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Pade TUpA Tes Fis p> o# V.LLENIN OESTADOEAREVOLUGAO © que ensina o marxismo sobre o Estado 0 papel do proletariado na Revolucio EDITORA HUCITEC Slo Plo 1987 J Ascrasses SOCIAIS E 0 ESTADO 1, OESTADO BUM PRODUTO DO ANTAGONISMO INCONCILIAVEL DAS CLASSES Di-se com 4 doutrina de Marx, neste memento, squilo que, muitas vezes, através da Historia, tem acontecido com as doutrinas dos pensedores revolu~ Gionatios e dos dirigentes do movimento libertador das élasses oprimidas. Os grandes revolucionirios foram sempre perseguidos durante a vide: a sua dex, trina foi sempre alvo d6 ddio mais fetoz, das mais furiosas campanhas de mentiras e difsmasio por per. tedas classes dominantes, Mas, depois ée sua morte, tents-se converté-los em idolos inofensivos, cano ublos por assim dizer, cercar 0 sew nome de um ‘éola de gléria, para 'consolo’” das clisses oprimi des ¢ para o seu ludibrio, enquanto se castrs ¢ {ubstincia do seu ensinamento revoluciontrio, em otando-Ihe o gume, aviltando-o. A bacguese Cy gportunistas do movimento operdrio se unem pre sentemente para infligir ao marzismo am tal “tra. tamento”’. Esquece-se, esbate-se, desvirtua-se o lado. revoluciondrio, a esséncia revolucionaria da douts, ‘Pay & sua alma revolucionaris, Exalta-se e colose cc 7 em primeiro plano o que é ou Dburguesia, Todos os sociais-patriotad (nto riam!: ‘agora, marxistas.,Os sébios burgueses, que_ ainda ‘ntem, na Alemanha, se especializavam em refutes 0 marxismo, falam cada vez mais num Marx ‘‘nacio- sal-alemio", que, a dar-lhes ouvidos, teria educado 65 sindicatos operarios, to magnificamente orgeni- zados, para um guerra de rapina. [Em ais clreunsténcias, € uma vex que se logrou difandir eho amplamente 0 marxismo deformado, a fhossa missto 6, antes de mais nada, resiabelecer a Verdadeira doutrina de Marx sobre © Estado. Para jsso, teremos de fazer longas citagdes das obras de Marx ede Engels. Essas longas citagdes tornarto pe~ jada ¢ exposigio ¢ 80 contribuirio para torné: popular! mas, ¢ absolutamente impossivel dispensi- Tae, Todas as passagens de Marx ¢ Engels, pelo menos as passagens essenciais que tratam do Estado, ever set reproduzidas sob a forma mais completa ossivel, para que oleitor possa fazer ume idéin pes Eoal do conjunto e do desenvolvimento das concep (bes dos fundadores do socialismo cientificd. Assim, Spoiades em provas, demonstraremos, a evidéncia, (que o atual ‘*keutskysmo"” as devurpou. Comecemos pela mais vulgarizada das obras de Engels, A Origem de Fanailia, da Propriedade Priva dave do Estado, cuja sexta ediglo spareceu em Stuttgart, em 1894, Traduziremos 0s nossos extratos Go original alem#o, porque as tradugdes russas, ‘embora numerosas, s30, em sua maior parte, incom pletas ow muito defeituosas. ‘Resumindo a sua andlise historica,.diz Engels: (Bs od de fom apa, un rg im pou, db enter, & said. Nia, pou, Nereida ia moral”, "a images er Tae da Rats, come prende Hegel, am ‘ rod da sociedad ura cera aed eu deen "aimee, cond de qu se sociedad 6 Tiara nua nove one intra, se ‘ivi em antagoiseos iconv de qu 2 pode devencharse, Mas, ara. qbe ess lasses (Seapbias, cm ntereses conics contin, to i enteleworssen © nto deere a 30. Fide sur lta ete, sentivse needa ‘eu fore. que se eocase apaentemente a trad scl, com finde seme coi fos tes da "ord is fore, que sa ‘ocidede, Geande, orem, por cima de dea Se sind oh erm ota. Bis, expressa com toda a clareza, a idéia Tunda- mental do marxismo no que concerne ao papel histé~ Teo ed signficagao do Estado. © Estado ¢ 0 produto, 2 manilestagde do antegonismo inconcilivel dis, Cigages. O Estado aparece onde e na medida eit que Ss antagonismos de classes nZo podem