FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
CURSO DE PRODUÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA
Salvador
2016
LAIANE ALMEIDA DIAS ALVES
Salvador
2016
Tudo que fizer, faça com amor aos detalhes.
Autor desconhecido.
À
Minha mãe, Elizabete Almeida Dias Alves, por muitas vezes acreditar mais do que
eu mesma e ter confiado que tudo daria certo.
Meu pai, Antonio Alves Dias, por ter depositado tanta confiança, amor e respeito por
minhas escolhas.
A minha de Comunidade de Sussuarana e ao Coletivo Sarau da Onça.
E ao mestre que me acompanhou nesta aventura Jonicael Cedraz de Oliveira.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________
Jonicael Cedraz de Oliveira
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Júlio Cesar Lobo
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Antonio de Souza Batista
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Antonio e Bete, por todo amor, amizade e compreensão de
uma vida inteira; e a minha tia Ninha pelo apoio moral, amor e torcida de sempre;
Às minhas amigas desta e quiçá de outras vidas, que tenho no coração como
irmãs de alma, Natália, Erica e Brenda. Obrigada por tudo que vivemos e viveremos;
Aos amigos que fiz na Facom, Pedrita, Thais, Emille, Carol, Manu, Claudio,
Jeanderson e Bruno, vocês foram fundamentais para a longa caminhada tornar-se
mais doce e leve. Terei vocês no coração e um sorriso nos lábios ao lembrar-me de
cada momento vivido dentro e fora da faculdade. Agradeço especialmente a Memy
pelo carinho, puxões de orelha e apoio na produção desta monografia. Nossa
amizade ultrapassa os quilômetros que nos distanciam. Estamos juntas na vida,
sempre!.
Esta monografia tem como objeto de estudo o Sarau da Onça, realizado no bairro de
Sussuarana, localizado na periferia da cidade de Salvador. O conteúdo deste
trabalho percorre o estudo do bairro de Sussuarana e suas características, bem
como o perfil de seus produtores culturais e/ou comunicadores locais, e culmina
através da análise dos saraus, seu histórico, conteúdo e público atingido. O objetivo
desta pesquisa é analisar a relação de mediação social entre o grupo formado pelo
Sarau da Onçae a comunidade de Sussuarana. A pesquisa será embasadaa partir
dos estudos de Cultura, comunicação, comunidade, movimentos culturais e
mediação social tendo como principais autores Jesus Martin Barbero, Arosco, Michel
Focault e Renato Orttiz
INTRODUÇÃO ........................................................................................................11
Preâmbulo ..............................................................................................14
Preâmbulo ..............................................................................................40
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................79
ANEXOS E APÊNDICE..........................................................................................82
11
INTRODUÇÃO
CAPITULO I
Preâmbulo
que podem ser exemplificados com a região da Graça, Barra, Ondina, Rio Vermelho
e Pituba, dentre outras áreas consideradas “nobres” da cidade, são habitadas
principalmente por pessoas com alto e médio poder aquisitivo.
comprovada a força que a periferia tem, não apenas economicamente, mas também
a força social capaz de criar e movimentar a cena cultural local representando
através destas expressões a realidade social e experiências vividas em comunidade.
Fica evidenciado mais uma vez que Identidade é algo formado ao longo do
tempo, através de processos inconscientes e está diretamente associado às
experiências, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento.
Ela permanece sempre incompleta, está sempre “em processo”, sempre “sendo
formada”, assim a construção da identidade de um grupo cultural como o formado
pelo sarau da Onça é fruto das vivências de seus participantes, mas vem sendo
alterado diante das novas experiências e perspectivas por eles almejado.
20
A valorização das histórias vividas por estes grupos faz nascer a necessidade
de reafirma-se enquanto cultura e buscar um espaço na sociedade que muitas vezes
torna-se excludente, tendo como referencial de cultura apenas movimentos culturais
eruditos e nascidos nas “partes nobres” e tidas como culta da sociedade. No
entanto, a busca pelo espaço e apresentação das artes oriundas da periferia mostra
que a cultura periférica cada dia ganha mais espaço na sociedade e também na
mídia, o que ocasiona também na elevação da autoestima de seus moradores e os
impulsiona a continuar lutando por sua representatividade e afirmação identitária.
comunidade, tem este nome fruto de um episódio em uma das fazendas que existia
na localidade: a Fazenda Jardim Guiomar.
