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MECÂNICA DOS FLUIDOS

Prof. Carlos Alberto Dutra Fraga Filho

Semelhança

Semelhança é, em sentido bem geral, uma indicação de que dois


fenômenos tem um mesmo comportamento. Por exemplo: é possível
afirmar que há semelhança entre um edifício e sua maquete (semelhança
geométrica).
Na mecânica dos fluidos, o termo semelhança indica a relação entre dois
escoamentos de diferentes dimensões, mas com semelhança geométrica
entre seus contornos. Geralmente o escoamento de maiores dimensões é
denominado escala natural ou protótipo. O escoamento de menor escala
é denominado de modelo.
Utilização de Modelos em escala:

- Vantagens econômicas (tempo e dinheiro);

- Podem ser utilizados fluidos diferentes dos fluidos de trabalho;

- Os resultados podem ser extrapolados;


- Podem ser utilizados modelos reduzidos ou expandidos (dependendo da
conveniência);

Para ser possível esta comparação entre o modelo e a realidade, é indispensável


que os conjuntos de condições sejam Fisicamente Semelhantes.

O termo Semelhança Física é um termo geral que envolve uma variedade de tipos
de semelhança:

- Semelhança Geométrica (de Forma):

A propriedade característica dos sistemas geometricamente semelhantes é que


a razão entre qualquer comprimento correspondente é constante (fator de
escala).
Deve-se lembrar que não só a forma global do modelo tem que ser semelhante
como também a rugosidade das superfícies deve ser geometricamente
semelhante.

- Semelhança Cinemática:

Quando dois fluxos de diferentes escalas geométicas tem o mesmo formato de


linhas de corrente. É a semelhança do movimento.

- Semelhança Dinâmica:

É a semelhança das forças;

Dois sistemas são dinamicamente semelhantes quandos os valores absolutos das


forças, em pontos equivalentes dos dois sistemas estão numa razão fixa.

Exemplos de estudos em modelos:

ensaios em túneis aero e hidrodinâmicos, escoamento em condutos,


estruturas hidráulicas livres, resistência ao avanço de embarcações,
máquinas hidráulicas.
Grupos adimensionais Importantes na mecânica dos fluidos

Número de Reynolds

𝑉𝐿
𝑅𝑒 =

Esse grupo adimensional pode ser entendido como a razão entre as forças devidas à
inércia e as devidas à viscosidade. Fluxos com um número de Reynolds alto, ou seja,
fluxos onde a viscosidade exerce um efeito apreciável, são geralmente turbilhonários,
não laminares.

Número de Froude

𝑉
𝐹𝑟 =
√𝑔𝐿

onde: 𝑉 = velocidade, 𝑔 = magnitude da gravidade, 𝐿 = comprimento característico do


escoamento

O Número de Froude é dada pela relação entre Forças de Inércia e Peso (forças de
gravidade). Sua aplicação está ligada principalmente com fenômenos que envolvem a
superfície livre do fluido. Nesse sentido, tal número é de grande importância nos cálculos
de ressalto hidráulico, no projeto de estruturas hidráulicas e no projeto de navios.

Esse grupo adimensional aparece em equações que descrevem fluxos em que efeitos de
superfícies livres são relevantes; por exemplo, ao estudar-se a formação de ondas na
superfície de um fluxo. Neste caso, o comprimento de referência L é a profundidade do fluido
no canal. Estudos de resistência hidrodinâmica de barcos também utilizam o número de
Froude; nestes casos, o comprimento de referência é o comprimento do barco na linha
d'água.

Número de Mach

𝑉
𝑀𝑎 =
𝑐

onde 𝑉 é a velocidade do escoamento e 𝑐 é equivalente a velocidade do som no local.

Representa a relação entre Forças de Inércia e Forças Elásticas, sendo uma medida da
relação entre a energia cinética do escoamento e a energia interna do fluido. Tal número
é uma parâmetro-chave que caracteriza os efeitos de compressibilidade em um
escoamento. Com isso, o número de Mach é um dos parâmetros mais importantes
quando as velocidades são próximas ou superiores à do som.

