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SECRETÁRIA GERAL
Dayse Xavier de Santana
COMISSÃO CIENTÍFICA
Álvaro César Pereira de Souza (FSLF), Eccia Alécia Barreto (UFS), Emília Helena Portella
Monteiro de Souza (UFBA), João Escobar José Cardoso (FSLF), Lêda Pires Correa (UFS),
Ricardo Nascimento Abreu (UFS), Sandro Marcio Drumond Alves (UFS), Vanessa Ponte de
Freitas (UNIT) e Vilma Mota Quintela (UFS)
A Faculdade São Luís de França não é responsável pelo conteúdo dos Anais, com o qual não necessariamente
concorda. Os Autores conhecem os fatos narrados, pelos quais são responsáveis.
CDU 002
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.........................................................................................................................................................06
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
APRESENTAÇÃO
A Faculdade S~o Luís de França, uma “adolescente” com seus tenros dezessete anos de
existência, sempre atuou, desde o nascimento, como uma “veterena” no que se refere {
Educação e à formação de profissionais qualificados para um mercado cada vez mais exigente
e competitivo. A dedicação de seu corpo diretivo aliada à aplicação e ao comprometimento de
seu quadro funcional tem garantido à Faculdade São Luís de França o respeito e a
credibilidade que outras instituições de maior envergadura levaram anos, senão décadas, para
conquistar. Não é à toa que ostentamos, com muito orgulho, a NOTA 4, em uma escala de 1 a 5,
emitida, recentemente, pelo MEC.
Tal resultado não se consegue sem muito trabalho, persistência e determinação. Tendo isto
em seu espírito empreendedor e ciente de seu papel enquanto instituição vocacionada à
transformação e aperfeiçoamento de pessoas, a Faculdade São Luís de França não se limitou
apenas ao cumprimento de obrigações básicas, necessárias para o funcionamento de uma
Instituição de Ensino Superior; ao contrário, sempre incentivou a busca contínua do
conhecimento, para além dos níveis de graduação, através do incentivo à pesquisa e
desenvolvimento de projetos de variada ordem e abrangência.
A XII SEMANA DE LETRAS foi mais uma edição promovida pela FSLF, através de seu Núcleo
de Pesquisa e Extensão – NUPEX, de sua Coordenação de Curso de Letras
Português/Literaturas e do Grupo de Estudos Linguísticos da Faculdade São Luís de França –
GELFSLF, cujo objetivo principal – mas não único – é o de proporcionar à sua comunidade
docente e discente a possibilidade de produzir e compartilhar conhecimento no vasto campo
das Letras. Outro objetivo, de igual importância, é o de formar professores-pesquisadores,
profissionais do ensino que sejam “investigadores” de suas próprias práticas docentes, que
sejam reflexivos e n~o meros “repetidores de informaç~o pronta”.
Introdução
O ensino de língua portuguesa, em todo seu vasto conteúdo, tem sido foco de debate
de especialistas das mais diversas áreas, como gramáticos, pedagogos, psicólogos, entre
outros, que, obviamente, centraram seus estudos e críticas segundo pressupostos próprios às
suas |reas de conhecimento. De modo recente, “os linguistas se integraram ao debate,
contribuindo de forma original na crítica ao modo como a escola trata o ensino de linguagem”
(FARACO, s/d, p. 2).
Segundo o autor, as fragilidades encontradas no ensino tradicional e as diferenças
culturais e linguísticas dos novos alunos que se integraram à escola pública brasileira, se
deram por conta de sua expansão nos governos militares, consequentemente
Foi essa nova visão linguística a base de toda uma nova produção literária,
relacionadas a temas sobre o ensino da língua materna, como o trabalho com a gramática em
sala de aula, o ensino de redação, de leitura etc., que fez crítica ao excessivo trabalho
normativo com a linguagem nas escolas brasileiras, ou seja, as escolas, além de
desconsiderarem os múltiplos usos da língua, colocaram de forma desproporcional a
transmissão das regras e conceitos presentes nas gramáticas tradicionais como o objeto
central de estudo, confundindo, em consequência, ensino de língua com o ensino de
gramática.
Neste contexto, ainda conforme Faraco, os aspectos relevantes do ensino da língua
materna, como a leitura e a produção de textos, acabaram sendo deixados de lado, já que o
foco passou a ser somente a gramática, fato este que gerou em alunos e até mesmo em
professores questionamentos sobre o ensino/aprendizagem da língua portuguesa, como para
que aprender e o que ensinar.
Em contraponto, seguindo-se os novos estudos linguísticos, o objeto de estudo
privilegiado no ensino de linguagem, ao ser abandonado o formalismo gramatical, deve ser o
texto, na medida em que ele é, de fato, “a manifestaç~o viva da linguagem” (BAKHTIN, 1986,
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p.120). Assim, até mesmo o ensino dos aspectos normativos estaria subordinado ao trabalho
com o texto, isto é, as regras gramaticais não seriam mais ensinadas por meio de frases soltas,
abstraídas de contexto, e sim na perspectiva de sua funcionalidade textual. Essa concepção
tornou-se atual podendo ser vista já nos Parâmetros Curriculares Nacional de Língua
Portuguesa (PCN’s) de terceiro e quarto ciclo, ou seja, do 6º ao 9º ano, em sua primeira parte,
em que se discutem questões sobre a natureza da linguagem.
Nos PCN’s (1998, p.18), a língua portuguesa é apresentada como uma área em
mudança, no que se refere ao ensino, pois “tem se passado do excesso de regras e
tradicionalismo típicos das escolas para um questionamento de regras e comportamentos
linguísticos, no que se costuma chamar de “ensino descontextualizado de metalinguagem”, ou
seja, o texto é usado como pretexto para retirar exemplos do correto uso da língua, ainda que
descontextualizados do cotidiano do aluno, mostrando uma “teoria gramatical inconsistente”.
Nos mesmos, ainda, consegue-se entender o aspecto mais relevante sobre o ensino de
língua, que apresenta a leitura e a produção de textos como base para a formação do aluno,
mostrando que a língua não é homogênea, mas um somatório de possibilidades condicionadas
pelo uso e pela situação discursiva. Tendo assim, o texto como unidade de ensino e a
diversidade de gêneros textuais como fonte dos estudos, pois “toda educaç~o comprometida
com o exercício da cidadania precisa criar condições para que o aluno possa desenvolver sua
competência discursiva” (PCN’s, 1998, p. 23). É, portanto, através desta que o aluno poder| se
constituir como cidadão e exercer seus direitos como usuário da língua.
Dentro deste contexto que busca o uso de diversos gêneros textuais para o ensino de
língua materna, insere-se este presente trabalho que visa discutir o uso de um gênero textual
escrito, a charge, como um recurso para o ensino de língua portuguesa, no ensino
fundamental (6º ao 9º ano), buscando basear-se nos estudos de Mikhail Bakhtin (1986; 1992)
e em outras pesquisas que já abordaram o assunto dando perspectivas para o uso da mesma
em sala de aula.
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Para este autor, os enunciados são criados e ocasionam a interação verbal, ou seja, a
realidade fundamental da língua, e nos mais variados contextos sociais possuem aspectos
discursivos - semânticos e formais- relativamente estáveis que se desenvolveram ao longo do
tempo, o que Bakhtin denominou de gêneros do discurso:
A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual
da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta um
repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida
que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa. Cumpre salientar de um
modo especial a heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais e escritos), que
incluem indiferentemente: a curta réplica do diálogo cotidiano (com a diversidade que
este pode apresentar conforme os temas, as situações e a composição de seus
protagonistas), o relato familiar, a carta (com suas variadas formas), a ordem militar
padronizada, em sua forma lacônica e em forma de ordem circunstanciada, o
repertório bastante diversificado dos documentos oficiais (em sua maioria
padronizados), o universo das declarações públicas (num sentido amplo, as sociais, as
políticas). E é também com os gêneros do discurso que relacionaremos as variadas
formas de exposição científica e todos os modos literários (desde o ditado até o
romance volumoso) (BAKHTIN, 1992, p. 282).
Ainda, segundo o teórico russo, esses enunciados assumem para nós extrema
relevância no aprendizado de nossa língua, por quê:
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leitor a refletir sobre fatos e personagens do mundo atual, a interagir com uma
intertextualidade.
A intertextualidade diz respeito aos modos como a produção e recepção de um texto
dependem do conhecimento que se tenha de outros textos com os quais ele, de alguma
forma, se relaciona. (KOCH, 2000 in SILVA, s/d, p. 8).
A charge é gênero que atrai o leitor, já que a leitura da imagem transmite múltiplas
informações de uma só vez. Porém, se faz necessário que o leitor do texto chárgico esteja
informado acerca do tema abordado para que possa compreender e captar seu teor crítico,
pois “a charge aborda um tema crítico específico e real, e somente os que conhecem essa
realidade efetivamente entenderão a charge”. (SILVA, s/d, p.3).
Além disso, a charge estimula à leitura de outros textos contidos nos jornais e revistas
em que aparece, ou seja, possibilita atividades mais dinâmicas, interessantes, desenvolvendo
ainda o interesse do aluno pela leitura e pela busca de novas informações. Fazendo-se uma
comparação com o meio mais habitual da leitura dos jovens hoje, a internet, a charge atua
como um link que dá acesso à leitura de outros textos. Cabe ressaltar, também, o valor
argumentativo deste gênero, pois o mesmo busca convencer o leitor de certo ponto de vista.
Como a educação precisa ser eficaz, enquanto formadora de cidadãos capazes de
entender a realidade e nela interferir, e “o professor deve estar sempre atualizado para
exercer sua funç~o como formador de opini~o” (KLEIMAN, 1989, p. 43), a charge tornou-se
então um recurso bastante útil ao ensino de língua portuguesa, já que objetiva unir esses
pressupostos, o trabalho normativo gramatical e as novas propostas linguísticas para o ensino
de língua materna.
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Considerações finais
Pode-se concluir que o uso da charge em sala de aula é um recurso interessante a ser
utilizado por professores, não só da disciplina de língua portuguesa, mas também de outras
disciplinas do currículo escolar, promovendo ainda uma interação entre estas matérias.
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A charge tem uma grande aplicação e aceitação, visto que permite um maior interesse
pelo conteúdo que está sendo passado. Dessa forma, o professor encontra mais facilidade de
atuar com os alunos, pois várias questões serão levantadas e colocadas em debate,
dinamizando a aula. Além disso, a charge trabalha a compreensão e a interpretação de texto e
através deste, questões sociais, já que trabalha com críticas a acontecimentos da sociedade,
participando ativamente da formaç~o do cidad~o, como sugere os PCN’s de língua portuguesa
(1998, p. 23): “Toda educaç~o comprometida com o exercício da cidadania precisa criar
condições para que o aluno possa desenvolver sua competência discursiva”. É, portanto, na
percepção das situações discursivas que o aluno poderá se constituir como cidadão e exercer
seus direitos como usuário da língua.
Ressaltando que a charge é um gênero textual e está inserido no novo foco do ensino
de língua portuguesa, que é o trabalho com texto e seus diversos gêneros textuais, como
confirmando em toda esta pesquisa através dos estudos de Mikhail Bakhtin e de outros
pesquisadores como Ingedore Koch e Luiz Antônio Marcuschi.
A educaç~o proposta pelos PCN’s, ou seja, {quela que visa a formação de cidadania,
caminha ao encontro do trabalho com charges. Então, cabe aos professores que tenham acesso
às áreas de leitura e procurem efetuar um trabalho empírico em sala de aula, a fim de que
possam dotar seus alunos de um senso crítico mais apurado, no sentido de que possam, diante
de um texto, ler e/ou ouvir, compreender, formular suas ideias e criar um novo texto escrito
e/ou oral.
Assim, não são criadas crianças amorfas, que acatam pacificamente tudo o que está
sendo lido ou escutado nos textos, e que não fazem valer seu próprio dizer.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método
sociológico na ciência da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1986.
BEZERRA, Maria Auxiliadora. Textos: Seleção Variada e Atual. In: DIONISIO, Angela Paiva e
BEZERRA, Maria Auxiliadora (Orgs.) O livro didático de Português: múltiplos olhares. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2002.
BRITO, Eliana Vianna. PCNs de língua portuguesa: a prática em sala de aula. São Paulo: Arte
& Ciência, 2001.
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CUNHA, Elisabeth de Souza Figueiredo. A charge animada: uma leitura possível. Disponível
em: <portaldoprofessor.mec.gov.br/ fichaTecnicaAula .html?aula=5423> Acesso em: 15/11/14
às 15:48h.
FARACO, Carlos Alberto. Por uma teoria linguística que fundamente o ensino de língua
materna. Disponível em:
<http://www.educaremrevista.ufpr.br/arquivos_15/faraco_castro.pdf> Acesso em 07/11/14
às 14:40 h.
KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2000.
KOCH, Ingedore Villaça e ELIAS, Vanda Maria. Ler e escrever: estratégias de produção
textual. São Paulo: Contexto, 2009.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Angela
Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora. (Orgs.) Gêneros Textuais e
Ensino. 2 ed. Rio de Janeiro: Lucena, 2003.
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Introdução
A atividade foi realizada no Colégio Dom Luciano José Cabral Duarte sob a orientação
do Professor Regente Marcelo Alves Marinho, onde a disciplina de língua Espanhola é
obrigatória no ensino médio. Na data em que foi realizada a atividade no mês de setembro do
ano de 2014, a escola contava com 700 alunos, onde o professor Marcelo possuía sob a sua
responsabilidade, 25 (vinte e cinco) turmas, sendo em média 28 (vinte e oito) alunos
divididos entre as mesmas, onde nós ficamos responsáveis por aplicarmos as atividades em
10 (dez) turmas de 1º (primeiro) ano.
O desenvolvimento da atividade que aplicamos no Colégio Dom Luciano José Cabral
Duarte surgiu a partir das observações que foram feitas em sala de aula sob a supervisão do
Professor Regente Marcelo Alves Marinho, onde através de reuniões, o mesmo nos pediu para
que trabalh|ssemos com o verbo “gustar” utilizando os seus usos e funcionalidades, onde a
nossa proposta foi englobar a intertextualidade, e para isso utilizamos os gêneros textuais
virtuais “Vídeos de músicas on-line e Tiras Cômicas”.
Objetivamos com esse projeto a conscientização do uso adequado das Novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) num ambiente escolar diferenciando o
método de aprendizagem, para que cientes dessa adequação os alunos possam munir-se
desses meios, visando à solidificação de sua base estrutural de ensino, pois, surte mais prático
em aula a aprendizagem diversificada, aquela que vai além do método tradicional.
Desenvolvimento
Inteirados da ligação que há entre o mundo no qual esses alunos estão
majoritariamente imersos e a quantidade de conhecimento que nasce diariamente a partir do
uso das Novas Tecnologias, foi natural a escolha por esse mundo de globalização, onde cada
vez mais nos proporciona uma gama de novos “gêneros textuais virtuais” que nascem a partir
do uso das NTICs. É importante ressaltar a imensa gama de possibilidades que o mundo
tecnológico proporciona aos docentes para que dinamizem suas aulas.
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Podemos dizer que as mídias são métodos e estratégias pelas quais os professores e
nós enquanto futuros professores necessitamos buscar para assegurarmos que não se percam
de vista as finalidades maiores da educação, ou seja, devemos utilizar esses métodos em sala
de aula com o objetivo de formarmos o aluno como um cidadão competente para a vida e que
possa intervir na sociedade, que tenha uma opinião crítica e que seja criativo para utilizar os
mais variados recursos técnicos que estejam à disposição de todos de maneira favorável.
A utilização dessas NTICs, além de proporcionar uma série de recursos que podem
ser utilizados em sala de aula, também nos trouxe um suporte relevante, nos dando como
opção as novas linguagens das mídias eletrônicas.
As mídias devem ser ensinadas e utilizadas em sala de aula porque as escolas
necessitam incorporar as tecnologias de informação e comunicação, pelo fato de que elas já
estão inseridas dentro da sociedade, cabendo as escolas integrarem esses recursos de modo
criativo, sendo crítico e de maneira competente, cabendo ao professor uma constante
reciclagem, adotando novas metodologias, aprendendo a utilizar os equipamentos eletrônicos,
adotando novas didáticas para poder assimilar e repassar os conteúdos de maneira objetiva e
eficaz e dominar as novas linguagens próprias dos suportes tecnológicos que estão sendo
utilizadas, e para enfrentar esses desafios, o professor:
Terá que aprender a trabalhar em equipe e a transitar com facilidade em muitas áreas
disciplinares. Será imprescindível quebrar o isolamento da sala de aula convencional e
assumir funções novas e diferenciadas. A figura do professor individual tende a ser
substituída pelo professor coletivo. O professor terá que aprender a ensinar a
aprender (BELLONI, 1999).
Essas são as razões pelas quais devemos utilizar as mídias em sala de aula:
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Proposta de atividade
Dentre v|rios elementos, escolhemos trabalhar com vídeos “on-line” de músicas e
tiras cômicas para que contextualizássemos o conteúdo proposto em classe. A diversidade de
gêneros que o âmbito virtual nos possibilita, influencia na qualidade da aula e no iminente
interesse do alunado, pois através desses diversos gêneros textuais virtuais, conseguimos
manter a atenção do aluno e alcançamos com êxito os resultados em classe.
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1) Pré-leitura
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2) Leitura
3) Exemplo:
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4) Pós-leitura
Fonte: http://letras.mus.br/manu-chao/7352/
Resultados da atividade
As atividades do projeto foram aplicadas no Colégio Estadual Dom Luciano José
Cabral Duarte, juntamente com o professor regente Marcelo Alves Marinho.
As atividades executadas no colégio expuseram com êxito a hipótese inicial do projeto
que foi utilizar a intertextualidade como fonte de recursos para abarcar os usos e
funcionalidades do verbo “gustar”.
Podemos perceber a intensificação da participação discente na aula, dialogando com
os meios que são comuns a eles. O uso de vídeos da web, de tiras cômicas e das músicas para a
solidificação da aula teve um retorno positivo, e desse modo, poderemos experimentar
métodos de ensino que surtam efeito ao dialogar com o contexto social do aluno.
Foi uma ótima oportunidade para desenvolvermos e ampliarmos os nossos
conhecimentos, estimulando o graduando durante a sua formação acadêmica e estimulando o
aluno do colégio a observar que os meios de comunicação ao seu redor podem ser muito
produtivos para a aprendizagem.
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Considerações finais
O desenvolvimento da atividade que aplicamos aos alunos dos 1ºs (primeiros) anos
do ensino médio, surgiram a partir da observação de algumas aulas onde percebemos que os
verbos e as suas conjugações poderiam ser explorados de uma maneira mais contextualizada.
Partindo disso, o verbo irregular “gustar” pôde ser trabalhado em sala de aula, onde o mesmo
possui especificidades bem acentuadas em sua conjugação.
O objetivo dessa proposta de atividade foi trazer os jovens para uma realidade que
pode ser vivenciada em sala de aula, utilizando a intertextualidade como veículo motivador
que possa estar sendo trabalhada dentro de um contexto voltado ao dia a dia de cada aluno.
Os vídeos utilizados em sala de aula tratavam de uma linguagem mais jovem, onde
ambos apresentavam situações do cotidiano pelos quais os jovens passam, e atrelados a isso,
os alunos puderam adentrar na cultura de um país hispânico, nesse caso a Argentina, os
levando a conhecer o tipo de música que eles ouvem, ocorrendo com isso uma troca cultural
bastante proveitosa, pois os alunos passam a se identificar com o que veem.
O ganho com a realização dessa atividade foi de bastante relevância, do ponto de vista
que superou as nossas expectativas, pois os alunos responderam satisfatoriamente a nossa
proposta.
Fazer parte de um programa como o PIBID (Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação a Docência) só tende a nos engrandecer, pois nos proporciona um ganho de
experiências que nos auxilia em nossa formação docente, pois nos prepara para a realidade
das escolas públicas, dentre elas, as suas dificuldades e a satisfação de podermos cumprir
como o nosso dever de educador e de sermos cidadãos. Ser professor nos dias atuais é
aprender a conviver com as dificuldades e com o caos, pois a tarefa de ser docente é a de
educar e a de ensinar que aprender requer um esforço de todos para que os objetivos sejam
alcançados.
Referências
BAKHTIN. M. M. (1920 – 1974). Estética da Criação Verbal. (Edição traduzida a partir do
russo). São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BELLONI. Maria Luiza. O que é mídia-educação. 3 ed. rev. Campinas, SP: Autores Associados,
2009. – (Coleção polêmicas do nosso tempo; 78).
BELLONI. Maria Luiza. Reflexões sobre a mídia. Brasília, UnB (série sociologia, n. 69).
BELLONI. Maria Luiza. Masculino X feminino na novela das sete. Paper apresentado no
CES/ universidade de Coimbra, Portugal, 1990.
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OROFINO. Maria Isabel. Mídias e mediação escolar: pedagogia dos meios, participação e
visibilidade. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2005. – (Guia da escola cidadã; v. 12).
UNESCO. Éducation aux médias. Paris, Unesco, 1984.
Manu Chao, Me gustas tu. Disponível em: vagalume: h1hao/7352/traducao.html, visitado em:
23/09/2014
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Introdução
Escolhemos fazer um estudo reflexivo analisando a tríade alencarina por se tratar de
algumas das obras-primas da nossa literatura envolvida em todo um sentimento de
nacionalismo presente no Romantismo1, principalmente no viés indianista. Julgamos ser um
importante trabalho, pois evoca a presença do índio idealizado por Alencar em uma literatura
que destaca diferentes esferas e traz à tona seus valores, tradições e cultura. A pesquisa foi
construída a partir da analise das três obras indianistas de Alencar, particularmente um
trabalho de literatura comparada, tendo como objetivo geral realizar um estudo analítico
sobre a citada trilogia e específicos analisar as relações entre os índios e os brancos nas obras
em questão, uma vez que se preconizava no século XIX harmonizar a relação entre as etnias.
Outro objetivo foi definir a figura do índio nos romances indianistas e sua relação com o
estereótipo do bom selvagem difundido por Rousseau. Enfim comparar as obras de Alencar do
ponto de vista histórico-literário a fim de perceber como ele apresenta o índio em cada uma
delas.
Construímos este trabalho com base no procedimento metodológico de análise de
conteúdo com método histórico, posto que se trate de uma pesquisa de caráter histórico-
literário. Para isso, utilizamos como fonte livros e artigos sobre história e crítica da nossa
literatura com abordagem romântica e indianista, a fim de realizar um levantamento do
contexto do Romantismo brasileiro e biobibliográfico de José de Alencar, abordando e
analisando os três romances indianistas do autor para, enfim comparar essas obras e
consolidar conclusões sobre o que nos dispomos a pesquisar em conformidade com os
objetivos traçados.
A pesquisa foi dividida em quatro partes, na primeira estudamos o pré-romantismo
brasileiro e seus principais poetas, caracterizado como berço do indianismo pelo fato de
iniciar a temática do índio como herói nacional; na segunda parte, pesquisamos os primórdios
do Romantismo na Europa e no Brasil como suas principais características, seus escritores de
maior destaque e também o contexto histórico; no terceiro, versamos cerca da vida e da obra
de José de Alencar, um ícone de literatura brasileira, expomos fatos relevantes da biografia do
1Durante o texto utilizamos Romantismo ao tratarmos da estética e romantismo quando falarmos de sentimento.
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prosador; por fim, na quarta parte, fizemos um estudo sobre o indianismo presente nas obras
do escritor, destacamos as principais características e definimos a maneira como foi
idealizado o nativo por Alencar em sua trilogia.
2“Trata-seda literatura indianista nas frases iniciais do seu desenvolvimento, quando os intelectuais passaram a
dar uma nova roupagem as obras, eles modernizaram a temática do índio e da terra brasileira passando assim a
explorá-los em suas produções artísticas. Dessa maneira eles atualizaram-se em conformidade com a literatura
na Europa no sentido de se voltar para o passado e a construção das suas respectivas nações. No Brasil os poetas
empregaram nos nativos uma espécie de símbolo artístico nacional e exaltaram suas qualidades à maneira do
cavaleiro medieval europeu, equiparando-os aos homens brancos em sua civilidade. Dessa forma o indianismo
embrionário começou a renovar a mente os intelectuais e favoreceu na criação de uma literatura brasileira tanto
no tema quanto na linguagem tornando-o mais próxima do falar brasileiro”. CANDIDO (2009, p. 282).
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Esse Movimento foi muito rico, com múltiplos desdobramentos, mas uma
característica distingue o escritor romântico de todos os outros, o gosto pela
expressão franca dos sentimentos, dos sonhos e das emoções que povoam seu mundo
interior, numa atitude individualista e profundamente pessoal. Embora essa
característica possa ser encontrada em escritores de qualquer época, é século XIX que
ela atinge maior intensidade, convertendo-se num elemento identificador do
Romantismo como estilo de época. Libertaram-se da tradição clássica, apresentavam
novas concepções literárias em suas obras, eles valorizam os heróis nacionais, voltam-
se para a Idade Média (e não para a Antiguidade grego-romana), porque foi a época de
formatação de suas nações, cantam os sentimentos populares, falam de amor e de
saudade num tom bem pessoal, subjetivo. Era o nascimento do Romantismo.
(TUFANO, 1995 p. 64).
O Romantismo foi uma escola tão rica e de tão grande expansão que adquiriu
características muito variadas, o que torna segundo Tufano (1995), impossível descrevê-lo de
maneira minuciosa. Por isso ele resume as principais características em: expressão plena dos
estados da alma, paixões e emoções: exaltação à liberdade humana: culto e valorização da
natureza entre outras. Ainda segundo ele, os fatos importantes que marcaram o contexto
sócio-historico do Romantismo na Europa foram: a revolução industrial na Inglaterra e a
revolução francesa, que provocaram o surgimento de duas novas classes sociais: a burguesia e
o proletariado. A escola romântica ganhou força em contato com esses ideais revolucionários
– liberdade, igualdade, fraternidade – e teve uma relação direta com os ideais políticos e
principalmente revolucionários. Após dominar a Europa, esses estilo chegou aos países da
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América, inclusive ao Brasil. Aqui, o Romantismo foi desenvolvido durante o século XIX e é
considerado o período de verdadeiro nascimento e afirmação da nossa literatura.
O contexto histórico social do Romantismo brasileiro também esteve ligado a grandes
acontecimentos importantes no país, como os que procederam a chegada dessa escola,
embora já houvesse aqui a presença de um pré-romantismo, como já abordamos na primeira
parte deste trabalho. Podemos destacar a vinda de D. João VI e toda a Corte portuguesa para o
Rio de Janeiro no ano de 1808 como um dos fatores que resultou no progresso de algumas
áreas no país, promoveu reformas no ensino, instalou bibliotecas, tipografias, teatros,
consolidou a imprensa, dentre outros. Os avanços promovidos pela presença da família real
no Brasil trouxeram grandes benefícios para o povo que aqui vivia. Outro ponto que merece
destaque é a independência política do país ocorrida em 1822. Segundo Tufano (1995), tais
acontecimentos deixaram o caminho aberto para introdução do Romantismo no Brasil. Para
Candido (2009), significou ‘um ato de brasilidade’ o desejo de construir uma p|tria brasileira
e de uma literatura verdadeiramente nacional, ou seja, a independência cultural e literária do
país em relação à coroa lusitana, como afirma José de Alencar:
É essa submissão que eu não tolero, e, como já o disse uma vez, quebraria a pena
antes, do que aceitar semelhante expatriação Literária. Admiremos Portugal nas
tradições grandiosas de seu passado; nos esforços generosos dos seus costumes;
porém nunca imitá-lo servilmente. Importaria anular a nossa individualmente.
(ALENCAR, apud TUFANO, 1995 p. 123).
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Sem dúvidas, Dias foi um dos grandes ícones da poesia nacional, pois fez um corte
consciente com os modelos antigos do Classicismo, enlaçado a imaginação com o sentimento,
tornou-se um dos mestres dos poetas posteriores; voltando-se para o indianismo heroico e
uma tomada de consciência do solo natal, exaltou o sentimento de honra e valentia do índio,
comprovadas em Juca Pirama (1851) e a famosa canção do exílio (1843) em louvor ao Brasil.
Tornou-se inspiração para seus sucessores na atualização do tema do índio com grandeza e
caráter heroico como forma de patriotismo e brasilidade. Outro majestoso representante do
Romantismo Brasileiro e ícone da literatura nacional foi José de Alencar. A ele foi conferido,
pela maior parte dos estudiosos da literatura, o título de mais importante prosador do
Romantismo brasileiro, estando para prosa como Dias para a poesia. Foi defensor de um estilo
autenticamente brasileiro na língua literária, reivindicou suas particularidades primando por
uma linguagem mais próxima do falar brasileiro. Tendo em vista a importância de Alencar,
não só pra o Romantismo como para a literatura brasileira de um modo geral vamos
aprofundar um pouco mais nosso estudo sobre ele.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
3Asinformações biográficas a respeito de Alencar foram encontradas em MACHADO (200), TUFANO (1995),
COUTINHO (2001).
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Dito em linguagem não palaciana: era um teimoso. Por isso mesmo, encrespava-se,
sobretudo com a teimosia e a irreverência. A irreverência e a teimosia de Teófilo
Otoni. E de um José de Alencar, homem melindroso e áspero, mais imperial do que o
próprio imperador, no sentido de não aceitar objeções. Convivência impossível. Num
momento de sinceridade, a Bragança desabafou: “Era um homenzinho muito
malcriado”. (MACHADO, 2010 p. 88).
Sem o apoio do monarca, destituiu-se do ministério e foi o mais votado entre os seis
candidatos. Acabou sendo preterido pelo imperador que, dono do voto de minerva, escolheu o
segundo e o quinto mais votado para assumirem o Senado. Alencar venceu a eleição em
primeiro lugar e ficou fora do Senado pelo veto do imperador. Estavam deterioradas então as
relações políticas entre Alencar e D. Pedro II. Segundo Moisés (2001), após os problemas
diplomáticos com Imperador e a perda da cadeira no Senado Federal, Alencar recolhe-se à
vida particular e à sua imensa paixão: a literatura. Tido como o mais importante ficcionista do
Romantismo brasileiro, um marco na tradição literária do Brasil, foi o primeiro escritor por
vocação e que se dedicou de maneira integral às produções, foi senhor de si na escrita e na
vida, não se deixando manipular ou se dobrar por algum superior. Não abandonou as letras,
mesmo após ganhar nome de prestígio político como homem público, ao contrário, a maior
parte dos escritores tinha as letras como um passatempo de juventude e após formados não
tornavam a escrever, ele todavia se manteve fiel à sua vocação e escreveu até o fim da vida,
mesmo sofrendo ataques violentos e preconceituosos contra essa atitude.
Alencar foi jornalista, advogado, político e um autêntico homem das letras. Sendo
romancista e ensaísta, escreveu crônica, poesia e crítica literária, esta última iniciada por ele
no país, atividade até então crônica, poesia e crítica literária, esta última iniciada por ele no
país, atividade até então desconhecida até fazer a crítica a Confederação dos tamoios. Na
poesia, no entanto, não teve tento êxito. Escreveu os versos Os filhos de tupã (1863) sem muito
sucesso, mas foi na prosa que alçou maior destaque e o ponto mais alto da sua obra. Foi ele
quem inaugurou a profissão de escritor no país e teve participação decisiva também como
precursor ao inaugurar a crítica literária no Brasil. Não foi por acaso que em fonte bebeu
Joaquim Maria Machado de Assis (1832-198) um dos maiores escritores da literatura
mundial, sendo assim ele iniciou o que o próprio Machado (2010) chama de
dignificação do nosso homem das letras.
Escreveu romances nas linhas social ou urbana, regionalista, histórica e indianista,
destacamos o indianismo por serem romances obras-primas da literatura nacional e por se
voltarem para o nativo, ainda que de modo idealizado com moldes fictícios que figuraram o
índio no Romantismo brasileiro. Foi uma atividade de suma importância que valorizou o
passado e a história do Brasil, louvando a terra e destacando os indígenas que habitavam este
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
lugar. Coutinho (2001) considera que o Indianismo foi uma das maiores glórias que coroam o
nacionalismo literário no Brasil, quer seja na representação da natureza, ou do índio e isso
gerou uma literatura própria tanto no tema quanto na estética.
Para comprovar o que disse Moisés, vejamos a seguir o trecho de O Guarani, que
mostra como Alencar idealizou o índio.
Não há dúvida, disse D. Antônio de Matriz, na sua cega dedicação por Cecília quis
fazer-lhe a vontade com risco de vida. É para mim uma das coisas mais admiráveis que
tenho visto nesta terra, o caráter desse índio. Desde o primeiro dia que aqui entrou,
salvando minha filha, a sua vida tem sido um só ato de abnegação e heroísmo. Crede-
me, Álvaro, é um cavalheiro português no corpo de um selvagem! (ALENCAR, 2004 p.
43).
Como é sabido, Alencar foi ávido leitor de escritores como Walter Scoot, Fenimore
Cooper e Chateaubriand, o que resultou em profunda colaboração para sua obra. A partir
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
disse, Alencar passou a empregar em sua literatura as aventuras e feitos indígenas à maneira
das novelas de cavalarias medievais e nesse clima medieval, as obras alencarinas transmitem,
por meio dos índios, verdadeiros cavaleiros repletos de qualidades como: força, coragem,
honestidade, civilidade e nobreza. Para Candido (2001), Alencar, na sua crítica a confederação
dos tamoios, atribuiu a Firmino Rodrigues Silva, que escreveu a obra Nênia (1837)
considerada por muitos como pilar da poesia nacional indianista, a verdadeira poesia nacional
e deu ao índio um tema moderno, deixando-o pronto para ser explorado como escopo no o
desenvolvimento da literatura romântica indianista que apresenta um índio idealizado
positivamente como símbolo do nacionalismo brasileiro, segundo afirmou Coutinho (2001).
Os romances indianistas de Alencar são divididos basicamente em três: O Guarani
(1857), Iracema (1856) e Ubirajara (1874). Eles ficaram conhecidos como a Tríade Alencarina
ou Trilogia Indianista de Alencar, e nela a figura do índio está idealizada e é representada de
maneira diferente. No primeiro, notamos o índio Peri entre os europeus; no segundo, a índia
Iracema vive uma história de amor com um português no âmago da floresta brasileira; ao
passo que no terceiro, Alencar solta ainda mais sua imaginação somada com alguns dados
históricos para idealizar à vida dos índios entre eles mesmos, sem a presença do homem
branco, tendo em Ubirajara, um nativo, sua personagem principal.
O romance O Guarani (1857) foi lançado primeiro em folhetim nos jornais e logo caiu
no gosto popular, em seguida foi editado e impresso como livro. Por meio dele, Alencar
consolidou o seu nome no cenário literário brasileiro e se tornou campeão de vendas, sucesso
absoluto. Nesse romance, percebemos o caráter de inspiração medievalista imposta por
Alencar nas suas obras, aproximando o índio do colonizador e dando qualidades nobres ao
índio Peri. O romance narra as aventuras desse índio da tribo goitacá, que salvou Cecília filha
de um português chamado D. Antônio de Mariz, de um desmoronamento e ajudou a família
dele a se defender do ataque de uma tribo indígena chamada Aimoré. O ataque foi em
resposta ao incidente causado pelo irmão de Cecília e que resultou na morte de uma índia
daquela tribo. Após isso o jovem Peri tornou-se grande de Cecília e passou a amá-la e a se
dedicar totalmente a ela, servindo-a como um verdadeiro cavaleiro puro, honesto, valente e
gentil, disposto a enfrentar todos os perigos em favor da sua amada. Percebemos nesse perfil
traços de inspiração medieval e o autor se vale de palavras que retomam termos da Idade
Média como suserano e vassalo Outro ponto que destacamos é a descrição da casa onde vivia
D. Antônio e família. Alencar descreve a casa do português como se fosse um castelo medieval,
onde o “suserano” dava abrigo e proteç~o aos “vassalos”, homens que trabalhavam e o tinham
em estima e respeito.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Estes, apesar das precauções que tomavam contra os ataques dos índios. Fazendo
paliçadas e reunindo-se uns aos outros para defesa comum, em ocasião de perigo
vinham sempre abrigar-se na casa de D. ANTÔNIO DE Mariz, a qual fazia a vezes de
um castelo feudal na Idade Média. O fidalgo os recebia como um rico-homem que
devia proteção e asilo aos seus vassalos; socorria-os em todas as suas necessidades, e
era estimado e respeitado por tudo que vinham confiados na sua vizinhança,
estabelecer-se por esses lugares. (ALENCAR, 2064, p. 18).
No que refere a Peri, percebemos como foi idealizado por Alencar, quando D. Antônio
tece elogios ao jovem índio chegando a dizer “que era um verdadeiro cavalheiro português”
no corpo de um selvagem (p.43). Nesse trecho, o autor descreve o nativo com qualidades
nobres, como dedicado, abnegado e herói face ao comprometimento do indígena em satisfazer
a jovem Cecília em todos os seus caprichos e necessidades. Entretanto, há de se ressalvar que
nesse comentário ele foi infeliz, pois mesmo elogiando o índio Peri, acaba por dar uma
soberania europeia. Ao ler essa passagem, percebemos que o fidalgo elenca as qualidades do
jovem com certo espanto, como se elas pertencessem somente ao homem ‘civilizado’ o
europeu. Em relação ao amor que Peri sentia por Cecília, tratava-se uma espécie de religião,
ele procurava a sua ‘deusa’ como idolatria fan|tica, completamente dedicado a cumprir todos
os seus desejos como no episódio em que foi caçar uma onça pondo sua vida em risco somente
para satisfazer sua amada. Já o pai de Cecília via-o como amigo de confiança, D. Lauriana via-o
como um cão fiel que havia prestado serviço a família. Alencar ateneu o preconceito da
mulher ao afirmar que não fazia por ter mal coração e sim por prejuízo de educação
(ALENCAR, 2004).
Mesmo sendo Peri repleto de lealdade à Cecília e sua família, percebemos ainda
resquícios de discriminação, a exemplo da forma como Isabel, prima de Cecília referia-se a
Peri chamando-o de selvagem, pele escura e sangue vermelho, fazendo alusão ao que a mãe da
própria Cecília pensava dele: um animal assemelhando ao cavalo e ao cão, explicitando-se o
preconceito racial. D. Lauriana, esposa do português e mão de Cecília, possuía um espírito de
nobreza ridiculamente exagerado e, mesmo morando no seio das matas brasileiras, procurava
sempre mostrar-se superior e chegou até a tramar para que seu esposo não aceitasse mais a
presença do índio em seus domínios, a quem chamava de bugio, espécie de macaco: “-Ouça cá,
Sr. Mariz! Exclamou D. Lauriana; ouça as estripulias do capeta! – Senhor Deus! É pior do que
um judiaria! Mas quem deu pistola a esse bugio?”. (ALENCAR, 2004, p. 66).
Um trecho interessante dessa trama se dá quando, no momento de tensão pelo
previsto ataque dos Aimorés, o português D. Antônio, diz para Peri que só deixaria levar
Cecília e salva-la do ataque, se ele fosse cristão (p.254). Podemos observar o caráter inferior
que foi empregado ao nativo por ser simplesmente um filho de Tupã e não cristão. Faz-se
necess|rio falar, entretanto, que no mesmo instante, Peri afirmou seu desejo de ‘convers~o’ ao
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
cristianismo, claro que não por questão de fé e sim pela sua verdadeira religião, sua doce
Cecília, vemos o emocionante relato de como o indígena salvou sua amada do ataque dos
selvagens e da morte que estava às portas (p.255-256).
