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O STF e a Política
Resumo – Relatório do Acórdão da ADIn 4.650/DF
Apresentado tal panorama, Fux passa para a análise de 3 pontos centrais para o debate em
questão: 1) Saber se o Poder Judiciário possui algum espaço legítimo para apreciar temas que
atingem o núcleo do processo democrático (como o tema do financiamento de campanhas
eleitorais); em havendo, 2) delimitar a exata extensão do controle jurisdicional de modo a afastar
indevida interferência judicial no âmbito de atribuições conferidas aos demais poderes políticos; e
3) definir se o eventual pronunciamento jurisdicional do STF tem caráter definitivo, interditando
futura rediscussão da matéria nas instâncias políticas e pela sociedade em geral.
Quanto ao primeiro ponto, Fux não afasta a compreensão de que no sistema democrático
idealmente idealizado seja prerrogativa do Poder Legislativo deliberar sobre questões políticas
fundamentais da sociedade, não devendo caber aos juízes não-eleitos e não responsivos à vontade
popular impor comportamentos e invalidar atos normativos emanados pelas autoridades
democraticamente eleitas.
No entanto, tal raciocínio tem como limite as situações em que se configura a necessidade de um
posicionamento mais incisivo por parte da Suprema Corte para salvaguardar os pressupostos do
regime democrático. Assim, configurado o inadequado funcionamento das instituições, estaria
legitimada a intervenção do Poder Judiciário nos atos emanados pelo Poder Legislativo. Para
exemplificar seu posicionamento, Fux apresenta trecho da obra de John Hart Ely (Democracy
and Distrust) em que o autor descreve o mau funcionamento do regime democrático:
“O mau funcionamento ocorre quando o processo não merece confiança, quando (1) os de dentro estão bloqueando
os canais de mudança política de modo a assegurar que continuarão no poder e que os de fora continuarão alijados,
ou (2) quando, embora ninguém seja, a rigor, excluído do processo, os representantes vinculados às maiorias
estejam sistematicamente prejudicando alguma minoria por conta de simples hostilidade ou recusa preconceituosa do
reconhecimento de interesses comuns, e, assim, negam àquela minoria a mesma proteção assegurada a outros grupos
pelo sistema representativo”.
Neste sentido, Fux argumenta que não é de se esperar que os atuais membros do Poder
Legislativo exerçam adequadamente suas funções de reformadores do sistema político,
notadamente no tocante à questão do financiamento das campanhas políticas, uma vez que são
eles próprios os beneficiários de tal sistema.
Dando o exemplo da questão atinente à fidelidade partidária, o Ministro Relator justifica a
posição mais expansiva e particularista do STF na problemática do financiamento de campanhas
por empresas privadas por ser autoevidente a manipulação e parcialidade do tratamento de tal
questão pelos parlamentares.
Sintetizando seu pensamento, diz Fux que as suas considerações, antes de advogar por uma
inversão dos papéis dos Poderes em uma República Democrática, servem para mostrar que
“qualquer visão de Separação de Poderes não prescinde de uma discussão sincera e realista acerca
das instituições existentes e dos incentivos a que elas são responsivas”.
Diante disso, há espaço para o controle jurisdicional do STF para as questões cernes do processo
político, uma vez que, na questão específica, tal órgão sustenta um grau de afastamento que lhe
permite realizar uma análise imparcial do caso.
Ultrapassada tal questão, Fux passa a discorrer sobre a delimitação da extensão da atuação do
STF, questão que passa por entender “em que medida o legislador ordinário se encontra limitado
pela Constituição na disciplina do sistema de doações e contribuições a candidatos e partidos
políticos”.