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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ESTRUTURAS
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

Gabriel Fonseca Carrião de Freitas

IMPLEMENTAÇÃO DA TECNOLOGIA BIM EM UM ESCRITÓRIO DE


ENGENHARIA PARA COORDENAÇÃO 3D DE PROJETOS NA
CIDADE DE SANTA MARIA/RS

Santa Maria, RS, Brasil


2017
Gabriel Fonseca Carrião de Freitas

IMPLEMENTAÇÃO DA TECNOLOGIA BIM EM UM ESCRITÓRIO DE


ENGENHARIA PARA COORDENAÇÃO 3D DE PROJETOS NA CIDADE DE
SANTA MARIA/RS

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de


Engenharia Civil da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM,RS), como requisito parcial
para obtenção do título de Engenheiro Civil.

Orientador: Prof. Dr. André Lübeck

Santa Maria, RS, Brasil


2017
Gabriel Fonseca Carrião de Freitas

IMPLEMENTAÇÃO DA TECNOLOGIA BIM EM UM ESCRITÓRIO DE


ENGENHARIA PARA COORDENAÇÃO 3D DE PROJETOS NA CIDADE DE
SANTA MARIA/RS

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de


Engenharia Civil da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM,RS), como requisito parcial
para obtenção do título de Engenheiro Civil.

Aprovado em 14 de dezembro de 2017:

André Lübeck, Prof. Dr. (UFSM)


(Presidente/Orientador)

Thiana Dias Herrmann, Prof.ª (UFSM)

Arq. Maraysa Woloszyn

Santa Maria, RS
2017
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me dar suporte e orientação durante toda a vida,
e também a oportunidade e saúde para realizar este trabalho.
À minha família, por sempre estarem me incentivando e apoiando em todos os
projetos realizados.
À minha mãe, Hilza Fonseca, que mesmo distante me apoiou durante toda a vida e me
instruiu em como ser um homem íntegro.
Ao meu pai, Giovany Carrião, por proporcionar-me um ambiente de vida saudável
onde pude desenvolver meus estudos com tranquilidade e me orientar sobre minha formação
profissional.
Às minhas irmãs, Gisely e Victória, por me suportarem e serem as caboclas mais
lindas que conheço, e também ao Daniel Cravo por fornecer todas as ferramentas necessárias
para que eu colocasse em prática minhas habilidades no mundo da tecnologia.
Aos meus queridos avós de coração, vó Wanda e vô João, por me ensinaram como ser
uma boa pessoa com seus exemplos de vida.
Aos meus amigos da igreja que hoje considero como irmãos por me mostrarem como
ser um grande fera da vida.
Ao meu brada e sócio, Gerson Severo, pela parceria e mostrar o que é ser boko e ter
um coração sempre disposto a ajudar os outros. Tire Tesse.
Aos meus amigos do intercâmbio que me mostraram que é possível se sentir em casa
apesar da distância dos familiares, especialmente ao grupo de Cabajos que fez valer toda a
experiência vivida e mantém uma amizade que levarei para o resto da vida.
Aos meus amigos e colegas de faculdade que fizeram valer a pena toda esta jornada
acadêmica, em especial a coisas raras que acontecem na nossa vida, pois sem eles e os bizus
nada disso seria possível.
Aos amigos da ONG Engenheiros sem Fronteiras – Núcleo Santa Maria, por
mostrarem que é possível construir uma sociedade melhor com uma engenharia sustentável e
social.
Aos professores do curso de Engenharia Civil pelos ensinamentos passados para que
fosse possível minha formação.
Ao professor André Lübeck por me orientar e mostrar-se sempre disponível para a
elaboração deste trabalho.
A todos os profissionais da Simultânea Engenharia que possibilitaram a aplicação dos
meus conhecimentos para o desenvolvimento deste trabalho.
RESUMO

IMPLEMENTAÇÃO DA TECNOLOGIA BIM EM UM ESCRITÓRIO DE


ENGENHARIA PARA COORDENAÇÃO 3D DE PROJETOS NA CIDADE DE
SANTA MARIA/RS

AUTOR: GABRIEL FONSECA CARRIÃO DE FREITAS


ORIENTADOR: ANDRÉ LÜBECK

É notável o avanço da tecnologia em diversos setores da indústria, onde destaca-se um novo


modo de projetar e construir no setor da construção civil devido ao uso da tecnologia Building
Information Modeling (BIM). O presente trabalho motiva-se pela falta de informação
existente sobre a criação de etapas para a implementação da tecnologia BIM em escritórios de
engenharia para compatibilização de projetos em 3D, no qual busca-se responder perguntas
sobre as vantagens, desafios e aplicações da tecnologia. Também elaborou-se um Plano de
Execução BIM para um escritório de projetos de engenharia na cidade de Santa Maria-RS.
Além disso, este estudo teve como objetivos definir o que é BIM, suas vantagens, desafios e
aplicações, mostrar os níveis de maturidade BIM existentes, o contexto brasileiro em relação
às iniciativas tomadas para o uso desta tecnologia e a elaboração e execução de um Plano de
Execução BIM para coordenação de projetos em 3D. Isto foi possível por meio de uma breve
revisão bibliográfica e um estudo de caso, onde foi realizada uma análise das necessidades e
do fluxo de trabalho da empresa, com subsequente criação do Plano de Execução BIM e
compatibilização dos projetos de instalações hidrossanitárias e estrutural do pavimento térreo
de um edifício residencial multifamiliar de 13 pavimentos como projeto piloto. Concluiu-se
que a implementação da tecnologia BIM requer bastante planejamento e organização, indo
além da simples utilização de alguns softwares. O uso da tecnologia BIM para coordenação
3D de projetos mostrou-se bastante vantajosa, facilitando a visualização e compatibilização
das diversas disciplinas analisadas, oferecendo também um fluxo de trabalho que facilita e
otimiza o trabalho entre os engenheiros. Embora o tempo gasto com capacitação e
treinamento de profissionais para o uso do BIM ainda seja uma grande preocupação das
empresas, a tecnologia BIM oferece um retorno positivo para proprietários, projetistas,
construtores e fabricantes, visto também que não é mais apenas uma tendência seu uso e sim
um uso recorrente.

Palavras-chave: Coordenação 3D; Building Information Modeling; Plano de Execução BIM.


ABSTRACT

BIM TECNOLOGY IMPLEMENTATION FOR 3D COORDENATION PROJECTS


AT AN ENGINEER OFFICE IN THE CITY OF SANTA MARIA/RS

AUTHOR: GABRIEL FONSECA CARRIÃO DE FREITAS


ADVISOR: ANDRÉ LÜBECK

The advancement of technology in several industry sectors is remarkable. A new way of


designing and building in the construction industry is highlighted due to the use of the
Building Information Modeling (BIM) technology. The present paper is motivated by the lack
of existing information about the creation of routines for the implementation of BIM
technology in engineering offices to compatibilize 3D projects, which seeks to answer
questions about the advantages, challenges and applications of it. A BIM Execution Plan was
also prepared for an engineering office in the city of Santa Maria-RS. Thus, this study had as
objectives to define what BIM is, its advantages, challenges and applications, to show the
existing BIM maturity levels, the Brazilian context in relation to the initiatives taken for the
use of this technology and the elaboration and execution of a BIM Execution Plan for a 3D
project coordination. This was possible through a brief bibliographic review and a case study,
where an analysis of the needs and the workflow of the company in question was carried out,
with subsequent creation of the BIM Execution Plan and compatibility of the projects of
hydrosanitary and structural installations of the ground floor of a 13-storey residential
multifamily building as a pilot project. It was concluded that the implementation of BIM
technology requires a lot of planning and organization, going beyond the simple use of some
softwares. The use of BIM technology for 3D coordination of projects has proved to be very
advantageous, facilitating the visualization and compatibility of the different disciplines
analyzed, also offering a workflow that facilitates and optimizes the work between the
engineers. Although the time spent with training and adaptation of professionals for the use of
BIM is still a major concern of companies, BIM technology offers a positive return for
owners, designers, builders, and manufacturers, since it is no longer just a trend of its use, but
a recurrent use.