Ele salva Cecília do ataque vingativo dos Aimorés e foge com ela pelas florestas.
Passam dias e noites e a jovem menina compreendeu que o amor que sentia pelo jovem índio
já não era somente fraterno e foi ali, no seio da floresta onde o nativo era rei, que ela
descobriu seu amor, sua admiração pela força, coragem, e lealdade do índio, admiração não só
por suas qualidades da alma como também seus aspectos físicos vigorosos. A menina estava
amando. No clímax do enredo, verificou-se outro ato heróico do indígena salvando-a da
inundaç~o provocada por uma tromba d’|gua, salvou-a e, conforme a lenda de Tamandaré, o
nome do Noé indígena, foram flutuando sobre as águas em cima de uma palmeira.
Em Iracema (1865), Alencar monta um cenário munido de beleza natural das
florestas brasileiras, um verdadeiro louvor a terra do Brasil, exaltou seus animais e a
diversidade do seu ecossistema. Em meio a toda essa natureza exuberante, ocorreram os fatos
descritos pelo autor. A obra apresenta uma linguagem bem elaborada, procura expor a forma
poética e natural de falar dos índios e o lirismo amoroso entre os protagonistas, o europeu
Martim e a nativa Iracema. O livro possui características de um poema em prosa. Nele existe a
lenda de fundação do Ceará (nome indígena) lugar em que foi sepultada Iracema, embaixo de
um coqueiro do qual cantava a Jandaia ‘amiga’ de Iracema, por isso a virgem dos l|bios de mel
tornou-se símbolo do Ceará – Canto da Jandaia – que etimologicamente significa conto forte
da arara ou periquito.
Eis, portanto, a verdadeira origem tanto na tradição lendária como nas regras da
língua Tupi. Diferente do primeiro romance, que havia um índio no meio dos brancos, nesse
há a presença de Martim, um europeu, no meio dos índios nas matas virgens do Brasil e que se
perdeu em uma caçada com seus amigos da tribo Potiguara, inimigos da nação Tabajara da
qual fazia parte a virgem indiana. Destacamos nessa obra a figura hospitaleira dos nativos
idealizados por Alencar, índios de caráter nobre e de grande hospitalidade que ofereciam
repouso, água e comida para saciar Martim, que na floresta junto com os índios era tratado
como um amigo de Tupã (deus dos índios) recebido com honra por Araquém, pajé e pai de
Iracema.
Iracema acendeu o fogo da hospitalidade; e trouxe o que havia de provisões para
satisfazer a fome e a sede: trouxe o resto da caça, a farinha-d’|gua, os frutos silvestres,
os favos de mel, o vinho de caju e ananás. Depois a virgem entrou com a igaçaba, que
na fonte próxima enchera de água fresca para lavar o rosto e as mãos do estrangeiro.
Quando o guerreiro terminou a refeição, o velho Pajé apagou o cachimbo e falou:
- Vieste?
- Vim;respondeu o desconhecido.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da
graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu
sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida
que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertões as matas do Ipu?’onde
campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando
alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao
pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da
oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam
flores sobre os úmidos cabelos Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o
canto. Iracema saiu do banho; o aljôfar d’|gua ainda a roreja, como | doce mangaba
que corou em manhã de chuva Enquanto repousa, empluma das penas do gará as
flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o
canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela As vezes
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
sobe aos ramos da árvore e de árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras
remexe o uru te palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do
crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.
(ALENCAR, 1984, p. 14-15).
Em Ubirajara, a historia começa expondo os fatos sobre a vida do jovem índio Jaguarê
que necessita realizar um grande feito para se tornar guerreiro (p.15) e nas páginas seguinte é
narrado como aconteceu a luta que deu o nome a Jaguarê de Ubirajara (senhor da lança). Nos
capítulos seguintes, mostra como se deu a celebração da festa guerreira dos filhos de Camacã,
chefe da tribo os araguaia e a coroação de Ubirajara como grande guerreiro dos araguaia.
Alencar apresenta também a importância e valorização dos indígenas em manter vivas suas
glórias e tradições, desde os rituais festivos até as mais cruéis batalhas:
Pela margem do grande rio caminha Jaguarê, o jovem caçador. O arco pende-lhe ao
ombro, esquecido e inútil. As flechas dormem no coldre da uiraçaba. Os veados saltam
das moitas de ubaia e vêm retouçar na grama, zombando do caçador. Jaguarê não vê o
tímido campeiro, seus olhos buscam um inimigo capaz de resisir-lhe ao braço robusto.
O rugido do jaguar abala a floresta; mas o caçador também despreza o jaguar, que já
cansou d vencer. Ele chama-se Jaguarê, o mais feroz jaguar da floresta; os outros
fogem espavoridos quando de longe o pressentem. Não é esse o inimigo que procura,
porém outro mais terrível para vencê-lo em combate de morte e ganha nome de
guerra. Jaguarê chegou à idade em que o mancebo troca a fama do caçador pela glória
do guerreiro. Para ser aclamado guerreiro por sua nação é preciso que o jovem
caçador conquiste esse título por uma grande façanha. (ALENCAR, SD, p. 15).
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Do ponto de vista dos debates letrados que animaram o século XIX, as notas têm
múltipla função. Ao lado dos prefácios, elas atuam no sentido de construir e difundir o
nacionalismo literário, apresentado argumentos e dados com o objetivo de revisar o
passado colonial, afirma distinção entre a língua falada no Brasil e em Portugal e erigir
a natureza e os índios como símbolos da nova nação. Nesse sentido, as notas
participam das polêmicas eruditas, em que se discutiam quais seriam os temas e
formas mais adequadas para a criação de uma literatura brasileira. A feito às
polêmicas, Alencar espalhou-as por jornais, cartas, advertências, prefácios, posfácios e
– com não menor intensidade – notas de rodapé. Conforme observa a autora, as notas
são espaço de resposta á crítica coetânea, que acusava os romances indígenas
alencarinos de falta de compromisso com a observação da realidade e condenavam
seu afastamento da língua escrita em Portugal. Além de refutar os argumentos de seus
adversários. Alencar utilizou o espaço das notas para citar autores de destaques no
cenário da época, dando mostras de sua erudição e inserindo seus romances numa
linhagem nobre. (ABREU, 2011, p. 10).
Considerações finais
Percebemos, durante a realização desse trabalho, o quanto foi importante a investida
de Alencar em desenvolver uma literatura nacional, com o objetivo de afirmar a identidade
literária e intelectual do país. Dessa maneira, notamos que o Indianismo foi uma maravilhosa
manifestação literária nacionalista que aconteceu no Brasil, pois se voltou para o passado da
nação e valorizou aqueles que nela habitavam. Mesmo sendo o índio de Alencar idealizado em
suas obras, cremos que o papel que foi desempenhado e atingiu êxito em formar e difundir a
literatura brasileira de maneira moderna. Dessa forma, ele inovou tanto no tema quanto na
linguagem empregada nas obras, que se aproximaram do falar do povo brasileiro.
Faz-se necessário frisar que Alencar inaugurou a carreira de escritor no Brasil e foi
um dos primeiros campeões de vendas de livros no país, fazendo parceria com editoras e, com
visão de empreendedor, começou a vender os romances nas portas das pessoas. Deixou sua
marca cravada na história da literatura brasileira inaugurando também a crítica literária no
país, exerceu grande influência nos jovens literatos que despontavam no cenário nacional,
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
como Machado de Assis. Sendo assim, consideramos Alencar como um ícone da literatura
brasileira, nome fundamental na consolidação das letras no Brasil e patriarca da geração de
escritores que vieram após ele e que tanto trouxeram frutos para nossa literatura.
A influência das obras de Alencar na sociedade brasileira pode ser verificada ainda
hoje, quando encontramos diversos nomes de origem indígenas nos registros civis de
cidadãos brasileiros. Nomes esses que estiveram presentes na trilogia indianismo do autor,
tais como Iracema, Ubirajara, Ubiratan, Jacira, Moacir, Arapuã, Juçara, Araci, Jandira, dentre
outros, e que foram disseminados entre a população brasileira. Consideramos, portanto, que
esse trabalho foi muito proveitoso e que contribuiu significativamente para o entendimento
dos fatos que se deram durante o Romantismo no Brasil e de como foi consolidada a literatura
brasileira, que teve participação decisiva de Alencar e de seus romances indianistas. Elucidou-
se, por meio dessa pesquisa, como o Romantismo chegou ao Brasil e a maneira como essa
escola foi adaptada em nosso país e a colaboração do viés indianista para afirmação da
literatura brasileira.
Referências
ABREU, Mirhiane Mendes. Ao pé da página: a dupla narrativa em José de Alencar. São Paulo:
Mercado de Letras, 2011.
ALENCAR, José de. Iracema: lenda do Ceará. São Paulo: Ática, 1984.
Moisés, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 2007.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
O fracasso na formação dos alunos, no que concerne às habilidades de leitura, é
repercutido em resultados de avaliações como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), o
Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e os exames do Programa para Avaliação
Internacional de estudantes (PISA). Diante disso, percebe-se que as habilidades de leitura não
foram totalmente desenvolvidas, fazendo surgir a necessidade de encontrar os motivos que
suscitam este fracasso na formação de leitores.
A Provinha Brasil passa ser foco de análise por ser uma avaliação diagnóstica de âmbito
nacional, que indica o nível de alfabetização e letramento dos alunos, avaliando as habilidades de
leitura de alunos do 2º ano do Ensino Fundamental das escolas públicas, indicando, assim, as
principais dificuldades dos alunos no que se referem às capacidades de leitura. Além de avaliar as
habilidades dos alunos, a Provinha Brasil auxilia na reflexão da prática de ensino, uma vez que os
resultados fornecem subsídios para o planejamento pedagógico e a revisão de critérios para a escolha
dos matérias didáticos adequados.
A par da necessidade de analisar os recursos utilizados no ensino de leitura, este artigo,
recorte da dissertação intitulada Leitura e Provinha Brasil: dos pressupostos teóricos ao diagnóstico de
habilidades, resultante de atividades ligadas ao projeto Ler+Sergipe – leitura para o letramento e
cidadania, vinculado ao Programa Observatório da Educação (edital 38/2010/CAPES/INEP), observa
as estratégias e propostas de se trabalhar a leitura subjacentes a essa avaliação.4
Nesse âmbito, inicialmente, realizou-se a leitura do kit da edição 2013 da Provinha Brasil,
ressaltando seus objetivos, pressupostos teóricos, orientações para aplicação, correção e uso dos
resultados. Em seguida, com o propósito de analisar como a atividade de compreensão/interpretação
textual é explorada nos testes, realizamos o rastreamento dos tipos de perguntas, utilizando a
tipologia elaborada por Marcuschi (2008).
4 O projeto Ler+Sergipe – leitura para o letramento e cidadania foi coordenado pela Profa. Dra. Raquel Meister Ko.
Freitag, formado por uma equipe de cinco pesquisadores (professoras doutoras da Universidade Federal de
Sergipe), três alunas de mestrado, duas supervisoras (professoras da educação básica) e cinco alunos de
graduação. O principal objetivo do projeto é diagnosticar as causas do fracasso na aprendizagem inicial da
leitura, contribuindo na diminuição do analfabetismo funcional no estado de Sergipe. Alguns resultados do
desenvolvimento deste projeto estão reunidos no livro Leitura, letramento e cidadania: explorando a Provinha
Brasil, publicado em 2013.
41
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
A Provinha Brasil
A Avaliação da Alfabetização Infantil – Provinha Brasil – foi implementada, em 2008,
pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), por meio
da sua Diretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb) e com o apoio da Secretaria de
Educação Básica (SEB) do Ministério da Educação (MEC).
As secretarias de educação recebem o Kit da Provinha Brasil composto por três
documentos: Guia de Aplicação; Caderno do Aluno; Guia de Correção e Interpretação de
Resultados. Estes documentos consistem em cadernos que abordam a metodologia da prova,
seus objetivos, pressupostos teóricos, além das orientações para a aplicação, correção e uso
dos resultados.
Ao contrário do que ocorre com a Prova Brasil, os resultados da Provinha Brasil não
são utilizados na composição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB,
assim, a sua aplicação é opcional, ficando a critério de cada secretaria de educação dos estados
e municípios. Nesse sentido, a sua finalidade não é classificatória, mas oferecer aos
professores e gestores das escolas um instrumento de análise das habilidades concernentes à
alfabetização e ao letramento inicial dos alunos.
A Matriz de Referência da Provinha Brasil considera três eixos: i) apropriação do
sistema de escrita; ii) leitura; e iii) valorização da cultura escrita. Vale ressaltar que as
habilidades referentes à valorização da cultura escrita estão ao longo da constituição do teste.
Nesse sentido, a Matriz de Referência está estruturada em dois grandes eixos, como podemos
observar a seguir na figura 1:
42
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
letramento. Dentro dessa perspectiva, ressaltam-se as habilidades de: “ler palavras e frases,
localizar informações explícitas em frases ou textos, reconhecer assunto de um texto,
reconhecer finalidades dos textos, realizar inferências e estabelecer relação entre partes do
texto” (BRASIL, 2013c, p. 11).
Os desempenhos dos alunos são analisados de acordo com cinco níveis de acerto.
Para chegar a esses níveis, foi realizada uma análise das dificuldades das habilidades segundo
critérios estatísticos e pedagógicos, através de um pré-teste, realizado pelo Inep e aplicado a
diferentes grupos de alunos de todo país. A partir disso, definiu-se o número de acertos para
cada nível de alfabetização e letramento, de acordo com o número de questões de múltipla
escolha respondidas corretamente. Na edição 2013, foram adotados os seguintes números de
acertos para cada nível de desempenho:
Acredita-se que as respostas dos alunos podem ser interpretadas fazendo uma
relação entre o número ou a média de acertos e os correspondentes níveis de desempenho
descritos pela Provinha Brasil. Para cada nível h| um conjunto de habilidades. “É importante
esclarecer que cada um desses níveis apresenta novas habilidades e engloba as anteriores, por
exemplo: um aluno que alcançou o nível 3 já desenvolveu as habilidades dos níveis 1 e 2”
(BRASIL, 2013c, p. 26).
Esses níveis indicam em que fase de aprendizagem os alunos estão. A análise desse
tipo de prova, a par dos resultados apontados, pode contribuir para a reflexão da prática
pedagógica, ampliando conceitos e bases teóricas que dão suporte ao trabalho em sala de aula.
Depois de apresentadas as principais características da Provinha Brasil, torna-se
pertinente observar, por meio das questões que a compõem, como são avaliadas as
habilidades de compreensão/interpretação textual.
43
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
A tipologia de perguntas
Marcuschi (2008) apresenta uma tipologia das perguntas de compreensão em livro
didático de Língua Portuguesa nos anos de 1980-1990. Os tipos de perguntas identificados
nas atividades de compreensão/interpretação textual, dos livros didáticos selecionados para
análise, foram classificadas, segundo o referido autor, de acordo com as estratégias aplicadas.
Vejamos a tipologia no quadro a seguir:
Quadro 2 – Tipologia das perguntas de compreensão em livros didáticos de língua portuguesa nos anos de 1980
– 1990
TIPOS DE
EXPLICITAÇÃO DOS TIPOS EXEMPLOS
PERGUNTAS
São P não muito frequentes e de Ligue
perspicácia mínima, sendo já auto- Lilian – Não preciso falar sobre o que
1. A cor do
respondidas pela própria formulação. aconteceu.
Cavalo branco de
Assemelham-se às indagações do Mamãe – Mamãe, desculpe, eu menti para
Napoleão
tipo: “Qual a cor do cavalo branco de você.
Napole~o?”
São as P que sugerem atividades Copie a fala do trabalhador.
mecânicas de transcrição de frases ou Retire do texto a frase que...
palavras. Verbos frequentes aqui são: Copie a frase corrigindo-a de acordo
2. Cópias
copie, retire, aponte, indique, com o texto.
transcreva, complete, assinale, Transcreva o trecho que fala sobre...
identifique etc. Complete de acordo com o texto.
São as P que indagam sobre Quem comprou a meia azul?
conteúdos objetivamente inscritos no O que ela faz todos os dias?
texto (o que, quem, quando, como, De que tipo de música Bruno mais
3. Objetivas
onde...) numa atividade de pura gosta?
decodificação. A resposta acha-se Assinale com um x a resposta certa.
centrada só no texto.
Estas P são as mais complexas, pois A donzela do conto de Veríssimo
exigem conhecimentos textuais e costumava ir à praia ou não?
outros, sejam eles pessoais,
4. Inferenciais
contextuais, enciclopédicos, bem
como regras inferenciais e análise
crítica para busca de respostas.
São as P que levam em conta o texto Qual a moral dessa história?
como um todo e aspectos Que outro título você daria?
5. Globais
extratextuais, envolvendo processos Levando-se em conta o sentido global
inferenciais complexos. do texto, pode concluir que...
Estas P em geral têm a ver com o Qual a sua opinião sobre...? Justifique.
texto de maneira apenas superficial, O que você acha do...? Justifique.
6. Subjetivas sendo que R fica por conta do aluno e Do seu ponto de vista, a atitude de
não há como testá-la em sua validade. menino diante da velha senhora foi
correta?
São as P que indagam sobre questões De que passagem do texto você mais
que admitem qualquer resposta, não gostou?
havendo possibilidade de se Se você pudesse fazer uma cirurgia
equivocar. A ligação com o texto é para modificar o funcionamento de seu
7. Vale-tudo apenas um pretexto sem base alguma corpo, que órgão você operaria?
para a resposta. Distinguem-se das Justifique sua resposta.
subjetivas por não exigirem nenhum Você concorda com o autor?
tipo de justificativa ou relação
textual.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Apesar dos resultados positivos com relação aos tipos de perguntas, a análise
também evidenciou que a atividade de compreensão de textos está limitada à terceira seção
destinada ao estudo da Literatura, privilegiando, assim, somente os gêneros literários e as
telas. O que aponta a falta de aplicação destas atividades com os demais gêneros textuais, para
que efetivamente ocorra a formação de alunos/leitores.
Em Santos e Silva (2015), realizou-se o rastreamento dos tipos de perguntas nas
atividades de compreensão/interpretação textual dos livros didáticos do 2º ano do Ensino
Fundamental de duas escolas públicas do município de Itabaiana/SE – Letramento e
alfabetização, 2º ano: ensino fundamental e A escola é nossa: letramento e alfabetização,
adotados da rede estadual e municipal, respectivamente. Constatou-se que nas atividades de
compreensão/interpretação predominam as questões objetivas, que estimulam a habilidade
de localização das informações explícitas, o que revela a necessidade dos materiais didáticos
das séries iniciais explorarem melhor a atividade de interpretação textual, apresentando mais
perguntas inferenciais.
Por conseguinte, essas análises reafirmam a concepção de que as práticas de leitura
no espaço escolar continuam sendo uma questão aberta a novos estudos que proporcionem
mudanças significativas no processo de ensino-aprendizagem de leitura. Insiste-se, então, na
ideia de que os recursos envolvidos no ensino de leitura devem ser analisados.
Diante dessa necessidade de analisar o ensino de leitura, este artigo volta seu foco
para a Provinha Brasil, por ser uma avaliação diagnóstica aplicada nas séries iniciais do
Ensino Fundamental, fase essencial que consiste na formação das bases de ensino.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
No teste 2, uma é objetiva, cinco inferenciais e três globais. Os dados podem ser resumidos da
seguinte forma:
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Para o aluno acertar a questão, é preciso que ele tenha conhecimento sobre as repetições e
substituições que sustentam a coesão do texto.
Outra questão semelhante é a questão (20) do teste 2, que também avalia a habilidade
de identificar substituições. Nessa questão, o professor/aplicador pede aos alunos que ouçam
com atenção o texto. Em seguida, indaga: “O termo OS PAIS se refere a”. Dentro dessa
perspectiva, a quest~o tem o propósito de avaliar a habilidade de “identificar substituições
e/ou repetições pronominais”, envolvendo, assim, um processo inferencial.
Outro exemplo de questão inferencial consiste no questionamento sobre a finalidade
de gêneros textuais como a questão (13), apresentada a seguir. Para acertar esse tipo de
questão, o aluno deve identificar, através das características do texto, o gênero em questão e
relacioná-lo à sua finalidade.
Na questão (18), o questionamento é sobre uma informação que não está evidente no
texto: “Marque um X no quadradinho que responde à pergunta: Por que o menino disse que
vai fazer uma dieta?”. A pergunta est| direcionada a uma piada de Ziraldo em que um pai
pergunta ao filho: “– O que é que você vai fazer quando for do tamanho do papai?”. O menino
responde: “– Uma dieta”. Dessa forma, o aluno precisa realizar uma inferência para deduzir
que geralmente as pessoas fazem dietas, principalmente, quando estão acima do peso
recomendado e, assim, marcar a opç~o: “Porque o pai est| gordo”.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Esses processos inferenciais também são ativados nas questões denominadas globais,
mas se distinguem das inferenciais por exigir a interpretação geral do texto. Na Provinha
Brasil, elas aparecem, questionando sobre o assunto dos textos, como nos seguintes exemplos:
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Considerações finais
Com o rastreamento das questões, segundo essa tipologia, percebemos que na
provinha Brasil predominam as questões inferenciais. Nessa perspectiva, podemos afirmar
que, apesar da limitação do pouco espaço para as habilidades concernentes ao eixo de leitura,
na Provinha Brasil predominam questões que proporcionam o desenvolvimento do aluno,
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
uma vez que este tipo de questão não direciona as respostas, exigindo do leitor uma interação
entre seus conhecimentos prévios e estratégias que estão muito além da decifração das
palavras.
Nesse sentido, ressaltamos que, mesmo nas séries iniciais, é preciso trabalhar
diversas habilidades de leitura, pois as dificuldades constatadas em séries posteriores podem
ser reflexos de problemas que não foram solucionados nas séries iniciais, que podem
prosseguir e se intensificar a cada série. Assim, torna-se necessário identificar e buscar meios
de solucionar os problemas que atrapalham o ensino de leitura na base escolar.
Acredita-se que buscar analisar em que ponto do processo de aprendizagem os
alunos estão, identificando as dificuldades dos alunos nas séries iniciais, auxilia o professor a
buscar meios para desenvolver as habilidades necessárias. Mas, para que a Provinha Brasil
desempenhe efetivamente a função de instrumento identificador das dificuldades dos alunos,
é necessário que os alfabetizadores entendam todo o processo da prova desde os objetivos à
correção e à interpretação dos resultados.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira. Provinha Brasil: Caderno do Aluno. Brasília, 2013a.
SANTOS, Solange; SILVA, Leilane ramos da. A prática de leitura e o livro didático: uma análise
das atividades de interpretação textual. Intersecções, Jundiaí, v. 1, p. 178-192, 2012.
______. Tipologia de perguntas nas atividades de mediação para leitura em livros didáticos. In:
FREITAG, Raquel Meister Ko.; DAMACENO, Taysa Mércia Souza Santos. Livro didático –
gramática, leitura e ensino de língua portuguesa contribuições para a prática docente. São
Cristóvão: Editora UFS, 2015. No prelo.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
O presente trabalho aqui referido aborda a Análise do Discurso, porém não com o
intuito de explicar detalhadamente o que significa a AD, mas faremos um breve
esclarecimento sobre ela com o objetivo de por meio dela analisar e compreender como
alguns discursos, neste caso, o da maçonaria inserido em várias citações de livros secretos de
grandes autores maçons possuem verdadeiros aspectos reveladores. Veremos que esses
escritos possuem vários pontos polêmicos e ideológicos. Esses livros têm várias ideologias e
analisamos de um ponto de vista crítico como essas citações nos revelam coisas
imprescindíveis a respeito do nosso tema em questão. Vemos desse modo, alguns pastores,
bispos ou simplesmente cristãos fazendo parte de lojas maçônicas, porém com sigilos para
que os fiéis não vejam já que se trata de uma sociedade totalmente secreta e que também se
denomina um segmento filantrópico, filosófico, educativo-progressista, auxiliadora, benéfica
para a sociedade, mas com grandes mistérios. Para analisar essa grande problemática
envolvendo a Bíblia e a maçonaria tomamos como ponto de partida a Análise do Discurso,
pois como se sabe a AD é um dos ramos da Linguística que irá estudar todo o meio de
comunicação e transmissão de linguagem.
O mundo religioso vem se tornando algo de forte influência social, pois vemos se
levantar muitas denominações religiosas. Não que isso seja algo anormal, mas temos que
prestar bastante atenção nesses vários discursos porque, na maioria das vezes, muitos líderes
estão ligados a essas sociedades secretas as quais fazem tudo em oculto para que as pessoas
não percebam as suas estratégias. Com esse estudo podemos compreender se a Bíblia e a
maçonaria podem se conciliar. Desse modo, analisamos o discurso da maçonaria que se diz
benéfica e faz coisas boas para a sociedade e realmente o faz, mas esse não é o nosso
problema em questão. Atentaremos também para os cristãos que lá estão frequentando as
lojas que façam uma reflexão crítica, pois mostraremos como é a concepção da Bíblia Sagrada
dentro da loja maçônica.
Analisamos as citações do maior escritor maçom Albert Pike e também de outros
escritores bem como Albert Mackey e Manly P. Hall a fim de termos base para fazermos
algumas afirmações. Tratar de temas religiosos é sempre complicado uma vez que se tem
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
contato direto com crenças de indivíduos e isso gera certos conflitos, porém a nossa pesquisa
está embasada no maior escritor maçom que já existiu, aliás, ele é considerado como um
“papa” para a maçonaria uma vez que os seus escritos s~o colocados em pr|tica até os dias de
hoje. Muitas denominações trocam de líderes de vez em quando, mas a maçonaria só tem um
que é Albert Pike. É através dos escritos desse autor que o nosso trabalho está alicerçado. Nos
próximos itens mostraremos, na prática, como se deu toda a análise das citações desse super-
maçom, acima do grau 33º5.
Nas sociedades ocidentais, a cultura religiosa é cada vez menos divulgada entre os
pesquisadores em ciências humanas e sociais. Muitos dos que estudam textos
religiosos o fazem não para compreender o discurso religioso, mas porque ele
interfere em outros domínios. [...] (MAINGUENEAU, 2000, p. 101).
Maçonaria x Bíblia
Sabemos que a Bíblia Sagrada para o cristianismo é verdadeiramente a Palavra de
Deus e que esse livro é usado como regra de fé e prática para os cristãos. Nesse tópico iremos
analisar, necessariamente, como a Bíblia Sagrada é vista dentro da maçonaria e se esses dois
segmentos podem andar juntos e harmônicos. A Bíblia é uma das colunas da verdade Divina
como está escrito no livro de João (cap. 17:17, 22-23, p.132-133): “Santifica-os na verdade; a
tua palavra é a verdade [...] E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um,
como nós somos um”. Desse modo, a Bíblia est| nos dizendo que ela é uma das colunas da
verdade de Deus. S~o cinco colunas da verdade divina a saber: 1) Deus é a verdade: “Nas tuas
m~os, entrego o meu espírito, tu me remiste, SENHOR, Deus da verdade”. (SALMOS cap. 31:5,
p.594); 2) Jesus Cristo é a verdade: “Respondeu-lhes Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a
vida; ninguém vem ao Pai sen~o por mim”. (JOÃO cap. 14:6, p.129); 3) O Espírito Santo é a
verdade: “Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque
não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão
de vir. ” (JOÃO cap. 16:13, p.131); 4) A Lei de Deus é a verdade: “A Lei do SENHOR é perfeita e
restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e d| sabedoria aos símplices”. (SALMOS cap.
19:7, p.589); 5) A Bíblia é a verdade: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade (JOÃO
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
cap. 17:17, p.132). Contudo, temos apenas uma verdade subdividida em cinco colunas que
completam e integram a verdade absoluta que é Deus.
Porém a maçonaria não acredita nesse poder e veracidade da Sagrada Escritura e
considera a Bíblia conforme o maçom Nogueira Filho (1984, p.32-33): “A Bíblia é apenas um
livro sagrado entre outros, que podem ser inclusive livros esotéricos [...] E também é uma
metáfora da vontade divina”. Ou seja, os maçons dizem que a Bíblia n~o é absoluta e colocam-
na no mesmo patamar que os demais livros esotéricos. Dentro das lojas maçônicas temos a
presença de vários livros de acordo com a fé de cada membro. Se a loja for no território
islâmico ter-se-á o alcorão e se a loja estiver na Índia ter-se-á os vedas, ou seja, varia de
acordo com a fé e nacionalidade de cada membro. Voltando a concepção bíblica vamos ver o
que a própria Bíblia Sagrada fala sobre ela mesma para identificarmos se há harmonia com a
compreens~o maçônica. No segundo livro de Timóteo (cap. 3:16, p.304) diz: “Toda a Escritura
é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a
instrução na justiça. Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para
toda a boa obra.” Ent~o toda a Escritura é divinamente inspirada diferentemente daquilo que
a maçonaria afirma. Nesse primeiro momento já temos um confronto, porque a maçonaria diz
que a Bíblia é uma metáfora, mas a Sagrada Escritura se diz a palavra literal de Deus. Dessa
forma, o cristão que lá está deve analisar e escolher com qual opinião ele vai ficar, pois não há
meio termo.
A Bíblia Sagrada nos ensina em vários textos que Jesus Cristo é o próprio Deus em sua
Plenitude. No entanto, a maçonaria não pensa dessa forma como nos afirma o maior escritor
maçom de todas as épocas Albert Pike (1872, p.254) que diz:
Vemos claramente como a maçonaria e seu líder Pike tratam a pessoa de Jesus, pois
esta citação representa a opinião do maior escritor que a maçonaria já teve. Ou segue a
maçonaria e o que ela diz de Jesus e da Bíblia ou o que a Bíblia diz de ambos, pois são duas
opiniões totalmente distintas e jamais poderão se conciliar. Enquanto a maçonaria considera
o Cristo como apenas um homem qualquer, vejamos o que a Bíblia diz sobre Jesus no livro do
profeta Isaías (cap. 9:6, p.836): “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o
principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus
Forte, Pai da eternidade, Príncipe da Paz”. Contudo, a Bíblia diz que Jesus é o próprio Deus, j|
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
a maçonaria não acredita nessa afirmativa e veremos adiante como Pike se refere outras vezes
a Jesus Cristo.
Esses são alguns dos vários pontos em que a maçonaria e a Bíblia não conseguem
combinar-se. Outro aspecto bastante relevante é que não se deve orar em nome de Jesus
dentro de loja como nos afirma Scott Horrel (1995, p.79) que diz: “Embora as reuniões
maçônicas incluam a oração, é absolutamente proibido orar em nome de Jesus”. Como uma
pessoa sendo cristã pode concordar com tal situação se tanto o que ora quanto os que ouvem
necessitam de Jesus para alcançarem a salvação? E se não orarmos em nome de Jesus iremos
ir de confronto com o que o próprio Cristo falou no livro de Mateus (cap. 10:32-33, p.16):
“Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai,
que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei diante de meu
Pai que está nos céus”. De forma alguma, podemos deixar de orar em nome de Jesus.
Sabemos que a maçonaria é uma fraternidade de homens com intenções boas, porém
com relação aos ensinamentos bíblicos não há como conciliar, pois vemos claramente que
essa sociedade secreta contraria os princípios doutrinários bíblicos. A Bíblia Sagrada e mais
especificamente Jesus Cristo nos ensina a não fazermos juramentos e lá nas lojas maçônicas
têm-se juramentos. Esse é outro aspecto que contraria a Bíblia. Assim diz uma parte do
juramento maçônico:
Eu [...] juro e prometo, de minha livre vontade, pela minha honra e pela minha fé, em
presença do Supremo Arquiteto do Universo, que é Deus, e perante esta assembleia de
maçons, solene e sinceramente, nunca revelar qualquer dos mistérios da maçonaria
que me vão ser confiados [...] Se violar este juramento seja-me arrancada a língua, o
pescoço cortado e meu corpo enterrado nas águas do mar, onde o fluxo e refluxo me
mergulhem em perpétuo esquecimento, sendo declarado sacrilégio para com Deus e
desonrado para com os homens. Assim seja 6.
Jamais a Bíblia Sagrada vai aceitar um juramento desse tipo uma vez que o teor é
muito sério. Deve ser por causa desse juramento que muitos maçons quando saem da
maçonaria ficam com bastante medo e não revelam os segredos que lá lhe foram confiados,
mesmo que tais segredos servissem para alertar algumas pessoas de condutas anticristãs
dentro das lojas. Se vários ex-maçons revelassem os tais segredos misteriosos com certeza
muitos indivíduos pensariam duas vezes antes de ingressar nessa sociedade secreta. O
problema é que a maçonaria tem dois lados o visível e o invisível. Essa definição é dada pelo
maçom grau 33º que inclusive ganhou um prêmio e foi considerado o maior filósofo da
maçonaria seu nome é Manly P. Hall7 que diz:
6Ritual e Instruções do Aprendiz-Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito [São Paulo: Grande Oriente de São
Paulo, 1984]. Cf. Aslan, Ritual do Aprendiz Maçom, p. 94-98.
7 Lectures on Ancient Philosophy, Manly P. Hall, pág. 433.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
De fato, são dois lados o visível e o invisível. O visível todos podem conhecer, mas o
invisível é onde só os sábios e eleitos podem adentrar uma vez que é aí que se encontram os
tais segredos. Mas em nosso trabalho não iremos nos aprofundar nessa perspectiva. É
importante também, em nosso estudo, analisar como cristãos que tem a Bíblia como regra de
fé e prática conseguem fazer parte dessa sociedade e de todos os rituais que lá se encontram
uma vez que vários são os pontos que afrontam e contradizem os escritos bíblicos. O maçom
McQauig8 afirmou: “A maçonaria n~o é crist~, nem uma substituta para o cristianismo”. Ent~o
como uma pessoa que se diz cristã pode estar frequentando e ser membro dessa sociedade
secreta? A nosso ver, essas pessoas estão enganadas, pois as mentiras são fortes
características da maçonaria como nos afirma o próprio Albert Pike (1872, p.224) que diz:
“Temos que mentir para que o irmão se aprofunde nos conhecimentos. Aí será descoberta a
verdade”. Desse modo, Pike nos diz com todas as letras que a maçonaria mente e engana seus
membros.
Falarmos da Bíblia Sagrada e não tratarmos de Deus não estaríamos fazendo nada em
nosso trabalho. A maçonaria se diz adorar o Grande Arquiteto do Universo G.A.D.U. É apenas
um nome genérico para Deus, pois engloba vários deuses e até mesmo lúcifer. No entanto,
para a Sagrada Escritura só há um Deus como está escrito no livro do profeta Isaías (cap.
43:10-11, p.871) que diz:
Vós sois as minhas testemunhas diz o Senhor, e o meu servo, a quem escolhi; para que
o saibais, e Me creais, e entendais que Eu Sou o mesmo, e que antes de Mim deus
nenhum se formou e depois de Mim nenhum haverá. Eu Sou o Senhor, e fora de Mim
não há Salvador.
outra vez nos diz: “O verdadeiro nome de Deus, dizem os cabalistas, é Yahweh invertido, pois
satanás não é um deus negro, mas a negação de deus. Para os iniciados, não é uma pessoa, mas
uma força criada para o bem, mas que pode servir para o mal”. Chamando satan|s de força,
Pike cumpre as palavras do profeta Daniel (cap. 11:38, p. 900) que diz: “Mas ao deus das
fortalezas honrará em seu lugar, e a um deus a quem seus pais (Abraão, Isaque e Jacó) não
conheceram honrar| com ouro, e com prata, e com pedras preciosas, e com coisas agrad|veis”.
Contudo, o Deus da Bíblia é um Deus zeloso já o da maçonaria é um deus totalmente
sincretista e pagão e não há nada em comum com o Deus da Bíblia Sagrada nem do
cristianismo.
Mas como pode esse texto tão antigo se referir a maçonaria? Pois bem, nesse texto
Deus está fazendo referência as abominações que estavam sendo feitas em determinada
época, porém com um detalhe imprescindível que era o local onde estavam acontecendo tais
abominações a saber: na casa de Judá, ou seja, na tribo e linhagem da qual veio o Senhor e
Salvador Jesus Cristo. Essas abominações acontecem e aconteceram dentro da casa do Senhor.
Já com relação a maçonaria o que ela tem haver com esse texto? O que ocorre é o seguinte: no
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
funeral maçônico o mestre de cerimônia segura o dedo mindinho do morto e diz: “A carne se
desprende dos ossos”. Em seguida, os maçons v~o rodando em volta do caix~o e na outra
extremidade o venerável mestre tira o ramo de acácia de dentro do caixão eleva-o ao nariz e
volta com o ramo pra dentro do caixão de novo, ou seja, isso é uma ritualística do mesmo
modo que está na Bíblia. Portanto, as mesmas práticas abomináveis perante os olhos de Deus
continuam sendo feitas, mas agora pelos maçons. Deus, em sua palavra, ainda faz uso de uma
figura de linguagem que é o pleonasmo, isto é, uma repetição intencional quando Ele diz: “[...]
ainda que me gritem aos ouvidos com grande voz, eu n~o os ouvirei [...]”. Sendo assim, o
próprio Deus já deu a sentença final.
Considerações Finais
O nosso trabalho começou com o seguinte questionamento: Bíblia e maçonaria são
dois segmentos opostos? Fizemos toda uma análise tomando como base as citações dos
maiores escritores maçons, porém dando ênfase no maior deles que é Albert Pike e em seu
livro Moral e Dogmas que é considerado a “Bíblia” da maçonaria. Constatamos claramente
que, para o autor, Jesus Cristo não passa de um homem comum. E também compreendemos
que muitos membros que lá estão se encontram enganados, pois a maçonaria mente para eles
como pode ser visto claramente nas palavras de Pike (1872, p.224) que diz: “Temos que
mentir para que o irmão se aprofunde nos conhecimentos. Aí então será descoberta a
verdade”. A maçonaria engana os seus membros e nesse lugar, crist~os de verdade n~o podem
estar. Vejamos o que outro super-maçom grau 33º Manly P. Hall9 afirmou: “O verdadeiro
maçom não é limitado por credos. Ele percebe com a iluminação divina da loja que, como tal,
sua religi~o deve ser universal: Cristo, Buda ou Maomé, o nome pouco importa”. Vemos desse
modo, que o sincretismo domina a maçonaria e a gama de divindades que lá são
reverenciadas não são poucas. Nunca a maçonaria e a Bíblia poderão andar juntas, pois são
segmentos totalmente contrapostos. Não temos dúvida que o Senhor Jesus Cristo não tem
espaço dentro da maçonaria, pois os principais autores maçons afirmam com todas as letras
que Jesus não é Deus.
Em nosso trabalho nos detemos apenas em mostrar como a Bíblia Sagrada e seus
ensinamentos doutrinários são vistos dentro das lojas maçônicas que é uma instituição
religiosa e secreta. Vemos claramente durante todo esse estudo que não há condições desses
dois segmentos se unirem uma vez que ambos os ensinos se contradizem e ninguém pode
servir a dois senhores como nos afirma o livro de Mateus (cap. 6:24, p.10): “Ninguém pode
Referências
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Lendas e Mitos. 1ª ed. São Paulo: Universo dos Livros, 2008.