Essa história que foi contada de forma resumida foi descoberta a partir de
uma pesquisa de mestrado intitulada “Viver a Comunalidade na Escola: para além
das habilidades e competências do currículo escolar” (ALMEIDA, 2007), feita pelo
hoje Mestre em Educação e Contemporaneidade, Márcio Nery de Almeida, o
educador “amigo da onça” – como o mesmo é intitulado dentro da comunidade.1
1A grafia do nome do animal pardo se escreve com ç – suçuarana, mas a grafia que hoje denomina o
Estima-se que o bairro nasceu em 1982, fruto de uma invasão que nos dias
atuais expandiu-se. A comunidade atualmente situa-se próximo ao CAB – Centro
Administrativo da Bahia. É uma área constituída por um complexo formado por três
bairros, a Nova Sussuarana, o Novo Horizonte e a Sussuarana Velha, concentrado
na sua composição populacional cerca de 200 mil habitantes a contar os três
bairros(dados colhidos junto ao Censo 2012).
2Eventos culturais produzidos pela e para a Sussuarana, além de supermercados da região que
reanimam nos seus nomes a forma de identificação da comunidade com a onça suçuarana.
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Além da falta de acesso aos bens culturais, em Salvador, como muitas outras
brasileiras, existe o preconceito cultural sofrido pelos moradores de periferias e a
produção cultural existentes nestas localidades. Os residentes da periferia vivem,
muitas vezes, subordinados à cultura erudita e quando não a consomem são
julgados como pouco intelectuais. Em resposta a essa situação, criam suas próprias
formas de arte, realizando por meio delas uma tentativa de se autorrepresentar e
inserir-se na sociedade, sem preconceitos. Tais dos movimentos artísticos culturais
surgem como forma de reafirmação identitária e objetivam, principalmente, despertar
nas pessoas um pensamento crítico para que percebam a importância dos
moradores dos bairros periféricos e o seu papel como agente de transformação
social.
Atrelado a isso, na região existem obras de reparo ocupando parte das ruas,
os buracos e o estreitamento da Avenida Ulisses Guimarães, principal rota dos
motoristas. Com a construção de uma rotatória no fim de linha de Sussuarana Velha,
piorou o quadro caótico do trânsito no bairro. Assim, houve o encurtamento da
rotatória, deixando mais espaço para os ônibus transitarem. Porém, esta medida não
foi suficiente e atualmente se estacionam em outro local.
Fonte: http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/a-voz-dos-bairros-queixas-antigas-dos-
moradores-marcam-dia-a-dia-em-sussuarana, acesso em 18 de janeiro de 2016
CAPITULO II
CULTURADE PERIFERIA
2.1 Cultura
Assim,
Estas duas noções são, por sua vez, em geral abordadas a partir de
dois ângulos. Um, dito idealista, que vê no termo cultura o índice de
um espírito formador global da vida individual e coletiva a manifestar-
se numa variedade de comportamentos e atos sociais, mas, de modo
especial, em comportamentos e atos específicos e singulares (artes
plásticas, teatro, etc.); e um segundo, chamado materialista e de
inspiração marxista, que considera a cultura - em todos os seus
aspectos, incluindo os relacionados a todos os media e construções
intelectuais - como reflexos de um universo social mais amplo e
determinante.
Assim, a cultura tem ligação direta com as ações do indivíduo e grupo social
em que está envolvido e a sua expressão. Compreensão do mundo e manifestações
de sentimentos e anseios estarão diretamente ligados à forma de se expressar
socialmente.
A cultura popular surge, portanto, como outra cultura que, por contraste ao
saber culto dominante, apresenta-se como totalidade embora sendo constituída
através da justaposição de elementos residuais e fragmentários considerados
resistentes.
Outra forma de arte que ocupa espaço na cultura de periferia é o graffiti, que
atualmente ganhou alta valorização no mundo das artes plásticas e passou a ocupar
espaços em galerias de arte, atingindo altos preços no mercado, indo além das
paredes e muros das áreas urbanas que, inicialmente, eram as “telas” gratuitas dos
“desenhos”.
Outra expressão cultural periférica que anda lado a lado com a literatura são
os saraus da periferia. Os saraus são eventos nos quais as pessoas se reúnem para
declamar textos, próprios ou não, para o público (TENNINA, 2013). É a expressão
oral da literatura e um incentivo à prática da leitura e da escrita entre os moradores
das comunidades.
dos saraus, o bar passa de ambiente de alcoolismo e até mesmo brigas para centro
cultural. O exemplo do Bar acontece em São Paulo onde foi fundado e realizado o
Sarau da Cooperifa (Coperativa das periferias). Este sarau serviu de fonte de
inspiração para a criação do Sarau da Onça, realizado em Sussuarana –
Salvador/Ba.