objetivamente Ser contiliados. E, reciprocamente, a existencia do Bsado prova qué a contradigBes de classes fo in- concilidveis E precisamente sobre esse ponto de importéncia capital e fundamental que comesa a deformacio do tmarrismo, seguindo duas inhas principas. ‘De um lado, os idetlogos burgueses ¢, sobretudo, cos da pequena burguesia, origados, sob a presiio dé fatos historicos incontestiveis, a reconhecer que 0 tstado nio existe sendo onde existem 2s contradigdes fa lote de clases, “corrigem’”” Marx de mantira a fazé-lo dizer que o Estado ¢ 0 drgdo da conciliagio das lasses. Para Mara, 9 Estado nfo poderia surgir nem 9 subsistir se a conciliaggo das élisses fosse possivel Para os professores e publicistas burzuesrs ¢ para os ‘isteus despidos de escripulos, resulta, 20 contri, ‘io, de citagdes complacentes de Marx, semeadas em frofusdo, que o Estado é um instéumento de conc! lncfo das classes. Para Marx, o Estado & um érpio ce dominacdo de classe, um érgto de submissdo de uma classe por outra; é a criagdo de uma “ordem** he legalize e consolide essa submissia, amortecendlo ® colisdo das classes. Para os politicos da peqsere burguesia, 20 contritio, a ordem & precisamente a conciliagdo das classes © nfo a submissfo de ume Asse por outra; atenuar a colisio significa conciliar, © ado artancar is classes oprimidas os meios ¢ Processos de luta contra os opressores a cuja dersoca da elas aspieam: Assio na revolugio de 1917, quando a questio da sianificagio do papel do Estado foi posta em tods a sua amplitude, posta praticamente, como que reels mando uma a¢do imediata das massas, todos os sa. istas-revoluciondrios e todos os mencheviques, Sem excecio, calram, imediata e completamente, na {eoria burguesa da ““conciliacdo"” das classes pelo jjstado””. Intimeras resolugdes e artigos desses 90. liticos estdo profundamente impregnados dessa tears burguesa e oportunista da ‘‘conciliaglo’”. Essa den ‘mocracis pequeno-burguesa ¢ incapaz de compreen. de: wite 0 Estado seja 0 drgio de dominaglo de una decerminada classe qué ndo pode concilisr-e comma Sut antipoda (@ classe adversa). A sua nolo do Estado ¢ uma das provas mais manifestas de que os ‘oisos socialistas-revolucionsrios e os nossos men, cheviques ndo sZo socialistas, como nbs, os bolche. Vigues, sempre 0 demonstramos, mas ‘democrates 10 Pequeno-burgueses de friseologia aproximadamente socialist, Em Kautsky, 2 deformagio do marxismo ¢ muito ‘mais sutil. “"Teoricamente™, nfo nega que o Estado Scit 0 drgio de dominagto de uma classe, nem que as contradigées de classe sejam inconcilidveis; ‘mas, comite ou obscurece 0 seguinte: se 0 Estado ¢ 0 « Produto da inconciliabilidade des contradigées de classe, se ¢ uma forga superior & sociedede, "afss. tendo-se cade vex mais da sociedade'", & clato ques libertagdo da classe oprimida s6 & possivel por meio de ums revolucio violenta e da supressdo do aparclho Sovernamental criado pela classe dominante e due, pela sua propria exigténcia, ‘‘se alasta’” da socieds: de. Esta conclusto teoricamente clara por si mesma, tiroura Marx, com inteira precisto, como adianee veremos, da analise historica conereta dos problemas ¢2 revolucio. E foi precisamente essa conslusio que Kautsky “esqueceu'” e desvirtuou, como demons: fraremos detalhadamente uy decurso €2 nossa expos Soto. 2. FORCA ARMADA SEPARADA, PRISOES, ETC, Sraramenic t-mipneeaningto puri (ribo ou doe) — contin Bagels —o Exo") ‘sarecterina, em prio loa, pla dvi dos | sis segundo o tert a Essa divisfo nas parece ‘‘natural"’, mas represen- ‘a uma longg lute com a antige organizagdo patrgrcal por clis ou familias, u © segundo tago cancers, de Bde 6a ‘nat de um poder pls ie do ces [> gande dcamente’ popula eerie em