Bíblia Sagrada. Traduzida por ALMEIDA, João Ferreira de. 5ª ed. revista e corrigida. São
Paulo-SP: Juerp, King’s Cross, 2007.
DANIEL. Livro de Daniel. Traduzido por ALMEIDA, João Ferreira de. 5ª ed. revista e corrigida.
São Paulo-SP: Juerp, King’s Cross, 2007.
MARCOS. Livro de Marcos. Traduzido por ALMEIDA, João Ferreira de. 5ª ed. revista e
corrigida. São Paulo-SP: Juerp, King’s Cross, 2007.
MOISÉS. Livro de Êxodo. Traduzido por ALMEIDA, João Ferreira de. 5ª ed. revista e
corrigida. São Paulo-SP: Juerp, King’s Cross, 2007.
FILHO, Samuel Nogueira. Maçonaria, Religião e Simbolismo. 1ª ed. São Paulo: Traço, 1984.
ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. 1ª ed. SãoPaulo: Universo dos Livros, 2012.
ISAÍAS. Livro de Isaías. Traduzido por ALMEIDA, João Ferreira de. 5ª ed. revista e corrigida.
São Paulo-SP: Juerp, King’s Cross, 2007.
60
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
JOÃO. Apocalipse. Traduzido por ALMEIDA, João Ferreira de. 5ª ed. revista e corrigida. São
Paulo-SP: Juerp, King’s Cross, 2007.
JOÃO. Livro de João. Traduzido por ALMEIDA, João Ferreira de. 5ª ed. revista e corrigida. São
Paulo-SP: Juerp, King’s Cross, 2007.
MARCOS. Livro de Marcos. Traduzido por ALMEIDA, João Ferreira de. 5ª ed. revista e
corrigida. São Paulo-SP: Juerp, King’s Cross, 2007.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e Leitura. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2006.
PIKE, Albert. Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of
Freemasonry. Publicado Kessinger Publishing Co., 1992, ISBN 1564592758.
PIKE, Albert. Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry, p.819.
Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=BT4uAAAYAAJ&pg=PA814&hl=pt-
BR&source=gbs_toc__r&cad=3#v=onepage&q&f=false Acesso em 13.01.2015
PAULO. Livro de Gálatas. Traduzido por ALMEIDA, João Ferreira de. 5ª ed. revista e corrigida.
São Paulo-SP: Juerp, King’s Cross, 2007.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
O presente trabalho aqui referido aborda a Análise do Discurso, porém não com o
intuito de explicar detalhadamente o que significa a AD, mas faremos um breve
esclarecimento sobre ela, pois temos o objetivo de analisar e compreender como alguns
discursos, neste caso, o midiático através de uma reportagem da Rede Globo de televisão pode
transmitir outra ideia completamente diferente daquela que foi noticiada. De acordo com
Cavalcante et al. (2009, p.25-26) sabemos que “n~o h|, pois, discurso neutro ou inocente, uma
vez que ao produzi-lo, o sujeito o faz, a partir de um lugar social, de uma perspectiva
ideológica e, assim, veicula valores, crenças, visões de mundo que representa os lugares
sociais que ocupa”. Vemos desse modo, uma emissora de televis~o divulgando,
implicitamente, tudo aquilo que na verdade se diz condenar. A emissora aqui analisada coloca
em seu discurso uma ideologia, implícita, completamente diferente daquela que está sendo
mostrada durante as reportagens em seus programas de TV. É por meio da AD que faremos
essa análise, pois como se sabe a Análise do Discurso é um dos ramos da Linguística que
estuda todo o meio de comunicação e transmissão de linguagem. E é justamente por essa
transmissão que a nossa pesquisa está embasada.
As emissoras de TV sejam a Globo ou qualquer outra, tem por objetivo e dever em
suas transmissões prestar serviços à sociedade uma vez que é por meio das pessoas que essas
empresas se mantêm no ar. O que vemos é, na verdade, um sistema comunicacional de grande
poder e influência social, política e também religiosa a mandado e manipulado por grande
parte da elite dominante. Por meio desses canais de televisão podemos ver coisas interativas,
agradáveis, mas também situações em que determinado canal propaga coisas ruins para seus
telespectadores. É esse ponto crítico que a pesquisa, aqui abordada, trata durante todo o
conteúdo. Fizemos uma análise minuciosa de uma reportagem sobre uma nova droga que foi
noticiada no ano de 2003 pelo programa Fantástico da Rede Globo de televisão e
identificamos que ao assistirmos esses programas, devido a tanta interação, às vezes não
prestamos atenção nas notícias e o modo como elas estão sendo transmitidas para seus
telespectadores.
Com essa pesquisa poderemos saber e entender como esses discursos, aqui referidos,
estão manipulando a sociedade e comprometendo o entendimento de várias pessoas uma vez
62
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
que o poder da mídia, em nosso país, tem grande relevância. Esses discursos podres inseridos
na mídia seja rádio, televisão ou qualquer outro meio comunicativo tem a autoridade de
mudar completamente a opinião de várias pessoas. A transmissão dessas reportagens tem o
intuito de manipular e, posteriormente, colocar no entendimento daqueles que não conhecem
e não querem enxergar o real uma forma de pensar totalmente alienada. O que a Rede Globo
fez e vem fazendo é dizer algo sem dizê-lo, ou seja, inserir uma mensagem de uma forma
pouco perceptível a fim de expor o que realmente o discurso pretende alcançar. Nesse
aspecto, é válido ressaltar o que afirma Orlandi (2005, p.35) sobre o silenciamento discursivo:
[...] consiste em considerar o que é dito em um discurso e o que é dito em outro, o que é
dito de um modo e o que é dito de outro modo, procurando escutar o não-dito naquilo
que é dito como, uma presença de uma ausência necessária [...] porque [...] só uma parte
do dizível é acessível ao sujeito, pois mesmo o que ele não diz (e que muitas vezes ele
desconhece) significa em suas palavras.
Interna no que diz respeito ao que o discurso, neste caso o midiático, está dizendo e
também de que forma está sendo dito. Na externa iremos abordar, necessariamente, o motivo
pelo qual o discurso está sendo dito, isto é, a causalidade. Neste sentido é importante destacar
o que afirma Fiorin e Platão (2000, p.241):
É justamente a partir dessa perspectiva de analisar não só o que nos está claro, mas
também o sentido do que n~o est| dito, pois segundo Cavalcante et al. (2007, p.66): “Mitificar
um discurso é, pois apresentá-lo de forma que mascare ou oculte práticas que seriam
socialmente conden|veis, especialmente, por grupos os quais se opõe.” Nesse aspecto, a nossa
percepção de leitura não pode se delimitar apenas no que está explícito, mas sempre
procurando fazer uma an|lise crítica de qualquer discurso. “Partindo do j| mencionado
pressuposto da AD de que as palavras não possuem um significado único, mas podem
significar diferentemente a partir da posiç~o que ocupam aqueles que pronunciam, [...]”
conforme Cavalcante et al. (2007, p.101). Dessa forma, utilizar a Análise do Discurso é tentar
explicar e entender como está constituído todo o discurso e como esse texto se relaciona com
o meio social. O nosso objeto de pesquisa, ou seja, a reportagem do programa Fantástico trata
também de uma linguagem e esse estudo aqui realizado não está visando o lado gramatical da
linguagem, mas principalmente, a ideologia existente em nosso objeto de estudo e o que ele
transmite para seus respectivos destinatários. É simplesmente observar a língua de um ponto
de vista discursivo e também ir além das perspectivas que ela nos oferece.
A AD como já está mencionado no seu próprio nome analisa o discurso, o qual é
entendido como a palavra em movimento, prática de linguagem, na qual se analisa o homem
falando. É importante ressaltar o que diz Orlandi (2001, p.26): “A AD visa { compreens~o de
como um objeto simbólico produz sentidos, como ele está investido de significância para e por
sujeitos.” Com An|lise do Discurso podemos entender e compreender como o discurso
midiático, aqui tratado em uma reportagem, foi totalmente manipulado e como se deu todo
esse processo de mascaramento discursivo. Dessa forma, a análise minuciosa do texto mostra
que os efeitos e as escolhas feitas e a causa que produzem dependem e estão interligadas com
a maneira como o discurso foi construído, ou seja, há toda uma intenção por trás do implícito.
Nesses implícitos podemos identificá-los não só na reportagem aqui analisada, mas
também em vários outros casos da mesma emissora. A Rede Globo coloca de forma suave a
64
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
mensagem que quer em sua programação e infelizmente a maioria dos telespectadores não
conseguem visualizar o real significado que está por trás daquele discurso. Como diz Mariani
(1999, p.59), “a imprensa vai se colocar como autoridade que fala sobre o mundo, retratando-
o e tornando-o compreensível para os leitores através do efeito ilusório da informatividade”.
Essa emissora traz ao longo da história várias acusações do meio político, ou seja, de
privilégios digamos assim, mas não vamos nesse trabalho nos deter a esse ponto.
Logo mais, utilizaremos a AD para identificarmos algumas inconsistências nessa
reportagem. Também, provavelmente, poderemos identificar o porquê a Rede Globo insere
em suas reportagens tantos implícitos distorcendo tudo aquilo que se diz defender.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
1-Um perigo conhecido por apenas três letras GHB11 acaba de chegar ao Brasil.
1-E pior já começou a fazer vítimas.
1-Que droga é essa?
12Atentemos para esses detalhes da Globo fazendo propaganda de uma nova droga
que está chegando ao Brasil. Sem dúvida, é uma notícia que interessa diretamente aos
viciados. O repórter já diz que ela tem três letras para que todos gravem bem o nome dessa
maldita droga. Depois a apresentadora cria todo um clima e chama atenção e expectativa do
telespectador e diz: “Que droga é essa?” Esse destaque foi para os que são viciados prestarem
bastante atenção. O que vemos, até o momento, é que a Globo está mostrando os mínimos
detalhes sem que muitas pessoas percebam.
Durante a matéria o repórter diz: “Uma pessoa passou mal” quer dizer que em meio a
milhares de pessoas apenas uma passou mal. Em seguida ele afirma: “Depois de um ano outra
pessoa passou mal.” Percebe-se que a droga não mata e a Globo está acobertando os efeitos
devastadores.
Desse modo, a reportagem está dizendo que qualquer pessoa que quer ficar turbinada
só é usar essa droga. Já num certo ponto da entrevista eles colocam, sempre, um especialista
dizendo como é a droga, como usar e tudo detalhadamente. Ele diz:
3-É uma substância sem cor, sem gosto e pode ser misturada na água sem que se perceba.
3-Não é um estimulante, não é um perturbador não tem as características do êxtase que é
mais uma anfetamina ele é mais parecido com os calmantes.
2-Ele é tão potente que chegou a ser usado nos Estados Unidos para tratar distúrbios do
sono.
Agora, a droga já não faz tanto mal assim porque até pouco tempo estava sendo
vendida na farmácia, e ela parece mais um sonífero, calmante, etc. Chegamos a outro ponto
dessa matéria, ou seja, um dos públicos alvos, a saber: os indivíduos que frequentam a
academia. Assim diz a matéria:
Vê-se, pois, que agora está totalmente direcionando o discurso para as pessoas que
vão para a academia, porque se começarem a usar, consequentemente, irá melhorar a
disposição e ganhar-se-á massa muscular. Outro público citado na reportagem são pessoas
que frequentam festas noturnas. O repórter pergunta para um entrevistado:
2-Você conseguiria identificar alguém que está turbinado, movido pelo GHB?
4-Consegue. Você já vê-lo de longe. É a pessoa que fala mais, que dança mais.
4-Na primeira vez eu passei mal, vomitei muito, dormi.
O usuário afirmou que quem está sob efeito da droga dança mais, chama a atenção
dando a entender que a droga é o caminho para quem quer se mostrar, perder a timidez, isto
é, chamar a atenção para si. O entrevistado também fala que passou mal somente na primeira
vez dando a entender que depois, ou seja, nas outras vezes que usou não aconteceu
simplesmente nada. Em seguida, outro especialista afirma que essa é uma droga do estupro e
para o estuprador vejamos:
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
3-Era oferecida pra uma menina, ela entrava em sonolência perto do coma, sofria um
abuso sexual e quando acordava não se lembrava de nada.
Vê-se, desse modo, quão grave é esse discurso da Rede Globo. O que está a mostra
para nós é simplesmente a Globo dizendo que o estuprador pode ficar tranquilo, pois a vítima,
após o ato criminoso e sexual, não vai se lembrar de absolutamente nada. Para finalizar esses
fragmentos dessa reportagem terrível a Globo faz uso, como sempre, de uma suposta
autoridade estrangeira para dar uma explicação. Assim afirma o especialista estrangeiro:
3-Quando essa droga é tomada regularmente as pessoas podem se viciar tanto que
chegam a ter que tomar de duas em duas horas. Conheço casos de pacientes que acordam no
meio da noite só pra tomar outra dose de 13(droga) não conseguem dormir oito horas seguidas.
14Na verdade, o que o especialista disse de uma forma implícita é que essa droga é tão
boa que o usuário toma de duas em duas horas e ainda acorda durante a noite para tomar
outra dose. O que ele acabou de dizer é que a droga é excelente. Outro aspecto curioso é que
durante toda essa propaganda, silenciosa em forma de reportagem, o nome dessa maldita
droga foi repetido quinze vezes, mas preferimos não citá-la muitas vezes nesse trabalho.
Notamos claramente durante toda essa análise minuciosa que aquela droga fatal do início
dessa propaganda podre, já não é tão terrível agora conforme o discurso silenciado da Rede
Globo.
Considerações finais
Este trabalho teve como principal enfoque mostrar como a televisão consegue de uma
forma implícita, transmitir a mensagem que quiser. Tomamos como ponto de partida um
discurso da Rede Globo de televisão no qual constatamos que essa emissora fez e faz
apologias a qualquer tipo de objeto basta apenas a classe elitizada mandar. Neste trabalho,
notamos claramente que uma elite global dominante está por trás dos discursos que vemos e
ouvimos através da mídia. Essa classe dominante não quer que as pessoas sejam bem
13 Preferimos citar poucas vezes o nome dessa droga porque não queremos também fazer propaganda que nem a
Rede Globo de televisão.
14 Toda a reportagem tem cinco minutos e meio, porém a Globo fala mal da droga durante trinta segundos e
durante os outros cinco minutos ela só faz elogios e propagandas a essa maldita droga.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Ou seja, há sempre um sujeito-chefe que dita o que deve ou não ser dito pela mídia.
Nesse sentido, é importante também levarmos em consideração o que ressalta o linguista
Chomsky (2014) “O propósito da mídia n~o é informar o que acontece, mas sim de moldar a
opini~o pública de acordo com a vontade do poder corporativo dominante.” Sabemos que h|
sim, uma elite global dominante que rege os meios comunicativos e que esses mesmos meios
só noticiam o que é agradável a essa classe capitalista. Por fim, sem ter a pretensão de querer
esgotar o assunto aqui tratado, resta-nos dizer que essa pesquisa foi desafiadora, pois
desvelamos e mostramos como as pessoas estão sendo alienadas pela mídia. Despertamos
ainda para outros futuros estudos nessa área para alertarmos as pessoas que boa parte do que
a mídia transmite sempre está manipulado por cada vez mais um grupo menor e ao mesmo
tempo dominante de pessoas. Temos a absoluta certeza que este trabalho discutiu e
evidenciou, mostrou fatos concretos da podridão e alienação que é a mídia e a Rede Globo.
Isto posto, é válido dizer o que está escrito no livro de Gálatas (cap. 4:16, p.270) que diz: “Fiz-
me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?”
Referências
Bíblia Sagrada. Traduzida por ALMEIDA, João Ferreira de. 5ª edição revista e corrigida. São
Paulo-SP: Juerp, King’s Cross, 2007.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
CHOMSKY, Noam. Mídia: Propaganda e Manipulação. 1ª edição. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 2014.
FIORIN, José Luiz; PLATÃO, Francisco Savioli. Lições de Texto: Leitura e Redação. 4ª edição.
São Paulo: Ática, 2000.
MARCOS. Livro de Marcos. Traduzido por ALMEIDA, João Ferreira de. 5ª edição revista e
corrigida. São Paulo-SP: Juerp, King’s Cross, 2007.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e Leitura. 7ª edição. São Paulo: Cortez, 2006.
PAULO. Livro de Gálatas. Traduzido por ALMEIDA, João Ferreira de. 5ª edição revista e
corrigida. São Paulo-SP: Juerp, King’s Cross, 2007.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
O discurso retórico objetiva a adesão do auditório, logo todo discurso pode ser
considerado retórico, uma vez que rege o público numa determinada direção em busca de
cogitar um ponto de vista em comum (FERREIRA, p.49, 2010). Tendo em vista que os
argumentos presentes no discurso político têm a intenção de levar os cidadãos a aderirem e
tomarem como verdade aquilo que está sendo colocado pelo orador, nesse caso o candidato,
este trabalho visa avaliar os argumentos encontrados no discurso15 de posse de 2010 do ex-
governador do estado de Sergipe, Marcelo Deda, com o intuito de aferir o modo como estes
argumentos estão dispostos dentro do discurso para conseguir eficácia. Marcelo Deda era um
político muito querido pelos cidadãos sergipanos, e podemos comprovar isso com base na
grande comoção causada com o impacto de sua morte, em 2013. Deda era um homem culto,
formado em Direito pela Universidade Federal de Sergipe, contudo sua posição social
estabilizada não o impediu de conquistar o apreço e o carinho do “pov~o”.
Diferentemente de muitos políticos que usam a falta de instrução para favorecer as
suas campanhas e se aproximar das classes populares menos favorecidas, Marcelo Deda não
poderia incluir essa estratégia em seus discursos, no entanto isso não o impediu de vencer
não só uma, mas duas vezes as eleições para governo do estado de Sergipe, além das eleições
vencidas para prefeito, deputado federal e estadual.
É importante ressaltar que a análise retórica não tem a intencionalidade de avaliar se
o texto tem ou não razão, intenta apenas mostrar como os elementos persuasivos se
configuram, como esses recursos que visam o convencimento são incutidos no discurso
(FERRERA, 2010). Sendo assim, o objetivo deste trabalho não é julgar se os argumentos
proferidos por Deda são ou não verdadeiros, mas, sim, como conseguem ou buscam persuadir
o auditório, nesse caso, os eleitores. Dessa forma, a linguagem utilizada por Deda em seus
discursos não pode ser considerada neutra, uma vez que existe uma intenção por trás dos
argumentos proferidos por ele. Tem-se assim que “o aspecto retórico deixa de lado a quest~o
da verdade para apreender a linguagem como discurso produtor de efeitos capazes de intervir
na realidade.” (FERREIRA, 2010, p. 56). Em outras palavras, não precisa, necessariamente, que
seja dita a verdade no discurso retórico para que se obtenha êxito, basta que aquilo que está
sendo dito seja visto como verdade. No caso dos argumentos articulados por Deda, em seus
discursos em campanha, podem ter sido classificados, pelo público, como sendo verídicos,
mesmo porque, se os eleitores não tivessem acreditado que suas promessas iriam ser
cumpridas, ele não teria ganhado a eleição.
Para o desenvolvimento deste trabalho, adotamos como base dois teóricos, Luiz
Antônio Ferreira (2010) e Adilson Citelli (1997), que retomam conceitos da retórica
aristotélica; dos estudos de argumentação das novas retóricas, mais especificamente do
Tratado da Argumentação de Perelman e Olbrechts-Tyteca, publicado originalmente em 1958;
e de estudos discursivos que resgataram a noção de ethos advinda da retórica antiga. Nosso
foco permanecerá, ao longo do trabalho, nos argumentos retóricos presentes no discurso
político do ex- governador Marcelo Deda, contudo isso não nos impede de trazer outras
informações relevantes para um melhor entendimento do texto, como a definição de ethos e
ethos prévio.
Desta forma, a primeira parte deste artigo conterá informações sobre a persuasão que
se faz presente no discurso retórico, em seguida serão expostos os três tipos de gêneros
segundo Aristóteles: deliberativo, judiciário e laudatório, sendo que será dada maior ênfase ao
gênero deliberativo, uma vez que é o que melhor relaciona-se ao discurso político. Depois
trabalharemos com as Figuras de Argumentação e Retórica a partir da tipologia de Perelman e
Olbrechts-Tyteca, retomada por Ferreira (2010) - figuras de presença, figuras de comunhão e
figuras de escolha-, presentes no discurso de posse do ex-governador de Sergipe, Marcelo
Deda. Por último, apresentaremos as considerações finais, que farão uma avaliação geral de
todo conteúdo exposto neste trabalho.
mas, sim, realizá-lo de modo que conseguisse convencer/persuadir a todos quanto a sua
veracidade (CITELLI, 1997). E é “Nesse espaço do dizer, em que a habilidade no manejo do
discurso se impõe potentemente para que o orador consiga mover seu auditório a favor de
suas causas, que habita a retórica” (FERREIRA, 2010, p. 15). Dessa forma, cabe à retórica
evidenciar o modo de organizar os argumentos dentro do discurso, a fim de convencer o
interlocutor de determinada verdade. Assim, “Entende-se por que a retórica não poderia ser
uma ética, pois ela não entra no mérito daquilo que está sendo dito, mas, sim, no como aquilo
que est| sendo dito o é de modo eficiente” (CITELLI, 1997, p.11), o que leva ao conceito de
verossimilhança. Dessa maneira, “a retórica existe onde h| uma quest~o a ser debatida. Por
isso, atua no interior do discurso polêmico: aquele em que duas ou mais pessoas ou facções
emitem opiniões discordantes” (FERREIRA, 2010, p. 98).
De acordo com Ferreira (2010),
Portanto, concluímos que a retórica vai além do simples ato de comunicar, fazendo-se
presente quando o orador tem a intenção de levar o interlocutor a mudar seu ponto de vista,
ou seja, quando há a necessidade de convencer/persuadir alguém de algo. Como nenhum
discurso é neutro e despojado de intenções, tem-se que todo enunciado está impregnado de
persuasão.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
numa posição de assembleia que deve votar a favor ou contra uma proposição e o orador
posiciona-se como um conselheiro que delibera sobre o futuro [...]” (FERREIRA, p. 57, 2010).
Como já foi dito acima, além do gênero deliberativo, temos o laudatório e o judiciário.
O gênero judiciário apoia-se nas leis para resolver a quest~o. J| no “gênero laudatório, as
questões se apresentam de forma inteiramente resolvidas: as respostas são expostas e o
auditório apenas as aprecia e não as contesta, pois o problema exige apenas a tarefa de
qualificá-la” (FERREIRA, 2010, p. 58). Dessa maneira, o discurso político está mais
relacionado ao gênero retórico deliberativo, visto que, de um modo geral, os assuntos
debatidos neste tipo de discurso são questões que visam o futuro. No caso aqui analisado, em
particular, tratam-se de promessas feitas aos eleitores, já que o gênero atual pode ser definido
como um discurso de posse. No trecho, abaixo, de 2010, podemos ver claramente as
promessas feitas nessa nova etapa de governo de Marcelo Deda:
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
A partir do que foi dito por Deda, conclui-se que ele tenta, através das palavras de
Heráclito, mostrar que seu cargo será o mesmo já ocupado por ele anteriormente, o de
governador, mas seu papel não, pois houve mudanças significativas ao longo de seu mandato
anterior que o tornaram diferente, mais experiente, mais preparado para assumir com maior
autonomia e desempenho o novo governo. Desse modo constatamos que Marcelo Deda utiliza-
se ao mesmo tempo do argumento de comparação ao comparar seu governo, que está
começando, com o seu antecedente.
público, como indicam as expressões “tenham certeza”, “mais uma vez”, “meu objetivo é o
mesmo” e as ideias abaixo sublinhadas:
Volto ao governo com o coração cheio de alegria e os ombros vergados sob o peso da
responsabilidade. Só vale a pena a reeleição se aquele que foi reconduzido se dedicar
de corpo e alma à construção de um governo melhor do que o primeiro. Este, tenham
certeza, será o meu desafio: fazer mais e melhor por Sergipe e pelos sergipanos.
Quero, mais uma vez, desta tribuna, agradecer ao generoso povo sergipano que me
deu a honra de mais uma vez representá-lo à frente do governo do estado. Peço a Deus
que me dê inteligência, saúde e coragem para honrar este mandato. Meu objetivo é o
mesmo que me trouxe aqui há quatro anos: fazer de Sergipe um grande estado e da
nossa gente um povo feliz.
Diante dos argumentos colocados acima, percebemos que os tópicos destacados estão
sendo repetidos ao longo do discurso, mesmo o orador estando ciente quanto ao
entendimento do público. Também ganha destaque dentro do discurso de posse de Deda a
sinonímia, outra figura de presença usada como forma de persuasão. A sinonímia é
classificada como a repetição de ideias por meio do uso de palavras/expressões sinônimas, e
percebemos sua presença em algumas partes do discurso do ex-governador (mudanças =
transformações = “campo” diferente para a semeadura; amadurecimento = experiência). Nos
trechos, abaixo, estão contidas as mesmas ideias- de mudanças realizadas em seu último
mandato- que são repetidas ao logo do discurso.
O Governo que assumo neste momento, já não é o mesmo que assumi há quatro anos.
Um processo complexo e difícil, mas, também, inexorável, produziu mudanças na
qualidade da gestão, nas práticas administrativas e no conteúdo das políticas públicas
que executa.
Eis-me aqui de novo, caríssimos conterrâneos, tão igual e tão diferente. A tarefa
continua a mesma, mas o campo onde vou semear já não é o mesmo. Está mais fértil,
mais bem cuidado, há implementos novos a auxiliar a semeadura e adubo de boa
qualidade para alimentar a semente.
Já se vê, portanto, que mudou Sergipe e com ele mudamos nós. Mudanças que podem
ser percebidas nas mechas brancas que dominam os cabelos, prateando com a neve
do tempo o alto da minha cabeça; mudanças que produziram no político um
indiscutível amadurecimento e incorporaram no seu patrimônio uma rica experiência,
construída no difícil cotidiano de governar um estado pobre.
Como podemos notar, a partir dos argumentos destacados acima, Deda intenta
reforçar a ideia de que em seu governo anterior ocorreram mudanças significativas que
contribuirão, positivamente, para o desenvolvimento do Estado, nessa nova etapa de governo.
Destacamos, também nesse objetivo do orador, o uso das metáforas para parafrasear as ideias
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
"Deus quer,
o homem sonha,
a obra nasce."
Ainda ao longo de seu discurso, Deda cita algumas vezes o nome de Deus, procurando
exercer dessa forma a comunhão entre o orador e o público, uma vez que ele presume que a
maioria dos brasileiros creem em Deus. Essas são algumas frases em que Deda se refere a
Deus: Peço a Deus que me dê inteligência, saúde e coragem para honrar este mandato/ Que os
meus sonhos dialoguem com o querer divino/ Que Deus proteja Sergipe e abençoe os sergipanos.
Com essa estratégia, Deda constrói também o ethos do homem religioso, para muitos
sinônimo de bom homem, de pessoa confiável, humilde, justa.
Além das figuras de presença e figuras de comunhão, temos as figuras de escolha. Esta
última utiliza-se, por exemplo, da linguagem figurada para agir, encontrando uma maneira de
caracterizar o contexto, qualificando-o e interpretando-o de acordo com o interesse
argumentativo do orador (FERREIRA, 2010). No trecho que se segue, abaixo, Deda, ao falar
das mudanças significativas ocorridas no estado, utiliza-se do sentido figurado por meio de
metáforas e perífrases, já que poderia dizer a mesma coisa com um número menor de
palavras:
Eis-me aqui de novo, caríssimos conterrâneos, tão igual e tão diferente. A tarefa
continua a mesma, mas o campo onde vou semear já não é o mesmo. Está mais fértil,
mais bem cuidado, há implementos novos a auxiliar a semeadura e adubo de boa
qualidade para alimentar a semente.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Mas, o rio em que hora mergulho já não é mais o mesmo e eu, como homem e político,
carrego agora uma experiência pessoal e política que não possuía naquela solenidade
de outrora.
Não há quem não admita que ainda temos muitos problemas a enfrentar e resolver.
Não fez parte do meu programa construir um novo Éden, transformando o estado num
paraíso na terra. O compromisso mudancista que trouxe ao governo se sustentou num
programa racional, comprometido com Inclusão pelo Direito e pela renda e lastreado
no planejamento participativo.
As metáforas utilizadas por Deda tem funções múltiplas nesse discurso, como figuras
retóricas, na medida em que funcionam, ao mesmo tempo, como figuras de presença
(retomam ideias já colocadas anteriormente, em outras palavras), como figuras de escolha
(evidenciando uma escolha do orador por essa estratégia e permitindo caracterizar seu
discurso como metafórico e mais subjetivo) e, por fim, como figuras de comunhão (remetem a
crenças e valores compartilhados com o auditório, assim como deixam o texto mais didático).
Considerações finais
Ao analisar o discurso de posse de 2010, do ex-governador de Sergipe, Marcelo Deda,
notamos que suas estratégias argumentativas têm o propósito de intensificar a credibilidade
do que está sendo colocado por ele. Marcelo Deda dirige-se ao pathos (auditório) com o
intuito de despertar a confiança e, consequentemente, o apoio do mesmo. Logo, temos que o
pathos é um argumento de natureza psicológica que está ligado à afetividade, ao conjunto de
emoções, que o orador consegue despertar no ouvinte (FERREIRA, 2010). E é através do logos
(discurso) que a ação de persuadir acontece. Com base no ethos construído por Deda em seu
discurso, percebemos que ele edifica a imagem de um homem culto, religioso, humilde,
capacitado para reassumir o cargo de governador de Sergipe. E é através dessa imagem de
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
bom moço que ele consegue provocar a adesão do público, ou seja, conquistar os eleitores
sergipanos.
Além da proximidade deste discurso com o gênero deliberativo, também notamos que
ele se aproxima do gênero laudatório, uma vez que, ao se pronunciar, Deda interessa-se por
construir o discurso do belo, do louvável, e não apenas de dizer como seria seu novo mandato,
o que se comprova, principalmente, pelas citações vindas na intertextualidade com textos
filosóficos e religiosos e pelo uso abundante de metáforas. Sendo assim, pudemos observar,
como já indicavam os teóricos consultados, que todo discurso é uma construção retórica, visto
que conduz o auditório a acatar determinado ponto de vista, e que uma argumentação bem
elaborada pode estabelecer uma relação de aceitação imediata do público, o que, no caso aqui
específico, só poderia ser comprovado com a análise de textos subsequentes. Assim sendo,
cabe à retórica mostrar o modo como são constituídos sujeitos e (/nos) discursos visando a
convencer/persuadir outros acerca de dada verdade, também construída discursivamente. E é
através da argumentação, como um trabalho linguístico-discursivo do orador e como co-
enunciação do auditório, que a persuasão ocorre.
Referências
CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática, 1997.
FERREIRA, Luiz Antônio. Leitura e persuasão: princípios de análise retórica. São Paulo:
Contexto, 2010.
80
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução16
O objetivo deste trabalho é apresentar a seca de 1915 no nordeste cearense e a
diáspora nordestina sob o olhar da escritora Rachel de Queiroz na obra literária O Quinze. A
seca de 1915 foi sem dúvida uma das piores tragédias vivenciadas pelo povo nordestino no que
concerne ao sofrimento com a falta de água, alimentação, e dos meios mais básicos para
sobreviver. Diante ao caos e a triste ilusão bem como esperanças de chuvas que oportunizariam
vida ao campo seco e árido, o sertanejo sem ter outra opção tem que deixar sua terra, tendo que
partir para outros lugares á procura de melhores condições de vida e da própria sobrevivência.
Levava consigo a família, provisões e o pouco que tem para uma viagem distante, castigaste e
cheio de incertezas, tendo apenas a consciência de que a diáspora será difícil e na maioria das
vezes um caminho sem chegada, tão pouco retorno para a terra querida que ficara guardada
somente nas lembranças daqueles que partiram.
Durante a seca de 1915 o papel social do governo do Estado do Ceará, Benjamim
Liberato e Vice-governador Padre Romão Batista foram colocados em aprova, onde os mesmos
teriam que contribuir para a questão da seca. Contudo a indiferença e a falta de estruturas
necessárias para sanar ou amenizar o sofrimento e a dor dos nordestinos no contexto
mencionado foi insuficiente e até mesmo desumano, haja vista que os nordestinos que
buscavam auxiliam, tiveram que se submeter as mais baixas condições subumanas que a
miséria pode considerar, chegando a ser usado como enriquecimento ilícito por parte de outros
que desviavam os recursos financeiros aos quais eram enviados para suprir a fome e a sede.
Pesava ainda na figura dos nordestinos (retirantes) a figura de serem moribundos flagelados e
16No Ceará estava à frente do governo Benjamim Liberato Barroso como governador um engenheiro e bacharel
em matemática e ciências e física também professor da extinta Escola Militar do Ceará. Padre Cícero Romão
Batista, religioso, líder, político foi o vive governa dor. GOVERNO DO ESTADO DO CEARA EM 1915. Disponível
em:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Benjamin_Liberato_Barroso> Acesso em: 27 Out. 2014.
Campos de Concentrações eram locais estratégicos para abrigo e auxilio aos retirantes, os quais os impediam de
irem para a capital -Fortaleza. Os campos ficaram conhecidos como currais do governo. CAMPOS DE
CONCENTRAÇÕES NO CEARÁ. Disponivel em:<http://www.fortalezanobre.com.br/2010/06/seca-e-campos-de-
concentracao-em.html> Acesso em: 27 Out. 2014.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
famintos que vagavam a procura de comida, como se fossem zumbis a deriva da própria sorte.
Para não inundar a capital de fortaleza com os pestilentos nordestinos foram criados campos de
concentrações (Galpões) onde os mesmos ficavam confinados impedidos de saírem do local até
que alguém decidisse quando eles iam sair.
A obra literária o Quinze trás uma narrativa emocionante o qual através de personagens
demonstram a triste história de sofrimentos, encantos, desencantos e esperanças de um povo
tão castigado pelas terras e planícies do semiárido nordestino.
Fator Histórico17
O governo, mal inspirado, recusou em fins de 1877 a enviar socorros para o interior.
[...] O êxodo tornou-se geral. Para capital, Aracati (sic), Sobral, Granja, Camocim e
outros povoados do litoral milhares de pessoas. Em todos eles a população adventícia
era tríplice, quádrupla, até decupla (sic) da estável e, como faltassem casas para
acomodá-la, ficavam ao relento, debaixo das árvores ou amontoados em sítios
estreitos. As consequências (sic) deste regime não tardaram; febres de mau caráter,
varíola, prostituição, vadiagem e todos os seus consectários desenrolaram-se triste e
dolorosamente (POMPEU. 1893: 33).
17A fome e o cangaço. Aqui está o drama da terra. Que drama é este, que está em O Quinze, no Lampião, em A
Beata Maria do Egito, em João Miguel e em certas páginas de Dôra, Doralina e em Memorial de Maria Moura? É
o drama da terra, ou o duelo entre o homem e a terra, numa perspectiva euclidiana de autênticos desafios.
(QUEIROZ, 2006,p.7). VILLA, Marcos Antônio. Vidae Morte do Sertão: História das secas no nordeste nos
séculos XIX e XX. São Paulo: Ática, 2000.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
saiam de suas casas, terras deixando suas taperas e amigos para se aventurarem em uma
caminhada exaustiva e sofrida na busca de sobreviver à tamanha crise. Levavam consigo
pequenos trapos ao lombo do burro acompanhados com provisões básicas, mas de tamanha
importância como, por exemplo, a rapadura, a farinha e a carne seca onde em meio ao cansaço
e aos gritos e choros da criançada faziam pequenas paragens para comer um pouco e repor as
energias. O destino era a cidade do sol o qual dispunha de maior sustento e prosperidade. De
imediato as autoridades do governo resolveram criar meios para afugentar e impedir os
flagelados da seca como os mesmos eram conhecidos. Foram erguidos galpões, local para
abrigar os famintos. O primeiro campo foi construído no “alagadiço” atual bairro Ot|vio Bonfim,
ao oeste da cidade de Fortaleza, foram abrigados no campo mais de 8 mil pessoas a quem eram
ofertadas alimentações precárias sob a vigilância continuados guardas (Soldados). Os
acampamentos não ofereciam qualquer infraestrutura para comportar um contingente enorme
de pessoas, mulheres, crianças, jovens e idosos. As mesmas medidas criadas na seca de 1877
foram adotadas em 1915 de incentivando e enviando os retirantes para a Amazônia. Apenas se
livrando de moribundos e flagelados que somente sujavam as ruas imponentes da capital. Em
novembro de 1915 o campo de concentração do alagadiço foi desativado.
Fator Social
A falta de estrutura e de ações públicas intensificou ainda mais a dor dos nordestinos no
que concerne à fome, a sede e a desvalorização da pessoa humana. Órgãos do governo foram
criados a fim de combater as secas como, por exemplo, os Campos de concentração; IOCS
(Inspetoria de Obras contra as Secas, atual DNOCS (Departamento Nacional de Obras contra a
Seca), e outros auxílios para o deslocamento de famílias / transporte (trem e navios) eram
colocados à disposição para outras regiões do Brasil. Contudo salientamos que apesar dos
esforços do governo federal e estadual mesmo que por interesses egoístas de quererem se livrar
dos pobres a qualquer custo ainda houve utilização indevida e má fé de muitas pessoas inclusive
pessoas ligadas ao governo de enriquecimento as custas dos nordestinos que sofriam com a
seca de 1915. As passagens sejam pelas vias ferroviárias ou pelas vias náuticas eram
repassadas a terceiros (atravessadores) aos quais revendiam para os necessitados. Lei da oferta
e da procura em tempos difíceis em que o homem mesmo convivendo e vivenciado as mazelas
humanas ainda tiravam proveito das situações. O Estado que representa a figura maior das
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
hierarquias institucionais18 regionais por meio de seus representantes não tinham articulações
nem plano de ações necessárias para enfrentarem as questões da seca. O poder executivo na
esfera presidencial divulgou em nota em meios de circulação (Jornais) que em 1914 somente
42 poços haviam sido cavados, sendo que 33 poços privados e apenas 9 públicos. (Villa, 2000 p.
102).
No Ceará estava à frente do governo Benjamim Liberato Barroso como governador um
engenheiro e bacharel em matemática e ciências e física também professor da extinta Escola
Militar do Ceará. Padre Cícero Romão Batista, religioso, líder, político foi o vive governador. É
importante ressaltar que muitas pessoas, inclusive religiosos também contribuíram de forma
salutar amenizando a dor dos famintos, disponibilizando roupas, alimentações e tempo para dar
atenção aos nordestinos já tão cansados e oprimidos socialmente pela condição que a vida lhes
oferecia. Apesar de anos enfrentando a estiagem e as secas no nordeste brasileiro ainda é visível
a fragilidade no trato das políticas públicas voltadas para sanar as questões da seca. Em pleno
século XXI as pessoas ainda são tocadas com a fome a sede bem como mazelas que poderiam
ser evitadas mediante a tomada de decisões e ações efetivas que possam valorizar de forma
mais humana as pessoas, sobretudo as mais carentes, desprovidas de recursos financeiros tão
pouco de autonomia política social.
18 Quando foi criado o IOCS-Inspetoria de Obras Contra as Secas em 1909 já havia se passado trinta anos
desde a tragédia de 1877-79 , e cinco secas de menor efeito haviam voltado a flagelar o Nordeste.
