto quanto qualquer outra
pessoa. Parece portanto, que só nos resta aceitar a existência do certo e do errado.

PREMISSA 2

Se concordamos com as premissas anteriores, agora temos a seguinte: Nenhum de nós realmente
consegue seguir a Lei Natural. Estou chamando a atenção para o fato de que neste ano, neste mês,
e com mais probabilidade, hoje, todos deixamos de praticar a conduta que gostaríamos que os
outros tivessem em relação a nós. Podemos apresentar diversas desculpas para ter agido assim;
seu modo de tratar a esposa, o filho, fulano ou sicrano, não sou diferente.

Nem sempre consigo cumprir a Lei Natural e, quando alguém em adverte de que a descumpri, me
vem à cabeça diversas desculpas. A pergunta que devemos fazer não são em relação as desculpas
que damos, e sim o porque damos essas desculpas. Elas dão aprova da nossa profunda crença
na Lei Natural, quer acreditemos nela ou não. Se não acreditássemos na boa conduta, por que a
ânsia de encontrar justificativas para qualquer deslize?

A verdade é que acreditamos tanto na decência e dignidade e temos um grande peso que é
colocado pela Soberania dessa Lei, que justificamos sempre nossos erros para transferir esse
sentimento.
Perceba que só para o mau comportamento que nos damos ao trabalho de encontrar tantas
explicações. Nossas boas qualidades, atribuímos a nós mesmos.

Concluindo esse pensamento essas são as duas ideias centrais do Argumento Moral idealizado por
segundo a visão de C.S. Lewis:

1o – Todos os seres-humanos de todas as regiões da Terra possuem a noção de que devem


comportar-se de uma certa maneira, e por mais que tentem não conseguem se livrar dessa noção.

2o – Na prática não há ninguém que se comporte dessa maneira. Os seres-humanos conhecem a


Lei Natural e transgridem-na.

“Esses dois fatos são o fundamento de todo pensamento claro a respeito de nós mesmos e do
universo em que vivemos.”

OBJEÇÕES AO ARGUMENTO
Para seguir esta ideia é preciso ter uma base firmada em seus princípios.

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