Keywords: 3D Coordination; Building Information Modeling; BIM Execution Plan.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Etapas em que o BIM está presente. ........................................................................ 14


Figura 2 - Fluxos de informações. ............................................................................................ 16
Figura 3 - Os 25 casos de usos BIM, localizados nas grandes fases do ciclo de vida de um
empreendimento, publicados pela Pennsylvania State University em 2009. Os quadros com
fundo laranja representam os principais usos BIM. ................................................................. 17
Figura 4 - Desenho em CAD, representando as instalações de ar condicionado de uma
edificação. É preciso construir mentalmente as imagens tridimensionais das projeções. ........ 18
Figura 5 - Imagem 3D renderizada, gerada por software BIM, representando parte das
instalações de ar condicionado de uma edificação. .................................................................. 19
Figura 6 - A imagem 3D renderizada, gerada por um software BIM, ensaia as diferentes fases
de construção de uma edificação e o funcionamento de uma grua. ......................................... 20
Figura 7 - Exemplos de extração de quantidades realizadas por soluções BIM. Podem ser
extraídos e fornecidos tanto detalhes dos componentes (exemplo dos pilares) como a
quantidade deles ou do conjunto de componentes. .................................................................. 21
Figura 8 - Figura gerada por um software BIM mostrando duas edificações inseridas
virtualmente no local de construção. ........................................................................................ 22
Figura 9 - Figura gerada e renderizada por um software BIM mostrando interior de uma
edificação modelada. ................................................................................................................ 23
Figura 10 - Figura gerada por um software BIM mostrando uma montagem de uma estrutura
metálica muito complexa. ......................................................................................................... 24
Figura 11 - Imagem 3D renderizada, gerada por um software BIM, identificando uma
interferência física (clash) entre as tubulações de dois subsistemas. ....................................... 24
Figura 12 - Controle de serviços realizados por diferentes contratados, identificados no
modelo BIM através de um código de cores. As atividades são programadas em cronogramas
também vinculados aos componentes do modelo..................................................................... 25
Figura 13 - Controle de componentes pré-fabricados, através de um código de cores. ........... 26
Figura 14 - A imagem da esquerda mostra uma vista renderizada de parte do modelo
estrutural BIM de uma edificação, enquanto a da direita documenta uma das fases de
construção, num angulo bem semelhante ao utilizado para a criação da imagem. .................. 27
Figura 15 - Níveis de maturidade BIM. .................................................................................... 36
Figura 16 - Os 4 passos para criação de um Plano de Execução BIM. .................................... 38
Figura 17 - Atual fluxo de trabalho da empresa. ...................................................................... 39
Figura 18 - Novo fluxo de trabalho sugerido para a empresa. ................................................. 40
Figura 19 - Projeto estrutural importado como arquivo IFC no Autodesk Navisworks. .......... 41
Figura 20 - Projeto hidrossanitário importado como arquivo IFC no Autodesk Navisworks. .. 41
Figura 21 - Projetos estrutural e hidrossanitário importados como arquivos IFC no Autodesk
Navisworks. .............................................................................................................................. 42
Figura 22 - Configuração no Autodesk Navisworks para realização do teste de interferências.
.................................................................................................................................................. 43
Figura 23 - Parte do relatório das interferências do pavimento térreo gerado no programa
Microsoft Excel para revisão dos engenheiros. ........................................................................ 44
Figura 24 - Parte da matriz de interferências. ........................................................................... 44
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Abordagem BIM sugerida pelos autores do Projeto de Apoio aos diálogos setoriais
União-Européia- Brasil. ........................................................................................................... 35
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10
1.1 JUSTIFICATIVA .............................................................................................................. 11
1.2 OBJETIVOS ...................................................................................................................... 11
1.2.1 Objetivo Geral .............................................................................................................. 11
1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................... 11
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO ...................................................................................... 11
2 METODOLOGIA............................................................................................................... 13
2.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 13
2.2 ESTUDO DE CASO ......................................................................................................... 13
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 14
3.1 DEFINIÇÃO...................................................................................................................... 14
3.2 VANTAGENS DO USO DO BIM .................................................................................... 15
3.3 APLICAÇÕES DO BIM ................................................................................................... 17
3.4 DESAFIOS DO USO DO BIM ......................................................................................... 27
3.5 CONTEXTO BRASILEIRO ............................................................................................. 33
3.6 NÍVEIS DE MATURIDADE BIM ................................................................................... 35
4 ESTUDO DE CASO ........................................................................................................... 37
4.1 PLANO DE EXECUÇÃO BIM ........................................................................................ 37
4.2 COMPATIBILIZAÇÃO 3D EM EDIFÍCIO MULTIFAMILIAR .................................... 39
5 CONCLUSÕES................................................................................................................... 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 47
APÊNDICE A – PLANO DE EXECUÇÃO BIM ............................................................... 50
10

1 INTRODUÇÃO

Vive-se em uma era onde a troca de informações e a evolução tecnológica tem


crescido de maneira mais rápida e exponencial em relação às últimas décadas. Com isso
muitas indústrias têm se adaptado e mudado seus processos internos e externos para assim se
adequar a este novo momento que pode ser chamado de era digital, onde processos são
otimizados e automatizados facilitando o desenvolvimento e produção das indústrias.
Uma dessas indústrias é a da construção civil, conhecida por muitos desperdícios e
retrabalhos em seus processos. Ela tem buscado por inovação tecnológica em seus processos
para justamente evitar estes problemas. Pode-se observar nos últimos anos que a construção
civil tem acompanhado esta evolução e é possível observar isto na forma de projetar, por
exemplo, antes os projetos eram todos feitos à mão e então começou-se a utilizar a tecnologia
CAD (Computer Aided Design) nos computadores, tecnologia que se difundiu rapidamente e
agilizou o processo de projetar, e hoje algumas empresas já utilizam a tecnologia BIM
(Building Information Modeling) para processos que envolvem o projeto desde sua concepção
até a fase de construção e manutenção da obra.
O National Institute of Building Sciences (2015) define BIM como:
Uma representação digital das características físicas e funcionais de uma instalação.
Um modelo BIM é um recurso para o compartilhamento de informações sobre uma
instalação ou edificação, constituindo uma base de informações organizada e
confiável que pode suportar tomada de decisão durante o seu ciclo de vida; definido
como o período desde as fases mais iniciais de sua concepção até a sua demolição.
Uma das premissas básicas do BIM é a colaboração entre os diferentes agentes
envolvidos nas diferentes fases do ciclo de vida de uma instalação ou edificação,
para inserir, extrair, atualizar ou modificar informações de um modelo BIM para
auxiliar e refletir os papéis de cada um destes agentes envolvidos.
A grande concorrência e a crise econômica na qual vive o setor da construção aliadas a
vontade de inovar e melhorar processos tem feito com que empresas de engenharia busquem
novos meios tecnológicos para trabalhar, fornecendo assim um serviço de qualidade e mais
eficiente para seus clientes. Nesse contexto, a tecnologia BIM vem para contribuir nestes
processos e otimizar os serviços de engenharia e fluxos de trabalho existentes nas empresas.
O Building Information Modeling (BIM) – ou Modelagem da Informação na
Construção – tem trazido importantes mudanças tecnológicas para a área da
construção. Esse instrumento tem potencial para mudar a cultura dos agentes de toda
a cadeia produtiva do setor, pois sua utilização requer novos métodos de trabalho e
novas posturas de relacionamento entre arquitetos, projetistas, consultores,
contratantes e construtores. A integração das informações gera a possibilidade de
diagnosticar rapidamente as necessidades de compatibilidade na construção – além
dos dados sobre materiais, prazos e custos – de modo a garantir assertividade e
melhores soluções para a obra, com aumento de produtividade. (CÂMARA
BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO, 2016, p. 11).
Com o intuito de testar e expor como funciona a tecnologia BIM, seus usos e
vantagens, o presente trabalho mostrará como foi a implementação da tecnologia BIM em um
11

escritório de engenharia para fins de compatibilização de projetos em 3D na cidade de Santa


Maria - RS.

1.1 JUSTIFICATIVA

O tema deste trabalho está vinculado à grande ocorrência de problemas nas edificações
devido a falhas de comunicação e colaboração entre as diversas disciplinas de engenharia na
fase de projeto, que acabam gerando problemas de execução na obra e retrabalhos na revisão
e compatibilização de projetos.
A escolha por este tema se justifica pela necessidade de criação de rotinas de trabalho
para o uso da tecnologia BIM, mostrando o atual fluxo de trabalho e o proposto para a
empresa de engenharia em questão.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Este trabalho tem como objetivo geral elaborar um fluxo de trabalho que facilite o uso da
tecnologia BIM para fins de compatibilização de projetos em um escritório de engenharia na
cidade de Santa Maria - RS.