(ALVARGONZALEZ, 1984, p.158).
Assim com carência de recursos , sem qualquer infraestrutura estratégica para apoiar a retirada de
flagelados , e sem plano geral de obras a serem realizadas na contingencia de uma estiagem, teve que ser
enfrentada a seca de 1915 . (ALVARGONZALEZ, 1984, p.159).
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
escritora se refugia para o Rio de Janeiro. Após a passagem pelo rio de Janeiro a família decide
ir para o Pará, mas ao passar de dois anos decidem retornar ao Ceará. Fixaram-se na Cidade
de Guaramiranga no Maciço do Baturité e depois retornaram para a cidade natal do pai de
Rachel (Quixadá). Raquel é matriculada em uma escola de doutrinação religiosa em outra
região e com apenas 15 anos de idade em 1925se forma professora.
Rachel volta á Quixadá e dedica-se integralmente à leitura o qual ensaia seus
primeiros rascunhos literários, mas não os mostra com receio de queixas. Raquel passa então
a escrever com frequência e para não se identificar resolve criar um nome fictício denominado
“Rita de Queluz”
No inicio de 1930 Rachel tem graves problemas de saúde (congestão pulmonar) e
suspeitas de tuberculose o qual os médicos exigem absoluto repouso para a sua recuperação e
tratamento de saúde. Resolve então escrever sobre a seca. Nasce a maior obra da escritora “O
Quinze”. Livro que retrata o sofrimento, história de lutas, fome e miséria dos sertanejos onde o
contexto social abala as estruturas da época. Os pais de Rachel ao ver a maravilha da escrita e
seu enredo resolvem contribuir emprestando para a filha dinheiro para a edição de seu
primeiro livro. Em agosto de 1930“O Quinze”é publicado com a tiragem de mil exemplares .
Rachel não havia completado vinte anos de idade quando publicou o livro. Os críticos
literários aplaudiram a escritora pelo talento que a jovem apresentava naquela obra, ainda
mais em tempos em que as mulheres viviam a parte das questões literárias e sociais. Rachel
de Queiroz vai ao rio de Janeiro em 1931 para receber um prêmio da fundação Graça Aranha,
regida e coordenada pelo escritor Murilo Mendes. Na ocasião a escritora faz amizades com
integrantes do Partido Comunista. Ao retornar para a cidade do sol Fortaleza começa a pensar
nas questões que envolvem os pensamentos comunistas, a partir dessas ideias contribui para
a fundação do PC- Partido Comunista Cearense. Em 1932 começa a fazer ações pautadas nas
revoluções comunistas o qual é apontada como “agitadora Comunista” pelas autoridades
policiais do Estado de Pernambuco. Com a grande receptividade de seu primeiro livro O
Quinze, Rachel revolve publicar o segundo livro intitulado João e Miguel. Mas seu livro é
submetido a um comitê do PC, o qual é reprovado pelo contexto literário que fazia referencia
ao assassinato de um operário o qual o autor da morte seria também outro operário. Rachel
rompe com o Partido Comunista e vai para o Rio de Janeiro para publicar seu segundo livro.
Em 1935 muda-se para Maceió e entra no circulo de amizades com Graciliano Ramos
e José Lins do Rego, Faz amizade com o pai de Fernando Collor, o jornalista Arnon de Mello.
Em 1937 é fundado o Estado Novo, um regime político adotado por Getúlio Vargas que durou
até outubro de 1945, Tinha como característica o autoritarismo, anticomunismo,
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XII SEMANA DE LETRAS
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nacionalismo e centralização do poder. Os livros de Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Lins
do Rego e de Graciliano Ramos são queimados em Salvador-Bahia, por serem acusados de
subversivos, revolucionários. Rachel é mantida detida por três meses em Fortaleza. Em 1939
muda-se para o Rio de Janeiro e em meio à separação do marido pública o quarto livro “As
Três Marias”. É nesse período que ela rompe com a esquerda. Em 1948 publica“ADonzela e a
Moura Torta”. Rachel escreve também peças para o teatro como, por exemplo ‘O Lampião, e“A
Beata Maria do Egito” dentre outras peças teatrais. O presidente Jânio Quadros convida a
escritora Rachel de Queiroz para ocupar o cargo de Ministra da Educação, o qual a mesma
recusou , utilizando como justificativa que era apenas uma jornalista e gostaria de continuar
sendo tão somente uma jornalista. No golpe de 1964 contribuiu para a deposição do
presidente João Goulart. Rachel já se torna uma pessoa influente na sociedade na cultura e na
política. Em 1967 passa a fazer parte do Conselho Federal de Cultura o qual permanece até o
ano de 1985. Rachel estreia em 1969 com a literatura infanto-juvenil com “O Menino Mágico”.
Em 1975 lança o livro “Dôra, Doralina”. No ano de 1977Rachel é a primeira mulher a
ocupar a Academia Brasileira de Letras, no assento de número cinco. Em 1978 “O Quinze”, é
publicado no Japão e na Alemanha. Em 1980 a televisão lança a novela “As Três Marias”,
baseada na obra da celebre Rachel de Queiroz. A escritora já idosa, mas com a mente aguçada
e resplandecente pública seu ultimo livro em 1992 “ Memorial de Maria Moura”. Adaptada em
1994para a televisão, uma minissérie que fez sucesso não somente no Brasil mais em vários
países como, por exemplo: Angola, Bolívia, Canadá, Guatemala, Indonésia, Nicarágua, Panamá,
Peru, Porto Rico, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Em 2000 recebe o
título de Doutor Honoris da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. No ano de 2003, é
inaugurado na Cidade de Quixadá no Ceará um Centro cultura o qual recebe o nome da
escritora como homenagem. Ainda no ano de 2003 A escritora Rachel de Queiroz morre
dormindo em sua residência no Rio de Janeiro. Segundo familiares a escritora havia sofrido
recentemente um acidente vascular cerebral (AVC), o qual foi decisivo para a sua morte. A
escritora viveu intensamente , escreveu, criticou, participou de manifestações e, sobretudo
abriu espaço para outras mulheres, pois foi à primeira brasileira a participar efetivamente do
campo literário onde somente os homens tinham abertura para discutir sobre os assuntos que
envolviam a sociedade. Uma mulher determinada que não se intimidou mediante as
dificuldades tão pouco da opressão machista e do governo. Suas obras ultrapassaram as
barreiras geográficas e foram publicadas em outros países, a televisão adaptou suas obras
fazendo chegar aos lugares mais longínquos suas histórias, seus romances e sua forma
fascinante de escrever.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
"[...] tento, com a maior insistência, embora com tão precário resultado (como se tornou
evidente), incorporar a linguagem que falo e escuto no meu ambiente nativo à língua com que
ganho a vida nas folhas impressas. Não que o faça por novidade, apenas por necessidade. Meu
parente José de Alencar quase um século atrás vivia brigando por isso e fez escola." (Rachel de
Queiroz).19
O Quinze
É uma obra liter|ria regionalista, dividida em 26 capítulos. Narra a “história de um
amor irrealizado da mocinha que lê romances franceses e sonha com o moço rede entregue à
faina solitária de salvar o seu gado; e a dramática marcha a pé de um retirante e sua família,
sonhando chegar ao amazonas”.
O Quinze, Título do Romance de estreia (1930),se refere à grande seca de 1915, de que
Rachel tanto ouviu falar. A tradução francesa de O Quinze, publicada em 1986 de
chama L’année de La grande sécbresse (O ano da grande seca).Ceiç~o convence M~e
Nácia a partirem. Vicente quer ficar, salvar o gado. Dona Maroca manda soltar o gado.
Chico Bento vende as reses e parte com a família. Chegará à Amazônia? Não consegue
as passagens e vai indo a pé. Um retirante em meio à seca. A fome e o
cangaço.(QUEIROZ, 2006, p. 7).
Rachel de Queiroz relata através de sua obra, histórias contadas por seus familiares e
amigos de tempos de muito sofrimento e dor para os nordestinos no enfrentamento da grande
seca de 1015.
Êxodo/Diáspora
Retrata a história real de um povo que forçadamente, seja pelos meios naturais ou por
imposição das estruturas sociais tem que sair de sua terra para outros lugares em busca de
melhores condições de vida. Na literatura da obra “O Quinze”, relata a história de um sertanejo
que é forçado pelas condições da seca a sair de sua terra, de seu lugar para outras terras. A
19 A seca, realidade sempre presente no Semiárido brasileiro, tem como consequências diretas a fome, a
desnutrição, a miséria, a morte, o êxodo rural. Toda essa tragédia, em boa medida, forjou uma nova geopolítica
nacional com base em uma diáspora imposta pela intolerância da seca. A despeito das glórias do passado, do seu
papel na construção do país, o Nordeste de hoje se tornou um bode expiatório para aqueles que discursam sobre
o desperdício do dinheiro público na sua recuperação. Mas é preciso pôr na balança o que o Nordeste já fez.
DIÁSPORA E EXÔDO RURAL. Disponível
em:<http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1370037&tit=Diaspora-da-seca-
redesenha-o-Brasil> Acesso em: 22 Out. 2014.
O sol poente, chamejante, rubro, desaparecia rapidamente como um afogado, no horizonte próximo. Sombras
cambaleantes se alongavam na tira ruiva da estrada, que se vinha estirando sobre o alto pedregoso e ia sumir no
casario dormente dum arruado. Sombras vencidas pela miséria e pelo desespero que arrastavam passos
inconscientes, na derradeira embriaguez da fome. (QUEIROZ, 2006, P. 75).
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caminhada é longa, a pé. Sua mulher, filhos e cunhada tem que se submeter a uma série de
condições durante a jornada. A fome, sede e misérias bem como as injustiças sociais são fatores
preponderantes no contexto da obra. Enfatizando que nos tempos da grande seca de 1915 não
havia as condições mínimas de locomoção para quem não tinha dispunha de recursos
financeiros, fazendo necessário para os sertanejos a caminhar ao sol inclemente em busca da
sobrevivência em outras terras.20
Desde os tempos mais remotos os povos que foram assolados pelas grandes secas no
nordeste realizaram caminhos tortuosos tendo que enfrentar muitas vezes a morte face a face,
fugindo de seu berço original, suas terras para tentarem sobreviver em outros lugares.
Dona Inácia
Idosa e religiosa sai de sua fazenda devido aos problemas da estiagem. Dona Inácia
enxugava os olhos vermelhos, que teimosamente insistiam em lacrimejar. O lenço branco, feito
uma bola, agitado pela mão tremente da velha, continuava a friccionar os olhos lacrimosos. –
Deixar tudo assim, morrendo de fome e de seca! Fazia vinte e cinco anos que eu não saía do
logradouro, a não ser para o Quixadá! (QUEIROZ, 2006, p.38).
Conceição
Moça letrada que busca através dos estudos outras concepções de vida e guarda um
amor arrebatador para com seu primo Vicente. Todos os anos, nas férias da escola, Conceição
vinha passar uns meses com a avó (que criara desde que lhe morrera a mãe), no logradouro, a
velha fazenda da família, perto do Quixadá. Ali tinha a moça o seu quarto, os livros, e
20Dona Inácia é uma senhora idosa religiosa e avó de uma das personagens principais da obra, Conceição.
Inácia viveu durante anos de sua vida no sertão e tem que deixar sua terra por imposição da seca. Conceição é
uma moça letrada que gosta de estudar. Guarda um amor arrebatador pelo primo Vicente. Nos tempos da
grande seca Conceição dispensava seu tempo em auxilio aos famintos, levando amor e conforto para os
flagelados da seca. Vicente é um vaqueiro que valoriza suas raízes e vive um amor irrealizado pela prima
Conceição. O moço apesar das consequências da seca não abandonou sua terra tão pouco os animais na
esperança de dias melhores para aquela terra tão castigada.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
principalmente, o velho coração amigo de Mãe Nácia. (QUEIROZ, 2006, p.13). Conceição nos
tempos da seca auxilia aos famintos e sofridos nos em um campo de concentração,
oportunizando maior conforto e solidariedade para com os flagelados.
Mas foi em vão que Chico Bento contou ao homem das passagens a sua necessidade de
se transportar a Fortaleza com a família. Só ele, a mulher, a cunhada e os cinco filhos
pequenos. O homem não entendia. – Não é possível. Só se você esperar um mês. Todas
as passagens que eu tenho ordem de dar, já estão cedidas. Por que não vai por terra?
Mas meu senhor vejo que ir por terra, com esse magote de menino, é uma morte! O
homem sacudiu os ombros: Que morte! Agora que retirante tem esses luxos..., no 77
não teve trem para nenhum. É você dar um jeito, que passagens, não pode ser.
(QUEIROZ, 2006, p. 34).21
21 Mandioca (do tupi mãdi'og1 , mandi-ó ou mani-oca que significa "casa de Mani"2 ), mandioca-
brava ou mandioca-amarga são termos brasileiros para classificar a espécie Manihot esculenta (sinônimo M.
utilissima)3 que possui elevada toxicidade porém são igualmente consumidos após um preparo especial e das
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quais se produz a maior parte das farinhas e bebidas. MANDIOCA. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Mandioca> Acesso em: 28. Out. 2014.
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para cair doente. A barriga enxada e as dores de cólica aumentavam cada vez mais. A pobre
criança teve que dizer que haverá comido a raiz. A mãe desesperada gritava a Deus por socorro,
Chico bento saiu à procura de ajuda, mas em vão chegou tarde demais, o menino já estava
morto. Toda família ficou desesperada com aquela situação. Mocinha resolveu ficar em um
vilarejo trabalhando com uma senhora, o qual depois se entregou a vida fácil para sobreviver. Lá
se tinha ficado Josias, na sua cova á beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarados, feita
pelo pai. Ficou em Paz. Não tinha mais que chorar de fome estrada a fora. Não tinha mais alguns
anos de miséria á frente da vida, para cair depois no mesmo buraco á sombra da mesma cruz.
Cordulina, no entanto, queria-o vivo. Embora sofrendo, mas em pé, andando junto dela,
chorando de fome, brigando com os outros..., e quando reincetou a marcha pela estrada
infindável chamejante e vermelha, não cessava de passar pelos olhos a mão tremula: Pobre do
meu bichinho! (QUEIROZ, 2006, P. 67).
A família de Chico Bento teve que seguir caminho. Segundo o texto, na obra literária,
enfatiza ainda outra perda para a família. A caminho da cidade do Baturité, entre as cidades de
Acarape e Redenção um dos filhos de Chico Bento se perde em meio à multidão de retirantes e
apesar dos esforços dos familiares e ajuda dos amigos não encontram a criança trazendo mais
perda para a família. Apesar dos últimos acontecimentos seguem viagem e chegam a um
campo de concentração, popularmente conhecido como curral do governo ou chapelão do
sertão. Lá encontraram abrigo, precário, mas já era alguma coisa e tinham outros sertanejos
que compartilhavam da mesma história de vida.
No mesmo atordoamento chegaram à estação do matadouro. E, sem saber como,
acharam-se empolgados pela onda que descia, e se viram levados através da praça de areia, e
andaram por um calçamento pedregoso, e foram jogados a um curral de arame onde uma
infinidade de gente se mexia, falando, gritando, acendendo fogo. (QUEIROZ, 2006, P.96).
No entanto o destino lhes reservava uma surpresa, encontraram Conceição, sua
conterrânea e comadre que auxiliava nas demandas do campo. Ficaram felizes e passaram a
manter comunicação. Conceição vendo a penúria e sofrimento da família resolveu ajudar ainda
mais. Pediu ao compadre para criar o afilhado, pois sabia que o garoto poderia morrer com
toda aquela fome, doenças e sofrimento. Apesar da mãe do garoto relutar, acabara por aceitar
diante á extrema pobreza a qual tinham consciência de que nas mãos da madrinha o garoto iria
ficar melhor. Conceição ficou feliz. Alguns dias passaram e a mesma providenciou passagens á
navio para que os mesmos pudessem ir a São Paulo. Os corações se enchiam de alegrias e
esperanças mesmo que sob o cansaço e sofrimento, viam naquele momento novas
oportunidades de viverem mais felizes. Chegara o dia da partida. Cordolina, os filhos e Chico
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Bento estavam prontos para partirem, mas antes Conceição veio se despedir dos amigos e com
um sorriso nos lábios lhes desejou boa sorte. Abraçaram-se e partiram. O casal ficou olhando a
imensidão do oceano e as lembranças se misturavam em tristeza e alivio por terem conseguido
sobreviver à diáspora.
Considerações finais
A escritora, através de sua obra literária retratou de forma vivencial e social os
aspectos que envolveram o sofrimento dos nordestinos acerca da fome e das misérias
provocadas pelas estiagens no sertão. Apesar de tamanha dor o sertanejo trazia consigo amor ao
próximo e esperanças de uma vida mais digna e tranquila. Ao longo dos séculos o Nordeste,
sobretudo o Estado do Ceará, passou por grandes secas, abalando e modificando a vida de
milhares de pessoas. No ano de 1877, 1915 e 1932 o Ceará passou por grandes aflições com a
estiagem e a falta de chuva, aumentando a fome e a miséria de um povo já tão sofrido na época
pela falta de políticas públicas que colocasse o sertanejo em um lugar mais aprazível de se viver.
A escritora cearense Rachel de Queiroz teve o talento e a ousadia de relatar as aflições dos
sertanejos de forma tão emocionante, chocando os leitores sob a forma expressiva das cenas,
principalmente quando o filho de Chico Bento morre a míngua por ter comido raiz de planta
venenosa (mandioca). Antes de morrer o garoto sofre com o ventre inchado, olhos e boca
ressequidos pela insolação. Aliado a isso a dor da mãe ao ver o filho pequeno morrer sem ter
tido a oportunidade de ser feliz. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística) o
Ceará atingiu a marca de mais de 08 milhões de habitantes. (Jornal O Povo em 29/08/20013).
Apesar do crescente avanço das tecnologias e aumento das riquezas do país como um todo.
Muitas regiões do nordeste ainda passam por dificuldades com a falta de água. Projetos do
governo Federal estão sendo desenvolvidos e aplicados para melhorar a condição de vida das
pessoas nordestinas, mas ainda há muito que se fazer de fato. As obras são lentas e a conclusão
não tem data certa para encerrar. A transposição do rio São Francisco, deslocamento de parte
das águas do rio através de mais de 700 quilômetros de canais feitos de concretos passando por
quatro Estados (Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Pernambuco), levando água e esperança
para os que necessitam de água para sobreviver em terras secas e difíceis. O orçamento chega-
se a 8,5 milhões de reais, investimento do governo Federal. Apesar dos atrasos nas obras e os
desvios dos recursos públicos os sertanejos ainda esperam dias melhores, mas estão mais
conscientes e preparados para enfrentarem as situações sob outra visão, não mais a submissão
e conformação da imposição dos mais fortes (ricos) contra os mais fracos (pobres), mas de
pessoas que entendem seus valores e acima de tudo buscam viver de forma digna e feliz.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Referências
A seca de 1877. Disponível em:<http://www.uel.br/pos/letras/EL/vagao/EL10B-Art8.pdf>
Acesso em: 27 Out. 2014.
QUEIROZ, Raquel de. O Quinze. 77. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.
VILLA, Marcos Antônio. Vida e Morte do Sertão: História das secas no nordeste nos séculos
XIX e XX. São Paulo: Ática, 2000.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
O presente texto é resultado dos trabalhos realizados através de um projeto
desenvolvido em escolas da rede pública estadual de Aracaju/SE, a partir do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), promovido e financiado pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
O subprojeto do curso de Letras Português era intitulado “Escrita e autoria: o jornal
em sala de aula”, e tinha como orientador o professor Dr. Wilton James Bernardo-Santos, do
Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal de Sergipe (DLEV/UFS).
O projeto propunha atividades voltadas, basicamente, para as práticas de leitura e de
escritura textuais, enquanto condições primordiais para a produção do conhecimento
acadêmico-científico. Afinal, não seria possível produzir conhecimento se não houvesse a
possibilidade de registrá-lo, sem a possibilidade de documentação (BERNARDO-SANTOS,
2014).
Essas atividades, cujos principais instrumentos foram o Modelo Clássico de Exposição
de Estudos/MCEE e a categoria região/território22, consistiam na análise, demarcação,
estruturação e produção de textos, mais especificamente de resumos de textos do gênero
jornalístico.
Tais práticas objetivavam o estabelecimento/busca das relações de sentido possíveis
nos textos trabalhados, por meio da percepção das características próprias de cada região
textual (introdutória, central e conclusiva) e também através da relação entre os espaços
constitutivos do texto. Da mesma forma, essas práticas buscavam observar o modo como a
autoria se constitui nesses diferentes espaços.
Nesse contexto, o projeto busca analisar se os resumos produzidos pelos alunos
manifestam a percepção de que cada região/território do texto possui características
específicas. Isso torna possível observar ainda em que medida essas produções demonstram o
22Cf.BERNARDO-SANTOS, W. J. “Poética de interfaces (I): a escrita em notas pr|ticas para uma reflex~o sobre
autoria no ensino” In: Bernardo-Santos, Carvalho & Lima (Org.). Do oral ao escrito: reflexões e práticas
desenvolvidas no programa de iniciação à docência em língua portuguesa (PIBID/SERGIPE). Aracaju, SE,
Criação Editora, 2014.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
domínio das relações de sentido que se estabelecem entre as regiões do texto, objeto para a
produção dos resumos.
Tendo observado esses aspectos, evidenciamos que este texto está fundamentado
justamente nos princípios do projeto “Escrita e autoria: o jornal em sala de aula”, bem como na
produção de Bernardo-Santos (2014) acerca do objeto em pauta neste trabalho, a categoria
região/território. Além disso, ele encontra respaldo ainda nos postulados de Sylvain Auroux
(2009), no que concerne à escrita e suas especificidades.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
tecnologias, que são ainda hoje os pilares de nosso saber metalingüístico: a gramática e o
dicion|rio” (AUROUX, 2009, p. 65).
É especificamente esse “instrumentar” que interessa ao projeto, porquanto este tenha
buscado, através de seu coordenador, desenvolver instrumentos de domínio da escrita,
enquanto uma tecnologia específica e essencial para a constituição de outros domínios
(AUROUX, 2009); (BERNARDO-SANTOS, 2014). Por sua vez, esses domínios dão lugar, tal
como observa Auroux (2009), à constituição de técnicas e competências, que podem, inclusive,
facilitar o processo de ensino-aprendizagem da escrita.
Desse modo, um ensino de língua que se pretende eficaz precisa reconhecer a
importância histórica que a escrita efetivamente tem, de registrar e documentar, tornando o
conhecimento não apenas visível, mas também mais duradouro. Da mesma forma, é preciso
pensá-la a partir de sua noção espacial, que é, afinal, aquilo que o projeto buscou fazer junto
aos alunos.
Acerca da instrumentação
Tendo em vista a exposição feita até aqui sobre a instrumentação e sua importância
para o ensino da escrita, destacamos, conforme já foram apontados anteriormente, os
principais instrumentos utilizados no projeto “Escrita e autoria: o jornal em sala de aula”,
quais sejam: o Modelo Clássico de Exposição de Estudos/MCEE; e a categoria região/território
(BERNARDO-SANTOS, 2014).
O princípio desses instrumentos é o de entender o texto enquanto um mapa, um
espaço dividido em regiões/territórios23, observando ainda de que maneira a autoria se
manifesta nesses diferentes espaços da materialidade textual. A esse respeito, o coordenador
do projeto evidencia:
O leitor trafega em diferentes regiões. Diante de um texto, seja qual for sua dimensão,
devemos reconhecer em sua materialidade relações de sentido deslizando entre as
regiões e em cada uma delas temos posições/vozes específicas em construção
(BERNARDO-SANTOS, 2014, p. 26).
23Cf. a Figura 1, em Anexos, na qual ilustramos um modelo de como acontece a demarcação do texto em seus
espaços constituintes, que aqui funciona como um facilitador da leitura e promove o domínio efetivo do texto.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
A B C D
É possível observar que esse instrumento separa o que é central em um texto do que
é periférico, de acordo com a nomenclatura utilizada por Bernardo-Santos (2014). Há, assim,
uma espécie de hierarquia entre os espaços textuais, de modo um resumo precisa apresentar
o domínio do todo, com atenção, é evidente, para o que é central.
Contamos ainda com outros instrumentos, a exemplo de uma tabela chamada de
Referências para Avaliação de Leitura e Escrita – RALE (BERNARDO-SANTOS). Essa tabela nos
permite analisar pontos específicos das produções discentes, a saber: leitura, escrita e
linguagem. Porém, por uma questão espacial, não cabe inseri-la aqui. Entretanto, todas essas
ferramentas serviram para dar forma ao trabalho desenvolvido através do projeto,
contribuindo demasiado para sua execução.
Tendo, então, feito essa breve exposição acerca dos instrumentos do projeto, fica
claro que nossa proposta é a de analisar se, e em que medida, os alunos se utilizaram desses
recursos. Em outras palavras: analisar, a partir dos resumos produzidos24 por eles, se houve a
percepção das características peculiares a cada espaço do texto, isto é, se os alunos
demonstraram o domínio das regiões (introdutória, central e conclusiva) e, enfim, se
demonstraram domínio das relações que se estabelecem entre elas.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Considerações finais
As experiências trazidas pelo projeto foram, seguramente, muito pertinentes e
contundentes, não apenas para a elaboração deste trabalho, mas também, e principalmente,
em razão da ampliação do arcabouço de teorias e práticas docentes nele desenvolvidas.
Mais do que tornar possível o contato real e efetivo com o ambiente escolar e permitir
o desenvolvimento de atividades próprias do ofício docente, o projeto viabilizou o
conhecimento de instrumentos que podem e, seguramente, vão ser muito úteis, no que
concerne ao exercício de compreensão e domínio textuais.
Pensar/trabalhar a leitura e a escrita na perspectiva do texto enquanto espaço visível,
tal como define Bernardo-Santos (2014), constituído por outros espaços (as
regiões/territórios), tornou possível imaginar um ensino de língua ainda mais eficiente, no
qual o desenvolvimento dessas habilidades de leitura e de escritura textuais é indispensável.
Da mesma forma, pensar nesses espaços a partir de sua relação com a autoria, isto é,
observando a constituição do sujeito nos diferentes espaços textuais, tornou-se igualmente
indispensável para a compreensão da totalidade do texto.
À luz dessas evidências, podemos notar que o desenvolvimento desse projeto teve
uma importância inquestionável e contribuiu demasiado tanto no âmbito institucional e
acadêmico, quanto, mais especificamente, em minha formação profissional.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Referências
AUROUX, S. A revolução tecnológica da gramatização. Campinas: Editora da Unicamp,
2009.
GERALDI, João Wanderley (org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2006.
MACHADO, A. R., LOUSAD, E. G., ABREU-TARDELLI, L. Resumo. São Paulo: Parábola, 2004.
MELO, José Marques de. A opinião do jornalismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1985.
101
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Anexo
Figura 1
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
Este artigo foi criado no propósito de falar um pouco sobre a Educação à Distância e
suas ramificações, mas tendo como foco principal apresentar um projeto realizado
Departamento de letras da universidade federal de Sergipe em paria com Centro de Educação
Superior a Distância, o Curso Espanhol Instrumental - CEI, desenvolvido pela Mestra Valeria
Jane Loureiro Siqueira. Serão relatados os objetivos do curso, assim como a aplicação do
mesmo e sobre a experiência vivenciada por duas tutoras, quais métodos utilizaram para
guiar os alunos durante o curso.
Ensino a distancia
Com a nova era de comunicação estudar a distância fica cada vez mais comum e
acessível para todas as pessoas que querem se graduar ou até mesmo fazer cursos diversos.
Sem sair de casa o aluno pode aprender uma nova língua, aprender a cozinhar, aprender a
escrever certo tipo de texto, pode fazer uma faculdade, pode aprender uma profissão e muito
outros aprendizados. Porém essa forma de ensino aprendizagem não é algo que surgiu com as
novas tecnologias de comunicação ou com a internet.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
como o tempo em que o aluno recebia os materiais, os trabalhos proposto, o envio das
respostas, e até mesmo o rico da perda de tais materiais.
A educação à distância (EAD) pode e tem sido realizada por diversos meios, seja rádio,
correio, telefone, televisão, dentre outros. No entanto, o sucesso dos cursos não
depende unicamente da tecnologia empregada, assim como, muitas experiências
atuais não obtêm o êxito esperado devido a diversos fatores alheios ao meio
tecnológico utilizado. Entretanto, não se pode negar que o surgimento de novas
tecnologias de informação e comunicação (NTIC), originadas na década de 60 e
consolidadas nos anos 90, têm corroborado sensivelmente para o crescimento do
ensino a distância. (BRITO, 2003, p. 62).
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atrasar. Até mesmo os professores e monitores tem como obrigação estarem bem preparados
para manter o aluno motivado não deixando com que desistam do curso, como também saber
corrigir sem dá as respostas corretas e sem deixa-los mais perdidos na busca da solução e
para isso um trabalho em conjunto deve ser levado em conta, pois um depende do outro para
que o ensino dê certo. Mais tais preparação e determinação devem acontecer em qualquer
tipo de ensino à distância.
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O ensino de uma língua estrangeira já era incluído no EaD, porem seu aprendizado
era mecânico, não dava espaço ao estudante aprender uma conversação dinâmica, mas com o
avanço da comunicação e informação por meio das TICs tornou mais possível o
aprofundamento das habilidades comunicativas (leitura, escrita, oralidade e auditiva).
O CURSO DE ESPANHOL INSTRUMENTAL – CEI é um projeto para a comunidade
interna da Universidade Federal de Sergipe. Trata se de um curso de espanhol instrumental
para desenvolver estratégias de leitura que ajudem na compreensão de textos escritos
ampliando o conhecimento do vocabulário específico e de estruturas sintáticas do espanhol e
levando os alunos a também familiarizar-se com as diferentes variedades da língua espanhola
no mundo.
O curso será promovido pelo Departamento de Letras Estrangeiras (DLES) da
Universidade Federal de Sergipe (UFS) juntamente com o Centro de Educação Superior a
Distância (CESAD).
O curso se realizará na modalidade à distância, com atividades avaliativas semanais
postadas na plataforma Moodle. E será ofertado aos estudantes da UFS de qualquer área de
conhecimento da graduação com a finalidade de que apreendam a língua espanhola por meio
da leitura e redação de textos direcionados as diversas áreas de conhecimento apresentando
subsídios para a compreensão da Língua Espanhola. Para isso, se desenvolverá a utilização de
ferramentas discursivas para que produza e desvele textos específicos das diversas áreas de
conhecimento em língua espanhola instrumental.
O curso é uma iniciativa da professora Msc. Valéria Jane Siqueira Loureiro, professora
de língua espanhola do Departamento de Letras Estrangeiras e dos estudantes da graduação
do curso de Licenciatura em Letras (espanhol e português/espanhol) integrantes do Projeto
de Pesquisa em “O uso das TIC’s no processo de ensino/aprendizagem de E/LE” que pertence
ao grupo de pesquisa em Análise e Elaboração de Materiais Didáticos em E/LE (GEMADELE).
Aplicação do projeto
O CEI era composto por cinquenta e três alunos e dezesseis tutores/monitores
ficando em media de três a quatro alunos para cada monitor.
A frequência dos alunos se dava por meio das respostas das atividades postadas, e
como ocorre nas aulas presenciais que com vinte cinco por cento de faltas o aluno esta
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
reprovado, acontece o mesmo no CEI tendo sete atividades postadas ao total e sendo quatro o
numero de atividades postadas para receber o certificado de conclusão.
Toda a semana era postada uma atividade diferente onde o aluno teria o limite de
uma semana começando das 00h01min até 23h59min do ultimo dia do prazo para postar a
atividade no sistema do SIGAA. Depois desse prazo as atividades postadas eram invalidadas e
para que cada prazo fosse respeitado cabia de cada tutor monitorar seus respectivos alunos.
Observando que em um curso pleno de um ensino à distância o próprio sistema veda
a postagem fora do prazo, ou seja, o aluno tenta postar a resposta fora do tempo determinado
e o sistema dará com aviso que aquela atividade já foi dada como concluída. Notando se que
ao inicio do curso os alunos são avisados sobre o tempo de postagem, assim como também são
advertidos que nem o professor responsável e nem os tutores ficaram lembrando que devem
postar as respostas. Uma vez que no ensino à distância assim como no presencial, um dos
objetivos é ensinar aos estudantes serem independentes.
Dos alunos participantes foram escolhidos foram selecionados sete alunos de duas
tutoras, cinco mulheres e dois homens. O intuído dessa escolha é de dar duas visões de
métodos diferentes, uma vez que cada tutora tem sua forma de trabalhar e como cada aluno
responde a esse método. As tutoras serão chamadas de T1 e T2. Os alunos do sexo masculino
terão como referencia numero impar as do sexo feminino números pares. EX: T1: A1; A3; A4;
A2. T2: A6; A8; A10.
O único meio de comunicação entre os tutores e alunos se dava pela plataforma do
SIGAA, onde eram postadas as atividades, respostas, avisos e curiosidades coletivas. E pelo
email a comunicação era mais dedicada a duvidas individuais dos alunos. Os métodos
utilizados para a correção das atividades foram:
T1:
Tachar as respostas com cores diferentes indicando indiretamente cada erro. Ex: amarelo – texto sem
conexão ou sem sentido; azul claro – reler a pergunta, pois a resposta não esta bem clara ou incompleta;
OBS – dicas sutis para melhorar uma interpretação do texto, etc. a cada resposta tachada era explicado
no final de tudo explicado os significados, então com isso o aluno teria que reler tanto a pergunta como a
resposta e encontrar por si só o erro.
Após X quantia de atividade era feita uma retrospectiva de como foi o desempenho de cada aluno
dizendo se melhoraram e caso não no que deveriam melhoras.
T2:
Antes de ver as respostas dos alunos a T2 respondia a atividade para que quando fosse corrigir as
atividades ela tivesse como identificar o erro com mais facilidades. Observando que a T 2 não buscava na
resposta do aluno uma idêntica a sua, mas sim uma linha paralela de entendimento respeitando as
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questões pessoais. Não respondido satisfatoriamente a pergunta era pedido para que o aluno relesse
mais atentamente a atividade e refizesse, sempre dando dicas sutis para orienta-lo.
Atividade #1
Atividade #2
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tradução. Pediu-se que não tentasse interpretar a palavra isoladamente e sim com base na
frase... paragrafo e temática do texto. Caso ainda continuasse a não conseguir identificar o
sentido da palavra que recorresse a um dicionário, mas não a um site de tradução, pois o
mesmo poderia facilitar muito a decodificação da frase e isso prejudicaria o aprendizado do
aluno.
Tal questionamento pode ser entendido como um método em que o aluno já utilizava
ou estava pretendendo utiliza. Percebe-se ent~o que esse atalho se assemelha a dito “cola” dos
cursos presenciais onde o aluno não se esforça e copia a resposta de seu colega ou ate mesmo
ele vai à internet atrás de tradução. Tais métodos não tem como ser rigorosamente serem
vigiados, cabe ao aluno ter consciência que isso afetara a ele e somente ele.
A aluna A8 respondeu algumas questões totalmente erradas. Entendimento claro da
falta de atenção do aluno. O que levou a tutora a chamar sua atenção ao erro gritante, pedindo
que tivesse mais atenção.
As atividades corrigidas foram postadas na pagina referente à mesma atividade, todas
foram corrigidas e reenviadas pelos alunos.
Atividade #3
Composta por três textos (um conto de fadas da bela adormecida; um anuncio
publicitário e uma curiosidade sobre el dia de los muertos) e treze perguntas distribuídas
entre os textos.
O aluno A1 mostra apenas pequenos erros de interpretação com o texto publicitário
verbal/não verbal, indicando sua deficiência nesse tipo de texto, uma vez que nos outros
textos ele obteve um bom desempenho. Alguns alunos mostraram dificuldades em
compreender os enunciados, um motivo podendo ser falta de atenção à pergunta. A aluna A10
Teve uma compreensão completa dos textos errado coisas leves. E a aluna A8 não respondeu a
atividade garantindo sua primeira falta.
As atividades corrigidas foram postadas na pagina referente à mesma atividade, todas
foram corrigidas e reenviadas pelos alunos. As atividades corrigidas foram postadas na pagina
referente à mesma atividade, todas foram corrigidas e reenviadas pelos alunos.
Atividade #4
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podem muito bem serem resolvidos ao serem dado o visto pelo próprio aluno. E a aluna A 8
mais uma vez não respondeu a mais uma atividade, como também a aluna A6 ganhando sua
primeira falta.
As atividades corrigidas foram postadas na pagina referente à mesma atividade, todas
foram corrigidas e reenviadas pelos alunos.
As atividades corrigidas foram postadas na pagina referente à mesma atividade, todas
foram corrigidas e reenviadas pelos alunos, menos a do aluno A3 tal ato não o penaliza
diretamente no curso, somente no seu aprendizado, pois deixa ao entendimento que não
tenha talvez visto o que era necessário concertar.
Atividade #5
Composto dois textos (uma publicitária e uma reportagem) e quatro perguntas entre
os textos.
Os alunos concluíram as atividades com perfeição. Menos o aluno A3 que persiste em
erros básicos e a aluna A8 quem novamente não participou.
Nessa atividade a T1 fez uma retrospectiva do desempenho de seus alunos. Com o
proposito de fazê-los ver o quanto progrediu e o quando ainda tem que continuar melhorando
ou mantiver o seu desempenho. Adicionando dicas que possa ajudar na reta final do curso.
Todos responderam com exceção do aluno A3 e A8.
Atividade #6
Atividade #7
A última atividade do CEI foi uma já postada à atividade #2 com o intuito de ver se o
aluno tinha uma boa memória e se estavam atentos, assim como se eram honestos e não
copiariam as repostas dadas na atividade #2 ou se seguiriam com honestidade e responderia
mais uma vez podendo mostrar uma nova visão de entendimento, um mais amadurecido.
Apenas uma aluna comentou antes de responder que a atividade já havia sido postada
anteriormente a aluna A4. E todos os alunos ainda participantes responderam honestamente
cada pergunta não recorrendo à segunda atividade.
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Referências
BRITO, Mario Sergio da Silva. Tecnologia para a EAD – Via internet. Salvador: Ed. UNEB,
2003, p. 61-87.
MARQUES, Camila. Ensino a distância começou com cartas a agricultores. Folha online,
2004. Site: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u396511.shtml. Acessado
em: 15/06/2015
PRETTO. Nelson De Luca, PICANÇO. Alessandra de Assis. Reflexões sobre EAD: concepções de
educação. In. Coordenadoras Bohumila Araújo e Katia Siqueira de Freitas; autores, André
Lemos... [et al.]. Educação a Distância no contexto brasileiro: algumas experiências da
UFBA - Salvador: ISP/UFBA, 2005, p. 31-56.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
Várias são as dificuldades que abarcam o processo de construção do conhecimento de
alunos atualmente. Alguns gargalos podem ser notados no tocante da sala de aula e a relação
professor/aluno, principalmente na educação básica. Alguns desses problemas podem ser
descritos como: deficiência na leitura dos alunos como mera decodificação, dificuldades na
interpretação de textos e falhas na produção nos textos solicitados em sala.