camo fg ama, Ese poder pice spe fad ¢indipensivel, porque a organagi espa tins de populate amas oro inosine de que scodae dvds em css Ese ote ico ese em ado Exalon, Compre ‘den 8 homens arma, con tab Ce ‘ments materia, pede einige cones eto cpt, qu a sree pel) alo ‘ohecs Engels desenvolve a noglo dessa “‘forca"” que se chama Estado, forca proveniente da sociedade, mas superior a ela ¢ que dela se afasta cada vez mais. Em que consiste, principalmente, essa forga? Em desta camentos de homens armados que dispem das pri- sbesyetc. ‘Temos 0 direito de falar em destacamentos de ho- ‘mens armados, porque © poder piblico .proprio @ cada Estado "jf ndo corresponde diretamente”” & Populacio armada, isto ¢, 4 sua “‘organizagio espon- tinea em armas", Como todos os grandes pensadores revoluciona~ ros, Engels esforcarse por atruir a atengto dos trabs Ihadores conscientes para o que @ mediocre pequena ‘hurguesia doniinante considera menos digno de aten- io, mais banal, consagrado por preconceitos nto apenas resistentes, mas, pode-te dizer, petrificados, O exército permanente e a politica s40 os principals instrumentos do poder governamental. Mas, poderia, ser de outra forma? Para a grande maioria dés europeus do fim do sé- culo XIX, aos quais Engels se dirige e que ndo vive Fam nem observaram de perto nenhuma grande.re- 2 Volugio, nfo poderia ser de outra forma. Nao com= peeendem de maneira algume o que seje a “organ. +agio espontinea da populacdo em armas’’. De onde vem a necessidade de corpos espciais de homens at ‘ados (policia, exéreito permanente), separados da sociedade e superiores ee? Ob fiiswaur ds Barope acidental eda Russia respondem, muito naturslmen: te, essa pergunts, por uma ou duas frases collides em Spencer ou em Mikhailovsky, e alegam a compli cagio crescente da vida social," dilerenciagio das fungees sociais, ete, Essas alegagoes parecem ‘‘cientifcas”” etranqti zam admiravelmente 0 bom piiblico, obscurecendo o principal, oessencil: a csio da soeiedade em clases inreconcilavelmente inimigas Se ests cisto nio exstiss, 4 “organizagio espon- tinea da populacto em armas" se dstingutia cota ‘mente, por sua compleridade, por sua tenica ete, da organizaeio primitiva de win bando oe macacos armados de cacetes, ou da de homens primitivos of associados em clis, mas seria possivel. porém, impossivel, porque a sociedade civil ada esté dividida em classes hostis ¢ irreconcilé: veis cujo armamento “espontiteo’” provocafa lata armada. Forma:se o Estado; eria-se ums forge especial, crinse corpos armados,« cade Fevelugier destruindo o apareiho governamental, pac em ev. dencia como classe dominante se empenha, on feconstitury «seu servigoy corpos de homens afin dos, como a classe opeimida se empenia em-criet ‘uma nove organizapfo do mesmo pénero, para pols 40 servigo, nfo mats dos exploradores, has Gos ox. plorados ‘Na passagem citada, Engels coloca teoricameate a B questio que, na pritica, toda grande fevolugdo pbe iante de nés em plena evideéncia e na escala da agio das massas, ou seja a questo das relagdes entre os destecamentos “'separalos"* de homens armados © a “organizagio espontines da populago em a Veremos essa questéo evoluir na experiéncia das revolugdes européias e russas Mas, voltemos & exposicio de Engels. Ele mostra que 0 poder piiblico é, és vezes, fraco < por exemplo, em certas regides da América do Norte (trata-se ~ excego bem rara na sociedade ca: pitalista — de certas’regides em que, antes do periodo imperialista, predominava o colono livre) — ‘mas, em geral, 0 poder piblico aumenta: O poder pica se fora. media ques ge vam or antgoismos.de lsat no intron ‘eid ques Estados contigs coin ais foes mis peplis. Bsta eons Fare stl onde aft