1.2.2 Objetivos Específicos

• Elaborar um plano de execução BIM para compatibilização de projetos em 3D;


• Compatibilizar as disciplinas de instalações hidrossanitárias e estrutural em um prédio
residencial multifamiliar de 13 pavimentos.

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO

O presente trabalho está estruturado em 3 capítulos principais precedidos por uma


introdução, capítulo 1, contendo a justificativa pela escolha do tema assim como os objetivos
gerais e específicos da pesquisa e a estrutura do trabalho.
O capítulo 2 apresenta a metodologia utilizada e o capítulo 3 apresenta uma revisão
bibliográfica contendo todo o embasamento teórico necessário para a compreensão do tema,
explicitando conceitos básicos sobre a tecnologia BIM, suas vantagens, desafios e seu
contexto brasileiro.
12

O capítulo 4 contém o estudo de caso realizado sobre compatibilização de projetos


estrutural e hidrossanitário em um escritório de engenharia na cidade de Santa Maria/RS,
mostrando como foi elaborado e executado um plano de execução BIM para um edifício
multifamiliar.
O capítulo 5 é a conclusão, onde será feito uma análise do processo de implementação
da tecnologia BIM utilizado, apresentando os entraves e vantagens encontrados durante todo o
processo.
Por fim apresentam-se as referências bibliográficas e anexos.
13

2 METODOLOGIA

2.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

O presente trabalho será baseado em uma revisão bibliográfica sobre o que é a


tecnologia BIM, as vantagens e desafios de seu uso e implantação, e o panorama brasileiro
sobre seu uso.

2.2 ESTUDO DE CASO

Será discutido, elaborado e executado um plano de execução BIM para


compatibilização dos projetos estrutural e hidrossanitário em um edifício residencial
multifamiliar de 13 pavimentos em um escritório de engenharia, onde os três primeiros
pavimentos possuem garagens e reservatórios inferiores, o último pavimento possui os
reservatórios superiores e o restante dos pavimentos são constituídos de apartamentos,
totalizando 61 apartamentos e 84 vagas de estacionamento, com uma área total de construção
de 7.657,06 m².
14

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 DEFINIÇÃO

Segundo Eastman et al. (2011) o termo Building Information Modeling (BIM) foi
criado pela Autodesk, em 1992, como forma de impulsionar o marketing do seu novo CAD, o
Revit. O software, apesar de não ter sido o primeiro a usar a metodologia BIM, visto que o
ArchiCAD e o Allplan já trabalhavam com metodologia similar, foi quem fixou essa
terminologia no mercado.
O professor Rafael Riera López (2016) define BIM (Building Information Modeling)
ou também chamado (Modelagem de Informações da Construção) como uma metodologia de
trabalho no setor da construção baseada no uso de sistemas que permitem integrar toda a
informação útil de um projeto, analisando e gerenciando efetivamente todo o ciclo de vida do
mesmo desde a fase de concepção até a fase de manutenção de uma maneira colaborativa
entre os diferentes integrantes de um projeto. A Figura 1 mostra todas as etapas em que o
BIM está presente.

Figura 1 - Etapas em que o BIM está presente.

Fonte: VEREDAS (2017).

O uso da tecnologia BIM pode trazer muitos benefícios, dentre os quais podemos
destacar: visualização 3D da estrutura e melhor compreensão visual do projeto, melhor
15

planejamento do projeto, modelação por objetos com definição das suas propriedades físicas e
base de dados e informação integrada e coordenada, reduzindo erros ligados à falta de
coordenação interdisciplinar. Também podemos destacar que o uso do BIM é importante
porque amplia as possibilidades de gerenciamento do projeto, da construção, do uso e da
manutenção de edificações e instalações.
É possível dizer que na modelagem BIM, o desenho é “inteligente”, pois uma vez que
o desenho foi representado, o projetista atribui-lhe propriedades (parametrização) que são
salvas no mesmo arquivo eletrônico, gerando automaticamente, a legenda da prancha e os
quantitativos de materiais, que posteriormente serão repassados para a equipe orçamentista
(FARIA, 2007).
Portanto, “as vantagens são tamanhas que num futuro próximo, migrar para o BIM
deixará de ser uma opção e passará a ser condição compulsória, para atuar na indústria da
construção civil.” (CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO, 2016,
p. 26). Porém, cuidados devem ser tomados na hora de implementar o BIM, para que os
custos e o tempo gasto na aprendizagem não sejam maiores que o lucro e produtividade.

3.2 VANTAGENS DO USO DO BIM

O principal benefício do modelo BIM é consequência da habilidade de partilhar um


único modelo digital integrado e consistente, que tem capacidade de suportar todos os
aspectos no ciclo de vida do projeto na construção (CRESPO; RUSCHEL, 2007). Devido a
esse compartilhamento de informações em um só modelo digital, as equipes de profissionais
envolvidos podem comunicar melhor suas ideias e ações, difundindo o seu conhecimento e
permitindo uma melhor compreensão dos profissionais acerca dos objetivos do
empreendimento (BLANCO, 2011). A Figura 2 mostra os fluxos de informações sem e com o
uso da tecnologia BIM respectivamente.
16

Figura 2 - Fluxos de informações.

Fonte: (CBIC, 2016, p.58)

De acordo com Yan e Damian (2008), na última década, a indústria de Arquitetura,


Engenharia e Construção (AEC) fez uma transição entre modelos 2D e modelos 3D que
mudou completamente a relação entre arquitetos e engenheiros. Não apenas a forma de
representar objetos, mais que isso, uma mudança de visualização para simulação. A antiga
metodologia CAD trabalhava com pontos, linhas, formas 2D e, em alguns casos, volumes em
três dimensões. Em um conceito BIM, esses objetos possuem, além de formas geométricas,
dados qualitativos, quantitativos e significado abstrato.
Um estudo comparativo da tecnologia CAD com a tecnologia BIM realizado por
Costa, Figueiredo e Ribeiro (2015), mostrou que que evolução da tecnologia no setor de
projetos tem sido significante nos últimos tempos, surgindo, a cada período, mais ferramentas
que buscam revolucionar o mercado. O aparecimento do BIM representa uma melhora em
relação à aplicação da ferramenta 3D e um grande desenvolvimento quanto à automatização
do processo de desenho. Outra vantagem é a possibilidade de atribuir ao desenho
propriedades gráficas que tornam a apresentação do mesmo, para uma pessoa que não é da
área, mais parecida com o que será na realidade. Com a execução de uma planilha de custos e
a interoperabilidade existentes, a tecnologia BIM passa a ter outra vantagem em relação ao
CAD: a economia de custo e tempo da construção. Isso aumenta a produtividade das empresas
17

e permite melhor planejamento da obra, evitando erros diversos, desde a comunicação entre
os projetistas até a quantidade de materiais necessários à obra.

3.3 APLICAÇÕES DO BIM

É notório que o BIM tem trazido melhorias para o setor da construção civil nas últimas
décadas. Esta tecnologia, como dito anteriormente, pode ser utilizada em todo o processo de
construção, desde a concepção até o processo de manutenção. Será detalhado a seguir onde e
como o BIM pode ser aplicado dentro deste processo.
Nos Estados Unidos, em dezembro de 2009, em um trabalho publicado pela
Pennsylvania State University foram identificados 25 diferentes usos para o BIM. A Figura 3
os representa organizados de acordo com as correspondentes grandes fases do ciclo de
desenvolvimento de um projeto.
Figura 3 - Os 25 casos de usos BIM, localizados nas grandes fases do ciclo de vida de um
empreendimento, publicados pela Pennsylvania State University em 2009. Os quadros com
fundo laranja representam os principais usos BIM.

Fonte: (CBIC, 2016, p. 98)


18

Dentre estes 25 casos de usos BIM, é possível destacar os mais comuns vistos no
Brasil:

VISUALIZAÇÃO DO PROJETO EM 3D

Nos projetos desenvolvidos em CAD, tecnologia baseada apenas em documentos, as


representações em plantas, cortes, vistas ou, no melhor dos casos, em desenhos de
perspectivas e detalhes, não permitiam a correta visualização e a perfeita compreensão do que
estava sendo projetado (Figura 4).

Figura 4 - Desenho em CAD, representando as instalações de ar condicionado de uma


edificação. É preciso construir mentalmente as imagens tridimensionais das projeções.