Pesquisas apontam, como a do Instituto Paulo Montenegro (IPM), braço social do
Ibope, e pela ONG Ação Criativa feita em 2005, que 75% dos brasileiros leem mal, afirmação
esta, que pode denotar o déficit de leitura nos alunos na educação básica, por sua vez, sem a
recepção de texto, não há produção textual. Dessa forma, para sanar essas dificuldades e
outras, o presente artigo pretende estabelecer parâmetros a partir dos estudos sobre o
dialogismo em busca de uma prática a ser desenvolvida em sala de aula na educação básica.
É de suma importância social este estudo pois irá ajudar os professores a auxiliar
seus alunos desenvolverem a capacidade analítico-interpretativa-crítica através dos textos,
exercitando assim, essa habilidade possibilitando os alunos construírem suas próprias
reflexões filosóficas, políticas, econômicas sobre determinado assunto que abarca a sociedade.
Dialogismo e Diálogo
O Dialogismo é o conceito que se tem sobre linguagem com o qual é trabalhado pela
Filosofia e a Linguística. Todo texto, ou qualquer sintagma, seja oral ou escrito 28, possui vozes
28“(...)
A utilizaç~o da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que
emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana.” (BAKHTIN, 2000, p. 279).
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XII SEMANA DE LETRAS
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Machado e Wachowicz (2013) dão um exemplo de uma piada, que possui como
interlocutores “a mocinha e o rapaz”, esse exemplo deixa claro o dialogismo presente nesse
texto:
A mocinha bonita e dengosa, cansada de sua vidinha morna, sem graça, saiu naquela
direção à periferia. Nunca tinha ido a um forró daqueles. Ao entrar no salão se
assustou com o bafo quente que veio de encontro ao seu rosto. Olhou aquelas pessoas
tão diferentes daquelas com quem costumava conviver. Não demorou muito, um rapaz
alto, de cabelos cumpridos, veio buscá-la para dançar. Não era nada fácil acompanhar
aquele ritmo, aquele entrelaçar de pernas. Logo o rapaz era um suor só. Aqueles
cabelos longos começaram a grudar no rosto, no pescoço, em tudo. Usando a mão
como freio no ombro do companheiro, a moça procurava mantê-lo afastado. Numa
tentativa de ver se ele se tocava, ela disse:
- Você sua, hein?
O rapaz esticou mais o braço, enlaçou sua cintura trazendo o corpo dela para bem
junto do seu, e sussurrou no seu ouvido:
- E eu também “vô sê seu”. (MACHADO E WACHOWICZ, 2013, p. 83).
As marcas deixadas pelo narrador da piada nos levam a crer a relação existente entre
as situações de comunicaç~o entre “a mocinha e o rapaz” possibilitando compreender um
29Entende-seaqui pelo aspecto filosófico, que faz parte de uma realidade (natural ou social), que detrimento ao
contexto toma outros significados, e possui uma carga semântica do que não é dito. Vale salientar que essas
vozes possuem autonomia, aspecto que deve ser dominado na hora da leitura.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
contexto prévio que está implícito dentro do texto da piada, e a interação presente entre as
personagens marca a análise do dialogismo. Ao final da piada, a possibilidade de interpretação
se dá pela homofonia30 das respostas da mocinha e do rapaz (você sua / “vou sê seu”), na qual
ambos possuem diferentes interpretações, essa ambiguidade que traz o humor à piada refere-
se ao dialogismo presente. Assim, pode-se perceber as vozes dialógicas, que compõem a
estrutura dialógica da piada, presente tanto na fala do narrador como no trecho do diálogo
das personagens.
Dessa forma, pode-se estabelecer algumas diferenças entre diálogo e dialogismo, o
primeiro requer uma estrutura, como o uso de travessões e dois pontos, o segundo não requer
estrutura, está atrelado a linguagem que constitui todo o enunciado. Como afirma Machado e
Wachowicz (2013) “o dialogismo expressa ideias, opiniões e afirmações sobre as mais
diversas manifestações do mundo”. O di|logo é concebido somente como estrutura, que pode
ser em discurso direto ou indireto, está atrelado somente a forma estrutural no texto, é uma
forma presa diferentemente do dialogismo que está presente em nosso cotidiano.
30A homofonia é marcada pelo dialogismo dentro da análise não porque é diálogo, mas pela interação das
personagens diante da situação, pelas marcas das personagens, pois o dialogismo presente no texto independe
das estruturas.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
FEDRO: Quem são eles? Onde existe coisa melhor do que este discurso?
SÓCRATES: De momento não posso dizê-lo com exatidão. Só uma coisa é clara: é que
ouvi isso de alguém- talvez da bela Safo, do sábio Anacreonte ou de outro escrito
qualquer. Sabes o que me leva a essa suposição? É o meu coração, caríssimo; sinto que
ouvi outra coisa não inferior ao discurso que leste. Bem sei que eu próprio não a
inventei, pois conheço a minha ignorância. Uma coisa me resta, entretanto: como um
vaso, deixo-me encher pelos pensamentos alheios que entram em mim pelo ouvido.
(PLATÃO, 2001, p. 66).
Com esse trecho do livro fica claro a questão da problemática da retórica que tinha
nesse tempo, e remete-se a noção de dialogismo que se tinha nesse período e remonta a ideia
da filosofia da linguagem do pensamento clássico. E de vozes ideológicas que podemos
perceber no trecho do Livro do Fedro, como por exemplo, o uso por parte do filósofo para a
“bela Safo”, conotando a ideia decorrente da ajuda que o pensamento filosófico possuía de
atribuir à divindades a produção literária-filosófica, como se o poeta fosse um canal entre o
metafísico e o mundo físico. Em outra obra, A República, em seu terceiro livro, Sócrates faz
uma primitiva classificação de obras literárias segundo os gêneros que tinham naquela época,
explicando que há três tipos de obras poéticas:
Contudo, o passo inicial em busca de uma sistematização dos gêneros literários foi
dado por Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) que, ao voltar seu olhar às questões de ordem
estética, repudiou “...a hierarquia platônica, apresentando na Poética uma nova percepç~o do
processo de mímesis artística” (SOARES, 1993, p. 9-10). Com Aristóteles, sistematizava as
reflexões retóricas de sua época, na sua obra A Poética, ele deixa claro o exercício da
argumentação e a estrutura clássica que temos de texto (introdução, desenvolvimento e
conclusão). Conforme Rosenfeld (2000) no 3º capítulo de A Poética, o filósofo diferencia duas
maneiras de narrar, a primeira com a introdução de um terceiro em que os próprios
personagens dão conta, e a segunda que dá a entender o próprio autor participando da
história, sem a presença de outro personagem.
Mas foi com Bakhtin que a dialética discursiva toma corpo na sistematização do
dialogismo como pressuposto da linguagem humana, surgindo assim a problemática do
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
perdem sua relação imediata com a realidade existente e com a realidade dos
enunciados alheios — por exemplo, inseridas no romance, a réplica do diálogo
cotidiano ou a carta, conservando sua forma e seu significado cotidiano apenas no
plano do conteúdo do romance, só se integram à realidade existente através do
romance concebido como fenômeno da vida literário-artística e não da vida cotidiana.
O romance em seu todo é um enunciado, da mesma forma que a réplica do diálogo
cotidiano ou a carta pessoal (são fenômenos da mesma natureza); o que diferencia o
romance é ser um enunciado secundário (complexo). (BAKHTIN, 2000, p. 281).
31Caracterizado como a junção de um conteúdo temático, de um estilo — dada a seleção de recursos lexicais,
fraseológicos e gramaticais — e de uma construção composicional, o enunciado reflete a especificidade de cada
uma das atividades comunicativas, traduzindo as suas respectivas finalidades e, embora isoladamente seja
encarado como individual, é afetado por essas ‘camadas’ de utilizaç~o da língua, as quais geram a sua
estabilização. (SILVA, 2009, p. 163)
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
forma a construção interacional dos alunos com a linguagem é necessária para que haja a
interaç~o dos alunos com o texto cujo sentido é o que “n~o est| l|”, no qual somente ser|
alcançado à medida que forem verificando os elementos, para a construção do pensamento a
partir dos “sinalizadores” textuais oferecidos pelo autor.
O papel que o aluno exerce dentro dessa prática do dialogismo é ser contextualizador
a partir dos fatores de contextualização32, desempenhando a função de âncoras textuais,
desenvolvendo seu conhecimento linguístico e interacional, facilitando desta forma o seu uso
com a gramática normativa e desempenhando outras habilidades que se fizerem oportunas,
refletindo e observando as múltiplas vozes ideológicas presentes no texto, e exercendo assim,
seu poder de reflexão pois o leitor pode ou não concordar com as ideias do autor, e sofrendo
também um poder de adaptação.
Como auxílio para a sala de aula, tem-se a ideia do dialogismo como intertextualidade,
mas qual a diferença básica entre ambos? O dialogismo, como já foi dito, é um pressuposto
filosófico da linguagem, está atrelado ao nível do discurso. Já a intertextualidade está atrelada
à análise concreta dos elementos que são retomados dentro do texto, ela é somente uma
forma em que se pode manifestar o dialogismo. Leva-se a crer que este, é um pressuposto da
linguagem, não uma habilidade que os alunos precisam desenvolver, mas é necessário que
eles compreendam como utilizá-los dentro do texto, e os recursos que são utilizados para
adequá-lo às condições de sentidos.
Importante salientar também que o dialogismo esteja presente dentro do livro didático
a partir de seus reflexos, todo texto é tomado de discursos, seja o poema, conto, crônica, entre
outros, pois como afirma Bakthin (2010) a linguagem é, por natureza, dialógica entre pelo
menos dois seres, dois discursos, duas palavras. Assim, mais uma vez estabelecendo a
intertextualidade, mas também a interdiscursividade.
Para o ensino em sala de aula uma orientação é destacar o aspecto do gênero que para
autores como Marcuschi são gêneros textuais, e trabalhar o dialogismo em cima dessa
perspectiva. Muitas vezes os gêneros somente são trabalhados na sala de aula como uma
irrelevante comunicação dentro da sociedade, e esquecemos do seu aspecto dialógico dentro
dos textos, ou somente como uma sequência discursiva a partir da sua estrutura.
Para isso Marcuschi (2008) faz uma clara distinção entre tipo textual, gênero textual e
domínio discursivo, primeiro é uma espécie de sequência linguística de sua composição,
abrangendo meia dúzia de categorias: narração, argumentação, exposição, descrição. O
32São aqueles que ancoram o texto em uma situação comunicativa, exemplos: data, local, assinatura, elementos
gráficos, o timbre.
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segundo é uma noção vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossas
vidas diárias: telefonemas, sermão, carta comercial. O domínio designa a uma esfera ou
instância de produção discursiva ou de atividade humana, não são textos nem discursos mas
propiciam o surgimento de discursos específicos: jurídico, jornalístico, religioso.
Assim, leva a crer a relevância de ser estudados os gêneros textuais na sala de aula com
a interação verbal, que é a chave da realidade fundamental da língua que se realiza em
funcionamento com todos os aspectos que estão fora do texto e principalmente com a
ideologia que estamos inseridos.
Considerações finais
O dialogismo é uma característica do funcionamento discursivo onde podemos
encontrar várias instancias enunciadoras num mesmo texto. É a presença dessas várias
instancias que se pode constituir a dimensão polifônica do discurso, ou seja, as inúmeras
vozes ideológicas que estão inseridas dentro do enunciado. O sentido que a enunciação
completa é o chamado tema, isto é, é o fenômeno que ocorre no texto diante dos fenômenos
segmentais e suprassegmentais. Essa significação é devido a interação que ocorre entre o
leitor e o texto, constituindo assim, os elementos da enunciação.
Com a prática do dialogismo dentro da sala de aula, percebe-se que os alunos eles
começam a criar uma autonomia dos textos, como afirma Machado e Wachowicz (2013) “a
autonomia é um dos aspectos que deve ser dominado pelos alunos para que suas produções
sejam adequadas, e para que seus textos alcancem o sentido pretendido”. Facilitando assim, a
compreensão dos textos e uma melhor produção e melhorando as dificuldades de
interpretação que é um dos déficits que se encontra hoje no que concerne à educação.
Uma outra questão a ser desenvolvida a partir do dialogismo é a capacidade analítico-
interpretativa-crítica, os alunos passam a compreender melhor o que está escrito nos textos,
ajudando também a desenvolver a leitura e a parte fonológica do universo, e iniciando uma
criticidade mais aguçada na leitura a ser proferida dos textos. Além do aspecto da autonomia,
acima mencionado e o uso das vozes dialógicas, outros fatores são favorecidos a partir da
produção textual, como salientam Machado e Wachowicz (2013) “quando a escrita est|
adequada, aprimoram-se a adequação dialógica e o sentido, até mesmo do texto com o qual se
dialoga”.
O uso dos gêneros é de extrema importância no que tange ao processo para inserir o
dialogismo dentro das aulas de língua portuguesa, pois eles estão inseridos no mundo e, é a
partir destes mostram uma relação de intimidade e aproximação do leitor com a sociedade,
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
como bem retrata Marcushi (2002) “é bom salientar que embora os gêneros textuais n~o se
caracterizam nem se definam por aspectos formais, sejam eles estruturais ou linguísticos, e
sim por aspectos sócio comunicativos e funcionais”. O uso de gêneros como, artigos,
reportagem jornalística, notícias, conversação espontânea, pressupõem vozes dialógicas, que
podem ser utilizadas como propostas de atividades entre os alunos, tomando como partida os
aspectos e elementos vistos neste artigo desenvolvendo uma análise dialógica nos textos, e
exercitando assim, o uso do dialogismo, e apresentando uma criticidade essencial levando
para fora da sala.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
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SOARES, Angélica. Gêneros Literários. 3 ed. São Paulo: Editora Ática, 1993, Série Princípios.
121
XII SEMANA DE LETRAS
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Introdução
No português brasileiro há várias pessoas que simplesmente falam diferente das
regras prescritas pela norma culta (cf. FARACO, 2008), o que gera a noç~o do “certo” versus
“errado”. Entretanto, considerando a heterogeneidade da língua, observando que a língua
muda porque varia e que tais mudanças podem ser observadas no interior das diferentes
comunidades de fala, condicionadas por fatores de natureza linguística e social (cf. LABOV,
2008), não abordaremos a noç~o de “errado”, mas de variedades, variantes ou variações
linguísticas. A variação linguística pode ocorrer nos níveis sintáticos, lexicais e fonológicos.
Um exemplo no nível fonológico é quando há a troca do R pelo L, ou seja, uma letra pela outra
em encontros CCV, ao falarem, por exemplo: chicrete, pranta, frauta, probrema. Assim, ao
perceber essa situação, e dependendo do nível de compreensão e consciência dos
interlocutores, esses iriam logo “zombar” ou apelidar alguém (cf. BAGNO, 2009). As pessoas
que falam ou escrevem “frauta”, “prástico”, “ingrês”, “crínica”, “grobo” sofrem
estigmatização por parte da sociedade, pois as variantes que fogem a norma de prestígio são
vistas como marcadores sociais de pobreza, ou melhor, são ligadas às classes desprestigiadas
da sociedade. No entanto, faz-se necessário compreender que o que ocorre com o falante é um
fenômeno fonológico/linguístico, a saber: rotacismo. Assim, é possível considerar não,
simplesmente, como um “erro”, mas como uma das variações linguísticas do português
brasileiro.
O rotacismo pode ocorrer em dois contextos silábicos: no ataque complexo, como, por
exemplo, na realização padrão de estilo CCV, como em claro por craro, ou na coda silábica,
como, por exemplo, a realização de desculpa por discurpa, como podemos observar na figura
1.
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estímulos auditivos e visuais. Para averiguar a influência da fala na escrita e das variáveis
linguísticas e extralinguísticas na efetuação ou não do rotacismo, seguiremos os pressupostos
teórico-metodológicos da sociolinguística variacionista (LABOV, 2008[1972]). Traremos
também contribuições teóricas de Faraco (2008), Bagno (2009; 2010), Bortoni-Ricardo
(2004) e Mollica (1998; 2012).
125
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
está ligada as atividades cotidianas do ser humano, todavia se manifesta de maneiras distintas
e está vinculada aos fatores sociais, culturais e políticos no ato da interação verbal. Sendo
assim,
numa sociedade que quer ser verdadeiramente democrática, é preciso conhecer,
descrever, denunciar e combater os componentes do senso comum que funcionam
como repressores da liberdade individual e coletiva, como instrumentos de
discriminação social, de humilhação, de opressão psicológica e até mesmo de violência
física. (BAGNO, 2010, p. 81)
33Correspondênciaentre grafema e fonema, isto é, um grafema para cada fonema e vice-versa. Escrever da
mesma forma em que se fala.
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Ainda de acordo com Mollica (1998), é por meio dos estudos linguísticos que
percebemos a dicotomia: mudança x prestígio. Assim, a escola tem o papel de refrear ou
retardar o fluxo natural de uma mudança, por isso convém compreender que uma pedagogia
da variação linguística tem como propósito analisar os aspectos envolvidos numa metodologia
mais eficaz do ensino do português como uma língua materna que considere exclusivamente a
heterogeneidade da língua e se fundamente em descrição sociolinguística, tipicamente
variacionista, das modalidades orais e escritas.
Na mesma perspectiva de Mollica (1998), a autora Bortoni-Ricardo (2004) oferece
aos professores os instrumentos de análise adequados para lidar com as regras características
das variedades estigmatizadas, bem como procura conscientizá-los de que as diferenças
linguísticas n~o s~o “erros”, mas sim formas diferentes de usar os recursos potencialmente
presentes na própria língua. Segundo a autora, é necessário enfatizar as tendências imanentes
da língua para incentivar os professores a assumir a convicção de que os chamados ‘erros’ que
nossos alunos cometem têm explicação no próprio sistema e processo evolutivo da língua,
portanto, podem ser previstos e trabalhados com uma abordagem sistêmica (BOTORNI-
RICARDO, 2004).
Nessa perspectiva é papel do professor ensinar aos seus alunos que não existe forma
“certa” ou “errada” de falar, mas sim, formas adequadas aos diferentes meios comunicativos.
O educador deve pautar-se no seu ensino da heterogeneidade da língua, haja vista que o aluno
que fala “pranta” ao invés de “planta” sofre “preconceito linguístico” na escola (cf. BAGNO,
2009), por isso certamente no futuro ele sentirá vergonha do modo como fala seus familiares,
se desvalorizará e assim o conduzirá ao fracasso.
A aplicação desse modelo em sala de aula representa, sem dúvida, uma promessa de
renovação das práticas pedagógicas de educação em língua portuguesa, pois, por meio dele,
procura-se eliminar as “deficiências” dos modelos teóricos convencionais que se fixavam
somente num ou em outro desses contínuos e que analisavam dicotomicamente os fenômenos
linguísticos pelo viés do preconceito social presente na ideologia normativo-prescritiva. No
mercado linguístico diferença é “deficiência”, cabe { escola permitir ao aluno o acesso a regras
linguísticas prestigiadas e ao maior número possível de recursos linguísticos para que possam
adquirir uma competência comunicativa ampla e diversificada, sem desvalorizar sua própria
variedade linguística, adquirida nas relações sociais de sua comunidade.
Decerto, o ponto fulcral na teoria de Bortoni-Ricardo (2004), no plano teórico é a
proposta de um instrumental de análise das variedades linguísticas brasileiras, composto por
três contínuos: o contínuo rural-urbano, o contínuo de oralidade-letramento e o contínuo de
127
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<................................................................................................................................................>
Variedades Área rurbana Variedades urbana
rurais isoladas padronizadas
Neste contínuo, a autora cita que na ponta esquerda estão as variedades rurais
geograficamente isoladas. No meio a área rurbana, pois é formada pelos migrantes de origem
rural que preservam muito seus antecedentes rurais, principalmente, a sua bagagem
linguística e as comunidades periféricas que estão submetidas à influência urbana. Na ponta
direita, as variedades urbanas que recebem a maior influência dos processos de padronização
linguística. Conforme Bortoni-Ricardo (2004), o rotacismo é um fenômeno bastante
encontrado em falares rurais e rurbanos e, às vezes, até em falares urbanos. Preferimos
classificar o rotacismo “como um traço descontínuo, considerando que esse fenômeno é muito
estigmatizado na cultura urbana” (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 51-54).
Neste sentido, segundo Bortoni-Ricardo (2004), é necessário compreender e ter
consciência de que variantes linguísticas são diferenças faladas pela população do mesmo
país, portanto não se pode rotulá-las de “erros”, visto que a língua é totalmente heterogênea;
não podemos fomentar o preconceito linguístico, pois o português falado em um estado ou
região nunca será superior ou inferior a outro.
ditado mudo. Já no terceiro e último método, ditado oral, enunciando palavras com a
variável em estudo (as palavras sempre eram realizadas com a variante padrão, ou seja, /l/),
as quais deveriam ser escritas pelos alunos (estímulo oral e resposta escrita). Diante dos
métodos apresentados, nosso corpus é constituído de 220 amostras, de aluno do 1º e 5º anos,
do Ensino Fundamental, de duas escolas, a saber: uma situada na zona rural e a outra na zona
urbana, Escola Municipal João José de Mendonça e Escola Edezuíta Araújo Noronha,
respectivamente, da cidade de Ribeirópolis/SE.
A Escola Municipal Jo~o José de Mendonça est| localizada no povoado Lagoa D’ Água,
localizada no centro do povoado próximo à igreja. Possui 61 alunos matriculados, mas só
frequenta 58, oriundos tanto da Lagoa D’ Água quanto dos povoados próximos. A Escola
oferece o ensino fundamental, do pré-infantil ao 5º ano, no turno matutino, já no vespertino
funciona o projeto Mais Educação. Para a composição do corpus, foram selecionados 21
alunos, dos quais 6 são alunos do 2º ano e 15 são alunos do 5º ano. Convém ressaltar que
aplicamos o mesmo teste no 1º ano, contudo os alunos não conseguiram escrever o nome de
objetos comuns, pois a maioria ainda não havia sido alfabetizada, portanto, desconhece
completamente os encontros vocálicos. Esses alunos, segundo os professores, ainda estão em
processo de decodificação dos símbolos alfabéticos (consoantes e vogais), logo não sabem
unir sílabas e compor palavras. Podemos afirmar também que, às vezes, os alunos faltam na
segunda feira para ajudarem seus pais agricultores na feira livre da cidade.
Já, a Escola Edezuíta Araújo Noronha está localizada no centro da cidade. Foi
construída a mais ou menos 30 anos e, atualmente, está passando por uma reforma para
trocar os pisos e pintar as paredes. Possui 190 alunos matriculados, mas 3 não frequentam,
tais alunos são oriundos tanto da cidade quanto da zona rural. A Escola oferece o ensino
fundamental, do pré-infantil ao 5º ano, no turno matutino, já no turno vespertino funciona o
projeto Mais Educação. Para a composição do corpus, foram selecionados 34 alunos, dos quais
15 são alunos do 1º ano e 19 são alunos do 5º ano.
Depois de caracterizarmos o nosso corpus, partimos para a tabulação dos dados que
foram submetidos à categorização em função da variável dependente /l/ ou /r/ e das
variáveis independentes: identidade local (cidade/povoado), série (1º e 5º ano), sexo
(masculino e feminino), estímulo/resposta (visual/oral; visual/escrito e oral/escrito) e o tipo
de vocábulo. Após a categorização, os dados foram submetidos à análise estatística do
programa GoldVarb X (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005). Os resultados são discutidos
a seguir.
129
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Resultados e discussões
Nesta seção apresentaremos os resultados da nossa pesquisa referente à atitude
linguística de estudantes do ensino fundamental menor, como também as possíveis
discussões a cerca do rotacismo na escola da rede pública de ensino de Ribeirópolis/SE, com a
finalidade de corroborar as hipóteses anteriormente levantadas.
As ocorrências foram codificadas de acordo com o tipo de diagnóstico e fatores
sociais (zona e sexo)34 . Vale ressaltar que as interpretações dos dados são feitas pelo
pesquisador, pois as an|lises estatísticas “s~o apenas ferramentas para a manipulaç~o dos
dados” (VALLE, 2001, p. 59).
Com relação a variável sexo, obtivemos 502 dados. Os resultados cotejados no gráfico 1
apresentam para o sexo masculino 53% e para o sexo feminino 47%. Portanto, ficou comprovado
que o sexo masculino utilizou mais a variante padrão /l/, enquanto que o sexo feminino utilizou
mais o fenômeno do rotacismo. Dessa análise, podemos ressaltar que não corroboram com os
pressupostos teóricos de Mollica (2000) e nem com a hipótese levantada nesta pesquisa. Dessa
forma, os resultados obtidos refutam a hipótese inicial, dentro da variável sexo, de que os
indivíduos do sexo feminino tenderiam a usar a forma mais padrão e os do sexo masculino
recorreriam à forma não padrão. Haja vista, como já havíamos citado anteriormente, as meninas
serem mais sensíveis ao uso de formas linguísticas padrão do que os meninos, os quais são mais
sensíveis ao uso de formas linguísticas não padrão. Portanto, como a fala é espontânea e rápida,
34Depois da rodada do GoldVarb X o fator escolaridade foi excluído, pois não foi significativo.
130
XII SEMANA DE LETRAS
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assim, essas meninas podem ter ficado intimidadas pela presença de um gravador, por isso não
conseguiram monitorar o uso da língua.
No gráfico 2 obtivemos 501 dados. Constatamos que a zona urbana apresentou maior
incidência da variante padrão /l/, com 62%, já a zona rural apresenta maior tendência ao uso
da variante não padrão, com percentual de 38% (valor referente a variante padrão). Esse fato
comprova-se através do contínuo de urbanização proposto por Bortorni-Ricardo (2004), no
qual o rotacismo é um fenômeno bastante encontrado em falares, rurais e rurbanos – formado
pelos migrantes da zona rural e comunidades periféricas influenciadas pela zona urbana -, às
vezes, até em falares urbanos padronizados.
Ditado mudo
mais a norma padrão e as práticas sociais de uso da escrita, adquirem mais rapidamente a
linguagem próxima da norma gramatical do que os residentes na zona rural.
Tabela 2: Aplicação da variante padrão /l/ em função do sexo
SEXO APLIC./TOTAL PERCENTUAL PESO RELATIVO
Feminino 211/250 84,4% 0.60
Masculino 175/252 69,4% 0.39
Total 386/502 76,9% -
Ditado oral
De acordo com os dados cotejados no gráfico 3, a variável sexo apresenta 41% para o
sexo masculino e 59% para o sexo feminino. Portanto, ficou comprovado que o sexo
masculino utilizou mais o fenômeno do rotacismo, no ditado oral, enquanto que o sexo
feminino fez mais uso da variante padrão /l/. Como já havíamos citado anteriormente, através
de Mollica (1998), ficou comprovado que as meninas são mais sensíveis ao uso de formas
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
linguísticas padrão do que os meninos, os quais são mais sensíveis ao uso de formas
linguísticas não padrão.
Gráfico 4: Aplicação da variante padrão /l/ em função da localidade
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Considerações finais
A partir do exposto, entendemos que na maioria dos métodos propostos para essa
investigação, os fatores relevantes foram à localidade geográfica e o sexo. A zona urbana é a
que mais faz uso da variante de prestígio, enquanto a zona rural utiliza mais a variante
estigmatizada. O sexo masculino faz mais uso do rotacismo e o sexo feminino utiliza mais a
variante padrão /l/, entretanto no teste oral (fala), os meninos utilizaram a variante padrão
mais do que às meninas.
Com base nos nossos resultados, as hipóteses levantadas foram confirmadas, pois
ainda é constante o uso da variável estigmatizada no município de Ribeirópolis/SE. As escolas
ainda ensinam na base do certo x errado. Na zona urbana, os dados mostram que a maioria
dos alunos opta pelo uso da variante padrão, porém a supressão do rotacismo /r/ > /0/ é
encontrada pelos alunos cujos estão aprendendo a escrever. Já na zona rural, os alunos
optaram mais pelo uso da variante /r/ e /r/ > /0/ estigmatizada, esses alunos usam a variante
que ouvem mesmo estando em contado com a escola que trabalha a norma padrão.
No tocante aos métodos utilizados na investigação, estamos cientes de que
apresentam algumas limitações, o corpo de análise é pequeno, tivemos um período curto para
desenvolvê-lo, algumas figuras provocaram duplo sentido, por exemplo, planeta – mundo;
blusa – vestido; planta – árvore; clipes – pregador.
Mostramos também que o rotacismo é um fenômeno carregado de estigmas, por isso
os falantes que pronunciam “pranta”, “pobrema”, “simpres”, “chicrete”, “frores”, “brusas” s~o
“discriminados” pelos falantes que n~o utilizam esse fenômeno. Porém, se quisermos pensar
em uma educação baseada na heterogeneidade da língua, devemos desmistificar e desfazer o
rótulo de “erro” dado a este fenômeno e a tantos outros, que fujam dos padrões impostos pela
gramática normativa. Assim, esta pesquisa pretende contribuir para o ensino de língua
portuguesa, partindo do “combate” ao preconceito linguístico, de forma a conscientizar alunos
e professores que é necessário respeitar as variedades linguísticas.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
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Macintosh and Windows. Department of Linguistics of University of Toronto, Department of
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mudança linguística. São Paulo: Parábola, 2006.
136
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
A obra literária Ualalapi, do escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa, oportuniza
aos leitores visões amplas, históricas e ficcionais, do imperador Ngungunhane, sob fortes
comprovações documentais de pessoas próximas que de alguma forma fizeram parte da vida
dele, no final do século XIX: o português Ayres d´Ornellas e o suíço Dr. Liengne. E relatos de
personagens irreais que viviam na corte: Malule, Ciliane e o neto de Simapunga.
O escritor utilizou do contexto histórico real, a guerra contra Ngungunhane em 1895
e sua prisão no mesmo ano pelo oficial Mouzinho Albuquerque.
O presente artigo tem como arcabouço as obras: O herói de Flávio Kothe (1987); Em
louvor de anti-herói, de Victor Brombert (2004); Testemunha ocular: História e imagem, de
Peter Burke (1937); e Metaficção historiográfica, de Linda Hutcheon (1991).
137
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
apenas uma contradição irresoluta [...] No entanto desde, então muitos historiadores
utilizam as técnicas da representação ficcional para criar versões imaginárias de seus
mundos históricos e reais. (HUTCHEON, 1991, p.142).
Peter Burke (1937), historiador inglês, em sua obra Testemunhos oculares: História e
imagem, revela que as imagens são importantíssimas para o entendimento da história, bem
como para as formas de agir e de ser da sociedade. Segundo ele, as imagens são linguagens
não verbais as quais podem traduzir fatos e acontecimentos tal qual um documento escrito. As
mesmas não se traduzem apenas em apresentar períodos de uma época, mas simbolizam
autenticamente os contextos sociais que elas foram produzidas por cada período da
humanidade. Para Burke, “[...] as imagens, assim como textos e testemunhos orais,
constituem-se numa forma importante de evidência histórica. Elas registram atos de
testemunho ocular”. (BURKE, 2004, p.17).
138
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
O autor revela que existem vários tipos de significados do que seria o herói de fato.
Para uns, um vilão, para outros, um herói, mesmo que ele tenha atitudes grotescas e até
mesmo cruéis:
Não há grande obra de arte que não una os contrários. O herói trágico é um carvalho
em que caem os decisivos raios do destino; o herói épico é o grande pinheiro
indicador dos caminhos da história: nenhum deles tem a sabedoria dos caniços. O
pícaro é o caniço que se dobra aos ventos para conseguir sobreviver. Nele o que
pensa é o estomago. Ele tem a pouca dignidade daqueles que sempre têm o suficiente
para comer, mas em sua dignidade sem indignação ele revela a pouca dignidade
daquilo que pretende ser digno e superior na sociedade. (KOTHE, 1987, p.14).
Para Kothe, a literatura destina-se basicamente para a classe alta o qual pressupõe
que distorções de identidade e realidade no que concerne o ser herói poderá ser manipulada
de forma a criar negatividade ou endeusamento do mesmo:
Se a parte mais elevada da literatura se destina basicamente à classe alta, então
enquanto a parte mais trivial vai para a classe baixa, antão a literatura - como a
narrativa em geral- desempenha fundamentalmente um papel de legitimar a
estrutura vigente e de fazer com que ela funcione mais azeitada. (KOTHE, 1987, p.86).
Victor Brombert na obra Em louvor de anti- heróis (2004) revela uma série de
questionamentos do que de fato seria o herói. Um deus? Semideus? Ou pessoas que em um
dado momento da história tiveram que fazer escolhas que mudariam suas vidas e até mesmo
o destino da humanidade? Os heróis do passado eram associados às figuras míticas lendárias,
que estavam acima dos simples mortais. A sociedade conceitua o anti-herói como algo
desprezível e sem bravura, t~o pouco honra. “Anti-herói é amiúde um agitador e um
perturbador” (BROMBERT, 2004, p, 15).
O anti-herói no sentido comum da palavra é o inverso do herói desprovido de
bravura, honra moral e de feitos grandiosos. Carrega consigo o inverso do bem, mas por sua
vez se assemelha naturalmente ao homem, um ser cheio de falhas e imperfeições. Para tanto,
ele não é um ser bestial ou desumano, mas sim alguém que carrega em suas estruturas de
formação humana características herdadas pelos sistemas sociais e culturais, aos quais foi
submetido em determinadas eras:
Esses personagens n~o s~o totalmente “fracassos”, nem est~o desprovidos de
coragem; simplesmente chamam a atenção por suas características ajudarem a
subverter, esvaziar o contestar de imagem do ideal. ((BROMBERT, 2004, p, 15).
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XII SEMANA DE LETRAS
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O poder pertence-me. Ninguém, mas ninguém poderá tirar-mo até a minha morte. [...]
Eu serei temido por todos, por que não me chamarei Mundungazi, mas Ngungunhane,
tal como essas profundas furnas onde lançamos os condenados à morte! O medo e o
terror ao meu império correrão séculos e séculos e ouvir-se-ão em terras por vocês
nunca sonhadas! Por isso meus guerreiros, aguçai as lanças. (KHOSA, 2013, p.23-24).
Ngungunhane assim como seus antepassados reinou sob a forma rígida e muitas
vezes cruel. O autor da obra Ualalapi, utiliza-se de instrumentos e personagens da vida real
de Ngungunhane introduzindo na narrativa de forma ficcional colocando em destaque a
tirania do imperador. Nos tempos do império a figura do ser herói com as qualidades
inerentes que lhes cercam ficavam cada vez mais distante do rei e o império caía cada vez
mais em desgraça pelas más ações e condutas da família real. A obra Ualalapi demonstra uma
série de fatos ficcionais ocorridos como forma de castigar os pecados dos Nguni:
Uma chuva amarela e pegajosa; o repentino aparecimento de cadáveres sem rosto e
nome; o escoar do mênstruo de Damboia a manchar um rio e a matar os peixes, etc.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Um dia o príncipe herdeiro após várias horas de gritos de loucura se cala para
sempre. Pela manhã avisam ao rei que o filho herdeiro estava morto e o mesmo em sua
indiferença ordena para que o enterre. Em seguida volta a dormir. No episódio final de
Ualalapi o autor relata os últimos momentos de Ngungunhane mediante ao seu
aprisionamento em 1895 pelo exército português.
Em meio a sua prisão e vendo que jamais retornaria as terras de Gaza o imperador
Ngungunhane faz seu pronunciamento final para seus súditos onde reuniu em sua fala
acontecimentos proféticos terríveis para aquele povo quem um dia foi governado por ele.
Segundo a obra Ualalapi, o imperador não tinha princípios nem honra tão pouco
bravura, perfil dos heróis da era clássica, agia sob a visão tirânica e cruel de dinastia que
obteve seu lugar de destaque através da imposição do respeito pelo medo e pela opressão.
Mas é fato também que muitos heróis cometeram verdadeiras barbáreis em busca de honra e
glória sendo cruéis para o atingimento de seus objetivos o qual a história lhes consagrou
como verdadeiros bravos e destemidos no sentido mais sublime que existe. É importante
dizer ainda que os homens são criaturas humanas dotados de erros e acertos, agindo sob
perspectivas e banhados de pensamentos e ações pautadas pelas regras da sociedade que
lhes persegue em dados momentos no tempo e no espaço.
O último imperador das terras de Gaza foi mais um a exercer seu papel diante de
tempos em que a tirania e a maldade assolavam a sociedade de forma mais enérgica. Em
todas as eras a figura do bem e do mal se cruzavam colocando em questionamentos as formas
de agir e de pensar no que concerne viver em sociedade partilhando de emoções e
sentimentos dos mais diversos possíveis.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
por aqueles que eram considerados seus súditos. De certa forma a obra Ualalapi traz uma
humanização ao último rei de Gaza, por mais que o imperador tenha sido um tirano sem
escrúpulos ele de certa forma foi manipulado pela família. Homem sem instrução no que
concerne aos estudos, tão pouco afeto pelos seus antepassados os quais traziam consigo
tradição de usurpação ao trono de forma violenta e sem qualquer ressentimento.
Sem dúvida ele combateu as tropas portuguesas que queriam dominar as terras de
Gaza, mas utilizou do trono de forma incoerente, maldosa, violenta e cruel. Teve seu papel na
história o qual se faz necessário estudar sobre sua trajetória tornando a região de Gaza foco
de vários estudos científicos e literários. Contudo é preciso analisar de forma imparcial sobre
a vida de Ngungunhane. Ele foi um herói? um vilão? ou parte da história das terras de Gaza?
De forma brilhante e precisa Ba Ka Khosa, remonta a estória onde os personagens dão vida
real a um cenário longínquo da história onde o enredo a cada página emociona e transmite
algo novo a revelar e a questionar sobre a vida e o período do último imperador das terras de
Gaza.
Considerações finais
O escritor moçambicano, autor de Ualalapi intrigado com a política de enfatizar
Ngungunhane como uma figura heroica resolveu estudar e pesquisar sobre a vida do último
imperador das terras de Gaza, colocando através de testemunhas orais e documentais
momentos da vida do régulo que tempos atrás viveu naquelas terras e praticou de forma cruel
a matança e sofrimento para a vida de muitas pessoas, inclusive para aqueles que ele mesmo
tinha o dever de proteger como rei.
O principal foco da literatura em questão é o fato do governo Machel (1983) ter
requisitado ao governo português os restos mortais de Ngungunhane justificando que o
mesmo fazia parte de uma identidade nacional colocando-o como herói. É verdade que o
imperador desafiou e lutou contra a opressão portuguesa, contudo não o coloca de fato como
um herói nacional. A partir dessa colocação do governo Machel, Ba Ka Khosa resolveu utilizar
de sua habilidade como escritor exímio para delatar e se fazer ouvir através da literatura
moçambicana a verdadeira face do último imperador de Gaza.
A narrativa introduz ainda elementos culturais e dialetos próprios da região o qual o
autor quis aproximar os leitores do país, oportunizando-os uma leitura acessível para melhor
entendimento do que o mesmo propusera em realizar. Para melhor entendimento e
elucidação do contexto de Ualalapi se fez necessário buscar outras fontes bibliográficas tais
como: O herói de Flávio Kothe (1987); Em louvor de anti-herói de Victor Brombert (2004);
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Referências
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Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
Gregório de Matos Guerra, famoso poeta baiano que viveu entre 1636 e 1696, recebeu
a alcunha de “Boca do Inferno” devido aos seus versos polêmicos, por meio dos quais inimigos
do poeta eram atacados.