Número de Euler

É a razão entre as forças de pressão e as de inércia.

ΔP
𝐸𝑢 = 1 2
2
𝑉

onde ΔP é a pressão local diminuída da pressão da corrente livre.

O número de Euler aparece em problemas de aerodinâmica envolvendo líquidos ideais (ou


seja, fluidos incompressíveis e não viscosos), e pode ser entendido como a razão entre as
forças devidas à pressão e àquelas devidas à inércia do fluido. Esse adimensional também
é conhecido como coeficiente de pressão.

Número de cavitação

ΔP
𝐶𝑎 = 1 2
2
𝑉

Idêntico em forma ao número de Euler, é chamado de número de cavitação quando Δp é a


diferença entre a pressão da corrente livre e a pressão de vapor do fluido à temperatura do
problema. Esse número é usado na análise da probabilidade de ocorrência de cavitação.
Quanto menor o número de cavitação, maior essa probabilidade.

Número de Weber

É a razão entre as forças de inércia e as de tensão superficial.

𝑉 2 𝑳
𝑾𝒆 =

Tal número é importante no estudo das interfaces gás-líquido ou líquido-líquido e


também onde essas interfaces estão em contato com um contorno sólido.
O valor desse grupo adimensional indica a presença e a frequência das ondas
capilares na superfície de um fluido.
Número de Nusselt

ℎ𝐿
𝑁𝑢 =
𝑘

ℎ é o coeficiente de convecção
k é a condutividade térmica

O Número de Nusselt é a relação entre fluxo de calor por convecção e o fluxo de calor
por condução no próprio fluido e corresponde a um dos principais grupos adimensionais
nos estudos de transmissão de calor por convecção.

Número de Prandtl

Relação entre a difusão da quantidade de movimento e a difusão do calor.

 𝑐𝑝 𝑘
𝑃𝑟 = =
 𝑘
, pois  = 𝑐
𝑝

onde:
 é a difusividade térmica
 é a viscosidade cinemática
𝑐𝑝 é o calor específico a pressão constante
k é a condutividade térmica

O número de Prandtl está relacionado à transferência de energia, sendo importante nos


estudos de transmissão de calor por convecção.

Número de Schmidt

Razão entre a difusividade de momento (viscosidade) e a difusividade de massa.

 
𝑆𝑐 = =
𝐷 𝐷
onde 𝐷 é o coeficiente de difusividade mássica (m2/s)
Em fluxos de fluidos nos quais existem simultaneamente processos de difusão de
momento e massa. Foi nomeado em relação ao engenheiro alemão Ernst Heinrich
Wilhelm Schmidt (1892-1975).
Camada-Limite

A camada-limite hidrodinâmica é a região próxima a uma superfície sólida na qual as


tensões viscosas estão presentes, ou seja, é uma região que sofre forte influência dos
efeitos viscosos. Esse conceito foi apresentado por Ludwig Prandtl em 1904, um
cientista alemão que estudava aerodinâmica.

Antes de Prandtl a mecânica dos fluídos tinha dois ramos: a hidrodinâmica teórica e a
hidráulica. A hidrodinâmica teórica não conseguia estudar o movimento de um fluido
viscoso devido à complexidade da solução das equações de Navier-Stokes, exceto para
algumas considerações bem particulares. A hidráulica surgiu devido á necessidade de
se obter resultados rápidos, através de fórmulas empíricas, pois os resultados da
hidrodinâmica contradiziam muitas observações experimentais (FOX et al, 2006).

Prandtl mostrou que em diversos escoamentos viscosos pode ser analisado dividindo-
se o escoamento em duas regiões, uma perto das fronteiras sólidas e outra cobrindo o
resto do escoamento. Então, o conceito da camada-limite forneceu o elo entre teoria e
prática e possibilitou a solução de problemas de escoamento viscosos, o que seria
impossível pela aplicação das equações de Navier-Stokes ao campo completo do
escoamento.