Fonte: (CBIC, 2016, p.28)

“A modelagem 3D possibilita a visualização exata do que está sendo projetado, por


mais complexa que seja a instalação ou edificação, além de oferecer funcionalidades para a
detecção automática de interferências geoespaciais entre objetos.”(CÂMARA BRASILEIRA
DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO, 2016, p. 28)
Todas as soluções que utilizam a tecnologia BIM geram projetos em 3D. Isto facilita o
entendimento e a eficácia no processo de comunicação entre todos os envolvidos na
construção de um empreendimento (Figura 5).
19

Figura 5 - Imagem 3D renderizada, gerada por software BIM, representando parte das
instalações de ar condicionado de uma edificação.

Fonte: (CBIC, 2016, p.29)

LOGÍSTICA DO CANTEIRO – VISUALIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO

Um dos usos do BIM chamado Planejamento ou Sequenciamento 4D permite o


estudo detalhado de todas as etapas e atividades previstas para a execução de uma
obra. A construção de um prédio de múltiplos pavimentos exige, por exemplo, a
instalação de bandejas de proteção, para evitar a queda de materiais ou ferramentas.
Com a plataforma BIM, pode-se realizar a Construção Virtual (Virtual Design &
Construction – VDC), que permite ensaiar uma obra no computador, antes do início
da construção real, no endereço da obra. (CÂMARA BRASILEIRA DA
INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO, 2016, p. 30)
Na Figura 6 é possível ver uma imagem 3D extraída de um software BIM, onde se
encontram diferentes fases da construção do empreendimento.
20

Figura 6 - A imagem 3D renderizada, gerada por um software BIM, ensaia as diferentes fases
de construção de uma edificação e o funcionamento de uma grua.

Fonte: (CBIC, 2016, p.30)

Com isso, se minimiza os conflitos e problemas específicos da fase de construção,


contribuindo também no cumprimento de prazos definidos. Ensaiar como a obra será
executada virtualmente, antes de partir para a execução propriamente dita, é algo de grande
valia para a indústria da construção civil.

LEVANTAMENTO DE QUANTIDADES

Uma das funções mais usadas em modelos BIM é a extração automática de todas as
quantidades de serviços e componentes dos modelos. A plataforma BIM permite que estas
informações sejam extraídas com consistência, precisão e agilidade de acesso, que podem ser
divididas e organizadas de acordo com as fases definidas no planejamento e na programação
de execução dos serviços, otimizando assim mais um dos processos que existe na construção
civil. A Figura 7 traz exemplos de elementos que são possíveis extrair informações dos
modelos BIM.
21

Figura 7 - Exemplos de extração de quantidades realizadas por soluções BIM. Podem ser
extraídos e fornecidos tanto detalhes dos componentes (exemplo dos pilares) como a
quantidade deles ou do conjunto de componentes.

Fonte: (CBIC, 2016, p.31)

ESTIMATIVAS DE CUSTOS E ORÇAMENTOS

A extração automática de quantitativos do projeto facilita e otimiza o processo de


orçamentação de uma obra. Com um levantamento mais preciso de quantificação, a
tecnologia BIM fornece soluções também na área de orçamentos, utilizando softwares que
vinculam os elementos do projeto com seus respectivos custos e detalhes construtivos,
gerando assim uma estimativa de custos mais precisa.
22

MAQUETE ELETRÔNICA

É possível a geração de imagens renderizadas de alta qualidade e definição dos


próprios modelos BIM elaborados para a criação de uma edificação ou para gerir a sua
construção (Figuras 8 e 9). Por meio de recursos como sombreamento, iluminação, inserção
em contexto (endereço local e imagens do entorno), maquetes eletrônicas surgem e podem ser
utilizadas como material de publicidade e promocional, e também no estande de vendas de um
negócio.

Figura 8 - Figura gerada por um software BIM mostrando duas edificações inseridas
virtualmente no local de construção.

Fonte: (CBIC, 2016, p.43)


23

Figura 9 - Figura gerada e renderizada por um software BIM mostrando interior de uma
edificação modelada.

Fonte: Autoria própria (2017)

ANÁLISE DE CONSTRUTIBILIDADE

A concentração de diversos tipos de subsistemas em uma construção pode ser um


problema.
Para essas partes críticas, muito ‘poluídas’ de instalações, não basta que se resolvam
os conflitos físicos (coordenação geométrica). É preciso também estudar e definir a
sequência da montagem porque, em alguns casos, tal sequenciamento é vital para
viabilizar a construção, tamanha a falta de flexibilidade. Esta é a definição de
‘construtibilidade’ – existe uma sequência ótima de montagem para qualquer
conjunto de instalações ou edificação. Combinando recursos BIM, como a
construção virtual (Virtual Design & Construction), a identificação automática de
interferências (clash detection) e o planejamento 4D, podem-se realizar simulações e
análises da construtibilidade com um nível sem precedentes de confiança e precisão.
(CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO, 2016, p. 42).
A Figura 10 mostra como é possível obter com detalhes elementos construtivos de
uma construção.
24

Figura 10 - Figura gerada por um software BIM mostrando uma montagem de uma estrutura
metálica muito complexa.

Fonte: (CBIC, 2016, p.42)

COORDENAÇÃO ESPACIAL

Os softwares BIM localizam automaticamente as interferências entre os objetos que


compõem um modelo. Esta funcionalidade é conhecida como clash detection. Os relatórios
dos conflitos encontrados entre as diversas disciplinas em um modelo BIM em
desenvolvimento, podem ser extraídos automaticamente e compartilhados com as equipes
responsáveis por cada um dos diferentes projetos. Alguns softwares oferecem formatos
padronizados de listas de interferências que já incluem a imagem do problema e referências
da sua localização no modelo. Este uso específico do BIM será parte do estudo deste trabalho,
onde será mostrado como foi a implementação do mesmo em um escritório de engenharia
onde utilizou-se o software Autodesk Navisworks.

Figura 11 - Imagem 3D renderizada, gerada por um software BIM, identificando uma


interferência física (clash) entre as tubulações de dois subsistemas.

Fonte: (CBIC, 2016, p.34)


25

Esta técnica facilita a compatibilização dos diversos subsistemas que se encontram em


um projeto, onde mais tempo é despendido na hora de projetar para que todos os projetos
estejam dentro das normas e compatíveis uns com os outros, porém tempo e dinheiro são
economizados no momento da execução da obra, já que os erros e desperdícios são bem
menores.

COORDENAÇÃO DE CONTRATADOS

Algumas soluções BIM possibilitam o agrupamento de componentes de um modelo,


para o qual se podem definir atributos comuns, por exemplo, o nome de uma
empresa contratada para realizar essa parte dos serviços. A lista de atividades,
considerando suas precedências e inter-relações de dependência e prioridade,
quantidades e durações, podem então ser programadas e controladas, com a
facilidade da visualização no modelo, dos componentes que correspondem a cada
uma delas (Figura 12). Esse recurso facilita muito e torna intuitivo o trabalho de
balanceamento e controle de diferentes equipes de produção. (CÂMARA
BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO, 2016, p. 45).

Figura 12 - Controle de serviços realizados por diferentes contratados, identificados no


modelo BIM através de um código de cores. As atividades são programadas em cronogramas
também vinculados aos componentes do modelo.

Fonte: (CBIC, 2016, p.46)


26

RASTREAMENTO DE COMPONENTES

Também se pode utilizar um modelo BIM para rastrear e controlar componentes de


uma edificação ou instalação em construção (Figura 13). Nela, os componentes pré-
fabricados que compõem as arquibancadas de um estádio estão identificados através
de um código de cores que correspondem às peças já produzidas na fábrica de pré-
moldados, prontas para serem despachadas pra obra, já recebidas na obra, já
montadas e danificadas. (CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA
CONSTRUÇÃO, 2016, p. 46).

Figura 13 - Controle de componentes pré-fabricados, através de um código de cores.

Fonte: (CBIC, 2016, p.47)

GESTÃO DE ATIVOS

Modelos BIM podem ser usados como base de dados, para a realização de processos
de manutenção e gestão de ativos, após a conclusão e entrega de uma obra. Alguns
softwares BIM possuem funcionalidades que possibilitam a exportação automática
do subgrupo de informações que correspondem ao COBie - Construction Operations
Building Information Exchange – é um formato para publicação de um subgrupo de
informações de uma edificação, centrado na modelagem de dados não geométricos.
Este é um formato padronizado, capaz de capturar dados em suas origens e ao longo
de todo o desenvolvimento de um projeto que são importantes para suportar
operação, manutenção e gestão de uma edificação depois de construída e entregue
para uso. (CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO, 2016,
p. 47).
Sempre existirão informações que serão importantes para futuros processos de
manutenção e gestão do empreendimento já construído. A Figura 14 mostra um exemplo de
como isso pode acontecer com o uso da tecnologia BIM.
27

Figura 14 - A imagem da esquerda mostra uma vista renderizada de parte do modelo


estrutural BIM de uma edificação, enquanto a da direita documenta uma das fases de
construção, num angulo bem semelhante ao utilizado para a criação da imagem.