de elas competi cox ‘pts ttm aumertado 0 poder pablo a ue ta ‘emu gue ames above ads sain ¢ a0 rio Exo, Essas linhas foram escritas, quando muito, pouco depois de 1890. O altimo preficio de Engels tem a Gata de 16 de junho de 1891, A evoluglo para o im- perialismo, caracterizada pela dominagio absoluta dos trustes, pela onipoténcia dos grandes bancos, pela politica colonial em grande escala, etc., mal co mecava na Franga e era ainda mais fraca na Améri ena Alemanha. Desde entdo, a “‘competi¢z0 ds con ‘uistas'* deu um passo gigantesco, a ponto de 0 glo- bo terrestre, mais ou menos em 1910, achar-se defi- nitivamente partilhado entre os “‘conquistadores ti- 4 ysis", isto é, entre as grandes poténcias espoliado: £35, Os armamentos tegrestres e maritimos aumenta- am em enormes proporgdes ¢ a guerra de mpina de 1914-1917, que devie acarretar a hegemonia univer: sal da Inglaterra ou da Alemanha e repartir 0 despojo, quase levou a uma catéstrofe completa & “‘absorgto"" de todas as forcas sociais pela voracidade do poder governamental. Engels soube, jd em 1891, dénunciar a ‘‘competi ‘fo as conquistas’” como um dos principals tracos' caracteristicis ‘da politica exterior das grandes po- téncias, a0 passo que os malandrins do social-patrio- tismo, em 1914-1917, depois que essa rivalidade cen- tuplicada gerou a guerra imperialista, disfargem a sua solicitude pelos interesses espoliadores da ‘‘sus"™ burguesia com frases sobre a “‘delesa nacional", « "“defesa da Republica e da Revolugio”,'etc.! 3. O ESTADO, INSTRUMENTO DE EXPLORACAO DA CLASSE OPRIMIDA. Para manter um poder piblico separado ca socie- dade e situado acima dela, sfo necessérios os impos. tos e uma divida publica, ‘ Invsidosdo pode pbc ¢ do dt be o- Seana dos imps eevee ~ ofan Gr emu ee Sat an ine decide © sce, stad en nw Ses Sceptre (oc) he eso ae pet seu. 15 Fazemse leis sobre a “‘santidade””¢ ““nviolabili- dade?” dos funcionérios. “0, mais insignificante agente de policia"” tem mais "autoridade’” que os representantes o cl ‘mas, ochefe militar de um pals civilizado poderia in: vejat um chefe de eld, que a sociedade patrarcal cer- cava de um respeito “voluntirio e ndo imposto pelo Surge, agora, & questio da situagio privilegiada dos funcionsrios como drgtos do poder public. O onto essencil este: que ¢ que os coloca aca da sociedade? Veremos como esta questio tedtica foi re- solvida praticamente pela Comuna de Paris em 1871, € contomnada por Kautsky em 1912, com o emprego de um processo reaciondrio. os attgunmor de clases, to pipe cofito dds cise, rena, em parc, que © Extalo {sempre o sad dca as pero, du cls se cconomicamente doeinante qu, tiem Br ‘sacle, orm «dase polcanent diane Eade, asi, owes mes de ope © elo: fara cise dona Nio s6 0 Estado antigo e o Estado feudal eram 6r- alos de exploragio dos escravos e dos servos, como também? 0 Baadorepeseatvo modern ¢ om isu: mento de exoragio de tabalbo scaring plo C2plalH, no ena, prides exeponds em fie lies em Ite singe tal equiv de fre, que o poe pics fagle ementancr see cea independence eae pss ©. 1 toro uma esptcie de Abita entre lagna) ¥ 16 s ‘Tais foram a monarquia absoluta dos séculos XVII © XVII 0 bonapartismo do primeiro e do segundo Império'na Franga, e Bismarck na Alemanhe. Talé, acrescentaremos nds, o governo de Kerensky ‘na Rissia republicana, com a sua politica de perse- ‘auigdo contra o proletariado revolucionario no mo- ‘mento em que os Sovietes sfo jé impotentes em virtude de seus dirigentes pequeno-burgueses ¢ burguesia ainda ngo ¢ bastante forte para 0s dissolver sem ceriménia, “\Na Repiblica democritica’” — continua Engels = “‘a riqueza utiliza-se do seu poder indiretamente, mas com maior Seguranga’’, primeiro pela ““corrup” gio pura e simples.dos funcionarios"” (América), depois pela “alianca entre 0 Governo e a Bolsa"™ (Franca e América) ° Atwalmente, o imperialismo e o reinado dos Ban- os tém ‘"desenvolvido””, com uma arte requintads, em todas as repiblicas’ democraticas, esses dois Imeios de manter e exercer a onipotéacia da riqueza Se, por exemplo, nos primeiros meses da Repiblica democratica na Russia, em plena lua-de-mel, por as- sim dizer, do casamento dos socialistas-revolucioné Fios e dos mencheviques com a burguesia dentro do govern de coligagdo, o sr. Paltchinski sabotava to- das as medidas propostas para refrear os apetites de- senfreados dos capitalistas e as suas exagdes nos for- ecimentos militares; se, em seguids, 0 sr. Palt- chinski, saido do ministério e substituido, natural- mente, por outro Paltchinski da mesma marca, se vé “gratificado" pelos capitalistas com uma boa sine cura rendendo cento e vinte mil rublos por and, que significa isso? Corrupedo direte ou indireta? Alianga o governo com 0s sindicatos patronais ou “‘apenas’” a7 «elagSes de amizade? Qual ¢ 0 papel desemipenhado por Tehernov e Tseretll, Avksentiev ¢ Skobelev? So aliados “diretos"” ou apenas iniretas das milio~ nities concussiondrios? ‘Aconipotéacia da “‘riqueza"”¢ tanto melhor asse- eurada numa replica democritica quanto nto esti Sujeita a uma crosta acinhada do capitalismo. A re- publica democritica ¢a melhor crosta possive do ca- pitalismo. Bis por que o capital, depois de se ter apo- derado dessa crosta ideal gracas 203 Paltchinski, 205, Techernov, aos Tsereteli e consortes, firmou o seu poder de maneica tdo sélida, tio segura, que nenbu- ‘ma mudanca de pessoas, instituigoes ou’ partidos, na repiblica democrética burguesa, ¢ suscetivel de aba lar esse poder. E preciso nota, ainda, que Engels definiu o stfe77 niversal de uma forma categérica: ‘um instru ‘mento de dominasto da burguesia. O sufrigio uni- versal, diz ele, considerando, manifestamente, & longa experiéncia da social democracis alemt, é inde da mati du case opera. Nunes rsp are nunc as ads no sta Os democratas pequeno-burgueses, do géneto dos nossos socialistas-revolucionarios e mencheviques, 4 seus irmios, 0s social-patriotas e oportunistas da Europa ocidental, esperam, precisamente, ‘‘mais a guma coisa’” do sufragio universal, Partilham e {a- zzem o povo partilhar da falsa concepcfo de que o su- frdgio universal, ‘‘no Estado atual””, € caper. de ma- nifestar verdadeiramente e impor a vontade da maio- ria dos trabalhadores. Nio podemos seni notar aqui esse falsa concep- 18 | | = | | | io esalientar que a declaragfo clara, precisa e con crea de Engels ¢ devigtade a ga paso na prox Pagande e na agitacdo'dos partidos socialists * Gas isto 6 opgrunisus. Demonsiraremos mais amplamente toda dfalsidade da idéia que Engels aqui repndia, deseavolvendo mais adiante as teorias de Marx e Engels sobre o Estado “‘atual”, Em sua obra mais popelar, Engels resume nestes termos a sua teofia: (0 Baad, jo conse, nto ein see eae rcndes que pasar sem dee que no tinbarhs mens node de Eto nem de pode 2 ‘emuantl A um cr ga do denrimeto ‘Sontmio, npeao tcesramene advo (soit om cases, 0 Est torause una ectsidede, em conegnda ds diviso. Pre ‘Poemente, marcas 4 paces Lagos pace Un fal eenelvnento de predorto, qe a exstoc (hate cer oo dene de serum sees (domo a lor mesmo vm abtele & prods ‘go. AS clases desparecero Yo ineutarenente fem aparecra.Ao mermo temp ie asses Satyr neice o xed, Asie (ereoeparizana 3 prodocosobre a bse da 0+ “Sedo leeigil de ode or poder, evi maquina gpveramental pra Tug aoe he onvemo ren deste, a do de rode (Gear do nachodo de bona. Na literatura de propsganda da social-democracia contemportnea, nfo se encontra essa citagio. E quando reproduz esse trecho, é, em geral, como quem se curva diante de um idolo, como quem faz lum ato de veneragio oficial por Engels, sem o menor ccuidado de refletir sobre a amplitude e profundeza da revoluglo que "‘enviard 2 miquina governamental 9 para o'museu de antiguidades’”. A maior parte das ‘eres, parece que nem sequer se compreendeu o que Engels entende por méquina governemental. 