Neste trabalho, têm-se como foco sua lírica satírica, especificamente o poema
Descreve com mais individuação a fidúcia com que os estranhos sobem a arruinar sua república,
no qual o eu-lírico denuncia os problemas político-sociais de sua época através da
representação do português atrevido e corrupto que, apesar de chegar pobre e subalterno na
colônia, conquista, em pouco tempo, um lugar social de prestígio em contraste com os
“Naturais”, “Paisanos” ou “Filhos da terra”, que s~o abatidos pela atividade colonizadora.
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No poema Descreve com mais individuação a fidúcia com que os estranhos sobem a
arruinar sua república cuja autoria é atribuída a Gregório, pode-se verificar a articulação
destas duas propriedades estilísticas do próprio do autor: denunciar e ridicularizar. Na obra
em tela, o poeta ilustra o estrangeiro português de maneira a ressaltar seu caráter atrevido,
manipulador e corrupto.
O texto poético apresenta estrutura romantizada e se compõe por 192 versos,
dispostos em rimas brancas. Neste estudo, optou-se pela análise da obra a partir de sua
estrutura argumentativa, considerando a organização linear das imagens e ideias construídas
pelo poeta ao longo do texto. Desse modo, considerou-se as três sequências seguintes, que
podem ser identificadas no texto poético através dos versos dispostos ente parênteses: 1.
Questionamentos e críticas ao sistema político-social da Bahia (versos 1-31); 2. Imagens do
estrangeiro português (versos 32-173) e 3. O lugar do nativo na Bahia seiscentista (versos
174-192).
Para fundamentar suas proposições iniciais, o eu-lírico continua a sátira fazendo uma
comparação sócio-histórica entre a Bahia pré-colonial com o aquele atual presente histórico,
valorizando este último. Nesse quadro, destaca-se a menção aos indígenas daquela região e ao
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escravo africano. Além disso, o poeta instaura a redação do poeta em um momento histórico
compreendido, provavelmente, entre as duas últimas décadas do século XVII:
36Segundo o Dicion|rio Aurélio (FERREIRA, 2010), “alarves” seria um substantivo de dois gêneros, cujo
significado é “pessoa rústica, rude ou palerma”. No poema de Gregório de Matos, o termo faz referência aos
nativos que viviam nas terras da atual Bahia no período pré-colonial. Essa categorização pejorativa realizada
pelo eu-lírico evidencia uma posição favorável a colonização, visto que esta trouxera desenvolvimento àquela
terra.
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Segundo o eu-lírico, quando o comissário chega ao Brasil com a grande carga não se
demora e logo “arma a botica dos trastes”, entendida como o estabelecimento no qual os
produtos seriam comercializados. Depois disso, o poeta põe-se a assinalar a ousadia deste
personagem, que “vendendo gato por lebre” enriquece em pouco tempo. Infere-se, através
disso, que o comissário enganava seus clientes vendendo os produtos a preços muito
superiores aos seus valores legítimos.
O poeta finaliza a descrição deste primeiro personagem afirmando que, apesar de ter
se tornado uma figura importante naquela cidade, o homem “inda fede aos seus beirames”
(MATOS, 1931, p. 19, v. 74), metáfora entendida como uma proposição do eu-lírico para
reforçar o passado de pobreza do estrangeiro.
O segundo personagem do poema tem origem e ofício semelhantes aos do primeiro, o
que os diferenciam, no entanto, é o status socioeconômico, pois segundo o eu-lírico, a posição
deste personagem “t~o pobre, e t~o miser|vel” n~o muda com o decorrer do tempo, mas é
decerto modificado através de uma narrativa mentirosa que o personagem conta nos
arredores do Iguape37:
37O termo faz referência à Santiago do Iguape, pequena vila de pescadores e pequenos agricultores quilombolas.
A vila “pertence ao município de Cachoeira, na Bahia, localizada na margem esquerda da Baía do Iguape, fundado
pelos padres jesuítas em 1561 na ent~o Capitania de Mem de S|.” (SANTIAGO DO IGUAPE, online).
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E os do governo se obriguem,
Pois edifica a cidade. (MATOS, 1931, pp. 20-21, vv. 124-139)
O eu-lírico é irônico quando afirma que este personagem adquire muitos bens
materiais “por sua muita humildade” e continua a s|tira alegando que o clérigo enriquece ao
remeter o dinheiro da igreja para os seus fundos pessoais, comprando, dessa forma, muitas
terras.
O poeta finaliza esse segundo argumento do poema em tela com uma crítica
depreciativa a um grupo de cristãos missionários que cruzavam a colônia para fins de
catequização dos povos nativos.
O eu-lírico se refere a estes personagens pejorativamente como “mariolas”, “lacaios”,
“ganhões” e denuncia um jesuíta que se tornou um sacerdote bem considerado entre
aristocracia baiana, mas que embolsava os ordenados recebidos para a manutenção das
capelas:
Vêm outros zotes de Réquiem,
que indo tomar o caráter
todo o Reino inteiro cruzam
sobre a chanca viandante.
De uma província para outra
como Dromedários partem,
caminham como camelos,
e comem como salvagens:
Mariolas de missal,
lacaios missa-cantante
sacerdotes ao burlesco,
ao sério ganhões de altares.
Chega um destes, toma amo,
que as capelas dos Magnates
são rendas, que Deus criou
para estes Orate frates.
Fazem-lhe certo ordenado,
que é dinheiro na verdade,
que o Papa reserva sempre
das ceias, e dos jantares.
Não se gasta, antes se embolsa [...] (MATOS, 1931, p. 21, vv. 148-168)
narrado no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada38. Depois disso, o eu-lírico encerra a obra
lançando uma praga aos denunciados através da evocação de um tradicional ritual do folclore
brasileiro, realizado no dia litúrgico de São Marçal:
Considerações finais
A partir das várias representações do português corrupto no poema Descreve com
mais individuação a fidúcia com que os estranhos sobem a arruinar sua república, datado das
últimas duas décadas do século XVII, observa-se que Gregório de Matos aborda a colonização
portuguesa de um lugar enunciativo identificado com desprezo do estrangeiro, interpelado
por um comportamento atrevido e ganancioso.
De modo geral, a leitura dessa obra de Gregório de Matos é interessante para que
tomemos conhecimento dos valores atribuídos ao estrangeiro português no Brasil do século
XVII, bem como conferir a maneira como tais valores são apropriados pela linguagem literária
do poeta baiano.
Referências
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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 5ª. ed.
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12 abr. 2015.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
MATOS, Gregório de Matos. Seleção de textos, notas, estudo biográfico, histórico e crítico
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TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. 11. ed. São Paulo: Editora da UNESP;
Salvador: EDUFBA, 2008.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
Algumas políticas educacionais, que dão importância somente aos aspectos
linguísticos e literários dentro do texto, não levam em consideração o aluno como leitor, com
autonomia crítica e reflexiva a partir das próprias leituras, nesse sentido, é que surge o projeto
de leitura, intitulado Leitura e escrita de poemas no ensino fundamental II, na Escola Santa Rita
de Cássia. Com o propósito de formar leitores habilidosos na arte da interpretação e
compreensão dos sentidos do texto, mais especificamente poemas de autores brasileiros, além
de fazer com que os alunos aumentem o interesse pela leitura.
O suporte teórico utilizado explicita as ideias de alguns estudiosos, entre eles,
Bamberger (1995), Orlandi (2003), Eagleton (2003), Berenblum (2009), Pereira (2009), Faria
(2011), além de buscar o diálogo com a LDB (1996), e os PCNs (1998). Tudo isso, com o
intuito de obter uma base teórica consistente que trata da formação de leitores.
O trabalho com os alunos deve acontecer a partir de oficinas; com a colaboração de
uma das oficinas criadas pelo Profº. Drº. Alberto Roiphe, um dos coordenadores do projeto
“Leitura, escrita e autoria: o jornal em sala de aula”, PIBID-DLEV-UFS - 2015; debates das
questões relacionadas aos temas transversais e dos aspectos estruturais dos poemas. Além
disso, a produção de um livro contendo os melhores poemas; e a leitura dessas criações na
rádio da escola.
Além do mais, o projeto leva em consideraç~o a “mediaç~o” feita pelo professor na hora da
leitura, questões relacionadas ao silenciamento: a busca do movimento reverso que envolve a
participação mais ativa dos alunos nas discussões.
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XII SEMANA DE LETRAS
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Segundo o que consta nos PCNs percebe-se que é decisiva a posição de destaque e
importância em que se põe o mediador da leitura e do conhecimento, dadas as múltiplas
hipóteses interpretativas que um texto pode apresentar. Trata-se de um complexo “espaço de
reflex~o [...] e diferentes opiniões”, por isso, n~o deve ser posto em xeque a construç~o de
novos conhecimentos e ideias.
Certamente, essa posição intermediária não deve deixar de ser considerada
fundamental para o trabalho com “a leitura e os leitores”. Ensinar “[...] jovens leitores bem-
sucedidos, apresentando-lhes o material de leitura apropriado, de modo que o êxito não
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
As teorias da leitura
Vários estudiosos se preocupam com o trabalho de desenvolvimento da leitura como
fator fundamental na formação do sujeito. Não cabe nesse projeto esgotar todas as possíveis
teorias que tratam dos temas propostos. Porém, salientar as que cuidam mais diretamente
dos meios que são utilizados para uma leitura eficaz, como pode ser percebido nos estudos de
Bamberger:
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XII SEMANA DE LETRAS
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Bamberger destaca alguns pontos que devem ser observados para a devida
import}ncia dada a leitura a partir da “educaç~o liter|ria”. No que diz respeito aos múltiplos
interesses dos alunos; levando-os a permanência no gosto pela leitura literária, que
consequentemente será alargado para os diversos gêneros. Tudo isso, em face do impacto
positivo que esse projeto de leitura deverá causar nos discentes.
Nesse sentido, pensando em aumentar a capacidade de autonomia dos alunos através
da leitura e da escrita, é fundamental considerar os espaços em que essas práticas ocorrem.
Pois, o trabalho com essas duas ferramentas não se dá distante da escola e da biblioteca. Uma
vez que, “Uma biblioteca bem organizada, especialmente construída ou reformada para
acolher livros e seus leitores é, com certeza, o primeiro estímulo para a leitura.” (PEREIRA,
2009, p. 9) Essas ferramentas dizem respeito a questão central do projeto, por isso,
serão feitas atividades na biblioteca da escola através da realização de rodas de leitura e
posteriormente a escrita. Em relação à seleção dos textos devem ser levados em consideração
alguns fatores e gêneros:
O que está posto pelos parâmetros curriculares nacionais é inerente, sem via de
dúvidas, a proposta esboçada nesse projeto, que diz respeito ao “exercício pleno da
cidadania”, “reflex~o crítica” e a “plena participaç~o numa sociedade letrada” entre outras
questões, mesmo que:
Apesar de outros gêneros literários abrirem espaço para várias análises, a escolha de
trabalhar com a leitura e escrita de poemas se deu pelo fato desse gênero, também, abrir
espaço para várias leituras e interpretações. Além disso, são textos que possibilitam, tanto o
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entretenimento, como também a informação e a formação dos alunos, que vão além das
práticas escolares, nesse sentido:
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Considerações finais
Em suma, “A execução de projetos de pesquisa não se resume em analisar
observações, propor questionários etc., mas também consiste em descobrir meios e maneiras
de melhorar a situaç~o” (BAMBERGER, 1995, p. 91) do ensino/aprendizagem, além do
incentivo a leitura e a escrita.
Tudo isso, se dá através de Professores interessados pelas políticas de formação de
leitores. Nesse trabalho foram esboçadas algumas propostas consideradas importantes para
tais objetivos. Enfim, lidar com novas práticas metodológicas de trabalho, em sala de aula e
fora dela, pode ser de extrema importância para os resultados a serem alcançados.
Referências
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São Paulo: Ática, 1995.
EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
KOCH, Ingedore Villaça. Ler e compreender: os sentidos do texto / Igedore Villaça Koch e
Vanda Maria Elias. 2. ed. , 1ª reimpressão. – São Paulo: Contexto, 2007.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
PEREIRA, Andréa Kluge. Biblioteca na escola / elaboração Andréa Kluge Pereira. – Brasília:
Ministério da educação, Secretaria de Educação Básica, 2009.
ROJO, Roxane. A prática da linguagem em sala de aula: praticando os PCN’s/ Roxane Rojo
(org.) – São Paulo: EDUC; Campinas, SP: Mercado de letras, 2000.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
O surgimento das tecnologias de informação e comunicação (TIC) tem modificado
muitas atividades da vida moderna. Tais modificações também têm atingido o processo de
ensino/aprendizagem, nos levando a refletir e a pesquisar sobre as consequências dessas
novas práticas sociais e uso da linguagem na sociedade. O crescente aumento na utilização das
novas ferramentas tecnológicas (computador, Internet, cartão magnético, caixa eletrônico
etc.) na vida social exige dos cidadãos a aprendizagem de comportamentos e raciocínios
específicos.
Por essa razão, com o surgimento de um novo tipo, paradigma ou modalidade de
letramento, o digital, consideramos o letramento uma necessidade dos indivíduos de dominar
um conjunto de informações e habilidades mentais que devem ser trabalhadas pelas
instituições de ensino, a fim de capacitar os alunos a não só dominarem a língua adicional
(LA), mas também a viverem como verdadeiros cidadãos neste novo milênio cada vez mais
cercado por máquinas eletrônicas e digitais.
Neste trabalho, procuramos refletir sobre o mais recente desafio pedagógico que se
coloca para os docentes: letrar digitalmente em LA uma nova geração de aprendizes, crianças
e adolescentes que estão crescendo e vivenciando os avanços das tecnologias de informação e
comunicação e consequente sobre o material didático com que letramos os estudantes. Assim
a proposta de formação docente que se baseia no desenvolvimento de novas competências e
letramentos tem por fundamentação o que nos afirma Coscarelli (2002), Ribeiro (2005),
Soares (1998) e Dias (2009). Além disso, se objetiva que a apropriação crítica das tecnologias
e de novos letramentos de forma que os usos pedagógicos das TIC tragam uma mudança nos
paradigmas educacionais (KENSKI, 2012; PRETTO, 2008; PONTE, 2000).
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39Atualmente o exame formal do Ministério da Educação e Cultura (MEC) para o ensino médio de língua
estrangeira é o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
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O trabalho parte de uma problemática central que se foca nas seguintes questões:
Como os professores de LA da educação básica, ensino médio podem se apropriar das
tecnologias de maneira a potenciar o letramento, a compreensão escrita, em suas aulas? Como
as tecnologias promovem ou não a aquisição da compreensão escrita no processo de
letramento em LA? Nesse sentido, nos centramos em propor uma estratégia de aprendizagem
da compreensão escrita a partir das tecnologias voltada para a formação continuada de
professores de espanhol visando à apropriação crítica das TIC a fim de potencializar sua
utilização na educação.
Para isto, a aplicação das tecnologias pode potenciar o aprendizado de espanhol. Para
tanto, é notório que as tecnologias entre elas, a internet, abrem novas perspectivas entre as
muitas ferramentas que disponibiliza como mediação pedagógica para auxiliar o processo de
ensino-aprendizagem, levando aos docentes a se envolverem com os seus alunos na
construção do seu próprio conhecimento de forma participativa e cooperativa desenvolvendo
a sua autonomia na aprendizagem.
A escolha de textos, músicas, vídeos entre outros, bem como de estratégias para a
inclusão destes nas atividades didáticas pedagógicas, pode potencializar o ato de aprender.
Quando o professor tem a possibilidade de planejar e construir materiais em linguagem
multimídia, o processo tende a ser mais efetivo. Além disso, motivar os alunos para o
letramento, a partir da interação com as tecnologias de modo que todos os envolvidos no
mesmo processo possam interagir em prol da prática do ato de ler 40, não ficando presos só ao
ensino presencial, oferece a possibilidade de estar em contato com as comunidades virtuais de
interação social e aprendizagem.
Sendo assim, partimos do pressuposto que a utilização das TIC, de maneira
contextualizada para o ensino de espanhol, permite que o docente dinamize a aula e estimule
a participação crítica e criativa dos estudantes. Dessa forma, formamos a hipótese que as
tarefas pedagógicas de cunho digital se voltam para a interação, de modo que provocam a
participação colaborativa dos professores com os estudantes e dos estudantes entre si tanto
dentro quanto fora da sala de aula.
A elaboração de materiais didáticos a partir das tecnologias e o emprego das suas
possibilidades no processo de ensino de espanhol para os estudantes visam à criação e
recriação de material didático por parte do professor para a aplicação nas aulas presenciais41.
Dar-se-á especial ênfase na perspectiva do ensino presencial, a utilização das tecnologias
40Referenciaa obra de Paulo Freire “A import}ncia do ato de ler: em três artigos que se complementam”.
41Osprofessores de língua estrangeira contam com uma hora aula (cinquenta minutos) por semana com turmas
que possuem em média quarenta e cinco alunos.
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como suporte para dar continuidade ao processo de ensino e aprendizagem iniciado em sala
de aula. Enfatizam-se as diversas perspectivas existentes sobre o espaço e a importância que
devem/podem ser dados ao ensino com as TIC, assim como a destreza leitora que permitem
desenvolver vários letramentos o impresso, o midiático e o digital nos estudantes.
Desta maneira, se objetiva a formação continua dos professores regentes dos colégios
estaduais no que tange a análise e elaboração de materiais didáticos, uma vez que os
professores participarão do projeto colaborando na elaboração das atividades e tarefas das
possibilidades que nos oferecem as TIC como a internet. Além disso, a ponte entre as
atividades e tarefas do manual didático utilizado pelo professor regente nas aulas e as
atividades propostas com as tecnologias são imprescindíveis para que se repense a questão da
adequação do material didático as necessidades e expectativas dos estudantes.
O projeto visa avaliar até que ponto as tecnologias podem beneficiar o ensino de LA e
desenvolver a capacidade dos estudantes no que tange habilidade de leitura no processo de
letramento múltiplo. É sabido que o uso do computador pode proporcionar ganhos
pedagógicos como editores de texto, editores gráficos e ambientes de construção multimídia
que permitem aos alunos a compreender na língua estrangeira, interpretando e
reinterpretando infinitamente.
Dessa forma, oportuniza aos discentes, vivências no processo ensino-aprendizagem
com base nas tecnologias existentes e aos professores, a possibilidade de criarem e recriarem
material didático tendo a disponibilidade de mais um recurso. Devido ao relatado, o
conhecimento e a inclusão das possibilidades da tecnologia na aquisição de espanhol leva
também à ampliação do processo de letramento dos estudantes do ensino médio.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
O tempo não para e como ele aparecem transformações ao longo de várias etapas,
sejam essas da vida, do trabalho, até do próprio ser humano. No entanto, o homem conseguiu,
através de suas habilidades em decorrência do tempo, aprimorar a sua inteligência, em favor
de novas “revoluções”, descobertas. É com o aparecimento do tecnológico que muitas janelas
se abriram no ramo da ciência, da informação, que, por conseguinte gera o conhecimento. Este
último, por sua vez, discorre de vários aparatos, podendo ser de um pergaminho, uma carta,
um computador e até mesmo um livro.
Pergaminho? Computador? Carta? Livro? , mas por que desta pergunta e qual a
relação existente entre essas palavras? O que mais se utiliza no século XXI um pergaminho ou
um computador? Uma carta ou um livro? Para responder essas perguntas voltamos à palavra
tempo. O que podemos dizer do tempo relacionado a esses meios de informação? Em que
momento essas quatro palavras estão mais situadas? É com base em duas dessas quatro
palavras que esse trabalho se debruça: computador (internet) e livro, mas, especificamente às
tecnologias e o livro, que nesse ramo será o livro didático.
Partindo desses dois meios de informação, recai mais uma pergunta: Que relevância
tem as tecnologias e o livro didático para a construção desse texto e que será o fio norteador,
ou melhor, mediador para utilizar esses meios de informação? O professor é o que terá o
papel protagonista relacionado aos dois elementos citados tecnologias, em especial à internet,
e livro didático, pois esse trabalho ressalta a implementação dessas duas ferramentas, além da
importância que essas atribuem à formação educativa em seio escolar, que neste trabalho será
uma língua estrangeira, espanhol.
É visível que com passar do tempo o mundo se transforma, e porque não dizer que a
educação também? Estabelecer uma relação entre meios de informação considerados mais
“remotos” de outros mais “atuais” pode ser uma tarefa até fácil. No entanto seria uma tarefa
muito mais fácil quando se utiliza desses meios de informação para que estes sejam um pilar
instrutivo à elaboração de um material didático, em especial a uma língua estrangeira. Como
mencionado acima, para a elaboraç~o de tal material did|tico é necess|ria a “m~o de obra” de
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um profissional (professor) capacitado na área da educação. Este que vai dosar de uma
formação adequada que atenda às necessidades de seus alunos.
Com isso, a junç~o “Tecnologia e Livro did|tico” reforça que é possível conciliar essas duas
formas, até então tão distintas, mas que de modo positivo agregam uma importância ao
ensino de uma língua estrangeira, como também em qualquer área de aprendizagem.
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XII SEMANA DE LETRAS
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Quando a autora menciona material autêntico, ela o justifica como aquele que é
pautado em textos, vídeos e outras fontes que são usadas na comunicação genuína da vida
real e, especialmente, foram preparados para as práticas pedagógicas.
Como apontado anteriormente, vivemos numa sociedade, onde não se pode distanciar
de muitas exigências, em especial no campo educacional. Com isso, Bulla e Bonotto (2008)
reforçam o que apontamos sobre a validação das tecnologias como suporte à elaboração de
materiais didáticos, como também para uma melhor contribuição ao ensino, em especial de
língua estrangeira quando apontam:
... vivemos o desenvolvimento de novas TICs, principalmente o computador e a
Internet, e suas aplicações no campo educacional. Essa nova realidade impõe aos
professores de LE de hoje e de amanhã, bem como aos formadores, novas demandas e
desafios. (BULLA e BONOTTO, 2008, p. 320).
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Considerações finais
Ao mencionar sobre a importância/junção do livro didático e da tecnologia que são
fatores de fundamental relevância para o ensino de língua estrangeira, devemos levar em
consideração os aspectos que foram avaliados para a aprovação do PNLD, bem como se a
escola oferece recursos tecnológicos para serem utilizados na sala de aula e como o professor
regente trabalha o ensino da língua adicional (espanhol).
Em suma, o livro didático é um suporte de fundamental importância na aprendizagem
do aluno, só que existem livros em que o professor necessita adaptá-lo para que o discente
180
XII SEMANA DE LETRAS
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tenha um maior interesse em estudar a uma língua estrangeira, no caso específico dessa
pesquisa o livro “Síntesis”. Quando falamos em adapt|-lo o material de forma crítica, Matos,
2014, p.172, ressalta que: “... os professores precisam estar preparados para, de maneira
crítica, saber escolhê-los, reescrevê-los, complementá-los, adaptá-los e usá-los para atender às
necessidades de seus alunos”. A tecnologia é um recurso inovador e transformador no ensino
de línguas e fazendo “parceria” com o livro did|tico temos dois recursos indispens|veis para o
ensino de língua adicional (espanhol). Essa junção foi/é de fundamental importância para o
aprendizado do discente.
Referências
ARAÚJO, Antonia Dilamar. Computadores e ensino de línguas estrangeiras: uma análise de
sites instrucionais. Linguagem em (Dis)curso, Palhoça, SC, v. 9, n. 3, p. 441-461, set. /dez.
2009. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ld/v9n3/02.pdf acesso em 29 de maio de
2015.
BOHN, V. C.V. O potencial da web 2.0 e suas possibilidades para o ensino de língua estrangeira:
apresentando o podcasting, wiki e a rede social ning. In: Letras & letras, jul./dez. 2009.
Disponível em: http://www.letraseletras.ileel.ufu.br/viewissue.php?id=17. Acesso em: 16 jan.
2015.
PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) Guia de livros didáticos. Brasília: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2012.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
Para um melhor resultado na aprendizagem dos estudantes, professores buscam
recursos pedagógicos que ajudem a melhorar suas aulas, diminuindo a evasão escolar e o
desinteresse por parte dos alunos. Dessa forma, boas práticas docentes como a utilização de
materiais didáticos podem tornar as aulas mais proveitosas, facilitando e enriquecendo a
aquisiç~o de conhecimentos, assim, “Entende-se aqui por material didático todo ou qualquer
material que o professor possa utilizar em sala de aula; desde os mais simples como o giz, a
lousa, o livro didático, os textos impressos, até os materiais mais sofisticados e modernos”
(FISCARELLI, 2007, p.1).
O professor tem papel fundamental na vida do aluno, pois além de mediador de
conhecimentos, tenta muitas vezes estar presente na vida do discente, estimulando-o a
estudar. É dessa forma que o professor em seu dia-a-dia vai procurar maneiras de fazer com
que seus alunos tenham bons resultados nas suas aulas, fazendo bons planejamentos e
utilizando materiais didáticos apropriados para que estas sejam mais produtivas tanto para o
professor quanto para o aluno.
O uso dos materiais didáticos nas aulas é de suma importância para que se possa
conseguir garantir, na maioria das vezes, uma maior motivação nas aulas e nos estudos, e em
relação ao ensino de línguas, é uma maneira de estimular os alunos a serem mais
participativos e servir de incentivo para o aprendizado da língua estudada, desenvolvendo
assim habilidades orais e escritas, destacando que não depende somente desses materiais
para as aulas serem satisfatórias.
Nesse contexto, o docente não pode mais se limitar em ministrar aulas consideradas
monótonas e sem materiais didáticos diversificados, ele deve se apropiar também das novas
tecnologias como ferramentas de apoio no processo de ensino-aprendizagem, pois
principalmente nos dias atuais, nem sempre é possível satisfazer aos interesses dos
estudantes. Por estas razões apresentadas, decidimos trabalhar neste artigo de forma
contextualizada buscando unir esses materiais didáticos a temas transversais e às novas
tecnologias em junção ao conteúdo gramatical, para que assim efetivamente contribua para
estabelecer algumas condições favoráveis para o ensino e para a aprendizagem dos discentes.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Assim, o professor deve atentar-se aos conteúdos que quer trabalhar na sua aula, para
não fugir da realidade do estudante, portanto, como é tratado nos Parâmetros Curriculares
Nacionais “Devem ser explorados os temas transversais apropriados para a faixa et|ria dos
alunos que sirvam para problematizar as questões de natureza social do mundo em que
vivem”. (BRASIL, 1998, p. 73).
Atualmente muito se fala em internet como um objeto fundamental de auxilio dos
professores em diferentes áreas, assim muitos educadores vêm propondo que a escola esteja
cada vez mais unida a novas tecnologias, mas a utilização destas no ambiente escolar ainda
enfrenta alguns obstáculos, essa ferramenta ainda é inacessível para muitos estudantes do
nosso país, mas o problema não é apenas este, ainda há muitas escolas sem estrutura para
efetivação de práticas pedagógicas inovadoras, incluindo problemas governamentais, em que
o acesso a esses recursos tecnológicos não chegam a todos.
É imprescindível frisar sobre a importância de estarem vinculados a tecnologias,
porém, os docentes devem estar preparados para receber e lidar com os novos recursos que
desejam trabalhar, pois para alguns professores é difícil lidar com algumas complexidades
encontradas nos meios tecnológicos a fim de repassá-los para seus alunos como meio de uma
forma de ensino. São por essas razões que é necessário destacar que é de extrema importância
a participação desses profissionais da educação em cursos e capacitações para sempre
estarem atualizados.
Vários estudos feitos por pesquisadores no Brasil e no exterior mostram que, a
inclusão de novas tecnologias não pode ser feita de qualquer maneira no contexto
escolar, sendo necessário que o professor passe por uma capacitação antes de
explorar pedagogicamente as tecnologias com seus alunos. A aprendizagem mediada
pelo computador oferece oportunidades de interação comunicativa e reflexões sobre o
uso da linguagem na contemporaneidade e, consequentemente, do processo de
aprendizagem a partir da constituição de um conhecimento colaborativo. (SANTOS,
BEATO E ARAGÃO, 2010, p. 1 e 2).
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Apesar disso, pode-se observar nos dias atuais que muitas pessoas, independente da
idade, estão cada dia mais envolvidas em meios tecnológicos. Esse fato ocorre com mais
ênfase entre os jovens, a partir disso, nota-se que é importante que o professor aproveite esse
conhecimento e busque levar para suas aulas essas tecnologias, afim de que possa
transformar essas aulas em um ambiente de aprendizagem mais dinâmico, proveitoso e
interativo, como diz Maria Cecilia Mollica em seu texto sobre A formação em linguagem, “H|
que se pensar em recursos dinâmicos, durantes os quais seja estimulada a curiosidade
permanente de buscar conhecimentos novos, modos pedagógicos inovadores, e de se prestar
atenç~o a novas tecnologias” (MOLLICA, 2009, p.33).
Contudo, trabalhar com materiais didáticos unidos à tecnologia da informação (TIC)
pode envolver alguns obstáculos:
O uso das Tic’s nas escolas enfrenta várias barreiras, dentre elas uma aversão à
mudança que impossibilita a plena integração das novas tecnologias no contexto
escolar. Essa resistência pode partir do professor ou da escola, no primeiro, pode ser
por falta de interesse em mudar sua prática de ensino, insistindo em continuar com o
método tradicional, e no segundo porque, muitas vezes, as escolas têm dificuldades de
se reorganizar para promover a implementação de práticas pedagógicas inovadoras.
(SANTOS, BEATO E ARAGÃO, 2010, p. 1).
materiais didáticos no ensino de línguas, pois eles têm como função no ambiente escolar entre
outros fatores, possibilitar a interação e aprendizado de diferentes culturas, proporcionar
meios para uma melhor construção de conhecimento e auxiliar o processo de ensino-
aprendizagem de professores e alunos, respectivamente.
Hoje muito se comenta sobre a falta de interesse de boa parte dos alunos para se
aprender uma língua estrangeira por motivos de não saberem ou entenderem a importância
que esta disciplina representa no contexto social. Por estas e múltiplas razões, muitos
professores buscam atrair a atenção dos estudantes, levando recursos que façam suas aulas
tornarem-se mais dinâmicas tentando motivá-los, pois como sabemos, para se ter uma aula
satisfatória não é necessário apenas o uso de um bom material didático, é preciso que a
maneira e o contexto em que o professor vai inseri-lo também sejam atrativos e significativos,
pois esses recursos se não trabalhados da melhor forma, talvez não obtenha bons resultados,
e em um mundo altamente desenvolvido como o atual, há uma maior facilidade de adquirir ou
encontrar os tipos de materiais adequados para determinados conteúdos disciplinares como
meios de inovar o ensino de disciplinas em geral e principalmente as de línguas estrangeiras,
um exemplo disto é o uso da internet, um dos meios mais práticos e favoráveis para este
benefício.
Considerações finais
Entendemos, portanto, que para ter sucesso no momento de ministrar a aula, é
necessário um bom planejamento e isto inclui com certeza a utilização de materiais didáticos
diversificados, assim, se torna indispensável a união entre materiais didáticos que o professor
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opte trabalhar, com temas transversais vividos pela comunidade escolar em junção às novas
tecnologias, pois assim os resultados serão qualitativos tanto para o professor que terá
sensação de dever cumprido, quanto para o aluno que fixarão o que foi ensinado.
Em síntese, existem vários artefatos que o professor pode trabalhar em sala de aula e
utilizar como recursos didáticos, alguns sites da internet, por exemplo, lugar em que é
encontrada uma variedade de materiais satisfatórios, produtivos e ainda maneiras de como
utilizá-los, é a partir disso que extende-se o papel de professor como mediador para auxiliar
seus alunos na busca do conhecimento. Dessa forma, o professor pode trabalhar com vídeos,
pesquisas, entre outros, sempre contextualizando, montando assim o seu próprio material
didático.
Diante disso, se faz necessário atentar que inicialmente é primordial que o professor
se aproxime do aluno e de sua realidade, pois não adianta que o docente por exemplo, leve
para a classe uma música que só ele goste, é preciso que seja do interesse do aluno também,
para que sintam-se motivados a participar da aula, as temáticas também precisam estar de
acordo com a realidade a qual os alunos estão inseridos, como por exemplo as novelas, filmes,
esportes e toda a diversidade que o mundo tecnológico nos traz cada dia que passa.
Por conseguinte, as redes sociais, muitas vezes são grandes aliadas do professor,
sendo necessário realizar tarefas que envolvam a internet, atividades de produção escrita em
blogs, e-mail, fóruns virtuais, chats, facebook, entre outros, utilizando também sites onde
pratiquem seus conhecimentos gramaticais, respondendo a exercícios, dessa maneira, os
alunos estarão em contato com o que gostam e terão mais possibilidades de desenvolver sua
aprendizagem, extinguindo assim a monotonia e o tradicionalismo que muitas vezes são
encontrados nas aulas em geral, aumentando o prazer em estudar e de realizar as atividades
desempenhadas pelo professor.
Referências
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : terceiro
e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira / Secretaria de Educação
Fundamental. Brasília : MEC/SEF, 1998.
MOLLICA, Maria Cecília. A formação em linguagem. In: Linguagem para formação em letras,
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
SANTOS, Tássia Ferreira. BEATO, Zelina. ARAGÃO, Rodrigo. As TICS e o ensino de línguas.
2010.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998 p.19), o objetivo do ensino de
LE é de a “possibilidade de aumentar a auto percepç~o do aluno como ser humano e como
cidad~o”. Ressalta-se também a aprendizagem não apenas pela importância, mas por ser
direito de todo cidadão, ou seja, é de grande importância para a construção se sua cidadania. É
através dele que as escolas tornam-se referência diante de como se deve ensinar e aprender
uma língua estrangeira.
Com isto, nossa pesquisa pretende trazer algumas reflexões quanto ao ensino de
língua estrangeira na escola básica e alguns métodos inovadores que possam ser utilizados no
ensino-aprendizagem.
Para justificar nossa investigação procuramos analisar a importância do ensino
educacional de E/LE, e com base em possíveis problemas existentes no ensino público
brasileiro. Todavia, não procuramos desconsiderar as faculdades de letras que tem um papel
importante na formação dos docentes.
Assim procuramos organizar esta investigação em tópicos. Inicialmente
apresentamos o objetivo e a justificativa de que nos levou a essa investigação. No primeiro,
trazemos um amplo conhecimento sobre a importância da inclusão do ensino de língua
espanhola no currículo escolar baseado em leituras e reflexões críticas nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (1998 e 2002), Orientações Curriculares do Ensino Médio (2006). No
subtópico que segue abordamos o ensino de língua e possibilidades de mudar a situação
encontrada, buscando modos de inovação de ensino. No quarto tópico segue as considerações
finais e referencias.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
O ensino de língua espanhola, não deverá ser ensinada somente para aprender uma
nova língua, e sim no processo educativo global dos estudantes, expondo-os à alteridade, à
diversidade à heterogeneidade, caminho fértil para a construção de sua identidade.
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Desta forma, o professor que leciona LE deve preparar os alunos para que eles tenham
acesso a novas informações e possam utilizar o que é aprendido para transformar sua realidade
e o meio em que vivem.
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O que acontece em muitas das vezes são verdadeiros rituais de ensino, em que o
professor ensina as regras de uma determinada língua e depois pede que os estudantes
apliquem em atividades formais, exercícios estruturais e provas como forma avaliativa sem
uma reflexão dos conteúdos estudados. Precisamos modificar urgentemente esse caminho
tradicional de ensino, caminhar sempre em busca de novas e próprias maneiras de ensinar.
Segundo González o problema não está se ensinamos ou não a gramática e sim, como
ensinamos, ou seja, meios como televisão, música, redes sociais se interagem em uma
estratégia que favorece a interdisciplinaridade, a criatividade e a inovação que valoriza o
ensino do professor e proporciona que os alunos se sinta envolvido no seu processo de
ensino-aprendizagem. Certamente assim, haverá mais interesse, participação e envolvimento
tanto por parte dos alunos como de toda comunidade escolar.
Nos últimos anos, houve um aumento nos números de vagas para professores de
espanhol nas universidades públicas com o propósito de ampliar a capacidade de formação de
professores para atuar no Ensino Básico, porém os ensinos fundamentais e médios continuam
quase igual e carentes de profissionais capacitados na área, muitos desses formadores fazem
basicamente o que sempre fizeram, ou seja, ensinar regras de gramática para alunos que
possivelmente, jamais irão usá-las. No entanto é preciso repensar o ensino de LE na escola
pública e conscientizar os professores a focarem o ensino de leitura e escrita, habilidades essa
de que os alunos irão precisar em suas vidas acadêmicas.
Assim todo professor tem que conhecer seus alunos, as culturas dos mesmos para que
a partir daí possa existir uma relação entre professor e aluno, no método de ensino e nas
técnicas inovadoras. Por tanto no método tradicional, a interação entre professor e aluno e
pautada na transmissão de conhecimento, mas com os métodos inovadores, o professor vai
passar a ser um facilitador e ambos trabalharam em conjunto para conseguir outros
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
resultados satisfatórios.
Segundo Almeida Filho (2010), em “Dimensões comunicativas no ensino de línguas”,
Muito acima de uma visão reducionista e limitadora, os professores são agentes juntos
com os estudantes, a construção dos saberes leva o indivíduo a estar no mundo de
forma ativa, reflexiva e crítica. O foco do ensino não pode estar de modo exclusivo e
predominante, somente para a preparação para o trabalho ou para superação de
provas seletivas, como o vestibular. Dominar uma língua estrangeira supõe conhecer
também e principalmente, os valores e crenças presentes em diferentes grupos
sociais. (OCEM, 2008, p. 15).
Justamente conforme o PCN (2000) um erro realizado pelos docentes é aplicar suas
classes de forma enfadonha e repetitivas; forma descontextualizada e desligada da realidade.
Hoje em dia a grande maioria das instituições se baseiam nas aulas de língua estrangeira, no
domínio do sistema formal da língua objeto, isto é, pretende-se levar o discente a entender,
falar, ler e escrever, acreditando que a partir disso ele será capaz de usar o novo idioma em
situações reais de comunicação. No entanto, o trabalho com as habilidades linguísticas citadas,
por diferentes razões, acaba centrando-se nos preceitos da gramática normativa, destacando-
se a norma culta e a modalidade escrita da língua.
Portanto no ponto de vista do docente o propósito do trabalho é mais do que
transferência do assunto, passa a depender de um método que contornar pessoas na
concepção de conhecimentos.
Na metodologia tradicional, a memorização, como a principal operação exercitada, é
insuficiente para os processos efetivos de ensino-aprendizagem e conjunturas
contemporâneas. O docente deve propor ações que desafiem ou possibilitem o
emprego das demais operações mentais para captação e assimilação do conteúdo;
para isso organiza os processos de apreensão de tal maneira que as operações de
pensamento sejam despertadas, praticadas, construídas e flexíveis para as necessárias
rupturas. (SOUZA, p. 288).
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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Ensinar é um procedimento dinâmico onde tem que haver relação entre o discente e o
docente, discente e o discente e também entre discente e assuntos da disciplina. A avaliação é
como se fosse um ponto de referência, a partir dela é que as decisões serão tomadas a respeito
de métodos, conteúdos e objetivos dando qualidade as ideias construídas.