Fonte: (CBIC, 2016, p.48)

3.4 DESAFIOS DO USO DO BIM

Um grupo de especialistas que tem trabalhado sistematicamente com o BIM no Brasil


foi consultado e contribuiu para a construção da resposta sobre a pergunta que questiona por
que a adoção do BIM não acontece rapidamente. A maioria dessas pessoas consultadas é
colaboradora da Comissão Especial de Estudos CEE-134 da ABNT (Associação Brasileira de
Normas Técnicas), na qual está sendo desenvolvida a primeira Norma BIM Brasileira.
As opiniões coletadas foram, então, compiladas e organizadas, mas todas elas podem
ser relacionadas a peculiar inércia e a resistência às mudanças por partes das organizações e
pessoas envolvidas, a dificuldade de entendimento e compreensão do que é BIM e dos seus
reais benefícios, as questões culturais e particularidades do ambiente e do mercado brasileiro
e as especificidades e os aspectos intrínsecos da tecnologia BIM.
As causas que impedem a adoção BIM de uma forma mais ampla são diversas, mas
uma das principais tem a ver com a própria questão da mudança que a migração BIM
significa para as empresas e organizações. Então, se pode dizer que o ser humano geralmente
rejeita o que é desconhecido, e o BIM ainda é pouco conhecido. A maioria das pessoas tem
dificuldades com as mudanças, e alguns de fato, não querem mudar. Uma mudança ou
transformação indica a alteração de um estado, modelo ou situação anterior para um estado,
modelo ou situação futura, por razões inesperadas e incontroláveis, ou por razões planejadas e
premeditadas. Tomar a decisão de adotar BIM significa decidir realizar uma mudança na
maneira como as atividades e os processos são atualmente executados.
28

Outro ponto fundamental que impede a adoção BIM e impede que ela se dissemine
mais largamente está relacionado ao entendimento e à correta compreensão da tecnologia com
os seus reais benefícios. Não é fácil, tampouco intuitivo, compreender corretamente o que é
BIM e o que a sua adoção pode significar para a indústria da construção civil.
Então, é possível afirmar que a adoção BIM não acontece mais rapidamente pois não é
muito fácil, tampouco simples, compreender o que é BIM e qual o seu significado. Também
não é fácil entender os potenciais benefícios que a adoção BIM pode proporcionar e os
envolvidos num empreendimento, num primeiro momento, não conseguem enxergar que eles
já pagam uma conta muito alta devido a erros, retrabalhos, atrasos, demandas e processos. Os
proprietários e investidores brasileiros ainda não se deram conta de que eles seriam os
principais beneficiários da adoção BIM. E os bancos e demais agentes financiadores e
seguradoras ainda não perceberam que a maior precisão garantida pelos processos BIM
possibilita a prática de taxas mais baixas, em consequência da redução dos riscos dos
empreendimentos.
Uma visão errônea, porém bastante disseminada é que o BIM seria um substituto do
CAD, quando é, na verdade, uma inovação tecnológica muito mais profunda, pois altera
radicalmente todo o processo de projeto, desde a concepção até o gerenciamento do
empreendimento.
Barreiras culturais ou particularidades do ambiente e do mercado brasileiro também
podem ser apontadas como dificultadores. Muitas vezes não se valoriza o planejamento dos
empreendimentos construtivos e ainda não há um número de profissionais suficientemente
capacitados em BIM no nosso mercado. O brasileiro ainda acredita e aposta em soluções
‘rápidas e baratas’, onde o resultado muitas vezes é pior do que o esperado.
Os maiores beneficiados pela adoção BIM são os contratantes, que respondem pelo
produto final construído perante os clientes, mas o BIM precisa ser aplicado ainda na fase do
desenvolvimento dos projetos. Sem isso não existe BIM. Para os arquitetos e projetistas,
entretanto, a exigência do BIM acaba representando, além da necessidade de investimento e
capacitação, um aumento substancial de escopo e responsabilidades, sem que sua
remuneração seja adequadamente revista em conformidade ao novo escopo ampliado. Nem
todos que atuam na indústria da construção civil no Brasil se interessam verdadeiramente por
processos mais eficazes e transparentes e acabam se valendo da indefinição de projetos para
tirar proveito dela.
O investimento para viabilizar a implementação BIM é desproporcional aos atuais
valores de remuneração dos projetistas, especialmente na área de instalações onde os projetos
29

são sub-remunerados. Em geral, não existe interesse pelo trabalho colaborativo, cada um se
preocupa só com sua parte. Algumas pessoas são céticas e pensam que BIM pode ser um
‘modismo’ passageiro e também os modelos educacionais da maioria das universidades
brasileiras constituem barreiras à disseminação da tecnologia BIM. As mudanças nas grades
curriculares são difíceis, exigem processos longos, e os professores, de modo geral, não são
estimulados às inovações.
A participação ativa do CONFEA, CREA e CAU é de extrema importância nas
iniciativas existentes para a disseminação do BIM. Ainda é difícil encontrar documentos de
origem brasileira definidores de boas práticas que auxiliem nos processos de seleção,
contratação e gerenciamento do projeto e empreendimento utilizando BIM. Além disso, não
há bibliotecas de componentes BIM que correspondam aos produtos produzidos e utilizados
na indústria brasileira.
Existem algumas questões e necessidades intrínsecas à tecnologia BIM, que também
se constituem obstáculos a uma adoção mais ampla, sua adoção requer esforço, aprendizado e
investimento. Não é simples nem fácil calcular e comprovar o retorno sobre o investimento
(ROI) no BIM, e também é difícil mensurar alguns dos principais benefícios oferecidos pelo
BIM, que é justamente o aumento da precisão dos projetos e do planejamento.
É possível resumir bem os entraves para adoção do BIM de acordo com Manzione
(2016), em um estudo realizado por seu orientando Willian Santos, onde são apontados alguns
fatores pessoais, tecnológicos e de gestão como dificultadores da implementação BIM. São
eles:
FATORES PESSOAS:
1. Falta de tempo e planejamento para a aquisição do conhecimento;
2. Falta de consultor técnico (cultura BIM inexistente);
3. Resistencia à mudanças pela equipe (em geral pelos funcionários mais
experientes);
4. Dificuldade em trabalhar em equipe simultaneamente;
5. Falta de trabalho em parceria / relação com complementares/ relações conflitantes
e não cooperativas. Conflito entre as diversas disciplinas, risco na produtividade,
retrabalhos e perda de prazos;
6. Falta de conhecimento dos princípios enxutos;
7. Medo do desconhecido x falta de interesse pela nova tecnologia;
8. Falta de conhecimento do que é BIM;
9. Fixação em cultura operacional própria. Dificuldade em integração e colaboração
com processos padronizados;
10. Falta de conhecimento da estratégia do negócio e competitividade;
30

11. Falta de clareza nos itens de fases e etapas do projeto;


12. Falta de avaliação no início e no fim de cada etapa, deixando pendências para
fase seguinte;
13. Falta de conhecimento dos softwares adequados às atividades necessárias;
14. Escassez de mão de obra especializada, alta rotatividade de cooperadores,
estagiários, arquitetos, engenheiros;
15. Remuneração de profissionais qualificados: são necessárias mais horas de
profissionais de alta qualificação nas primeiras etapas de projeto, pois estas são mais
caras que no processo tradicional;
16. Composição das equipes de projeto, dimensionamento para atender mais de um
projeto simultaneamente;
17. Compartilhamento de responsabilidade, nova cultura dos agentes da construção;
18. Dificuldade na percepção individual do quadro de necessidades do produto;
19. Dificuldade em identificar perdas e as causas de ocorrência;
20. Falta de autonomia de profissionais para solução de problemas;
21. Falta de disponibilidade de tempo para visitar a obra;
22. Mudança de prioridades em etapas avançadas;
23. Mau uso de materiais, especificação de material fora de fabricação;
24. Erro na representação de elementos, dificuldade na compatibilização, de
responsabilidade do projetista de arquitetura;
25. Mudanças nos órgãos reguladores, sem prévio aviso ou descuido de consultor;
26. Adaptação e mudanças necessárias à nova maneira de trabalhar, novo fluxo e
trabalho, treinamento da equipe e atribuição de novas responsabilidades;
27. A difícil transformação para o ‘pensamento em BIM’ na parte de recursos
humanos;
28. Convencer a liderança dos benefícios do BIM;
29. A falta de conhecimento da tecnologia pela equipe de projeto e dentro da
organização é a principal razão para não implementar;
30. Conscientizar-se de que a transição é crítica para todos, que é imprescindível a
difusão do conhecimento dos potenciais e das responsabilidades a todos os
colaboradores.
FATORES DE TECNOLOGIA:
1. Falta de infraestrutura de TI – necessidade de equipamentos/computadores com
maior poder de processamentos; isto gera atraso no desenvolvimento das atividades
planejadas;
2. Deficiências próprias do software – desconhecimento da forma correta de
operação, ineficiências e problemas quanto a processar o modelo, equívocos e
deficiência no software adotado;
3. Compatibilidade – uso de software de diferentes fornecedores, falta de
interoperabilidade, conflito entre diversos projetos;
31