A espessura de camada-limite, 𝛿, é usualmente definida como a distância da superfície


na qual a velocidade se situa dentro de 1% da velocidade de corrente livre, isto é, 𝑢 ≈
0,99 𝑈∞ . A Figura 1 representa um fluido em escoamento livre, permanente e uniforme
que encontra uma placa. A região I é a camada-limite e, portanto, na região II, 𝑦 > 𝛿,
𝑢 não varia com 𝑦. A figura 1 também representa o aumento da espessura da camada-
limite ao longo do eixo 𝑥.

Figura 1- Variação da espessura da camada-limite hidrodinâmica.


De imediato, como o escoamento é permanente e a linha da espessura da camada-
limite hidrodinâmica não coincide com a trajetória do fluido, a linha de variação da
espessura da camada-limite, 𝛿(𝑥), não pode ser uma linha de corrente. Além disso, caso
ela fosse uma linha de corrente, não poderia haver transporte de massa por ela, o que
na realidade não ocorre.

Camada limite térmica


Da mesma forma que há a formação de uma camada limite dinâmica no escoamento de
um fluido sobre uma superfície, uma camada limite térmica deve se desenvolver caso
haja diferença entre as temperaturas do fluido na corrente livre e da superfície.
Considere o escoamento sobre uma placa plana isotérmica (Figura 7). Na aresta frontal

o perfil de temperaturas é uniforme, com T ( y)  T , contudo, as partículas do fluido que


entram em contato com a placa atingem o equilíbrio térmico na temperatura superficial
da placa. Por sua vez, essas partículas trocam energia com as da camada de fluido
adjacente, causando o desenvolvimento de gradientes de temperatura no fluido. A
região do fluido onde existem esses gradientes de temperatura é conhecida por camada

limite térmica, e sua espessura


 t (x) , é definida, freqüentemente, como sendo o valor

de y no qual a razão
Tsup  é igual a 0,99. Com o aumento da
 T / Tsup  T 
distância da aresta frontal da placa, os efeitos da transferência de calor penetram cada
vez mais na corrente livre e a camada limite térmica aumenta.

Figura 2 - Desenvolvimento da camada limite térmica sobre uma placa plana isotérmica.

Camada Limite de Concentração (da substância)

Da mesma forma que as camadas limites hidrodinâmica e térmica determinam o atrito


na parede e a transferência convectiva de calor, a camada limite de concentração (ou
substância) determina a transferência convectiva de massa. Considerando uma mistura
binária das espécies químicas A e B, que escoam sobre uma superfície plana, e se a
concentração da espécie A na superfície
( C AS ) for diferente da concentração da na corrente livre ( C A, ), conforme Fig. 3, haverá

o desenvolvimento de uma camada limite de concentração.

Figura 3 - Desenvolvimento da camada limite de concentração

Por definição, camada limite de concentração é a região do fluido onde existem grandes
gradientes de concentração em sua espessura  C é definida como o valor de y para

qual C AS  C A  /C AS  C A,   0,99 . A transferência convectiva de uma espécie

química entre a superfície e a corrente livre do fluido, é determinado pelas condições


nessa camada limite.

ATIVIDADE:

Explicar o que são as camadas limites hidrodinâmica, térmica e da substância.

Relacionar os conceitos de camadas limites térmica, hidrodinâmica e de substância com


os números de Prandtl e Schmidt.

 
𝑃𝑟 = ~
 𝑇

Sc  
c

Camadas limite hidrodinâmica e térmica.


REFERÊNCIAS

BIRD, B.; STEWART, E. S.; LIGHTFOOT, E. N. Fenômenos de transporte.Ed. LTC. 2ª


ed. Rio de Janeiro, 2004.

FOX, R. W., McDONALD, A. T. Introdução à Mecânica dos Fluidos. 6 ed. LTC – Livros
Técnicos e Científicos Editora S/A: Rio de Janeiro, 2006.

INCROPERA, F. P.. Fundamentos de Transferência de calor e de Massa. 3 ed. LTC –


Livros Técnicos e Científicos Editora S/A: Rio de Janeiro, 1998.

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