O espaço que o Estado deixou para nós é o bar, aqui não tem
museu, não tem teatro, não tem cinema, não tem lugar para se
reunir, e o bar é o nosso centro cultural, onde as pessoas se reúnem
para discutir os problemas do aonde as pessoas vêm se reunir
depois do trabalho, onde as pessoas se reúnem quando vai jogar
bola, ou quando é um aniversário, se reúnem para ouvir e tocar
samba, então o bar é a nossa ágora, a nossa assembléia, o nosso
teatro, tudo, a única coisa que o Estado deixou para nós foi o bar,
então a gente ocupou o bar. É só isso o que a gente tem, então, é
isso o que vamos transformar. (VAZ, in TENNINA, 2013, p.12).
O sucesso que esses produtos da periferia obtêm fora dela, na “cena cultural
tradicional”, é bastante importante para a sua sobrevivência, e inclusive a
sobrevivência do próprio artista que, afinal de contas, depende financeiramente do
retorno de sua obra. Mas este não é o seu objetivo principal, pois o foco dessas
produções é, na maioria dos casos, a própria comunidade periférica.
40
CAPITULO III
Preâmbulo
Este trabalho não visa fazer juízo de valores ou importância sobre os dois
eventos, apenas ressalta as suas diferenças quanto ao público e ao foco dos
mesmos, pois, o Sarau da Onça apresenta-se com características que não são
voltadas para a publicidade, marketing e geração de lucro, apesar de buscar a
divulgação das artes contidas na periferia pelos meios de comunicação. É um
evento gratuito e voltado para a expressão social e manifestação cultural da
periferia.
busca, veria desfilar diante dos olhos estatísticas e manchetes sobre a violência na
cidade e os problemas que ela acarreta. Atualmente, seis anos depois, ao realizar
esta mesma pesquisa, boas surpresas podem ser encontradas.
"A ideia era justamente essa", diz Evanilson Alves, 25, um dos criadores do
projeto. Quando ele, Maiara Guedes, a Preta Mai, 23, e Sandro Sussuarana, todos
estudantes de serviço social e integrantes do Juventude Negra pela Paz, decidiram
convidar outros amigos e criar o Sarau da Onça, em maio de 2011, tinham em
mente dar uma sacudida geral na imagem que as pessoas faziam do bairro onde
moravam. "Nos incomodava ser vistos como vítimas passivas da violência. Nós
queríamos mostrar a todos que havia aqui pessoas interessadas em arte e em
literatura".
por si e seus pares, sendo neste caso os pares, os próprios vizinhos ou moradores
do mesmo bairro.
divergente misturada com outras vertentes da arte como a música em especial o hip
hop, o teatro e o cinema.
(Nelson Maca)
São Paulo. O Sarau da Cooperifa é definido por Vaz (2007) como um movimento
dos sem palco, e o mesmo conta que o Sarau instalou-se no Bar porque na periferia
não existia um centro cultural e o bar era lugar comum entre os moradores locais.
As coisas não nasceram para dar certo, somos nós é que fazemos as coisas acontecerem,
ou não. Acredito que a gente tem que ter um foco a seguir, traçar metas, viver por elas. Ou
morrer tentando. Jamais queimar etapas e saber reconhecer quando é a sua hora.
O Acaso é uma grande armadilha e destrói os sonhos fracos de pessoas que se acham
fortes. Procure não passar do tempo e nem chegar antes. Preparar o corpo, o espírito,
estudar o tempo o espaço. Não ser escravo de nenhum dos dois.
Observe as coisas que interferem no seu dia e na sua noite. E saiba entender que há
aqueles sem sol e sem estrelas e que a vida não deve parar só por isso.
Seja gentil com as pessoas e consigo mesmo. E gentileza não tem nada a ver com
fraqueza, pois, assim como um bom espadachim, é preciso ter elegância para ferir seus
adversários.
As falas sobre famílias são constantes no Sarau da Onça, que buscam criar
no jovem um sentimento de valorização familiar. Os membros do sarau difundem
que a família é a base dos participantes e para um desenvolvimento e um bom
relacionamento desses jovens em coletividade é necessário primeiramente um bom
convívio em suas casas.