4. Falta de conhecimento dos ganhos para todas as etapas de projeto associados às


novas tecnologias;
5. Nem todos os escritórios complementares utilizam softwares compatíveis a
interoperabilidade;
6. Projeto para complementares deve ir modelado;
7. Falta de detalhamento;
8. Falta de precisão nas informações trabalhadas e recebidas;
9. Inexperiência no desenvolvimento de modelos tridimensionais;
10. Correção de projetos em 2D são difíceis de administrar em todas as peças
gráficas;
11. Problemas em modelagem de elementos, falta de famílias de componentes;
12. Necessidade de adaptação da biblioteca existente no software às normas
brasileiras de construção (considerando que biblioteca original do software é
estrangeira);
13. Facilidade de partilha de informações entre os aplicativos de software que as
utilizam, simulação de processos de construção; apoio as operações de resposta a
emergências;
14. Banco de dados único para o desenvolvimento de projeto, permite alterações
dinâmicas;
15. Melhoria da comunicação interdisciplinar, redundâncias de dados eliminadas,
redução de retrabalho e erros;
16. Necessidade do processo ser continuamente melhorado para maturidade.
FATORES DE GESTÃO:
1. Receber os projetos nos prazos combinados para compatibilizar;
2. Atender à cronogramas;
3. Indecisão do cliente, geração de perdas;
4. Definir ações que reduzem perdas;
5. Falta de incorporação de construtibilidade;
6. Riscos de modificações de projeto por erros não percebidos na fase de projeto;
7. Prazos dilatados por falta de definições de projeto ou do cliente;
8. Falta de contratos claros em relação ao programa de necessidades;
9. Falta de interações entre os agentes (em tempo necessário as definições);
10. Alterações de projeto, retorno a etapas anteriores;
11. Falta de insumos, dados necessários para concepção e tomadas de decisão;
12. Falta de fluxo de trabalho confiável;
13. Formulação correta do programa de necessidades;
14. Avaliação da satisfação dos usuários com o produto edificação;
15. Falta de conhecimento de estratégia para alcançar maior nível de
competitividade;
32

16. Necessidade de integração dos processos relacionados à construção do produto


edificação;
17. Falta de capital necessário para investimento com máquinas e treinamentos e na
implementação;
18. Barreiras econômicas para micro e pequenas empresas;
19. Falta de apoio público à inovação na área de negócios;
20. Dificuldade no dimensionamento de custos de produção;
21. Gestão de recursos humanos, recursos financeiros e tecnológicos;
22. Dificuldade em convencer os profissionais a desenvolver uma nova maneira de
projetar diferente do CAD;
23. Uso de softwares não compatíveis com IFC;
24. Atraso em entrega do projeto completo por falta de gestão das entregas e
compatibilizações;
25. Deficiência no esclarecimento do escopo do projeto detalhado, desde as reuniões
iniciais;
26. Falta de definição do nível de desenvolvimento (ND ou LOD);
27. Mudança de cultura no processo de projeto, planejamento e gestão; exigência de
preparação e capacitação prévios;
28. Custo da implantação da modelagem, investimento na compra de licenças de
softwares e novos equipamentos e ao treinamento da equipe;
29. Grandes mudanças em todas as etapas de projeto;
30. Analise dos processos tradicionais e revisão dos seus métodos de trabalho,
reorganização de equipes e definição de novas lideranças e responsabilidades;
31. Encontrar maneiras de continuar a produção interna de projeto enquanto
simultaneamente implementa a nova tecnologia em projetos piloto;
32. Mudança na forma de trabalho, atenção e reflexão sobre o negócio, sobre o
planejamento estratégico prevendo custos apropriados de investimentos, calculando
o retorno a curto, médio e longo prazo;
33. Avaliar e reavaliar no momento da implementação, estrutura organizacional,
gestão comercial, gestão financeira, recursos humanos, sistemas de informação,
gestão de projetos;
34. Dificuldade por falta de guias e manuais de implementação e orientação no uso
da modelagem e sua aplicação; 35. Implementação de novos estágios: diagnósticos,
plano de ação, avaliação e correção do plano estratégico;
36. Decisão de atravessar o abismo da inovação e investir em tecnologia;
37. Processos com mudanças fundamentais;
38. Inexperiência no desenvolvimento de modelos tridimensionais.
33

3.5 CONTEXTO BRASILEIRO

Eventos e medidas vem acontecendo no Brasil para que o uso do BIM seja
regularizado e difundido em todo o território brasileiro. Isso inclui protocolos BIM,
especificações de novos profissionais e, juntamente com o SENAI, o desenvolvimento de
programas de capacitação. Procura-se desenvolver diretrizes para o aprendizado BIM a nível
superior federal e treinamento profissional. (KASSEM; AMORIM, 2015).
Nos anos de 2016 e 2017 é possível ver várias iniciativas no Brasil que apoiam o uso
do BIM, dentre elas temos o Comitê Estratégico de Implementação do Building Information
Modeling, criado por meio de decreto presidencial em junho. Seus integrantes deram o
primeiro passo formal para a formulação da Estratégia Nacional de Disseminação de BIM. O
Comitê, realizado no Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), aprovou
o regimento interno do colegiado e a formação dos grupos de trabalho, que devem ter as
atividades concluídas até julho de 2018.
Outras iniciativas que podem ser citadas são:
• Caderno de Apresentação de Projetos em BIM de Santa Catarina – procedimentos
adotados pelo Comitê de Obras e Serviços que deverão ser utilizados pelos prestadores
de serviços ao estado de Santa Catarina para a apresentação de projetos em BIM.
• Guia AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) de boas práticas
em BIM.
• CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) – elaborou uma coletânea de
implementação do BIM para construtoras e incorporadoras.
• ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) por meio de uma comissão
especial de estudo voltada ao BIM, já elaborou três normas referentes ao sistema de
classificação.
• Estado de Santa Catarina decretou que até 2018 todas as obras públicas deverão
utilizar a tecnologia BIM.
• Termo de cooperação técnica entre Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
• Secretaria de Infraestrutura e Logística e universidades do Paraná firmam parceria
para fomentar tecnologia BIM/ Plano de Fomento BIM.