4. “DEFINHAMENTO" DO ESTADO E A REVOLUGAO VIOLENTA. As palavras de Engels sobre o “‘definhamento”” do Estado gozam de tal celebridade, sto tdo frequente- mente citadas, poem tio bem em relevo o fundo da {alsificacdo oportunista do marxismo, que ¢ necessd- rio examind-las detalhadaiente, Citaremos toda a passagem de onde sfo extraidas: © prcicarnd se spades da gn do Eade € ‘ana por tasarmar en tos Se pics os opine do Esato. Pr tere ee opto 1 dst como plea, aoe in (fe © antagnimos deca silane % tambien 0 Esudo, como Eads A andgs ‘eed, que se ovis strane don sntagoctmes Ge css, tha needs Estado, to Ode ‘uma epiniagio dh le exposdor em oie eyes, pra sera soa coin eee ‘rot, prncpalment, prs mance pe fs clase exlorad ns codes de ope tp pelo do de producto existeate (ocr, servi, taal alas). O Exedy er 0 ‘esate ical de to socidade un sce nam cop vel mas 3 0 como Baad de pla case que reprseataa ese temp ode side: Estado de iados proprio dee. ‘ve, ne etisade; Esa de nobresa ull ‘Td Medi e Estado de trposa ce ous? is, Mas, quando o Estado storms, Eolment eprseatnt etve de ‘nti eels ‘erase sper. Una vex qe none 20 ¢ de pw o's hem eae sn ii Sia eaten ene ms, ‘Scent ase See a talon nck mt tes ‘foc ero, un Ea at Sarena cp uo Bd mans cae ses Strada cpeliostinec at cman eo olin i ewe adr ne eke i ta era ian pre ‘Sopmes woe S ge sot 1 ‘etn aan dy ee iS ep pe, Ea oii ace € Se as ute em de secre oni a ike pe alone pe Bib ti eap tse ESS Soir & pune, Se pa viteues dee cs a a peat mets aera Shade deems Sem recio de ero, pode-se der que, de todo ese racioclio de Engels, dena notivelriguees depose simento, 3 rests, non pardon socialists de Hoje, como verdadira auisigo do pensamente sot "ormula de Mars, segundo # qual 0 Estado “mor fe, contraramentetdoutinaanacquiste da “abo. do Estado, Amputar ssi o mars € Feduuila a0 oportunismo, pois que, depois de uin tal “comentiri' io fex Sento 8 concede de une ieasformagto lena, igual, proresivay sem sores Salto, nem tempestade, sem revoluglo. A. “extn. io" do Estado, na concengo corene, espa “DR EaR Ant Dobie O86 AL) 21 popular por assum dizer, é, sem divide alguna, o es- ‘uecimento, seno a negagfo da revolucto. Esse ‘‘comentirio!” &a mais grosseira deformaco do marxismo em proveito exclusive da burguesia, deformacto baseada teoricamente na omissf0 das principais circunstincias ¢ consideragdes indicadas nas conclusdes de Engels, que acabamos de citar por extenso. 9 1. Logo no inicio do seu raciocinio, Engels diz que, a0 tomar o poder, o proletariado, “ipor esse meio, abole o Estado come Estado”. ‘*Nio se costuma’! sprofundaro que issosignifica, Em geral,despreza-se inteiramente esse pensamento ou se vé nele uma espécie de ‘“fraqueza hegeliana’”” de Engels. Na rea- lidade, essas palavras significam, em sintese, a expe- riacia de uma das maiores revolugées proletiias, a experiéncia da Comuna de Paris de 1871, de que fala- remos mais detalhadamente no lugar que lhe compe- te. De fato, Engels fala da “aboligfo’” do Estazo bur: gues pela revolugio proletéria, 20 passo que as suas palayras sobre o definhamento ¢ a “‘morte"” da Esta- do se clerem os vesigios do Estado proleario ae an dod out soils, Seu Engelsco Estado burs nfo « a Jado22spelo,proletariad. aut tuma.forca.especial de.repressio”. profunda definigto de Engels ¢ de uma absoluta clareza. Dela resulta que essa.t‘forca espe- cial de repressio™” do proletariado pela burguesia, dé imilhdes de trabilliacOres por uri"punkado de'ricos, deve. ser. substitnida.par_uma"forga especial de re* pressa0”” dz burguesia-pelo-proletariado (a ditadyra Nw R do proleterady).