Considerações finais
No entanto finalizamos que ao destaque do ensino da língua esta, por tanto, em
agregar os alunos no funcionamento prudente da linguagem, não como seguidores de uma ou
várias normas, mais como falantes capazes de refletir sobre as relações da língua e da
linguagem, o que implica no trabalho em classe, sobre a possibilidade de afirmação em relação
à divisão política que constitui as relações sociais, constituídas pela linguagem, ou seja, a uma
relação entre língua e linguagem, e não entre língua e gramatica.
Cremos que seja de fundamental importância, que todo assunto ou tema a ser
estudado pela turma, tenha nexo, ou seja, que tenha significado, sendo assim, se faz necessário
que o docente esteja sempre atento a utilizar diferentes recursos, seja um sócio interacionista,
como: dinâmica em grupo, letra de música, vídeo e outros, na atividade a ser realizada, com a
intenção de envolver aluno e professor para assim desenvolver o interesse, o que te gosta e o
prazer, pois, partindo desse princípio, conseguiremos dos discentes a participação em sala de
aula, motivação, e o interesse.
Contudo temos em vista que, todo docente tem como objetivo desenvolver sua pratica
pedagógica pautada em uma proposta educacional voltada para a formação de alunos críticos
e participativos. Em Rapamzzo entendemos que:
No entanto, sabemos que para que aconteça uma aprendizagem significativa dos
discentes, a responsabilidade não se restringe só a uma instituição, nem ao docente. Referir-se
principalmente, de uma maior alteração na educação pelas entidades que as mantem, que vai
desde a devida remuneração dos profissionais de educação, até a segurança de níveis de
trabalho.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Referencias
ALMEIDA FILHO, JPC “Dimensões comunicativas no ensino de línguas” / José Carlos Paes
de Almeida Filho-6ª Edição- Campinas, SP: Pontes Editores, 2010. Cap. Ensinar e aprender
uma língua estrangeira na escola. Disponivel em:
http://www.people.ufpr.br/~marizalmeida/celem05/ensino_les_br.doc
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
O objetivo desse artigo consiste em fazer uma análise sobre os tipos de métodos de
ensino - tradicional e comunicativo - para línguas estrangeiras que são atualmente mais
utilizados pelos professores em sala de aula para ensinar aos alunos. Consiste também em
mostrar as desvantagens do método que é mais utilizado, o que melhorar nele, qual deveria
ser utilizado e as razões para se mudar. E ao final mostrar uma terceira opção para o
professor levar para as suas aulas.
Optamos por usar o termo método durante a pesquisa, por este parecer abarcar de
forma mais ampla o sentido de princípios e normas que regem determinada forma de ensino
desenvolvida pelo professor. Se entende aqui por método como sendo um conjunto de
procedimentos, estabelecidos a partir de um enfoque para determinar o programa de ensino,
seus objetivos, seus conteúdos, as técnicas de trabalho, os tipos de atividades, e os respectivos
papéis e funções de professores, alunos e materiais didáticos (INSTITUTO CERVANTES, 1997).
No ensino das escolas no Brasil é predominante o uso do Método Tradicional que nele
prevalece o uso da gramática Normativa, em que consiste no ensino de regras e conceitos que
devem ser cumpridos, ou seja, regras que regem a língua falada e escrita, e com base na norma
padrão. Esse método traz como características conteúdos estruturalistas, exercícios
repetitivos e de memorização.
Com o decorrer do tempo o ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras foi se
aperfeiçoando as mudanças que ocorriam no modo de ver, pensar e agir referentes a
modalidade de ensino, a sociedade, ao ser humano e com isso teve impacto na metodologia. O
professor deixa de ter a função de único protagonista da aula e passa a ser o mediador do
conhecimento. O método comunicativo tem essa característica de fazer com que o professor
não seja o único portador de conhecimento da língua, e sim, faz também com que o aluno seja
ativo no processo de ensino-aprendizagem, levando em conta os seus conhecimentos prévios
adquiridos.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
ENSINO DE LÍNGUA 2
Método Tradicional
O método tradicional iniciou no século XVIII com o Iluminismo e tinha o objetivo de
trazer o conhecimento ao indivíduo de uma maneira universal, em seu modelo ou abordagem
não havia mudanças ou melhorias no ensino, sendo assim, o conteúdo era passado de forma
sistemática. Sendo ainda hoje utilizado de foma intensa nas escolas brasileiras públicas ou
privadas.
Esse método é baseado na repetição dos conteúdos e na sua memorização tendo no
centro o professor - sendo ele o único detentor de conhecimento - que transmite esse
conhecimento ao aluno sem nenhuma via de troca de conhecimentos. É voltado para o
estruturalismo ficando preso ao conhecimento através de estruturas gramaticais, conceitos,
frases soltas, sem contexto e deixando de lado as variedades linguísticas, diversidades
culturais.
É perceptível que a metodologia tradicional provoca enfado, aborrecimento, muita
das vezes causa sensação de fracasso no aluno, fazendo com que eles não tenham vontade,
nem disposição de aprender a língua estrangeira, e também faz com que o professor se sinta
frustrado por não ter obtido êxito no ensino.
O aluno, muita das vezes, quando é exposto somente ao ensino da gramática
tradicional, se transforma em um aprendiz que n~o tem a capacidade de questionar “o
porquê” da normatização ser dada daquela maneira, o papel social da língua em sua vida,
para que serve em meio a sociedade, com isso o estudante se sente desmotivado por conta de
não conhecer a língua de outra forma, ou seja, não saber como se usa aquela língua.
Assim forma-se um sujeito que não interroga sua própria natureza de falante e de
cidadão de uma sociedade que não questiona sua relação - como cidadão e como
falante - com a(s) normatividade(s) sejam elas linguísticas ou sociais, portanto, que
não busca intervir na sociedade (tampouco na literatura e na língua, como parte da
sociedade), sujeito que não busca transformar, porque não percebe que poderia fazê-
lo. (OLIVEIRA, 2006, p.75).
Sheila Elias Oliveira (2006) argumenta que as escolas formam sujeitos que não
conseguem perceber a relação que há com o mundo a sua volta, não conseguem perceber a
sua condição de falantes de uma língua e nem conseguem questioná-la. Os métodos
tradicionais são meios de formar indivíduos com regras e conceitos que devem ser cumpridas
com uso da gramática normativa, cujo qual, apresenta exercícios para o aluno com uma
estrutura repetitiva e requisita que essa forma padrão seja seguida de forma a desconsiderar
as variedades que há presente na língua. Entretanto, muitas vezes, o aprendiz traz consigo
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Método Comunicativo
O método comunicativo5 teve participação no ensino de línguas a partir das décadas
de 60 e 70 com metodologias mais amplas para o ensino-aprendizagem, sendo uma forma de
obter mais qualidade com o objetivo de unificar-se com os conhecimentos tradicionais, antes
considerado padrão. Esse método visa a compreensão das quatro habilidades que são ler,
falar, escrever e ouvir, tendo como alvo o saber no ensino de línguas.
O método comunicativo tem o foco no sentido, significado e na interação entre
sujeitos na língua estrangeira (ALMEIDA FILHO, 2008). Este método não descarta a gramática
e suas regras, contudo, seu objetivo promove materiais, ferramentas que incentive o aluno a
pensar e interagir na LE.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Esse método tem como base introduzir a comunicação, seja oral ou escrita nas aulas,
unir a forma e o uso. E o professor tem um papel muito importante nesse processo para
conseguir levar a comunicação, oral e escrita para as aulas.
Como trata Filho (2008) para o professor utilizar o método comunicativo com os
estudantes, tem que levar temas e assuntos que sejam próximos da realidade dos alunos para
poder ter significado para eles. É imprescindível também respeitar as variações de cada
indivíduo, quanto a suas inibições, vergonhas, até porque a expressão oral está vinculada com
tudo isso. No momento de avaliar as tarefas comunicativas, tem que ser percebido todo o
valor que tem esta parte de expressão oral, que inclusive às vezes é mais valido que somente
apresentar questões estruturais de conteúdos gramaticais que em alguns casos não são
utilizados na língua-alvo.
Neste parâmetro se deixa claro que as instituições tem o objetivo de ensinar aos
alunos pelo menos uma língua estrangeira, que esta língua os ajudem na língua materna, que
desenvolvam as quatro habilidades, que aprendam a cerca das diversas culturas, que
consigam comunicar-se pelo menos o básico e é por isso que é uma controversa dizer que o
aluno conseguirá compreender a segunda língua (L2) e falar o mínimo que seja ensinado a
eles somente utilizando o método estruturalista, que apresentam exercícios puramente
estruturais.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
muito mais rica em detalhes e também o uso destas ferramentas instiga o aluno a comunicar-
se com os demais, a participar ativamente da discussão e compreensão. O estudante passa a
ter uma ampla capacidade de adquirir ideias, técnicas, habilidades a importância do
conhecimento humano e social, ou seja, tanto interno quanto externo.
Considerações finais
Como foi exposto no artigo, ensinar uma língua estrangeira é muito mais do que
ensinar somente a estrutura gramatical. Ensinar uma língua é saber mais sobre as
diversidades culturais dos países que fazem parte, aprender a expressar-se tanto na oralidade
quanto na escrita, etc. E para este ensino o professor tem o papel fundamental, através de sua
forma de ensinar, de ser a ponte entre o aluno e a aprendizagem.
O ensino de língua deve estar intimamente unido à gramática, unindo tanto o método
tradicional como também o método comunicativo, relacionando a forma e o uso, ou seja, os
professores deveriam aproveitar para fazer una juncão da tradição com as técnicas
metodológicas que trazem estímulo de aprendizagem aos alunos.
O professor tem esse papel fundamental de ser o mediador do conhecimento e ele
também tem que levantar questões ao se pensar em fazer um plano de aula. Ele tem que levar
em consideração uma série de fatores como: qual o objetivo para os alunos de se aprender
aquela língua estrangeira, a realidade em que se encontram os alunos, sua faixa etária para a
partir daí encontrar o método que melhor se adeque os seus discentes e que ajude a
desenvolver e melhorar a aprendizagem.
Referências
Diccionario de Términos Clave de ELE, disponível em:
http://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/diccionario/metodo.htm.
Acessado em: 20 de maio 2015.
SALINAS, A. “Ensino de Espanhol para brasileiros: destacar o uso ou a forma?” In: SEDYCIAS, J.
(org.) O Ensino do Espanhol no Brasil: Passado, presente, futuro. SP: Parábola, 2005.
201
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
202
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
Tradicionalmente, o item gramatical aí é classificado, na maioria das gramáticas
brasileiras, como advérbio de lugar (cf. CUNHA & CINTRA, 2006; BECHARA, 1999; 2009;
CASTILHO, 2010; BAGNO, 2011).
Segundo Abaurre e Pontara (2008) advérbios são palavras invariáveis que se
associam aos verbos, indicando as circunstâncias da ação verbal. Em casos especiais,
associam-se aos adjetivos, especificando as qualidades por eles expressas, e a outros
advérbios, intensificando o seu sentido. Quanto à classificação dos advérbios, utiliza-se um
critério de ordem semântica, de acordo com a circunstância que eles exprimem com relação
aos verbos, adjetivos ou outros advérbios por eles modificados. Lugar: aí, aqui, ali, acolá, lá,
além... (ABAURRE, PONTARA, 2008, p.464 - 465).
É importante ressaltar que pesquisamos a classe gramatical advérbio em várias
gramáticas pedagógicas da rede de ensino de Moita Bonita/SE, no entanto, em nenhuma delas,
o item linguístico aí esteve presente na classificação dos advérbios. Diante disso, recorremos a
um manual didático, utilizado no ensino médio, e mesmo assim o aí foi classificado apenas
como advérbio de lugar, sem sequer demonstrar essa ocorrência por meio de exemplo. Esse
fato justifica a problematização que gira em torno da preocupação apenas com o conceito sem
exposição de exemplos.
A escolha do item gramatical aí como objeto de estudo deve-se ao fato dele
apresentar, atualmente, funções mais abstratas que se distanciam, por vezes, da sua função
primária de advérbio de lugar. Nesse estudo, mostramos o funcionamento do item gramatical
aí e seus contextos de uso, em um banco de dados constituído de redações e charges, à luz do
referencial teórico da Sociolinguística (LABOV, 2008 [1972]) e do funcionalismo linguístico
norte-americano, com especial atenção às propostas de Talmy Givón (1995).
Buscamos fornecer uma breve descrição funcional do aí neste corpus, posto que o
item, em determinados contextos de uso, deixa de exercer a função de advérbio de lugar para
desempenhar outras funções, como pode ser observado em (1) e (2).
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(1) Era feriado do carnaval meu pai viaja Eu dice pai Eu vou para picinha viu meu filho
aí ele mede 20 reais aí não vou para barají do brito aí eu fui Tuma banho na.
(Escrita de aluno do 6º ano)
(2) Um dia eu saí escondido aí fui para o Sítio aí eu não disse que eu tava na casa do
meu colega.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Revisão da literatura
Esta pesquisa é constituída pela associação de postulados do Funcionalismo
Linguístico norte-americano (com especial atenção às propostas de Talmy Givón) e da
Sociolinguística Variacionista Laboviana, em uma abordagem que vem sendo denominada na
literatura de sociofuncionalista. Essa combinação das duas correntes, que até meados de
1980 eram desenvolvidas em âmbito separado da linguística, busca demonstrar que, a
explicação acerca dos fenômenos de variação e de mudança oferecida por cada uma dessas
perspectivas não são excludentes, o que facilita essa integração. Essas duas teorias destacam a
frequência de uso das formas linguísticas.
Foi, portanto, William Labov quem, mais veemente, voltou a insistir na relação entre
língua e sociedade e na possibilidade, virtual e real, de se sistematizar a variação
existente e própria da língua falada.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
(3) Minha irmã falou que quando eu era pequena ficava muito agitada nos lugar. Aí ela
tinha que voltar por causa de mim. (Escrita de aluno do 6º ano)
(4)
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
(5)
O aí, em (5), não pode ser analisado separadamente, mas sim, através da expressão
“N~o estou nem aí”, a qual significa não estou preocupado com esse assunto ou ainda “para mim
tanto faz”. Nessa oraç~o também temos a presença do advérbio de negaç~o “nem”, logo em
seguida aparece o aí reforçando a ideia de negação. Nesse cartaz, o personagem que fala a
express~o “N~o estou nem aí”, subentende-se que ele não quer se preocupar, pois se isso
acontecer, ele irá se aborrecer e fará uma loucura interrompendo o evento para cantar uma
determinada música citada, a qual o agrada.
Considerações finais
O presente estudo teve como finalidade mostrar o funcionamento do item gramatical
aí e seus contextos de uso, por meio da descrição de algumas ocorrências do aí que fazem
parte do banco de dados do GELINS/UFS, além de charges extraídas de livros didáticos, à luz
do referencial teórico do funcionalismo linguístico norte-americano (GIVÓN, 1995) e da
Sociolinguística variacionista (LABOV, 2008 [1972]). Observa-se que o item gramatical aí,
conforme apresentado demonstra sofrer mudanças que vão do conceito mais concreto do
item (advérbio de lugar) ao menos concreto, na medida em que assume novas funções.
O item gramatical aí analisado nesse estudo apresenta funções mais abstratas quando
exerce função de sequenciador temporal, marcador discursivo, sequenciador textual. O item,
nos contextos apresentados neste trabalho, ainda mantém traços com sentido locativo
(advérbio de lugar), que é o valor de lugar, assim como atribuído nas gramáticas normativas.
Dessa forma, e em consonância com os estudos aqui apresentados, pode-se ver, no presente
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Referências
ABAURRE, Maria Luiza M; ABAURRE, Maria Bernadete M; PONTARA, Marcela. Português:
contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2008.
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37ª Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
CUNHA, C.; CINTRA, L.. Breve gramática do Português contemporâneo. Lisboa: Edições
João Sá da Costa, 2006.
TAVARES, Maria Alice. Um estudo variacionista de aí, daí, então e como conectores
sequenciadores retroativo-propulsores na fala de Florianópolis. 1999. Tese (Mestrado
em Linguística) – Curso de Pós-graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 1999.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
A língua portuguesa, assim como qualquer outra língua natural, renova-se
continuamente. Os indivíduos que a utilizam fazem isso para atender a uma situação de
comunicação e, muitas vezes, dão uma nova roupagem para aquilo que querem dizer. Nesse
sentido, o ensino de língua portuguesa no Brasil, a partir do avanço dos estudos linguísticos,
passa por uma série de mudanças. Tem-se questionado como tem sido o ensino de gramática
e sua eficácia, levando-se em conta esse caráter dinâmico da língua.
Com a capacidade criativa que o ser humano tem e com as possibilidades que a língua
lhe permite, surgem inovações lexicais, a que chamamos de neologismos, um fenômeno
linguístico que contribui para a evolução da língua através da (re)criação de novas palavras,
de uma expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente.
Partindo desse pressuposto, objetivamos discutir como esse fenômeno ocorre na língua
portuguesa e qual a sua importância no ensino-aprendizagem de língua portuguesa na escola.
Sendo assim, são conceituados e classificados alguns neologismos que recolhemos de
algumas edições aleatoriamente selecionadas da Revista Veja, além de alguns outros retirados
da obra Macunaíma, de Mário de Andrade. Demonstra-se, assim, como a abordagem desse
fenômeno em sala de aula contribui para a ampliação do conhecimento linguístico dos alunos,
ao mesmo tempo em que se oportuniza aos discentes um saber que se encontra além das
páginas do livro didático ou das gramáticas normativas. O conhecimento dos neologismos
permite ao aluno o reconhecimento de uma parte da história da constituição de sua própria
língua, uma vez que, em muitos casos, ao longo da história, foi no contato com outras línguas e
culturas que a língua mãe se formou e se consolidou.
Como falantes nativos de uma língua, os indivíduos costumam brincar com as
palavras, e os neologismos são um exemplo fiel a isto. O processo de criação de palavras,
conceitos ou expressões, nos mostra a habilidade e a capacidade que o usuário tem em
dominar e contribuir para que a língua continue viva e atenda a uma comunicabilidade entre
os indivíduos.
O presente artigo é fruto de pesquisa bibliográfica e de leituras críticas e pertinentes
ao tema, buscando analisar os neologismos e sua inserção nas aulas de língua portuguesa.
210
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Realizamos uma coleta de dados em revistas “Veja” para mostrar como os neologismos est~o
presentes no nosso dia a dia e em Macunaíma, de Mário de Andrade, para a percepção de que
esse fenômeno não é novo na língua, pois ocorre em todos os tempos em todos os gêneros,
desde que o homem começou a viver na natureza e a transmitir conhecimento.
Neologia e Neologismos
Em Neologia em português de Correa e Almeida (2012, p.17), encontramos a palavra
neologia como a “capacidade natural de renovaç~o do léxico de uma língua pela criaç~o e
incorporaç~o de unidades novas, os neologismos” e neologismo como uma “unidade lexical,
cuja forma significado e significante ou cuja relação significado-significante, caracterizada por
um funcionamento efetivo num determinado modelo de comunicação, não se tinha realizado
no est|gio imediato anterior do código da língua” (ibidem p. 23).
Percebemos que esse fenômeno só tende a alimentar o léxico de uma língua, com as
inovações permitidas pelo sistema dessa língua, como nos ensinava Coseriu (1979), seja para
enriquecer a fala do usuário, seja para chamar a atenção do ouvinte para a importância do que
se quer transmitir. Como exemplo para o exposto, quando acrescentamos a uma palavra já
existente um prefixo ou sufixo, como a palavra extra, mega, super, ão, mente e outras
queremos apenas mostrar que aquilo de que se fala é algo importante.
Coutinho (1976, p 215) conceitua neologismo de uma forma mais simplificada, como
“palavras ou expressões novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na língua, ou o uso
de uma palavra antiga com acepç~o nova” e apresenta-nos uma citação de Darmesteter, ao
afirmar que quando a língua cria sentidos novos, dá à palavra já existente funções que lhe
eram até então desconhecidas. Sem parecer atingir o léxico, ela faz, na realidade, surgir uma
verdadeira palavra nova, por isso que, com economia de som, dá a uma mesma forma funções
diferentes.
Sabemos que os neologismos servem para facilitar a comunicação, para nomear e
conceituar, porém há quem os tenha como erro e vício de linguagem. No entanto, como
nomear, conceituar e como aumentar o léxico de uma língua se não por criações? E por que os
dicionários estão sempre se atualizando? Para aumentar seu número de palavras e conceituar
outras que já estão dicionarizadas. Os neologismos surgem tão naturalmente que é impossível
serem evitados. Há gramáticos conservadores que são contra esse processo natural de
renovaç~o linguística, que defendem a língua desses “erros” ou “barbarismos”. Por outro lado,
os linguistas afirmam que a língua não precisa ser defendida e não há de quê ou de quem a
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
defendê-la, porque quem a utiliza é dono de seu próprio falar, e a língua é dinâmica, é viva e
sempre estará em mudanças e sofrendo inovações.
Quando Coutinho nos explica que são palavras que se introduzem ou tentam
introduzir-se na língua, isso significa que nem todos os neologismos criados serão um dia
dicionarizados, já que muitos deles desaparecem tão rapidamente quanto surgem, caindo em
desuso; é o caso dos arcaísmos, por exemplo. Eles mesmos – os arcaísmos – em algum
momento no tempo podem voltar a ser utilizados, com um novo significado, tornando-se,
dessa forma, em um neologismo.
Vejamos exemplos de neologismos atuais: imorrível, engolfados, pé-rapado,
mensalinho, rolezinhos, fluxos (como chamam as festas de baile funk), dedilhamento,
playboyzada, parca (parceiro), rolezão, pipocaram, semicelebridade, petrolão, protomarxitas,
hathahaters, Bombou, bebemorou, blogueira.
Neologismos coletados na obra, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, Andrade
(1988). Brincaram (p. 05), inoqueando carne (p. 09), uma pedra lascou (cortou) a boca e
moeu (quebrou) três dentes (p. 05), negaceando (p. 24), bôca-da-noite, murmurejando (p. 27),
escureza (p. 19), sobessubindo pro campo (p. 22).
Os neologismos podem ocorrer por:
- processos autóctones, dentro dos próprios recursos linguísticos;
- por formações onomatopaicas ou, mesmo, sinestésicas;
- por importação de elementos de outras línguas.
A língua portuguesa falada e escrita no Brasil tem utilizado todos esses recursos
com maior ou menor frequência. O léxico português brasileiro é, basicamente, de origem
latina, o que não impediu que ao longo da história de sua formação, venha incorporando
elementos das mais variadas procedências: celta, fenícia, hebraica, grega, germana e árabe,
para só mencionar os contatos mais íntimos e anteriores { “descoberta” do Brasil.
Já na chamada Idade Moderna, os gramáticos conservadores tiveram muito trabalho
no combate à invasão de termos de origem francesa, ditando à França a moda por muito
tempo, sobretudo no século XIX. Atualmente, a maior influência na língua portuguesa tem sido
da língua inglesa, principalmente no que se refere às telecomunicações, com a incorporação
das seguintes palavras: internet, blog, mouse, lan hause. No Português brasileiro, contamos,
também com a valiosa contribuição de termos de origem africana e indígena.
Porém, como vimos, nem todos os neologismos são resultantes de estrangeirismos
(FARACO, 2001). São perceptíveis, porém raros, os casos de formação onomatopaica, e os
casos de formação com elementos pré-existentes, os mais interessantes.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Neologismos: classificações
São muitos os neologismos existentes na língua portuguesa. Dessa forma, existem
várias maneiras de classificar os neologismos de acordo com diferentes estudiosos da língua.
Vejamos alguns tipos e exemplos. O primeiro, e mais conhecido é o:
Neologismo semântico: a palavra já existe, mas ganha uma nova conotação, um novo
significado.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
ou carinhoso-pejorativa:
_ eba: “ele próprio foi um natureba militante” – “ ...o programa foi uma mistureba” -
Veja – 18-04-2014;
_ eco: “...repeteco dez anos depois”- Veja – 18-04-2013;
_ eiro “...16 de abril, Dia do Picapeiro”- Veja – 18-04-2013.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Algumas considerações
Toda língua viva é dinâmica e está em constante modificação. Sendo assim, os
neologismos ocorrem naturalmente para o enriquecimento do léxico dessas línguas. Os
neologismos têm suma importância para o crescimento do léxico da língua por objetivar e
estimular a capacidade de manipulação nas estruturas linguísticas e levar o seu usuário a
descobrir estruturas internas das palavras, promovendo uma consciência linguística no
desenvolvimento do vocabulário. Para uma criação significante através, por exemplo, de uma
derivação, faz-se necessário associar o significado à estrutura interna das palavras e
estabelecer as relações entre a forma e o seu significado. Quanto à criação de um neologismo
para nomear algo recém-criado, é preciso aproximar ao máximo, palavra e objeto, facilitando
o entendimento.
A importância do reconhecimento desses fenômenos no ensino de língua portuguesa
e sua abordagem em sala de aula se dão para que os alunos percebam que eles, enquanto
usuários têm total domínio de criar uma palavra, uma expressão ou até atribuir um novo
conceito a uma palavra já existente e manter uma comunicabilidade eficiente com as pessoas.
Os neologismos servem para nomear algo também recém-criado, por um conceito, ou
simplesmente para expressar uma ideia. Nesse processo de criação, também estão presentes
os estrangeirismos, que da mesma forma, ocorrem para suprir uma necessidade. Como a
língua portuguesa não tem vocabulário suficiente para tanta demanda em evolução, ocorrem
esses empréstimos de outras línguas e a adequamos a nossa. É importante ressaltar que o
tema neologismos não é algo novo na língua, pois esse fenômeno ocorre desde que o homem
vive em sociedade e começou a produzir cultura, ou seja, desde que a língua é usada para se
comunicar.
Referências
ALVES, Ieda Maria. A integração dos neologismos por empréstimo ao léxico do
português. Alfa, v. 28 (supl), São Paulo: UNESP, 1984, p. 119-126.
ANDRADE, Mario de. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. Edição crítica. Coord. Telê
Ancona Porto Lopes, Brasília Distrito Federal. CNPC, 1988.
CASTILHO, Ataliba Teixeira de. Nova Gramática do Português Brasileiro. São Paulo:
Contexto, 2014.
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. 6ª ed. Rio de Janeiro: Livraria
Acadêmica, 1974.
FARACO, Carlos Alberto. Estrangeirismos guerras em torno da língua. São Paulo: Parábola
Editorial, 2001.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das
Letras, 1996.
Fontes
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
Uma palavra, ainda que neutra, precisa de dois elementos para seu uso: um
significado e um contexto. Fora de um contexto uma palavra pode ter seu significado
ampliado, sem um significado, pode não ter uso, perdendo sua função de ser. O que aconteceu
em 2013, por causa de manifestações anteriores e contextos construídos socialmente
advindos de anos anteriores a 2013 e lugares mais distantes do que na conjuntura brasileira,
prova que uma palavra pode ser recontextualizada para atender a novos usos e novas
necessidades do que aquelas proferidas em dicionários.
O ano de 2013 foi bastante tumultuado. O governo deixa de atender às necessidades
reais de um povo e acaba sendo a principal pauta de reivindicações, dando origem à maior
manifestação desde as Diretas Já. Milhares de pessoas das cinco regiões se reuniram para
confrontar verbalmente os constantes atentados a uma política que não consegue se organizar
estruturalmente e prover educação, saúde, infraestrutura e mais outras necessidades vitais,
previstas na constituição brasileira. Além disso, os milhões gastos em campanhas políticas e
construções de estádio para sediar a Copa no ano seguinte também contribuíram para as
manifestações. Antes, porém, Chile já era palco de manifestações articuladas por jovens
reinvindicando a manuntenção do ensino superior público, bem como a garantia do governo
para o acesso a este. Em 2012, também, milhares de jovens foram capazes de mobilizar alguns
países no norte da África e contar com a ajuda geopolítica de países europeus e Estados
Unidos para a derrubada de governos ditatoriais.
Para entender esses processos, com ênfase na conjuntura brasileira, e levantar pontos
de interesse na avaliação dessas interações sociais e, sobretudo, verbais, é preciso que
adentremos em três importantes aspectos. Primeiro, como começa o processo de fomentação
de articulações sociais, ou seja, como se constrói um contexto. Segundo, que entendamos qual
a função da palavra e como ela pode ser remodelada para atender a mil formas de uso prático,
sobretudo os verbos e suas inclinações a expressarem ações. Terceiro, como entender, ainda
que de forma bastante superficial, dada a limitação de espaço, de que forma a publicidade e
suas características e preferências por palavras e sentenças enxutas acabou fornecendo
slogans e motes que determinam o perfil característico do uso da nossa língua e como essa
manifestação teve um rosto e uma cunjuntura próprias.
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
A construção do contexto
Além do contexto, existe uma construção de realidade ditada principalmente pelo
meio social. É o meio social que constrói à sua maneira, respeitando suas limitações, uma
realidade que pode ser conhecida tanto pelo homem comum, como pelo homem erudito.
Quem se aprofunda nesse assunto são os teóricos Peter L. Berger e Thomas Luckmann em seu
livro “A construç~o social da realidade”, para eles é a Sociologia do Conhecimento, que busca:
(...) Além disso, porém, uma disciplina que se chama a si mesma por esse nome terá de
ocupar-se dos modos gerais pelos quais as “realidades” s~o admitidas como
“conhecidas” nas sociedades humanas. Em outras palavras, uma “sociologia do
conhecimento” ter| de tratar n~o somente da multiplicidade empírica do
“conhecimento” nas sociedades, mas também dos processos pelos quais qualquer
corpo de “conhecimento” chega a ser estabelecido como “realidade”. (BERGER. L.
PETER E LUCKMANN, THOMAS, 2008, p. 14).
Tanto a sociologia do conhecimento quanto a base teórica desse trabalho bebem das
fontes marxistas para criaram seu próprio repertório teórico. Bakhtin se mostra mais
inclinado a retornar e manter, sempre que necessário, suas fontes marxistas. Já no caso de
Luckmann e Bergman, eles se mostram bem cautelosos em não cair nas excentricidades que o
Marxismo conseguiu prover.
Para Marx, a consciência do homem é determinada por seu ser social, indicando que é
o meio social que constrói o homem, seu mundo, suas ideias e seus anseios. Dessa forma,
quando falamos de contexto, é na maioria das vezes o meio social que cria e fomenta
condições ideais para que novas ideias sejam aceitas como vigentes, construindo assim
alicerces para protestos e manifestações, que são por essência, a expressão máxima que a
fomentação advinda da construção social pode conceber.
É a consciência dos homens que permite uma estruturação advindas de todos nós,
criadores de estímulos visuais e propagadores de novos modelos da linguagem, das formas
inúmeras que a expressão pode sucitar. Uma cor, uma frase, um filme recentemente lançado,
uma entrevista da presidente em rede nacional fomenta comentários e tece uma cadeia sem
fim de acontecimentos que constrói um cenário onde novos cenários serão construídos e com
isso temos a ideia de contexto.
No caso das manifestações sociais de 2013 no Brasil, o contexto já tinha sido
fomentado por manifestações em outras cidades e teve sua reverberação nas constantes
falhas governamentais. Seu estopim, entretanto, é detonado com a rejeição do aumento das
passagens de ônibus que se liga { apropriaç~o de slogans como “Vem pra Rua” e o “Gigante
Acordou” das campanhas publicit|rias que n~o estavam dentro do contexto político citado,
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
mas que tiveram seus significados remodelados ao bel prazer de todos envolvidos nesse
contexto. Hoje ao digitar no google Vem pra Rua, Vem pra rua 2013 ou manifestações os
resultados convergem para esse contexto do qual tanto falamos. Um exemplo abaixo:
Ainda que seja contraditório colocar como referência a palavra bíblica e marxista
dentro de um mesmo trabalho, já que Marx negava a existência de Deus, mas somente para
fornecer uma amostra de como a palavra, ainda que neutra, como Bakhtin afirma, pode
assumir diversos aspectos e mudar no curso da história de importância, a palavra é a maneira
pela qual nosso pensamento pode se materializar. Ou seja, pode dar luz a um contexto. A
palavra tem seu próprio poder definido pelos homens e por suas articulações, sendo uma
arma que aponta na direção que melhor convém a eles mesmos. Sem palavra, o conteúdo da
indigesta indignação pelo governo perderia seu sentido e seu momento de atuação. É preciso
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
estabelecer uma frase que articule as ideias gerais dos propósitos pelos quais milhares de
pessoas foram às ruas.
motivo pelo qual um gigante acordaria, pelo menos não justificado pela propaganda e filmes
veiculados nas mídias off (jornais, revistas) e midia online (TV e internet). Esse slogan tornou-
se alvo muito mais fácil de ter seu sentido transfigurado para dentro do contexto político das
manifestações de 2013.
A publicidade tem seus motes e produções constantemente alterados em seus
significados pelos jovens, sobretudo com o uso da internet, o que cria um cenário de uso
muito próprio da linguagem, constantemente bem humorada e inteligente. Os processos
criativos publicitários são fundamentados pelo planejamento e atenção às estratégias para
criação de contextos nos quais as campanhas podem ser inseridas e reverberadas pelo seu
público. Muitas tentativas são falhas e poucas sobrevivem às inúmeras tentativas criadas
pelas inúmeras agências de publicidade no Brasil. Mas aquilo que a publicidade tenta
desesperadamente criar para dar sentido às suas produções, o contexto, é feito não só pelas
pessoas como também para as pessoas de forma bastante natural, sem muitos esforços
aparentes. O meio social, enquanto corpo vivo e pensante, trata de sempre criar contextos que
podem sobreviver por uma semana ou ter seu sentido reverberado e levado para os livros de
história. Contexto, como ilustrado no trecho retirado abaixo, é extremamente difícil de ser
criado, seja porque a linguagem pode sefrer todo tipo de interpretação, muitas vezes diferente
às primeiras intenções colocadas, seja porque as pessoas ali circunscritas no contexto não
estão preparadas para o formato de linguagem:
não se trata, para o êxito desta [da publicidade no mundo da comunicação social],
apenas de um bom uso do leque que o léxico dispõe, nem muito menos das forças
motivadoras que a publicidade quer ver crescer dentro de um cenário qualquer,
muitas vezes inventado pela própria. Se trata sobretudo de deixar que as pessoas, o
público alvo e o público inalcansável, se tornem à medida do tempo mais adeptas das
novidades que o mundo oferece para só depois os legos de todo um contexto seja aos
poucos montados, não de uma vez, porque a rapidez é só feliz no tempo, e não muito
lentamente a ponto de deixar o fervor de um contexto passar. (THARP, 2006, p. 122).
Twyla Tharp é uma das maiores teóricas dentro da criatividade americana, porque
estudou, ao longo de vários anos, os mecanismos de ser criativo e melhor atender às
demandas de criação do universo publicitário e artístico em geral. Para ela não são as agências
os motores que conduzem a máquina de produção de conteúdo, mas são as pessoas a quem
esses motores se movimentam que ditam se essa produção vai ser aceita ou não, dado o
espírito de uma época e a qualidade do conhecimento que as pessoas produzem. Ela cita que
muitos autores não se deram bem apenas pelo fato de estarem muito à frente de seu tempo.
Muitas piadas não são entendidas pelo azar de seus ouvintes não serem colocados dentro de
um contexto cultural, e a mesma coisa serve para nós que nos atentamos às campanhas
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
publicitárias. Assim como uma frase pode não ser entendida, ela pode servir no futuro para
atender demandas outras e ser entendida, então, de outra forma.
Um contexto político como esse sobre o qual falamos, é apenas um dos vários
exemplos que podemos citar no qual a expressão é exatamente isso sobre o que Bakhtin
teoriza:
Mas o que é afinal a expressão? Sua mais simples e mais grosseira definição é: tudo
aquilo que, tendo se formado e determinado de alguma maneira no psiquismo do
indivíduo, exterioriza-se objetivamente para outrem com a ajuda de algum código de
signos exteriores (BAKHTIN, 1981, p. 111).
Considerações finais
As manifestações de 2013 são exemplo claro de que um significado pode ser
reapropriado e servir a um novo contexto. Na história impressa jornalística existem diversos
exemplos de frases que foram tiradas de um determinado contexto para gerar uma polêmica
proposital e confundir todos aqueles envolvidos no contexto da época. A publicidade em seu
papel nato de criar um receptáculo no qual pessoas e palavras estejam inseridas e dispostas a
passar adiante a mensagem recebida, teve seu papel invertido: dessa vez foram as pessoas e
as palavras que a colocaram dentro de um receptáculo no qual sua mensagem inicial teve seu
valor próximo a zero e sofreu com uma recontextualização de significados.
A língua é sempre viva, seu uso é sua modificação constante, sobretudo na internet
que vem sendo palco de todo tipo de manifestação, micro ou macro. A gramática e as teorias
servem apenas de apoio para que possamos beber de sua fonte e consequentemente quebrar
ou provar o contrário daquilo que havia sido afirmado.
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XII SEMANA DE LETRAS
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Por isso o idealismo, que deu origem a todas as teorias da expressão, engendrou
igualmente teorias que rejeitam completamente a expressão, considerada como
deformação da pureza do pensamento interior. (BAKHTIN, 1981, p. 111).
Sobre esses casos dentro das manifestações políticas e ideológicas que compõem a
história brasileira, a linguagem e todo seu universo é o único meio pelo qual tais contextos
puderam ser entendidos e levados a seu extremo, seja na luta pelas classes, para as classes,
entre classes, com as classes, das classes. Como já sabemos, um contexto só é um contexto
pelas pessoas que o constituem. Com certeza, novos contextos como esse de 2013 virão, com
corpo e formato parecidos, usando de jargões muitas vezes publicitários, ou que a publicidade
poderia facilmente usar em suas campanhas. Vemos assim que as regras existem para serem
moldadas a nosso favor, porque a palavra tem sua convenção em significado marcado em
dicionários e por filólogos, mas pode ter vários usos, e inclusive nenhum uso, se as pessoas
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
não souberem o que significa. Portanto, as pessoas, o meio social e a realidade (que por sua
vez precisa da construção de conhecimento) podem dar luz a novos contextos, remoldá-los e
levá-los até onde tais pessoas quiserem e puderem. Dão não só margem a mudanças políticas,
sociais e históricas, mas também fazem nascer novos valores, novos ideais. Além disso, trazem
o passado ao presente, até que esse presente seja sufocante e intolerável e mais uma vez se
precise do passado para a retomada de um novo presente.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. Prefácio de Roman Jakobson. Editora
Hucitec, 1981.
THARP, Twyla. The Creative Habit: learn it and use it for life: a practical guide. Colaboração
de Mark Reiter. Simon & Shuster paperbacks, designed by Julian Peploe, 2006.
http://www.adnews.com.br/publicidade/vem-pra-rua-campanha-da-fiat-vira-hino-de-
protesto Acessado no dia 9 de maio, às 21:35.
http://economia.estadao.com.br/blogs/radar-da-propaganda/vem-pra-rua-da-fiat-sai-do-ar-
apos-virar-tema-de-protestos/ Acessado às 21:55 do dia 9 de maio
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
Este trabalho objetiva ilustrar o uso dos Gêneros Digitais nas aulas de Língua
Espanhola, papel que o professor desempenha na utilização desses recursos, assim como a
criação de um AVA na rede social Facebook, intitulado “El Mundo Español” que vem sendo
utilizado como instrumento pedagógico para atividades com a abordagem de gêneros
textuais, a fim de desenvolver as competências e habilidades linguísticas dos alunos, buscando
a ampliação de seus conhecimentos com uma visão crítica, através da língua-alvo, assim
aprenderão de maneira dinâmica, interacional e satisfatória. O público alvo são alunos do 1º
ano do Colégio Estadual Dom Luciano José Cabral Duarte, vinculado ao Programa Institucional
de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID).