Como é possível perceber, o uso da tecnologia BIM não é algo mais para o futuro e
sim já é possível ver seu uso hoje no Brasil. Eventos também tem acontecido para incentivar e
promover seu uso, segue abaixo alguns desses eventos:
34

• 2º Fórum de educação em BIM – 3 de novembro de 2016 - ISITEC – São Paulo


• 3º seminário regional sul de BIM - 3 e 4 de novembro de 2016 – Santa Catarina
• Autodesk University BRASIL 2016 – 13 e 14 de setembro de 2016 – São Paulo
• 1º prêmio BIM em excelência – 1 de novembro de 2016 – SindusCon – São Paulo
• 8º Seminário Internacional BIM e 2º prêmio BIM em excelência – 26 de outubro de
2017 – SindusCon – São Paulo

Mesmo com um grande avanço do uso do BIM, ainda encontram-se muitos problemas
quando se trata de interoperabilidade no Brasil. A maioria dos processos de formação de
preços e de contratação são baseados em licitação por menor preço, o que cria uma lacuna
entre projeto e execução, indo na contramão do que propõe o processo BIM. Diferentemente
do Brasil, em países mais desenvolvidos, o conceito do Integrated Project Delivery (IPD) é
realidade e resulta em empreendimentos com mais qualidade, eficácia e colaboração entre
projetistas, construtores, governo e partes interessadas. (KASSEM; AMORIM, 2015).
Visando esse desenvolvimento no país, foi criado o Projeto de Apoio aos diálogos
Setoriais UE-Brasil, com o objetivo de contribuir na parceria estratégica entre o Brasil e a
União Européia através do intercâmbio de conhecimento técnico. O projeto é coordenado pelo
MPOG e pela DELBRA. O estudo tem como objetivo selecionar dois peritos sêniors, um do
Brasil e um da Europa, para avaliar o nível que se encontra o BIM nos países envolvidos em
termos públicos e privados, visando a colaboração mútua de ambas as partes no
desenvolvimento BIM. (MANZIONE, 2015).
A seguinte abordagem apresentada na Tabela 1 mostra o que os consultores desse
Projeto de Apoio sugeriram para tornar o BIM mandatório em programas financiados pelo
Governo Federal.
35

Tabela 1 - Abordagem BIM sugerida pelos autores do Projeto de Apoio aos diálogos setoriais
União-Européia- Brasil.

Fonte: KASSEM; AMORIM (2015).

3.6 NÍVEIS DE MATURIDADE BIM

O BIM pode ser entendido de várias formas de acordo com a visão de diferentes
pessoas, seja baseado em experiências prévias ou percepção pessoal. Alguns vêm a tecnologia
como modelagem orientada a objetos, outros como a possibilidade de criar modelos IFC.
Desta forma, surge a necessidade de estabelecer uma definição comum em termos de nível de
maturidade BIM. (KHOSROWSHAHI; ARAYICI, 2012).
Para essa identificação, Succar (2008) define a subdivisão dos níveis de maturidade
BIM em três componentes, que podem auxiliar na classificação da implementação BIM:
• Estágio 1 - Modelagem baseada em objetos;
• Estágio 2 - Modelo baseado em colaboração;
• Estágio 3 - Integração baseada em rede.
Os leveis, ou estágios de maturidade BIM podem ser definidos da seguinte forma:
• Pré-BIM: Se refere as práticas tradicionais 2D, ainda com ineficiência e barreiras
significativas. A maioria da informação é armazenada em documentos escritos, pranchas e
detalhes 2D. Existe grande possibilidade de existirem erros humanos e problemas entre
diferentes versões de projeto. (KHOSROWSHAHI; ARAYICI, 2012).
• BIM Level 1 - Se refere à transição de 2D para o 3D, onde o modelo passa a ser construído
com elementos arquitetônicos reais. Nessa fase, as disciplinas ainda são tratadas
separadamente e a documentação final ainda é composta, majoritariamente, por desenhos 2D.
(KHOSROWSHAHI; ARAYICI, 2012).
36

• BIM Level 2 - Existe um progresso da modelagem para a colaboração e interoperabilidade.


Tal level requer um compartilhamento integrado de dados entre as partes envolvidas com a
finalidade de suprir a abordagem colaborativa. (KHOSROWSHAHI; ARAYICI, 2012).
• BIM Level 3 - O estágio 3 já passa da colaboração para a integração, refletindo a filosofia
real BIM. Nesse nível de maturidade os envolvidos no projeto interagem em tempo real
permitindo análises complexas nas fases iniciais de projeto. O produto final inclui, além da
documentação 2D, propriedades semânticas de objetos, princípios de construção enxuta,
políticas sustentáveis, etc. (KHOSROWSHAHI; ARAYICI, 2012).

Figura 15 - Níveis de maturidade BIM.

Fonte: FEITOSA (2016)

Para o presente estudo, foi definido alcançar o BIM level 2 para a empresa de
engenharia onde a tecnologia foi implementada.
37

4 ESTUDO DE CASO

Este capítulo demonstra como foi elaborado e executado um Plano de Execução BIM
para um edifício multifamiliar de 13 pavimentos para a coordenação 3D das disciplinas de
estrutura e instalações hidrossanitárias com o uso dos softwares QiBuilder, TQS e Autodesk
Navisworks.

4.1 PLANO DE EXECUÇÃO BIM

O Plano ne Execução BIM que se encontra no Apêndice A deste trabalho foi


elaborado baseado no guia e templates do BIM Project Execution Planning Guide – Version
2.1 criados pela Pennsylvania State University no ano de 2011.
Para o sucesso da implementação BIM em um escritório, todo processo deve ser bem
detalhado e documentado, pois assim garante-se que todas as partes envolvidas saibam seus
respectivos deveres e responsabilidades.
A criação e implementação do Plano de Execução BIM pode ser resumida em 4
etapas:
1. Identificar as prioridades de usos do BIM durante as fases de planejamento, projeto,
construção e operação:
Uma das etapas mais importantes no processo de planejamento é definir claramente o
valor potencial do BIM no projeto e para os membros da equipe do projeto, definindo os
objetivos gerais para a implementação do BIM. Essas metas podem ser baseadas no
desempenho do projeto e incluem itens como redução da duração da programação, maior
produtividade do campo, aumento de qualidade, redução de custos de ordens de mudança ou
obtenção de dados operacionais importantes para a instalação. (CIC, 2011, p.3, tradução
nossa).

2. Elaborar o processo de execução BIM criando mapas de processos:


Uma vez que a equipe identificou os usos do BIM, um procedimento de mapeamento
de processo para planejar a implementação do BIM precisa ser executado. Inicialmente, um
mapa de alto nível que mostra o sequenciamento e a interação entre os principais usos do BIM
no projeto é desenvolvido. Isso permite que todos os membros da equipe compreendam
claramente como seus processos de trabalho interagem com os processos realizados por
outros membros da equipe. (CIC, 2011, p.4, tradução nossa).
38

3. Definir os entregáveis BIM na forma de troca de informações:


Uma vez que os mapas de processos apropriados foram desenvolvidos, as trocas de
informações que ocorrem entre os participantes do projeto devem ser claramente
identificadas. É importante que os membros da equipe, em particular o autor e o destinatário
de cada transação de troca de informações, compreendam claramente o conteúdo da
informação. (CIC, 2011, p.5, tradução nossa).

4. Desenvolver a infraestrutura de contratos, procedimentos de comunicação, tecnologia e


controle de qualidade para apoiar a implementação:
Após o uso do BIM para o projeto ter sido identificado, os mapas do processo do
projeto são personalizados, e os resultados da BIM são definidos, a equipe deve desenvolver a
infraestrutura necessária no projeto para suportar o processo BIM planejado. Isso incluirá a
definição da estrutura de entrega e da linguagem do contrato, definindo os procedimentos de
comunicação, definindo a infraestrutura tecnológica e identificando procedimentos de
controle de qualidade para garantir modelos de informações de alta qualidade. (CIC, 2011,
p.5, tradução nossa).

A Figura 16 resume os passos necessários para a criação de um Plano de Execução


BIM.

Figura 16 - Os 4 passos para criação de um Plano de Execução BIM.

Fonte: Autoria própria (2017)


39

Todas essas informações foram levantadas e colocadas no Plano de Execução BIM


criado para a empresa de engenharia em questão. Criou-se então uma nova rotina de trabalho
para a compatibilização de projetos no escritório, o que será melhor detalhado no item a
seguir.

4.2 COMPATIBILIZAÇÃO 3D EM EDIFÍCIO MULTIFAMILIAR

Para a aplicação da tecnologia BIM na compatibilização 3D de projetos, verificou-se,


primeiramente, o atual fluxo de trabalho do escritório para então sugerir um novo em que
fosse possível o coerente uso do BIM.
No atual fluxo de trabalho analisado, os engenheiros e arquitetos recebem o arquivo
do projeto arquitetônico no formato DWG (extensão de arquivos de desenho em 2D e 3D
nativa do software AutoCAD), e então desenvolvem simultaneamente os projetos
complementares de instalações prediais no software QiBuilder, e o estrutural no software
TQS, todos eles sobre o projeto arquitetônico recebido. Após terminarem os projetos
complementares, os engenheiros exportam seus respectivos projetos novamente em DWG
onde a compatibilização é feita em 2D no programa AutoCAD pela arquiteta do escritório. A
Figura 17 mostra o atual fluxo de trabalho da empresa realizado para criação e
compatibilização de projetos.

Figura 17 - Atual fluxo de trabalho da empresa.