£ nisso.que consisie-a Eszado como Estado". E nisso que eonsiste0."ato'? “degosse dos, meio’ de producto em nome des alade, Conseguehiemnente, esa substitugto de ume “fog especial”? (a da burguesia) por outra “orga especial” (ado proletariado) nfo pode equivaler para aquela a um “definhamento”” 3, Esse ‘definhamento"” ou, para falar com mais relevo e cor, essa ‘etargia’™,coloeara Engels, clara mente, no periodo pasterior 20 “ato de posse dos teios de produgdo pelo Estado, em nome da soce dade”, posterior, portanto, a revolugio socialist. Todos n6s sebemos que 2 forma poltica do "'Esta- do" é,entd0, 2 plena democracia, Mas, nenhum dos oportunisas, que ‘impudentemente desvirtuam 0 marzismo, concebe que Engels se refira &“‘ltargia™™ “ed morte" ds democracia. A primeira vista, pare- ce estranho; mas, s6 6 incompreensivel para’ quem no reflete que a democracia & também Estado e, por conseguinte, desaparecera quando o Estado desapa- recer,_St=a—-Revolugiompode~*abolir” 0~Estadg Burgués. O Estado em geral, istoé, a plena demo- ‘racia, sb pode ‘*definhar"? 4, Ao enunciar a sua famosa femula: **Q Estado morre"”, Engels apressou-se a precisar que essa fér- mula Girigida contra os eportunistas © contra os snarquistas. E coloca em primeira lugar 0 corolirio: ‘que atinge os oporeunistas, Podesse apostar que, em dex mil pessoas que leram ¢ssas linhas ou ouviram falar do ‘“definhamento"” do Estado, nove mil ¢ novecentas ignoram absoluta- ‘mente ou fingem esquecer que Engels nto dirigia as conclusbes da sua formula epenes contra os anarquis- tas. E, nas dez restantes, hd seguramente nove que B ea abolighas -« nfo sabem o que € 0 “Estado livre do povo"” e por: que, atacando-o, Engels ataca 2 mesmo tempo os oportunistas. Enassim,qye.se.escreve a historia. B assim.quese adultera insensivelmente a grande dou trinaweevoluciondsia, até transformdjla numa banall- dade ao:nivel:darmediocridadesreinante. A conclusio ‘contra os anarquistas foi mil veres repetida, repisada « simplificada, fixando-se nos cérebros com a tenaci- dade de um preconceito. A conclusfo contra 0s opor tunistas, porém, deixaram-na na sombra ¢ ““esque- ue (0 ‘Estado livre do povo"” era o programa e a for- mule eorrente os. socaldemoeratis slemes de 1870. Essa érmula nfo tem nenhum contetdo poli- tico, nfo pissando de uma pomposa expressio bur- ‘quesa da idéia de democracia. Engels dispunhe-se'a justificar momenteneamente"” 0 seu emprego na sgitagio, na medida em que essa formula aludia le- galmente d republica democratica, Mas era uma fr- ‘ula oportunista, pois exprimia fo sb uma demo- Cracia burguesa mal disfarcada, como também incompreensto ds critics socialista do Estado em ge- ral, Nés somos partidérios da repiblica democratica ‘como sendo a melhor forma de gaverno para o prole- tariado sob o regime:capitaliste, mas andariamos mal se esquectssemos que a sscravidSo assalariada ¢ 0 guint do pove mesmo na reps borguesa mals lemocritice ‘Mais adiante: toda.Estado”¢ uma forca especial de,repressio"” da classe,oprimida... Um Estado,.seie ‘le qual forj-ndo-poderd fer lvre'nem popular. Marx ‘¢ Engels explicarai isso muitas vezes 20s seus cama radas de partido, mais ou menos em 1870. '5, Na mesma obra de Engels, de cujo raciocinio 4 sobre o definhamento do Estado todos se secordam, encontra-se desenvolvida a definigSo da revolugao Yiolenta. A apreciagio do seu papel hist6rico torna- se, na obra de