A partir desta fala de Orlandi, o discurso pode ser entendido como sendo a
visão do homem diante do mundo através de suas palavras e ideias. A oralidade é
importante para esta análise, vista que muitas palavras acabam não sendo
registradas em forma de texto. Assim, para estudar um discurso é necessário
analisar os elementos linguísticos em que ele se torna material, e esses elementos
linguísticos encontram-se no social, na relação do homem com seu contexto sócio
histórico, e eles sempre sofrem influências do meio em que estão inseridos.
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Assim, o discurso compartilhado pelo Sarau da Onça muito tem das vivências
e experiências do contexto em que está inserido, ou seja, de sua cultura contida e
vivida por seus membros, sejam eles moradores ou não da comunidade de
Sussuarana e adjacências.
A partir disto, segundo o autor, para iniciar uma reflexão sobre o discurso é
necessário compreender os conceitos de sentido, enunciação, ideologia, condições
de produção e sujeito discursivo. Em Fernandes (2005, p. 29), ideologia é “uma
concepção de mundo de determinado grupo social em uma circunstância histórica”.
Assim a linguagem não é desvinculada da ideologia na qual quem a produziu está
inserido.
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Sendo assim,
O autor relata desta forma que sujeito discursivo é um ser social, pois está
inserido em um determinado espaço ideológico e social e sua forma de expressão é
determinada pelas experiências e ideologia que o mesmo carrega.
Identidade Negra
Foi difícil, mas eu consegui lutei até o último momento e mostrei que resistência não é só na
pele, mas em cada fio de cabelo também e percebi que as coisas são lindas, quando elas
são naturais, pois é um processo de desconstruir pra construir, de autoafirmação, negritude,
beleza e identidade de quem sou eu das minhas raízes vindas dos poros da liberdade.
(Maiara Silva)
Este poema abre um parêntese para ser falado do movimento iniciado pelas
mulheres atualmente (homens também participam), que assumem seus cabelos
crespos e cacheados, ao invés de recorrer a processos químicos de alisamento,
esta não é simplesmente uma opção estética, por trás deste movimento existe toda
uma história e processo de aceitação e valorização da própria história.
Não cortei meu cabelo por moda, cortei o que não me pertencia, eu era apenas mais uma
contribuinte para essa sua ideologia, e não me sentia bem com o alisante me fazendo de
refém, sem perceber, estava sendo mais uma vítima desta ilusão sonhando com os cabelos
lisos e sedosos da propaganda da televisão, 10 que destrói a nossa resistência e nossa
autoafirmação, não cortei só por cortar, cortei do mesmo jeito que estou cortando o seu
preconceito com o meu turbante que lhe dá
Mas é assim... Alguns vem mi diminuir;
Outros vem agonia, desfazendo essa sua ideia vazia de que o Black foi a maneira mais fácil
de pentear e de cuidar, engano seu, meu black é lindo e agride, eu sei que agride, mas é
melhor você aceitar, porque as negras estão chegando pra incomodar...
(Carol Xavier)
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Se durmo, sonho contigo, se acordo, quero te ver escrevo e me perco nos versos tentando
entender você, vejo seus olhos que brilham e me encantam a cada segundo. Nas
madrugadas que não te tenho, o silêncio é meu companheiro, você nasceu na estação das
flores, mas faz chover no coração desse guerreiro.
(Mateus Silva)
Amor?!
(Sandro Sussuarana)
Zé Ninguém
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Um disparo e dois corpos ao chão, corre-corre, e muita gritaria fazem parte de toda esta
confusão, crianças chorando, e todo mundo sem entender o que se passava e nem quem
era aquela pessoa, que tanto gritava e chorava: - Meu filho, Não!!! Ali, estirado ao chão, Um
cravado pela bala E o outro acolhido pelo desespero, de quem acabou de ver indo embora o
seu bem mais precioso.
Lá se vai José Ninguém, que morava na esquina do esquecimento, será esquecido... Mas
será lembrado nos noticiários: - Morre, na Mata Escura, José Francisco, Apontado como
mandante do tráfico na região.
Ele, que, verdadeiramente era Pedreiro, será enterrado na Quinta dos Lázaros com sua
nova profissão: Bandido!
Antes José era pedreiro e de mão cheia, Nunca foi de levar desaforo para casa, apenas
trabalho, pai solteiro e sofrido, nunca pôde ser amante, Sequer conseguiu ser marido. Suava
para poder comprar e não ter que pedir o pão. Então vieram os defensores da lei, para por
em prática seu firmamento um finado como recompensa, Sem abordagem nem
questionamento Sem conhecidos, sem documentos, 15 confundido com um traficante José
foi baleado à queima roupa, quando voltava para casa.