Fonte: Autoria própria (2017)


40

No novo fluxo de trabalho sugerido entram dois novos softwares: o Autodesk Revit e o
Autodesk Navisworks. O Autodesk Revit serve para modelar o projeto arquitetônico em 3D e
que também pode ser utilizado para fazer projetos de PPCI (Plano de Prevenção e Proteção
Contra Incêndio), e o Autodesk Navisworks que faz a compatibilização das diversas
disciplinas em 3D. Neste novo fluxo de trabalho os engenheiros e arquitetos exportam os
arquivos de seus respectivos projetos no formato IFC (Industry Foudation Classes, formato
desenvolvido pela buildingSMART que fornece uma solução de interoperabilidade entre
diferentes aplicativos de software), onde a compatibilização é feita toda em 3D no
Navisworks. A Figura 18 mostra o novo fluxo de trabalho sugerido para a empresa.

Figura 18 - Novo fluxo de trabalho sugerido para a empresa.

Fonte: Autoria própria (2017)

O presente estudo não entrará em detalhes sobre a origem e composição dos formatos
de arquivos citados anteriormente, visto que este é um assunto que necessita de profunda
revisão bibliográfica e foge dos objetivos do trabalho.
O novo fluxo de trabalho foi então testado para a compatibilização dos projetos
estrutural e hidrossanitário no software Autodesk Navisworks. Inicia-se o processo importando
os arquivos IFC provenientes do TQS e do QiBuilder para o Navisworks. As Figuras 19, 20 e
21 mostram como os arquivos IFC aparecem no software de compatibilização.
41

Figura 19 - Projeto estrutural importado como arquivo IFC no Autodesk Navisworks.

Fonte: Autoria própria (2017)

Figura 20 - Projeto hidrossanitário importado como arquivo IFC no Autodesk Navisworks.

Fonte: Autoria própria (2017)


42

Figura 21 - Projetos estrutural e hidrossanitário importados como arquivos IFC no Autodesk


Navisworks.

Fonte: Autoria própria (2017)

A etapa seguinte consiste da identificação das interferências do modelo. Visando


otimizar o processo de identificação, foram criadas seleções de objetos a serem confrontados
no pavimento térreo do modelo. As interferências foram identificadas através de testes de
conflito (clash detection) utilizando recursos dos softwares Autodesk Navisworks e através de
análise visual do modelo tridimensional.
Em geral, os conflitos detectados no BIM podem ser classificados em três tipos:

• Hard Clash - Ocorre quando dois objetos ocupam o mesmo espaço. Quando há o
choque entre os elementos. É o tipo mais comum e prejudicial de interferência.

• Soft Clash ou Clearance Clash - São os conflitos que ocorrem sem o choque físico dos
objetos. Ocorrem em elementos que demandam certa tolerância espacial livre dentro
de um raio específico. Por exemplo, a execução de forro em placas de gesso, que para
ser correta precisa de uma distância mínima para a passagem de tubulações entre ele e
a laje.
43

• 4D Clash ou Workflow Clash - São conflitos que são detectados durante o


sequenciamento de atividades ao longo do tempo de construção. Eles não são visíveis ao
final do processo, mas somente durante etapas específicas da construção. São bastante
úteis para checar conflitos dentro do canteiro de obras, com elementos como gruas e
máquinas que atuam temporariamente.
Para este estudo realizou-se apenas interferências do tipo Hard Clash entre os
elementos estruturais e hidrossanitários do térreo. A Figura 22 mostra a seleção do layer
Térreo do modelo estrutural para ser analisado com o layer Térreo do modelo hidrossanitário.
Estes layers já são definidos nos softwares de autoria dos modelos, no caso o TQS e o
QiBuilder. Nota-se também na figura que o tipo de Clash que será realizado é do tipo Hard,
com uma tolerância de 2 cm. É importante ressaltar que estes layers devem ser bem definidos,
para que não ocorra do programa gerar falsas interferências.

Figura 22 - Configuração no Autodesk Navisworks para realização do teste de interferências.

Fonte: Autoria própria (2017)

Após clicar no botão ‘Run Test’ que aparece na figura anterior, o programa mostra
quais elementos estão conflitando. Foram encontradas 67 interferências no pavimento térreo
entre os elementos estruturais (pilares e vigas) e elementos hidrossanitários (tubulações de
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água fria, água quente, sanitárias, peças e acessórios). Gera-se então um relatório em um
formato que se possa abrir em no programa Microsoft Excel, onde as interferências são
analisadas, revisadas e depois corrigidas nos modelos (Figura 23).

Figura 23 - Parte do relatório das interferências do pavimento térreo gerado no programa


Microsoft Excel para revisão dos engenheiros.

Fonte: Autoria própria (2017).

Uma matriz de interferências também foi criada para ter controle de todas as
interferências que foram realizadas no projeto. A Figura 24 mostra parte desta matriz criada
no programa Microsoft Excel.
Figura 24 - Parte da matriz de interferências.

Fonte: autoria própria (2017)


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Todos os arquivos criados e mostrados neste estudo podem ser fornecidos pelo autor
do mesmo mediante requisição.
5 CONCLUSÕES

É notável o benefício que a tecnologia BIM traz para a coordenação de projetos em 3D


em um escritório de engenharia, ela facilita a visualização do projeto, a fácil identificação de
conflitos entre as diversas disciplinas, otimiza tempo na construção evitando retrabalhos e traz
economia para o construtor. Torna-se importante ressaltar que, além disso, esse sistema
organizacional também estará contribuindo com a sustentabilidade do planeta, uma vez que,
conforme já mencionado, evita-se inúmeros retrabalhos e desperdícios de materiais,
lembrando que o concreto, com sua vasta emissão de gás carbônico, é considerado um dos
grandes vilões ao meio ambiente.
Entretanto, algumas dificuldades foram encontradas durante o processo de
implementação que durou aproximadamente três meses. Falhas foram percebidas no momento
de importar os arquivos IFC no programa Autodesk Navisworks, por exemplo, as origens do
projeto estrutural e hidrossanitário não eram as mesmas e um projeto estava aparecendo
rotacionado 90º em relação ao outro. Estes problemas foram corrigidos nas configurações dos
próprios softwares de modelagem QiBuilder e TQS, e outros ajustes que fossem necessários
eram feitos no próprio programa de compatibilização.
Verificou-se também que é necessário que a equipe do escritório disponha de mais
tempo para estudar e entender bem o conceito e aplicações do BIM. Três meses é pouco
tempo para uma implementação completa, ou seja, com treinamentos de novos softwares e
testes com o novo fluxo de trabalho a realizar-se. Muitas vezes o aprendizado é longo e
demorado e alguns acabam desistindo do processo no meio do caminho, por isso é muito
importante que a equipe esteja motivada e comprometida para o uso de uma nova tecnologia.
O projeto piloto que foi o edifício multifamiliar de 13 pavimentos já estava em
processo de construção quando realizou-se a compatibilização dos projetos usando a
tecnologia BIM. Notou-se que os projetos foram para a obra com alguns conflitos entre
disciplinas onde tempo e dinheiro foram gastos para solucionar estes problemas na própria
obra, o que poderia ter sido evitado na fase de projetos corrigindo as incompatibilidades
encontradas como mostrado neste estudo, evidenciando a vantagem do uso do BIM.
Os passos sugeridos no guia BIM oferecido pela Pennsylvania State University para a
elaboração do Plano de Execução BIM mostraram-se viáveis e de fácil entendimento por
todas as partes envolvidas, visto que o escritório de engenharia continuará a utilizar o fluxo de
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trabalho proposto para a compatibilização de futuros projetos, utilizando esta nova tecnologia
que não é mais tendência e sim realidade seu uso no setor de construção civil brasileiro.
Vale ressaltar que as referências na língua portuguesa a respeito dessa temática são
restritas a artigos e alguns estudos de casos, mostrando-se ainda mais escasso o material
referente a literatura conceitual. A maioria dos materiais encontrados em português falam
apenas sobre o conceito de BIM e não mostram como realmente é o processo de
implementação desta tecnologia em alguma empresa.
Enfim, é possível concluir com este trabalho que a utilização do BIM em empresas
não se refere apenas à utilização de um software, mas também a elaboração de um plano bem
detalhado de implementação, onde todo o processo deve ser planejado e documentado de
acordo com as prioridades de uso do BIM da empresa.
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Parte 1: Implementação do BIM para Construtoras e Incorporadoras. Câmara Brasileira
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APÊNDICE A – PLANO DE EXECUÇÃO BIM


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