Analisam-se primeiramente, os Gêneros Digitais como ferramentas pedagógicas,
indispensáveis no processo de ensino/aprendizagem do Espanhol como Língua Adicional
E/LA e como eles podem ser explorados no desenvolvimento das competências e habilidades
linguísticas. Souza e Gomes (2009) afirmam que: A questão das novas tecnologias e conceitos
como saber flexível, aprendizagem cooperativa, interdisciplinaridade, transdisciplinariedade,
currículo integrado, redes de aprendizagem e educação continuada e à distância começam a
se fazer cada vez mais presentes nos ambientes acadêmicos e políticos, sobretudo quando
está em pauta a discussão sobre a necessidade de renovação dos processos educacionais,
(SOUZA E GOMES, 2009, p.36).
No segundo tópico, se faz uma análise de como o professor passa a utilizar essas
novas tecnologias dentro e fora da sala de aula, levando em consideração que para o
desenvolvimento de qualquer atividade traçada pelo professor precisa estar pautada em
estratégias predefinidas para que se possa obter resultados significativos, como nos explica
Nóvoa (2002, p.23), “o aprender contínuo é essencial e se concentra em dois pilares: a própria
pessoa, como agente, e a escola, como lugar de crescimento profissional permanente”.
E no terceiro, trataremos especificamente, do Projeto “El Mundo Español” no
Facebook para o ensino/aprendizagem do espanhol, em que será explicado o porquê da
escolha do gênero digital, os tipos de atividades abordadas e os resultados alcançados.
Segundo Silva “O uso do computador como ferramenta mediadora da comunicação leva-nos a
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XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Para Antunes (p. 2001), essas tecnologias não podem mais ser vistas apenas como
mais um recurso pedagógico, da forma como é um gravador de som, o computador veio para
ficar e necessitamos utilizá-los em aulas para desenvolver o senso crítico do aluno, ensiná-lo a
pensar melhor, aguçar suas faculdades de observação e pesquisa, sua imaginação, suas
memórias e os novos horizontes de sua comunicação.
Com isso fica evidente a importância da intervenção tecnológica, como ferramenta
essencial no processo de ensino/aprendizagem, pois de caráter inovador estabelece novos
conceitos de interação social ajudando a desenvolver no aluno a capacidade de construção e
ampliação de seus conhecimentos com uma visão crítica relacionada aos temas culturais,
políticos, econômicos, entres outros presentes na sociedade.
Os Gêneros Digitais são excelentes ferramentas educacionais para o processo de
ensino/aprendizagem, por ser um espaço em que a língua adicional é efetivamente
empregada. Assim os gêneros possibilitam, através do estudo desses enunciados, um contato
com as “condições específicas e as finalidades de cada campo, n~o só pelo seu conteúdo
(temático) e pelo estilo da linguagem (seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e
gramaticais da língua), mas, por sua construç~o composicional” (BAKHTIN, 2000, p.263). (...)
Desta forma, os gêneros digitais são megaferramenta para desenvolver nos aprendizes a
necessária habilidade de construir pontos de vista e defendê-los convincentemente. (XAVIER:
2005 p.37-38.)
228
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Há vários instrumentos que podem ser explorados para uma aprendizagem sólida,
que podem contribuir no desenvolvimento das habilidades linguísticas (ouvir, falar, ler e
escrever) dentre os recursos podemos citar multimídias, internet, comunidades virtuais (Blog,
Glogster, WebQuest, Twitter, WhatsApp, Facebook entre outros), pois Segundo Antunes
(p.2000) O importante nessas competências não está em se buscar o uso e sim em ousar, criar,
inventar, sugerir, desafiar.
Na área da educação, os gêneros eletrônicos se destacam de modo geral, inclusive na
língua adicional, neste caso o espanhol, pois assim como as demais disciplinas a língua
adicional tem uma função educacional, ou seja, a formação de cidadãos, como afirma as
Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM, p.91 2006), que fazem referência ao
conceito de cidadania, que é um valor social a ser desenvolvido nas várias disciplinas,
inclusive de uma língua adicional, trazendo para o aluno a necessidade de uma relação com o
próximo, baseada no respeito mútuo com demais indivíduos dos diversos meios sociais.
No ensino da língua espanhola, os recursos digitais oferecem um ambiente propício
de aprendizagem através de atividades interativas e cooperativas, desta maneira utiliza a
tecnologia como ferramenta pedagógica para desenvolver e estimular a aprendizagem. Nesta
perspectiva a tecnologia pode ser vista como: “[...] o estudo e a pr|tica ética de facilitaç~o da
aprendizagem e melhoria do desempenho, por meio da criação, uso, e gestão de processos e
recursos tecnológicos apropriados”. (AECT, 2004, p. 3).
Em vista disto, estas tecnologias agem como ferramentas educacionais, propiciando
ao aluno uma aprendizagem embasada na formação de cidadãos e não se tratando apenas da
informatização do ensino, que reduz as tecnologias a meros instrumentos para instruir o
aprendiz. As TIC têm um significativo impacto no processo de ensino-aprendizagem, e o
professor tem um papel importante de proporcionar um ambiente favorável para que os
envolvidos na aprendizagem construam seus conhecimentos. Contudo Gianolla afirma que:
229
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
tornando-se assim uma parte essencial, em que envolve não só professores e alunos, mas toda
a comunidade educativa.
de referência, não como o único facilitador, mas como um guia de orientação geral, que ajuda
na seleção e organização dos conteúdos e seus objetivos.
O material produzido, deve oferecer aos alunos o que eles necessitam, sendo que sua
compreensão seja precisa e que a aquisição da linguagem possa satisfazer suas necessidades
comunicativas. Segundo Almeida Filho, “os professores de língua necessitam, entre outras
coisas, produzir seu ensino e buscar explicar porque procedem de tal maneira e como fazem”
o enfoque adotado dever ser integrador e eficaz para que se atinjam os objetivos propostos e
que o conjunto de concepções com as quais as ações do docente se vinculam deve haver
coerência. Segundo Gargallo (2003, p. 27)
231
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
atores. A abordagem de rede tem, assim, seu foco na estrutura social, onde não é
possível isolar os atores sociais e nem suas conexões (Recuero, 2009, p.24).
No que se refere ao uso de Gêneros Digitais, elegemos o Facebook pelo fato de servir
como Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e por ser bastante usual e interativo entre os
jovens, para desenvolvermos o Projeto intitulado “El Mundo Español”, em que foram
trabalhadas atividades com diversos tipos de gêneros textuais. O projeto teve a participação
de seis turmas (1º B2, 1º H2, 1º I, 1º J, 1º K2, 1º L) do 1º ano do ensino médio do Colégio
Estadual Dom Luciano José Cabral Duarte no ano letivo de 2014. O Facebook permite o
feedback entre docentes e discentes, essencial no processo de ensino/aprendizagem porque
proporciona a interatividade e é nessa troca de informações entre professor e aluno que
TEDESCO (2004) nos afirma:
O que pauta neste trabalho é o uso de elementos que permitem uma aprendizagem de
forma significativa para os estudantes de espanhol, fazendo parte do desenvolvimento das
habilidades linguísticas inseridas tanto no contexto funcional quanto no comunicativo. O uso
de gêneros textuais no ensino de uma língua adicional corresponde às reais necessidades
encontradas pelos alunos, durante o processo de aquisição da língua alvo.
A escolha de trabalhar com gêneros textuais se deve ao fato de que eles apresentam
elementos culturais, além disso oferecem contato com a língua de forma usual, permite aos
alunos compreender e apreciar outra (s) cultura (s), promovendo assim um envolvimento
maior com o idioma. Nesse contexto a Literatura se apresenta como conteúdo inerente no
processo de ensino de uma língua, pois a mesma é vista como meio para aquisição de
conhecimentos linguísticos necessários para o uso correto da língua.
O contato com distintas culturas do idioma espanhol pode ser trabalhado dentro e
fora da sala de aula, através de conteúdos educacionais em que o professor possa organizar
debates on-line no Facebook com o uso de temas transversais, utilizando sempre textos
autênticos, como ensinam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998) no intuito de
232
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Contudo, o aluno deixa de ser passivo e o professor deixa de ser o ‘dono da verdade’,
ou seja, o conhecimento passa a ser compartilhado, havendo assim a interação entre aluno e
professor, e mesmo entre professores e entre alunos também, todos ampliando e
compartilhando conhecimentos e saberes. Torres e Fialho (apud LITTO; FORMIGA, 2009)
afirmam que “precisamos de professores que sejam capazes de compartilhar seus
conhecimentos com os demais, pois o professor não é o dono do saber e, sim, alguém que
aprende com o grupo e com seus alunos”.
233
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Resultados
Os resultados obtidos indicam uma avaliação satisfatória, pois os alunos perceberam
que o aprendizado de uma língua adicional não está limitado a uma abordagem gramatical
com domínio de questões mais sistemáticas, como leitura e tradução.
Durante as atividades verificamos as assertivas: “Fiquei emocionada com o vídeo
Cuerdas, ele é real ou fictício?”, “Gosto muito do espanhol e este grupo est| me incentivando
bastante”, “Gostei muito desta adaptaç~o de Dom Quixote e pretendo ler este cl|ssico”,
“Curioso este vídeo... eu n~o sabia que uma mesma palavra tinha distintos significados em
diversos países que fala o espanhol” e “Conhecer outras culturas estimula novos
conhecimentos”.
Os alunos entenderam que, através dos diversos gêneros textuais inseridos no AVA,
podem conhecer outras culturas com seus respectivos valores, estimulando a busca por novos
saberes de maneira dinâmica e interacional, saindo do ensino convencional, buscando novas
alternativas de aprendizagem que priorizem a questão social e, consequentemente, a
formação de cidadãos críticos.
Considerações finais
Diante dos fatos mencionados e de todos os pressupostos teóricos que foram
expostos neste trabalho, fica evidente que os Gênero Digitais vêm ocupando um espaço de
suma importância no contexto educacional, visto que tais ferramentas facilitam no processo
de desenvolvimento de atividades que buscam integrar novos recursos como sendo meios de
aproximar positivamente docentes e discentes.
De fato, as mídias tecnológicas interferem na educação desde as distintas formas de
linguagem e comunicação até o conhecimento adquirido, com isso fica perceptível que através
destes recursos midiáticos podem se formar indivíduos pensantes com visões críticas
relacionadas às questões políticas, sociais e econômicas presentes no mundo globalizado.
O professor que se apresenta como um mediador e educador tem o dever de estender
o uso dos meios de comunicação de casa até a escola, assim os alunos podem ter a satisfação
de aprender utilizando-se dos mais variados recursos e obter, em decorrência disso, um
resultado positivo acerca da língua e da linguagem.
Os resultados obtidos com o projeto atenderam às expectativas, pois os alunos
curtiram, comentaram, perguntaram e responderam as atividades propostas com dedicação,
sem se sentirem pressionados. Deste modo, as TIC favoreceram a interação entre os alunos,
234
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
em que os mesmos foram capazes de estabelecer novas relações. Pois segundo Mendes (2008,
p.63):
Os aprendizes sejam incentivados a assumir uma postura que favoreça a abertura, o
diálogo, o respeito às diferenças, assim como a avaliarem criticamente os seus
posicionamentos e atitudes durante o desenvolvimento do processo de aprendizagem.
Isso, no entanto, vai depender do modo como ele enxerga o ‘outro’, o diferente dele e a
língua que está aprendendo. (MENDES, 2008, p. 63).
Referências
AECT (2004) AECT, definition and terminology committee document #MM4.0, The
Meanings of Educational Technology. Consultado na internet em 03 de junho de 2009.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal, 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
LITTO, F. M.; FORMIGA, M. Educação a distância o estado da arte. São Paulo: Pearson
Education do Brasil, 2009.
235
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
MEC- SEE. Orientações curriculares para o ensino médio. Linguagens, códigos e suas
tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006, volume 1.
MENDES, Edleise. CASTRO, Maria Lúcia S. Língua, cultura e formação de professores: por
uma abordagem de ensino intercultural. In: Saberes em português: ensino e formação
docente. Campinas-SP: Pontes, 2008. p. 57-77.
SOUZA, Carlos Henrique Medeiros de, GOMES, Maria Lúcia Moreira. Educação e Ciberespaço.
Brasília: Usina de Letras, 2009.
TEDESCO, Juan Carlos. Educação e novas tecnologias: esperança ou incertezas. São Paulo,
Cortez, 2004.
XAVIER, Antônio C. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: _______
Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005, p.13-67.
236
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
“Assim, a identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo,
através de processos inconscientes, e não algo inato, existente na
consciência no momento do nascimento”. (Stuart Hall)
237
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
hipóteses que orientam sua investigação e que discutem desde a condição do país
comosemiperiférico no sistema mundial capitalista até a constataç~o de que “a cultura
portuguesa é uma cultura de fronteira: não tem conteúdo, tem sobretudo forma, e essa forma
é a zona fronteiriça”. (SANTOS, 2003, p. 24).
A epígrafe acima retirada do livro “A identidade cultural na pós-modernidade” de
Stuart Hall põe em evidência o estado do sujeito pós-moderno, além de colocar a identidade
como algo em processo inacabado e não inato. Esse processo de formação de uma
configuração identitária está presente na maioria dos espaços pós-coloniais. As literaturas
africanas de língua portuguesa nos dão provas da utilidade da Literatura como parte da
história de um povo, assim como revela seu grande poder representativo frente às lutas
enfrentadas nos territórios africanos. Temas como as guerras de independência, conflitos
internos, a presença do ex-colonizador fazem parte da agenda de muitos escritores africanos
pós-coloniais, assim como nos afirma Inocência Mata:
Por razões que talvez tenham a ver com o lugar das literaturas na luta nacionalista
das colônias portuguesas, que conduziu à independência política desses territórios,
os estudos literários africanos de língua portuguesa têm insistido numa decorrência
de que também não estou isenta, que consiste em considerar as literaturas a partir
de um lugar ideológico do poder e do contra poder. (MATA, 2003, p. 4).
como composições memorialísticas, que em alguns casos se tornam terrenos áridos e porosos.
Isso evidencia o quanto este passado ainda precisa ser revisitado para que o presente e o
futuro possam ser compostos por relações dialógicas que ajudem na construção das memórias
que compõem a nação. Quanto a isso Francisco Noa nos diz que:
Discutir o passado não é para saber o que aí aconteceu nem simplesmente para saber
como ele influencia o presente, mas sobretudo o que ele é , na verdade, se está
concluído, ou continua sob diferentes formas. Como ensina Cícero, não conhecer o
passado é permanecer sempre criança. (NOA, 2002, p. 17)
Os símbolos, histórias e mitos que fazem parte do passado nem sempre interessam a
quem se propõe enunciar as histórias oficiais; e essas, por sua vez, são atravessadas de
silenciamentos impostos de forma proposital. A discussão do passado permite o
conhecimento de como ele funcionou em função do presente, mas para isso, é preciso estar
atento ao que diz cada um dos discursos formadores da nação para se compreender os
caminhos que conduzem ao enfrentamento dos conflitos presentes na memória nacional.
Hugo Achúgar faz, ainda, a distinção entre os três tipos de memórias que ajudam a
compor a memória nacional: a popular, a oficial e a pública. Segundo ele, a memória popular é
aquela construída pelo povo, as lutas, batalhas e enfrentamentos, é nela que surgem algumas
lendas e mitos. A memória oficial é o espaço intelectual, o âmbito do debate acadêmico e pode
funcionar sem materialidade, nela surgem os ditos discursos oficiais que exercem um poder
legitimador por conta de seu AD SITU, ou lugar de enunciação. Já a memória pública, é a
batalha entre esses dois tipos de memória onde se pode observar uma verdadeira luta de
“queda de braço” na qual a quantidade de braços envolvidos não representa maior força.
Quando Francisco Noa chama a atenção para o entendimento do passado e suas
implicações, ele está alertando para os conflitos existentes nos discursos que são baseados
nas memórias oficiais, sem que haja uma consulta à memória popular ou ao menos à pública.
É preciso aguçar a criticidade para não se deixar levar por discursos que são incompletos ou
contados pela metade. Chimamanda Adichie em sua aula/discurso intitulada O perigo de uma
única história, discute os perigos de se conhecer apenas um dos discursos acerca de um povo,
naç~o, espaço, família ou até mesmo pessoas. Pois estes constroem estereótipos “e o problema
com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem
uma história tornar-se a única história.” (ADICHE, 2009).
Pensando nessas questões é que alguns escritores africanos pós-coloniais compõem
suas narrativas e procuram colocar em evidência as histórias que são silenciadas. É nesse
239
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
contexto que 42UngulaniBa Kha Kosa, escritor moçambicano, desponta com o livro Ualalapi
publicado pela primeira vez em 1987. Segundo o autor, trata-se de uma tentativa de
humanizar um dos mitos que fazem parte da memória coletiva de Moçambique, pois no pós-
independência houve uma investida na intenção de apagar essas histórias que faziam parte da
formação dos povos que ajudaram a compor a nação.
O livro Ualalapi é composto por contos contínuos, e antes de cada conto o autor
acrescenta alguns documentos e os chama de “Fragmentos do fim”. Alguns desses documentos
são relatos históricos entregues ao Governo português durante o período colonial, outros são
reconfigurações da realidade que são adicionadas à narrativa e nos dão pistas dos desfechos
da trama que se segue. São essas constatações que são feitas no âmbito da memória popular
que ajudam, não somente a conhecer o passado, mas acima de tudo, a entendê-lo. A escolha de
quem contar e como contar já deve permitir desconfianças quanto às verdades estabelecidas
por esses discursos. Ao se pensar nessas histórias que são disseminadas e carregadas de
“verdades”, deve-se ater ao elemento que pode causar muitas controvérsias, o passado; pois
esse entendimento implica em poder dar novos rumos ao presente.
Khosa, em Ualalapi, tenta fazer um resgate de fatos que não devem ficar reservados
apenas ao passado colonial, pois seus efeitos reverberam também no presente. Ngungunhana
foi o ultimo rei de Gaza, território que fica localizado ao sul de Moçambique, inicialmente
procurou manter relações diplomáticas com Portugal. No entanto, essas relações se tornaram
emblemáticas, pois ele ora demonstrava lealdade à coroa portuguesa ora se se mostrava um
bravo opositor do colonialismo. Era também conhecido pela sua coragem e pela conquista de
outros povos, foi capaz de mandar matar seu próprio irmão para garantir sua ascensão ao
poder. Após diversas tentativas, finalmente foi capturado e levado para Portugal numa
expedição comandada por Mousinho de Albuquerque, aclamado pelo feito heroico.
Ao construir uma narrativa composta por contos que tratam de um passado que luta
para se manter latente na memória coletiva, ele faz um grande exercício de contar outra
versão da história de caça e captura de Ngungunhana. O território que hoje é conhecido como
Moçambique é o cenário onde as histórias acontecem, as narrativas são ambientadas
inicialmente no período pré-colonial. O autor acrescenta um tom fantástico às narrativas, a
exemplo da figura do guerreiro Ualalapi, que dá nome ao livro, e que aparece apenas em um
dos contos. Este guerreiro fazia parte da guarda de Mundugazi, que após subir ao trono se
auto proclamará Ngungunhana. Ele recebe ordens expressas do rei, para matar seu irmão e
42UNGULANI BA KA KHOSA é o nome tsonga de Francisco Esau Cossa, nascido na província de Sofala, em 1957,
fundador da revista Charruae autor de várias obras de ficção.
240
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
oponente, pois assim não haveria luta pelo trono do reino de Gaza. A mulher de Ualalapi tem
alguns sonhos e fica preocupada com o destino do marido.
Ela estava prevendo o que aconteceria ao seu marido, apesar do autor não se
aprofundar nas características psicológicas da personagem, o apresenta como leal, corajoso,
destemido e extremamente obediente ao seu senhor a ponto de matar em seu nome. No
entanto, sua integridade e seu bom caráter o fizeram vítima de sua incomensurável
submissão. Estas primeiras cenas do livro já revelam as estratégias de Ngungunhane para se
manter no poder, ele manda que seu melhor guerreiro mate seu irmão para garantir que não
haveria, já que segundo a tradição o filho mais velho deveria abrir a sepultura do pai e
assumir a coroa.
O destino de Ualalapi é pré-(visto) pela sua esposa que havia sonhado que o guerreiro
que matasse Mefemane também morreria. Sabendo do destino que estava reservado para o
marido, morre junto ao filho, afogada nas próprias lágrimas. Esses são alguns traços místicos
que aparecerão ao longo das narrativas, fazendo parte também do fantástico. Segundo Mia
Couto, “O fant|stico e o inusitado est~o na realidade africana e fazem parte de nossa cultura”.
O jeito de contar revelado por Khosa não foge à regra de alguns escritores africanos que
mesmo escrevendo em língua portuguesa, tentam incluir elementos da tradição oral na
literatura. O próprio autor, em entrevista, releva que esta sempre foi sua preocupaç~o, pois “a
primeira república na pós-independência tentou obliterar esses elementos culturais”.
O que ele tenta fazer não é o simples resgate de um herói nacional, mas a inclusão de
um mito que faz parte da memória nacional moçambicana na literatura, dando-lhe a chance de
fazer parte da memória oficial. Esse é mais um exemplo do silenciamento cultural sofrido
pelas ex-colônias. Khosa faz um passeio pelo território moçambicano no período pré-colonial
e, de uma forma muito competente, traça um panorama da cultura tradicional, destacando a
organização social e as paisagens rurais. Com o desenrolar da narrativa, começa-se a perceber
a figura do colonizador no território africano. Discriminação, violência e medo são alguns
sentimentos que despontam e envolvem essas relações. No capítulo intitulado Diário de
Manua, há evidências de um encantamento pela cultura Europeia, isso é revelado pelo Manua,
filho de Ngungunhana. No entanto, esse encantamento será punido por seus antepassados e
sua admiração pelos portugueses o levará a loucura e consequentemente à morte.
241
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Estes homens da cor de cabrito esfolado que hoje aplaudis entrarão nas vossas
aldeias com barulho das suas armas e o chicote do cumprimento da jibóia. Chamarão
pessoa por pessoa, registrando-vos em papeis que enlouqueceram Manuae que vos
aprisionarão. Os nomes que vêm de vossos antepassados esquecidos morrerão por
todo o sempre, porque dar-vos-ãoo nome que bem aprouver, chamando-vos merda e
vocês agradecendo. (...) O papel com rabiscos norteará a vossa vida e a vossa morte,
filhos das trevas. (KHOSSA, 1990, p. 118).
sintetizar a ideia de uma cultura nacional a partir de uma reflexão que envolve também o
processo de formação das sociedades pós-coloniais.
Para dizer de forma simples: Não importa quão diferentes seus membros possam ser
em termos de classe, gênero ou raça, uma cultura nacional busca unificá-los numa
identidade cultural, para representá-los todos à como pertencendo mesma e grande
família nacional (HALL, 2006, p. 59).
Referências
ACHUGAR, H. Planetas sem boca: escritos efêmeros sobre arte, cultura e literatura. Tradução
de Lyslei Nascimento. Belo Horizonte: UFMG, 2006.
243
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
NOA, F. Império, mito e miopia; Moçambique como invenção literária. Lisboa: Caminho,
2002.
244
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Introdução
O presente artigo tem o intuito de colocar em pauta o desenrolar das atividades
desenvolvidas para o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES),
existente na Universidade Federal de Sergipe (UFS) – especificamente o PIBID de espanhol, o
qual dispõe de 120 (cento e vinte) bolsistas distribuídos entre a orientação de 06 (seis)
professores da instituição, formando assim, grupos de 20 (vinte) pibidianos por coordenador.
Além do mais, as atividades desenvolvidas que aqui serão relatadas sucederam no Colégio
Estadual Atheneu Sergipense, situado no Bairro São José, na cidade de Aracaju, Sergipe, com
alunos da 2ª série do ensino médio, durante o ano de 2014.
Acerca do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, ele é um projeto
que oferece bolsas a alunos matriculados em cursos presenciais com o objetivo de inserir os
futuros professores, ainda na graduação, no contexto escolar, proporcionando inclusive,
experiência para quando eles chegarem aos estágios curriculares dos seus respectivos cursos.
O programa tem a intencionalidade de unir as secretarias estaduais e municipais de educação
com as universidades públicas, buscando melhorias para a educação, além de contribuir para
uma melhor formação acadêmica.
Ainda a respeito do programa, o decreto 7.219 em 24 de junho de 2010, do governo
federal sinaliza no artigo 3°, inciso IV, como um dos objetivos:
Pode-se dizer, em linhas gerais, que material didático é um conjunto de recurso dos
quais o professor se vale na sua prática pedagógica, entre os quais se destacam, grosso
modo, os livros didáticos, os textos, os vídeos, as gravações sonoras (de textos,
canções), os materiais auxiliares ou de apoio, como gramática, dicionários, entre
outros (OCEM, 2006, p. 154).
246
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
os professores saibam aproveitar outros materiais que possam ser utilizados como didáticos,
não ficando estritamente presos ao livro adotado pelo colégio. Para isso, é de extrema
importância que se tenha conhecimento das particularidades de cada turma, e, inclusive, de
cada escola, ou seja, estar atento ao que deve ou não ser trabalhado em sala de aula para não
influenciar negativamente a um ou a outro aluno. Infelizmente, mesmo com todo o rigor nas
avaliações do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), sempre haverá algum tema
abordado ou alguma pergunta contida no livro, que poderá causar constrangimentos e
problemas desnecessários para o professor, seus alunos, e até mesmo a escola. Por esse
motivo, além de outros, Lajolo (1996) afirma que qualquer livro didático pode ser utilizado
com adaptações, por melhor que ele seja, com o intuito de obter um melhor resultado no
processo de ensino-aprendizagem por parte dos alunos.
Partindo do pressuposto de que os professores podem, e devem trabalhar com outros
meios além do livro didático, os docentes devem saber elaborar seu próprio material didático.
Dessa maneira, podendo abordar os mais diversos temas julgando-os interessantes e de
acordo com a realidade daquele alunado. No caso em questão desse artigo, o tema utilizado foi
elecciones, uma temática social que os bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência (PIBID/CAPES) optaram por abordar, através do material elaborado para
alunos da 2ª série do ensino médio no Colégio Estadual Atheneu Sergipense.
Como já é sabido, 2014 foi ano de eleições no Brasil, portanto, um tema social de
grande pertinência para ser trabalhado em uma turma com mais de 40 alunos com faixa etária
entre 15 à 17 anos. Ou seja, muitos deles já exerceriam o seu direito ao voto pela primeira vez,
e dúvidas de como se dá o processo de votação no país, havia bastante. Frise-se que em
nenhum momento das classes ministradas ou em qualquer parte do conteúdo do material
didático elaborado, foi citado o nome de um partido ou mesmo de um político, e isso justifica o
fato desse ser um tema social e não político, pois em momento algum foi feito propaganda
com a intenção de influenciar na escolha dos alunos, pelo contrário, foi realizado um trabalho
de conscientização, para que os discentes, enquanto eleitores, tivessem um posicionamento
crítico frente à suas escolhas.
Assim, foi explorado e ampliado o conhecimento de algo que já se fazia presente na
vida desses alunos, conforme orientam os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
Fundamental, embora a turma trabalhada tenha sido da 2ª série do ensino médio, como já foi
mencionado:
“Um dos procedimentos b|sicos de qualquer processo de aprendizagem é o
relacionamento que o aluno faz do que quer aprender com aquilo que j| sabe” (PCNEF,
1998, p. 32).
247
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
Explorar o conhecimento de mundo dos alunos, no que diz respeito ao tema eleições,
foi de extrema importância nas classes ministradas pelos bolsistas, uma vez que, serviu para
ampliar os conhecimentos prévios. Porém, como se trata de um material didático elaborado
para aulas de uma língua adicional, o espanhol, somente essa abordagem não seria suficiente
para atingir o resultado esperado. Afinal, se faz necessário conhecer a cultura do outro para
um melhor conhecimento da sua. Por essa razão, não se pôde deixar de lado uma abordagem à
interculturalidade no material e nas aulas, conforme, o mesmo documento:
248
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
ensino-aprendizagem dos alunos, já que eles iniciam uma sessão de reclamações por causa do
calor, algo que os deixam dispersos.
Sobre o quadro de professores da escola, há somente uma de espanhol, Daiane
Tarrago Nunes, que é licenciada em Letras Português e Espanhol e respectivas Literaturas
pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (2003), com
Especialização em Orientação Educacional pela Unilasalle – Canoas – RS. Tem ainda
experiência na área de Educação e Ensino de Língua Espanhola, com ênfases em Letras e
Linguística, atuando principalmente nos seguintes temas: coesão, coerência, estratégias e
leituras, além de ser a supervisora do PIBID de espanhol na escola.
Daiane Tarrago Nunes, a professora responsável pela disciplina de espanhol no
colégio, se vê sufocada para suprir a necessidade de ministrar classes em grupos com média
de 40 ou mesmo 50 alunos, sendo que são muitas turmas de 1º e 2º anos, já que não há
espanhol para os 3º, o que é algo para refletir, visto que este é um público que está se
preparando para participar, por exemplo, de provas com o intuito de ingressar em uma
universidade/faculdade.
A docente permitiu de bom grado que seis de suas classes fossem observadas pelos
bolsistas, e mais tarde cedeu outras três para que o material produzido fosse aplicado. Foi
percebido que ela é muito acolhedora, principalmente com os seus alunos, com os quais
conversa frequentemente, mantendo um relacionamento amigável, um ponto positivo que
deve ser aproveitado nas aulas, e talvez esse bom relacionamento justifique, inclusive, o fato
de que mesmo sendo o espanhol uma disciplina optativa na escola, que não tem boletim, nem
ameaças por notas ou mesmo reprovação, tem turmas com alunos frequentes, e inclusive,
participativos nas aulas, destacando principalmente os dos 2º anos, com os quais a professora
trabalha textos voltados para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), já que no 3º ano
não terão a disciplina.
Igualmente foi percebido que a professora busca fazer de suas aulas momentos
divertidos, sempre incentivando os alunos a participarem falando na língua meta, espanhol,
porém alguns ainda inibidos optavam por falar em português. Nas classes, a professora usava
as duas línguas, ás vezes lendo os textos em espanhol, e fazendo explicações em português. Já
os bolsistas, ao aplicarem o material produzido, priorizaram usar o espanhol, fazendo uso do
português apenas em última circunstância.
Acerca do quadro de alunos da escola, os dos 2º anos são os que mais se destacam nas aulas
de espanhol, sendo também os mais participativos. S~o eles os chamados “alunos salvos da peneira”,
pois na escola não é admitido reprovações, e se esta acontece logo o aluno é desligado do colégio, ou
249
XII SEMANA DE LETRAS
LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO
seja, estes alunos mais participativos são aqueles que não repetiram o ano. Já os alunos dos 1º anos
possuem muitas dificuldades, sendo difícil para eles, responder inclusive questões de cunho
dissertativo.
Além de tudo, a professora regente busca ensinar seus alunos a pensar, e não somente a
repetir algo que foi reproduzido em classe, seguindo assim o que nos diz Baptista:
Além do mais, o colégio consegue manter boa estrutura, seja a física ou mesmo a
pedagógica, possuindo assim, condições boas para receber alunos para estágio, porém a
escola não aceita essa modalidade, e as classes observadas, assim como as aulas ministradas,
só foram possíveis por serem elas parte do trabalho desenvolvido pelo Programa Institucional
de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Por fim, o colégio com a sua “peneira”, possui um
quadro de alunos muito bom, sendo, inclusive, considerado um dos centros de excelência do
Estado de Sergipe.
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divertida de trabalhar a língua espanhola em sala de aula, ao mesmo tempo, fazendo com que
o aluno reconheça suas próprias raízes, podendo criticá-las ou não. Afinal, o conhecimento de
todos passa por essa interculturalidade, ou seja, pelo intercambio de culturas, agregação de
várias culturas para a formação de uma.
Ao tentar minimizar esse impacto ocorrente no recebimento da nova cultura, foi
elaborado um material didático na língua espanhola que serviu como facilitador da aquisição
desse novo conhecimento a partir do tema social “elecciones”, o qual foi extremamente
oportuno em virtude de 2014 ter sido um ano de eleições no Brasil e, portanto, isso acabou
permitindo a convicção de que o material ajudaria aos alunos em suas dúvidas e reflexões
sobre o tema, uma vez que muitos deles já exerciam a sua cidadania, ou seja, o direito a voto
conquistado por suas idades.
Com as aulas, se fez possível investigar o efeito de trabalhar com a apresentação de
uma cultura com pontos divergentes e convergentes da deles, o sentido de heterogeneidade e
a construção de uma (nova) forma de olhar crítica e reflexivamente. Ou seja, observar o outro,
sua identidade, seus costumes, sua cultura, sem menosprezo ou vanglória, e assim, refletir
sobre a sua própria e a partir disso, atuar ativamente na cultura local, federal, continental e
global.
Ao que concerne à aplicação da unidade temática intitulada como “elecciones” no
colégio, esta se deu em três aulas. Sobre os objetivos, os mesmos foram alcançados mesmo
com alguns empecilhos, como por exemplo, o fato de que a turma era caracterizada por ser
muito barulhenta, entretanto, sendo compensada por ser também, muito participativa.
Vale ressaltar que o intuito foi passar aos alunos a língua espanhola através do tema
social fazendo uso de diversos gêneros, trabalhando, assim, a compreensão e produção escrita
e oral, além de fazer com que os discentes refletissem sobre a temática e logo tomassem
conhecimento de sua importância ao longo de suas vidas, ou seja, prezou-se aplicar o que as
Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM, 2006) orientam além de preparar os
alunos para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) com as leituras e interpretações dos
textos propostos:
[…] as disciplinas do currículo escolar se tornam meios. Com essas disciplinas, busca-
se a formação de indivíduos, o que inclui o desenvolvimento de consciência social,
criatividade, mente aberta para conhecimentos novos, enfim, uma reforma na maneira
de pensar e ver o mundo. (OCEM, 2006, p. 90).
Para tanto, na primeira aula, logo após o segundo turno das eleições no Brasil, iniciou-
se a aplicação da unidade no colégio. Porém um fato a ser mencionado a respeito da aplicação
do material é que ele foi pensado para ser aplicado antes das eleições no país, porém por
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motivos internos, acabou sendo aplicado logo após o segundo turno, porém, felizmente o fato
não prejudicou o sucesso da unidade temática.
Voltando a aplicação da primeira aula, além de alguns questionamentos a fim de
explorar o conhecimento de mundo dos alunos, foram trabalhados também dois textos
autênticos. O primeiro tratava das eleições de 2014 no Brasil, e o segundo falava das eleições
de senado na Colômbia, ou seja, realidades distintas da mesma temática. Vale destacar que
aquele texto estava em português, enquanto este estava em espanhol.
A leitura dos textos se deu com a interação do alunado, que inclusive, se mostrou
bastante interessado no trabalho dos bolsistas desde as observações, e agora não hesitou em
participar. Além das leituras houve questionamentos para interpretar os textos, com a
intencionalidade de preparar os alunos para exames como os do ENEM. Por fim, houve ainda
comparações das eleições, sendo comentadas as de outros países, assim como a eficácia dos
métodos de votação de cada um deles.
Para a segunda aula foi levado o áudio da canção “Canción Contra el Fraude en
Elecciones Honduras 2013, de José Luis Espinoza Ochoa”, assim como três imagens abordando
algumas das principais temáticas em ano de eleição – educação, saúde e segurança. A aula teve
inicio com a apresentação do áudio, que primeiramente foi reproduzido sem que os alunos
tivessem conhecimento da letra com intuito de fazer a compreensão auditiva, e assim, após
reproduzi-lo por duas vezes seguidas, e os alunos interagirem expondo o que haviam
entendido, assim como, do que se tratava o áudio foi entregue a eles uma folha contendo a
letra da canção, para que então eles pudessem comprovar ou não o que disseram
anteriormente. Posteriormente foram apresentadas as três imagens referentes a abordagens
feitas em ano de eleição, proporcionando assim, uma rica discursão a respeito delas.
Já para a terceira e última classe, foi pensada uma aula para que os alunos dessem o
retorno. Assim, foi proposto uma dinâmica em que eles deveriam criar partidos políticos com
as suas respectivas campanhas abordando os temas apresentados nas três imagens da aula
anterior – educação, saúde e segurança. Porém, nem tudo saiu como esperado, justificando-se
pelo fato de que naquela semana estava acontecendo um evento no colégio, O Gira Mundo, que
inclusive abordou países que têm o espanhol como língua materna, e estando eles envolvidos
com o evento, não deram a devida importância a atividade, embora não tenham hesitado em
fazer a apresentação, elaborando desde propostas políticas até nomes de partidos.
Por fim, a experiência de elaborar, assim como aplicar o próprio material foi
enriquecedora, embora a última aula não tenha saído com o retorno desejado, porém, todas as
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demais atenderam as expectativas dos bolsistas, assim como algumas até surpreenderam
diante dos sábios comentários que foram ouvidos.
Considerações finais
Grande parte dos professores almeja tornar suas aulas participativas de modo a
produzir eficaz aprendizagem por parte dos alunos. Em relação às aulas de Espanhol os
professores têm a mão diversificados meios que poderão auxiliá-los na efetivação dessa
aspiração. Porém com uma variedade de trabalhos já realizados em sala de aula, é perceptível
que a aquisição de uma nova língua nem sempre alcança os objetivos esperados fazendo uso
apenas do livro didático que a escola adota.
O ensino de uma língua estrangeira deve ter como finalidade formar, além de alunos,
cidadãos. Deve fazer com que o discente pense criticamente, além de conhecer e respeitar a
cultura do outro, e assim, ter um maior conhecimento da sua. Para tanto, se faz necessário o
uso de novos recursos para que a aprendizagem ocorra de maneira significativa, e assim, o
professor não deve se prender apenas ao uso do livro didático adotado pelo colégio,
reputando a aprendizagem que o professor terá ao criar seu próprio material didático, e
inclusive, fazer uso de temáticas sociais, por exemplo, a fim de trabalhar a partir da realidade
do aluno, apresentando-lhe a cultura do outro, fazendo com que ele a respeite e conheça
melhor a própria.
Sabe-se das dificuldades que o professor enfrenta, e inclusive o pouco tempo que
possui para se dedicar a cada turma, e logo, preparar material didático que atenda a
necessidade de cada público, mas talvez seja possível pensar em aulas diferenciadas, a fim de
um melhor aprendizado, assim como alcançar os objetivos do ensino de espanhol como língua
adicional, e ainda que seja árdua a batalha, fica comprovado com os resultados desse material,
que é verdadeiramente possível um retorno positivo.
Referências
BAPTISTA, L. M. T. R. Traçando caminhos: letramento, letramento crítico e ensino de
espanhol. In: COSTA, E. G. M e BARROS, C. S. Coleção explorando o ensino. Brasília: Ministério
da Educação, 2010, p. 119-136.
BARROS, C.; COSTA, E. Elaboração de materiais didáticos para o ensino de espanhol. In:
_________. (Org.). Espanhol: ensino médio. Coleção Explorando o Ensino, v. 16, p. 85-118.
Brasília: MEC/SEF, 2010.
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