Na entrada da rua, próximo à esquina em que ele morava. Contudo, José tinha um sonho,
que não pôde ver se realizar Como outros, interrompido pela lei do “atira, depois aborda”
Pois no meu país, quem mata tem porte legal de Arma.
(Sandro Sussuarana)
Evanilson Alves
(Sandro Sussuarana)
CAPITULO IV
O terceiro ponto registrado por Beleza (2009), fala sobre a contribuição para o
controle e prevenção da violência. Este é um ponto muito importante a ser atribuído
e mencionado como característica do Coletivo Sarau da Onça, pois a comunidade
de Sussuarana é marcada pelo estereótipo de violência e marginalização,
estereótipos este, pertencente à grande maioria dos bairros situados nas periferias
das grandes cidades.
Desta forma, se faz necessário reafirmar que uma das principais inspirações
para a criação deste coletivo foi a vontade de mudar o quadro de violência a que a
comunidade de Sussuarana estava inserida. Os idealizadores do coletivo buscavam
através da arte conscientizar principalmente aos jovens sobre os perigos da
marginalização. Através das intervenções artísticas realizadas pelo Coletivo e as
apresentações no evento Sarau da Onça, os participantes passaram a refletir sobre
a realidade social a que estavam submetidos e através desta reflexão buscar
soluções de melhorias para a comunidade e para si mesmo.
Os laços sociais tendem a ser estendidos uma vez que, a comunidade está
reunida em busca de um objetivo comum. Existe o comprometimento por parte do
coletivo em realizar as ações voltadas para a cultura, educação e cidadania e do
outro lado, por parte da plateia, o comprometimento é implícito, fornecer informações
que ajudarão na produção de conteúdo para o grupo, assim Raymond Williams
(1969) diz que a arte pode ser considerada como um reflexo não das “meras
aparências”, mas da “realidade” por trás delas: a “natureza interior” do mundo, ou
suas “formas constitutivas”.
A partir do Sarau da Onça o coletivo realiza Slam da Onça, evento anual que
já conta com quatro edições. O Slam consiste numa batalha poética com o objetivo
de incentivar, valorizar e disseminar arte e cultura em bairros periféricos da capital.
Para participar da batalha poética, os interessados apresentam textos autorais com
tema livre.
grande campeão e leva para casa prêmios como camisas, bonés, shorts, livros e
CDs de parceiros do projeto.
O Grupo Ágape faz parte do coletivo Sarau da Onça e foi criado a partir de
um grupo de amigos que pretendiam tornar suas vivências e assuntos aos quais
achavam interessantes em poesias. O grupo leva a poesia para alunos de escolas
públicas e privadas.
O projeto Hip Hop na onça tem atualmente dez edições realizadas e fruto dele
foi realizado um documentário chamado de Hip Hop na Onça - Nos palcos da vida,
que conta a história do grupo lançado em 2003 e narra as experiências ao longo das
edições do evento falando sobre a programação do evento que conta com oficinas a,
sarau, seminário, cinemas nas ruas do bairro e música.
se contempla uma das mais belas paisagens que é o Pôr do Sol, cuja primeira
edição aconteceu em 16 de fevereiro de 2013 no Farol da Barra. Em 2014, Sandro
iniciou o projeto Sarau da Laje voltado para jovens de 7 a 15 anos, cuja função é
apresentar a poesia como forma de sociabilidade e educação.
Mateus Silva, suas poesias falam de amor. Mateus fala para os jovens de
Sussuarana sobre sonhos, desejos e seu tema recorrente é o amor, sendo
conhecido entre o grupo como o poeta dos apaixonados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta é uma pesquisa que nos admite avaliar como a produção cultural tem
sido latente nas periferias. O estudo de caso foi realizado em Sussuarana, no
entanto, em outras comunidades da cidade de Salvador o cenário cultural também
movimenta-se, desta forma, a inserção do tema na Academia é de suma
importância, tendo em vista que a Universidade deve dialogar com a comunidade,
seja ela acadêmica ou não.
Outro fator que pude notar ao longo da pesquisa com o grupo e a comunidade
é que através desta visão de “si mesmo”, as pessoas passaram a valorizar a própria
cultura. Através da identificação, cresce o sentimento de pertencimento ao local e
desperta o orgulho de pertencer a uma comunidade que gera conteúdo positivo
mesmo diante de situações adversas. O público que frequenta as atividades
78
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KEHL, Maria Rita. Função fraterna. Rio de Janeiro, Brasil: Relume Dumará, 2000.
8. ANEXOS OU APÊNDICE