Engels, verdadeira apologia da revolu- fo: Disso ninguém “se lembra"”; € moda, nos par- {idos socialists contemporéneos, ndo falar nem pen- sar munca no assunto; na propaganda e ne agitagzo cotidianas entre as masses, essas idéias nfo desempe- ham papel algum. No entanto, estio indissoluvel- ‘mente ligadas idéia do ‘‘definhamento”” do Estado, com a qual formam um todo. Bis a passagem de Engels: Que sine deepen sndaouto pape ei cangapel elacak nd as, puede oa velba ssid, tis ‘& e.amaseciedade ova, que € ama cm ‘9 movimento soci ave casino € gebre ‘ander mort intel que nace de toe Fevelupio veda! Eo nu Aleman, code © hog vileat, a0 qu pve poder ser cons trangio, ern no menos, a watapen de dei Serie que penesou oe cesta naonal ‘Gn sepa umihagoer dh Goer dor Trin ‘Ares E € esa mewatidde de predipte, mt ‘je, sem sabe e sem fog gus pretender [ingore ao pac mals eoluconirie ques ‘oa cone, Come conciliar na mesma doutrina essa apologia da revolugio violenta, insistentemente repetida por Engels 20s social-democratas alemies de 1878 a 25 1895, isto, ata sua morte, com a teoria do “def ‘hamento™ do Estado? Costumam coacild-las ecleticamente, tomando, for um processo empitico ou sofstico, arbitraria: mente, ou para agradar aos poderosos do dia, ora & ‘aeia da revolugfo violent ora a do defiahamento; ¢ foventa e nove por cento das vezes, senfo mais, co: locam em primeiro plano justamente esta sltima. A dialtica cee luge ao ecltismo: com rela 20 ar- ismo, € coisa mais freqQente e mais expalhads na Iiteratare socal-democrata oficial dos nossos. dis. Nio € uma novidade, certamente, pois 0 ecletisno j substituiu a dialética na histOria da flosofia clissica regs. Ne falsiicagfo oporeuniste do marxism falsicagto eclética da dialdica engana as mastas com mais facidade, dando-Ihes uma apacente satis: facto, fingindo ter em conta todas as faces do fend- ‘meno, todas as formas de desenvolvimento e todas as infludhcias contradtérias; mas, de fto, iso nf0 da ‘uma nogio completa e revoluciondria do deseavolvi- mento social Tadlissemos,e 0 demonstraremos mais detalhade- mente a seguir, que a douttina de Marx e Engels sobre agecessidadederevolucto-volenta ve relere 49 Exadorburgués,Estes6 pode, em geral,cedes lugar aq,Bistado,pcoletrio- Gitadura. do proleteriado)-por mélo.da,revolucfo violent « 0.por rien. do. ¥de- iahamentg”. A spologia que Engels ta da révolu- sto violent estd plenamente de acordo com #8 n= smerosas declaragdes, altivas e categoricas, de Mars embremo-nos do final de A Misdrie da Flosofe © do Menifesto Comunista) sobee a inevitebilidade da revolugfo violent; lembremo-n0s ds critics 0 pro: arama de Gotha em 1875, quasetriata anos mais tat- 26 zune 1909-7 de,em que Mars fageladesapiedadatientt Sereu- sismo. Ess apologia de Engels nto, decerto, 6 pro. dao do ‘entusiasmo™, nem das necesidades da de- smagio ou ta polémica. Avestéhcia de dods tous se Mars ede Engelsdanecessidade de inocular aticamente nas massas essa idéia da revolucio. Siolenta..B a omissto-dertepropaganéa, dessa ag {gH6, que maree com mas elev a traiso doutrind- tia das tendéncias social-patridticas e kiutskystas. A substituiggo,.do.Estado.burgués.pelo Estado,pro- -lari.ndo € possivel semsrevolugdo Videata Asbo wligdo.do_Estado-proletario; isto ¢;°s-abolicfo“de-to- do-e-qualquer-Estado:~s6-é.possivel: pelo “‘definhh- mento" Marx Engels desenvolveram ess tori por uma forma detalhadae concreta, estadando separadamens te cada stuago revoluciontriae analisndo as lighes fornecidas pela experiéncia de cada revolugio ere rerticuler. Passemos'a esta parte da sua doutrna, aque é, evidentemente, a mais importante Unvenidads & Casa BIBLIOTECA 27 Se

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